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) SUB
DESENVOl
.. ; "...,. .

Vl rfllENT O :

·fev/74· .
..

edicão
, do CCUL
/ND/CE
..
1. 2 CONCEITOS 3
1. 1 "Subdesenvolvimento" - C. Bettelheim 4
1.2 "Terc ei r o Mundo" - Pierre Jal~e 6

2. I mPERIAL I SmO - Jean Baby 9

3. AS RAfzES DO SUBDE5ENVOL
\IT~rNTn - Pau l Baran 22

4 . ETRUTURA COLONIAL - A. Gund er - Frank 42

S . NEO - COLONIALISmO E "SUBDESENVOL ~

VImENTO" - C. Bett . 52
,.

~conceitos
-I
''SUBDESENVQLVlfv1ENTO''
Pessoe~J.omente, penso~ entretanto, que se os

probl emas dos povos ma is de serda dos são designados


;
pela expre ss ~o problemasdos Ilpaí ses subdesenvol vi -

d os lt e n50 por outra expressão cient{fi~a mais 'exa-

ta, DSSO se de v e ao e sforço, consciente ou incons-

ciente, POUC9 im po rta , de mistificação da id eo logia


-.
burguesa.

o .têrmo "p~ í5 es subdesenvolvidos" evoca,

com efeito, idéias que são científicamente fal sas .

tsse têrmo su ge r e que os paises que êle designa

e st50 ' simplesmente I'em atraso ll com relação aos ou-

tros, que s~o ali~s, designado s pela expressão

'1países avançados " .

Essa visão de diferentes países que ocupa-

riam colocação melhor ou pior no curso do progres-

so cientifico e social é puramente artificial (1)

A conceituação dessa visão tende a sub s tituir por

urna con statação estatística, que incide sÔbre a

- 4 - ,
ordem crescente ou de~rBscente dos níveis de vida,

uma explicação histórica e uma análise cientifica

Essa explicação e essa análise não podem, elas

próprias, fazer abstração das r~lações de domina-

ção e das relações de exploração que atualmente


entre
existem os diferentes países.

De um ponto de vista cientifico, e necessa -

rio, ao meu ver, substi't"uir a expressão "países

subdesenvolvidos" pela ex p res s ão mais exata de

"países explorados, dominados e de economia

deFormada" .

Charles 8ettelheim

(1) Ali~s j~ a idei a duma "corrida pelo

progresso económico e social" e p\..t.r.a.7t~ç!.1.t:e. a rti-

ficial sobre isto ver o te x to que se segue

sobre" as raizes do subdesenvolvimento" de

Paul 8aran.

- 5 -
"TERCEIRO MUNDO;'
Pierre Jalée
Surgida pela primeira vez, ao que parece, em 1956,

a expressão terceiro mundo dá a entender, com efei -

to, que os países por ela englobados não dependeri-

am do sistema socialista nem do capitalista, que

não pertenceriam a um nem a outro dos dois outros

'Imundos", o que ~ evidentemente falso. Contudo,

muitos autores tentaram sustentar essa concepção

e pÔde -se ler pela pena de Jean Lac outure e Jean

8aumier 1 que "o debate en tr e capitalismo e socia-

lismo parece ultrapassado, . em muitos aspectos,

pelo menos no TercGiro Mundo" . Pois que nos citem,

então, um so país que tenha escapado ao dilema!

Não se pode colocar num mesmo plano, avidan

temente, os Estados Unidos, que têm uma renda

média nacional de cêrca de 2 450 dólares per ca-

pita e que dirigem (não sem custo) a .política de

metade do planêta, e o marracos, cuja renda naci -

onal anda perto dos 130 dólares per capita. Não

- ($ -
está em causa, portanto, assimilar em .t .udo as

grandes pot~ncias .8 os pequenos países atrasados

as economias dominadas. mas o fato do imperialis-

mo comp.ortar uma essençial contradição interna

entre países exploradores e p~!ses _ ·~xp~orados,

nada lhe r~tira da sua unidade, pelo contrário,

essa unidade é o elemento real daquela contradi~

ção, sem o que o imperialismo não seria imperià-

lismo. E o fato dos Estados Unidos, a Gr~-8rete-

nha, a França e alguns outros explorarem, em

benefício do capital monopolista, a ee-anomia de

vinte ou trinta países da Afriea, e orientarem

ou controlarem para tal fim a pOlítica dês ses

pafsas, em coisa alguma anula que uns e outros

dependem fundamentalmente do imperialismo e,

pelo contrário, gera êsse fato.

Que o pretenso terceiro mundo se limite a ser


apenas, a parte dos fundos do imperialismo nao im-
, .
pede, mas faz, pelo con.!;r-f'.:-of com que ele pertença
ao imperialismo. Aexpressão "terceiro mundo" tende, por
porém, a mascarar es s a realidade; é objectivamente
",
mi stificadora.

Mas triunfou. É uma express ao breve, prática e


,
c ada um sabe e xactamente que espécie de pa1ses ela
abra~ge . Além disso , o f acto de s e englobarem os
paí s es país es subdesenvol vidos , dominados pelo impe ri a-
lismo , sob uma designação especi al, implica, pelo
menos , que l el es const i tuem tuna zona particul ar, den-
tro do campo ir,.peri alista; é quase urna homenagem prévi a
que se prest a a uma emanc i pação que se pressent e i ne-
vitável e !;e ce.lcula r e l at i v ament e próxiP1a o .
--

no~o
Uos textos que se seguem serao usados 1 f r e qu en-
Ler.<ente, os term c·s Hs ubdesenvo l vime nt o ~1 e f'te r cei ro

lr'. lnclo H.. O seu uso está no entallto delimit udo p e l as


r-:ss aJ vc':i at r~ .fr: "i.t:lS o

-- 8 -
· IMPERIALISMO
,
OS 1l0NOp6LIOS

Em f i ns do Sé~ulo xrx a produção industrial


, conheceu um desel1Volvü,' cnto prod i gi oso.Fo i marc ado
po r um c erto creSCi ;".lento da fllão-de- ob:{'a, YJa.s sobretl.~do
por um aume!'lt o r.tl,". i to mai s rápi do da pl"odv.t i~idade
do trabal ho.
Ao meSI:1O ternpo que a produção se desenvol v i a
ela concentrava- se rápidamente em empresas podero-
' . .
sas que acaoava:l por' deter um monopoll.o j":1al. S 01}. me-

nos complet o nos :i.1.l.X"JC1'QSOS ramos da prod.uçãoo Ope:.;'a-


va- se deste modo a transformação da l i vre concol"
A • '
renCl. a em monopolioso
, ,. . ,
!'Esta tra:.<1s:0l"'1:1açaO da COi:1cOi.... rencl.a em monopo-
lia é t,lf(l dos fel1ó:ile~10s mai s import antes _se11ão o
mais importante:! da eco nomia do capital i smo mo-
del"'110 H D

o capit~lismo dos monopólios é um capitalis -


mo novo. Apareceu progressivamente nas últ i mas dé-
cadas do século XIX, mas foi no princípio do século
XX que se impôs como forma dominante o Se examinarmos
a eVDlução do capitaliosmo que conduziu aos monop '·lios
podemos distinguir vários períodos. O pe;:'iodo,-·,~terior
a 1860 , pode ser considerado como a pré-história do
capitalismo monopolista. É apenas entre 1860 e 1870
que · aparecem as primeiras formas n.~ ::idamente monopo-
listaso Ape!:'.:1.r disso, esse periodo é, antes de tudo
o do apogeu da livre concorr~ciaoA grande cri se de

de 1873 e a ·longa depressão que se seguiu facilitaram


11
a ·cntralização do capital pela absorção das empresas
mais fracas. Começa então, até ao fim da século, um
período em ~ue, em todos os países. capitalistas avança-
dos, se formara sem cessar novos monopólios, que aCa-
bam por dominar o conjunto da produção. No início do
século xx, são a forma preponderante da indústria.
Depois da cris e de 1903 , "os c artéis tornam-se
uma das bases de toda a vida económica." O capitalismo
transformou-se em imperialismo .
Distinguem-se duas formas fund amentais de empre-
sas monopoli stas: os cartéis e os trus tes. Os cartéis
sao alianças entre grandes empres as para a partilha dos
mercados , f i xação das quant idades de mer cadori a a pro-
duzir , dos preço$ de venda, e por vezes ali anças para
repartição dos lucrosoOs trustes são a concentração ,
sob uma direcção ~ica, qe empresas s i mi lares ou com-
plementares que não Formam mais do "que uma só empre-
sa gigante.
A •
A pr~meira consequencla Eund~nental dessa
transformação da economia, é que o aspecto social da
produção surge em todo o seu vigor.
Mas se a producão se t orna soci al , a apropri a-
çao continua priV4f&~ Es.ses enormes organismos de
produção., de que depende a vi da col ect iva, não sao
propriedade . social , mas propriedade de alguns homens
que deles dispõer.l à sua vontade, nao para as necessi-
dades gerais, mas para o aumento dos seus lucros.
AS " empresas mê!C',polistas dispõem , em relação
às empresas mais fracas que querem submeter , de me ios

12..
de acçao extremamente fortes que tornam a luta absoluta-
mente desigual. Os monopólios podem privar os concorren-
tes de matérias p~imas, arrebatar- lhes por vezes a mao-
-de-obra indispensável , privá- los de meios de transporte,
roubar-lhes clientela, quer por acordos com os comprado-
res, quer pela baixa de preços que uma empresa fraca não
, , ... ' .. "rÓ, '-' "
poder a suport ar durant·e muito".t'éillp6; "püd.em ainda, com a
ajuda dos banco s privá- las de crédito, etc. A concorrên-
c ia cont.inua a e xístir, ma s revest e novas f o rmas v iol en-
tas e irresis tiveiso
.F ~nalm0:n!.~__Ç>s mOP.2p_9.1)~~~~~~:~_~Gri s~~~2.­
~ :i !~~et
Os monopólios s ao bast ante fortes para ext ürqui rem
ª
-e: ~u inhoes sup~ rio res à -~, .ci a da sua produç ão , e ,
evi d ent ement e , n ã o o podem f azer sen ão em det rim~nto dos
~. outros amado r es que não têm ;neios para lhes res i stir"
·Dc:ste modo , os monopó lios s u pr imem a c0ncol"r3~.1cia no j :.l -

,.. ter ior d o rarflo monmpoliz ado , mas agrdvaJ:1 a concorrênc:"a


no c::xterio r dq', seu domin i o de produção e v:ti l ::zam par-a
essa c onc orrei1çi a me i os c ada : vez mc::.:'s poderoso s dos quais
as gue rras são ·o result ado . '
As cris eS podem a~ ,. por outro l ado um as-
pecto positivo para as empres as rnonopoli s taso, Arruinando
os concorrentes · ma is fracos, acel e ram também a concentr~
ção e, por conseguinte , aumentam ta"bém o poder dos mono-
pólios. Não são, . aliás, apenas as crises económicas , mas
também as guerras, as manipul açoes monetárias; a acção t

do Est?ldO em geval" " qu~ 'J'Q,voreêem ' : c~ncentração do c a- a


pital .nas maõs dos monopolistas. . ;:.

\3

_ _o • _ •• • _ _ • •_. _
OS BANc6s
2r,;3v lrroq2.i: b 2l:E:t.i:qJS~F2:'Ob OB''::EsIIE." 3.
1 ::.. ':.. ,...

A enorme centralizaçao oos capit~s dispontyeis -__ + r - c . ;


. . ~ "'Ci" 2.tJEjlGJS~ 2C~' ~,SfH"l(i!2rf5.."'P.. -o.a.-:--,_iJ-:o_._
-nos bancos t~~ _PO~ r~~~rlta~~ t~!;S~;o,~~j: ~'~;I ~;P~fft~:-:Lj~CE,:'
ê-.-;;...---tas dispersos" num so capital:ista colect~vo.Mas . np.Q sao .
... -- _ -' - 0~' 2.q!"'JO~_~ -:'0 ~~.rl-i.í ..r:J;:-;:' 20:'
OS capitalistas dispersos que dir~gem os negocies do "-' •. _
..... -.n~ ..... -:--":'- z:.J_::S;::-':"iTI :;?c· :)'.- c
capitalista colectj.vo. são os dirigentes bancário~ _q~e .
-. : -- ,.' ~:. ~~ c.-:-~ ::'C>.:;_y. .... _~=.:;_
dispoem. gnaças a ·essa quaiJ,' Hãàde - di, l!ianobras ~de _ P9d~.:;;
__ ..: ':'_' _ _ _ ~_ 7_ • ...,~ --.YJ.!F
c o
"-'--
roSos meios para actividades que sao muito d!fe~~ntes o
.~ ~.... ..... '-
das actividades do primitivo -Danc o. Os grandes bancQs
.- ;:....... t.·:-;-_
conhecem muitas vezes, pelo simples exame das contas ..
correntes, a' " 'erdadeira si tuãção económica d~s s eus ~~li
.- - -:.' -
entes ; podem pela concessão ou pela recusa de crédito. _ ~, .--
-.. , .!f:C..... ~~- - -r ~...,
.favorecê-los ou estrangula-ios quando o julgarem conv~
niente • .
Os bancos dominam cada -vez mais a produção social;
sao maravilhosos instrumentos de controlo da -;'ida . econó, '
- - - '- '-.,;:;,-~.;~ -:::

mica; Mas não passa de uma Fui1ção fo;mal. ' p;;~que ;':~i"
- ... c'"-_

comó nos monopólios industriais t os bancos defendem ~ . :'l.,!,-.


_ ~_ .... ;:... ~ "" :z .~ ...: -:.' \ ~~
apenas interesses privados, e a sua força nao .faz mais
" ;:;1:'-"\
·do que torná-los mais terr1veis.
,-." - ~... ('"'S~..:..:: 'u~· ~~
Empresas gigantesc~ áe -üm f1po esp<:.cial,. os )l.an, .
. --,1 --: _ '..91..,;:,,"3:! , 10 ( ~.I:- -r'?O.r j ~o' 1<... !1
cos seguem a linha dos momopolíos, . isto e, tendem inces . ..
. . , •.:., ,,-' _'::':~ ___ .!.; 20~p_~~- '1.5r.'!c'1-:; -."t -5 ~G.",-.n~-'""t:.
santemente a concentrarem-se e a formar grupos finanS'e,i, ... j .... . -!,!"t . . .,
_. l ' -!)!-"" r": -(:I'1OJ .... -\"~ 20 ;..'I.J

!
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res cada vez ma1S restritos.


;.... . . S ':'.9 ;; I E~ r..f,'!:J::>.-;~a 2D:>tf"..Ê.:!i eê t'O.I:·' _,bo· 1:
Devido- ao seu po~erio,
6S bancos penetram cada~ez' T
... ~, ~ :i!.i . . . ~ .3 5
_":" $ -._ ._, .. i!ti-~"",,-I _ r- - -:.

. mais- na- vida . Hi.h:t9·triâh-Já não se s;:ontentam em empres- - b . o ~ -d


-------';'.'""",';',':',._-"!',-_'r.,_!"'"--"J-s:r , .. . 29'0 9 ofi:;.>,Sm'!o'1 E!'f. 9 t~1:gt5 jO~'! E .
msq.r"J..! "'=- ~
tar dinheiro, participaJl} directamente na formaçao . e ge~ . ... j b " :
;.. ,_ ... .. ? .... C;;': j Z9rlI -m5'i9b~:J. ..5 m.s1lí'!ÓO .( 2~?.r'1 2).. -~- ç ...

• ta" das empresaS industiiais; Obrigam a cederem-lhes -f I


-~, \~
,
Ulugares de fundadores", "acçoes privilegiadas rr ; d.esi~.:,f.'::.~ .J.i .- .~i":l.;! .: ~;:--,,":~

gnam administradores nas grandes empresas e, reciprocar"; '


mente, admitem no seu conselho de administração'os repr~
i
•1 sentantes das empresas monopolistas •
t
I
o CAPITAL FINANCEIRO
/, Deste modo efectua";s~ ràpidamente uma interpenetra
! çao do capital banc~io e do capital industrial que con-
duz a uma nova forma de capital chamada oapital financei
roo
são de refutar as afirmaçoes , demagógicas dos refor
mist'àS 'e dos capitalistas que pretendem que as , soc~edil.c:les
por acçoes representam uma dcmocratiz'a ção do capital,
"o reforço do papel e da importância da pequena produção".
Antes pelo contrário, o sistema de sociedades por acções
tem por objectivo e por efeito pôr à ' disposição do capi - '
.'
tal financ eiro as pequenas poupanças feitas pelas classes
médiaS ..
Essa interpenetração do capital bancário e do caP2-
tal indust rial , que é o aspecto mais característico dos
Estados imperialistas modernos, fornece ao capital finan
ceiro meios de acção de uma Eorça inc alculável ..
Antes do período imperialista, os bancos sucumbiam
muitas vezes no decorrer das crises económicas; com o
imperialismo , as crises tornaram- se novas o"casiões de lu
cros para o capital financeiro. Com efeito, dispondo de
enormes . massas de capitais, as grardes empresas bancárias
podem absorver as empresas em falência "sanand'O- as u , quer
dizer, reduzindo o capital nominal em , detrimento dos an~

tigos accionistas.
15

. I
,-_.'o capital financeiro realiza também lucros exce.E,
cionais pela especulação sobre os terrenos.
Em resWmo, pode dizer-se que o capital financeiro
toma uma forma tentacular , "abraça' milhões, penetra ~_ , '
inevitàvelment e em todos os domínios da vida social ,
independent emente do r eg ime ,político ou quais quer ouê ,-:
._- _. ~. -- -- ... -- " ~ . .. --
__' A EXPORTAÇÃO DO CAPITAL
Um outro aspecto do capitalismo monopolista, é a
i mportância totalmente nova que reves te com ele a expor
taçao dE! capital.
"O que caracterizava o antigo capitalismo , onde
reinava a livre · concorrênc ia, era a exportação de mer-
cadori as .. O que caracter i za o cap i talismo actual , onde
reinam os monopól i os , é -a exportação de capitais~' o

A massa da mais-valia d e que dispõe o capital mo


nopolista Carece de colocações no país de origem , por..
que a taxa de ll~cros não é c onsider ada suficiente o Esse
cap it al excedente procura então no estrangeiro taxas
de lucro mais elevadas ..
Enquanto o cap it alismo continuar capitalismo, 9
S'-NVI t"N'''o-dQ
excedente de cap i tais ser;' - _, _ <l;;V nao a elevar _o
nív el de v i da das massas de um dado pais pois dai r es~~_:
tari a uma dimi nu i ção de lucros para os capitali <itas,
mas a aumentar estes lucros , mediante expo rt âção de c~
pitais para o estrangeiro, para os pa íses subdesenvol-
v idos. Ai, normalmente os lucros são e l evados , porque
escasseiam os capitais , são relativamente baixos o pr~
ço da terra e os salários, e as mercadorias têm também
IG
---.-,. . .
um preÇo baixo. As possibilidades de exportação de capi-
., , . c
tais resultam de um certo numero de pal.ses "atrazados u
.
: .
~!.Oo

serem, desde agora, arrastados na engrenagem do capita-


lismo mundial, de aí terem sido construídas ou estarem
em vias de construção grandes linhas de caminho de ferro,
de a{ se encontrarem reunidas as condições elementares
do desenvolvimento industrial, etc t9 ..

É nos primeiros anos do século XX que essa export~


• A.
çao de capitais assume toda a sua lmportancla .. A export~

çao do capital pode revestir duas formas principais: ou


de empréstimos a governos estrangeiros, ou de investimen
<
~ directos na industria de outros palses ..
O capital financeiro tinha todo o interesse nessas
colocações qu.e oo lhe ap·resentavam sõmente as vantagens.
Em primeiro lugar os capitalistas eram fornecidos em
grande parte pelas poupanças dos particulares; se estes
- i ficavam arruinauos f o cap~.tal finance iro permanecia in-
diferente; os bancos intermediários levantavam a~tecipada­
mente sobre os empréstimos uma dízima elevada que lhes a
assegv.rava, fosse como fosse, um lucro imediato; final-
do capital cmpres t a.do devia, regra ge-
mente ur:na parte
,
ral, ser empregado em compras no pals cmprestadoro Trata-
va-se na maioria das vezes da compra de armas que assegu-
ravam lucros às empresas industriais mcimopolistas ligadas
ao capital financeiro o
, ,
No perlodo actual o grande pals eÀ~ortador de
capitais é os Estados Unidos. A exportação de capital
precede a exportação das mercadorias, e os capitalistas
esforçam- se sempre por ligar essa exportação do capital
11
a condições pOlíticas que alienam a independência dos
< ,
pa2ses devedores. O Plano Marshall e uma perfeita ilus -
traçao dest a tese.

OS MONOPÓLIOS INTERNACIONAIS

A invasão de todos os paí ses do mundo pelo capi-


tal.financeiro fo i acompanhada pela formação de mono-
pólios int ernacionais; essa visão representa um dos
aspectos da partilha do mVBdoo As empresas monopo~istas

mais poderosas ultrapassam ràpidamente o âmbito nacio-


nal e tendem para a formação de s uper - monopólios que
desempenham um papel considerável na economia e na
pOl ític a rnvBdiaiso (1)

Os carteis internacionais mostram até que ponto


se desenvolveram , actualmente. os monopólios capital i s -
tas e qual é o 9b.i cc~~._da ~~ entre os capital is-
tasooo Os capitalistas partilham o mundo, nao em vir-
tude da sua particular maldade , mas porque o grau de
concentração já atingido os obriga a compremeterem- se
nesta via de obterem lucros; e partilham-no "porporcio-
nalmente ' aos capitalistas" , "segundo as forças de cada
um" , porque , em regime de produção mercantil e de ca-
pitalismo não poderia existi r qualquer outro modo
de partilha. Ora , as forças mudam com o desenvolvi -
. .. • < •
menta eCOnOffilCQ e pOl lt lco ooo
000 A época do c.J.j?it2.1}<,·"'1,) .-Perno mostra- nos que

entre os grupos capitalistas Se estabelecem certas re-


, '. 18
, .
lações baseadas sobre a partilha economJ.ca do nnmdo e
que, paralela e consequentemente, se estabeleceram en-
tre os grupos pol!ticos, entre os Estados, relações ba-
seadas na partilha territorial do mundo, na luta pelas
colónias,na HIuta pelo território económicoHo

A .FARTIlJIA DO l-IUNDO

Fi~almente a época do imperialismo

r
é também a da
ocupação de todos os territórios d i sponíveis , da parti-
• lh~~.s~ do globoo A história das conquistas coloq.i-
ais, sobretudú depois da crise de 1873, ilustra essa
caracteristica do imperialisiTIoo Em alggmas dezenas de
anos , quase todos os territórios disponíveis foram
-- ocupadoso Pela primeira vez , foi partilhado o mundo l:i:1-

tteirooHas essa partilha; que tinha uma aparência defe~ _

nitiva , não tinha absolutamente nada de definitivoo A


penas significava que uma ~;r.§l partilha de~.Tia levar à
eliminação de l:ml ou vários possuidores <> A partilha do
mundo não é portanto ~~ Eactor àe estabili z ação, mas
pelo contrário o. ponto de partida de novos conflitos ..
A guerra de 1914-1913 foi antes de mais nada uma luta
por uma nova partilha do mundoo
O capitalismo de livre concorrência nao imagin~
va a importância das conquistas coloniais y pelo con-
tr~ria, o capitalismo de monapó.lias conduz f'atalmen-
te às conquistas coloniais , Este colonialismo da épo
ca imperialista é completamente diferente da expan-
sao colonial realizada nos períOdOS históricos anteri
19
, .
ores. De facto as for<ças econom1cas que os impelem
.-_ . - .
nao_..

sao as mesmas. t preciso evitar pois .qualquer compara-


çao superficiaf que não permita compreender o conteúdo
novo da expansão colonial na época imperialista, isto
é, na época do capital monopolista.
Porquê a expansão colonial?
1 2 0 Porque os monopólios querem res ervar para si
~ontes de matérias primas, aquelas cuja importância
é já conhecida e aquelas das quais não se pode ainda p
prever a importância
22 O capital financeiro tem também interesse em
possuir colónias para poder el~orta:r_1?.~ra lá, uma part:.~
dos seus
- -capitais dis"Doní veis
- - -,.---.-..,-- .- o Nas colónias , a concor
rência dos capitais estrru'ge iros pode ser vencida mais
rácilmenteo
3 2 • A conquista colonial tem também um valor de
propaga~da muiti pre c~oso para a dominação-do capital
!:'inance iro ," t. . lnta pela partilha do mu!ldo, que nêlO e
!:I.ais do que um vasto empreen.dimcnto para o reforço dos
monopólios, é a,?resentada à opinião pública como um em
prcr=nd imento na.cional que honra os palscs colonizadore
2 as segura o beneficio de todoso ~s conquist~~-2.x~.erp~
desvi~?s P~?~~~S internos; são a miragem e o deri-
vat ivo ma.is poderoso para desviar a atenção do antag~n
ni smo de classes" A grandeza e o desinteresse dos e~pr

preendimentos coloniais tornam-se dogmas oficiais nos


quais é sacrilégio tocaro
49 0 Finalmente os superlucros co loniais permitem
disrribui r a certas categorias de trabaLhadores da me-
trópole algumas migalhas do ,.fes tim e , por conseguinte,
?O
corromper uma parte da classe operária, o que ter,l uma
grande importância para a evoluçÊÍo- do· movimen-t.o- ope,,~-
rico

CARACTEREifGERAIS ·'DO 1Ill1PER IAL ISMO


A_análise que acabamos de expôr permite- nos dar uma
- 0_ " _ _ __ _ __ _ o _ _ _ _ . _ •• • • _ _ 0

visao de conjunto sobre o imperIalismo:


" Neste momento, impõe-se-nos a tentativa de fa
zer um balanço, de dar a síntese daquilo que dissemos
acima àcerca do imperial ismo.. O imperialismo surgiu O
como desenvolvimento e sequência directa das proprie-
dades essenciais do capitalismo em geral. Simplesmen-
te, o capitalismo só se transformou no imperialismo
capitalista num dado momento do seu desenvolvimento,
quando certas das características fundamentais do ca-
" pi talismo começaram a transformar- se nos seus contrá,.:
rios, quando se formaram e se regularam plenamente os
traços de uma época de transição do capitalismo para
um regime económico e s ocial superioro Se tivéssemos
de dePinir o imperialismo da forma mais breve possí-
• 41 1 ' , . .
vel, dlrlamos que ele 2 e o estadlo monopollsta do
capitalismoo ..
são cinco as caracter1sticas fundamentais do i m
perialismo:
"1- Concentração da produção e do capital atin r
gindo um grau de desenvolvimento tão elevado que or~
gina monopplios cujo papel é decisivo na vida económi
ca •
2- Fusão do capital bancário e do caiital indu~
trial, e criaçao, com base nesse capital financeiro,
de uma oligarquia financeira .
tr~' _ 3- Diferentemente da exportação de mercadorias
0, 0' ' , '
. G) exportação de capitais, assume uma import~cia :

I muita particular.
4- Formação de uniões internacionais Jnonopoli~
tas de capitiüistas que partilham o mundo entre . si.
5- Termo da partilha territorial do glono ~O

tre as maiores potências c~pitalistasu.


,

AS RAIZES DO SUB
DESENVOLVIMENTO
:

,
0 ."

Na tentativa de compreender as leis do d ese nvolvi-

mento das partes atrasad as e adiantadas do inundo

capitalista é possível e mesmo necessário

I
abstrair das peculiaridades dos casos indivi duais

e concentrar a atenção em suas caraterísticas

co~~ns fundamentais.Não se concebe, de fato, ne-

nhum trabalho cientifico em que esse m~todo não


r
seja aplicado. Seja o "capitalismo puro" de ma rx,

a "firma representativa'! de Marshall ou o 't tipo

id ea l" de Weber, a abstraç~o dos atributos secun-

dário s de um fenomeno e a concentração de atenção

nasua estrutura bás ica semp re foram os pri me ir os

in st rumento s de todo esforço analitico.(l)Pouco

importa que o "modelo " do que se estuda nia se

aplique totalmente a um caso particular, não

acomode adequadamente todas as suas peculiarid ad es

e especificações . Esta circunstância nã o re presen-

ta censura válida ao método em si ou seus resu lts -

dos imediatos. Se o modelo se mostra útil a seus

objectivos, se consegue captar os aspectos do mi-

nantes d o processo real, ele contribuirá mais pa -

ra a compreensão deste do que qualquer volum 8 de


informaçõe~ detalhadas, de dados particulares.

Além disso, é somente com a ajuda de tal modelo,

é somente quando se têm bem claros na mente os

contornos do "tipoideal" que se pode atribuir si -

gnificado aos dados e informações que, frequente-o

mente, servem como substituto para a compree~são

de um fenomeno ao invés de servir como subsídios

para entendê - lo. J


Não se procura, por consegui"nte, nas p~ginas

que se seg uem, apresentar a fotografia de determi-

nado país subdesenvolvido, nem a nalisar os obstá -

culo s ~ industrialização, em condiçõe s capitalis-

tas, de áreas geográficas especificas. O próposito

de ste e ~DS cap'ítulos seguintes é isto sim, iden-

ti ficar os elementos do problema que considero

essenciais e com eles construir o esqueleto desse

problema, sem preocupação com a foama e o aspecto

concreto que possam assumir em ~um caso particular.

Tendo bem presente esta ressalva, podemos

prosseguir in me dias res.Acode-nos, ent~o, imedi-

atamente, uma pergunta: como ~ possível que nio

tenha havido, nos países atrasados, nenhum pro-

23
-.
gresso segundo es linhas do desenvolvimento capi-

talista, que bem conhecemos através da História

de outros países capitalistas?A resposta correcta

a estas perguntas tem importância capital.Ela é


na verdade indiepensável a todos aqueles nue que-

rem compreender o que obstrui hoje o caminho do

progresso economico e social dos países subdesen-

volvidos e saber qual a fOAma e a direcção prová-


f
veis do desenvolvimento futuro.

Este problema pode ser melhor abordado re-


-: card ando -se, inicialmente, as condições a partir

das quais evoluiu o capitalismo, tanto nas regi-

pes hoje adiantadas como nas subdesenvo lvidas.

A ordem pr~-capitalista, tanto "na Europa como na

Asia, a partir de certo ponto de seu desenvolvi-o

menta , entrou em período de desintegração e deca-

d6ncia . Essa. desintegração foi mais ou menos vio-

lenta e o período de decadência foi mais curto

ou d.emorado em uns países que em outros , a direçBo

g8 r al do movimento, porém foi a mesma.em todos os

pontos.Ainda que corramos o risco de incorrer em

simplificações exageradas, poàemos considerar os


2~
processos seguintes __ d i ntintos entre si, embora

estreitamente inter - relacionados como as


c aracterísticas mais marcantes desse mo vimento
Em primeiro lugar, houve um lento, embora apreci-
avel, aumento da produção agricola, que se fez
acompanhar não só de intensa pressão feudal sobre
a po pulação rural, mas também de deslocamentos e
rebiliõe~ camponesas cada vez maiores e do conSE- J

quente surgindo de uma f o rça de trabalh o potencial-


mente industrial. Em segund o lugar, o bservou-se
a propagaçã o , mais ou menos pr o funda e ma is o u
menos geral, da divisão d o trabalh o , que trouxe
com ela a evolução da classe dos c omerciantes e
artesã os, ac ompanhando o cresciment o d as cidades.
Em terceir o lugar, verific o u - se uma acumulação de
capital mais ou me n o s espetacular per p a rte dos
c o merciant e s e camp o nes es ~icos, cuj a n~mer o e
influincia c rEsciam de f o rma mais o u me n o s c o ns-
tante .
~ a c onfluincia de todos estes pro~8ss o S
(e d e ums série de o utras mudanças secundárias)
que ~ o nstitui 8 c ondição préVia ind~spens~v81 ao
surgiment o d o capitalism o . Com o disse Ma rx: " o que
possibilita a riqueza monetária transf o rmar-se
em capital é de um lad o , seu encontr o c o m traba -
lh a dores livres ; em segund o lugar, situa-se o seu
enc o ntro c o m nl~i o s de subsist~ncia~ : mat~rias - pri ­

mas etc, igualmente livres e disp oniveis para


2C
~ vendat bens es~es que, de outra forma, seriam,
~d l un e mani~re o u di une autre, propriedade das
massas que nada têm atualmentso t, porém, á tercei.
,
l, ra __ a acumulaçã o pri~ária de capital ___ que,
I

indubitavelmente, se de~e atribuir import~ricia

es tratégica, c omo , aliás, su ge re o própri o t e rmo

capitalismoi' ~ evid~nt~ que a mera acumulaç~o de

capital mercantil, per s~ nã o conduz ao desenvol-

vimento do capitalism o .(2) Duas considerações,

por~m, exigem que se d~ particular atenção ~ acu-

mulação de capital. Em pri !,te ir o lugar 9 as outras

condições responsáveis pela transição do feudalis-

mo para o capitalism e estavam amadurecendo em

quase todas as partes embora em períOdOS

diferentes e a ritmos distintos __ sob o impcto

das tenSÕES internas da ordem feudal.Em segundo

lugar, foi o escoiJo 8 a vel oci dade ' a acumulaçã o

de capital mercantil e a ascensã o da classe bur-

guesa que desempenharam o papel mais imp o rtante

n o debilamento da estrutura da sociadad e feudal

na cri~ç§ o das cundiç5es necess6rias ao seu desa -

parecimento. Devemos aqui citar Ma rx uma vez mais~


"A f o r maçã·o: de capital é determinada pela própria

natureza do capital ..• por sua glnese, que a faz


'.
surgir do dinheiro e, po rtant o , da r iqueza que

existe sob a forma de moe da. ~elas mesmas r8z5es

e la parece surgir da circulação., com e seu produto._

A formação de capital, por conseguint~ ~ ~i o pro -

v~m da propriedade da ter r a (q uando muito provém

do arrendat~rio, na medida em. que Bste se ~edica

a o ~~m~rci o de produtos agr { c~las) ; n em tampouco

das corporações (embora haja possib ili dade dist o I


.)

ocor rer), mas da ri queza dos comerciantes e d o s

usurários ll •

A acumulação me rcantil, n a Europa Ociden-

tal, foi particularmente grande e o q ue tem

muita i mportânc i a altamente c oncentr ada. I st o

se deveu, em pa r .te, à l oca lizaçã o 'que lhes

propiciou a possibilidade de des e n vo lv erem , antes

que o ~ demais, a navegação e , com ela, c c om ~rcio

marítimo e fl!rvia1. Em segundo lugar~ essa acumu -

lação foi cSl;ssda _ _ e ~~so é, até cert o pont9)

pa r a d oxal pela circunstâcia de ser .8 Europa·


i
~ Ocidental mais p o bre de recurs os ' n aturais e de

! seu desenvolvim e nt o , áquele temp o e em muitos as -

l pect o s~ ser . menor , e ni o ma i or, que as p a rtes ' do

mund o que e ram ob ject o de sua penetraç~ o c ome rci -


f
t al. Estas circunstâncias incentiv o u a pr oc ur a dos

i mais divers o s p r odut os tr o picais ___ esp e ci a rias,

ch á, marfim , anil etc .. que nã o p odia m ser obti -

d o s nas suas pr o ximidad e s; deu o rigem a u m e sf o rç o

de imp ortaçi o de vali osos p r odut o s fabric ados n o

Orie nte ___ roupas de es celente qual id a d e, ador -

n os , c e râmica et c. • o u, fin alm3nte, a


e o rigtn

tentativa deses,p-..Ji.'ada d e aumentar o sUiJri me nt o

"d e me tais e pedras precio6~s, supriment o es te qu e

naqueles países s ara pequen o a esse t e mpo. A ex -

pens ão comercial que S8 seguiu, a li ada é piratar i::a

ao saque, ao t r~fic o d e escravos e ~ d es c o b8rta

de our o no Novo mun d o , determ i n od, em c onseq u e ncia, ~

a formaçª o r ~pid8 de im ensas fort0nas na s m~o s

dos c omerciant e s da Eur opa Oc id e ntal .

N~o pr ec isamos apontar em detalh e as diver -

sas f o rmas pe l as quais o capital ac umul ado se

28
transferiu, gradativamente, para empreendimentos

industria i s. Ricos comerciantes ingressa~am no

campo industrial com o obje ctiv o de assegurar - se

de s uprim entos contínuos e baratos. Artesãos que

haviam enriquecido o u que estavam associados a co -

merciantes endi nh eirados, expadiram a escala de

seus neg6ci os. nl esmo os ricos propri8t~ri os de

terra fizeram, com fr eq uencia, incu r sões no camp o

industrial (particularmente na indústria ext r ativa

minera l ) e ~ont ribuir 3m, assim para lançar as bases


/
das grandes emp resas c~pitalistas. A contribuição

mais importanto, p o r~ m, foi dad a peI? Estado, que,

sob o domínio crescente dos interesses capitalistas,

se tornou cada vez mais ativo nos auxilios e nas

co p tribuições aos empreendedores incipientes.

'IT o d os eles empregaram o poder d o Estad o a

força concentrada j orga nizada do modo feudal pa -

ra o modo capitali~ta de produçio e para o periodo

d e transiçio" . (3)

o grande passo a frente dado pela Europa


Ocidental não devia significar, necessariament e ,

."
29
a criação de o bstáculos ao d eso nvolvimento ec o nô- t
mico de o ut~ cs país e s. Emb o ra estes não est i vessem

capacitados a diminuir, pa ra nã o falar em e limi-

nar, o hiat o e xist e nte ent re eles e os pio~eiros

do Ocidente euro p e u, podiam por em t o r inici a d o

umproc es s o pr ó pri o d e cr es cim e nt o q u e os c o nduzi&-

se a nív e i s ma is ou men os el e vados ~dG p r o dutivi -

dade e de pr o duçã o. Era de espe r êr mesmo qua 98

cr esc~n t es c ontatOG c om as na çõGs mais a di a nta-

das, técnica e ci en tific a ment e, da Euro pa Oc id e n-

tal f aC ili tassem o p r og r es s o do s pe í se s qu e man-

tinham int ercim bi o com es ta ~lt imG . No s prim6rdi o s

d o capit a li smo modern o , durant e a últ i ma pa rt e

d o s~cu l o ~Vl1 e n o s~cul o XVIII, pa r e ci a que as

c o isas c o rr e riam d es sa mane ir a~ os aco nt ec im ento s


,
qu e se v e rificaram a esse temp o, 2m 2 lgun s pa1ses

qu e ho j e se co ntam en tr e os subdese n vo lvidos,

dav a m amplo a p o i o a e ss a presp e ctiv a. A acum ula-

çã o primitiva d e capital progr e di a b as t a n~ e t as

manufaturas e o art e sanat o se e xpandiam, e nqu a nt o

as crescent e s rev o lt a s campon esa s, a liadas á


3D
'.~,

pressão cada vez maior da burg uesia ascendente

abalavam os alicerces da o rdem pré-capitalista.

o facto de que as c úisas nã o tenham t omado es se

rumo, de que a Europa Ocidental tenha deixado o rest

r esto do mundo bem atrás, não é frut o de acid e nte


f o rtuit o o u de a lgumas peculiaridades soc iais d o s

diferentes po vos. Ist o foi det e rmin ado, na verda -


I
d e , pela própri3 natureza do s e u des e nvolviment o

p o is os ef eitos da pe n e tração capitalista européia

no mundo f o ram extremamente c omplex o s . Eles dep e n-


.!

d e ram da natureza de sta penetração e d o e stagi o

de de senv o lvim e nt o já ating id o p e las sociedades

que se ex puser a m ao contacto e xt e rior. Devemos

distinguir, portanto entre o ipact o da pe netr a çã o

européia nos Est a dos tinid o s (bem com o na Austrália

e na Nova Zelândi a) e a "a bertura para o mundo"

da 4sia, 4fric a e da Europa er .s ntel , realizada

pelo capitalismo d o Ocidente da Europa. No prim eiro

caso, os e~ropeus ocidentais entraram em um v~cu o

social mais o u men o s c ompleto e 88 estabeleceram


r
nessas r egiões, passando me smo a 81 residi J perma -
3i
1'; •. , . , . .

~ ,
~ ___ malgrado as decantadas façanhas de Davy

~crock8tt conseguiram estabelecer, em curto

su~ em

l
espaço de tempo, própria sociedade um solo

praticamente virgem e excepc ion almente fértil.

~ Esta sociedade graças ao fato de ter, desde


I -
, sua origem, uma estruturé capitalista e de n~d
i
necessitar remover os o bstáculos 2 as barreiras
f
~ d o feudalismo pade dedicar-se exclus iv amente, ·

-

~ a o pleno desenvolviment o de seus reC é rS GS produ-

~ tivos. Suas energias polIticas B sociais n~o fo-


~
~ ram gastas em prolongadas lutas comtra a ordem

,~ feud al e nem dissipadas na superação das conven-

j ções e das tradições do feudalismo. O único ú bs-


r
tacul o que enco ntrar am a acumulaçã o e 8 expanção

capitalista foi o domini o estra;;'<leiro. Embora não

estivessem t o talm ente livres de tensões e conflitos

tos internos de certa intenaidade lembremos

o caso de 8enedict Arn o ld! as sociedades

burguesas nascentes tiveram, dosde o princípio,

a f o rça e a coesão suficientes para se livrarem

32-
d o domíni o estrangeiro e criar em uma est rutura
--.,.. .....,
."
p o lítica a d eq uad a ao desenvolviment o do capita -

l i smo.

Tud o isto e a lg o bem distinto d o que ocorreu

em o utr a s partes do mund o . O q u e é i mportan t e nã o


é tanto o fato d e que os emp r ee nd e dores da Euro -

pZl Ocident a l qu e se diri 9~~q m a Indi 8, à China,

aos pa ís es do Sud es t e asiáti c o, d o Ori e nte Pr áx i-

mo e da 4frica f o ssem , em muit os aspectos , dif e -


~

r e nt e s d aque les que emigraram para os Es t a dos

Unid os . A dife ren ça fundam e nt al r e side n o que e n -

c o nt ra ram ao cheg a r ~ As ia e a ~frica.Aquele e ra,

de f a t o um mundo c omp l etamente difer onte do q ue

foi GnCo ntl ~~O na Am~ r ica o u na Auitr~ li a .


'l UI<
Naq u o las pa=t e s em ! o cli ma e ') om b i e nt e
:;
r 3 turel ~odi~rJ c o ~stit ui r at~ativo par a " s e nli- ;

\]ranl:.CS o;:, Eu;,opa Ocidental, .~n c o·i tr2 ~::Im e l e::::

~"?ics . J-f! Q" ~ 2: r·ganizaçpes soc;5_êJi::: ex ist e Ib:.: s

33
eram primitivas e tribais, as condições gerais
e o clima em particular___ eram t8is que impe-

aiam a fixação em massa dos emigrantes europeus.

Em ambos os casos, por conseguinte, o s "visitantes"

da Europa Ocidental decidiram ex traí r ràpidamente

os maiores lucr os p oss íveis dos países hospedeiros

e carre9~-los para o s seus países d a rrr ig am . Oedi-

caram-se~ entã~, à pilhagem aberta ou ao saque


tenuemente disfarcado sob o manto do comércio,

apropriando - se e transportando eno rm es riquezas

das r egi5es em que penetrara~. "Os tesouros apro -

priados fora da Europa pelo s3que indisfarçado,

pela escrav id ão e pelo c rim e foram transpprtados

para o pa í s de o rig em e se transformaram em capi-

ta}".

Geralmente se diminui a importânci a dassas

'~t~anef e ranci as unilaterais" de riq ueza, dos p

países não-europeus para os da Europa Ocidenta l,

ao se dar a t ebção exc lusiv amente à sua ma gni tude


em termos dos prOdutos sociais dos países a que

se dirig em ou mesmo aqueles de que 58 or ig inavam .


Não quer isto dizer que nã o fossem grandes, mes-

mo quando medidas por eese p~rio. O que lhes deu


" imp ortância
porem cruciàl sabre : "Ia desenvolvimento

da Europa Ocidental e p~ra · p c · das nações hoje subda -

senlvidas foi a natureza, ou melhor. o locus

econ6micos dos recursos "sm.oause. _A n8alidade -' ~ . qJ~j:


~ .J
.l
"
qualquer qu e tenha s i do o acréscimo da renda na cio -

nal que os pa í ses da Europa B:idental ob tiveram d e

suas o perações no além mar, tais recursos multipli -

caram o e xc ede nt e e con6mic o de que tais nações dis -

punham. Além disso, o i ncremento do exceden t e e c ono ~

mico assumiu , imediatamente, f o rm a concentrada e

foi, em sua maior parte, apropriado por capitalis-

tas que o pod e r am usar para a realização de inves -

tim~ntos . Dificilmente se pode exagerar a int enci -

dade de impulso qu e t a is c ontribuiçõ e s "ex6ge nas "

à a cumulação de capital deram ao desenvolvimento


da Europa Ocidontal. (4)

Esta transfusio e , em particular os m~todos

pelos qu a is se e fectuar am tiveram, talvez , maior

imp a cto sob r e os resultados par nio dizer


. .
algo plor ___ palses "d oa dores". Afectaram , violen-
35 .
tamente, t o do o se u desenvolvimento e influiram,

decisivamente, so br e 8 e voluçã o p o st e ri o r deste.

Afet a r am c om violênci3 ex plosiva, o movimento g1a-

eial de suas a ntig as sociedades e acc l e ra ~ , d e ma -

neir o vertigin osa o processo de d e c ompos ição de

suas es truturas pré - ca p itali st as. Ao força - lo a

r ompe r c om as formas tradicionais de sua eco nomi a

ag rári a D ao ocas i ona r mudanças na produção da s

cult ur as de exprotsção, o capitalismo ocid e ntal

d es truiu a auto - suficiência de su a soci e d ade rur a l

__ que constituia a bas e da ordem pré-c a ~ it a lista

de todos os países em que p ene tr ou e a mpli ou

e aprofundou r Dp id ame nt e, a circul ação de mercad o -

ri as h'led i an te a indisfar çada ___ e , em muitos

países, múciça a pr op riação das t e rras ocup a das

p o r c a mp on eses e a sua transf o rm ação em gr andes

fazendas a serviço dcs emp r ee ndiment os e str ange i-

r os, ao expLl r seu artesanato rur al à r uin oso


,
conc o rr e nci a d e suas exportações industriais,. o

capitalism o ocident a l criou um e norme contigent e

de t ra balh a d ores paup~ rrim os . Ao ampliar, desse


1. modo, a a rea das at ividades c a pitalistas, prop i ciou
!

! e l e, tamb~rn a evoluç~o da s rel aç3e s leg a is e de


;
prDpriedades de acordo com as nec e ssidades de uma

e c on um i a d e mercado e esta belec eu as instituições

a dministrativ as necessá ri as ao seu cumprim e nt o _


.~
,
Embor a com G p r opós it o úRic o d e ex pand ir e farta

l e c8r o controle eco nôm ic o e político das areas

sob o seu domínio determ in ou o ca p lt a li smo inv a sor

, que essas a r eas d ed ic as s em parte de seus exced e nt es


,I
economiccs a mel h o ria -dos sistemas de comunicação

a const ru ção de on trad a s d e fe r r o , portos e r odo -

vias, o que ocasio n ou o apa r ec irn entG, como s ub pro -

dut o, das instalações básicêS indisp e nsáveis a

inv e rs ão lucr ativa de capital

Est a e porém, apenas umg a rt e de toda a

história . A penetração do capitalismo ocidental

nos países hoje subdesenvo l vidos S8, por um led e

acele r o u, com irresistível energias o a parecimen-

t o dE: alguns pré -r equ isit os básicos p8 ra o d ese n -

vo lvim e nt o da um s ist ema capitalista, b l oqueou,

, com igu a l fo r ça o amadu r e ciment o de cu tros.A Je -


31

-
I

,,
mc çe o de gr o nd a pa rc a l a d o eXCGde nt 8 e con omic o

a nt e ri o rm e nt e o cumul a d o G daquel e que e r a continu-

omente gerad o pe l o s pa{ses invadid os nã o p od i a

causar s8nã o séri o r etro cess o em su a 8 cumulaçã o

,
I p~imitiv a d e c apita l. A circunstanci a d e que p 8 S-

saram a fic a r expostos 8 conc o rrenci q ruinos3 de

pa{ses est r a ng G ir ~s nã o p o dia s ig nificar s e nã o 8

asfixia d e s u a incipi e nte ind~stri a .E mbora a ex -

pa n s5Q da circulaçã o d8 me rc a d o rias, e p8 uperiz~- '

çe c de grand u núm e r o de c 3 mp ones es G c rt es ã o s e

o c a ntat a c om 8 t e cn o l ogi a t a nh am pro~orcionado

poderoso im p ul so 80 desen v o lvim ento do cspita lis-

me , e st e des e nv o lvim e nt o f o i d6sviado do seu ru-

mo n or~al, deformado e mo til a do, a fim de se adp -

tar 80S ob j et iv os do imperialism o oc id o n ta l.

Os povos que passaram a gravit 3 r n ~ 6rbita

de capitalismo dE Europa Ocident a l 3ncontrsram-

se, por c ons eg uinte ___ e repentin amen t e ~ no

c a s o do f e ud a li smo B d o capitalism o , so frendo


,
a u~ 80 t e mp o ~s piores c ~ racteristic cs de ambos

o s sist~m a s e , 6 1 ~m d iss e o im pacto total d o


38
jugo imperialista.A o pr e ssã o de seus senhor e s f e u-

da is op r ess~o desapiedada, Bm b o ta abrandada

pel a tr a diçã ~ .___ ad ici o n ou-s e a dominação pelos

capita1.istas n a ci o nais 8 e strang e iros __ domin ação

brut a l, que enco nt rmv8 seu li mi.te apenas n a r 8 si =,t.~

t ~n ci a do povo subjugado. O o b s cur a ntism o e a vi o -

lênci a a rbitrqria herd a da d o seu passado feud81

S8 c.ombi nGr am c o m a ra'cionalidade 8 <) rapacid ade

c a lcu1 3 d c d e seu presente capitalismo. Su a expIo- ·

r açso S8 multiplicou e os frut o s desta ndu a cr es -

ceram su a riqueza produt iv a: f u r am rem e tid os para J

o ex t e ri o r ou sorviram p8 r a sustent a r, em seu prór."·~

prio paLs, um a burguesia parasita . Vivi a m eITI meici5

mi séria e sp a nt osa 8 n3 0 vlslumbr 8 vam pe rspctiv as

d e futuro me lhor. Vivi am dentro d e um r egime capi ·

talista 8 nã o h av i a o cumul aç5c de c ap ital . Perderam

seus me i o s de vid a ·.tradicionais, suas artes, seus

o fici os o nno havi a indústri a qu e lh e s proporcio -

nasse o utr as. ' livida du o ci~ eub s tituição ~s perdi-

das.F o r a m postos .8m .a mpla cant a t a can"1>8 a diantada

ciênci a o cidental, mas perm a n e ceram em me i o a o

'.
mais profundo atrazo.

(1) Não quer isto dizer que o conhecimento de


quais são as carecteristicas fundamentais de u~
fen&meno seja dad o por u sus a I'zeus escolhidos
dur~nt e seus sonhos". Nio se pode ter esse conhe-
ci r~ ento a não ser - como resultado de um estud o
meticulos o e t o tal do assunto, formando ~ssa pes- ~ "{ 9"
quisa a bas e para a decisão do que deve ser a bs-
traido e d o que deve ser incluido n o modelo t e óri-
coo Neste sentido, as Ciências Sociais, nã o me n o s
que as demais Ciincias, implicam um conheciment o _ , l
cumul a tivo: nem t o do pesquisad o r precisa COffi Gç a r
do nada.Di~põe-s8 de indicad o res p e rfeit3m e nt e
adequados a determin.ç~ o dos alementos fund a men-
tais de um processo sócio-ec o nômic o . Como e m t o d o
tra~~lho cientifico, a ad e quação de tais indic ~ ;
dores só p o de ser est 3 belecida pe l a prátic a , ist o
~ pela sua aplicaç~o te6ric a e empírica 8 0 ma t e -
rial históric o concreto.

(2) Como assinala Dobb~ "uma caracteristic a d e s-


ta nova burguesia mercantil tão surpr o endente
como ~niversal, à primeir a vista ~ a facili-
dade com que esta classe entrou em acord o c om 3
so~iedadefeud~l,t~ o log o o bteve os previl~ g i o s
por que lutava 1' ,

(3) Sobre o papel desempenhado pelo Estad o , s o b


o domini o dos capitalisID 8 , me smo em um país em
q ,ue h~, proverbialmente, pouca intervenç~ o gover -
namental em assuntos ec o nômicos, citamos ~ oui útil
b qdvert~ncia do Pr o f.E.So mason: 'Ia maiori a "dos
norte-americanos não reconhece a extenção e m que
os governos Federal e est a dua is co nc orreram por s
a p r omo~ão d a s primei r c s etapas do desenv o lvimen-
to econom ic o dos Es t ados Un i dos, através d o su-
primento de capital social sob a forma de canais
r etif ic ação de rios, estradas de ferro, in stala -
ç õ es protuárias e tc .A construção, pelo Governo
de obras publicas desta eSP6c i e foii sem dúvid a
essencial 8 expansão do investo mento privado. il
40
(4) 1:sto não significa que o efe ito total dest a
política r ep r ese nt asse, para os pa í ses I!benefici~­
ri os"j uma b~nção iniludlvel. A corrupção da vid a
socia l e politica da Europa Ocid e nt a l, o cresc i mento
d o "chauvinismo" e do racismo, o desenvolvimento
inevitável d o imperialismo 8 do belisc i mo tgm sua
origem, em boa parte, na odiosa es cr avi dã o d os po -
vos não - euro p eus q u e acompanho u o desenvolvimento
das primeiras etapas do cap i t a lismo ocidental .

, ." 41
ESTRLJTURA
COLONIAL
.

."
,
"

Para encontrarmos fundam e nt os da estrutura col~


~ial na América Latina, é conv e ni e nte pe rguntarm o -
nos p o rqu e é que a América l a tin a é hoje subd e s e nv oJ
vida enquanto a Am é rica do Norte se encontra' d e sen
vo lvi da , apesar d e ambas ter e m sid o colónias eu ropel
as . Foram fr eq u en t e mente propostos dois tip os de p r~

tansas exp lic ações q u e , aliás, estão li gadas e ntr á


s i. Uma d e l as pret e nde que a América do Norte foi
ben ef iciada pe l a tr a nsplant ação das instituições prE
gressis tas do capit81ismo in glês , ao p asso que a Amé
rica Latina ficou prejudicada pela transplantação das
i hst ituições r et r ógadas d o decadente feudalism o ibé -
rico . A out r a pretensa explic ação , relacionada com
es ta, 8 que se asso cia com a ltica prot es tant e e o
esp írit o do c apita lis nlo de Weber , pretende que houve
uma dife r ença i mportan t e en t re o ca rá cter dos novos
po v oado res do norte e os lat i no - mm ericanos : uma fo -
r am protestantes em preended o r 8s e o utros católicos
e i ndolentes A prime ir a explicação deve pôr-se
de parte porque ~ ~r8c8 claramente de validad e his -
tó ric a : o c ap it a li smo c omeçou a desenvolver - 58 em
Itália , Espanha e Pb rt uga l católicos 8 as institui-
ções d as colónias i ng l e sas e protestantes do sul dos
Estad o os Unidos e das ôaralb as n~a parecem ter s id o
notàve lment e mais progressistas que as l a tin o - ame ri-
canas . Além dis so , c omo v e r e mos mais adiant e , -
na a ,
8
verdade que a P~nínsula Ibérica tenha tr ansplanta -
do as suas instituições para a América Lati na. Qua~
to à s egu nda explicação na medid a em que houve efe . I

ctivamente diferenças entre os novos povoadores das


diferentes pa rt es do Novo Mundo , haveria que pro -
curar - se o porquê dessas diferen98s .
Os motivos da colonização espan h o l a foram as -
sinalados pelos conquistadores e r e ligi osos , acruma
citados (nas epígrafes)(l) , ~ Adam Smith resumiu- às
ao escrever que "todos os e~preendimentos dos es - "
panhois no Novo Mundo, depois do de COlombo, par~ ·

cem ter sido ocasionados pelo mesmo motivo . Fo i . a (

sagrada sede do ouro quem levou Ojeda , N1cuesase


Vasco Núnez de BaIbaa ao istmo ds.Dariém , quem l e -
vou Cartez ao méxico , Almagro e Pizarro ao Chile e
Perú"(Smith , p . 529). E como se aproveitaram das mi
-'
nas de ouro e prQta no México e Perú? évidentemen -
te, explorando a mão - da - obra indígena e aprove ita!1"
do a sua alt3 civilização e grande organização so-
cial . L igualmente evidente que os espanóis e po~
tugueses não puderam estabelecer uma exploração de
minas semelhante nas Caralbas, Brasil "Argent in a 8

noutras partes, por falta de minas n essas regioes


E se os ingleses, que foram par a o norte da Améri -
ca , não ex pl o r 3ram ai minas de metais pr e ci osos,
iss o explica -s e exactamente pelos mesmos motivos; ·

não porque não quisessem , mas porque não podiam .


E por que criaram os portugueses , franceses 8, i-
gualmente, os ingles es plantações de açuca r no
45
~rasil 8 ~n ci e i lntilhas e de algodlo no su l da Am~ri­
i
ca do Norte? Porque aI nl o lh e s foi passIveI explo -
r k r minas, mas já foi p oss ív e l a proveitar o clima
par a explorar a mã o- sE- o bra escrava numa ecónomia
de exportação, pois que também se pod i am prov e r
8S ditas r egiEes d e t a l m~o - de - o bra importan çlo - a
de ~friGa. Podemos e ntlo per g ~nter - nos p o rqui os
fr a nç e ses e i ngl e s e s n5 0 f izer am o mesmo na Nova
Fr an ç a e na Nova Ingl a t e rra. A resp os t a ~ evid e nte
p o rqu e es t a s r e gi~ 6 s c a r e ~i am - lam 8nt~ velment e~ com o
mo. então lh es par ec i a - de t o d a s as con diçõ esJ g e o-
lógicas , climáticas e d e po pul ação indígema f n eces -
sári a s para poder impl a ntar uma e cónomia d e expor-
t uç ã o o O mesmo 88 pass ou na Arg e ntina, até que o de -
s c nv o luim e nto ;.~o sistem a capit a lista mundi a l permi-
tiu, no s~cul p XIX, conv e rt e r e ssa reg i ão ~uma ex -o
portadora de lã, carn e e trigo; o mes~o d8senv o l -
vim Ent o pormitiu c onv e rt e r S~o Paulo , part e s - ~a

Co l6 mbl a, Costa Rica; etc., em expo rt a dor es d e caf~.


Assim, o es t ud o c omp ar a tivo d as variedades n a
co l on iz ação europe i a do Novo mu ndo conduz-n os a um a
c n n clusão fu nd ame nt a l ~ que à primeira vist a pod e pa~

r c c e r pe r odo x a l ~ mas qu e ~ a f i el ex pr essão d a dial~


tic a d o d e senvolvim en to ca pitalist a; quanto mai o r foi
a riqu eza a explorar, ma i s po br e e subdesenvolvid a é
hoj e a regiã o; e qu a nto ma i s p o bre foi: '.. 8 c o l à fli a,
In a i s rica e des e nv o lvida ~ h o jô G regi5o. A r a z5 0
fundamental é uma ~nica: s ubd esen volvimento é o é o
pr oduto da 8xplo r açio - da 8strutura co l oni a l a d~

c la sso baseada na tJl tra-e xp o rt a ç5 o - 8 - 0 d es,~ 8 v olvi ~

me nt a cons e giu -s e o nd e Ds t B estr u t er a do subd es e nv o l-


v i me n to ) 5 0 se implantou porque não foi poss {v 8 1 faze-
-lOn Todo s os outr os factores s~o s8cund~rios ou d e-
r iv a d os do f cl ctor fu nda ment~ l que á o tipo da explore
ç ão , 8 i s t o ~ temb~m v~ lid o pa r a o tipo 08 pov oa d o r es
q u e S8 im p l a ntar8 m nas d iv er s as r 89i5e6 B paro a ms··
n ei r a de s e co mp J ~t;] r e m , um a vez a í cheg a d os ~

(: e f~cto , as r e g~õ8s qu e são ho j e m3 is l 1Jm pe :: -


d ese nv o lvidas (2) do con tin e nt s 7 c(om o p a rt es d o A m~r i ­
c e e en tr a l 9 do mar das Carai6as , No r des t e d o Br a sil,
a s r eg i Ee s ind! genas a n dinas e mexicanas 8 as 20r18S

minei r as de Min a s Gara is, Bolí v ia e Mé x ico c ont r aI ,


t am 8 !~ comum o f ac to de teram s id o naquela e_o ca e mui
t a s v e z es o 55 0 ho j e - as pa r te s da A ~~rica Lat i na que
ma is se c3 r ac t e ri za r a m ~ela cx p l o r a ç~o .dos seus r e cur-
s os natura i s, 8 SOb r Gt lld o hum a n os~ em f unç50 de um2 OCO -
n omi a do expo rt ~çs0 4 E e st a d esg r a ça e sp a n to s a , c omo a
cl a s s ific o u Adam Sm it h 1 e o qu e aquelas r eg i ões t êmeG
comum en t r o 5i - e tamb~m com grand8 p :~ rt9 de ~ ~i a 8
d a lf r i ca .. apesa r d a gra nd e v3 ri edode de c a r ac t 8r isti-
ces cu ltur ais B de out r d {n dole que a s distin gua; ilpe-
s e r do f acto d~ cm a l Qum as o d e s envol·Jimento do capi-·
t ~3 i SQO mundial t~r t[3ns F orm~da t o t c l men t o ? ws trutu-
Ta SOc i 3 1 i rld{9~n8, unq u ~ nt o nuutres est3bcloc8u uma
soci8~a~ o c o mpl.etemantG nova , a n o utras 3 i nda - cumQ
o caso d 8 Cuba por cxomp l o - tr ana form o u compl~t3m G nt G

a pr Q'p r io est. r.utura social prim i tJ v ams nt e es t-!'l. beleci. .. ·


(4 ·1'

da ali, séculos atrás, pelos própri o s europeus.De
~odo que o factor chave da estrutura eco n6mica e
de class~ - na Am~rica Latina . h~ que pr6cur~-lo no
grau e tipo de- dep~ndªncia em relaç50 ~ metr6pole
deste sistema capit a lista mundial.
Como not a Ferrar: liA axplofôç5o das minas~
a agridultura " tropical, a pesça, a c aça e a explo-
r ação d os bosques (todas em funç 50 directo da ex~
ploraç~o ) feram as industrias que se d8sen vol v81:1
r am nas economias coloniais, e, port a nt o , as que
atraí ra m os recursos financeiros 6 de mão -d a-ob ra
disponíveis ( •.• )Os g rup os com int8~~es em act i-
vid3des exportadoras eram negociant es e proprie-
t~rio~ com elevadas rocei t as e altos funcion~rios
da coroa e da I gre j a .E stes sectores ds população
( ..• ) constituíram um mercado colonial int e rn o e
a fonte ~e ac umul açio de capital( • • • ) ~ medida que
a concentraç~o de riqu 2zas crescia n u s m~os de um
pequeno gr up o de proprietários, comerciantes e
políticos influent es, "a ument ava a pr o pens~o para
obter art ig os manufacturados de consumo • exter is
o r( ••• ) Deste modo, o sGctor de expo r tação , p e la
sua ~r6pri a n atu re~ a., n~6 podia pe rmitir a trans
formaçãd~o sistema 'como um t odo , sendo o princ~pal
obstáculo para a diversificação d e estrutura in-
terna de produção B, consequentemente, para a ele
.• 1, .
das níveis técnicos e culturais d a população, par a
o desenvolvimento dos grupos soci a is da acordo
com 8 evolução dos mercad os internos e com a pro-
~g
cura de .novos artigos de,-.portação livres da auto-
ridade metr6politana" (Forrer, pp. 31-2). A maior
parte do capital restante ::que podia ser investid o
foi canalízada pela est rutura do subdesenvolvimento
para a exp lor a ção mineira, a agricultura, os tra~s

portes 8 as ampresas comerciais de ex portação para


a metrópol~; a quas e totalidade do que sobrava foi
para imp ortações de luxowindas d~s metoópoles
e 50 muito pouco foi para as manufacturas e o
consumo r e l acio nado com o .~6rcado interno. Devido
ao comércio e ao capital estrangeiros, os interes
ses económ ic os e .pol ític os da burguesia mineira,
agrícola e comercial nunca estiveram dirigidos
para o desenvolvimento económico intern~ As rela-
çoes de produção e a estrutura classista do lêti-
f~ndio, da mina e dos seus Hinterlands · econ6micos

e soci a is desenvolveram-se c omo respo~t~ às expo -


li ado r as n e cessidad Gs colonialistas da s metfopoles
ultrama rina e l a tin o-a mericana .. Não foram, CO. · Q ta!]' ..,.
tas vezes . e rrbn eame nt e se pr ete nd?, o r esu ltado da '
tra~sposição das instituiçõ e s feudais ibéricas no
século XVI.
Isto não significa ~e a estrutura col on ial
e de classe tenh a sido estática. Pelo contrário,
as constantes vari ações nalprimeira
, ocasiona,r.,am cor .
resp on d entes transfo~maç5es na s eg~ nd~, como o mos
tr8 a evo.l ução das manufacturas dUrgnt.8 o períOdO
colonial.Por exemplo, a depressão económica do s~
culo XVII, e m Espanha, que provocou a diminuição da
~9 - ,.,
tonelagem dos navios que comerciavam entre e l a e a
Nov a Espanha pa ra um terço do· que tinha alca nç ado no
no sec. XVI, permitwu o desenvolvimento a pr ec i ável
de manuf a cturas loc a is. Antes do fim do séc. XVIII
só as industrias texteis mexicanas ocupavam 60 GOO
operáriOS (Orozc o E Florescono, p. 73 ). Em 1794,
o V'ice-rei a8 Nova Espanha comentou que "mesmo sem

qualquer aux íli o , nem protecção directa do governo,


.certo · tipo de manuf a cturas, Princ ipa lmente as do
a l godão e , em es pecial, as dos tecidos finos, desen
v o lveu-se demas i ado, atingindo um grau que causa
admiração. As lãs gros ce ir as f o rnecem também maté -
ri a -prim a pa ra muit"s fábric a s ('c" ) t rll;~.i,t~t i~if { .. ; ,
cil proibir que se fabrique nestes reinos a maior ,
p a rte d a s COiS95 que n e l es. ae fazem ( •.. ) O ~nico
meio de destruir as fábric a s do reino é fazer com
que venh am da Europa os mesmos a rtigos ou outros
equivalentes e a preços ffi3is aces síveis. Assim su-
cedeu com a gr ande fábrica e c om a corporação que
fabric ava todas as espécies de tecidos de seda e
da qual qu ase ninguém se l emb r a ; outro t a nt o s e veri
fic ou com as f~bricas de estempodos ( ••• ) A decad~n
cia dest e c om ércio (de Ac ôpu lc o ) IDra muito na tural
com as a lt e raçõ e s verificad a s, os progressos que
fizeram as fábricas europeias, e o menor preço que
se paga geralmente pelos artigos asiát icos ( .•• )
(Hevil1a Gigedo,pp. 191- 2,200,203) . O historiador
chileno Hernán Ramirez N. (P. 65) faz nota r que
'16 de suma importância sublinhar que o fen6meno anal"
50
lisado se manifestou em diversos países america-
nos. "O comércio livreescreve o historiador peru -
ano Carlos OeustúaPim e ntel-- trouxe como resul-
tado a derrocada àõs poucas fábricas florescentes
ao abarrotar . completamente os mercados da Am~ri~a
com mercadorias G. •• )". Referind~ - se à situação
criada nap provincias do Rio da Pr3ta, Ricardo '
Levene anota : "F o i, efecti v amente , o interc.âmbio
activo que se iniciou com os r eg ulam entos de
1778 a causa da de cadência das primeiras indús -
trias naci o nais ll • As transformações na estrutura
social l ati n o - ame ricana ocasionadas por a lter a -
ções nas relações coloniais vê em - se com igual
"J.,t,j.d..9~ .na estrutura agrária .

--

51

t
NEO-COLO/V/AL/SIV10 E
SUB-DESEfVVOLV/MENTO

- _... _-- -_ ._.. - -


.:
11 --- A r ea lidad e d a d epe nd ê nci a ,
8 xplor a ç~o e bl oqu.iod a ecn n o -
mia dos país e s d e ba ix o nív e l
' · d e vida

A. A d e p e n de nci a

· Um d o ~~ ca ra ct e r e s e s se nci a is da s i tu -
a ç ão d o s p.a í s e s .1 ~ su b d 8 s e nv o lvid o sll é a s ua si t u a -
,
-
çã o d e .d ep end e ncia. Es ta s e manif es ta e m .d ois n l-
.
v e is : n o nív e l p o lític o e n o nív e l e c on ô mi c a .

1 ) A depe nd ê ncia p o lític a

No nív e l p o lític o , a f o rma ma is 3b s olu t a


de de p e n di n c i a ~ c o n st i t uíd a p e l a d e pend~ nc i D c o -
l o ni a l.C om e f e it 9 a qu as e to t a lid a d e d os paós e s
ditos · ' $ subd es~ nv o lv i d os " da Am~ ric a , da As i a o u d o
~fric a f o r a m dur a nt e mui to t e mp o , o u são a i nd a ,
país es c o l o niz a d o s. N ~m c e r to n~m e r o de c asos , 6
verd a d e que ~ SS 8S p a í se s for a m c o l o nizad os porq u e
e r a m me n os d e s e nv al vid o s e c o nom i c ame nt e d o quo os
. t-inha m c o l oniz a d o !,:Yla s is so n e m se mpr e é v e rd 2 d s .
Po r e xe mpl o , o n {v s J de d e senvo lvi men t o da s fo r ças
produtiv as da í nd i a n o SG cul o XV III e n o c om ~ ç o
d o sé cul o XI X nã o e r a v er dad e ir a men t e inf d ri o r 30
, . .
nlv e l d e des e nv o lvim e nt o das ~ ~ r ç as p r o dut i v as da
InglE o rra dessa e p oca.
O qu e 8 e ss e ncial n o f a to da depen dê nci a
..
C "-:
~
colonial é qu e e la tem sido o me i o violento de uma
explor a ção int e~sa dos países domin ados e a o rig e m
ora da ruína de uma parte da s suas forças produtivas
anteri o res, o ra da deformação da sua econom i a, pois
êsses países f o r am submetidos aos interesses da s
class es dominantes do pa í s colonizad o r.
No entanto, a de pe ndência política pode
tomar um a forma menos absolut a que a de pe ndencia
c o l on i a l.Os exemp lo s desse tipo de dep e ndência po -
líti ca são num e r o sos 8 ! de certa maneira, tr a dicio~
he is, B(n num 8 r osos países d a Am~rica Latina,que 56 "
s ai r am da dBpe nd ~ nci a " c e l o nial c om a a ntiga metr6·
po l e européi a para cair em uma dependencia semico -
l e ni a l com os Estados Unidos. Essa form a d e d e p e n~

d~nc ia pol{tita r e pousa, ~ nt~ o , na est r e it eza de


certos vínculos de depe nd e nci a a c on ômic a o u na
corrupção de uma parte do pe s soa l pOlítico diri -
gente desse s pa í ses depe ndentes o Os país e s submeti l
dos a ~ssa f o rm a de de~endªncia são" ca r ecterizados
pela estab il idade pol ític a ou pe l a ex i s t enc i a de um
regiolc d e ditadura ou pela a ltern an ci a da i nstabi ~ ·"~ C~

lidade política e da ditadura . Nos n oss os dias , ten -


de - se a designar esse tipo ~e de pend i nci a , para os '
pa ís es que acabam de abando nar o e st atuto coloni a l
pe l o termo, de "neocolonialismo'l .
De fa t o , e st a - se em presença de r e l açõ~s

sem ic o l o niais qu e p e rmit em igu a lm e nte ~s classes


domin ~ nte s d os países imperj a list a s submeter ao s
54
seus próprios interêsses a exp loração das forças
pr od utiv as dos países que lhes são submetidos
Na fo rm a ne oco l oni a lista , pode s~rque as e quip es
políticas dirigent es loc ai s dos países s em ic o l o -
ni a ía f a çam que se pague r e l a tivamente ca~o o
preço da sua colaboraçã o, ma s ~s s e pr e ço é, en t r e -
tanto, menos elevado "do que se r ia o cust o exigido
pe l a ma~ute n ção da uma domin 8 ç~o co l o ni al pura
e s i ~ples a que se r ecus a m o s ~ ovos ou trora c olo -
niz ados .
Em t OGos esses c asos de de p e nd on cia polí -
tica, e f ~ cil compreender , qu e o tip o de desenvol - "
vimento e c onom ico q u e t em lug a r n os pa í ses de -
pendentes está subo rdin ado a interêsses ex t e ri ores
.... , -
a esses pals e s . Iss o n ao l ev a necessariamente 1 a -
,, ~ " . -. :

". parada d o d esenvo l viment o G a inda menos a o recu o


9 0 r 8 1 das suas forças p r odutiv a s. I~las lev a a um
t i po de d ese nv o lviment o pa r t i cular que termina
po r hipertrofia r a lgun s s a tores que ~ do int a r es -
se das cla ss es dominantes d osenvolve r e a esta -
gnaçã o , e ffi 8 sm_o ao r ecuo, d o s outros se t o r es"'.

-
É Bss e o tip a d e d ~s o nv o limento que e st3
-
ta mbem na' oF i gem do esgundo tip o d e d e pendªncia :
a d8p8nd~ncia eco n ~m ic 3 q u e .~ uma das caract e r! s -
tic as esse ~ci ais dos pa í ses I lsubdesenvolvidos~

2) A dependi ~ -i a 8con&mica

A dependência econômica de um país c om


-N'Y - ....... :.'- , .. _.~.

r espei t o a ou tr o ~, c c rn frequ~ncia, . fruto d a su a


dependência política a nt e rior a êsse p a ís. Os vín -
culos de ~4P u rdinação pOlítica são e ntã o, r ompidos ,
mas servem para t e c e r os vínculos de ,.depend5ncia

economlc a que lh es sobreviv Hm. Entretanto, sab e ~s 8

a depend i nci a d s .um p a ís c om r~ spe it o a outro pode


ser es t ab61~c i d8 sem que o primeiro tenha sido an-
p o lític a do segundo. É o caso ,
t a s um a c a l o ni a por
exemp l o1 de
-numeros o s país es da Amé rica Latina
~

qu~ são econôm ic a me nt e dependentes dos Estados


Unidos em r ezão da fr aqueza da sua situaçã o e c onô -
mica quand~ do S E U ac e sso a ind e pend Ência p ol ít i -
ca. r es s a fr a qu e z a , consequ e ncia da situ a ção co -
lonial anterior, que o s fêz cair na dep e ndênci a
economica dos Estados Unid os .
A d epe ndênci a economica pOde t omar f o rmas
d e versas que não são exclusi v a s, mas que tem 8i -
d o sucessi v amen t e d o minantes.
A prim e ira forma da d e pendência econômica
e a dependênci a com e rcial. Essa se me nife s ta p e -
l o f ato d e que o volume e o mo nt a nte do comé r ci o
exterior de um pa ís sã o e str~it a ment e d e pen d en t e s
das e xportaçõ es para um núm e ro limitado de países
(com mais fr equê nci a para um único pais) de um
numero iQualmente muit o limit a do de produtos,
amiúde expo rtados em estado brut o ~ p o d e -se cit a r,
como exemplo dess e tip o da dependencia, a e spe -
cializ a ç50 d e c ar tos países n a e xportaç~o d o açu- ·
car e d o café, do a lgddã o e do chá, · ou ainda
-..: . -'---. '-'.,:-. ,
' S'b -
de bnnanas, de juta ou de estanho ou cobre ou
bauxite.Em numerosos casos, um só produto ou
única mente dois produtos fornecem de 7010 a 80%
das ex portações de um paIs. ~ evidente que o movi~ ." , . ~
me nt a da economia de tal pa is ~ principalmente c ")
dominado pelos fatôres exteriores a ~ste. são os
fatôr c s ex t e rn os qu e determinam a estrutura e 3

amplitude d os investim e ntos ".


Com efeito , a maior parte dos países que
conhecem tal depend~ncia comercial tem a sua vid a
e~o nômic a dividida 8m dois s 8 t o ~ es: u e um lado,
um sator ligad o ao mercado exterior Que é , em
g e r a l ) t~cnicamnete o mais mod e r no . ~ tambem aQu~ ­
.1e em q u o as re1nções ds produção capitalista se
desenvolveram mais
dida, ao cGpital estrangGiro.
Oe outro l a d o, um s octc r qu e s ~ tisf a z as nG -
c8ssidnd~s interior~s. Es se ~ um sector fr 3 i lcamen -
t o e qi pa d a , pouc o capaz du se desenvolv ~ r e O~d8

predomin8ffi 35 r e 13ções dG produção pré - capitalistQs .

A dependência comercial = que n os r efe rimos


pod e ser OL i r e sult 8do dG dois pr o c e ss o s hist ó -
rico sd if d rentes qu~ c or r espo ndem D du a s fas es su-
cessivas do des e nv o lvim o nt o do capit a lismo mundisl.
Com efe it o , a dependênci ~ come reil pOde SEr o l e -
gad a directo d e um p e rí odo de dep e ndênci a c o loni a l
pa ssado. Como já vimos, d e stabel cl eida no curso do
p e ríodo colonial e S8 m~ nt 5 m sob a pr ess50 conju -
g8da dos in teresses d os 0ntigos co l unizadores e de
.....

um 3 parte d 3 S class as d em inantas do a ntigo pa ís


colonizado .
Entret anto , a dependê~cia com e rci a l pode ter
o utr 8 o rig em . Pode ser cons e quênc i a dG uma depen-
dênci: fin a nc e ira, ist o ~, da pen~tração n a eco no -
mia do p a ís d e pend e nte de capit a is provenientes de
um p a í s imp e rialist a . Nessa C 3 S0 , ess es cgpitais
d~senvol v ~m pr i o rit~ri ;mente talou qual r amo de
ac tivid a d e indispensável 3 e xpansBo dos lucr os do
c~pital monopolizador d o p 3 ís expor t ado r de capi -
t a is. Ocaso m3 is típico é 9q u e l e d o desenvQ!vimento
d Ds industrias ,axt r at iv as de certos pa íses pelo 9
grand~ c ap it e l est rangeiro. Ess e ex p o rt a , entio ,
em 6stado bruto ou quase bruto , os pr od utos o bti -
dos e os tranforma nas usinas estabe l ec i das na ma

tr 6 p ~ 1 8 financeira.Em consequ6ncia, e l e se op5a a


todo d8~envolvimento quà ponh a em risc o a s suas u -
sin~s, de f~c a r e m privadds d e fornecimento d e m3 -
tGrias-primas ba rat a s .
Nesse c a so t o f~cto esso nci al ~ 3 dapend&ne
eia financeira en qu a nt o a d e pendênci~ come l ci 3 1 é
urn 8 c ü nsequênci a . t com o desenvolvimento do C3p~
t~l fin~ncei~o e ~?m ~ expa nsão d o 1 m~ 9 ~ial i smo,
no sentido científic o d a pa l a vra , Que esse tipo
de dep8 n dên~ia t~m tomado c a da .vez ma is corpo.
Pode - se n o tar que a situação de d e p end ência
e conómic a d? um pa í s lev a nã o sõm e nte à hipert r o -
fie de ô lguns famos d a ~roduç~o, mas i hip e rtrofia
~) D
de algumas cidades portuárias , enqua."lto o interior do
país continua a c arecer de meios de comunicação , ao
menos de me ios de comunicação outros que os des tinados
a transportar para os portos os produtos que interessam
aOS mersados estrangeiros o Ass im, a monocultura ou a
mono p rodução, a h ip ertrof ia dos portos, a estrutura
dos investimentos , a d i recção das vias de comunicação ,
tudo i sso traduz a
.
subQ~dinaçao
- ~
dos palses dependentes
.

à s ne cessidades do capital. estrangeiro o Tal é o pr i me i-


ro aspecto essencial da situação desses países que sao
consequentemente , outra coisa além de s i mplesmente
tlsubdesenv olv idos " o

B - A exploração
- Na ver dade , no quadro das relações i mper i alistas

que submetem os países dependentes à dominaç ão d e al-


gumas das grandes potênci as imp eri ali stas , a manuten-
çao a todo o preço dos países dependentes na sua situ-
ação comer c i a l e financeira "dependent e não é um f im em
sio O f im é a maximi zação do lucro do capital monopo-
lizador, i sto · e, a exploração ao máximo dos países
depend ent es pelo capital monop~lizador do ou dos países
dominar .....~e s ...

Com efe ito, e aqui que se p~rcebe a raí z profun-


da da situação dos país~s ditos "subdes envol v i dos t ' o

Es sa situação exi ste para. e l es porque eles são domina-


... :;, ' . -<,1"1 c.".oJ
dos e e xplorados o O .facto' - - . ~ ~, no que se refere
a esses países, não é, portanto , o fraco desenvolyimen-
to das s u as f orças produtivas, poi s esse facto é um
59
, ,
facto secundário , e é uma consequência da sua depen-
dência e da explor ação a que são submet idos.
É importante demorar- se sobre os d if erent e s as,-
pectos da explor ação a que s~o submetidos os países
dependentes,
1) A exploração financeira
O aspecto quP. ma is fàcilmente se pode notar e
a expl oração pelo capital es trange iro.
As s i m em meio do curso do decénios 1950- 196 0, àS
r ec ~ i ia s c o br a da s a e ss e .titu l o pe l a s p~i ~cip a is
potênci a s imp e r ialistas qu e e xplo~ a m o s p a { ses~c o ­
loni a is ou s e mic o loni a is , ist o e , o , Reino Unido,
a Fr 8 nç8~ os Pa ís e s Ba ix o s , a Bélgica e o s Esta -
dos Unidos, S8 e l e vam a ffi8is de três bilhões de
dól a r e s p o r a no . Ess a som a super a de muito a s so ~
mas t r a nsf erid a s p o r es s es me s mos P? í ses d it o s
"subdesenvo l vid o s " pa r a s e rvir de investimentos
p r o dutivos.Pod e -s e t~ o e ntanto , const a ta r qu e e m
certo s pa í ses, c o mo a fndi a , por exemplo , o montante
das s o ma s t r a nsferidas de lucr o s a t í tul o de lucr o s
pa go s ao c a pital es tr a ngeiro não r e pr8s e 8 ~ a mais
do qu e uma fr a cçã o dos lucros r e a liz a d o s no l oca l
POI" ess e c a pital.Est a p9 rte S6 .ac0mu l a e a umenta
o mo ntante da dívida do pa í s ex p l o r a do , ind e pende~
teme n te d e tod a contribuição r eal do capital es -
trang e iro à s ua ôc omul a ção int e rior . Eis a í o a ut o -
cr e scim e nt o da e xplorôção fi nanceir a .
Se ô exp l o r ação f in ô nC 8 i ) a dos pa í se s coloni
I:"l i 8 , e x - c o loniais ~ ou s e mi coloniuis é p o r de ma is
00
manife s ta, está longe de s er a única e nem mesmo chega
a ser a mais importante quantitativa e qualitativamente.
2) A exploração comercial
Outr a forma de exploração desses paises tem um
carácter comercial. É o resultado de uma troca nao equi -
valente. Os produto s reu.''lidos. pelos países industri as
aos países explorados sao , com efeito em geral vendidos
acima do seu valoro Os mecanismos pelos quais é possível
a impos ição de um superpreçp são numerosos e complexos.
Não é meu propósito analisá-los. Dare i ~õm ente alguns
exemplos.
Demodo geral 90 desenvolvimento do capitalismo dos
monopólios permite à grande industria concentrad~ dos~
paises imperialistas "vender a sua produção a preços que
incluem uma taxa de lucro muito inferior ao lucro médioo
Nos países ditos usubdesenvolvidos, as posições ocupaàas
pel o capital monopolizador estrangeiro são ainda mais
fortes dos que as ocupa num país indus·t i ializado. Is so
é , frequentemente, consequência da dominação pOlítica
exercida por t "al ou quam potência imperiaiista sôbre um
país colonial ou semicolonialo Essa dominação p ermite
com efeito , interditar práticamente as êmpresas · ou oa
pr~;:dutores dos países expl~rados d e se derigirem a '
outros fornecedores industriais "além dos estabelecidos
no pais imp er i alista dominanteo 6 monop'ólio de que est"e s
", dispõem se encontra, por i sso "mesmo , considerávelmente
reforçado. A inclusão de numerosos países dependentes
em uma zona monetária ou eill uma zona aduaneira permite
conduzir a um resultado análogo mu i to mais fle~ci vel"
Pode mesmo acontecer qUI"'"' a partici"paçà6 de wn país t
r /\
', -,
dependente em uma zona monetária o isole práticamente
do mercado mundial. Nesse caso, o grande caputal do
país dominante pOd8 dar a impressão de pagar os pro.
tos provenie..'1tes do pais dominado a um preço superior
ao do mercado mundial . O país dominado paga , em geral,
es sa vantage.il1 b611 caro , pois perde mais sôbre as com-
pras que e.fectua nos países imperial i stas f de que de~ .
pende, do que ganha sobr8 as vendas que efetua.
É importante assinaJ.ar que o .mecanismo de ex-
loração pelos preços está l onge de exegi·~ "empre a C"
pendência pOlítica do pais exp l orado ou mesmo a sua
participação em uma zona monetár i a ou aduaneira domi -
nada por uma potência imperealista ou um grupo de po-
tências impperialis t as. Essa expl oração pode resular
e frequentemente resulta , das pos i ções dominantes ocu-
padas nos paí ses explorados por algumas sociedades
comerciai s e bancárias esteitamente l igadas ao gran-
de capital industr i al de um país i mperial ista dado.
Essas sociedades agem , de tal moda que ' a despeito dos
preços vantajosos os países dependent e s continuam a
abastecer- se junto aos grandes monopólios i ndustriais
a que essas sociedaces estão li gadas . Um exempl o típico
e o do lugar dom i nante ocupado no mercado da América Latina
Latina pelos produt os i ndu str i ais a preços e l evados
proveni entes dos Estados Un i dos.
A exploração dos paí ses dependentes pelo meca-
n ismo dos preços, i sto é, pel a troca não- equivalente ,
frequentemente , da compra a preço inferior ao seu va-
lor de produtos fornec i dos por esses paises . I sso se
t ornou po s sível pel a domi nação do ~e rc ado local des -
,......,
/~

t ·") ~ ....
ses produtos por uma única grande , sociedade capitalista
estrange ira ou por quaisquer das grandes sociedades que
se entendem entre si.

Evidenter.1ente, . é impo!?sível avaliar o montant e de


exploração a que são assim submetidos os paisés dependen
tes o Para dar simplesmente uma ideia da orde"1 da ,grands.
za aparente dessa eo:ploraçã.o , é bastantco dizer que em ,,, E,"' -"

. meados do decénio '1 950- 1960 o montante atual médio das .


importações e das exportações dos paises ditos "subdesen
volvidos" foi de aproxi':!adamente 60 bilhões de dólareso
Se admitirmos que esses paises foram submetidos a tro-
cas 'não- equivalentes num montante correspond~nte a , Uni
camente, 10% das suas trocas externas ( e a cifra de
10% é um mínimo , sen dúvida, bastante inferior à reali-
dade) , pode-se avaliar em aproximadamente 6 bc, lhões de
dólares por ano o montante anual sacado da produção dos

raçaoo
.
paises âependentes em consequência dessa forma de expIo
-
Os mecanismos postos em prática pelo imperialis-
mo funcionam, aliás, de tal modo que as rec e itas obt i das
pelos paises dependentes em consequênCia das suas expl.2
raçoes difi cilmente aumentamo Com frequência, quando o
volume dos produtos exportáveis por esses pai ses aurnen-
ta, os preços pagos por estes ' produtos ea~" bastante p~

ra que as rec~itas dos pai.ses dependentes não ·:·aumentem


sensivelmente , ou mesmo diminuam o

Decerto , para um número limitado de produtos de


base, alguns acordos internacionais foram concluídos ,
destinados a assegurar a estabilidade dos preçoso . Mas
G3
,
esses acordos conchadas sob pressao de alguns grandes
produtores, e frequentemente de algumas grandes empr~

sas cap italistas exportadoras, são extremamente prec~


rios e não modificam fundamentalmente nem a desvanta-
gem i ni c ial das relações de preços nem a tendência da
evolução precedentemente ass inalada.( l)

A evolução do comércio e::terior desses últimos


anos con'f irma que os mecanismos descritos c ontinuam a
funcionar sempre da mesma ma11.cira C: contribuíram para t~ · '···.1·'.: ::l
au~ entar a i nda mai s a exploração sofrida pelos países
"subdesenvolvidos". Assim; de 1954 a 11960 os têrmos
de troca dos países ditos " subdesenvolvidos" se det e-
rioraramem 10%0 Como se sabe isso s i gnifica que esses
países devem em 1960, exportar 10% de mercadorias a
mais do que em 1954 para poder continuar a importar
o mesmo volume de produtos dêsse íltim ano. Em conse-
quência dessa nova deterioração dos preços , os países
ditos "subdesenvolvidos" perdem em 1960 aproximadamente
3 bilhões a mais do que em 1954· nas trocas externas
~sses J bilhões vêm , na·verdade, anexar- se às perdas
anter00rmente já sofridas devi do ao caráter não- equi-
valente das trocas, que tende tambem a agravar- se o
A extensão das sangrias sofridas pelo s países
:lsubdesenvol vidos H e a tendênc i a a9 aumento dessas
sangr i as contribuem para redu zi r ao ma~ imo as possibi-
lidades de desenvolvimento econômico .dos países qu e
as têm sofrido.
Quanto se consid~ram êsses fat os, vé- se b&fi

como o têrmo !tpaí ses· subdesenvolvidos~' é enganador


Na real i dade, precisar-se~i a fal ar de países não só-
(,q.
mente explorados pelo imperialismo, mas sufocados pr
êleo
Eu acrescentaria que essa sT'focação ou as tenta'
. t --·.ras·--de sufocação de economia dos países dependentes
resuTtalh' não"'sómente de mecanismo automáticos, mas
tamb~m- de·desições conscient ~~. Trata-se, ent~o, de um
estrangulamento Volu~'1tário dêsses paóses que buscam
emancipar-sco As manipulações da quota açucareira cuba-
na são hoje um ,exemplo bem conhecido. Outro exemplo
mais recente é fornecido pelo Brasil. Sabe~se que a
partir de fevereiro de 1961 o Fres idente Quadros pro-
·curou diversificar os mercados externos do seu pais
ao concluir numerosos acôrdos comerciais com os países
socialistas. A ameaça de estrangulamento americano não tardou
tardou a moJ:uifestar- seo Exerceu- se sôbre o principal
produto de exportação do 8rasil:o café. Entre fevereiro
e junho de 1961, as compras amer icanas de café brasilei-
ro se .reduziram a cerca de 61 3 .000 sacas de 60leg, no
que se refere aO período correspondente de 1960. Essa
diminuição era compensada pelo aumento das compras
americanas a Guatemala , Venezuela, Costa Rica, Para-
guai c África portuguêsa. As importações de café dos
Estados Unidos aumentaram durante esse mesmo períOdO
em 737.000 sacas.
~sses fatos mostram como seria mais justificado
falar em país es de "economi a sufocada ou es trangulada"
,
do que em pa~ses -
"subdesenvol Vl.dos n. Esses fatos sao
-
essenciais à compreensão da tendênc i a ao bloqueamento
do desenvolvimento sconômi co autônomo de um grande
número de pa í ses dependent es.
65
• .: j .o ' . .

c --- o b l oqueio


A lentidão com que se desenvol vem as forças pro-
dut i vas dos "países subdesenvol vidos " ·é = f ato. de ob-
ser vação ord i nár i a. Lembramos qRe alguns economi stas
burgues.es têm tentado exp licar essa tendênc i a de maneira
superfi c i al ao se refer i rem ao que chamam de ~'o · círculo
vicioso do subdesenvolvimento" . Essa expl i cação é tão:
pouco científica como a noção de !~subdesenvol vimento r9 o
O fato da lentidão extrema do desenvolvimento dos países
dependentes, contudo, por isso , não é menos exatao Exi-
ge t portanto , lli~a . explicaçãoo

Essa exp licação não e dificil de encontrar.·


quando se parte dá situação de dependência ·e de ex-
ploraç:.ão e-n que se encontram os países di tos usubde-
senvolvidos". Éessa a situação que está na origem da tend
tendência do bloquieió do desenvolvimento cconômi -::o
c"· '" " p l'..ísçs • .'..5 fon!1as at : - .:,.: <~s ~ d as q'.:'. 2..i s essa s i tv.~:; .
ção t ende a blo~uear o desenvolvimento são diversasc
Ass im , tun exame , mesmo rápido , dos diversos aspectos

da tendência do bloqueio é necessário o


Para maior comodidade da exposição , classifica-
rei. ,. de i nício , os diferentes .fatôrcs · que tendem a bloque
bloquear. o desenvolvimento ~conômi c~ d·os p:~ises di t os
usubdesenvolvidos n em fatôres externos e·em fat ôres
int ernos.

l' Os f atô res ext ernos ·'

É poss í vel di st ingui r e s ~eric i a lmente dois tipos


66
de factores externos: aqueles que agem de modo espontâneo
e aqueles que estão ligados a uma acção mais. ou menossis
I
tf'!l1lática.

Um factor espontâneo de bloqueio, particularmente


potente.·é constituido pelos juros a que estão submetidos
op paises dependentes. Se admitimos que· sbmente a eva -
sao relativa a juros e outros rendimento? transfe:ridos
e a evasão ligada às trocas não equivalentes se eleva-
ram a um ",inimo a 9 bi lhões de dólares por ano, pelos
meados do último decênio , vê- se que essâ evas ão corres -
ponde a uma soma anual de mais de 4 dólares e meio por
habitante dcs paises "subdesenvolvidos". Essa soma pode
parecer pequena mas , na realidade, é mui to elevada . Com
~feito , se ela se acrescentasse a wn montante anual dos
investimentos .efectuados por eSS25 países, perm i tiri~J

aumentá-los apro;,imadamente em 75% , o que deveria per~


tir mul t~plicar por 1 , 7 no mínimo a taxa do crescimen-
to da renda nacional desses paises.

A esse factor ext erno espontâneo de bloqueio,


yem.acrescentar a acção mai s ou menos sistemática do
grande capital estrm1geiro para se opor ao desenvolvi -
mento das forças· produtivas dês ses países dependentes
{
Essa açao se explica pelo fato de que a exp loração de
( " I "'"
-t ais pa1.ses e tanto mais facil quando es t es sao mais
~racos, menos industriali zados , mais especiali zados

,na exportação de um ou do i s produtos. A ação sistemática


t E;nde em vista bloquear o desenvolv i ment;o dos país es
dependentes toma formas mÚlti~as : aç~mbarcamento das malhores
melhores terras, açambarcamento das jazidas minerais
cujos produtos sao exportados em es t ado bruto, utili-
zaçao das poss i bilidades de influênc i a que dá a do-·
minação dos aparelhos pOlíticos , bancár i os , monetá~ios
financeiros I comerciais etc o I;:S?_a ação de bIoquieo
de origem externa , é tanto ma i s efica ~ quando exis- "

tem fatores internos que a t uam no mesmo sent i do.

2) Os fatores internos

Os fatores int~rnos que contribuem para a ten- -


dência ao bl&queio do desenvolvim~~to cstão·evidente-
mente ligados à situação de dependência e de explo-
raçao dos países ditos ~'subdesenvolvidosH .. A sua açao
vem reforçar a dos fatores externo~ ..

Esses fatores internos, estreitamente ligados


entre si, são de natureza econ ómica, técnica, soci-
aI e cul tural.
O fator económi~o fundamental é a fraqueza da
acumulação de capital .. Esta, em geral, é tão fraca
que permite apenas .à renda nacionaI progredir malS
ou menos à meSlila ta;~a que a popUlação o

Na verdade, a fraqueza da acumulação resulta,


em parte, como já vimos da importância de evasão pa-
ra o estrangeiro. Nas resulta também do baixo nível
de produtividade do trabalho, Esse baixo nível , conse
quência da insuficiência da acwnulação passada, nao
permite obter mais do que um excedente económico mui
to reduz i do e , por tanto , um investimento t'ambém muito
Y'eduzido~

A fraqueza da acumu l ação se acresce a inefi-


ciência da sua utilizaçãoo . Essa . insuficiência·· é devida
em parte, à acção de factores e"ternos, notadamente d~
queles que bloqueiam os caminhos da indusyrialização.
Mas é d2vido também aos factores internos tais como a
existência de desempregos, do subemprego e de bai;,os sa
l~rios · que, do ponto de vista d~ .~~prcsa privada, tor -

nam pouco vantajosos os il'1vestimentos que poderiam au-


mentar a produtividade do trabalho, Eis ai uma das ra-
zões da l~~tidão com que se cfetua o prpgresso técnico
na maior parte dos países ditos ~ ;subdesenvolvidosl;.
Por seu turno, a ação dos Eatores sociais e cul
turais -vem reforçar e sustentar a dos factores precedeE,tes
teso

No plano social, a lentidão do desenvolvimento


das forças produtivas está li gada à manutenção do papel
primordial desempenhado pelas classes ou pelos grupos
sociais característicos das formações pré-capitalistas o
Como se sab~, essas classes e esses grupos sociais e stão
pouco inclinados a adoptar as técnicas novas ou a proc~
der a investimentos produtivos, Os mais pobres dentre
eles são incapaz~s disso ~ o s mais ricos se entregam s~
bretudo a despesas suntuária s, sinais de poder e d e pre~
tfgio nas formações pré-capitalistas.

É preciso assinalar que o que dá especificidade


à situação das classes dominantes de carácter pré-capi-
talista nos paises dependentes e explorados é que essas
classes sao politicamente sustentadas pelo .imperialismq
precisamente porque contribuem para bloquear o desenvol
vimento, Também elas chegam, CO;,\ frequência, a obter al

- ---------_ .... -- . . _ .... - . .-


gumas vant agens económicas da dominação imperialista e
não se opõem portanto, s i stemàt icamente a esta, SOmente
as classes exploradas podem resol u t amente se op or à do-
minaçao imperialista., As burgues i as nacionai s, ao Can -
trário , quando chegam a formar-se não se opõem à domina
ção imperialista senão com hesitação e inconsistência
em razão dos vínculos de alguns dos elementos que ascon~
tituem com o imperialismo e do teinor de por em moviment o
forças sociais que poderiam não ser mais controladas.

Enfim, no plano cultural , numerosos factores COE;

tribuem para fortificm" a tend&ncia -ao bloqueio do dese~


volvimentoo Entre esses factores, é preciso mencionar :
o espírito rotineiro e o respeito da tradição, o despr~
zo trabalho manual , a ausencia de confiança no futuro,
o fraco sentido da; responsabilidades f a ignorância das
possibilidades da técnica.

Esses factos culturais nao desempenham o papel de


factores verdadeiramente autonomos contribuindo para a
tendência ao bloqueio. De facto , estão ligados à exis-
tência dEsde lonaos anos ~e uma situação de quas e esta~
nação da economia à repressão colonial e feudal, à ati-
tude g eral das classes dominant'es das sociedades prc- c~
pitalistas à estrutura estreitamente hierárquica dessas
sociedade -ao sentimento de que a sorte do país depende~

te nao se d e cide ali, ao fraco desenvolvimento do site-


ma de ensino que deriva da estrutura social e da situa-
ção de dependência.
Vê- se finalmente que os factores mais diversos
contribuem para a lent i dão do desenvolvimento dos países
dependentes c explorados , mas ,"ss,"s fac tól' CS estão lig~
,-
dos essencialmente à. situação de dependência e de cxpl.2,
",
raçao em que esses pais es se encontrarllo Ass i m, sàmcntc
sa indo des sa situação de d,"pendência e de exploração é "
que os paises ditos ~:subdescnvolvi dos ~l podem reallilcnte
ter acesso a um progresso económico e social rápido "

Charles Bettelhei m

Uf"Ç311Fl:U;;'t[ s;;'1J:"4:)

°oplde~
. . .leLjOS
. ~ 00L~OuOja
. , oss~~6o~d mn e OS5dj~ ~d+

;;q.U01!11:'Q~..l Ulopod ,~soP::l'· loflui:?sapqnS~j so::n:p S;:' sred 50 ;)nb


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Õ1 dx;) ;)P ;;, 1?,::>u2pu<Jd<Jp "p o;:""1'1:l1's 'ii <>=1-u<JUf1" "Ç::>u<Jss,", sop
:eD"!=1: O~+S2; S~,1ÇL1-:)12J 58SScl S'2m I soP-e~tOldx<) ;) S;l=!.U0pU0d:.:,1p

._ - -_........ _------ - -
--~ ..

\
O SUBDESENVOLVIMENTO NlIO ~ POI5 UM

ATRASO DO DES ENVOLVIMENTO --O QUE A

NOVA DESIGNAÇ1l0 "PAíSES EM VIAS nDE

DESENVOLVIMENTO" TENDE A LEV AR A CRER

- MAS SIM O"PRODUTO DO DESENVOLVrMENTO

DOS OUTROS", SEGUNDO A EXP RESSlIO DE

JACQUES FREYSSINET, OU, MELHOR AINDA,

O PRODUTO DO DESENVOLVIMENTO IMPERIALISTA ,


:(. 1
DOS OUTROS.
- Christian Pslloix -

~.
.<•..

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