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ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
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Olá!
Ao final dessa aula, você será capaz de:
1988.
1 Introdução
Vimos, na aula anterior, que a compreensão humana se modifica a partir das transformações sociais e culturais, e
que o conceito de saúde não pode mais ser considerado sinônimo de ausência de enfermidade.
no âmbito dos processos saúde-doença. Assim, temos que pensar os eventos que envolvem saúde e doença como
multideterminados ou multicausais.
Devemos, portanto, ampliar o sentido e incorporar novas dimensões à leitura destes fenômenos.
Ao fazer isso, a saúde deixa de ser compreendida a partir de uma perspectiva médica curativa, e passa a ser
Assim, entende-se que “processo saúde-doença é um processo social caracterizado pelas relações dos homens
com a natureza (meio ambiente, espaço, território) e com outros homens (através do trabalho e das relações
sociais, culturais e políticas) num determinado espaço geográfico e num determinado tempo histórico” (SAÚDE E
CIDADANIA, 2011).
Esta “nova” compreensão de saúde está fundamentada em um modelo ampliado que, ao mesmo tempo em que
orienta novos olhares sobre os fenômenos, também reorganiza ações e serviços. “A garantia à saúde transcende,
portanto, a esfera das atividades clínico-assistenciais, suscitando a necessidade de um novo paradigma que dê
conta da abrangência do processo saúde-doença. Nesse sentido, a promoção à saúde aglutina o consenso político
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em todo o mundo e em diferentes sociedades como paradigma válido e alternativo aos enormes problemas de
Fique ligado
Para melhor compreendermos o processo de ampliação do conceito de saúde, vamos analisar
brevemente três importantes documentos: a Declaração de Alma-Ata, a Carta de Ottawa e, para
o Brasil, a Constituição Federal de 1988.
Hoje a OMS conta com 192 Estados membros e dois membros associados. O Brasil faz parte dos Estados
membros.
Como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausências de enfermidade ou
doença” (OMS/WHO).
A definição de saúde da OMS tem sido considerada problemática por alguns pensadores, à medida que é vista
como utópica. Afinal, que indivíduo ou grupo humano apresenta “completo bem-estar” físico, mental ou social?
Assim, a definição apresenta a saúde como algo mais ideal do real; sua proposta é, na realidade, inatingível.
Uma posição mais favorável à definição da OMS permite tomá-la como um indicador para compreender a saúde
Ao reconhecer a saúde como algo mais do que ausência de doença, a definição da OMS amplia os determinantes
A consideração da dimensão social nos estados de saúde-doença será fundamental para a compreensão de
sentidos particulares e para a elaboração de políticas públicas capazes de fomentar vidas mais saudáveis.
Por outro lado, ao colocar lado a lado as dimensões mental, social e física, admite a necessidade de trabalhos
intersetoriais e multidisciplinares.
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3.1 A Declaração de Alma-Ata
A OMS promove uma série de encontros e discussões que têm como objetivo discutir e propor acordos e ações
Em 1978, como resultado da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em
Alma-Ata, no Cazaquistão, a Declaração de Alma-Ata expressa as necessidades dos governos e das organizações
que trabalham no campo da saúde que centrem seus esforços no sentido de promoção da saúde para todos os
povos do mundo.
O item I reafirma a definição de saúde elaborada pela OMS e reafirma ser a saúde um direito humano
fundamental.
Item IV: “É direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na execução de
Item V: (...) “todos os povos do mundo, até o ano 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma
vida social e economicamente produtiva. Os cuidados primários de saúde constituem a chave para que essa meta
país e de suas comunidades, e se baseiam na aplicação dos resultados relevantes da pesquisa social, biomédica e
4 - Envolvem, além do setor de saúde, todos os setores e aspectos correlatos do desenvolvimento nacional e
7 - Baseiam-se, nos níveis locais e de encaminhamento, nos que trabalham no campo da saúde, inclusive
médicos, enfermeiros, parteiras, auxiliares e agentes comunitários, conforme seja aplicável, assim como em
praticantes tradicionais, conforme seja necessário, convenientemente treinados para trabalhar, social e
Vemos claramente que a Declaração de Alma-Ata recoloca a questão da saúde, considerando diversos aspectos
que vão além das ações curativas ou resumidas a estados de enfermidade ou doença. O documento engloba todas
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Resultado da I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em novembro de 1986, em Ottawa,
É uma carta de intenções que tem por objetivo contribuir com as políticas de saúde desenvolvidas pelos países
envolvidos na Conferência.
Na Carta de Ottawa, o ponto central é a ideia de promoção da saúde. Aqui também vemos o sentido ampliado
do conceito de saúde.
São condições e recursos para a saúde: paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável,
Saiba mais
Promoção da saúde: “Processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua
qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para
atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem
saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio
ambiente” (OPAS, 1986).
Considerando as discussões internacionais, já estamos longe de um modelo puramente organicista dos processos
No Brasil, as orientações internacionais irão se consolidar na Carta Magna de 1988. É na Constituição Federal de
1988 que o conceito de saúde expressará claramente as principais diretrizes das conferências internacionais.
REFLEXÃO
O ano de 2000 é estabelecido como limite para o desenvolvimento de estratégias para a promoção da saúde.
Assim, pode-se ler no último parágrafo do documento: “A Conferência está firmemente convencida de que se as
pessoas, as ONGs e organizações voluntárias, os governos, a OMS e demais organismos interessados, juntarem
seus esforços na introdução e implementação de estratégias para a promoção da saúde, de acordo com os
valores morais e sociais que formam a base desta Carta, a Saúde Para Todos no Ano 2000 será uma realidade”
(OPAS, 1986).
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4 A 8ª Conferência Nacional de Saúde e da Constituição
Federal de 1988
O Brasil teve, ao longo de sua história, oito Constituições, sendo a primeira em 1824 e a última, em 1988. Cada
consolidação da cidadania.
Direitos civis, políticos e sociais vão, aos poucos, sendo conquistados, não sem muita luta e sacrifício. Podemos
dizer que ainda estamos longe da pretendida cidadania plena. Entretanto, inegáveis mudanças podem ser
observadas.
No campo da saúde, uma série de transformações vai sendo operada desde o final do século XIX e início do
século XX. Assim como ocorreu em outros países, o Brasil adotou modelos de saúde semelhantes aos
desenvolvidos internacionalmente.
Embora na virada do século já houvesse alguma discussão sobre a necessidade de uma concepção mais ampliada
de saúde – por exemplo, a adoção de políticas sanitárias –, a ênfase ainda recaía nas ações curativas e
individualistas.
O modelo predominante de atenção à saúde é o modelo hospitalocêntrico, no qual o hospital figura como
personagem principal. Este modelo, que ainda não foi totalmente superado, privilegia as ações curativas e
Curiosamente, ainda que não tenhamos superado no exercício da prática esta lógica biologizante, fizemos
Em 1986, em Brasília (DF), foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde. Esta Conferência foi um marco na
história das conferências de saúde no Brasil, à medida que, pela primeira vez, houve participação da população.
Este importante evento é o resultado de movimentos populares e de profissionais da saúde, que exigiam
Da 8ª Conferência, participaram mais de quatro mil delegados. Como consequência do chamado Movimento da
Reforma, os participantes propuseram alterações nas instituições de saúde que correspondessem ao conceito
O relatório final da 8ª Conferência reafirma que “em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
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liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de
organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis da vida” (BRASIL, 1986,
p. 4).
As propostas da 8ª Conferência serão consideradas pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis Orgânicas da
Também chamada de “Constituição Cidadã”, foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Esta Carta representa um
avanço importante em direção à democracia, e contou com a participação da sociedade, que contribuiu para sua
elaboração por meio de propostas, formuladas por cidadãos organizados em sindicatos e associações.
O espírito das discussões da 8ª Conferência Nacional de Saúde é incorporado ao texto da nova Constituição. Os
No Título VII, Capítulo II, Seção II - DA SAÚDE, Artigo 196, lemos: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” (BRASIL,
1988). Os demais artigos, até o 200, detalham a estruturação das ações e serviços de saúde a serem
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Percebeu a importância da problematização do conceito saúde;
• Entendeu a importância das discussões da OMS;
• Analisou os objetivos e consequências da 8ª Conferência Nacional de Saúde e da Constituição Federal de
1988.
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Referências
ALBUQUERQUE, Carlos Manuel de Sousa; OLIVEIRA, Cristina Paula Ferreira de. Saúde e doença: significações e
perspectivas em mudança. Millenium. n. 25, jan. de 2002. Revista online do ISPV (Instituto Superior Politécnico
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. Artigos
196 a 200.
BRASIL. Ministério da Saúde. 8ª Conferência Nacional de Saúde: relatório final. 1986. Disponível em: conselho.
saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Carta de Ottawa. Primeira Conferência Internacional sobre
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