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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL

DE FORMADORES

MÓDULO I
FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL
MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

ÍNDICE:
ENQUADRAMENTO: ..................................................................................................................................................................3

PARTE I ......................................................................................................................................................................................4
FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO ......................................................................................................................4
I.1. ENQUADRAMENTO LEGAL DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL.....................................................................................4
I.2. CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL .............................................................................5
I.3. FORMAÇÃO INSERIDA NO SISTEMA EDUCATIVO VS. FORMAÇÃO INSERIDA NO MERCADO DE TRABALHO ...6
I.4. O SISTEMA DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PORTUGUÊS ..........................................................................................8
I.5. TIPOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL ........................................................................................................................9
I.6. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO FORMATIVA ..................................................................................9
I.7. POLÍTICAS EUROPEIAS E NACIONAIS DE EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO: O Sistema Nacional de Qualificações e o
Catálogo Nacional de Qualificações .....................................................................................................................................10
I.8. MODALIDADES DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL: Principais ofertas formativas disponíveis ....................................18
I.9. O PAPEL DO FORMADOR NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL .........................................................24
I.10. LEGISLAÇÃO DE ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE DO FORMADOR ................................................................30
I.11. CÓDIGO DEONTOLÓGICO: DIREITOS E DEVERES DO FORMADOR ....................................................................33

PARTE II ...................................................................................................................................................................................34
APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE EEMPREENDEDORISMO ...............................................................................................34
II.1. APRENDIZAGEM – DEFINIÇÃO E CONCEITO ............................................................................................................34
I.2 - DIMENSÕES DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ...................................................................................................36
II.3. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM.......................................................................................37
II.4. TEORIAS DA APRENDIZAGEM ....................................................................................................................................38
II.5. FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ......................................................................50
II.6. CONDIÇÕES FACILITADORAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ....................................................................55
II.7. ANDRAGOGIA VS. PEDAGOGIA .................................................................................................................................56
II.8. PEDAGOGIA DIFERENCIADA E DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA ..........................................................................59
II.9. A APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA .............................................................63
II.10. EMPREENDEDORISMO E CRIATIVIDADE PEDAGÓGICA ......................................................................................64

Bibliografia ................................................................................................................................................................................67

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MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

MÓDULO 1. FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

ENQUADRAMENTO:

A Formação Profissional assume um papel de importância crescente perante os novos desafios que
surgem no país e na União Europeia: globalização, envelhecimento da população, emergência e
utilização crescente de novas tecnologias e consequente necessidade de atualização e aquisição de
competências.

A evolução da Formação Profissional nos últimos anos tem vindo a aumentar a exigência dos cursos e
ações de formação tal como a amplitude do contexto de desenvolvimento da atividade de Formador.
Alterações à legislação que regulamenta a Formação Profissional, a introdução do Catálogo Nacional
de Qualificações e a crescente diferenciação ao nível das Modalidades de Intervenção Formativas
(com a crescente utilização de metodologias de formação à distância) remetem o formador para redes
formativas cada vez mais complexas.

Neste sentido, é imperativo que numa fase inicial do curso se dê especial atenção ao enquadramento
da atividade dos futuros formadores, aos contextos em que intervêm, aos novos desafios a que estão
expostos (por exemplo, ações de formação mais criativas e empreendedoras), entre outros.

OBJETIVOS:
 Caracterizar os sistemas de qualificação com base nas finalidades, no público-alvo, nas
tecnologias utilizadas e no tipo e modalidade de formação pretendida;
 Identificar a legislação, nacional e comunitária, que Regulamenta a Formação Profissional;
 Enunciar as competências e capacidades necessárias à atividade de formador;
 Discriminar as competências exigíveis ao formador no sistema de formação;
 Identificar os conceitos e as principais teorias, modelos explicativos do processo de
aprendizagem;
 Identificar os principais fatores e as condições facilitadoras da aprendizagem;
 Desenvolver um espírito crítico, criativo e empreendedor.

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PARTE I
FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO

I.1. ENQUADRAMENTO LEGAL DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional inserida no sistema educativo e a inserida no mercado de emprego distinguem-


se pela base institucional dominante – a escola e a empresa, respetivamente – e pelos destinatários
específicos – no primeiro caso a população escolar, incluindo o ensino recorrente de adultos e a
educação extraescolar, e, no segundo, a população ativa empregada ou desempregada, incluindo os
candidatos ao 1º emprego.

A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) – Lei n.º 46/86 define o sistema educativo português
como “o conjunto de meios pelos quais se concretiza o direito à educação”. Distingue a educação pré-
escolar, a educação escolar e a educação extraescolar. Na educação escolar, a LBSE diferencia a
modalidade normal e a modalidade especial. A primeira integra o ensino básico, o ensino secundário e
o ensino superior, politécnico e universitário. A formação profissional compreende a iniciação, a
qualificação, o aperfeiçoamento, a especialização e a reconversão.

O Decreto-Lei n.º 401/91 e o Decreto–Lei nº405/91 veio introduzir ainda uma outra nomenclatura, esta
dita específica da “formação profissional”, que distingue a formação profissional inserida no sistema
educativo e a formação profissional inserida no mercado de emprego.

Atualmente, a Formação Profissional é legalmente enquadrada pelo Decreto-Lei nº 396/2007, de 31 de


Dezembro, que estabelece o regime jurídico do Sistema Nacional de Qualificações (SNQ) e define as
estruturas que asseguram o seu funcionamento. O SNQ adota os princípios consagrados no acordo
celebrado com os Parceiros Sociais e reestrutura a formação profissional inserida no sistema educativo
e a inserida no mercado de trabalho, fazendo-as convergir em termos de objetivos e instrumentos.
Numa fase posterior, abordaremos com mais detalhe os principais aspetos e características do SNQ.

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I.2. CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Formação Profissional

“(…) processo global e permanente através do qual jovens e adultos, a inserir ou


inseridos na vida ativa, se preparam para o exercício de uma atividade profissional.”
in Decreto, 401/91

“(…) Atividades organizadas com o fim de proporcionar a oportunidade e os meios


para habilitar pessoas com os conhecimentos, com capacidades, com as atitudes
necessárias para o exercício de determinadas profissões numa determinada empresa
ou organização produtiva(…)
in Análise de Trabalho Abordagem Sistémica
de Acácio P. Duarte – IEFP, CNFF

Entende-se por Formação Profissional o conjunto de atividades que visam proporcionar a aquisição de
conhecimentos (Saber), capacidades práticas (Saber - Fazer), atitudes e formas de
comportamento (Saber - Ser), exigidas ao bom desempenho de uma determinada profissão ou grupo
de profissões num determinado contexto de organização produtiva económica e social.

Uma das principais características da formação profissional é que, para além de complementar a
preparação para a vida ativa iniciada no sistema básico, visa uma integração dinâmica no mundo de
trabalho pela aquisição de conhecimentos e de competências profissionais.

Cada vez mais, as transformações técnicas, económicas e organizativas têm conduzido a uma
constante alteração do conteúdo de trabalho e das respetivas competências a que aquele apela,
gerando desatualizações e desadaptações que acentuam a necessidade de aprendizagem ao longo da
vida. Os tempos atuais exigem assim capacidades de flexibilização, de adaptação da mudança,
reclamando maior:
 Rapidez nas decisões;
 Criatividade na procura de soluções;
 Capacidade de assumir riscos e responsabilidades;
 Capacidade de compreensão e integração nos sistemas de trabalho;
 Autonomia.

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A formação profissional constitui um meio privilegiado para a integração sócio-profissional dos


indivíduos, preparando-os para o desempenho de funções ao nível profissional - desenvolvendo
competências técnicas e características psicossociais para o exercer um determinado posto de trabalho
- e mobilizando e/ou desenvolvendo recursos para o desempenho de diferentes papéis sociais nos
diferentes contextos da sua vida.

I.3. FORMAÇÃO INSERIDA NO SISTEMA EDUCATIVO VS. FORMAÇÃO INSERIDA NO MERCADO


DE TRABALHO

Ensino:
 Objetivo: é a obtenção de um diploma;
 Programas: são rígidos e não adaptados à população;
 Mensagem: transmite-se o Saber - Saber e o Saber Ser / Estar;
 Grupo: é pouco incentivado à participação;
 Sistema de avaliação: é feito em comparação com os alunos, descurando-se a avaliação
dos processos e métodos de ensino.

Formação:
 Objetivo: Saber, Saber - Fazer e Saber Ser;
 Programas: vão de encontro às necessidades dos formandos;
 Mensagem: pretende-se que seja prática;
 Grupo: é incentivado a participar em todo o processo;
 Sistema de avaliação: incide sobre o sistema de resultados.

2 Realidades = 2 Terminologias

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Formação Inserida no Formação Inserida no


Sistema Educativo Mercado de Emprego

Empresa
Escola
Local (ou posto) de Trabalho
Universidade
Centro de Formação

Preparar para...
Ensinar Integrar para...
Socializar Aperfeiçoar o desempenho para...
Reconverter/reciclar para...

Visa:
Visa:
- O “saber - saber”, para aplicar.
- O “saber - saber”, para saber...
- O “saber - fazer”, para produzir.
- O “saber - ser - estar”, na vida...
- O “saber - agir”, no trabalho e na vida.

Sala de Formação
Sala de Aula
Local (ou posto) de trabalho

Formador
Professor
Monitor
Docente
Animador

Formando
Aluno
Participante

Turma Grupo

Trabalho Individual
Exercício Trabalho de Grupo
Trabalho Prático

Teste
Trabalho
Prova
Trabalho de Aferição
Exame

Aferição do Sistema de Formação


Avaliação do Aluno
Aferição dos Resultados

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I.4. O SISTEMA DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PORTUGUÊS

Conforme já referido, o sistema de educação e formação português abrange os subsistemas da


Educação e da Formação Profissional.

Em traços gerais podemos dizer que o Sistema Educativo, habitualmente designada apenas por
Educação Escolar, abrange o ensino pré-escolar, básico, secundário e o ensino superior. Faz também
parte do Sistema Educativo toda a educação extraescolar, como é o caso da alfabetização de adultos.

No Sistema de Formação estão presentes todas as modalidades de educação e formação de nível


básico, secundário e pós-secundário, dirigidas a jovens e adultos. Toda a formação profissional, seja
inicial ou contínua, está contemplada.

A grande inovação deste Sistema Nacional de Qualificações reside precisamente no facto de meter sob
o mesmo “chapéu” os dois subsistemas - Educação e Formação, estabelecendo assim uma ponte entre
dois mundos que até então pareciam separados.

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I.5. TIPOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Se pesquisarmos a literatura acerca desta temática, podemos verificar que se multiplicam as formas de
classificar e categorizar os tipos de formação profissional existentes.

A Formação Profissional organiza-se em:


A. Formação Inicial, no quadro da atividade de educação e formação certificada que visa a
aquisição de saberes, competências e capacidades indispensáveis para poder iniciar o
exercício qualificado de uma ou mais atividades profissionais.

B. Formação contínua no que se refere á atividade de educação e formação empreendida após a


saída do sistema de ensino ou após o ingresso no mercado de trabalho que permita ao
indivíduo aprofundar competências profissionais e relacionais, tendo em vista o exercício de
uma ou mais atividades profissionais, uma melhor adaptação às mutações tecnológicas e
organizacionais e o reforço da sua empregabilidade.

I.6. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO FORMATIVA

Quanto à sua forma de organização, a formação pode desenvolver-se através de várias combinações
de situações, que vão desde:
 Formação em sala / Formação presencial
 Formação em contexto de trabalho, também designada por “on job”
 E-learning (à distância)
 B-learning (misto)

A formação presencial é caracterizada por todos os conteúdos programáticos serem ministrados em


contexto de sala, presencialmente com os formandos e formador. Promove a interação permanente
entre formando/formador e privilegia o grupo pedagógico enquanto elemento facilitador de
aprendizagens.

A formação em contexto de trabalho, na qual os trabalhos se desenvolvem no próprio local de


trabalho ou em ambiente similar, optando-se por métodos de simulação e treino. Não poderíamos

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deixar de identificar também a formação em alternância (dual), na qual se a


formação presencial alterna com a formação em contexto de trabalho;

A formação à distância é um modelo de formação realizado a partir de comunicações interativas


humanas e partilha de recursos humanos e informações, em que o processo de aprendizagem ocorre
sem necessidade de se estabelecer uma relação presencial entre formador e formandos. É comum
associar a formação à distância, apenas às duas últimas décadas, contudo, a formação à distância
existe desde o século XIX, época na qual surge o primeiro curso por correspondência no Sir Isaac
Pitman Correspondence College. A formação à distância seguiu um ritmo evolutivo próprio, iniciou-se
com o suporte de papel, depois seguiu-se o áudio e audiovisual e atualmente está na fase do
multimédia. A introdução das ferramentas multimédia e a Internet foram as grandes responsáveis pelo
crescimento da formação à distância. Daí o crescimento da popularidade da formação e-learning,
caracterizada pela flexibilidade temporal e espacial.

A formação b-learning / mista (presencial + online) consiste na combinação das novas tecnologias de
aprendizagem com as técnicas tradicionais presenciais, ou seja, a formação assenta no recurso ao e-
learning e à formação presencial enquanto modalidades complementares.

I.7. POLÍTICAS EUROPEIAS E NACIONAIS DE EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO: O Sistema Nacional de


Qualificações e o Catálogo Nacional de Qualificações

O Sistema de Educação e Formação Português foi recentemente objeto de um conjunto significativo de


reformas, conduzindo, no essencial, à criação do Sistema Nacional de Qualificações.

O processo de reforma do Sistema de Educação e Formação português iniciou-se em 2007 com a


denominada “Agenda de Reforma para a Formação Profissional”. Num contexto em que, apesar de
terem sido feitos esforços continuados de investimento em qualificação ao longo das duas últimas
décadas, ainda eram notórios os baixos níveis de qualificação da população ativa em geral, e ainda
subsistiam elevados níveis de abandono e de saída escolar precoce de jovens, o processo de reforma
surgiu como forma de encontrar soluções inovadoras em termos de objetivos, modos de organização e
meios utilizados para elevar o nível de qualificação dos jovens e adultos.

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O Sistema Nacional de Qualificações (SNQ) foi criado através da publicação do


Decreto-Lei n.º 396/2007 e procurou reorganizar a formação profissional inserida no sistema educativo
e no mercado de trabalho, integrando-os com objetivos e instrumentos comuns e sob um novo
enquadramento institucional.

O SNQ assumiu como principal desígnio aumentar o nível de qualificação da população portuguesa,
dando prioridade à generalização do nível secundário como qualificação mínima da população, bem
como a aposta na qualificação de dupla certificação, quer através do aumento e generalização da
oferta de cursos de educação e formação profissional (jovens e adultos), quer através do
reconhecimento, certificação e validação de competências de aprendizagens formais, informais e não
formais.

Podemos afirmar que, sobretudo na sua fase inicial, o processo de reforma centrou muito do seu olhar
na oferta de formação dirigida a adultos. Neste sentido, procurou, para além da diversificação da oferta
de cursos profissionalizantes, possibilitar a progressão escolar e profissional organizando os percursos
de educação e formação em unidades de curta duração certificadas, encorajando e facilitando o
envolvimento dos ativos empregados em trajetos de qualificação.

É também à luz desta reforma e de recomendações políticas da União Europeia e da OCDE que
Portugal, em 2009, consagrou a escolaridade obrigatória até aos 18 anos.

Este processo de reforma procurou assegurar a expansão das ofertas de dupla certificação, tanto na
perspetiva de promoção da escolarização de nível secundário como na promoção da empregabilidade.
Desta forma, estreitou-se a relação entre as duas dimensões da aprendizagem, associando sempre,
nos percursos que conduzem à obtenção de uma qualificação profissional, a progressão na
escolaridade à formação profissional.

Ainda no âmbito da Reforma do Sistema Nacional de Qualificações, destaque para o aprofundamento


dos mecanismos de acompanhamento das ofertas de jovens e adultos e a criação da Carta de
Qualidade dos Centros Novas Oportunidades e, naturalmente, a reforma do Sistema de Certificação de
entidades formadoras (anteriormente designado por Sistema de Acreditação)

O Sistema Nacional de Qualificações consagrou como principais instrumentos:


 O Catálogo Nacional de Qualificações;
 O Quadro Nacional de Qualificações;

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 O Passaporte Qualifica (que vem substituir a Caderneta Individual de Competências que


havia sido criada pela Portaria n.º 475/2010 de 8 de julho).
 Sistema nacional de Créditos do Ensino e Formação Profissionais
 O Programa Qualifica e os Centros Qualifica.

Vejamos cada um destes instrumentos com um pouco mais de atenção:

A. Catálogo Nacional de Qualificações1

O Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) é um instrumento de gestão das qualificações nacionais


de nível não superior e, ao mesmo tempo, funciona como instrumento de regulação da oferta formativa
dos cursos profissionalizantes. O Catálogo reúne os percursos de qualificação considerados mais
relevantes para a atividade económica e está todo organizado em módulos de formação (designados
por Unidades de Formação de Curta Duração – UFCD) e abrange todos os setores de atividade.

No início de 2017, o Catálogo integra 305 qualificações, distribuídas por 39 áreas de educação e
formação de acordo com a Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação (portaria n.º
256/2005, de 16 de março).

Cada qualificação tem associados três instrumentos/referenciais, permitindo estabelecer a ligação entre
as necessidades do mercado de trabalho e o sistema formativo: o perfil profissional, o referencial de
formação e o referencial para reconhecimento, validação e certificação de competências (escolar e
profissional), como se apresenta na figura abaixo:

Fonte: ANQ/CNQ (2012)

1 Ligação: http://www.catalogo.anqep.gov.pt/
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Os referenciais de formação do Catálogo encontram-se estruturados, conforme referido, em unidades


de formação de curta duração (UFCD), capitalizáveis, que permitem a certificação autónoma das
competências e possibilitam uma maior flexibilidade na construção de percursos de qualificação.

“O Catálogo Nacional de Qualificações constitui-se assim como um pilar fundamental de todo o


Sistema Nacional de Qualificações, na medida em que é referente único para os percursos de dupla
certificação, resultado de uma estratégia participada de diversos atores dos setores de atividades nas
várias áreas de educação e formação.” (ANQ, 2011)

B. Quadro Nacional de Qualificações

Portugal, à semelhança dos restantes países da Europa e por recomendação da Comissão Europeia,
adotou um referencial de qualificações, tendo um conjunto de pressupostos comuns com o Quadro
Europeu de Qualificações para a Aprendizagem ao Longo da Vida2.

O Quadro Europeu de Qualificações (QEQ), adotado em 2008 pelo Parlamento Europeu e pelo
Conselho, consiste num quadro de referência comum que permite fazer corresponder e comparar os
sistemas de qualificações de vários países. Na realidade, funciona como um dispositivo de
tradução/comparação dos níveis de qualificação de diferentes países, que visa tornar as qualificações
mais claras e compreensíveis entre sistemas e promover a mobilidade dos aprendentes e
trabalhadores entre países.

Desde 1 de outubro de 2010 que está em vigor o atual Quadro Nacional de Qualificações. Este
constitui-se como um quadro de referência único para classificar todas as qualificações produzidas no
âmbito do sistema educativo e formativo nacional, independentemente do nível e das vias de acesso.
O Quadro Nacional de Qualificações está estruturado, à semelhança dos da maioria dos países
europeus, em oito níveis de qualificação.

Estes oito níveis de qualificação abarcam todas as qualificações atualmente produzidas no sistema
educativo e formativo português, sejam as obtidas no ensino básico, secundário, superior, ou na

2 http://ec.europa.eu/education/pub/pdf/general/eqf/leaflet_pt.pdf

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formação profissional e por via dos processos de reconhecimento, validação e


certificação de competências.

Níveis de
Qualificações
qualificação
Nível 1 2.º Ciclo do ensino básico
Nível 2 3.º Ciclo do ensino básico obtido no ensino básico ou por
percursos de dupla certificação
Nível 3 Ensino secundário vocacionado para prosseguimento de
estudos de nível superior
Nível 4 Ensino secundário obtido por percursos de dupla certificação
ou ensino secundário vocacionado para prosseguimento de
estudos de nível superior acrescido de estágio profissional -
mínimo de 6 meses
Nível 5 Qualificação de nível pós-secundária não superior com
créditos para prosseguimento de estudos de nível superior
Nível 6 Licenciatura
Nível 7 Mestrado
Nível 8 Doutoramento
Fonte: Portaria n.º 782/2009, de 23 de julho

Outro aspeto a destacar no Quadro Nacional de Qualificações é o facto de assentar em resultados de


aprendizagem (Learning Outcomes) para caracterizar cada nível de qualificação. Esta abordagem
distingue-se da organização tradicional, designada por conteúdos, na medida em que se centra nos
resultados da aprendizagem (outputs) e não nos conteúdos a transmitir (inputs). Dito de outra forma, o
que é valorizado nesta forma de organização é aquilo que o participante é capaz de fazer no final de
um determinado nível de qualificação, como resultado da mobilização de um conjunto de saberes
(conhecimentos, aptidões e atitudes), adquiridos em contextos formais (sala de formação, sala de aula,
etc.), informais (leituras, visitas a museus, espetáculos, etc.) ou não-informais (em contexto de trabalho,
com colegas, superiores, etc.).

O Decreto-Lei n.º 14/2017 procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 396/2007, de 31 de


dezembro, que regula o Sistema Nacional de Qualificações (SNQ) e as estruturas que asseguram o
seu funcionamento. Tendo em conta a criação do Programa Qualifica, com o presente decreto-lei o
Governo propõe, agora, a criação de um sistema de créditos que possibilite a capitalização coerente de
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unidades de formação e maior mobilidade e flexibilidade nos percursos formativos,


bem como de um instrumento de orientação e registo individual de qualificações e competências, que
vem permitir não só registar as qualificações obtidas (numa lógica de currículo ou de caderneta), mas
também identificar as competências em falta para completar um determinado percurso de formação,
por forma a possibilitar a construção de trajetórias de formação mais adequadas às necessidades de
cada indivíduo, de entre as diferentes trajetórias possíveis.

É também criado o Sistema Nacional de Créditos do Ensino e Formação Profissionais que vem permitir
a atribuição de pontos de crédito às qualificações que integram o CNQ, bem como a outra formação
certificada não integrada no Catálogo, desde que esta esteja registada no Sistema de Informação e
Gestão da Oferta Educativa e Formativa e cumpra os critérios de garantia da qualidade em vigor. É
acomodada a norma que cria o instrumento de orientação e registo individual de qualificações e
competências, permitindo o registo de todas as qualificações e competências que o indivíduo adquire
ou desenvolve ao longo da vida, referidas no CNQ, bem como as restantes ações de formação
concluídas, distintas das que deram origem a qualificações e competências registadas.

É ainda adaptada a norma relativa aos centros especializados em qualificação de adultos, enquanto
instrumentos essenciais na estratégia de qualificação de adultos, tendo como premissa fundamental
não só a valorização das aprendizagens que foram adquirindo ao longo da vida, mas também a
possibilidade efetiva de aumentarem e desenvolverem competências através de formação qualificante.

C. Passaporte Qualifica

O Passaporte Qualifica (Portaria nº 47/2017, de 1 de fevereiro) é um instrumento de orientação e


registo individual de qualificações e competências disponibilizado em formato eletrónico, que apoia a
orientação dos indivíduos, sendo também um instrumento de suporte à atividade dos Centros Qualifica
e das entidades de educação e formação profissional.

O Passaporte Qualifica permite:


 Identificar o percurso de qualificação efetuado pelo indivíduo até ao momento, a partir
dos dados SIGO, quando os registos se encontrem disponíveis;
 Simular percursos de qualificação possíveis através das qualificações e respetivas
unidades disponíveis no CNQ e das ofertas de educação e formação existentes;

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 Organizar o percurso efetuado ou a efetuar, em função das qualificações que o indivíduo


pode obter e da progressão escolar e profissional que pode alcançar, identificando, em
cada caso, as unidades já certificadas e os pontos de crédito obtidos e as unidades e
respetivos pontos de crédito que faltam obter.

O Passaporte Qualifica encontra -se disponível para:


 Os indivíduos, independentemente de possuírem ou não registos no SIGO e Caderneta
Individual de Competências, enquanto ferramenta de informação e de gestão do
percurso individual de aprendizagem ao longo da vida;
 Os Centros Qualifica, enquanto ferramenta de apoio à informação e orientação de
adultos no que respeita a percursos de qualificação;
 As entidades de educação e formação, enquanto ferramenta de apoio à dinamização e
gestão das suas ofertas, nomeadamente na adequação às necessidades dos seus
públicos -alvo e territórios de intervenção.

O Passaporte Qualifica é um documento oficial e pessoal.

D. Sistema nacional de Créditos do Ensino e Formação Profissionais

O sistema de créditos (Portaria nº 47/2017, de 1 de fevereiro), é aplicável a todas as qualificações


integradas no Catálogo Nacional de Qualificações, adiante designado por CNQ, bem como a ações de
formação profissional certificada não inseridas no CNQ.

O sistema de créditos tem como objetivos:


 Promover a flexibilização dos percursos de qualificação e das estratégias de certificação
no âmbito do Sistema Nacional de Qualificações;
 Capitalizar percursos individuais de formação e de aprendizagem ao longo da vida,
tendo em vista a obtenção de qualificações;
 Favorecer a legibilidade dos resultados de aprendizagem alcançados ou a alcançar
através da sua expressão quantitativa, de natureza complementar;

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 Valorizar as aprendizagens certificadas no contexto do SNQ, com base


nas qualificações do CNQ;
 Valorizar a formação contínua, relevante e de qualidade, não inserida no CNQ, para
efeitos de certificação no âmbito do SNQ;
 Responder a necessidades específicas de qualificação, criando condições para a
construção de percursos individualizados que possibilitem uma certificação final;
 Facilitar o reconhecimento das qualificações e a mobilidade no espaço europeu.

O sistema de créditos incorpora os princípios constantes da Recomendação do Parlamento Europeu e


do Conselho, de 18 de junho de 2009, sobre a criação do Sistema Europeu de Créditos do Ensino e
Formação Profissionais (ECVET) de acordo com o definido no SNQ, nomeadamente no que se refere à
creditação das qualificações e para efeitos de reconhecimento e mobilidade no espaço europeu.

E. O Programa Qualifica e os Centros Qualifica

O Programa Qualifica é um programa vocacionado para a qualificação de adultos que tem por objetivo
melhorar os níveis de educação e formação dos adultos, contribuindo para a melhoria dos níveis de
qualificação da população e a melhoria da empregabilidade dos indivíduos. O Programa Qualifica
assenta numa estratégia de qualificação que integra respostas educativas e formativas e instrumentos
diversos que promovem a efetiva qualificação de adultos e que envolve uma rede alargada de
operadores.

O Programa Qualifica é a estratégia do Governo para recuperar a educação de adultos, na sequência


da interrupção do programa Novas Oportunidades, que se integra no Programa Nacional de Reformas,
sendo encarada como prioritária. O programa pretende garantir que até 2020 metade da população
ativa do país conclua o ensino secundário. Alcançar uma taxa de participação de adultos em atividades
de aprendizagem ao longo da vida de 15%, alargada para 25% em 2025 é outro dos objetivos do
programa.

Um dos eixos fundamentais para a concretização do Programa Qualifica passa pela ativação de uma
rede nacional de centros especializados em educação e formação de adultos, vocacionados para o
atendimento, aconselhamento, orientação e encaminhamento para percursos de aprendizagem, com
base nas reais necessidades de qualificação existentes nos diferentes territórios e setores económicos.
Nesse sentido, são regulamentados os Centros Qualifica (Portaria n.º 232/2016 de 29 de agosto),
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instrumentos essenciais na estratégia de qualificação de adultos, tendo como premissa


fundamental não só a valorização das aprendizagens que foram adquirindo ao longo da vida, mas
também a possibilidade efetiva de aumentarem e desenvolverem competências através de formação
qualificante.

São atribuições dos Centros Qualifica:


 A informação, a orientação e o encaminhamento de candidatos para ofertas de ensino e
formação profissionais, procurando adequar as ofertas existentes aos perfis,
necessidades, motivações e expectativas dos candidatos e às dinâmicas do mercado de
trabalho;
 O reconhecimento, validação e certificação das competências desenvolvidas pelos
adultos ao longo da vida, de âmbito escolar, profissional ou de dupla certificação, com
base nos referenciais do Catálogo Nacional de Qualificações;
 O desenvolvimento de ações de informação e de divulgação sobre as ofertas de
educação e formação profissional disponíveis e sobre a relevância da aprendizagem ao
longo da vida;
 A dinamização e participação em redes de parceria de base territorial que contribuam
para uma intervenção mais integrada e consistente na identificação de necessidades
concretas de qualificação e na organização de respostas úteis para as populações.

I.8. MODALIDADES DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL: Principais ofertas formativas disponíveis

São várias as modalidades das ofertas formativas disponíveis. Seguidamente centrar-nos-emos nas
que, no momento atual, apresentam maior preponderância:
 Educação e Formação de Jovens
 Cursos de Aprendizagem
 Educação e Formação de Adultos
 Formações Modulares Certificadas
 Cursos de Especialização Tecnológica
 Formação para Públicos diferenciados (p.e., com incapacidade ou deficiência,
estrangeiros, etc.)
 Formação em Contexto de Trabalho (empresa e outras organizações)

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Cursos de Educação e Formação de Jovens


Estes cursos têm como objetivo certificar jovens em risco de abandono escolar ou que entraram de
forma precoce no mercado de trabalho com uma qualificação profissional inicial, permitindo, para além
da qualificação profissional, uma progressão ao nível da escolaridade.

Tal como no anterior, também este tipo de cursos integram uma componente de formação em contexto
real de trabalho, visando consolidar as competências adquiridas ao longo da formação teórico-prática.
Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet: http://www.anqep.gov.pt

Cursos de Aprendizagem
Estes cursos têm como principal objetivo a formação de jovens com uma qualificação inicial
indispensável ao desempenho de uma profissão qualificada. Os candidatos devem reunir,
cumulativamente, as seguintes condições: idade inferior a 25 anos, escolaridade ao nível do 3º ciclo do
ensino básico ou equivalente (ou habilitação superior ao 3.º ciclo do ensino básico ou equivalente, sem
conclusão do ensino secundário ou equivalente)

Nesta tipologia de formação, a aprendizagem é feita em alternância entre o Centro de Formação, onde
se realiza a formação teórico-prática (sociocultural, científico e tecnológica) e uma empresa, na qual os
formandos têm formação prática em contexto real de trabalho (daí ser considerada Aprendizagem em
Alternância). Esta última característica constitui um dos fatores de sucesso desta modalidade no que
diz respeito à integração dos formandos no mercado de trabalho.

Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet: http://www.iefp.pt/formacao/ModalidadesFormacao/CursosAprendizagem/Paginas/CursosAprendizagem.aspx

Educação e Formação de Adultos


Os Cursos EFA poderão ser indicados para adultos que tenham idade igual ou superior a 18 anos e
pretendam obter o 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico ou o ensino secundário e/ou desejem obter uma
certificação profissional.

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O percurso formativo inclui uma formação de base e uma componente de formação


profissionalizante (que inclui prática no contexto real).

Em comum todos estes cursos, para além de partilharem a formação em contexto real de trabalho,
partilham as componentes de formação sociocultural que visa a aquisição de competências e atitudes
que permitam o desenvolvimento pessoal, profissional e social, e científico-tecnológica que visa a
aquisição de competências técnicas essenciais ao desenvolvimento de uma nova atividade profissional
(apesar de ambos existirem com outra nomenclatura nos cursos de Educação e Formação de Adultos).

Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet: http://www.anqep.gov.pt

Formações Modulares Certificadas


As formações modulares destinam-se a adultos com idade igual ou superior a 18 anos, sem a
qualificação adequada para efeitos de inserção ou progressão no mercado de trabalho e,
prioritariamente, sem a conclusão do ensino básico ou secundário.

As formações modulares são capitalizáveis para a obtenção de uma ou mais qualificações constantes
do Catálogo Nacional de Qualificações e permitem a criação de percursos flexíveis de duração variada,
caracterizados pela adaptação a diferentes modalidades de formação, públicos-alvo, metodologias,
contextos formativos e formas de validação.

Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet: http://www.anqep.gov.pt

Cursos de Especialização Tecnológica


Os cursos de Especialização Tecnológica são cursos pós-secundários não superiores, que conferem
uma qualificação de nível 5 do Quadro Nacional de Qualificações (QNQ), que visam suprir as
necessidades verificadas, no tecido empresarial, ao nível de quadros intermédios, capazes de
responder aos desafios colocados por um mercado de trabalho em permanente mudança e acentuado
desenvolvimento, constituem-se como uma alternativa válida para a profissionalização de técnicos
especializados e competentes.

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Podem frequentar um Curso de Especialização Tecnológica, os indivíduos que reúnam uma das
condições apresentadas de seguida:
 Titulares de um curso de ensino secundário, ou de habilitação legalmente equivalente;
 Os que tendo obtido aprovação em todas as disciplinas dos 10.º e 11.º e tendo estado inscritos no
12.º ano de um curso de ensino secundário ou de habilitação legalmente equivalente não o tenham
concluído;
 Titulares de uma qualificação profissional de nível 4;
 Titulares de um Diploma de Especialização Tecnológica (DET) ou de um grau ou diploma de
ensino superior que pretendam a sua requalificação profissional;
 Podem igualmente candidatar-se à inscrição num curso de especialização tecnológica num
estabelecimento de ensino superior os indivíduos com idade igual ou superior a 23 anos, aos quais,
com base na experiência, aquele reconheça capacidades e competências que os qualificam para o
ingresso no curso em causa.

Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet: http://www.anqep.gov.pt

Formação para Públicos diferenciados


Ex.: Formação para Pessoas com Incapacidade e/ou Deficiência)
Constituem objetivos da presente modalidade de formação a promoção de ações que visem a
aquisição e o desenvolvimento de competências profissionais orientadas para o exercício de uma
atividade no mercado de trabalho, tendo em vista potenciar a empregabilidade das pessoas com
deficiências e incapacidades, dotando-as de competências ajustadas para o ingresso, reingresso ou
permanência no mundo laboral.

No âmbito desta modalidade as ações mais frequentes são:


 Formação profissional inicial (promovidas por entidades formadoras certificadas com estruturas
especificamente vocacionadas para a área da deficiência)
 Formação profissional contínua (promovidas por entidades formadoras certificadas com estruturas
especificamente vocacionadas para a área da deficiência ou por entidades empregadoras)

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Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet:
http://www.iefp.pt/formacao/Prog_Qualif_Pessoas_Def_Incap/Paginas/ProgramadeQualificacaodePessoascomDeficienciaseIncapacidade
s.aspx

Ex.: Programa Português para Todos (PPT)


O Programa Português para Todos visa facultar à população imigrante, residente em Portugal, que
comprove não possuir nacionalidade portuguesa e que apresente uma situação, devidamente,
regularizada de estadia, permanência ou residência, o acesso a um conjunto de conhecimentos
indispensáveis a uma inserção de pleno direito na sociedade portuguesa, promovendo a capacidade de
expressão e compreensão da língua portuguesa e o conhecimento dos direitos básicos de cidadania,
entendidos como componentes essenciais de um adequado processo de integração, através de um
conjunto de ações de formação em língua portuguesa.

Informação adicional acerca desta modalidade poderá ser consultada através da seguinte ligação da
internet: https://www.iefp.pt/programa-ppt-portugues-para-todos

Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC)


Apesar de não corresponder a um processo estruturado de formação, pela sua importância e
abrangência não poderíamos deixar de referir aqui o processo de Reconhecimento, Validação e
Certificação de Competências.

Enquadrado inicialmente na Iniciativa Novas Oportunidades (2008-2012), o processo de


Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) permite aumentar o nível de
qualificação escolar (RVCC Escolar) e profissional (RVCC Profissional) da população adulta, através da
valorização das aprendizagens realizadas fora do sistema de educação ou de formação profissional. O
desenvolvimento destes processo passou a ser realizado, entre 2013 e 2016, e pelos CQEP (Centros
para a Qualificação e Ensino Profissional) e são atualmente, como já referido previamente, uma das
atribuições dos atuais Centros Qualifica.
A listagem com as entidades promotoras de Centros Qualifica a nível nacional pode ser consultada na
página da internet https://www.qualifica.gov.pt/#/

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RVCC Escolar
O que é o RVCC Escolar? É um processo que permite reconhecer, validar e certificar as
competências adquiridas pelos adultos ao longo da vida, com vista à obtenção de uma certificação
escolar de nível básico (4.º, 6.º ou 9.º ano de escolaridade) ou de nível secundário (12.º ano de
escolaridade).
A quem se destina? A todos os adultos com mais de 18 anos que não frequentaram ou concluíram um
nível de ensino básico ou secundário e que tenham adquirido conhecimentos e competências; através
da experiência em diferentes contextos, que possam ser formalizadas numa certificação escolar.
Que nível de escolaridade é possível obter? O RVCC Escolar confere uma certificação equivalente
ao 1.º, 2.º ou 3.º ciclo do ensino básico (4.º, 6.º ou 9.º ano de escolaridade), bem como uma
certificação equivalente ao ensino secundário (12.º ano de escolaridade), válidas para todos os efeitos
legais.
Como se desenvolve o processo? O processo é desenvolvido ao longo de um conjunto de sessões
durante as quais os candidatos são apoiados, por técnicos e formadores, na identificação e
reconhecimento das respetivas competências escolares, na recolha de evidências que as comprovem
ou na respetiva demonstração.
Estas competências são avaliadas face ao Referencial de Competências Chave de Educação e
Formação de Adultos pretendido pelos candidatos.
Caso se verifique que os candidatos têm competências em falta serão desenvolvidas formações de
curta duração ajustadas às necessidades dos adultos. O processo culmina com a apresentação do
candidato perante um Júri que valida as competências detidas e formaliza a certificação escolar.

RVCC Profissional
O que é o RVCC Profissional? É um processo que permite reconhecer, validar e certificar as
competências que os adultos adquirem pela experiência de trabalho e de vida, através da atribuição de
um Certificado de Formação Profissional.
A quem se destina? A ativos empregados e desempregados, com mais de 18 anos, que adquiriram
saberes e competências através da experiência de trabalho ou noutros contextos e pretendam vê-las
reconhecidas através de uma certificação formal.
Quais as profissões abrangidas pelo RVCC Profissional? Neste momento, o RVCC Profissional
abrange uma grande diversidade de profissões.

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I.9. O PAPEL DO FORMADOR NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O trabalho de um formador envolve uma enorme complexidade. O seu papel na formação profissional,
ainda que não seja o único elemento do processo nem nele se deva centrar toda a formação, é crucial
para o atingir dos objetivos e para o bom desenvolvimento de uma ação de formação.

Qual, então, o papel que o formador deve desempenhar? Existem competências específicas
que deva possuir para desenvolver um bom trabalho como formador?

Segundo o Decreto-Lei 66/94 de 18 de Dezembro, o formador é (...) o profissional que, na realização


de uma ação de formação, estabelece uma relação pedagógica com os formandos, favorecendo a
aquisição de conhecimentos e competências, bem como o desenvolvimento de atitudes e formas de
comportamento adequados ao desempenho profissional.»

A sua principal missão prende-se, assim, primeiramente, com o favorecer da aquisição de


conhecimentos e competências, procurar desenvolver nos formandos atitudes e comportamentos
essenciais ao seu desempenho na vida ativa e no mercado de emprego.

O Formador é um Facilitador da Aprendizagem!


É sua obrigação, facilitar a aprendizagem, favorecer esta aquisição de competências, assumindo uma
postura de cooperação. Deixa de apenas “instruir” para passar a colaborar.

É fundamental que, ao longo do processo, sublinhe a importância do papel dos formandos, sobretudo
do seu empenhamento para o sucesso ou insucesso de uma formação, co-responsabilizando-os pelos
seus fracassos e pelos seus êxitos.

Contudo, o papel de facilitador só poderá ter lugar com o estabelecimento de uma relação pedagógica,
na qual irá assentar todo o processo de formação, mediante a criação de estreitos laços com os
formandos. É esta relação que sustenta o processo e que permite a prossecução da formação.

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Para além de se constituir como um facilitador, o formador é igualmente um Animador, procurando


suscitar nos formandos os comportamentos necessários à prossecução dos objetivos de
desenvolvimento e de polivalência cada vez mais exigidos. O seu trabalho envolve, entre outros
aspetos, promover a motivação e o envolvimento dos formandos, assegurando, desta forma, um dos
principais requisitos básicos à eficácia da formação.

O Formador é igualmente um Moderador de Conflitos. Entre algumas das competências do formador


conta-se a de ser um moderador de conflitos no interior dos grupos, e de saber aproveitá-los em favor
da formação. Esta gerência de conflitos está intimamente ligada à sua função de facilitador da
aprendizagem, canalizando a energia dos formandos para o que é fundamental no processo de
formação.

No entanto, para que o formador desempenhe a sua atividade com sucesso, deve desenvolver uma
série de competências que lhe permitam cumprir com os objetivos da formação e proporcionar aos
seus formandos as perspetivas necessárias ao seu próprio desenvolvimento e realização, tanto a nível
profissional como pessoal ao longo do seu contínuo profissional.

A sua atividade exige, assim, 3 tipos de competências:


 Competências PEDAGÓGICAS.
 Competências ao nível humano, PSICO-SOCIAIS;
 Competências PROFISSIONAIS / TÉCNICAS;

Competências Pedagógicas
Estas competências dizem respeito às capacidades de planeamento, preparação, animação e
avaliação de uma ação de formação e que envolvem uma série de parâmetros, essenciais ao
desenvolvimento da formação e à intervenção no sistema de formação:

1. Planeamento / Preparação da Formação


 Análise / caracterização do projeto de ação de formação em que se irá intervir: objetivos, perfis
de entrada e de saída, programa, condições de realização;
 Constituição do dossier da formação;

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 Conceção e planificação do desenvolvimento da formação: objetivos,


conteúdos, atividades, tempos, métodos, avaliação, recursos didáticos, documentação de
apoio;
 Elaboração dos planos das sessões de formação.

2. Desenvolvimento / Animação da Formação


 Condução/mediação do processo de formação/aprendizagem, desenvolvendo os conteúdos,
estabelecendo e mantendo a comunicação e a motivação dos formandos, gerindo os tempos e
os meios materiais necessários, utilizando auxiliares didáticos;
 Gestão da progressão na aprendizagem realizada pelos formandos, utilizando meios de
avaliação formativa e implementando os ajustamentos necessários.

3. Avaliação da Formação
 A avaliação final da aprendizagem realizada pelos formandos;
 Avaliação do processo formativo;
 Reestruturação do plano de desenvolvimento da formação.

Assim, no exercício das suas funções, o Formador deve dominar:


 Os mecanismos e processos de aprendizagem: cabe ao formador ser um facilitador da
aprendizagem, isto é, ajudar a aprender - respeitar o ritmo individual, criar situações que
favoreçam a integração e consolidação dos conhecimentos, motivar os formandos. A
aprendizagem será sempre a modificação do comportamento.
 Os métodos e técnicas pedagógicas: o formador deve definir claramente, de um modo
operacional, os objetivos a serem atingidos pelos formandos.
 Avaliação dos formandos: cabe ao formador avaliar os seus formandos, evitando situações
passíveis de subjetividade.
 Planeamento da formação: tendo em conta a responsabilidade do formador no processo
ensino / aprendizagem, a preparação das sessões é “ meio caminho andado” para o sucesso
da formação. As sessões devem ser preparadas com atenção e pormenor, isto é, devem
adequar-se ao público, aos objetivos, aos recursos, ao tempo disponível, visando maximizar,
rentabilizar e potencializar a formação.
 A comunicação interpessoal: ser-se formador é ser-se um “comunicador”, é estabelecer uma
rede de relacionamento interpessoal
 A dinâmica de grupos: o formador é um dinamizador e um gestor da dinâmica dos grupos

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Competências Psicossociais
Referem-se às capacidades de saber-ser e estar, isto é, as competências de relacionamento com o
próprio, com os outros e com o objeto de trabalho:

1. Saber–Estar em situação profissional no posto de trabalho, na empresa/organização,


nomeadamente tendo atenção à:
 Assiduidade;
 Pontualidade;
 Postura pessoal e profissional;
 Aplicação ao trabalho;
 Co-responsabilidade e autonomia;
 Boas relações de trabalho;
 Capacidade de negociação;
 Espírito de equipa;
 Autodesenvolvimento pessoal e profissional.

2. Possuir capacidade de relacionamento com os outros e consigo próprio, implicando,


nomeadamente, competências ao nível de:
 Comunicação interpessoal;
 Liderança;
 Estabilidade profissional;
 Tolerância;
 Resistência à frustração;
 Autoconfiança;
 Autocrítica;
 Sentido ético pessoal e profissional.

3. Ter capacidade de relacionamento com o objeto de trabalho, tendo implicações,


nomeadamente:
 Capacidade de análise e de síntese;
 Capacidade de planificação e organização;
 Capacidade de resolução de problemas;
 Capacidade de tomada de decisão;

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 Criatividade;
 Flexibilidade;
 Espírito de Iniciativa e abertura à mudança.

Competências Técnicas
As competências técnicas dizem respeito à capacidade do formador se integrar e adaptar ao contexto
técnico e organizacional da sua atividade:

1. Ser capaz de compreender e integrar-se no contexto técnico em que exerce a sua atividade:
 A população ativa, o mundo do trabalho e os sistemas de formação;
 O domínio técnico-científico e/ou tecnológico objeto da formação;
 O papel e perfil do formador;
 Os processos de aprendizagem e a relação pedagógica;
 A conceção e organização de cursos ou ações de formação.
2. Ser capaz de adaptar-se a diferentes contextos organizacionais e a diferentes grupos de
formandos.

Resumindo, de forma geral, cabe ao formador


 Planear sessões de formação;
 Conhecer o grupo nas suas diferenças;
 Definir objetivos em termos de resultados (o que espera alcançar com a
formação);
 Selecionar conteúdos;
 Escolher métodos e técnicas;
 Conceber instrumentos de avaliação (inicial, formativa e sumativa);
 Prever recursos didáticos necessários à realização da sessão de formação;
 Gerir tempos;
 Animar a formação;
 Relacionar os conteúdos com a realidade dos formandos;
 Respeitar diferentes ritmos de aprendizagem;
 Comunicar os objetivos;
 Criar situações problema;

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MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

 Diversificar métodos e atividades;


 Favorecer a interação/participação dos formandos;
 Avaliar, comunicando os resultados obtidos;
 Utilizar os diferentes tipos de avaliação;
 Transformar a formação em desenvolvimento pessoal.

Em forma de síntese, pode, pois, afirmar-se que o formador é e deve ser um profissional multitarefas.
As principais competências para o exercício da função de formador encontram-se sistematizadas no
esquema seguinte:

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MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

I.10. LEGISLAÇÃO DE ENQUADRAMENTO DA ATIVIDADE DO FORMADOR

A aposta, indispensável e necessária, na melhoria da qualidade da formação Profissional, implica uma


maior exigência na qualidade da formação dos formadores e a regulamentação das condições do
exercício da atividade dos formadores. Por outro lado, passa a ser reconhecida à formação Profissional
uma importância estratégica, enquanto espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos,
exigidos para o exercício das funções próprias de uma profissão ou grupo de profissões e capazes de
assegurar a mobilidade e a capacidade de adaptação a novas organizações de trabalho e a novas
profissões. Neste processo a qualidade dos formadores é, unanimemente, considerada um pilar
fundamental no desenvolvimento da formação.

O Instituto do Emprego e formação Profissional (IEFP) foi designado entidade certificadora responsável
pela certificação de formadores. Nesta qualidade, o IEFP iniciou o processo de certificação da aptidão
pedagógica dos formadores, cabendo, complementarmente à entidade formadora, verificar se as
competências técnicas dos seus formadores são adequadas aos conteúdos e ao nível de formação,
das ações que desenvolvem.

Cabe ainda ao IEFP gerir uma Bolsa Nacional de Formadores. Assim, todos os formadores
devidamente certificados podem solicitar a sua integração na bolsa de formadores, a qual estará
disponível para as entidades gestoras, formadoras e beneficiárias de formação (http://netforce.iefp.pt/).
O Decreto Regulamentar n.º 66/94, de 18 de Novembro, e de acordo com o estabelecido nos Decretos-
Lei nº 401/91 e 405/91, ambos de 16 de Outubro, procura regulamentar o exercício da atividade de
formador no âmbito da formação inserida no mercado de emprego, sabendo-se que a qualidade da
formação deve ser alicerçada na consolidação e dignificação da função de formador. » neste Decreto
que encontramos claramente definido o que legalmente se entende por Formador:
«(...) o profissional que, na realização de uma ação de formação, estabelece uma relação pedagógica
com os formandos, favorecendo a aquisição de conhecimentos e competências, bem como o
desenvolvimento de atitudes e formas de comportamento, adequados ao desempenho profissional»•
(n.º 1 do Art.º 2º)

De acordo com o diploma legal em vigor (Portaria nº 214/2011 de 30 de maio), para aceder à atividade
de Formador é necessário ser titular de um Certificado de Competências Pedagógicas (CCP) – que

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MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

veio substituir o antigo Certificado de Aptidão Pedagógica, CAP - que pode ser obtido
através de uma entidade formadora certificada, mediante uma das vias ilustradas no esquema
seguinte:

Fonte: Referencial de Formação Pedagógica Inicial de Formadores (IEFP/2013)

Quais são então os requisitos para o exercício da atividade de formador?


Conforme art.º 3.º da Portaria n.º 214/2011, de 30 de Maio e regulamentação do IEFP, os requisitos
são:
 Competências pedagógicas certificadas, através de uma das vias de acesso à atividade, a
saber:
o Curso de formação pedagógica inicial de formadores;
o Reconhecimento, validação e certificação de competências pedagógicas de
formadores, adquiridas por via da experiência;
o Equivalência de títulos, ou seja, o reconhecimento de diplomas ou certificados de
habilitações de nível superior que confiram competências pedagógicas
correspondentes às definidas no perfil de referência.
 Competências pessoais e sociais adequadas à função, a saber: capacidade de comunicação,
domínio das plataformas e redes de interação online, facilidade de cooperação e trabalho em
equipa, espírito empreendedor, iniciativa, criatividade, autonomia, flexibilidade e todas as
demais que, atentas as características do público-alvo, seja necessário mobilizar para
cumprimento dos objetivos da formação.
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MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

Conforme legislação específica do Ministério da Educação:


 Para o exercício da atividade do formador nas componentes de formação de base,
sociocultural e científica, é requerida habilitação para a docência, nos termos da legislação em
vigor.
 Para o exercício da atividade de formador nos processos de reconhecimento, validação e
certificação de competências escolares é igualmente requerida habilitação para a docência e,
como critério de preferência, experiência profissional no âmbito da educação e formação de
adultos.

Outros requisitos:
 Conhecimento consistente do Sistema Nacional de Qualificações, nomeadamente das
diferentes modalidades de educação e formação profissional;
 Preparação psicossocial e equilíbrio emocional, por forma a prosseguir com eficácia a função
cultural, social e económica da formação.

O esquema seguinte pretende ilustrar os requisitos ao nível das qualificações e experiência profissional
que o Formador deve possuir para o exercício, com sucesso, da sua atividade:
i. Qualificação académica e/ou profissional na área em que pretende desenvolver a sua atividade
de Formador (p.e., um Formador de informática deverá possuir uma licenciatura na área da
Informática);
ii. Experiência profissional relevante na área de formação de base, que lhe permita ter um
contacto realista com o mercado de trabalho e consequentemente conhecer os principais
desafios da profissão (p.e. técnico de informática); e
iii. Formação pedagógica que lhe permita obter o CCP.

Fonte: Referencial de Formação Pedagógica Inicial de Formadores (IEFP/2013)

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MÓD I – FORMADOR: SISTEMA, CONTEXTOS E PERFIL

I.11. CÓDIGO DEONTOLÓGICO: DIREITOS E DEVERES DO FORMADOR

Apesar de não se limitarem aos aspetos seguidamente enunciados, os direitos e deveres do formador
foram considerados no Regulamentar n.º 267/94 série I-B de 18 de Novembro.

Direitos do formador
Segundo o Decreto Regulamentar n.º 267/94 série I-B de 18 de Novembro, são direitos do formador:
 Apresentar propostas com vista à melhoria das atividades formativas, nomeadamente através da
participação no processo de desenvolvimento e nos critérios de avaliação da ação de formação;
 Obter comprovação documental, pela entidade promotora da ação, relativa à atividade
desenvolvida como formador, do qual conste o domínio, a duração e a qualidade da sua
intervenção;
 Ser integrado em bolsas de formadores.

Apesar de não legislados, podem ainda identificar-se outros direitos do formador, tais como:
 Ser remunerado de acordo com a função desempenhada
 Solicitar o apoio necessário ao desenvolvimento das suas funções

Deveres do formador
Ainda segundo o Decreto Regulamentar n.º 267/94 série I-B de 18 de Novembro, são deveres do
formador:
 Fixar os objetivos da ação e a metodologia pedagógica a utilizar;
 Cooperar com a entidade formadora, bem como com outros intervenientes do processo formativo,
no sentido de assegurar a eficácia da ação de formação;
 Preparar, de forma adequada e prévia, cada ação de formação;
 Participar na conceção técnica e pedagógica da ação;
 Zelar pelos meios materiais e técnicos;
 Ser assíduo e pontual;
 Cumprir a legislação e os regulamentos aplicáveis à formação;
 Avaliar cada ação de formação e cada processo formativo em função dos objetivos fixados e do
nível de adequação conseguido.

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PARTE II
APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE EEMPREENDEDORISMO

II.1. APRENDIZAGEM – DEFINIÇÃO E CONCEITO

Aprender é adquirir:
 Conhecimentos;
 Capacidades;
 Atitudes.

Que levam à modificação relativamente permanente do comportamento resultante da prática


ou experiência.

Alteração relativamente estável do comportamento ou conhecimento, devida à experiência, ao treino ou


ao estudo.

A Aprendizagem é:
 Um processo – pois a ação de aprender não é fugaz nem momentânea, realiza-se num tempo
que pode ser mais ou menos longo.
 Uma construção pessoal – pois nada se aprende verdadeiramente, senão através de uma
experiência pessoal de quem aprende, numa procura de equilíbrio entre o adquirido e o que
falta adquirir e através de mecanismos de assimilação e acomodação;
 Experiência, Interior à Pessoa – pois a aprendizagem tem um carácter pessoal que mobiliza,
simultaneamente, as estruturas cognitivas, emocionais e motivacionais dos indivíduos;
 Modificação no Comportamento Observável Relativamente Estável – é através das
manifestações exteriores (atitudes e comportamento) que se vê se o formando aprendeu, mas
estas só se revelam se no seu interior tiver havido um processo de transformação e mudança.

A aprendizagem ocorre quando há mudança no reportório das respostas de um organismo: colocado


face a um mesmo estímulo, o sujeito modifica o seu reportório comportamental, de conhecimento e
afetivo, de forma sistemática, consistente e duradoura.

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É a aquisição de uma nova conduta, relativamente permanente, ou o fortalecimento ou


enfraquecimento de uma conduta antiga, como resultado da experiência, da exercitação, podendo
ocorrer de forma consciente ou inconsciente, num processo individual ou interpessoal.

Constroem-se novos comportamentos e novas reações que vão integrar o reportório comportamental
do sujeito. É pela aprendizagem que adquirimos saberes, desenvolvemos capacidades, e
competências, ocorrendo uma mudança pessoal.

Através da aprendizagem damos respostas adaptadas às solicitações e desafios múltiplos do nosso


quotidiano. É a característica que nos permite promover a mudança pessoal e adaptar às condições do
ambiente sempre em mudança, assegurando a flexibilidade do nosso comportamento. O quotidiano
contribui, desta forma, para a elaboração de novos modelos de comportamento e desempenha, por
conseguinte, o papel de situação da aprendizagem.

“Praticamente todo o processo de pensamento e comportamento foram aprendidos. A aprendizagem


pode ser adaptativa ou desadaptativa, consciente ou inconsciente, manifesta ou não-observável.
Sentimentos e atitudes são certamente aprendidos como o são factos e competências.”
Sprinthall, N. A. & Sprinthall, R. C., Psicologia Educacional, MacGraw Hill, 1993, p.223

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I.2 - DIMENSÕES DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Segundo Jacques Ardoino, podemos definir diferentes planos de aprendizagem, segundo os diferentes
níveis de saber a atingir, e que deverão ser alvo principal no processo de aprendizagem:

Dimensão Cognitiva (Saber-Saber)


Implica a aquisição e retenção mnésica de conhecimentos gerais ou especializados que é necessário
possuir ao nível teórico e a assimilação/compreensão de conceitos e suas relações.

Dimensão Sócia Afetiva (Saber Ser-Estar-Agir e Saber-Evoluir)


Implica a aprendizagem ou modificação de atitudes, capacidades de comunicação e relacionamento
interpessoal – normalmente eficaz a longo prazo após a formação – e que possibilitem ao formando
desenvolver tomar consciência e descobrir novas aspetos ao nível sócio – afetivo.
Esta dimensão implica igualmente o desenvolvimento da conjugação entre conhecimentos,
capacidades e atitudes que possibilitem ao formando adaptar-se a novas situações no futuro.

Dimensão Operacional (Saber - Fazer)


Situa-se ao nível comportamental e implica a aprendizagem e domínio de instrumentos e métodos,
aptidões, habilidades e ações, bem como a modificação ou aquisição de um comportamento,
necessários a um bom desempenho profissional. Visa um conhecimento prático.
Este tipo de aprendizagem não tem sido considerado como objetivo fundamental na educação escolar,
no ensino tradicional. Muitas vezes a tentativa – erro, a descoberta por quem aprende constitui o
melhor meio para o processo de aprendizagem.

Dimensão integrada / Holística – (Saber Evoluir)


Implica uma integração dos diferentes domínios do saber. Relaciona-se com o desenvolvimento
pessoal de cada indivíduo.

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II.3. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Processo Global
Qualquer comportamento humano é global, incluiu sempre aspetos de conhecimentos, atitudes e
habilidades. Portanto, a aprendizagem, envolvendo uma mudança do comportamento, terá de exigir a
participação total e global do indivíduo, para que todos os aspetos constitutivos da sua personalidade
entrem em atividades no ato de aprender.

Processo Dinâmico
A Aprendizagem não é um processo de absorção passiva, pois a sua característica mais importante é a
atividade daquele que aprende. Portanto, a aprendizagem só se faz através da atividade do formando.
É evidente que não se trata apenas da atividade externa, física, mas também de atividade interna,
mental e emocional, porque a aprendizagem é um processo que envolve a participação total e global
do indivíduo, nos seus aspetos físicos, intelectuais, emocionais e sociais.
Por isso, os métodos de aprendizagem deverão ser ativos, suscitando o máximo de atividade por parte
do formando em face da caracterização da aprendizagem, como um processo dinâmico.

Processo Pessoal
Ninguém pode aprender por outra pessoa, pois a aprendizagem é intransferível de um indivíduo para
outro. O formador, apresentando o conteúdo a ser aprendido, realizando os movimentos necessários,
não leva o formando necessariamente à aprendizagem. A compreensão do carácter pessoal da
aprendizagem. A compreensão do carácter pessoal da aprendizagem levou o ensino a concentrar-se
no ser que aprende, considerando-o o centro da aprendizagem.
Portanto: A APRENDIZAGEM DEPENDE ESSENCIALMENTE DO SER QUE APRENDE.

Processo Gradativo
O aluno deverá aprender inicialmente as operações mais simples passando então às operações mais
complexas.

Processo Contínuo
A aprendizagem acha-se presente, desde o início da vida, acompanhando o indivíduo do nascimento
até à morte. O homem integra-se ao meio físico e social através do processo de aprendizagem,

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atendendo, assim às suas necessidades físicas, biológicas, psicológicas e sociais. Essas necessidades
constituem os OBSTÀCULOS ou DIFICULDADES que tem ele tem que transpor ou vencer para
aprender. Assim, o professor Neici afirma: “O homem aprende quando defronta obstáculos e sente que
precisa vencê-los. Aprender não é mais do que um vencer de obstáculos”. A aprendizagem é um
processo que se realiza através de operações crescentemente complexas, porque cada nova situação
envolve maior número de elementos.

Processo Cumulativo
Analisando-se o ato de aprender, verifica-se que, além da maturação, a aprendizagem resulta da
atividade anterior, ou seja, da experiência individual. Ninguém aprende senão por si em si mesmo, pela
automodificação. Desta maneira, a aprendizagem constitui um processo cumulativo, em que a
experiência atual se aproveita das experiências anteriores. A acumulação das experiências leva à
organização de novos padrões de comportamento. Daí afirmar-se QUEM APRENDE MODIFICA O
SEU COMPORTAMENTO.

II.4. TEORIAS DA APRENDIZAGEM

No processo de aprendizagem as vias pelas quais a modificação de um comportamento ou atitude se


manifesta e perdura, são múltiplos. Existem diferentes teorias que procuram explicar as diferentes
formas que este processo pode assumir:

 Perspetiva Comportamentalista
 Perspetiva Cognitivista
 Perspetiva Construtivista
 Perspetiva Humanista

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A. TEORIAS COMPORTAMENTALISTAS OU BEHAVIORISTAS


Autores como Watson, Skiner e Thorndike defenderam que a aprendizagem humana se resume a um
processo de condicionamento operante sobre o individuo que aprende, a partir do meio exterior.
A aprendizagem é vista como a aquisição de conhecimentos observáveis, através de relações mais ou
menos mecânicas entre um estímulo fornecido e uma resposta dada pela pessoa.
A aprendizagem funciona como uma alteração observável de comportamentos no formando, reagindo a
estímulos dados pelo formador, o qual introduz naquele uma série de respostas mais ou menos
automáticas.

PRINCÍPIOS PSICOPEDAGÓGICOS
 Apresentação de estímulos
 Condicionamento
 Reforço das reações desejadas
 Conhecimento dos resultados, objetivos finais.
 Apresentação da matéria em sequências curtas
 Exercitação

TÉCNICAS DE ENSINO
 Exercícios de repetição
 Ensino individualizado de tipo programado
 Demonstrações para imitação
 Memorização

Segundo esta teoria, aprender seria acumular associações estímulo-resposta cada vez mais
complexas, isto é, respostas passivas a estímulos, pressupondo repetição e exercício.

O que condiciona a ação é a natureza do estímulo e o que a dirige é o reforço. Na sequência de uma
resposta e em função do seu resultado é fornecido um estímulo (reforço) que confere à resposta um
efeito agradável ou desagradável. Este estímulo vai aumentar ou extinguir a probabilidade de resposta
do sujeito.

Dado o sujeito constituir um agente passivo no processo, será necessário “forçá-lo” a aprender através
da criação de uma situação externa. A aprendizagem é feita por “modelagem” mediante determinados

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objetivos que se pretendem alcançar. O indivíduo constitui apenas a matéria-prima que vai ser
“trabalhada”.

Para os comportamentalistas, não é suposto o indivíduo conhecer os objetivos da aprendizagem, bem


como não necessitamos de conhecer os seus interesses ou necessidades individuais, pois não existe
necessidade de os diferenciar.

De entre as teorias behavioristas, as principais são:

I) Condicionamento Clássico

O condicionamento clássico resulta da


transferência de uma resposta associada a um
estímulo para um outro que inicialmente não a provocava. É o habitualmente designado por “reflexo
condicionado” que se traduz numa mudança estável nos padrões de comportamento ou no conjunto de
respostas num organismo.

Segundo Pavlov e referindo-nos à sua mais famosa situação experimental:


E1 – Estímulo incondicionado - Carne
E2 – Estímulo Neutro - Campainha
R1 – Resposta incondicionada - Salivar
R2 – Resposta condicionada - Salivar

Quando apresentava a carne ao animal ele salivava – Resposta incondicionada (R1), isto é, não
aprendida, inata. O estímulo que a provocou chama-se Estímulo incondicionado (E1). Posteriormente,
Pavlov fez acompanhar a carne (E1) de um toque de campainha – Estímulo neutro (E2) e verificou que
o cão salivava. Repetiu várias vezes esta associação de estímulos, o que fez com que o cão esperasse
que a carne aparecesse ao toque da campainha. Passado algum tempo o cão salivava ao ouvir o toque
da campainha (R2).

O cão aprendeu a dar uma resposta (salivar) a um estímulo não adequado. Foi condicionado a salivar
como reação ao som de uma campainha. Este tipo de aprendizagem é muito pouco utilizado em
formação. É, contudo, muito utilizada na publicidade e constitui uma forma das formas de

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aprendizagem que está presente na nossa vida quotidiana. Por exemplo: se fui vítima
de um assalto posso sentir medo (resposta condicionada) quando perceciono determinados tipos de
pessoas ou determinados locais (estímulos condicionados).

II) Condicionamento Operante

Skinner foi um dos grandes mentores desta vertente da perspetiva comportamental. Ela distingue-se
da perspetiva anterior pelo papel do indivíduo no processo de aprendizagem (condicionamento).

Segundo o autor, o nosso organismo adota certos comportamentos de forma a obter uma determinada
resposta. O sujeito opera sobre o ambiente de forma voluntária e com o objetivo de obter satisfação ou
evitar o desconforto. Há assim um papel ativo que é desempenhado pelo sujeito.

Skinner, identificou 3 tipos de reforço:


 Reforço Positivo – estímulo com consequências benéficas para o sujeito;
 Reforço Negativo – quando a situação de partida é adversa para o sujeito e a resposta
pretendida restabelece a situação normal.
 Punição – estímulo com consequências adversas para o sujeito, é habitualmente usada para
enfraquecer ou extinguir uma resposta.

Segundo o condicionamento operante, existem duas formas de aprender:

Discriminando Estímulos – estabelecendo um certo tipo de comportamento, que ocorre em função de


um estímulo dado que acompanha esse comportamento, o qual é reforçado.
Ex: Quando olhamos para a montra de uma confeitaria temos prazer.
Quando vemos muitas pessoas a olhar para a montra, aumenta a probabilidade de irmos também
olhar.
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Diferenciação de Respostas – quando se reforçam vários tipos de respostas ou quando é reforçada


uma série de aproximações sucessivas a um modelo.
Ex: Aprender a conduzir exige tempo e treino e a aquisição de um conjunto de habilidades. Assim, na
fase de instrução devem ser reforçadas todas as respostas corretas.

Segundo esta perspetiva, o ensino é o arranjo de contingências de reforço e a tarefa principal do


formador será a de potenciar o desenvolvimento de um comportamento ótimo, utilizando quer estímulos
quer reforços apropriados.

III) Aprendizagem Social

Albert Bandura verificou que alguns comportamentos não seriam aprendidos da forma como
defendiam os anteriores teóricos. Muitos dos comportamentos aprendidos seriam adquiridos muito
mais rapidamente do que seria possível por condicionamento. A única explicação que encontraria seria
a de que muitos dos nossos comportamentos e a maior parte das nossas aprendizagens, são feitas por
observação, isto é, resultante da interação e imitação social de um modelo. É através da
observação que aprendo a serrar uma tábua, a cozinhar, a pintar…

A aprendizagem por observação implica a modificação do sistema de respostas de um indivíduo,


através da observação de uma sequência: aparecimento de um estímulo ao modelo – execução da
resposta pelo modelo – reforço pelo comportamento do modelo.

O observador observa e imita o modelo, adquirindo novas formas de comportamento, novas respostas,
que não implicam a imitação do modelo – cópia exata ou reprodução passo a passo, mas antes o
desenvolvimento de uma maior variedade de respostas.

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Esquematicamente:

Situação Fase de Fase de Fase de Fase de


Modelo Atenção Retenção Reprodução Motivação

Comparação da Performance a um
Modelo

Claro está que para desenvolvermos e adquirirmos estes comportamentos e aptidões necessitamos de
prática, sem a qual, afirma Bandura, não será possível a aprendizagem. Este tipo de aprendizagem
pode ser seguida mediante um reforço direto, um elogio pelo desempenho observado, por ter imitado o
comportamento desejado. Esta teoria coloca a ênfase no indivíduo que deixa de desempenhar um
papel passivo, passando a responder aos estímulos em função da interpretação que faz dele.

Será ainda importante refletir sobre as implicações que a perspetiva / teoria comportamentalista na
formação:

Técnicas de ensino mais utilizadas:


 Exercícios de repetição;
 Ensino individualizado do tipo programado;
 Demonstração/imitação (muitos comportamentos, principalmente os mais complexos
podem ser ensinados mais facilmente através da exposição a um modelo que ilustre o
comportamento desejado)
 Memorização

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Análise crítica a este modelo:


 Tendência a subalternizar o papel do indivíduo que aprende enquanto construtor da sua
própria aprendizagem;
 Funcionamento do reforço nem sempre é satisfatório uma vez que o mesmo tem
diferentes significados e consequências para diferentes pessoas;
 Faz apelo a um modelo massificado de ensino, uma vez que pressupõe que todas as
pessoas aprendem da mesma maneira uma mesma tarefa (excepção: Bandura);
 Não consegue lidar com as diferenças individuais.

B. TEORIA COGNITIVISTA

O expoente máximo desta corrente foi Jean Piaget, secundado por outros autores Bruner e Ausubel.
Trata-se de uma abordagem centrada na mente humana e na estrutura de pensamento de cada
indivíduo quando está a aprender: a aprendizagem humana é vista como um processo de codificação,
processamento e recodificação de informações.
A abordagem Cognitivista contrapõe-se à Comportamentalista. Estes teóricos defendem que os
indivíduos têm uma postura ativa perante a aprendizagem e que somente iniciam o processo quando
se apercebem que os benefícios são compensatórios.

PRINCÍPIOS PSICOPEDAGÓGICOS
 Motivação
 Desenvolvimento de expectativas
 Condições de conhecimento intuitivo
 Compreensão
 Relacionação do “novo” com o “adquirido”
 Sistematização
 Transferência para situações novas idênticas

TÉCNICAS DE ENSINO
 Ensino pela descoberta
 Apresentação de objetivos
 Introduções
 Sumários
 Questionários orientadores

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 Esquemas
 Debates, discussões, estudos de caso, etc.

O processo de aprendizagem implicará assim:


 Aquisição da nova informação que provém da nova situação – é necessário que já tenha
adquirido anteriormente informação que lhe permita apreender a nova;
 Transformação do conhecimento – a aprendizagem é essencialmente uma tarefa de
atribuição de significado, resultado da forma como é percebida a situação:

Quanto às implicações da perspetiva / teoria cognitivista na formação, podemos destacar os seguintes


aspetos:

Técnicas de ensino:
 Descoberta;
 Descoberta guiada;
 Apresentação dos objetivos;
 Sumários, esquemas;
 Questionários orientadores;
 Questionários de revisão.

Análise crítica a este modelo:


 Conhecendo as estruturas e processos subjacentes à aprendizagem podem criar-se
condições externas que facilitem este processo.
 Maior atenção para as particularidades de cada indivíduo, nomeadamente expectativas e
estilos cognitivos. Diferentes indivíduos requerem diferentes modos de aprendizagem.
 Esquecimento e erro são vistos como momentos do processo de aprendizagem e não
como incapacidades.

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 A aprendizagem deixa de ser manifestação de um comportamento expresso e mais uma


atribuição de significados, de acordo com a experiência anterior do sujeito que aprende e
estreitamente relacionada com a sua utilização previsível ou os seus fins.
 Papel e funções do formador: facilitar o adquirir de estruturas de conduta e de
representações de objetos que permitam agir sobre o meio e/ou sobre as
representações que dele temos.

C. TEORIAS HUMANISTAS
Autores como Maslow e Carl Rogers, entre outros, vieram defender a importância dos aspetos
psicológicos e sociais inerentes ao processo de aprendizagem de qualquer indivíduo, reconhecendo
que a motivação e a empatia são as “alavancas” fundamentais. Para estes autores, a aprendizagem é
um processo único e pessoal do sujeito que aprende, em função das suas vivências e experiências:
depende essencialmente da sua motivação intrínseca mas também de um ambiente favorável à sua
volta. O indivíduo que aprende tem um papel ativo no seu processo de aprendizagem, sendo este um
processo espontâneo.

PRINCÍPIOS PSICOPEDAGÓGICOS
 Aprendizagem centrada no aluno (único, singular mas complexo)
 Auto-aprendizagem e auto-avaliação
 Aprendizagem dos sentimentos, dos conceitos, necessidades e das habilidades
 Sublinha o carácter único da experiência pessoal
 Atmosfera emocional positiva e empática

TÉCNICAS DE ENSINO
 Ensino individualizado
 Discussões
 Debates
 Simulações
 Jogos de papéis
 Resolução de problemas, etc.

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Estas teorias centram-se no estudo da especificidade do ser humano perante uma determinada tarefa.
Segundo esta perspetiva, a aprendizagem é um processo cognitivo, mas o formando cresce e adquire
experiência com uma atitude livre, num processo de auto-realização ativo e pessoal. Para que a
aprendizagem se dê é necessária a implementação de um clima social propício ao desenvolvimento do
trabalho. É necessário estimular o trabalho em conjunto e o desenvolvimento afetivo do grupo, para
assim favorecer a aprendizagem.

Para isso, será igualmente necessário que o formando aceite as suas diferenças inter-individuais,
compreendendo e aceitando realidades diferentes das suas.

Quais serão pois as implicações da perspetiva / teoria humanista na formação? Vejamos os principais
aspetos:

Técnicas de ensino:
 Ensino individualizado
 Discussões
 Debates
 Painéis
 Simulações
 Jogos de papeis
 Resolução de problemas…

Análise crítica a este modelo:


 Os formandos devem poder pronunciar-se sobre as condições de trabalho e
eventualmente negociá-las.
 Proporcionar ocasiões ao formando para trazer atividades para o grupo, a sua
contribuição pessoal, os seus saberes, experiências e dúvidas, evitando assim que o
formando tenha um papel passivo ou dependente.
 Os formandos devem poder tomar decisões, mantendo assim a sua integridade pessoal.
 Organizar o trabalho para que as capacidades de todos os membros do grupo possam
ser utilizadas;
 Se o grupo for visto como um “bom grupo” e as condições de trabalho forem
satisfatórias, a atividade desenvolvida por cada um nessa situação será vivida
psicologicamente como uma gratificação.

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Existem muitas outras teorias e perspetivas sobre o processo de aprendizagem que defendem um
maior ou menor papel ativo do indivíduo no processo (ex. teorias do processamento de informação).
Aprender pode ser tratar, escolher informação, reunir, estruturar e integrar informações pertinentes em
detrimento de outras informações consideradas parasitas ou prejudiciais ao processo de
aprendizagem. Mas, muitas destas teorias complementam outras perspetivas e apenas a sua
compreensão como um todo permitirá a facilitação do processo de ensino-aprendizagem.

D. TEORIAS CONSTRUTIVISTAS

Para os autores como Ausubel, Bandura e De Bono, a aprendizagem é um processo dinâmico em que
os indivíduos são processadores ativos da informação, construindo as respostas ao meio. O
conhecimento processa-se pela tomada de consciência, pela sua integração no projeto pessoal dos
sujeitos. Estes autores referem que a aprendizagem é um processo de construção pessoal e interativo,
que apela às experiências passadas, condiciona a atuação no presente e possibilita as reestruturações
cognitivas.

Nesta teoria dá-se ênfase a utilização de métodos ativos e experiências, centrados na compreensão
dos dados, no desenvolvimento das funções mentais, no interesse e participação dos formandos.

Esta perspetiva fundamenta-se essencialmente na nossa capacidade de construção do conhecimento


através da atribuição de significados à nossa experiência. Refletindo sobre ela, criamos novos modelos
mentais que utilizamos para interpretar a experiência e construir um novo entendimento do mundo. A
aprendizagem surge, assim, como o processo de ajustamento das novas experiências aos modelos
mentais que vamos construindo. Caberá ao formador compreender os modelos criados pelos
formandos e os pressupostos que estão na sua base.

Esta perspetiva centra-se, sobretudo, na procura de um sentido. É essencial que o indivíduo se sinta
ativo e interessado ao longo de todo o processo. Não importa memorizar e reproduzir o conhecimento
ou o sentido atribuído por outros, mas sim que o próprio formando construa um sentido ao longo da
aprendizagem.

Também esta perspetiva / teoria tem implicações no âmbito da formação:

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Técnicas mais utilizadas:


 Técnicas de debate e discussão
 Ensino individualizado
 Auto-avaliação

Análise crítica a este modelo:


 O formador deverá procurar promover no formando novos sentidos através da inter-
relação dos factos.
 Para que a experiência tenha sentido é necessária a compreensão dos factos como um
todo e a compreensão das partes integradas no contexto do todo.
 O processo de avaliação deve ser integrado no processo de aprendizagem; o formando
deve receber feedback da sua progressão.
 As técnicas de ensino são constantemente adaptadas ao feedback dado pelo formando;
os formandos são encorajados a analisar e a interpretar a informação.
 São eliminados os testes de avaliação estandardizados; maior ênfase no papel do
formando na sua própria avaliação – auto-avaliação.

Em síntese, pode-se afirmar que as várias Teorias da Aprendizagem, enquanto linhas gerais de
interpretação do processo, têm em comum as seguintes ideias-força:

 Nenhum conhecimento pode ser adquirido se o sujeito não tiver determinadas condições de
organização do pensamento.
 Nenhum conhecimento se efetiva sem que o indivíduo atue sobre o meio envolvente.

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II.5. FATORES INTERVENIENTES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

São inúmeros os fatores que influenciam de forma mais ou menos direta a aprendizagem,
nomeadamente quando se trata de formação de adultos: motivação, estilos próprios de pensar e sentir,
reforço, conhecimento dos objetivos, a familiaridade dos conteúdos… Vamos aqui apenas abordar
alguns destes fatores, considerados importantes no domínio da formação de adultos.

I) Motivação
A motivação é algo que desencadeia a ação, que permite dirigi-la em função das metas que
pretendemos atingir. Constituem forças internas relativamente temporárias ou reversíveis que nos
imprimem energia em direção a determinado comportamento.

A motivação pode ter diversas implicações ao nível da formação. É preciso ter em atenção que cada
indivíduo possui diferentes valores, intenções, experiências e motivações. Determinadas experiências e
reforçadores da aprendizagem adquirem uma valorização específica em função de aprendizagens
anteriores, sendo que o que é significativo para um indivíduo pode não o ser para outro. O investimento
do formando no processo de aprendizagem dependerá da sua motivação e do significado que ele vai
atribuir ao próprio processo.

Estes fatores contribuirão para uma melhor integração da informação nas estruturas cognitivas. A
motivação facilita, assim, a aprendizagem, mas pode acontecer que, se muito elevada ou muito baixa,
gere um estado de ansiedade tão elevado ou uma passividade que iniba a aprendizagem. Será
essencial um nível de motivação ótimo – quanto mais motivados no processo de aprendizagem mais
facilmente e mais aprendemos.

Fatores Motivadores:
 Facilidade de comprovar eficiência pessoal
 Autonomia/iniciativa
 Responsabilidade
 Convívio saudável
 Assertividade
 Objetivos conhecidos, aceites e realizáveis
 Autoestima
 Utilidade
 Dinamismo

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Fatores Desmotivadores:
 Rotina
 Falta de reconhecimento
 Impossibilidade de progresso
 Falta de responsabilidade
 Demora na resolução de problemas
 Frustração
 Falta de comunicação

Motivar um grupo:
Cabe ao formador desencadear o estado de motivação dos seus formandos…
 Conheça os seus formandos
 Prepare e desenvolva as sessões de formação de forma estimulante

II) Memória
A aprendizagem está intimamente ligada à memória, dado que o que se aprende tem de se conservar.
É a memória que permite que as modificações alcançadas com a aprendizagem se mantenham ao
longo do tempo. Não podemos aprender sem recordar nem recordar sem aprender. São os
conhecimentos, as experiências anteriores, que nos permitem selecionar, organizar e reconhecer as
informações atuais.

No processo de ensino-aprendizagem a memória é um processo essencial pois constitui a base da


compreensão e da interligação entre informações aprendidas anteriormente e a nova informação.
Igualmente, a intenção de aprender e de recordar melhora a retenção, pelo que funciona como
elemento motivador do processo de aprendizagem.

III) Aprendizagem e Atenção


A atenção consiste no poder de seleção de que dispomos e que, quando aplicado às estruturas dos
estímulos, permite que reajamos percetivamente a uns e releguemos outros para segundo plano. Um
conjunto de estímulos simultâneos de uma estrutura complexa não pode ser percecionado na sua
totalidade, dando lugar a uma seleção, que é feita mediante uma triagem dos estímulos interiores e
exteriores que se apresentam ao indivíduo.

Em situações de perigo esta seleção é mais rápida, automática, através de reflexos motores.

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No entanto, a vida quotidiana nem sempre requer formas de atenção tão complexas e em diferentes
situações a nossa atenção flutua entre a discriminação de perceções sensoriais, a memorização de
certas informações e a realização de novas aprendizagens (motoras ou cognitivas). Em todas estas
situações a atenção vai depender do grau de motivação do sujeito.

IV) Experiências Anteriores


Desenvolvem capacidades e criam sentimentos que podem influenciar as aprendizagens futuras. Ao
aprender estamos a desenvolver capacidades específicas relativas ao conteúdo da mensagem,
preparando, assim, novas aprendizagens.

V) Conhecimento dos Objetivos e Resultados


Ao dar a conhecer os objetivos que se pretendem alcançar com a formação, o formador, para além de
revelar as formas de avaliação e controlo permite:
 Tornar o formando mais consciente do que lhe vai ser exigido;
 Dar pontos de referência para que o formando possa conduzir, avaliar e ajustar o seu
próprio processo de aprendizagem;
 Permitir que o formando distinguir o essencial do acessório no processo de formação.

Da mesma forma, o conhecimento dos resultados obtidos permite que o formando obtenha informação
sobre o que aprende e como aprende. Constitui um reforço para o facilitar do processo de
aprendizagem.

VI) Reforço
O reforço, tal como defendido pelas teorias comportamentalistas, constitui, em situação de formação
um estímulo à aprendizagem. Tem por efeito aumentar a frequência das respostas, nomeadamente,
reforçar respostas adequadas ocorridas numa determinada situação de aprendizagem. A ausência de
reforço, corresponde à diminuição do rendimento e pode dificultar o processo de aprendizagem.

VII) Idade
A idade é uma variável muito importante como fator de aprendizagem. A criança e o adolescente
encontram-se num período de desenvolvimento das suas capacidades cognitivas e de maturação
neurofisiológica, consequentemente, têm menos facilidade em aprender do que um jovem adulto ou um
adulto. Já o idoso, em fase de declínio das suas capacidades cognitivas tem mais dificuldade em
registar a nova informação. Estas informações revestem-se, assim, de extrema importância no

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processo de aprendizagem, principalmente quando se trata de formação de adultos, em que o fator


idade vai constituir um importante fator na sua estruturação e organização. Convém, por isso, salientar
primeiramente as características e diferenças entre os dois tipos de formação: andragogia e pedagogia.

VIII) A perceção

A perceção não é uma fotografia da realidade. Esta é uma construção da realidade, baseada em pouca
informação; o que nos chama a atenção para a necessidade de sermos tolerantes com a forma de os
outros percecionarem os objetos e as situações. Essas perceções podem ser diferentes das nossas; o
que não significa que estejam erradas.

A perceção é o processo de organizar e interpretar os dados sensoriais recebidos, para


desenvolvermos a consciência do ambiente que nos cerca e de nós mesmo.

Características da perceção:

1-Seletiva: porque cada um de nós seleciona a informação e reage apenas a determinadas


sensações.
2-Afetiva: percebemos mais facilmente aquilo que tem maior valor afetivo, isto é, o que
desperta em nós sentimentos fortes, sejam eles positivos ou negativos.
3-Global: temos tendência a perceber a totalidade dos objetos, pessoas, ou situações, e não
as suas componentes ou detalhes.
4-Temporal: temos uma capacidade limitada de retenção de informação, pelo que o tempo que
demoramos a integrar um estímulo, ou o tempo que decorre entre a estimulação e a sua
recordação, afeta a interpretação que se fez dele.

Perceção Social:
A forma como percecionamos objetos e pessoas é semelhante no entanto a segunda é mais complexa
pelo facto de o objeto percecionado não ser inerte e percecionar também ele o observador. Trata-se de
uma situação relacional e interativa.

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As Primeiras Impressões: Quando encontramos uma pessoa pela primeira vez, formamos
rapidamente uma primeira impressão, com base em informações insuficientes, que correspondem mais
às nossas crenças e valores do que propriamente à realidade da pessoa que estamos a conhecer. Esta
primeira impressão é positiva na medida em que nos permite rapidamente, com base em alguma
informação, agir perante determinada pessoa. No entanto, este processo apresenta insuficiências pelo
que devemos evitar que as suas influências negativas interfiram no nosso relacionamento com os
outros.

IX) O Local de Aprendizagem


Relativamente ao local de aprendizagem, este, deve apresentar condições físicas que facilitem a
comunicação entre os formandos (disposição em U das mesas) e a realização de trabalhos em grupo
(sala ampla) e que proporcione conforto (temperatura adequada da sala; luz.....).

X) As Diferenças Individuais
As diferenças individuais estão relacionadas com:
 Idade
 Inteligência
 Estado emocional
 Estilos de aprendizagem
 Maturidade

Estado emocional:

O estado emocional (ansiedade, insegurança, sentimentos depressivos..) podem afetar negativamente


a aprendizagem dos formandos.
Torna-se então importante o formador:
 Dar atenção, apoio emocional e feedback sobre o progresso do formando;
 Tranquilizar quando houver períodos de pouco ou nenhum progresso;
 Evitar que os formandos fiquem sozinhos durante longos períodos de tempo, dando
assistência imediata em caso de dificuldade.

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II.6. CONDIÇÕES FACILITADORAS DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Constituem-se como condições facilitadoras do processo de aprendizagem os aspetos abaixo


referenciados:

 Motivação: o formador deverá utilizar estratégias promotoras de motivação dos


formandos.
 Atividade: Trabalhos em grupo, realização de exercícios práticos, a aplicação dos novos
conhecimentos a novas situações, a recolha de informação acerca de um determinado
tema ou a discussão de conteúdos abordados permitem o envolvimento dos formandos e
consequentemente facilitam a sua aprendizagem.
 Conhecimento dos objetivos: A comunicação dos objetivos também é uma forma de
motivar os formandos. Esta permite esclarecê-los acerca daquilo que se espera deles
em termos de aprendizagem, permitindo-lhe um autocontrole e auto-avaliação sobre o
seu desempenho.
 Conhecimento dos resultados: O formador deve fornecer um feedback claro acerca
dos resultados que os formandos conseguiram. Esse feedback também é fonte de
motivação.
 Reforço: A utilização de reforços positivos é fundamental para uma boa aprendizagem.
Estes podem ser um elogio específico, a atribuição de incentivos ou o próprio feedback
dos resultados da aprendizagem.
 Domínio dos pré-requisitos: Para que a formação seja bem sucedida, é necessário
que o formador verifique que os formandos apresentem as capacidades ou os
conhecimentos prévios indispensáveis as atividades planeadas no âmbito da formação.
 Estruturação / Sequência:
 Partir do mais simples para o mais complexo.
 Partir do que o formando sabe para o que não sabe.
 Partir do que é prático ou concreto para o mais abstrato e teórico.
 Progressividade: Os conteúdos devem ser apresentados numa sequência crescente
relativamente a dificuldade, quantidade, lógica, atividade e expectativa.
 Redundância: A repetição de um comportamento ou conceito facilita a sua
memorização.
 Imagem e demonstração: Estas também ajudam o formando a memorizar com mais
facilidade.

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 Aprender pela descoberta e exploração: A aprendizagem por descoberta/exploração


facilita a aprendizagem na medida em que promove a motivação e atividade do
formando. No entanto, torna-se importante salientar que o formador continua a ter um
papel fundamental neste método que consiste em orientar o formando, de forma a que
este não se sinta abandonado.

II.7. ANDRAGOGIA VS. PEDAGOGIA

Na segunda metade do séc. XIX, o sistema educativo de crianças e jovens começou a sofrer grandes
alterações com as constantes descobertas da evolução do desenvolvimento humano, a revolução
industrial e as constantes mudanças tecnológicas. Surge assim, a necessidade de fazer os adultos
“regressar à escola”, como forma de dar resposta a uma sociedade em constante evolução. Surge
assim a Formação Profissional.

No entanto, é necessário constatar que os adultos constituem uma população com características
diferentes das crianças e dos jovens o que levou ao desenvolvimento da ANDRAGOGIA, bem como à
constituição de um sistema de ensino diferente do da escola-tradicional.

PEDAGOGIA ANDRAGOGIA

CRRIIAANNÇÇAASS ADDUULLTTO
OSS

ANDROS = HOMEM (ADULTO)

Com o avançar da idade vão-se deteriorando mais ou menos lentamente das capacidades sensório-
motoras, como a visão, audição, tempos de reação... No entanto, ao contrário do que possa parecer ao
senso comum, as capacidades intelectuais tendem a melhorar (capacidade de resolução de problemas,
racionalização, vocabulário…).

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O desenvolvimento de programas de ensino para adultos deve pois contemplar alguns


aspetos fundamentais.

1. Princípios da Andragogia

 O adulto aprende desde que esteja ativo e motivado;


 Os métodos utilizados devem obrigar à implicação total do indivíduo no processo de
aprendizagem (aprender fazendo);
 O adulto possui uma experiência de vida rica que aproveitada lhe permite aprender novas
informações;
 O adulto precisa de saber os motivos da aprendizagem e não aprender por aprender;
 O adulto é autónomo, independente e rico, pelo que tem o poder de aderir ou não à
formação;
 Orientação para a aprendizagem: a aprendizagem/formação para o adulto tem
essencialmente como objetivo resolver problemas do seu quotidiano (pessoais,
profissionais…);
 Em formação é necessário ter em consideração as características individuais de cada
adulto e as suas diferentes histórias de vida. O formador deverá ter em conta a história de
vida do formando, a sua vivência pessoal, o contexto social no qual se integra e o seu
percurso profissional. A forma como o adulto vai integrar e fazer uso da sua vivência
pessoal ao longo do seu processo de formação vai permitir compreender esse mesmo
processo.
 O ambiente de uma formação de adultos deve ser de sucesso pois, normalmente, estes
possuem uma menor resistência ao fracasso do que os jovens. O grau de dificuldade das
atividades ou exercícios propostos deve ser desafiante, pois excessivamente alto pode
provocar frustração se o formando não conseguir cumprir com os objetivos, principalmente
tratando-se de um adulto.

Portanto, poderíamos dizer que a grande diferença incide, principalmente, sobre o papel mais
responsável do adulto em todo o processo de aprendizagem, mas ao mesmo tempo na utilidade que
uma formação terá para um adulto. Espera-se que este seja o principal orientador no seu processo de
aprendizagem, isto é, que seja responsável pelas suas próprias decisões.

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Será igualmente importante salientar que a andragogia implica uma diferente orientação do processo,
consequentemente também ao nível de métodos e técnicas necessárias ao seu desenvolvimento e ao
alcançar dos objetivos de formação.

Na andragogia, a aprendizagem deve focar mais no processo do que no conteúdo, sendo que
constituem técnicas de sucesso o role-playing, o estudo de casos, simulações pedagógicas e a auto-
avaliação. O formador deverá, por isso, exercer um papel de animador, mais do que mero expositor da
matéria.

Princípios Pedagógicos
 O adulto aprende por si e consigo próprio, respeitando o seu ritmo e de acordo com as
suas experiências anteriores;
 O adulto só aprende o que quer e com quem quer;
 O adulto aprende melhor aquilo que sente necessidade;
 O adulto aprende resolvendo problemas ligados à realidade quotidiana;
 O adulto aprende sobretudo pela prática;
 O adulto tem uma capacidade de atenção e concentração limitada;
 O adulto resiste, sobretudo às avaliações.

Invariantes da Andragogia
 “Ninguém ensina ninguém, as pessoas é que aprendem.”
 “Ninguém forma ninguém! A formação pertence, de facto, a quem se forma.”
 “O adulto só aprende o que quer e com quem quer.”
 “Aquilo que não é desejado dificilmente é integrado”

2. Motivação no Adulto

Considera-se a existência de 5 fatores que motivam o adulto no processo de aprendizagem:


Relações Sociais – a aprendizagem possibilita-lhe estabelecer novas amizades e manter contactos
sociais;
Expectativas Externas – possibilita-lhe corresponder às expectativas dos outros, principalmente aos
do formador que é encarado como uma “autoridade” no assunto;

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Desenvolvimento Pessoal – permite-lhe atingir um estatuto mais elevado e promover segurança ao


nível profissional;
Fuga/Estimulação – permite-lhe aliviar a rotina do trabalho ou da casa em contraste com outras
situações de vida;
Estimulação/Interesse Cognitivo – aprender pelo gosto de aprender, procurar conhecimento para seu
próprio usufruto.

II.8. PEDAGOGIA DIFERENCIADA E DIFERENCIAÇÃO PEDAGÓGICA

A formação tem, desde o início do século XX, constituído um instrumento importante no


desenvolvimento das sociedades. Depois da Segunda Guerra Mundial, com o forte desenvolvimento
económico, a formação, nomeadamente a formação profissional, conhece um desenvolvimento ímpar
para fazer face às necessidades de qualificação das indústrias emergentes. Porém, até ao final do
século XX raramente se falava dos formandos enquanto pessoas com uma história e uma vida. No
entanto, as metas definidas no desenvolvimento da União Europeia a partir da Estratégia de Lisboa
implicam não só uma crescente qualificação de todos os cidadãos, como uma formação que se deve
prolongar ao longo da vida, porque os avanços sociais e tecnológicos assim o exigem. A globalização
crescente com a sua inevitável mobilidade, os avanços tecnológicos rápidos que de algum modo
implicam perceber alguns dos seus efeitos, a crise nos próprios sistemas do trabalho, com o
desemprego que vem acentuar a incerteza do viver quotidiano, colocam aos cidadãos pelo menos três
novos grandes desafios: ter uma leitura do Mundo e da sua evolução previsível; mover--se num
ambiente de incerteza, mesmo no que respeita à empregabilidade; saber agir e participar na sociedade
fazendo «ouvir a sua voz».
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Naturalmente que estas novas necessidades catapultam a formação e os seus sistemas para assumir
novos protagonismos e novas missões. Novos protagonismos porque tem um papel de destaque no
desafio da qualificação pessoal e social dos cidadãos aos vários níveis; novas missões porque tem que
garantir não só a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos mas, mais do que isso, tem que
garantir o direito a uma formação de qualidade a todos os cidadãos.

Ora, esta missão não é fácil de cumprir pois os modelos vigentes estão ainda muito próximos dos
escolares, tratando os formandos como se fossem todos muito iguais. Contudo, esta realidade mudou
drasticamente. Hoje convivem, no mesmo grupo de formação, pessoas com níveis de qualificação,
pertenças étnicas e interesses muito diferentes. Torna-se mais difícil (se alguma vez foi fácil)
normalizar estes grupos. O dilema está aí e urge resolvê-lo: ou se adotam procedimentos do passado,
excluindo quem não seja igual em termos dos seus ritmos de aprendizagem ao comum do grupo de
formação, ou se inova criando ambientes de formação capazes de responder de forma eficaz a estes
grupos cada vez mais heterogéneos, fazendo da formação um instrumento garante do direito à
formação de todos os cidadãos que dela precisam. É nesta última perspetiva que a presença desta
temática no âmbito da formação inicial de formadores pretende ser um contributo – apoiar quem deseja
assumir uma formação de qualidade para todos independentemente das suas diferenças.

O que é a pedagogia diferenciada?


A pedagogia diferenciada é uma pedagogia dos processos: desencadeia-se num ambiente de
aprendizagem aberto, onde as aprendizagens são explicitadas e identificadas de modo a que os
aprendentes aprendam segundo os seus próprios itinerários de apropriação dos saberes e do fazer
(Przesmychi).

Esta nova conceção da pedagogia coloca ao formador grandes desafios: em vez da preocupação em
ensinar, o foco deverá ser a criação de condições para que os formandos aprendam. A pedagogia
diferenciada significa romper com o ensino tradicional. Um bom formador deve ter presente que os
formandos não aprendem todos do mesmo modo, nem as suas dificuldades são sempre as mesmas.
Assim, o formador deve procurar ajustar as práticas de ensino / formação aos formandos, às suas
características pessoais e coletivas, aos seus pontos fortes bem como aos menos conseguidos.

Para Perrenoud (1997) a diferenciação é “Romper com a pedagogia magistral…pôr em funcionamento


uma organização de trabalho…de modo a colocar cada aluno perante a situação mais favorável.”

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Porquê diferenciar? Porque cada formando apresenta características próprias, tipos de inteligência
variados, interesses e necessidades diferentes, contextos de vida diversos, estilos de aprendizagem
variados… Atenção que a pedagogia diferenciada… não é ensino individualizado! Não é o caos! Não é
outra forma de conseguir grupos homogéneos! Assim, a diferenciação pedagógica é a adequação de
estilo de ensino aos estilos de aprendizagem.

A base teórica da pedagogia diferenciada tem origem em diversas teorias / modelos, dos quais
destacamos: A teoria das inteligências múltiplas; A Conceção de diferentes estilos de aprendizagens;

Hierarquia das Necessidades de Maslow; Modelo Ecológico de Bronfenbrenner e mesmo o paradigma


construtivista da aprendizagem.

Vejamos então sinteticamente algumas das conceções destes modelos, especificamente, no que
respeita às questões da diferenciação pedagógica.

Gardner (1983) apresenta o modelo das inteligências múltiplas. O principal pressuposto desta teoria é o
de que além da tradicional inteligência lógica-matemática e linguística, cada indivíduo pode
desenvolver outros tipos de inteligências, de caraterísticas distintas. Gardner identifica, para além das
já referenciadas (Inteligência Lógico-Matemática e Inteligência Linguística), outros tipos de inteligência,
a saber, Inteligência Musical, Inteligência Corporal-Cinestésica, Inteligência Visuo-espacial, Inteligência
Interpessoal, Inteligência Intrapessoal, Inteligência Naturalista e Inteligência Existencialista.

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Os princípios da formação diferenciada podem sintetizar-se nos seguintes pontos:


 A definição clara dos conhecimentos e competências essenciais de cada área curricular;
 A adequação das estratégias às diferenças individuais dos formandos, sejam elas devidas a
diferentes competências, conhecimentos prévios ou estilos de aprendizagem;
 A articulação entre a aprendizagem e a avaliação;
 O constante ajustamento dos conteúdos e dos processos, de forma a responder aos níveis de
conhecimento e competências de partida, e aos estilos individuais de aprendizagem.

Não existe uma única forma de aplicação dos princípios da pedagogia diferenciada, mas os processos
envolvidos podem sistematizar-se nos seguintes:
 Diferenciar conteúdos (p.e.: diferentes tipos de documentos e textos sobre determinado tema)
 Diferenciar processos: (p.e.: selecionar estratégias e atividades de acordo com o perfil dos
formandos)
 Diferenciar produtos (p.e.: utilizar diferentes instrumentos de avaliação)
 Diferenciar ambientes (p. e. variar a constituição dos grupos de trabalho)

Como se faz? Mais uma vez não há receitas mágicas, mas podem identificar-se algumas
características de um processo de aprendizagem em conformidade com os princípios da pedagogia
diferenciada, a saber:
 Atitude flexível e “sensibilidade” por parte do formador
 Gestão aberta / semiaberta do tempo letivo
 Análise dos estilos de aprendizagem dos aprendentes
 Reconhecimento de que há diferentes estilos de aprendizagem e que todos devem ser
valorizados
 Realce para os conteúdos que são considerados essenciais;
 Papel ativo dos participantes no seu próprio processo de aprendizagem;
 Valorização do trabalho autónomo dos aprendentes bem como do trabalho em equipa
 Negociação entre formador e formando/aprendente
 Formadores e formandos colaboram conjuntamente no processo de aprendizagem, redefinindo
objetivos e analisando o sucesso e os fracassos
 Diversificação de estratégias, atividades e materiais
 Os desafios/atividades propostos têm que ser moderados e exequíveis;
 Utilização de novas e diferentes formas de avaliação
 …

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Quais serão então as competências do formador no contexto da formação profissional? De acordo com
Perrenoud (2005) podem elencar-se as seguintes competências:
 Planear e animar situações de aprendizagem
 Gerir a progressão das aprendizagens
 Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação
 Envolver os formandos nas suas aprendizagens
 Trabalhar em equipa
 Participar na gestão da formação
 Informar e envolver os responsáveis
 Utilizar novas tecnologias
 Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão
 Gerir a sua própria formação contínua.

II.9. A APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA

A Programação Neurolinguística (PNL) tem dado recentemente alguns contributos para o entendimento
do processo de aprendizagem. Dediquemo-nos inicialmente à análise dos principais conceitos
envolvidos na programação neurolinguística.

Neuro: Relacionado com o sistema nervoso. Todos os comportamentos nascem dos processos
neurológicos da visão, audição, olfato, paladar, tato e sensação. Percebemos o mundo através dos 5
sentidos.

Programação: A forma como organizamos o que captamos através dos nossos sentidos

Linguística: utilizamos linguagem verbal e não verbal para ordenar os nossos pensamentos e
comportamentos e comunicarmos com os outros

“A Programação Neurolinguística (ou simplesmente PNL) é um conjunto de técnicas ou


recomendações que visam a autoajuda ou a melhoria da performance de uma pessoa numa
determinada ação. As técnicas da PNL têm aplicação em quase todas as atividades humanas.“ -
Definição Wikipédia em português.

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A PNL é considerada uma metodologia ou uma tecnologia, que aborda sistemas, comportamentos,
liderança, gestão, motivação, aprendizagem e outros. A PNL recorre a diversos conhecimentos de
diversas áreas, inter-relaciona-os, de forma simples e com resultados práticos. De acordo com a PNL
existem três sistemas fundamentais: o Sistema Visual, o Sistema Auditivo e o Sistema Cinestésico

As nossas preferências sensoriais têm implicações também nos processo de aprendizagem. As


pessoas com uma preferência maior num sistema, aprendem utilizando esse sistema. As pessoas de
preferência sensorial visual aprendem através de imagens. Indivíduos de preferência cinestésica, cuja
característica é o movimento, necessitam de movimento para aprender mais facilmente. Os auditivos
são os que escutam a sessão, aqueles para quem o assunto tem de ser contado. As preferências
sensoriais acabam, de certa forma, por se concretizar em diferentes estilos de aprendizagem,
entendendo-se estilo de aprendizagem como a forma como cada indivíduo se concentra, processa,
internaliza e retêm a informação e novas capacidades.

Certamente que há diversas variáveis que facilitam a aprendizagem, mas acontece muitas vezes que o
formador/professor, inconsciente dos diversos tipos de preferências sensoriais, explica o assunto
(sempre da mesma maneira) no tipo de linguagem sensorial que lhe é querida a si. Pode tornar-se
assim, ele mesmo, a origem do “fracasso” do aprendente. É fundamental que os formadores
desloquem a extrema atenção do conteúdo para a forma de aprender. Há que respeitar e conhecer as
pessoas e suas características próprias em vez de as massificar.

II.10. EMPREENDEDORISMO E CRIATIVIDADE PEDAGÓGICA

Numa sociedade em constante mudança, a exigência de trabalhadores mais flexíveis é crescente, pelo
que as competências de inovação, criatividade e empreendedorismo são cada vez mais importantes no
atual mercado laboral.

A criatividade é o motor da inovação e um fator chave para o desenvolvimento de competências


pessoais, profissionais, empreendedoras e sociais. A principal qualidade subjacente à capacidade
criativa e inovadora é a motivação e o sentido de iniciativa.

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Assim, não é possível, no momento atual, conceber um “bom” formador que não
apresente estas características de empreendedorismo e criatividade pedagógica. De acordo com o
referencial de

formação pedagógica inicial de formadores a diferenciação (do formador) comporta a necessidade de


ser empreendedor, ter autonomia e espírito de iniciativa, capacidade de adaptação a qualquer público,
ser capaz de sair “do âmbito da sala” e ir para além do que é tradicional e convencional. Em suma,
exige-se inovação, criatividade, diversidade e mediação.

As principais características da criatividade pedagógica são:


 Capacidade de sentir os problemas;
 Disposição para vencer as dificuldades em vez de se imobilizar por elas;
 Curiosidade;
 Autonomia;
 Atenção às diferenças dos formandos, aumentando as possibilidades de aprendizagem;
 Apresentação de atividades empreendedoras.

Já no que respeita ao empreendedorismo este tem vindo a ser identificado como uma competência
transversal, fundamental para o desenvolvimento humano, social e económico.

O espírito empreendedor caracteriza-se fundamentalmente pelo desejo e energia para agir, de forma
persistente, sobre a realidade envolvente. Essa dinâmica é útil, seja no âmbito da vida pessoal, na vida
comunitária, na vida das organizações, seja na criação de iniciativas de carácter empresarial. Pessoas
empreendedoras produzem novas soluções, criam inovação, resolvem problemas, correm riscos,
falham e aprendem a ser mais eficazes; mobilizam recursos e pessoas em torno de ideias e, em toda
essa dinâmica, existe sempre a procura da criação de valor para si e para os outros.

Na perspetiva do empreendedor, a realidade que o envolve não é estática e inalterável, mas algo que
pode ser “perturbado”, que pode ser alterado; nesse sentido, um empreendedor é um “visionário”
porque tem a capacidade de imaginar novas realidades futuras.

Ser empreendedor resulta fundamentalmente de um conjunto de atitudes e comportamentos que são


acessíveis a qualquer pessoa, em qualquer contexto, independentemente da sua origem, qualificações
ou recursos. É, pois, necessário criar ambientes que promovam e valorizem essas atitudes, de forma

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sustentada, para que um maior número de pessoas desenvolva as suas competências


empreendedoras.

Os contextos de formação/educação são um terreno excelente para a promoção do desenvolvimento


de competências empreendedoras. Por um lado, porque são orientados por profissionais; por outro,
porque a introdução de métodos pedagógicos experienciais (aprender-fazendo) pode ser complementar
aos processos mais tradicionais de ensino, constituindo uma fonte de enriquecimento curricular.

É importante que os formadores treinem as suas competências para que se tornem aptos a agir, no
exercício das suas funções, como agentes facilitadores no processo de aquisição e desenvolvimento
inicial de competências de empreendedorismo.

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