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Consumidor
Princípios e Direitos Básicos do Consumidor
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Princípios e Direitos
Básicos do Consumidor
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Conhecer os princípios que norteiam o CDC, para melhor compreensão e interpretação
de todo o sistema;
• Ingressar no estudo os direitos básicos do consumidor, com destaque nos temas mais rele-
vantes e fundamentais enfrentados por fornecedores e consumidores.
UNIDADE Princípios e Direitos Básicos do Consumidor
Agora que você já sabe, gostaríamos de contar uma curiosidade: o Código de Defesa
do Consumidor (CDC), Lei 8078/90, é uma lei principiológica. Quem melhor explica o
que é ser uma lei principiológica é o Professor Rizzato:
[...] como lei principiológica entende-se aquela que ingressa no sistema jurí-
dico, fazendo, digamos assim, um corte horizontal, indo, no caso do CDC,
atingir toda e qualquer relação jurídica que possa ser caracterizada como
de consumo e que esteja também regrada por outra norma jurídica. Assim,
por exemplo, um contrato de seguro de automóvel continua regulado pelo
Código Civil e pelas demais normas editadas pelos órgãos governamentais
que regulam o setor (Susep, Instituto de Resseguros etc.), porém, estão
tangenciados por todos os princípio e regras da Lei 8.078/90, de tal modo
que, naquilo que com eles colidem, perdem a eficácia por tornarem-se
nulos de pleno direito. (RIZZATO, 2019, p. 113)
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Os princípios norteadores do Código de Defesa do Consumidor estão previstos no
artigo 4º, que trata da Política Nacional das Relações de Consumo.
O artigo 4º, aliás, é bastante rico, pois, além de prever os princípios que devem ser
seguidos pelo mercado de consumo, também apresenta quais são os objetivos da Política
Nacional das Relações de Consumo. São eles: (a) o atendimento das necessidades dos
consumidores; b) o respeito à sua dignidade, saúde e segurança; c) a proteção de seus
interesses econômicos; d) a melhoria da sua qualidade de vida; e) a transparência e har-
monia das relações de consumo.
Vamos estudar cada princípio, todos previstos nos incisos do art. 4º do CDC, sendo:
I – Princípio da Vulnerabilidade
O princípio da vulnerabilidade do consumidor é, sem dúvida, o principal princípio do
CDC (art. 4º, inc. I).
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III – Princípio da Harmonia nas Relações de Consumo
O princípio da harmonia, previsto no art. 4º, inciso III, do CDC, apresenta dois objetivos:
• Compatibilização dos interesses dos participantes das relações de consumo;
• Compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico
Na prática, esse princípio se manifesta, por exemplo, por meio do Serviço de Atendi-
mento ao Consumidor (SAC), que é um serviço prestado pelo fornecedor para garantir
o atendimento ao consumidor mesmo em caso de pós-venda.
Dentro do princípio da harmonia, encontramos dois outros importantes princípios:
da boa-fé objetiva e do equilíbrio.
• Princípio da boa-fé objetiva: o princípio da boa-fé objetiva refere-se a uma regra de
conduta, que obriga as partes, consumidor e fornecedor, a agirem de acordo com os
chamados deveres anexos da boa-fé objetiva, dos quais destacamos dever de infor-
mação, dever de confiança, dever de cooperação, dever de proteção e cuidado,
dever de lealdade, dever de honestidade, dever de esclarecimento.
Em um processo julgado pela 4º Vara do Juizado Especial Cível de Brasília, o
consumidor alegou que, em agosto de 2016, adquiriu em uma promoção no site do
fornecedor, um computador “Core I5, 6ª Geração, 8GB, HD 2TB, Triumph Business
Desktop”, por R$ 461,16, mas, no dia seguinte, a venda foi cancelada, sob a alega-
ção de erro no sistema.
Em sua defesa, o fornecedor confirmou o erro sistêmico, informando que se trata de
erro grosseiro, pois o produto havia sido anunciado 85% abaixo do preço de mercado.
Informou, ainda, que tomou todas as providências para informar aos consumidores
assim que teve conhecimento do erro.
O consumidor perdeu a ação (julgamento de improcedência), segundo consta na
sentença, por “tratar-se de erro material na propaganda da ré, em face da flagrante
desproporção entre o valor do produto vendido com o preço de similares existentes
no mercado.” (TJDFT, 2021).
Como se vê, o consumidor violou a boa-fé objetiva, notadamente os deveres de hones-
tidade e lealdade, ao exigir o cumprimento de oferta que sabia ser muito despropor-
cional ao valor de mercado. O erro, no caso, era de fácil observação;
• Princípio do equilíbrio: aqui, o que se pretende é proteger a parte mais fraca, o
consumidor. Se, por exemplo, algum fato novo gerar um desequilíbrio no contrato,
é possível ao consumidor pleitear sua revisão.
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Importante!
De acordo com o CDC, não é dever do consumidor buscar todas as informações sobre o
produto ou serviço. Ao contrário, é dever do fornecedor informar adequadamente ao
consumidor sobre o produto ou serviço.
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Para maior proteção, o legislador trouxe, no artigo 6º, uma série de direitos básicos
do consumidor no sentido de equilibrar a relação de consumo existente.
Existem outros direitos além daqueles que iremos estudar, leia o que diz o art. 7º do CDC:
Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou con-
venções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos
que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Vamos estudar cada um dos direitos previstos no art. 6º, são eles:
Vale dizer que, em regra, o fornecedor não pode colocar no mercado de consumo
produto ou serviço que cause risco à vida, saúde e segurança do consumidor.
No entanto, existem produtos que têm a chamada periculosidade inerente, são aqueles
produtos em que os riscos são considerados normais e previsíveis. E isso não significa de-
feito, dessa forma, em regra, não dá direito à indenização. O produto pode, sim, ser colo-
cado no mercado de consumo, mas o fornecedor é obrigado a dar todas as informações
sobre tais riscos (Ex.: faca de cozinha, cigarro, medicamentos em geral).
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A convocação feita pelo fornecedor, chamada recall, serve para que ocorra a retirada
do produto ou serviço defeituoso do mercado de consumo, o reparo, ou a substituição.
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Se o produto ou serviço tiver uma periculosidade exagerada, não pode ser colocado no
mercado de consumo, pois toda informação prestada será insuficiente para diminuir o risco.
É o que diz o art. 10 do CDC: “o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo
produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculo-
sidade à saúde ou segurança.”, por exemplo, andadores infantis, produtos à base de amianto.
Sabemos que o consumidor bem informado terá melhores condições para decidir se
pretende ou não contratar o serviço, adquirir ou não o produto. Por isso a importância
da educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços.
Ademais, deve ser dado ao consumidor o direito de liberdade de escolha, não podendo
ser obrigado pelo fornecedor a adquirir um produto ou contratar determinado serviço.
Exemplo comum é o da pipoca no cinema. Considera-se abusiva, por tratar-se de venda
casada, que significa condicionar a venda de produto ou serviço a outro produto ou serviço,
a proibição do ingresso na sala do cinema portando alimentos de outros estabelecimentos,
permitindo somente aqueles adquiridos em seu próprio estabelecimento. O consumidor,
portanto, deve escolher livremente o produto que pretende consumir no interior do cinema,
não podendo ser obrigado a consumidor somente aquele vendido pelo próprio cinema.
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Sobre o assunto, temos um caso bem interessante que foi julgado pelo Superior Tri-
bunal de Justiça, sobre a expressão “contém glúten”. Segundo o STJ:
A informação-conteúdo “contém glúten” é, por si só, insuficiente para
informar os consumidores sobre o prejuízo que o alimento com glúten
acarreta à saúde dos doentes celíacos, tornando-se necessária a integra-
ção com a informação-advertência correta, clara, precisa, ostensiva e
em vernáculo: “CONTÉM GLÚTEN: O GLÚTEN É PREJUDICIAL
À SAÚDE DOS DOENTES CELÍACOS”. (RESP Nº 1.515.895 – MS,
Relator Humberto Martins, j. 20/09/2021)
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VI – Direito à Prevenção e Reparação de Danos
São direitos básicos do consumidor: “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimo-
niais e morais, individuais, coletivos e difusos.” (art. 6º, inciso VI).
Em regra, em um processo comum quem alega, prova. Então, por exemplo, se você
ingressar com uma ação, você deve provar aquilo que alega.
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No CDC não é bem assim, o consumidor tem direito à inversão do ônus da prova. Ima-
gine que você adquiriu um carro com defeito de fabricação. Nesse caso, não é você que
deve provar o defeito, mas sim o fornecedor que deve provar que o defeito não existe. Isso
porque é o fornecedor quem melhor conhece o seu produto e detém de todas as condições
de fazer a prova.
A inversão do ônus da prova ocorre em um processo judicial, sendo que quem decide se
inverte ou não é o juiz. Para que ela ocorra, o juiz irá analisar um dos requisitos que a lei exi-
ge: a) verossimilhança das alegações do consumidor, ou b) hipossuficiência do consumidor.
Importante!
Não confunda vulnerabilidade com hipossuficiência:
• Vulnerabilidade: A vulnerabilidade irá classificar a pessoa como consumidor e sua
consequente aplicação do CDC. Como vimos, o consumidor é vulnerável por ser a
parte mais frágil da relação de consumo, ou seja, trata-se de presunção absoluta, de
ordem material. Todo Consumidor é Vulnerável, por isso tem a proteção do CDC;
• Hipossuficiência: é analisada no processo, como um dos requisitos para a inversão
do ônus da prova, a critério do juiz e segundo regras ordinárias de experiência.
A definição de serviço adequado iremos encontrar na Lei 8.987/95, que dispõe so-
bre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos. Segundo o
§ 1º do art. 6º, “Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, con-
tinuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas”.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
SENACON
No site da Secretaria Nacional do Consumidor você irá encontrar dicas, notícias e vídeos
sobre o Direito do Consumidor. São informações importantes e atualizadas que fazem
parte do nosso dia a dia.
https://bit.ly/3eK5QDl
Filmes
Super Size Me: A Dieta do Palhaço
Duas meninas processaram o Mc Donald´s alegando que a ingestão do lanche causou a
obesidade em ambas. A corte entendeu que somente seria possível responsabilizar se ficasse
provado que realmente foi a comida do Mc Donald´s que provocou a obesidade. Um produ-
tor resolveu então que comeria somente produtos servidos pelo Mc Donald’s pelo período
de 30 dias. Com o documentário, você consegue ter ideia do quão vulnerável é o consumi-
dor, mas principalmente dos mecanismos utilizados pela indústria alimentícia para atrair os
seus consumidores, principalmente as crianças, consideradas hipervulneráveis.
SPURLOCK, M. Super Size Me: A Dieta do Palhaço. Imagem Filmes. 2004. 1 DVD (1h40).
https://youtu.be/OlUHSeM6DZo
Leitura
Lei nº 8.987, de 13 de Fevereiro de 1995
Código de Defesa do Consumidor, disponível no site do Planalto. Recomenda-se leitura dos
artigos 4º ao 10, estudados na presente unidade.
https://bit.ly/3uQhD8y
Embargos de Divergência em RESP nº 1.515.895 – MS (2015/0035424-0)
Julgamento, na íntegra, proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, sobre a expressão a
falta de informação na expressão “contém glúten”, conforme referido no item 2, III. O acór-
dão (julgamento) aborda a importância do direito à informação, notadamente nos produtos
alimentícios. Não se apegue às palavras técnicas que são próprias do direito, recomenda-
mos que observe os fatos, com foco no Direito do Consumidor.
https://bit.ly/3eOiEJ2
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Referências
NUNES, R. Curso de direito do consumidor. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. (e-book)
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