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SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO, SUAS REFORMAS E A EFETIVIDADE DOS DIREITOS

HUMANOS NO CARCERE, UM ESTUDO SEGUNDO A ANALISE ECONOMICA DO DIREITO.

BRAZILIAN PRISON SYSTEM, ITS REFORMS AND THE EFFECTIVENESS OF HUMAN


RIGHTS IN CARCERE, AN ANALYSIS ACCORDING TO THE ECONOMIC ANALYSIS OF
LAW.

Thaís Fernanda Silva1

Resumo: Diante da relevância e importância dos Direitos Humanos, que possuem natureza de
princípios e estão previstos na nossa Constituição Federalpossuindo grande importância dentro do
plano formal, e também material,necessário se faz a análise da efetivação destes direitos. Busca-
se meios a todotempo para inserir estes direitos na sociedade, busca-se formas de garantir estes
direitos, primeiro em um panorama interno, para que possam tornar-se tangíveistambém a nível
global, dentro do plano social. Não é diferente no sistema prisional, local onde direitos minimos
são a todo tempo desrespeitados, pelas mais variadas situações. O estudo foi desenvolvido a partir
do método hipotético-dedutivo, por meio de pesquisa bibliográfica.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Constituição Federal. SistemaPrisional. Analise Economica


do Direito.

Abstract: Human rights. Federal Constitution. Constitutional System. Constitutional Reforms.

Keywords: Given the relevance and importance of Human Rights, which have aprincipled nature
and are provided for in our Federal Constitution, having great importance within the formal and also
material plan, it is necessary to analyze theeffectiveness of these rights. Means are constantly being
sought to insert these rights in society, ways are being sought to guarantee these rights, first in an
internal panorama, so that they can also become tangible at a global level, withinthe social plane.
The study was developed from the hypothetical-deductive method, through bibliographical
research.
1Bacharela em Direito pela Univesc, Lages/SC (2015); Pós graduanda em Direito Civil e Processo Civil pela
universidade Legale. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Passo Fundo. Passo
Fundo-RS. Advogada; e-mail: thaisfernandasilva.adv@gmail.com.
Introdução

Certamente o que possibilita uma vida em sociedade digna e harmônica são os direitos de
cada cidadão. Os Direitos Fundamentais diferente dos Direitos Humanos, são aqueles
estabelecidos na Constituição de cada estado.

Quando as constituições preveem direitos fundamentais são normas constitucionais


originárias, e por isso ganham força de princípios e devem ser aplicados com força de lei.

Muitos desses direitos fundamentais para serem efetivados, precisam de uma norma
complementar, e ações que regulem, por vezes através de políticaspúblicas, tendo a participação
do Poder Legislativo e Executivo, e até mesmo doPoder Judiciário como co-autor.

Contudo diante da evolução da sociedade, necessário se faz também que as normas


positivadas, em especial neste estudo tratamos da Reforma Constitucional, que respeite e garanta
os direitos mínimos.

Tal preocupação é de extrema relevância, tendo em vista o avanço após a transição do


regime militar à redemocratização, onde a Constituição de 1988 preocupou-se por meio de seus
instituintes, em assegurar a garantia dos direitosmínimos, positivando os direitos fundamentais.

Assim, necessário ter um olhar especial para as reformas que surgem através das
possibilidades previstas dentro da própria Constituição, para que estes direitos sejam de fato
efetivados, e que não corram o risco de serem esquecidos.

Contudo, nos parece que a realidade do carcere é ainda mais distante dos direitos, diante
da falência da pena.

Esse estudo nos faz pensar que seja por questões relacionadas ao custo pecuniário, a pena
privativa de liberdade é ainda uma “solução” cara e ineficiente.

Assim, diante dos pontos aqui levantados, iremos discorrer de forma brevesobre as questões
que buscam a efetividade dos Direitos Humanos, olhando de forma especial para a realidade do
carcere..

O presente trabalho foi construído tendo como base a vasta doutrina acerca dos Direitos
Fundamentais, bem como sobre o choque de conflitos, aplicando a análise na crise do sistema
prisional sob a otica da analise economica do direito.

Desenvolvimento
1 Direitos Fundamentais e a distinção dos Direitos Humanos.

Importante de início, que seja trazido à tona a diferença entre Direitos Humanos e Direitos
Fundamentais, muito embora ambos resguardem um conjunto de direitos, a diferença está no
aspecto espacial- como leciona Ingo Wolfgang, vez que os Direitos Humanos está no âmbito global
e os Direitos Fundamentais no âmbito interno de cada estado.

Ingo Wolfgang Sarlet, identifica o aspecto espacial como o principal fator de distinção, como:

O termo ‘direitos fundamentais’ se aplica para aqueles direitos do ser humano


reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de
determinado Estado, ao passo que a expressão ‘direitos humanos’ guardaria
relação com os documentos de direito internacional.

No Brasil, com o advento da Constituição Federal de 1988, conhecida como constituição


cidadã, a mesma traz um patamar mínimo de direitos fundamentaisno âmbito interno, com intuito
de garantir uma vida digna e sadia.

Neste compasso, muito embora haja uma classificação de direitos humanos e dos direitos
fundamentais, a doutrina brasileira majoritária entende que tanto um quanto o outro possuem a
mesma finalidade, pois objetivam a promoção da dignidade da pessoa humana.

A própria Constituição Federal em seu art. 5º parágrafo 1º estabelece que as normas


definidoras de direitos fundamentais têm aplicação imediata

Quem deve garantir tais direitos são de responsabilidade e competência dos três poderes
que compõe nosso Estado, são: Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual com sua
competência, elencadas na Constituição Federal.

O Legislativo e o Executivo recebem atribuições essencialmente políticas: o


primeiro cria o direito positivo;o segundo, no sistema presidencialista
brasileiro, concentra as funções de chefia de Estado e de chefia de Governo,
conduzindo as políticas interna e externa. Já, a atribuição tipica do
Judiciário consiste na aplicação do Direito nos litígios entre partes.3
A conjuntura em si, tem algo em comum, que é assegurar os Direitos que a Constituição
traz. Além é claro, das características que possuem de serem independentes entre si, e sobretudo
harmônicos, para que cumpram, cada um, suas respectivas atribuições afim de efetivar tais
direitos.

A maior ameaça aos direitos dos cidadãos, advém do próprio Estado, ou melhor, da
incapacidade do estado de assegurar e mais, de efetivar a garantia dos direitos fundamentais.

Além disso, os Direitos Fundamentais ocupam papel importante frente ao princípio da


dignidade da pessoa humana, que é o princípio que possibilita uma vida digna a todo ser humano.

Muitas vezes, para se ter esse direito garantido é necessário pedir socorro ao judiciário,
diante de uma colisão entre direitos, para que então, seja viabilizado o acesso à ordem jurídica,
efetiva, real e justa, e aplicado o direito.

E nesse sentido o Ministro do STJ – Carlos Alberto Menezes4, destaca duaspossibilidades de


legitimação da justiça:

Isso quer dizer que duas possibilidades de legitimação maior daJustiça devem
ser imediatamente consideradas: 1ª) a sériadiscussão sobre a reforma radical
nas práticas processuais, ou seja, uma revisão na organização geral do Poder
Judiciário e nasleis que garantem o acesso à Justiça; 2ª) a consciência de que
o julgamento não pode estar distanciado da realidade dos intérpretes da
Constituição, que não são apenas os formalmentedestinados a isso.

Contudo, mesmo sabendo das mazelas do judiciário, a luta diária é pela efetivação dos
Direitos Fundamentais, e por consequência os Direitos Humanos,isso porque, para se ter a solução
no macro, precisa-se “tratar” a micro, dentro do ordenamento interno de cada Estado.

1.1 Direitos Humanos à luz da Constituição de 1988.


Historicamente, a proteção dos Direitos humanos adveio de grandes violações, tal como a
tentativa de proteção dos direitos humanos pela Liga das Nações, precedida pela Primeira
Guerra Mundial, bem como o surgimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada
após a SegundaGuerra Mundial.

No Brasil, a proteção de Direitos Humanos, conforme se apresenta atualmente, foi


precedida por um regime de violação de Direitos humanos,caracterizado pela ditadura militar
ocorrida entre os anos de 1964 a 1985.

E de acordo esse histórico de violações, PIOVESAN, nos diz que nasceu anecessidade de
elaboração de um instrumento jurídico que transformasse realmente o acordo político-social
representando o novo momento que se iniciava, de modo que, neste contexto, surgia a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

E esclarece:

A carta de 1988 institucionaliza a instauração de um regime político


democrático no Brasil. Introduz também indiscutível avanço na consolidação
legislativa das garantias e direitos fundamentais e na proteção de setores
vulneráveis da sociedade brasileira. A partir dela, os direitos humanos ganham
relevo extraordinário, situando-se a Carta de 1988 como o documento mais
abrangente e pormenorizado sobre os direitos humanos jamais adotado no
Brasil.

Através dos Direitos Fundamentais trazidos pela Constituição de 1988, instaurou-se a partir
de então um novo momento político no país, eis que garantiua democracia e reconquistou o Estado
de Direito.

Pela interpretação de nossa Carta Magna, todas as pessoas nascem essencialmente iguais,
e portanto, com direitos e garantias iguais, ao mesmo tempo em que nascem livres. O direito a
Liberdaade é fundamental, inerente à condição humana, se privados de liberdade, seja por
imposição de uma condenação ou infração penal, surgem inumeras questões, contudo, a que
merece destaque é ao limite do poder de punir do Estado, no que se refere aos direitos humanos
do apenado.

O sentimento constitucional não é derivado da pura e simples constituição escrita, ele é


resultante da sua conformação real. Não basta que um direito seja um componente formal da
constituição, tem que ser reconhecido como tal porum sentimento coletivo advindo da sociedade
nacional.

Os Direitos Humanos não podem surgir mediante imposições de ordem politicas


superiores, mas sim fazer parte de uma luta histórica, o que irá causaro sentimento constitucional,
fazendo com que a população se sinta pertencente.Por tal motivo, é a Constituição instrumento
importante de contenção do poder soberano e deve evoluir de acordo com as necessidades,
mas cumprindo

os parâmetros e não interferindo na base.

2 Direitos Humanos na Constituição de 1988 e o garantismo da pena.

A década de 1980 foi marcada por inúmeras crises, que foram além de problemas
conjunturais.

Nossa Constituição é resultado de importantes transformações políticas e sociais. As


garantias de direitos sociais e individuais por meio da Constituição Federal de 1988 se
consolidaram, e se tornaram marco da redemocratização donosso país na década de 80.

E fora por meio desta transição democrática, e a pequenos passos, que seconseguiu vencer
o período de pouco mais de duas décadas de autoritarismo militar, que se formou um controle civil
sob as forças militares.

Assim, a Constituição Federal de 1988, nasceu da necessidade de se fazerum código onde


estabelecesse e refizesse o pacto político/social, que resultou na promulgação de uma nova ordem
constitucional.

Flavia Piovesan nos diz que, a Carta de 1988 pode ser concebida como o marco jurídico da
transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil. Introduz indiscutível
avanço na consolidação legislativa dasgarantias e direitos fundamentais e na proteção de setores
vulneráveis da sociedade brasileira. A partir dela, os direitos humanos ganham relevo
extraordinário, situando-se a Carta de 1988 como o documento mais abrangentee pormenorizado
sobre os direitos humanos jamais adotado no Brasil.

Por ser assim, que a Constituição de 1988, deve ser compreendida como uma unidade e
como um sistema que privilegia determinados valores sociais, elegendo em especial o valor da
dignidade humana como essencial que lhe doaunidade de sentido, uma característica particular.

Em analise a todo conjunto, se observa que a Constituição Federal de 1988se caracteriza por
ser amplamente democrática e liberal – no sentido de garantirdireitos aos cidadãos.

Canotilho5, fala que a tarefa da Constituição é: “em sempre como tarefa a realidade:
juridificar constitucionalmente essa tarefa ou abandoná-la à política, éo grande desafio”.

Quanto à forma, ressalta-se que está se consubstancia a partir da positivação constitucional


dos direitos, cujas características, uma vez trazidas ao sistema jurídico brasileiro se apresentam
da seguinte maneira: 1) os direitos fundamentais se encontram no topo do ordenamento, visto que
integrama Constituição Federal escrita, de modo que se mostram hierarquicamente superior às
normas restantes; 2) os direitos fundamentais são entendidos como pétreos, sendo protegidos
pelos limites trazidos pelo artigo 60 da Constituição Federal, notadamente, no que tange à revisão
e emenda constitucional; 3) os direitos fundamentais possuem aplicabilidade imediata e vinculam
os setores públicos e privados.27

Já em relação a matéria, tem-se que está se traduz a partir da relação existente entre os
direitos fundamentais e os axiomas da Carta Magna, principalmente os princípios elencados nos
artigos 1º, 2º, 3º e 4º de tal diploma e, em especial o princípio da dignidade da pessoa humana,
princípios estes queforam o resultado dos valores trazidos pelo constituinte a rigor da história que
antecedeu à promulgação da Constituição, ou seja, em virtude das necessidades sociais mais
importantes que clamavam por proteção do Estado, no momento pós ditadura militar. 28

Nesse sentido, o texto de 1988 não apenas é instituto de proteção das relações existentes,
mas é Constituição de uma sociedade em devir. Surge o problema da realidade como tarefa e do
Direito como antecipador das mudanças.

A opção da Constituição de 1988 é clara ao afirmar que os direitos sociaissão direitos


fundamentais, sendo pois inconcebível separar os valores liberdade(direitos civis e políticos) e
igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais). Logo, a Constituição Brasileira de 1988 acolhe
a concepção contemporânea dedireitos humanos, ao reforçar a universalidade e a indivisibilidade
desses direitos.

Todos os seres humanos sofrem influencias da educação que recebem e do meio social em
que vivem ou viveram, mas isso não acaba com a liberdade, que é essencial à uma vida com
dignidade e é também indispensável que todos tenham, concretamente, a mesma possibilidade
de gozar dos direitos humanos e fundamentais.

Se olharmos a perspectiva dos direitos e das garantias fundamenrai em relação ao carcere


que abarcam a Constituição de 1988, assim como os direitos humanos sob a visão do Estado
democratico de Direito e inclusive, sob o principio da dignidade da pessoa humana, pouco vemos
sendo efetivados na prática.

Na visão de Dalmo de Abreu Dallari (2004, p. 14):

Os direitos humanos e fundamentais são iguais para todos os seres humanos,


e esses direitos continuam existindo mesmo para aqueles que cometem crimes
ou praticam atos que prejudicam as pessoas ou a sociedade. Nesse caso,
aquele que praticou um ato contrário ao bem ou interesse de outrem, deve sofrer
a punição legal prevista, mas sem esquecer que o fato de ter praticado um ilícito
penal ou qualquer outro ato antissocial, não lhe retira a condição de pessoa
humana, detentora dos direitos humanos.

O que vemos é um pensamento hipocrita da sociedade, que ousa julgar aquelas pessoas
privada de liberdade, sob uma justificativa bem comum, sendo a de que um sujeito que comete
um delito, seja qual for, deve ser abandonado ee privado de qqualquer direito, por n ão ser mais
um “sujeito de direitos”.

Conforme Alexandre de Moraes (2011, p. 274):

No Brasil, a Constituição Federal de 1988, ao proclamar o respeito à integridade


física e moral dos presos, em que pese à natureza das relações jurídicas
estabelecidas entre a Administração Penitenciária e os sentenciados a penas
privativas de liberdade, consagra a conservação por parte dos presos de todos
os direitos fundamentais reconhecidos à pessoa livre, com exceção obviamente
daqueles incompatíveis com a condição peculiar de preso.

Talvez aqui possamos trazer ´para discussão também a questão do poder da comunidade
politica exercer uma violência programada sobre um de seus integrntes, mas qual a base, é justo,
justificável ou aceitável?

Ferrajoli, entende que só é possível uma única justificativa como justificativa, sendo que:

Afirma desta maneira que um sistema penal é justificado se e somente se


minimiza a violência arbitrária da sociedade. Para o autor, o fim da prevenção
geral mediante ameaça legal não é suficiente como critério de limitação das
penas em um modelo de direito penal mínimo e garantista, requerendo, para
além disso, um utilitarismo reformado, segundo o qual, o direito penal teria dois
fins, a saber: prevenção dos delitos e a prevenção das penas informais.
Contudo, reconhece que o direito penal, mesmo cercado de limites e garantias
conserva sempre uma “brutalidade intrínseca”.

Assim, diante de tal contexto, paara termos um sistema penal que aggregue a estrutura
jurridica e que busque a efetivação dos Direitos humanos, deve ser o resultado prático de um
ordenamento juridico que tutele bens juridicos os meios necessários para realização do homem
em coexistência.

Nesse sentido e em uma visão crítica do sistema penal, o autor supracitado (2000, p. 63)
refere que:

A violência do sistema penal viola os mais elementares princípios


constitucionais de garantia, notadamente o respeito à vida e á igualdade dos
cidadãos, ao dirigir-se intencionalmente aos “não cidadãos”, aqueles que não
têm direito aos direitos, e que estão à margem dos direitos humanos. Os
esgualepados são duplamente atingidos: por um lado, por não terem acesso
aos direitos sociais, encontram-se constantemente numa luta pela
sobrevivência, o que muitas vezes leva ao cometimento de delitos,
especialmente contra o patrimônio; por outro, porque, não possuindo qualquer
capacidade de articulação frente ao sistema, ao cometerem delitos, são vitimas
fáceis da repressão estatal, que deles se vale para justificar sua
imprescindibilidade à sociedade. Com isso, a prática do sistema tem colocado
em “xeque” a disposição Constitucional relativa á ordem pública, constante no
artigo 144 da Constituição Federal, no que se refere à sua manutenção e à da
incolumidade das pessoas.

O que se nota, é que por vezes os encarcerados buscam através dos motins e rebeliões o
respeito aos seus direitos, os quais são almejados por todos quando se fala em Estado
democrático, contudo tais revoltas são mal vistas pelo Estado o qual usa muitas vezes de força
excessiva para conter tais conflitos em busca da disciplina e da ordem.

Diante das situações graves geradas pelo sistema punitivo brasileiro, que busca muitas
vezes de maneira errônea, impor limites aos detentos, gerando ainda mais violência, onde já existe
violência, necessário se faz a imposição de uma medida tanto política como normativa, assim
como uma reflexão em torno do texto constitucional quanto aos direitos humanos, para assim,
buscar e tentar chegar perto do modelo de Estado Democrático de Direito projetado
constitucionalmente.

3 A Reforma Penal e Politica Criminal pela AED.

De inicio, importante destacarmos, ao que nos referirmos quando falamos do sistema


penal, pelas palavras de Batista:

Entende-se por sistema penal o controle social punitivo institucionalizado,


constituído pelos aparelhos judicial, policial e prisional que operam a partir das
matrizes legais, razão pela qual o legislador também se encontra nesse sistema.
Com efeito, ao se pensar no problema carcerário não há como não o perceber
inserto neste sistema.
E sobre politica criminal:

Por sua vez a política criminal consiste num conjunto de princípios e


recomendações para a reforma ou transformação da legislação criminal ou dos
órgãos encarregados de sua aplicação. Princípios estes resultantes de
incessantes processos de mudança social, dos resultados que apresentam novas
ou antigas propostas do direito penal, das relações empíricas propiciadas pelo
desempenho das instituições que integram o sistema penal, dos avanços e
descobertas da criminologia.

Trazendo aspectos da Analise Economica do Direito para discussão, percebemos que


Direito e Economia possuem propósitos distintos, entendemos que na busca de um estado de bem-
estar social, deve-se aproximar os dois institutos.

A eficácia do bem estar social, por meio da eficiência, que é um dos principios da Analise
Economica do Direito é considerado aspecto-chave para a boa formulação inclusive, de politicas
públicas, pois possibilitará que o Estado possua capacidade de alocar seus recursos de modo a
assegurar retornos sociais.

Rodrigues afirma que o método da Economia se assenta em três principios básicos: a) as


pessoas que fazem escolhas atuam de forma racional; b) o segundo é que os comportamentos
coletivos s deduzem de escolhas individuais reecorrendo ao conceito de equilibrio; e c) o terceiro
é o da eficiencia, que sob o ponto de vista normativo é fundamental para avaliar a ação humana.

Diante de um espaço efetivamente democratico, preservar os direitos humanos, assegurar


principios de justiça e fazer escolhas visando o custo/beneficio também não é uma das tarefas
mais simples.

E o papel da AED por meio de uma perspectiva enxerga o Direito como uma instituição que
deve buscar e promover a eficiência e, com isso almejar o bem-estar social e, corrigir aspectos de
distribuição ou desigualdade social.

4 A realidade do carcere e o custo das vagas e manutenção


Segundo informações do Conselho Nacional de Justiça, o custo médio para construçõ de
uma vaga em estabelecimento prisional é de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) e a
manutenção de um preso custa em média R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais).

Nos últimos dez anos, havia pelo menos 50% mais presos do que vagas existentes, com
pico de quase duas pessoas por vaga no primeiro semestre de 2016 (1,87 de ocupação). O número
de pessoas presas por 100 mil habitantes subiu 37,9% na década. A população prisional aumentou
continuamente desde

os anos 1980, com desaceleração do crescimento desde 2016, mas com patamares ainda
elevados e pequena redução em 2020, com o início da pandemia de Covid-19.

De acordo com dados publicados no painel dinâmico do Ministério da Justiça, entre 2016 e
2020, houve uma discreta redução no número de vagas no sistema prisional: em 2016 havia 446,8
mil vagas, enquanto em 2020 esse número caiu para 446,7 mil.

Segundo o relatório do CNJ, publicado em Junho de 2021, o conceito de vaga não se


encerra na existência de um leito em uma cela. Deve englobar o acesso a assistências que são
garantidas por lei às condições de vida, que reverterão positivamente tanto para pessoa presa,
como para os servidores e para a sociedade. Desse modo, o acréscimo de leitos a uma cela não
constitui criação de vaga.

Com efeito, fica claro e evidente que o custo do encarcerammento é elevadissímo quando
comparado a outros campos que reclamam investimento em públicas como educação, saúde,
moradia, etc. A questão torna-se ainda pior quando percebemos que o investimento em educaçãao
e saúde promovem profundas mudanças positivas na sociedade, sendo que o investimento no
carcere produz um indice considerável de reincidencia e não afigura minimamente relevante para
aplacar os indices de violência.

A superlotação é um dos efeitos, e não causa primeira,de desarranjos estruturais


relacionados ao sistema penal e ao sistema de justiça criminal. Ainda assim, por meio da
superlotação se agravam as condições de gestão que impedem um tratamento digno à população
carcerária.

Por consequencia da superlotação, dificil preservar o princípio da dignidade humana, onde


deveria ser respeitado, pois está garantido pela Carta Magna e almejado pelo Estado de Direito.
Contudo, apesar desse direito ser definido e grafado nas leis fundamentais dos povos civilizados,
não é respeitado, principalmente no âmbito do sistema prisional.

O sistema penitenciário brasileiro, cujos estabelecimentos são marcados pela


promiscuidade que a população carcerária vivencia, representa um foco de uma criminalidade que
cresce cada dia mais. E essa criminalidade é resultado da maneira como o preso é tratado no
cárcere, sem acesso a direitos, muitas vezes sendo submetido à tortura, e assim desde o primeiro
momento de contato com o aparelho repressivo, o encarcerado já adquire a certeza de que seus
direitos e garantias (se é que acredita ter sido titular de algum) foram esquecidos.

E, posteriormente, a se ver livre do cárcere, quando posto em liberdade, é novamente


rejeitado pela sociedade, e a única alternativa que lhe resta é à volta ao crime, pois não têm outras
alternativas, sendo possuidor de uma folha de antecedentes que o etiquetam, não possui a menor
assistência dos poderes públicos, assim, só possui estímulos para que retorne à atividade ilícita e,
por consequência, à prisão.

Portanto, resta claro que na maioria dos países o sistema prisional não está preparado para
receber essas pessoas, pois muitas vezes é lotado de irregularidades e precariedades, as quais
acabam por violar os direitos humanos e fundamentais dos detentos, os quais acabam perdendo
tais diretos ao ingressar nesse sistema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente estudo, buscou-se destacar a importância da efetividade dos direitos


humanos, no Brasil a partir da institucionalização da Constituição Federal de 1988, viu-se a
necessidade de se olhar para o povo, e através deste instrumento, não retroagir cometendo os
erros do passado diante de tantas violações.

Os Direitos Fundamentais, em suma, são aqueles garantidores da base da existência


humana, manifestados pelo dever do Estado em proporcionar direitosbasilares como a vida, lazer,
saúde, educação, trabalho e cultura. No entanto, nem sempre é este efetivado, por inúmeras
causas.

Os avanços que surgem ao longo das constituições, nos coloca de frente com novos
desafios e também necessidades de se pensar em formas de complementar nossa Constituição.
No entanto, mais importante que isso, é um olhar sensível, para que não esqueçamos dos
direitos mínimos, bem como o zelo pelo Sistema Constitucionalde origem.

Assim, concluímos que não basta apenas a criação normativa que priorizem a população,
mas deve-se priorizar por meio de um caráter intransponível, onde não venha a suplantar.

Na nossa realidade do sistema prisional, dificil fica garantir estes direitos humanos, as
transformações necessárias não passam pela construção de estabelecimentos prisionais e
investimento público para cobrir o défict de vagas, mas antes disso, impede atuar em duas frentes,
a ressocialização para evitar a reincidencia, bem como o uso desmedido de prisões provisórias.

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