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Dneiros âuronis 201?

- Editorn da UIPB
SUMÁRIO
Ilitondo o DePósito Legâ] nâ BibLiote.a Na.ioíâl, conlo.mc a
r.i À' 10.994, dc 14 de dezcnbro de 2004,
TODOS OS DIREITOS RESERV]TDOS À EDITORÁ DA T'F}!

Í proibi.ls a rep@duçào tot.l ou parclâ1, dc quiLqu{ lorúà ou lntrodução: focando a diversidade e desnudando o poder
Alexandrc B. dâ Silva e l'abio Mura.......................... ..........................................7
4 úolaçãô dos dücilG duoÉi§ (lei !" 9.610À 993) é crjrne
srabelecido n! útigo I34 do có.ligo l'.n. .

O coDteúlô desti publicarao é de inGnâ rcsPonsâbilidàde r. ECOLOGIA DOMÉS'IICA, 'TERRITÓRIO E ETNICIDADE

t0prcso no Bieil. Pn r.di,ra1 Ecologia doméslica e tradrção de conhecilnentor fomras de resistência


enbe os Poüguâra dâ PâÍâíba e os Kapinawá de Pernambuco
Àlexnndra B. da Silva, Lara ErendirâÁ. de Àndrâde e
Mariarúa de Q. AraÍro .............................................. 19

Processos de Íer7iúoÍializa ção e cârnpesinato na PâÍâíbâ:


dois estudos de ctrso
Bibüor.â ccnril dr uniE idade lcd§$l dr Pioibr
Istêvão M. Palitot, Aldo S. de Mendonça e Gioyêna À. Nascirento...........!t3
T327 letriLóriô, rn,bi.nh,idcnúdrdee Podd: tur[xós ] lrann dc
húlri?lasPc6pccrivs/ Àl*anim RlôosadâSilvà, BrhrTrr Ampliando e coNtruindo novos camfuhos: a circulação e interaçâo de
Mrcaib!dc sousa,Iabio Múa. Ruú ne.dquc estudantes qniversitários indígenas potiguaranaregiõo metropolit.rna
(.r9!rizadoa). - ltuo ltsôa' [dirom Lla UIla, 2017
de Joâo Pessoa
tsBN 973 35 2r7-rl2r-3 Jamerson B. Lucena,.,.., ....,....,.,,,.,..........,..,...,..,.........59
l. .^niropnlo gk. r. Lologü doúésticà 3 'Iirdiçào in{üg...
l. Silva, Alalndü Bdrbosã dÀ. Il. Sou$, 3alüro Mâcaibâ de.
15. 1i.,,1.ni,' L 1.'1.' u.
'll.M ,,l,\o TRADIÇÃO: ItI'fUÁL, PERFORMANCE
d 2. ENFOQI]ES DA
E T&{NSÁçÁO DE CONHüCIMENTO

A organização social do Cosmo: processos políti.o-religiosos


Cidrdc Unn!$tána Câíp$ I Vn
e tradíção de conhe€imento elrtr:e os Pankararu

Claudiâ Mura ................ ..............................................81

n nn .nitoJa@úpb..dúbr O ritluilkatókt]llt Festa da Vitóia


lsabelisâ Cordeiro F. de SoLrza e Ruth Henrique........................................... 103

n=Çl A construção de uma antÍopologia missioruiria: um debâte sobre


antropología aplicada, tÍadição de conhecimento e er?eriência
lhéssika Àngeu Â. e Silv ........................................... I19
181

A ORGANTZAÇÃO SOCTAL DO COSMO:


PROCESSOS POLÍTICO-RELIGIOSOS E
TRÂDIÇAO DE CONHECIMENTO ENTRE
OS PANKÂRARU

Claudia Mura

INTRODUCAO

A maioria dos estudos sobre os grupos indígenas do Nordeste


ressaltou a presença de o1últipios fluxos cultulais oriundos dâ Fluropa,
Áflica e de diferentes coletiviclades indígenas. Especialrnente os estudosr
que dirigiram.r atenção especificamente às práticas rituais realizadas
por esses grupos têm apontado os elemeDlos de origem mílitipla e a
ressemantização a que íorarr! srljeitos etr contextos de reiyindicação
de uma identidade étnica diferenciada. No caso dos Pankararu, grupo
Petrolârdia,
indigena localizado entre os municípios de Tacaratu, Jatobá e
no sertão pernambucano, a presença clesses múltiplos fluxos é parti-
cülarmente evidelte nas páticas rituais e na composição do Cosmo,
cr!a riqueza e complexidade apleserltârei, elnborà resumidaÀlente,
neste trabâlho?.
O Cosmo Paakararu apreserta especial dinamismo, hierarquias
nrór ci, das cntidade" qu('o povoam e qllc (xjge. para â sua comPr<elsáo.
a análise das vadações no processo de elabonção cultural do grupo,
realizada por âtores sociais vinculados a diferentes grupos rituais e

Dcstá.d{e os r!.balho6 reunidos no li!Ío organizado por Grunewald: Torlj 4lne


en@rrddo do ítdío do Nodeste {2005)-

Pe EãioÍ conhecimento dôs múttiplàs enLidâdes do Cosmo pânkáJnru . dâs Práúcâs


e pe.fomances rilxiis, ver: Matta (200s) e Mua (2013).
82 | lERRrróÀro, ÀrBrlNr orcÀNrzÁÇno socrÁr Do cosrio.. 183
^
posicionados dentro de uma configuraçaro social e política em continua étnicas de numerosos grupos, cujos membros confluíram forçadalnente
tensão e movinento. nos aldeamentos gerenciados pelas missões religiosas. Nesse periodo,
Para tai ânálise, serão abordâdos os processos históricos que os indigenas foram submetidos às políticas coloniais de mestiçagem,
nmrcr.r?un o conte\to experiencial do gmpo, os elementos da organizâcão ao abandono da própria língua e à perda do controle sobrs os espaços
social e, em seguitla, os símbolos que cilculam na região, articulados e terlitol iâis que hâbitavam. O segundo processo de terÍitorializaçiio jf,icion
hierarquizados por divcrsos especialistas dtuÀrs no esforço de enallecer nas primeiras décadas do século XX atrayés da atuaçáo do Serviço cle
orL rebaixar (dependendo do ponto de vista) a posição dils entidades Proteção Àos Íodios (SPI) que, como afirma l-ima (1995), visavir libe.ar as
cr1ltuaclirs por indiíduos e grupos aDtagonistas. Ou seja, a dinámica da terras pam a colonizaçào e, rnedia[te uma dominação tute]ar, proceder
organizâção socirü do Cosl11o. à progressiva assimilação dos índios à sociedade nacional. Oliveira
O Lrabalho, cpre Íoca a traclição cle .onheciment(r âlimentada (2004) destaca, portanto, a descontinuidade étnica que côra.tedzou a
pejos Pankararu, abr;rda a cosmoiogia dando lügar à seus Àspectos região e as itnplicações que os pro.esJos ,le fertítorializaçAo *?\ze,i,1p,Ba
processuais e à relevância dos âgentes que a noldün à partir dc especi as populaçôes indígenâs:
ficas intencionalidades. Nesses termos, a cosrrologiâ é irqúi abordada I) r criaçao dc ln1a novà unidadc sociocultural nrc-
nâo corno um conjunto de ideias abstratas mantidas em reprcsentxçõcs diântc o cÍabelecin.nto dc umá idcnkladc é|t1icr difc'
coletivas, mal de ircoLdo com Barth, 'ãs a livilg traditiÍrr of-knowledgd' renciadora; 2) a .onstituição de mecanisrnus poliiicos
(1987, p. B7). espe.ializadosi l) a redetioição ilo controie so.irl sobre
os recursos ambieniais! ,l) a reelâborâçào da cultura e da
Ser:i :uâlisàdr à elâboração cultural deflagrâda â pârtir dà er(
rclaçáo coft o passado.l
periêDcia da etricidacle, ressaltando os efeitos que o P,.ocesso de rerri
loridlizaçio (OI,ÍVEIRÂ, 2004) tem sobre ela e que âpresenta cal.lcte- Os processos identitários que se subseguiram com o segundo
rísticas e ciinâmicas que vâo muito além da encenação de sinâis processo de territorializdçíto loÍam obicto de impoltantes estudos!
diacríticos abrangcndo não apeoas a esfera política, co-üo também a que, com base em uma abordagem processualista e i[teracionista e
religiosa e moral. valendo-se da ideia de "sinais diacriticos" (BARTH, 1969), retirâram
a ênfase essencializadora atribuida às tradições dessas coletividacles e
FÁMÍLIAS E TRONCCTS: PROCESSOS DE lhc devohcram .r neccsrjria r Lsilrilidadc.
TERRITORIALIZÁÇÃO E ORGANIZAÇÁO SOCIAL No caso dos Pankararu, o segundopÍo.esso de lerrítorialização
teve inicio nas primeiras clécadas do século XX, tendo impulsiooado
Ern artigo que se tornou referência para o estudo dos índios novos arranjos organizaciorais (ÂRRUTI, 1996). Se a experiência da
do Nordeste, Olivclra (2004) apresenta a noção de Processo de territo
rialização, qlre se rcÍere à imposição por parte do Estado de regras de 3 Ib ef,p.22.
gerenciamcnto c delirnitação do espâço territorial e do acesso a ele e à .1 Diveisas sâo as .ontrjbniçÔes que !o pcriodo d€ lorle inclenc.b das mobiliT.çôes
é! c$ M regiiio derln lhe risibilidâde a IüLn do prisma úo mais (âlcàdo úâs leorias
sua admil stração. Na re€Jião Nordeste, argumenta o autor, o primeiro sôbre â àcdtuúçào que haviâm mdcadq por exenllo, os tralràlhos de ÁlrornD (1970)
e Naser (i97s). Muitàs delâs enconrràm se reünidàs nô rdto oÍganizado pôi Oüyein
Processo de terrilorializdçíio, que começou Dasegutda melade do século
fnho (2004):,{ yidSen da wlta: Dlnicillade, polílicd e rceldhotdçiio cuhurdl nn
XVI e se estendeü .té o século XVIII, Ievou à dissolüção das fronteiras
E4 ..r ,,
^
ôRr;irrzÀcilo sor^r Do CosMo... 1 85

corNtrução de uma identidade étnica produziu mudanças nâaÍticrüação cultural é algo contínuo, assi111 como é a percepção que delc rêm as
rln. flur.o..ulfur,i. c rIrPô. ! erlo\ JrIdnJO. orgdllI/^. ior,rr\. e leLe\\Lrrú unidades sociais que o vivelrciam.
lomar em considemção qüe ântes dela há um substmto de expeÍiências, As categorias e metâíoras enpregadas pelos Pankararu frorao
sobretudo em rTivel faniliar (resultantes, em parte, clas recluções ell velho, ponta-s de rama, JafiíLia, parente e povo se referem às complexas
gfl.lpo familiâres de antedores grüpos étnicos), que nâo foram apagadas redes de relaçôes e estabelecem níveis de distância ou protdmidade e
no decorrer deste prccesso. Ao desloca, o foco da experiência vÍlculada hierarquias entre grupos, marcatldo limites de inclusão em circuitos de
à construção clo grltpo étnico para as erçcriências individuais e fami le dades enl constaite movitnento.
Iiares, à etnocralia:'Pernritiu alirmal que outras unidades sociais me- Com a designàçào de lronco velho (»o stlgulâr) se entendem os
oores, qoe conlorn1am comunidades po1íticas locais e cuja ênfase lo indios residenles nâ âtual área indigena Pankararú que auxiliaràm as
sentimento de pertença é operativâ no dia a dia, são as principiris pro Pt)ntLts J.? rLLmLl I,Í) processo cle rcconhecimcnto éhico.
As pofliúr de rrTrrrl
tagonistâs do 1ôrjamento de visões do mrindo e preceitos morÂis que se scrialü faDílins vinculaclas ao lrosao ,elro Por rclaçõcs de paÍentesco, c
encontÍalr em continua mudança, ein virnrde dos acontec-imeDtos de seus n:lembrcs são considerados P47"1lfe-r, seu conjunto colno pâIic de
orclcm histórica e politica e da capacid:rde de atores sociais concretos únl ll1esnlo/rovo6. No e[tânto, l1o decorrer da Pesquisa. a nletáíora do
adaptar'en sc a eles. Co o o prilleirop/oL?sso íLe lerrílorializaçào eír, 1rcl1.1) vdllo cra ulilizâcia treqrrentemente no plur'al, itdicanrlo as lamíli:rs

que o confluir tle parcelas de coletividrcles indígenâs nos âldeâ entos !xte sàs que o.ompuuham e coütôrmâr1do comrnirla.les P.rliticâs loaais.
deve tcr inpulsionàdo experiêDcias a parlir das quais se el;rbolaram Pode se clizer qne os ,'olraoJ se deii[ciôn domo lit1hagem, pois a parliÍ
conhccimentos cornllns famílias, assim o segundo
e coesões entre cliv€tsas Llesh r11etálirra os índios làz-em reÍàrôllcia a urna âr!ore gcilcaió!]ira
processo de territotiallzaÇáo pernjtiu que famílias pudessem unir'-se, rilre visa lessaltâr a profundidacle temporal, isto é, a lirLra Sencalóliicâ
cdar aliânças, sistematizâl conhecinentos para reivinclicar a própria quc reirete a um ancestral histórico. A alusão a um aDaestnl .olllum é
diferenciada etnicidade. salieDlada pr'incipalmeDte nos casos enr qüe os membros de uülaÍàmília
O grupo étnico Palkararu é, porta]rto, a condição atual da ela pretendem l]rarcar uma ligação col1r especialistas rituais de reoomadn
bcração cultural que produzem as ruiclatles sociais que o compôem rro fzuna, ou seja, aqueles <lue gashàr âm particular destaque, por exemplo,
esfo{o de adaptação à realiclade contingente. Tal elaborirçáo se torna o s4r4pó única autoÍidade superior no tocante aos assuntos oágjco
possível em virtucle de as famílias, cujos antepassados erlm or iundos de religiosos recor recida antes da irstalação do SPI (ÂRRUTI, 1996).
clililenles lugares e grupos (ARRUTI, 1996), comparlilhareú um mesmo lvluitos dos ioterlocutores em campo apelaIam às "três Marias"
coDteÍo de experiêDcia, isto é passarem por erPetiências coniuns e/ou (oLrdependeodo do inte ocutol, para quatro Marias), que se torni!1-aln
silnilares clue as fizerarn rct-ietir-soble o mundo, atualizar o aonhecimento sínbolos maacantes dc diversos l/o[cos pela sabcdoria denronstrada
sobre el€ e.analizá lo apâIlir.los prillcipios organizacionais que lizeram
vigorar. Por essa 1azáo, pode se dizer qr.re o processo de elaboração O d$locamentô desas Iimiliâs que hoje iornrÀ! as !únrN de rüu resultou de rm
fro.eso comptúsório tuj.iâdo âpós à *únçao do aldeametrto Ertjo ilos ?àdres, em
1875, q!údo a Lêra {oi repdrtida ern lots disi.ibuidos entre tmilias indigells, legns e
iâzcüdetos lo.àis Ese pôriodo, conro sâlidta ,\d úti ( 1996) é lornbrâdô lclos l'tuüx.aru
.ono . ?poca das linhaCl e os relâtos das nrúrnens vioiôncias soÍridas lomülm'sc r
pesqnnâ tói rcdizâda duaDle os ânos de doúturâdo, entre 2008 e 2010. e resuirou nâ bàse dr.órslrúção de uma rnemória cohrm de suÍrimenro que ecor nos discúrsos dos
^tese delerdnii en 201 2. m.is joveDs e politizadôs das âl{leiàs.
Ai)rc^NrrÁçno socrÀr Do CosMo... I 87
86 lr P"r rôlro

Os ,ror?cos sáo formados por tm número indelinido de lamílias


na esfera mágico ritual. Maria Pedro, Maria Chulé, Maria Calu e Maria
eÍensas que entretêm relaçôes de coopenção cotidiana no locante as
Pastom (chamada também Peba), segundo a história relatada, são não
advidàdes econômicas e tuais. Â famÍlia extensa, constitúda como
apenas referências de divesos l,"orco§, mas as próprias fundadoras do
"históriâ um grupo domésticos, é a principal unidade sociológica de referência
,]'ozco Pankararu. A dâs Marias" como surgimento do úroflco
clos índios, sendo também a mais inportante arúcrüaclora das rclações
Pankamru é, portanto, a listória do grupo elaborada e teorizada a partir
e a orieütadora das condutas tle seus irembrcs. Devido à relativa au-
dos próprios meios de compreensão, seguiúdo-se a lógica e os termos
totlomia que caracleriza câda lamilia e seus conrponentes, há pro-
metiíoras de parer'ltesco. As genealogias dos Íroato.í das três Madas
cessos experienciais diferenciados, o que gera variâçôes de posturas
remetem cronologicamente à experiência cla etnicidade e, destaforma,
lnor ais, conflitos intergeracionais, intralâmiliarcs e interÍàrliliares que
ao segundo processo de leffitoríalizítção. Mas a história é elaborada pelos
impulsioram a dir, aLrnizaçáo das reconfiguraçôes Lle alianças. No entanto,
Panl<aram corno se ela (a ide[tidade élnica) preedstisse, tiralldo assim
dentro dos l,-or.or, interlamente às fànrilias, hâ autoridades morais
a autoria do SPI, isto é, negando e desúnculando a construção do grupo
que, por coücefltmrem câpacidâdes polilicas e conhecimentos mágico-
da ação do órgão il1digeoista. Esta teorizaçâo da própria história (cuja
religiosos, adquirellr especial destaquc e sào elas que contloiam cssa
dirrulgação entre os interlocutores pareceü ser bastante capilar) é um
diversificação de postBras rrorâis internas, estâbelecerlclo hieraíquias
elemento que relo-rça o sentimento étnico e dá asas às fiobilizaçôes, tendo
eDlre as dilerentes atividades empreendidas peios scus memblos com
relevância a percepçáo de um processo de continuidade em relâção â
o illl€olo de mânter urn padrão desejatlo e a integriCacle rnorâl que
um passado origínário.
viâbilize a almejada uniâo.
Embora o grupo étnico como comunidade política (WEBER,
Os collhecirnentos mágico-l eligiosos âsso.iados às capacida-
t 983) emerja em deter nünaclas circustâncias em que é prcciso mostrar
des para comunicar com as entidades do Cosmo e convelcê-las em
íorça politica diante do Estado ou de grupos sociais que impedem o
agir ern proi daprópriâ corDunidade politica, são âs ío[tes da legitimi
reconhecimento dos direitos dos ilrdios, o Írozco se configura como
dade da qual sâo investiclos os especialistas rituais, os qlrâis l'oiam
a pdncipal comunidade política local, cuios membros reconhecem as
próprias autoridades. Dependendo das condições históricas e politicas,
..pe. itr. ^s c,rr,lro' m',r ,l i. de r ell'érrc,.r n-o Jp(na. Da ra a - r,lDr r .
farnília extensa, mas, dependendo clas alianças constiLuídas, paía mais
os íÍoí.os podem se alia! formando comunidades maiores, adquirindo
aDrplas comunidadcs políúcas. São eles que sisteúatizam os símbolos
força perante às outras e estabelecendo relaçôes âssinétricas entre elas.
e as eutidades do Cosmo e, como resultado, se cÍiam articulações de
Cabe saliettar que, embora as faníiias extensas que compôem um
fluxos culturais em nivel familiar ou da pr'ópriâ cornulidade !olítica
deterrninado f,?lr.o possam ter desalrenças importantes a pollto de
(um Í/orao ou diveÍsos lrorcos aliados).
provocar Íissões no seu seio, o seotinrento de pertença a ele não é
alterado. Isto denota a importàocia da ideatidade do próprio ,roí.o,
que permite o compartilhàmento de rm determioâdo carisma e do
qual decorre sua força política em face cle eventuais a$eaças. lor gr!!o donrésüco sc ê,aLende aqui o que W k (198a, p. 224'2:7) denoninou
.hôusehold clu$er tôosdl isto é. uma uidade residelr.i-àl de fdúilias nucleües conr
vín.ütôs econüni.os livres, ,a medidâ ed que seus hernbros desenvolvelr não ap.nàs
nrnidâdes !.ona)micrs cn .oriunto, ,nas tambéLn dn!6iftcadas, enrh& ld1.s elis
l.nhin. mcsnlô ôbiê1ivô, bcn0li.iara tumilia dtens. como !N lodo.
Púa conhecimenro deLalhãdo dasgenritogias, ver Mua (2013).
88 | I !nuró!ro, ÀMBrxNrn \ oncaNrz\ÇÀo soclÀL Do CosMo...189

ILUXOS CULTURAIS E TRADIÇAO DE CONHECIMENTO coerênciâ e a integração dos conhecimeDtos erltle os atorcs sociais que
aderen a uma tradição são vâriáveis não apenas pela potencialidade
O complexo Cosmo Paokararu é composto por múltiplas enti multivocal e âmbi\,â1ente dos sírbolos, mas enl virtude do modelo
d,àdes - ekcafitados, etus, espíritos dos n'tottos, guias de luz, stlntos e de distribuiÇáo da culiura. Portanto, os lluxos cr.rlturais idcias, col-
Pddrinhos, entÍe oüttas que ocuparn iocais e posições dentro de úma ceiLos e valores-, enrbora âlltes sislenâtizâdos nas tndições que os
hieürquia bastante divel-sifrcada, se tomamos em consideraçâo as ar- ger âÍâi11, voltan à prripria fluiclcz e sáo articulados enl cootextos ex-
ticulaçôes realizadas por especialistas rituais valiavelmetlle posicjo perienciiris especificos e distribuíclos cürl base na orgânizâçáo soc,al
iados. O conjunto dessas entidades denota a riqueza de ciÍcLLlaçâo de qlle lazem vigorar. Àssim, unr tipo de organização social lendel-á a
Uuxos culturais oliundos dc difeicntcs tradições de conhecirneôk), produzir um modelo de distribuição de conhecimenlo, detel-ninarclo
viabiiizaria peias experiências familiares realizadas antes e depois do especílicas forrrxs de intcraçã() col'no, r1o c:rso rlos Par-rkirraru, enlre
segundo Pro.esso le I erriíoríalizaçao e pela especificidade cla tradição lroacos, indivíduos cle gêrrero oposto e, a pütir'do segundo Proacs§o dc
de conhecimento alimefltada pelos Paükararu. LeÍ t ito t í aliz o Ç ã.o, etÍ\,rcamente dilerelciâdos.
Àntes dc abordar as variaçôes na sist€matização das cDtidades  disLribuiçào de cornpetências e conhccir'lteütos máglco reli-
cultundas, cabe explicitar aqui alguns fundamentos teóricos qre per giosos, beln como as ciitàrentes hierar'cluizações cles erltidâdes do Cos
miterD aboldar á elabordçào culLural desses atores sociais, r'to illtuito n1o, tofltiuaru se bastante claras n:rs lârrativas dos esPecirúistas viDcu
r:le conpreencLer a especiíicidade tla plópria trarjição de conhecülento. indigcna, de nndo trans-
lados aos grupos ritunis rllais atuantcs I1a área
Ao tomarulos como postulado básico que os simbolos são pareccr os esr'orços Para alcânçü rnaior Prestígio c poder.
rnultivocâis, âmbi\,àlentes e polissênicos (TURNIR, I975, 1982, p. Aiguns exelnplos clas ditereriças ern lorça e natltreza ailibüidas às
16), os rtores sociais nâo prccisariam tcr conhecirnento prévio do enlidâdes do Cosm0, perlnilam compreendeI os esfirrços de col1íiglnâçáo
signilicado original que lhcs lõi conferido pela tradição qoe os originou
do repertorio cosnroltigico dos Pa kararu, bem como o dinamisnro
para incorporá los aos próprios "estoques cultorais" (.BARTI], 1993).
que caracteriza a esíera do sagrado, viabiiizada de modo especial peLa
Em outras palavlirs, a apreensão de elementos novos ocorreria a partir
ausêrciâ de uma ortodoxia reJigiosa e políticn centraLizadola.
de .olihecimentos e forDas de conhecer que são próprios da tradição
Conformc as nar(ativas da maiorja clos inclígenas eltrevi§tados,
da colelividade que os rccebe. Nesse sentido, perde sentido abordar
,r, .n6a71741p5 5[9 índios que descoLrriram o seqredo de se cr.d/lfdr e qüe
a elaboração cultural dos atores sociais em teraros cle processos "sin
oão passaram pelx experiência da morte. Col1to no caso dos enarirlddos
créticos" como se as tradiçôes pudessem fundjr-se ein suas totalidades.
tumbalatá (ÀNDRADE, 2002) ou kiriri (NÂSCIMENTO, 1994), ou de
De acordo com Barth (2000), as Lradições de conhecimento são nDis
outÍos grupos indigenas do Nordesrc, muitos úrarrrl4dos pãnkararu tbÍârn
bem clelinidas em r.irtude dos atores sociais cujâ ituaçáo possibilita
licleranças que se destactuarrr pelas açóes qlte beneiiciala:Tr a coletividade
uma maior ou menor propagaçào delas - do que poa seus conteiidos.
e cujos efeitos são associados aos saberes mágico reljgiosos. Segulldo
Como sugere Harurerz" ( 1997), o signiljcado originário dos :i1ens cül-
turâis não é relevante quanto a sua jnterpretação local, isto é, os pa- umà clàssilicaçáo militàr, os cncantirdos torlllâm ,rlrilrõei cujo ápice da
hierarquia é ocupado p elo general Mesíre Guirr, sendo cle coosiderado o
drões locâis de signilicaçãoe. Seguindo as propostas desses autores, à
clrcfe da nação, os ot:ttros lhe devendo obediência, ai incluidos aqueles
da iha pítLcrLle, caPiíã?s e ol csÍres. As classificnções militiLres i elatil'{s n
90 I IlRRrróRro, ÀMBiENT
'
alguÍ1s encantados não se remetem às lógicas referentes a conflitos bélicos. grupos de indísenas p"ai"- r.gi i** ").;;,";.
Pode se dizer que respondem mais a uma necessidade de aglutinâr 'particular'l em que f,guras carismáticas (reiigiosas ou seculares) que
disciplinar e encontrar consenso. Alguns interlocutorcs afrrmaaam qüe demonstravam capacldades oÍgânDativas e administrativas, "protegendo"
os eficifitad.os folJnarr. :oÍna íftnandade e qne as relaçõe§ eíffe eles se grupos de perseguiçôes e ameaça§, toÍnaÍa.D-se referências. Em alguns
desenvolveriarn seÍr disputâs, O conflito cârâcterizâriâ unicamente as casos, eram atribuídos â essas pessoa§ especiai§ pode{es xamanísticos,
relaçôes entre os humanos, sendo desaprovado pelos encantados.No os quâis, segundo suas concepçõe§, permitiram_lhes ascender ao lugar das
entanto, a maioria chamou a âtenção para a natureza competitiva das diündades sempassarem pela experiência da morte, oueram coDcebidos
relaçôes entre os erarrircdos que, diversamente das afirmações acima como sercs divinos enúados por Deus1o e, desta forma, nunca tiverant
mencionadas, os levam ccrm trequência a entreItar conflitos cla mesma existência humanarr.
maneira que os índios. Embora âs opiniões possarn parecer rliscotdantes, Para reforçar a diferença entre as entidades acima mencionadas,
elas collespondem a posições que os atores sociais entreüstados podeúl os índios alirmam que os encontados, poÍ e§talem vivos, são qredes,
ocupar dependenclo cla siLuação. Se no contexto de enunciação era diyersarnente dos e.spíritos, q\te são írios, Í'sta disünção ÍeveÍbera na
preciso enfatizar a coesão social do grupo étnico, a pdmeirâ opinião lbrma em <1ue se desenvolve o trabalho ritual, pols os encaflÍados Dáo
prevalecia. A segunda versão predomiúava quanclo emergiam claramente poÃem ser incorporados. A posses§ão é üm fenômeno que se manifesta
os conflitos entre famílias e a necessidade do uso dos saberes flágicos apeoas com os esPír'rlos e o esPecialista se encarrega de dominá-los. O
para a resolução ou a ativação do§ me§mos. Em conversas informars, discurso corNtrúdo com base na dicotomia eflcantado/e§Pítito do morto
âcentLlâvâ se que os mais velíos mediam forças, isto é, gueraeavâm, reforça as fronteiras entrc trabalho de índío/ttabalho de negro ot btanco.
rlesafiantlo se com os poderes mágicos; assim, através dos etlcanta.los <)s eficafitad.os toÍnaín-se, as§im, as ertidades por excelência para os
que perte[ciam à própria fâmilia, atacâvam e se defendiam. Embora as indígenas quandô demarcam a própria idenLidade, mesmo que não
argumentações visassem dissimular os conflitos existentes, relegardo ao se excluam a presença e a elicácia das outras até durante os trabalhos
passado o jogo de força e as gueras com elemeotos mágicos, o trabalho de cura.
ritual para atingir eventuais inimigos é utna prática atual, amplamente
difundida e particularmente temida.
Nas argumentações de poucos interlocutores sobressaiu que
l0 Edborâ considuâda por todos os indigenas â cniidâde mai§ Poderosa dc âção sobre
algolas encantados nio erarn índios, como o caso de Dofidaruré relatado
o muldo, Deus se conrigúra .orío uma enLidàde o.iosa. A defrnitao ,le das otíosus
por Zé Auto, o atuai cacique. Zelado pela sua ÍaÍnilia, Ddndaruré seria n1jr. lormulada por Brelich (2003 [1966l), refere-se iu§támente ao criador que, depoi§ de ter
dado vi.k ao Coslo, reúa se e liú distanLe. Os PaDkdrru não se dnigeú d ele Para a
ehcantadô "bgaáo ài9rejâ" e ganha uma festa anual no sábado de Aleluia,
resohçãu dÀ difi.úl.]adcs quc os afligein (doenças, desgraçÀs ou empreerdin€nros de
isto é, nâ yigíía dâ Páscoa. Tal história foi apresentada por Zé Auto como diferentcs nârlaezd), mü àL§ outrd entidade§ do Cosmo, co.side€das capaT-es de,clas
a "história tradicional de Dandarurt, o capelão que ensinâl'a o caminho
para a salvaçáo. Esta narração permite considerar a possibilidade de 11 Os ântigos missionÍios inccnúvdau a PróPria idolatrta por larte dos índios, bu§cando

ce.trâllâ a cateqüese no próprio cansmã. Como foi sahetrado Por Pompê (2002, p. 382),
que personagens - como os mi§sioniíios - pudessem ser incorpomdos
tentüm ocüpaÍ o lu€ar dos }J!mãs PrincDals inimigo§ dâ .atequc§e - demonstrúdo
aos próprios cultos. Antes do segundo p,,ocesso de terútorialização, Lcr pÍáticas de crâ úâG eficazes a paÍtiÍ de té.fli.as de enfeun,8.ú rudimeniares.
oRG,\"-rz^çno so.rÀi oo CosMo...l93
92 I rDRRrróRÍo, ÀÍR,FNr
^

pe itefilesr'z (fen, inlna e masculina) são justamente


Ãs irmu. d,aàes indígena excluem a possibilidade de cultuar ou de se comunicarem
aqueltrs que trabaiham ritualmente com os esPíritos dos fiortos on com outras entidades que não sejam os eraí7r1lados, embora na Prática
com os guias de luz. Estes últimos são índios Penilentes qne, !ÍÍ\àvez as düràmicas sejam bem mais fleriiveis.

falecidos, conlimam olerecendo conselhos e baixam nas mesas de À parte os que ressaltâm os elementos 'exógeno§:' do cl to dos
cum. E são tanrbém e ssns irfiafldades e os indios rom eiros qrre tendem pefiitettes ein ,ÍIej,o às disputas, de Íorma geral, há a tendência a atri-
a enaltecet osparJrirho.ç - líderes calismáticos consideraclos seres buir aos rrrembros do grupo masculiooln um "mistério" que selia pecu-
divinos. Cabe destacü que, algumas farnílias pankararu, ao iorgo do ltâ:, dos"pefiitentcs pankararu", distinto, portanto, dos outros gluPos
sécülo XX, construiram vínculos com oulras coleti\,ldades e conrlidercs penitentes presentes Ba região, O cultivo de mistédos não é exclusivo à
político-.eligiosos, tais como padre Cícero, Pedro Batista'r e o Vclho ir a dade Pe ile teÍtasculina. Ao contráaio, os ildigenas rluc partici
cle Inajá, considerados por âlguns interlocutores () mesmo enviâdo pam ativamente lros rituais ditos da fradiç.i o indíge a e q§e en. olve1]i,
divino apârecido três vezes sob diferentes feições. Para â maioria dos os praiásrs, se couhguriln tambán como sociedades secretas e cul-

Pefiitentes e rorreilos parrkârarLL tâis entidirdes ocLrpam a mais Âlta


livam conhecimentos cujo acesso é negado à maioria da populaçâo
posição nahierarquia do Cosno, tendo absoluto poder, inclusive sobre Salienta-se que a pr'ática clo segredo, a falt:r de uma doütrina vigiada
os e canlados, espíritos e gti(:ts de luz. e a lôamação particularizada cm nível t'amjljar clos que cultil'am os
A acollida dos esplriúos e dos ellcenltldos ou ainda de exas uas codrecimentos nlágico-religiosos c que detêm a legiiitnidade da coos
mesas de cura pocle tornar-se motivo pa.r'a discursos sobre a "misfuia'l truçáo do Lltadro rnoral, fazerl com que este seia muito flenÍvei e vià
isto é, irrdicadores do afastâmento da "pureza indígena: Os especialistas l,üze ntultipt.r. vJriaÇôes Je i"rterpretaçoes.
pertencentes às famílias dos ,/orcos ,ellos - que reivindicam para si â I)iversamente da úadiçáo de conhecimento cristã emperhada
maior'pureza' e se identilicam como ôs deteitores .la autêntica f/ddiçlio nâ propagaÇão qüanto maior possivel da próPria doutdna, com suas
e\.lusivas sistematizaçôes de sinrbolos e sigúiÍicados a eles atribuidos,
,a. presença dilusi !a região Nordcstc dc g.upos de perrcr|r cbmo! . .le^çào d. a tradição dos índios, p eniteflte e adeptos da íradição indígena, é calcada
divcrsos cíldiosos quc. coÍr d-ivers.s àbord.gens, desenvolvcranr lesquisês sobrc sur
atuâçâo. De forma g.ral. associâm âs piáti.ás das ,uarzlrda aos cúlios niediNais d.
em especiâlistas dtuais que manipulam os simbolos, carregando os de
uin caioli.isrtro â.càico disseúinado pclos mlssiontuios durdte a ópo.! colonial, bcú mistérios. De fato, a relação direta que os especialistas rituaís têm com
como pclos leigos poftu8rcscs quc |raziam coÍo clcs .onhccimcDlos pagàos d. um
as entidades, viàbilizada pelas viagens oníricas, visões e incorPoraçôes,
'tatolicisn)o popllaJ" irsiLano. Emboin dcsiac.!.lo se à flualidade e difcrcnças s
cntre s manifNtações rcligiosas dcssas lraarlailE§, o íato dc sc rcconhcceÍem nelas os não permite o controle de rlualquer hierarquia sacerclotal, pois eles não
elem.ntos de origetu .àrólicâ paÍecc iúpor âo obsenador a iderúliccçào dcstos «nu â a reconhecern. As lrariações encontradas eDtre os Pankararu, assim,
tr ndiçio .ristà. A$i!r. a .lassifi.§ao dc tar{ni.isno popular' .onnr atú Jc ro eâçÀo da
realidaJe torna s.propiciàa oc!ltâr spcclli.Às .rlicühçôes de$s .lcnrntd i faún dc não podem ser reportadas à tradição de conhecinento cdstã. A Igreja
outu tradiçôesde conirccimcnto c prcsta{c bcD ros p.opósitos da Ig(ja no scu esfoiço
t4 Div.rsammte do grupo nascdino, o gruPo rel,ner& fàmilnro nio culiiva scgredos e
l3 O lidd.adsmári.o ledrc Dâuía teve spêciàl impôrltuci! pâra mlltos Parhàraru. ahld rit al,nente scparado do lrimciro, eíúora mênt.nham to.tes vílculos.
Na sua passagem lela à1deia na década de a0 (!o nesmo periodo do instalaÉo do SIrl
na,irca), ganlo! mn4o se$idores. É signincativo qnc nxs naraLivas dos nrdios rnah 15 Ost/arnr são d nrás.das de.àroá que encamd os e&arl4./o5 Qlem veste os zrads
an.iôes eodge o lralamenlo Íeservado pelos chefes do Sll para cor ele. l'rcocupâdos sáo l.dos ep.zes nri.ia.los rlo grupo ritMl e Íão Podem s0. idertificâdos. Nr maio.ia
.ôú u1 pôstvel ssrto mesiâni.o, de.nürú dpdsá 1o dà áreâ. proiblldo the de dos câsos, são membros dàs fúni]i4 zeladom dos encantddos on pirticiPúles do
rcalizlr as pregnçnes e de se hos?edar nas aldeias. círcüLo de lealdad.s lor e1a @nstituído.
94 I l-ErRrróm),ÀvrDNr! A orciNrzrçÀo soc,rL Do cosMo..195

gelencia o conhecime[to denuo de §uâ estrutura hierárquica e, atra- CONSIDERACÕES FINAIS


vés dos sacerdotes, ilivulga uma complexâ doutrisa, Propagando-a
1ânto quanto seja possír,el. Como obser-vou Brelich (2003 [1966]), o pâpel No circuito r itual rle cura maPeâdo através da ehloglafia das
do sacerdote limita-se â íttermediaÍ a rclaçáo entre os fiéis e âs divrn romarias e das trocas de l,isitàs, o€orrem ntirtuas apropriações dos
dades e não tem qralquer poder de intederência sobre o destino do grrlpos rit ais ell1 iüteração. Este circuito e oulros desiacados Por Ârruti
rnundo. l)iversameDte dos especialistas rituais aqui focados, o sacer ( 996, p. 57 59 ) são àntedores ao s egündo Processo Lle lerr il otializl ção e
1

dote pode ser o ser_vente dos deuses, mas lrão tem Podeles pam orientar iüprüsi()l1Àrâln trocas reciploaâs, em que símbolos e perfii1lar1ccs út[ais
ou converter âs decisões por eles tomadas. Com efeito, tanto osfd ife,lÍrs lluiràm, e continuÀnr fluinclo, na recle cle relaçôes que se corlstruiu c se
quâúto os praiíí-s são vistos pela hierarquia eclesiástica com suspeiçào, ali reotou cla mobilidade dos grupos- Esses vinculos, relbrçados a cada
na medida em que os processos leligiosos 11ão podem ser submetidos ao encontro e alicerçados em um selrlido de pertença a uü1a identidade
§eu contrcle. ,-orreil?jr, exlÍapolâm os lirnites das fronLciras étnicils c, atuirllnente,
C)bservou-se que os rituâis reaLizados pelos Pankararu caracte- recebem c|iLicas até ásperas pelos iudígcnas rnâis enYolvidos nâs pl álicÂs
rizanl-se por uÍl-Ia rnodalidade 'inragística', ros lerntos ProPostos Por Íiiuais da chxnrada rfudiçao utdígena-
'Whitehouse (2000), laltando umâ sisternatizaçào codilicàda e vctba Irm vi nde de ünâ.rescente ônfase na etnicidade, [avaDr-se
lizada do saber mágico religioso, por exemplo, através de setmôes. Nas clisputas sit-nbt!1icas que, embota náo rleenr vida a oP{)st.rs .tÍllnlaça)es
praiticas rituâis dos Pânkararu (tanto do grupo cle pr'rliíí§ quânto dos públicas, levam os especialislas I il Lrais f io culados à irudíçtio indígcna
periÍe,1fes), à êDlàse é dada aos âtos, àPráÍis, que em si mesma é caPaz a constnLir discuÍsos que tel1del11 a ]inlitâl e a rebaixzLr a ahração rlos
cle revelar elementos da realitiade que os circutrda. A imPortância do gl'upos rilrlais qLre ântêlr esses vínculos. No esforco de lsllrtinâr'c
compartilhameDto das experiências dtuais, isto é, da particiPação con encontrar colrsenso para reío!Çú o sertjrneolo de Pertença ao grupo
juntâ nesses eventos comunjcâiivos, torna sóiida a dimensâo cle unl étnico, bcm coúo de impor o reconhecinettLo de cefios rnenbrcs coillo
coietivo. Exige se a particiPação nos mo êntos peÍíorlnáticos, sendo que artolidades norais e pollticâs prirrcipais desse gruPo mâis test to, o qlnl
neles os símbolos sáo manipulaclos, ernbora poucas orr inexistentes sejâm cuitiva os saberes e os segredos da tradrçiio rzdígena, essas dispersõcs
as Yerbâlizaçôes- Neste sentido, â reâlicixde nâo é pensadâ dâ forma como lornam-se forças antagônicas.
aparece, ela é âprendida através da alimentação dos mistérlos. O segreclo. Com o segundoP,?cesso de ten'itoÍhlizttcão e^ atdbliçio de uma
então, como prática em si, é rlma fo{rnâ de dramatjzar e incentivar forte vaLorização dos e ncantados qite se loÍ\"taram simbolos étnicos, foi
erpedênciâs emocioDais e, mais do que falar sobre o inl]ndo, os rihrais impulsioÍrado um piocesso de cdtica à concepçáo dos perTire,rres que
desejamagir sobre ele (tsARIH, 1975, p.220). O coniecimento se torna não abrange apenas a esfera do sâgrado, tnas tambóm um sistema de
ef,caz 11o própIio ato ritr.ràl que comunica s/afas evalores diíerenciados dominação quc essa concepçáo tem sustentado e qlle leva à necessidade
entre os participântes. A própria exclusão do conhecimento incide de revcrter a posição làvorável que nele ocupavanl os Peníleníes. O \t\és
l1os processos pelos quais a realidade é socialmente construida. étl]ico inâu!!urou, poÍtanto, um processo de enfraquecimento e de nlenor
visibilidade desse grupo dtual que perdeu prestígio e força política. No
ertanto, tàl tendêocia 1rão eliminou os grupos de P?ri it'enre,( e os ci cuitos
rituais ligaclos às romârias. Destdca se, ao contrário, a existêlcia dc um
961 TLRRnóÀro, airnrnNr!, rDrNrrDÁDE r porE!.. À oR6À"-rzÀçÀo socr^r- Do Cos o... l 97

processo de "etoificação da penitên.ial os membros deste fupo dtual conjugarem capacitlades políticas e conhecimentos mágico-rcligiosos
sendo obrigados a inse r-se no quadro político e molal que concorre e que, ern ciÍcuostâncias especifrcas, reúnem se em conselho com os
para fazer vigorar. diversos caciques e o pajé para resolver questôes de ordem comunitária.
Apesar das variações na hierarquizaçâo das entidades do Cosmo, N{as náo se tornan âguras centralizàdoras com poderes coercitivos
nãô eÍiste uma polarização de facçôes que ordene grupos riluais e sobre os membros do grupo étnico como um todo. Embora o regime
famílias em posiçôes opostas, uma vez que membros de um mesmo tutelar tenha conseguido mobilizar'e unir as unidades sociais que
trorro ou de uma únicâ família extensa podem aderir às diversas prádcas vieram a compor o grupo étnico nos primeiros anos da sua iostalação
rituaisr6 e, em algumas circlrnstâncias, os p enilentes sã.o anpa:zes de tet ra área (na década de 40), os úefes de Posto que se socedemm nâo se
papel signincativo nas atividades Íjtuais dosP,.rüs. Embora apresentem translbrmaram ern aBtoridades legítjn'lâs para a regulação moral do
difeÍenças na articulaçâo dos simbolôs, todos ieconheceü domínios de lirupo e para ütcrvi rros conflitos ioterÍàüiliares. I)iversamente, o lider'
conhecimentos e espâços de atuaçào diferenciaclos em teÍmos de familia, carismático Pedro Batista, que aluava no mesmo periodo dâ instalação
gênero e etricidade e os valorcs que são necessiirios de serem mostndos do SPl, teve a capacidade rráo apenas de aglutinar e converter inte.esses
publicamente para alcançar uma boâ leputaÇão. de íamÍiias e ,rorcos em interesses coietivos mais abrangentes, como
Iviais além do enaltecimento diversi6cado das entidades cultuâdas. também era dono cle uma autoridade noIi:ú miixima e estava investido
todos reconhecenr a existência e a eÊcácia do tratralho rittral do outro, de poderes disciplinadoÍes e coercitivos, gozando da aprovaçào geral
(le (ârisrnálico nro promuviJ d cr,JiJo uL,
porque admitem um mundo povoado por essas entidades e o papeldos '(u: \eguiJores. Lste Irder
especialistas em lid com elas, interferindo para o bem estar da sua a nanilàstação de diferenças étllicas eDtre os grupos que àdedran1 ao
família e da própria comunidade política. movimento que cle encabeçava. A concepção que o guiara tinha suas
As disputas entfe especialistas e grupos rituais procedeÍr da bases na já secular política da "mistura' que fora implanta.la, diversa
concorrência pelas chances de poder que ali circr am e que estão daquela promovida pelo SPt e ern oposiçào a ela. O SPI procurava os
suieitas às conngur.açôes históricas e politicas, lendo peso as agências sinais diacríticos necessários pam reconhecer uma difere[ciada iden-
que intemtuam com eles e que apoiaram diferenciadaaeote as atuêções tidâde étnica e assim poder cunprir a sua tarefa de "tutor dos hdios".
de cada gnrpo. Pode-se dizer que houve e há uma condição de perpétuo Há de se conside.aÍ também que o SPI não garantia aos írdios
conflito entre comunidacles políticas locais que, em cadâ "situâção territórios étnicos, isto é, uma plena solução fundiária, e deixava a sua
histórica' (OLIVEIRA, 1988), tentam capitaiizar as relaçôes com agências economiana mesma relação de dependêuciados patrôes (plântardo !as
ou agentes púa deslegitimar ou rcforçu um detet']i'iÍ\ado stat s quo. teüas destes), perpetuando assim a coldiçâo de campesinato sem terra.
Cabe explicitar que entre os Pankararu nãohá uma Íigura politica Por outro lado, Pedro Batista garantia terras coletivas para o cútivo,
ceotrúzadora com autoddade reconhecida para inteÍvir na regulação embora para tal propósito ob.igasse seus seguidores a trabalharem nas
mora.l e flos conflitos. Há lideranças que adquirem especia] poder por terras dos oligaJcas dos quais ele recebia apoio, tendo-se estabelecido
uma relaçáo de interdependência que gararltia a perpetuação do co-
16 Há cdos sigrificaiivos da farticipação nos diferertes grupos rituas nrncionad.s. O ronelismo. Nesse período, para os lideres políticos e religiosos pan-
.aciqüe Ioão Bingâ,Iâlecidô em 2009 e qüe marrteve o .aJgo durante décàdú, goávê de
kararu, diante dessas circunstâncias e segundo as estratégiâs possív€is
lenomado prestigio pela ahraçao tmto nê nmardadepe,ir.rre, quântô coúô dooo do
butdlhõo ne ptui.; ile se\ tbn2- Ira procura de tclra para o cultivo, uma "indianidadd' e uma morúdade
98 I rlrR,rirRlo, ÂMBrrÀr A oRcaNrz^ç^o socral Do CosMo... 199

"penitente" eram associadas e até complementares no decúrco da rei- âtores sociais concretos que têm o obietivo de dar sentido e organizar
vindicaçâo.Nestecaso, então,ser'penitente' eser"índio' nãoconstituíâm socialmente o conhecimento, e que permitiu, e ainda permite, expressões
alLe rativas exclude[tes. culturais antagônicas àquela imposta secularmente pela lgrejâ Católica,
As mudanças advindâs â partt da década de 70 e, sobretudo, portanto, compelidas à clandestinidade por muito tempo. Ressalta-se
ros anos B0 dos Dovos usos políticos da cultura (ARRUTI,2002), que â impossibilidade de abordar as entidâdes do Cosmo e as práticas dos
impulsionaram um processo de 'einificaçád' dâs expressóes cultutais, diversos grupos rituais pankamrú (inclusive dns irmandddes penifefites) a
tornaram sensiveimenle visíveis as disputas entre os índios no decorrer pârth do rótulo do 'tâtolicismo popular" e como um conjunto de práticas
da eiaboração cultural. e símbolos 'lxternos" ao grupo. Como já foi colocado, há um processo de

Assim, a posiçào das entidades cultuadas pelos PankaraÍu dentr.o apropdação de informaçôes e simbolos que sáo incorporados em práticas
de uma hierarquia emmovimcrtto nâo estâbelece urna esttutuG eslaflque rifuais e articulado§ a partir de uma tradição de conh€cimento qrle segue
do (bsmo, mas reflete Bn1 jogo de lorças entre grupos ern disPuta. tuma modalidade essenciaLnente "imagística" (WHITEHOUSE, 2000),
Pelo exposto acin]a, pode se alrrmar clue há um processo cle qtle é diversa, poftanto, da tradiçáo cristã, cujos aspectos doutdnários
construção da diferenÇa que não se baseia apenas na demonstração de 'ào os fundamentos da própria organizâçao.
parcos sinais diacríticos, mas concerne à própria organização socia.l do Diversamente do código digital dâs trâdições de conhecimento
Cosmo, ou seja, a articulação difer e[ciada das entidades e a repartição exegéticas e doutrinárias, o código aDalógico (BARTH, 1975, p.227)
de competêrcias das práticâs ritlrâis entre grupos étniccs, bcm como que câracteriza â tradição alimentada pelos Pankararu não permite
entre grupos familiares e rituâis do mesmo grupo étnico. (lomo já res- explicações paradigmáticas e classificaÇÕes dicotômicas entre sí1úolos
saltado por Oliveira (2004, p.32-34), a et[icidade rão pode ser âbor- cujos signilicados podem ser extraídos do próprio contexto e verbalizados
dadir somente nos seus âspectos politicos,r? pois ela abrange as esferas em outros. (Js âtos rituais tornam-se os principais instrumentos disci,
moral e religiosa na meclida em que o processo de elaboração cultural plioadores nas máos de poucos especialistas, cuja autoridade lhes é
deflagrado quanclo da constituição de um grupo étnico col1ferida por terem a capacidade de lidar com as múltiplas esferas do
"[...] é tâmbérD nqucle da.omunhão de sertidos e vãlores, Cosmo e de restabelecet equilibdos constântemente âmeaçados. Eles
clo batismo de cada um de seus membros, dê obediência a não criam nem verbalizam ou divulgam teorias sobre o signif,cado
uma autoridade sinultaneamente religiosâ e políicJl'! ou a lecessidade dos cultos (sejam eles relatiyos aos cspl/iÍot ou aos
eficantailos, ou às outms entidâdes do Cosmo), mas os carregam de
A tradição de conhecirnento da qual os Pankúaru sào adeptos é
rnistérios. O mistério é, portanto, o elemelÍo que permite a'distinção"
hr.rje o resullado cle Llm processo histódco etn um conlexto específico e
e a organiza, tanto em escala familiar quanto étnica, e que impulsiona
qúe demoüstÉ seo diüamismo pârticular. Pâlece-me importante ressaltar.
as trocas dtuais e a repartição das competências entre especialistas
que esta tradição de conhecimento é fruto do esforço intelectual de
vinculados a unidades sociâis difereDtes.
A compreensáo dos rituais e dos conhecimeltos aí orquestrados,
l7 Co,no a abordagenr de Cohen (197a), quc cnaatiz3 apen{s os aspedos lolÍlico
brotà do próprio conterlo e da organizâção social, da pr.ática do segredo,
instnrhentâlslás da etúi.ldãde e que lorteou, e .ind. noftelê, a forma con quc vên
scDdo lDaljsadd as di.tunicas dc colstrução dc colctiüdd.s únicás. dos signilicados não diziveis, o que permite a enorme vadação de
18 Ibidem, p.34. interpretaçôes que, considero, foi o que permitiu manter e alimeDtar
l00l runn ronro, que rrr A oRcÁNrzÀçÃo socrÁrDo CosMo... I l0l
a criatividade dos atores sociais que cúltivam o conl, ecimento e, nas BREIICH, Angelo. Irtroduzione alla storia delle religioni- Roma: Edizioni
diveNas situações históricas de dominaçáo, elabomr e incorporar saberes, delÀtereo, 2003 [1966].
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hislorical studies oÍ the domestic group. I3erkeley: University of Câliíornia cisamos fazer alusão, mesmo que sucintanente, à sua rclação com os
Press,l984,
Pankararu do Brejo dos Padres, do sertão Pemambucano. Estes grupos
tfatam-se como parentes, para além daquela conotação da luta polí
tica que une os grupos iodígenas, sejâ de uma regiào ou em prol de
uma causa ou demancla em comum. Neste sentido, os Katóklún empre-
gam â câiegoria'i)onta de râma'para designar qr;e descel1clen da
'ildeia tronco" Parúaraftl.
A aideia Ka!ókinn iocaliza-se so-;ilto sertão alagoano, na região
do submédio São Francisco, para onde segr.rlraln algumas farnílias
PankaLaru enr busca de trabalho nos errgenhos e fa?erldas daquela
região, em idos do iDício do século XX. Através de mâtrimônios e entre-
cruzamentos de linhagens, as primeiras Íamilias cleram origem ao
po.rc Katókin* e formam-q1 uma gla§de malha ind.igena no sertãc ala-
goano. Deste nodo, enconha-se na coistrução sinbólica de suas fron-
teims elementos dos trâços culturais da tradição lbré-Praiá, marcante
na cosmologia do Caroá,
O povo Katókinn valotiza a prática de seus Íituais atendendo à
ciência dos encaítâdos, que são coosiderados os seus místédos. C) ritual
Festa da Yitória destaca-se pela §ua rcpre§eütatividade Perante o grupo
indígena, por simbolizar a conquista e a luta do povo Katókinn em meio
a um longo processo de interlocução com o aparato estatal bmsileirc,
por sua imporlância para a sociabilidade do grupo, a reifrcaçáo da sua
identidade étlica ea af,rmaçáo de suas cre[çâs.

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