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Na Bancada - Kathy Barker Capítulo 5 1

CADERNOS DE LABORATÓRIO

O caderno de laboratório é o registro que você Tipos e formatos #


mantém dos métodos e resultados do seu experimento. Conteúdo #
Se houver um incêncio no laboratório, carregue o seu Manutenção #
caderno. Deixe o computador, os plasmídios no freezer, Ética #
o aparato especial que o vidraceiro montou para você - Fontes de consulta #
nada é mais valioso do que os seus dados. Com eles
você pode escrever artigos, planejar experimentos e montar os seus resultados. Sem eles, é
como se você nunca tivesse estado no laboratório.
O seu caderno de laboratório deve ser limpo e completo até o fim. Se alguma coisa
dá errado, você deve ser capaz de voltar atrás e descobrir o que aconteceu. Você usou
células velhas no experimento anterior? O tampão de incubação foi feito corretamente? A
enzima parou de funcionar repentinamente de um dia para o outro? O seu caderno de
laboratório deve estar cheio de pistas que podem resolver o problema. Além disso, outro
cientista deve ser capaz de interpretar as suas anotações. Registros rabiscados, que só
podem ser interpretados por quem os escreveu, isto não só é obscuro mas é, na verdade,
suspeito. O seu caderno de laboratório deve ser uma defesa contra fraude e não uma prova
dela. Ele é uma prova de quem você é como cientista.

TIPOS E FORMATOS

Folhas versus caderno? Existem muitas maneiras de registrar dados. Antes de investir seu
tempo num método em particular, certifique-se de se a organização ou o investigador
principal exigem um certo formato. Algumas companhias e organizações têm regras
extremamente rígidas. Isto não é devido apenas a questões de fraude, mas também para
proteção em caso de desenvolvimento de drogas e/ou processos judiciais.
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Por exemplo, numa companhia farmacêutica internacional, cadernos numerados


devem ser assinados para poder sair do escritório. O caderno de laboratório, com páginas
numeradas, deve ser mantido todos os dias e liberado contra assinatura para alguém não
conectado ao projeto. Os cadernos são trancados todas as noites. Eles são mantidos
indefinidamente e são microfilmados uma vez por ano. Eles nunca são considerados uma
propriedade pessoal. Quando um composto está sendo considerado para testes em seres
humanos, os dados e os cálculos no caderno são conferidos por um grupo de pessoas para a
detecção de erros.
É desnecessário dizer que nem todas estas regras são seguidas por todos os
laboratórios. Mas se for exigido que você mantenha os seus dados desta maneira,
simplesmente faça isso. Você num vai se arrepender por ter os seus dados organizados e
simplesmente vai ter que algumas vezes prestar atenção a alguns detalhes tediosos.
Os laboratórios acadêmicos tendem a ser muito mais liberais com as exigências de
seus cadernos de laboratório e muitos nem tem regras ou orientações. Nestes laboratórios
você pode encontrar de tudo, desde dados anotados em toalhas de papel a cadernos tipo
brochura com papel carbono. Confira com o investigador principal e siga as suas
recomendações. A maioria vai recomendar um caderno.
Existem vantagens e desvantagens para todos os estilos de cadernos de laboratório.

Tipo Vantagens Desvantagens


Brochura Não perder folhas Os experimentos são incluídos
Prova contra fraudes à medida que são feitos, sem
ordem lógica
Folhas soltas/pastas Poder agrupar experimentos, Folhas podem ser perdidas,
manter a ordem difícil de provar autenticidade
Computador/planilhas Fácil leitura Dados podem ser perdidos,
Fácil de fazer cálculos difícil de provar autenticidade

Folhas soltas são boas para organizar vários projetos. Também são boas para
manipular durante os experimentos, desde que você use uma prancheta e não se incomode
com o volume de um caderno. Incluir os dados diretamente num computador torna as
manipulações posteriores, como a elaboração de gráficos e cálculos estatísticos, mais
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simples. Mas a responsabilidade final é algo que só um caderno do tipo brochura pode dar
conta. Se você pode escolher o tipo do seu caderno, opte pelo caderno do tipo brochura.

Um bom caderno de laboratório do tipo brochura

 Grande, 21 cm por 29,7 cm (tamanho A4). Você pode colar fotografias e alguns dados
impressos, e ter espaço para anotações.
 Páginas costuradas. Deve ser impossível tirar páginas sem destruir a integridade do
caderno.
 Páginas numeradas.
 Páginas brancas quadriculadas. Páginas com linhas são muito restritivas, páginas em
branco se tornam rapidamente desorganizadas.
 Páginas duplicadas. A segunda páginas geralmente é amarela, com perfurações que
permitem que sejam destacadas com facilidade.

Uso efetivo de um caderno de laboratório


Use apenas caneta, nunca lápis. Escreva na página branca, com papel carbono para
registrar uma cópia na página amarela. A página branca permanece no seu caderno.
As páginas amarelas serão a sua segunda cópia. Organize um sistema de pastas para
estas páginas. Coloque todos os dados que não cabem no caderno, na pasta correspondente
com as páginas amarelas.
Escreve a data e a identificação do experimento em todos os fragmentos de dados,
incluindo dados impressos e fotografias.
Mantenha o seu caderno e as suas pastas em locais diferentes.

======
Inserir figura 1
======
Figura 1.
Organize um sistema de pastas para dados impressos, fotografias, raios X, duplicatas
(amarelas) das páginas do caderno, e para todos os dados que não cabem nas páginas do
caderno. Cada experimento deve ter a sua própria pasta.
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CONTEÚDO

O registro de cada experimento deve conter:


 Data do início do experimento. Coloque a data completa (incluindo o ano) em cada
página, mesmo nas páginas de continuação.
 Título do experimento. Quanto mais breve, melhor. Exemplos: “Estudo preparatório
de biblioteca de clones” ou “Efeito do PMA na liberação de quimiocinas por
fibroblastos”.
 Breve descrição dos objetivos. Isto é uma extensão do título, com um pouco mais de
detalhes. Para os títulos acima, um adicional poderia ser “Conferir o tamanho das
inserções na biblioteca de cDNA de galinha” e “Comparar a liberação de IL-8 em
culturas esparsas e densas”. O título e o objetivo podem ser combinados.
 Descrição do experimento. O protocolo para o experimento pode ser escrito no
caderno antes de você começar e ser retificado à medida que faz o experimento. Uma
cópia do protocolo pode ser colada numa página e também ser retificada ao longo do
procedimento. Sempre faça uma referência para o protocolo que você está usando. Esta
pode ser um artigo de periódico ou o protocolo obtido de um livro, ou uma referência a
um protocolo desenvolvido por você (“como feito em 9/5/97; ver página 13”).
Registre os cálculos numa página contígua
Desenhe um esquema da
vazia. Inclua os cálculos para concentrações,
organização de suas amostras, se
diluições, pesos moleculares e molaridades.
ficar mais fácil para você
Tudo o que acontece - e o que não acontece
localizar os dados. Por exemplo,
- é um dado. Inclua todos os controles como
se você sempre usa placas com 96
dados, curvas padrão e os tempos 0.
poços, fotocopie uma placa ou um
À medida que o experimento anda, cole os
gabarito, cole no caderno e
dados impressos e fotografias que caibam no
registre as descrições das
caderno. Mantenha tudo junto, bem marcado, de
amostras na cópia.
tal maneira que a origem possa ser determinada
se algumas partes forem separadas do resto. Arquive em pastas junto com as páginas
amarelas.
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Ao final de todos os dados, escreva uma sentença resumindo todos os resultados do


experimento. Anote todas as coisas estranhas ou aberrações e adicione qualquer
comentário sobre porque o experimento pode ou não pode ter funcionado.
Sumário. No início do caderno de laboratório, ou numa folha separada, mantenha um
sumário com os experimentos listados por título, data e número da página. Isto pode
parecer um tormento, sempre vai economizar tempo quando você estiver procurando
por um conjunto particular de dados.

VOCÊ NÃO SERÁ CAPAZ DE LEMBRAR DE TUDO. VOCÊ NÃO PODE SER
CAPAZ DE LEMBRAR DE TUDO.
Registre tudo. Não existe algo tão pequeno que não deva ser registrado. Escreva de
maneira que qualquer um (inclusive você) possa pegar o seu caderno e duplicar o
experimento (e os resultados) perfeitamente.
Informações que você geralmente omite e que pode precisar depois:
Número do lote do soro
Concentração do anticorpo
Outras pessoas envolvidas
Modelo da centrífuga, velocidade e temperatura
Tempo de incubação
Número de lavagens
Tipo e tamanho do tubo
Atrasos não previstos nas incubações, lavagens e tratamentos
Meio de crescimento usado
pH do tampão
Cálculos
Número inicial de células
Idade e número de passagens da cultura
Porcentagem de agarose e acrilamida do gel
Estágio de crescimento das bactérias
Condições das células usadas: cultura esparsa ou crescimento excessivo, granulócitos,
células flutuantes numa cultura aderente
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MANUTENÇÃO

À medida que você faz o experimento, não é suficiente apenas registrar os dados. A
menos que você mantenha atualizado e revise o
Os estilos dos cadernos de laboratório
seu caderno de laboratório, não terá
podem ser muito individuais, mas
familiaridade com o seu conteúdo.
devem conter os elementos essenciais.
Registre tudo o mais cedo que puder.
(Veja os exemplos de páginas de
Tente registrar o experimento ao mesmo tempo
cadernos nas páginas ## e ##; cortesia
que o realiza. Se isto não for possível (por
de Jian Guo, University of Washington,
exemplo, quando você estiver trabalhando com
Hongxia Fan, Rockefeller University, e
radioatividade), faça-o no final do
Clare Carroll, Rockefeller University.)
experimento. E se não puder fazer isto, faça no
dia seguinte, pelo menos. NÃO RESERVE um dia da semana para registrar os seus dados.
Os 20 experimentos ou mais que você pode ter feito numa semana podem se tornar uma
pântano mental no final da semana.
Faça um exame minucioso semanalmente. Estabeleça um horário, regularmente,
para inspecionar o seu caderno. Mesmo que você tenha que trabalhar todo o fim de
semana, a sexta-feira é sempre o melhor momento. Use este tempo para fazer o seguinte:

========
Incluir figuras das páginas 94 e 95 do original
========

 Anexe todos os dados, impressos e raios X do experimento. Se o papel ou a foto é


pequena, cole no caderno. Se for grande, coloque no arquivo do experimento. A
maioria dos filmes precisam ser colocados contra a luz para serem visualizados
apropriadamente, portanto, mesmo os filmes pequenos devem ser arquivados ao invés
de colados no caderno.
 Faça gráficos e tabelas. Tente
Se você não conhece os seus dados, os seus
fazer isto durante a semana, mas
experimentos são inúteis. Somente conhecendo
com certeza faça isto antes da
os seus resultados você pode planejar o seu
semana terminar. Um gráfico ou
rumo, discutir suas conclusões e estar no
uma tabela tornam todos os dados
controle.
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mais fáceis de serem interpretados; eles parecem “reais” e irão validar a sua posição
numa discussão bem melhor do que uma explanação. Também vai evitar que você faça
dezenas de gráficos e tabelas exatamente quando estiver envolvido na redação de um
artigo ou fazendo um seminário para o laboratório. Se o gráfico ou a tabela forem
pequenos, cole no caderno; caso contrário, arquive na pasta.
 Escreva resumos de todos os experimentos da semana. Revise todos os experimentos e
certifique-se que há um sentença ou duas resumindo os resultados ao final de cada um.
Sinta-se à vontade para escrever mais - interpretações, recomendações para outros
experimentos - mas sempre escreva seu resumo onde você pode folhear o caderno e
encontrá-lo.
 Registre o experimento no sumário. Simplificar os títulos e datas dos experimentos vai
dar um grande impulso na sua organização, desde que você possa achar qualquer
experimento que queira. Se possível, registre o número da página.
 Faça um plano para a semana seguinte. Enquanto os dados estão frescos na sua mente,
pense um pouco sobre o que eles significam e o que você precisa fazer a seguir. Um
resumo escrito é provavelmente irreal, mas pode ser surpreendentemente útil.

Peça comentários e avaliações dos seus dados e planos. Uma vez que você entenda
os seus dados, discuta-os com os seus colegas ou com o investigador principal. Você não
precisa compreender completamente o que todos os seus dados significam para iniciar uma
discussão, mas certamente vai saber o que os seus dados são.

ÉTICA

Propriedade. O caderno de laboratório pertence ao laboratório, não ao


pesquisador. Se você é terrivelmente apegado ao seu caderno e deseja mantê-lo quando for
embora, discuta isso com o investigador principal. Ele ou ela podem se satisfazer com uma
cópia, mas isto seria incomum. Pergunte se você pode ficar com as cópias amarelas.
Não tenha receio de fazer o seu caderno de laboratório pessoal, com lembretes,
lamentações e irritações anotadas, desde que os dados estejam registrados clara e
completamente. Mas muito desvio em relação aos dados não é profissional e pode ser
embaraçoso, portanto minimize as informações emocionais.
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Público versus privado. O caderno de laboratório é um documento curioso, uma


mistura de registro público e privado. Em muitos lugares, ele é deixado sobre
escrivaninhas ou bancadas, mas nunca é visto por alguém a não ser pelo “proprietário”.
Não dê uma espiada no caderno de laboratório de outro colega, mesmo (ou especialmente)
se você deseja conferir ou suspeita de dados fraudulentos. Se você suspeita de fraude, fale
com o investigador principal. E se você suspeita que alguém está examinando o seu
caderno, tranque-o ou dê para o investigador principal guardar durante a noite.
Acesso ao investigador principal. Geralmente, o investigador principal lerá os
cadernos dos técnicos e dos estagiários livremente, mas não vai ler os cadernos dos
estudantes de pós-graduação ou dos pós-docs, pois isso é considerado como uma
transgressão intelectual por muitos. Mas não se ofenda se o seu caderno for examinado,
especialmente se o investigador principal está lhe ajudando com a resolver algum problema
num experimento. O caderno é, tecnicamente, um documento público e deve estar
disponível para ser examinado minuciosamente.
Arquivos. Por quanto tempo um caderno de laboratório e os dados originais devem
ser mantidos? Devido a limitações de espaço, a maioria dos laboratórios não podem manter
os cadernos de laboratório indefinidamente. Eles devem ser mantidos por 5 anos e
descartados somente a juízo do chefe do laboratório.
Não descarte:
 Cadernos de laboratório velhos que você encontrar quando começar num laboratório
 Os seus próprios cadernos, mesmo depois de 5 anos
 Qualquer caderno de um projeto em andamento
 Dados encontrados em gavetas ou no computador
Registro de dados. Um “engano” feito no seu
Omitir um resultado é
caderno pode ser amplificado quando já estiver na
falsificar dados.
literatura, portanto, seja absolutamente rigoroso com o
registro de tudo, sendo o mais acurado e honesto que puder.
Nunca omita dados do seu caderno! Existem critérios estatísticos para a eliminação
de dados e estes devem ser seguidos. Alguns dados não são passíveis de serem analisados
por estes critérios e a decisão de omiti-los é difícil de justificar.
Você pode ser pressionado a obter certos resultados. Em muitos casos de fraude, quem a
perpetrou acusa o investigador principal, dizendo que ele esperava um resultado em
particular e o pesquisador se sentiu impelido a produzi-lo. É verdade que o investigador
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principal pode desejar um resultado. Mas os seus dados são sua responsabilidade, e cabe
a você estar seguro de que os dados foram registrados honesta e acuradamente.

Se você perder um dado, anote no seu caderno de laboratório a razão pela qual você
o eliminou dos cálculos e dos gráficos. Escreva “como eu acho que sacudi aquela placa”,
ou “porque tal resultado não foi observado nos outros 6 experimentos”, ou “as células não
pareciam estar saudáveis”. Não interessa o quanto a sua razão pareça ser fraca para você (e
se ela parece ser fraca, talvez você não devesse estar fazendo isso), você deve deixar claro
qual dado foi descontado e porque.

FONTES DE CONSULTA

Broad w: and Wade N. 1992. Betrayers of the truth. Fraud and deceit in the halls of sci-
ence. Simon and Schuster, New York.
Carr J.J. 1992. The art of science. A practical guide to experiments, observatiom, and
handling data. HighText Publications, San Diego.
Schrader-Frechette K. 1994. Ethics of scientific research. Issues in academic ethics.
Rowman & Littlefield, Lanham, Maryland.

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