Material Teórico
Sistemática Vegetal
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Sistemática vegetal
OBJETIVO DE APRENDIZADO
··Apresentar uma perspectiva histórica da sistemática vegetal,
fornecendo também a nomenclatura e fundamentos essenciais para
a compreensão das próximas unidades.
ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade faremos um passeio pelos fundamentos e história da
sistemática vegetal. Discutiremos o percurso trilhado por gerações de homens
e mulheres que buscaram ― e ainda buscam! ― organizar a natureza para
então compreendê-la. Os erros e acertos do passado devem nos inspirar e
guiar, e mais que isso, fazer-nos compreender o que, à primeira vista, pode
parecer apenas uma lista interminável de nomes e regras complicadas.
Contextualização
A sistemática vegetal tem sofrido uma drástica mudança desde que métodos
filogenéticos começaram a ser empregados para a reconstrução da história
evolutiva das plantas. A Ciência que, por séculos, mostrou-se empírica e até
mesmo livre de teorias, dando ao taxonomista um caráter mecanicista ao agrupar
as espécies por critérios pouco claros ou relevantes, revolucionou-se. A adoção de
técnicas modernas de sequenciamento de DNA como parte de suas ferramentas de
investigação, parece irreversível.
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O que Significa o Termo Sistemática?
A sistemática vegetal é um ramo da Botânica responsável por organizar as
informações referentes a cada grupo de plantas conhecido. Portanto, tem em sua
raiz uma característica integradora e recebe contribuições de todas as demais áreas
da Botânica.
Trocando ideias...Importante!
Identificação é a determinação de um táxon, como idêntico ou semelhante a outro já
conhecido. Pode ser feita com o auxílio de literatura ou pela comparação com outro
de identidade conhecida. Táxon é o termo estabelecido pelo Congresso Internacional
de Botânica para designar uma unidade taxonômica de qualquer hierarquia (família,
gênero, espécie, subespécie etc.).
Nomenclatura está relacionada com o emprego correto dos nomes das plantas e
compreende um conjunto de princípios, regras e recomendações aprovados em
congressos internacionais de Botânica e publicados em um texto oficial.
Classificação é a ordenação das plantas em um táxon. Cada espécie é classificada
como membro de um gênero, cada gênero pertence a uma família; as famílias estão
subordinadas a uma ordem, cada ordem a uma classe, cada classe a uma divisão
(BARROSO, 1978, p. 3, grifos do autor).
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UNIDADE Sistemática Vegetal
Importante! Importante!
Sistemas de Classificação
Sistemas de classificação condensam o modo como enxergamos o mundo à nossa
volta e interagimos com o qual. Um exemplo disso é a chamada taxonomia folk, que
é o modo como diferentes comunidades tradicionais ou grupos étnicos classificam
a natureza, especialmente plantas medicinais ou perigosas, organizando-as em
grupos funcionais ou que, de algum modo, têm significado para a sobrevivência
do grupo.
internet, usando como palavras-chave taxonomia folk, etnobotânica ou, para textos em
inglês, folk taxonomy e etnobotany.
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taxonomia popular ou folk é capaz de detectar mais variedades, e mesmo espécies
crípticas, do que taxonomistas treinados na classificação tradicional (RAGUPATHY
et al., 2009).
Trocando ideias...Importante!
Para lidar com toda essa diversidade de formas e processos encontradas nos seres
vivos e dela se utilizar para sua própria sobrevivência, o homem vem tratando de
conhecê-la e ordená-la de alguma maneira, isto é, classificá-la. A classificação é uma
atividade inerente ao homem, e é uma alternativa para uma vida mais eficiente e
produtiva (OLIVEIRA, 2003, p. 127).
Trocando ideias...Importante!
Carolus Linnaeus ou Carl Linné (1707−1778) deixou um grande legado de obras aos
botânicos que o sucederam. Entre elas, o Species plantarum, considerado o ponto
de partida do sistema de classificação binominal, tornou-se um trabalho de suma
importância na sistemática de plantas vasculares. O sistema de classificação de Lineu
consta de 24 classes, distintas pelo número de estames e sua posição na flor. As
classes são subdividas em ordens, baseadas no número de estiletes do ovário. Visto
que o sistema de Lineu se fundamenta em características do androceu e do gineceu, é
chamado, também, sistema sexual (BARROSO, 1978, p. 8).
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UNIDADE Sistemática Vegetal
Graziela Maciel Barroso foi uma importante botânica brasileira, reconhecida internacional-
Explor
mente por seu trabalho e dedicação. Uma de suas principais obras, intitulada Sistemática de
angiospermas do Brasil (1978), traz em seu primeiro capítulo uma valiosa revisão sobre a
história dos sistemas de classificação de plantas.
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Atualmente o sistema de Cronquist foi abandonado pelos taxonomistas,
mas o atual sistema de classificação das plantas ainda se baseia na ideia de
agrupar táxons que compartilham a mesma história evolutiva – filogenia.
O sistema de classificação para o maior e mais representativo grupo de plantas, as
angiospermas, é chamado de Angiosperm Phylogeny Group (APG). Este sistema
concentra os esforços de botânicos e biólogos evolutivos de todo o mundo para
compreender a evolução das angiospermas até o nível taxonômico de ordem
e está baseado nos recentes avanços da filogenia. Os especialistas dos demais
grupos de plantas e fungos têm seguido a mesma tendência, buscando adequar
os sistemas de classificação ao relacionamento evolutivo entre os táxons. Além
disso, cabe aos especialistas de cada família de plantas adequar a classificação ao
sistema filogenético atual.
O sistema de classificação APG tem se desenvolvido nos últimos anos. Trata-se de um sistema
Explor
Desde que foram adotadas técnicas modernas para compreender a evolução das
plantas, a classificação tem sofrido muitas transformações. Os métodos utilizados
para isso e suas diferenças para os sistemas filogenéticos anteriores serão melhor
compreendidos adiante, quando tratarmos dos conceitos fundamentais da filogenia
e os métodos mais empregados.
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O2 O 2 O2
Crenarchaeota
Chlorobiaceae
Chloroflexales
Plantae
Cianobactéria
Heliobactéria
Proteobactéria
Animalia
Fungos
Algas
Euryachaeota
Endosymbiosis
plastídeo
Eucaria
Archaea
Bactéria
Tempo
Origem da vida
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UNIDADE Sistemática Vegetal
Importante! Importante!
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·· Necessidade de um tipo vinculado a um nome, ou seja, deve haver sempre
um espécime adequadamente herborizado e vinculado a uma coleção de
museu que sirva de “modelo” para aquele nome;
·· A validade do nome está vinculada à prioridade da data de publicação,
ou seja, vale sempre o nome mais antigo publicado. Contudo, respeita-se
como data de partida ou data mínima àquela da publicação do Species
Plantarum de Lineu – 1 de maio de 1753;
·· Cada táxon pode possuir apenas um nome, salvo exceções – nomes
conservados como, por exemplo, Leguminosae, que é atualmente
equivalente à Fabaceae;
·· Nomes empregados em qualquer nível hierárquico devem ser de origem
latina ou latinizados – traduzidos para o latim;
·· As regras de nomenclatura têm efeito retroativo.
Importante! Importante!
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UNIDADE Sistemática Vegetal
“Em Biologia, nada faz sentido senão à luz da Evolução” (DOBZHANSKY, 1973)
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Atualmente, utiliza-se largamente dados obtidos por meio do sequenciamento
de genes, regiões espaçadoras – altamente variáveis –, ou mesmo de genomas
inteiros ― esta abordagem é chamada de filogenômica. Tais dados são utilizados no
lugar das matrizes de presença ou ausência para a análise filogenética.
A B C B A C
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Figura 3 – Duas representações do mesmo cladograma para três espécies hipotéticas: A, B e C. As espécies A e B
formam um clado – grupo monofilético – porque compartilham um único ancestral comum – ponto identificado
pelo número 1 –, assim como A, B e C também formam um clado – ancestral comum identificado pelo número 2.
Trocando ideias...Importante!
Cronquist, um autor que não utilizou cladística em suas análises [...], assim como
outros autores, foram fortemente influenciados pelas ideias de Bessey, que postulava
a existência de determinadas tendências evolutivas nas Angiospermas que, em linhas
gerais, podem ser resumidas em: proteção, redução e fusão. Por exemplo, a princípio, um
ovário ínfero deveria ser considerado mais derivado que um ovário súpero (proteção),
uma flor com poucos estames mais derivada que uma flor com muitos estames (redução),
uma corola gamopétala mais derivada do que uma corola dialipétala (fusão). [...] Por
fim, não existem tendências evolutivas nas Angiospermas (ou em qualquer grupo de
organismos) que possam ser assumidas a priori (SOUZA; LORENZI, 2012, grifo nosso).
Para os objetivos desta Disciplina, não aprofundaremos muito quanto aos métodos
utilizados na análise filogenética – para isso consulte o Material complementar.
Contudo, trataremos aqui de alguns termos básicos que serão muito utilizados no
decorrer da Disciplina.
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(I)
A B C D E
A D
C
B
E
Linhagem ancestral
(II)
A B C D E
A D
C
E
B
Linhagem ancestral
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UNIDADE Sistemática Vegetal
Trocando ideias...Importante!
Embora não seja uma regra na filogenia, há três critérios principais que podem ser
utilizados na decisão se um clado deve ou não ser considerado um táxon. Não há
consenso sobre qual destes critérios é o mais importante ou mesmo se todos eles devem
ser utilizados. Os critérios são os seguintes:
1. Estabilidade nomenclatural: se um táxon tradicionalmente reconhecido tiver
circunscrição adequada do ponto de vista filogenético, não há motivos para alterá-lo;
2. Coerência morfológica: grupos taxonômicos devem ser, na medida do possível,
reconhecíveis morfologicamente, a fim de otimizar sua utilização pelos botânicos [...];
3. Táxons grandes demais ou pequenos demais devem ser evitados (SOUZA;
LORENZI, 2012).
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Sistemática de angiospermas do Brasil.
BARROSO, M. G. et al. Sistemática de angiospermas do Brasil. v. 1. São Paulo:
Edusp, 1978.
Botânica: introdução à taxonomia vegetal.
JOLY, A. B. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. 5. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1979.
Sistemática vegetal: um enfoque filogenético.
JUDD, W. S. et al. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3. ed. Porto Alegre,
RS: Artmed, 2009.
Introdução à Biologia Vegetal.
OLIVEIRA, E. C. de. Introdução à Biologia Vegetal. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2003.
Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil,
baseado no APG III.
SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação
das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado no APG III. 3. ed.
Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2012.
Leitura
Leia a seguinte seleção de textos – em português – com alguns exemplos de taxonomia
folk e etnobotânica:
Acta Botanica Brasilica
CUNHA, S. A. da; BORTOLOTTO, I. M. Etnobotânica de plantas medicinais no
assentamento Monjolinho, Município de Anastácio, Mato Grosso do Sul, Brasil. Acta
Botanica Brasilica, v. 25, n. 3, p. 685-698, 2011.
Disponível em: https://goo.gl/6gVs3r
Acta Botanica Brasilica
OLIVEIRA, Flávia Camargo de et al . Avanços nas pesquisas etnobotânicas no Brasil.
Acta Bot. Bras., São Paulo , v. 23, n. 2, p. 590-605, June 2009 .
Disponível em : https://goo.gl/6gVs3r
A Diversidade Como Princípio dos Estudos Étnico-raciais.
SILVA, J. S. . Conhecimento Tradicional Etnobotânico na Comunidade do Cedro
no Sudoeste de Goiás. In: Ana Cristina Silva Daxenberger; Rosivaldo Gomes de Sá
Sobrinho. (Org.). A Diversidade Como Princípio dos Estudos Étnico-raciais. 1ed.
João Pessoa - PB: Editora Tempo, 2015, v. 1, p. 73-82.
Disponível: https://goo.gl/aeR5bE
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Referências
ABREU, D. B. O. et al. Classificação etnobotânica por uma comunidade rural em
um brejo de altitude no Nordeste do Brasil. Revista Biológica de Farmácia, v. 6,
n. 1, p. 55-74, 2011.
OLIVEIRA, E. C. de. Introdução à Biologia Vegetal. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2003.
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