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1 . Ler o seguinte texto com muita atenção e responder com clareza e correção ao
questionário seguinte.
Harmonia
Por vezes, porém, as regras eram outras. Assim, o ouriço era mais pequeno do que o
cão, mas defendia-se, espetando todas aquelas armas. Os gatos eram corpulentos, mas
fugiam quando em Junho aparecia a cobra. Até o porco redondo e sujo subia pelas
paredes quando ela se lhe enrolava na pia. Mas essa era venenosa. Por isso o medo
provinha não só do peso do grande, mas também do pequeno venenoso.
Aliás, também entre as pessoas a harmonia era absoluta. A bisavó Bina que não via,
andava devagarinho pela casa e esperava o dia inteiro pela hora em que lhe dessem a
pelar os legumes. O marido dela ainda via e mandava nela, dizendo-lhe,
frequentemente: “cala-te”. Ela obedecia e tinha medo dele. A mãe e as tias tinham
medo do pai e dos tios. Todos eles andavam apressados pela casa, muito mais do que
os avós, pois esses, a meio da tarde, ficavam pensativos. Assim sendo, era a bisavó
quem tinha medo de todos, inclusive do cão, da cobra e do peru, e até mesmo do gato
quando o abraçávamos e espremíamos. Sentada, imóvel, ela tinha medo de nós
mesmos.
Certo dia, porém, essa relação mudou, pois, o pai ofereceu à mãe uma toalha de
plástico. [...]A toalha deveria ficar exposta num local privilegiado da casa. Ora no
corredor havia uma mesa onde ela brilhava e fosforescia. As pontas da toalha quase
rojavam o chão. O cão chamado Tobias, vagueando pela casa, logo aí encontrou um
abrigo. Fui atrás dele e para meu espanto, aquele era o recinto há tanto procurado. O
tampo da mesa constituía um tecto, e cada uma das abas da toalha era uma parede. O
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quarto de dormir das minhas bonecas, a partir daquele instante, tinha pois quatro
paredes. Abri-lhes as camas, coloquei-lhes as mesas sob a mesa do corredor. Era pena
que nenhuma das paredes tivesse janela. Só que dentro da caixa de costura havia uma
tesoura e com ela se abria uma verdadeira janela numa das paredes. A janela ficou
larga e o tecido retirado era a medida da toalha que tapava a mesa das bonecas posta
sob a mesa. Alguém podia imaginar maior perfeição? Brincando debaixo da mesa, com
um buraco na toalha, via-se as pessoas passarem como se fosse uma verdadeira janela.
Mas alguém, de repente, estacou em frente da pequena janela. A mãe começou aos
gritos, o cão saiu ladrando como se alguém arrombasse a casa, quem estava em casa
apareceu num instante com água e panos. Um dos tios não tinha, mas era como se
tivesse pegado na caçadeira. Aquele iria ser o meu último instante! Alguém me iria
matar, eu não teria mais salvação. Também a bisavó avançava lentamente perguntando
que é, que é. E o que é, que é, era eu, que havia feito uma horrível imperfeição. Não
chorava a mãe, sentada numa cadeira? Não a abraçava a tia Maria? O meu castigo iria
ser grande, tão grande como aquele que a cobra infligia ao rato. Por isso mesmo só a
bisavó, que tinha medo de todos, me levava pela mão. O que iria ser de mim, protegida
apenas pela mão da minha bisavó que não via? Ah! Mas ela ajeitou a minha cabeça no
seu colo, protegeu-me dos puxões da minha tia, das inventivas da minha mãe. Ela não
me largou enquanto não chegou a noite, e mesmo assim, ela levou-me consigo e
deitou-me a seu lado, e a força da sua proteção foi tão forte que eu percebi que ela era
mais forte do que o pai, o avô que era seu filho, os tios todos juntos, a cobra, o cavalo, o
cão e o peru. Próximo da sua cabeça que não via, o próprio dia tinha desaparecido sem
receio da noite e as suas mãos mostraram um poder desconhecido. Foi, pois, assim.
Uma força fez estremecer a harmonia do mundo em Boliqueime, mas uma outra, feita
de outra força, aparecia. Para sempre aparecia.
Grupo I
1.1. Refere as características deste tipo de texto, justificando a tua resposta com uma
transcrição textual.
2.1. Mostra que a “harmonia” de Boliqueime se fundamenta numa regra que irmana
homens e bichos.
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4. Diz o que fez a autora para que os seus familiares se insurgissem contra ela.
5. Explica a seguinte expressão: “Um dos tios não tinha mas era como se tivesse pegado na
caçadeira.”.
8. Identifica a pessoa, o número e o tempo das formas verbais presentes nas seguintes
frases retiradas do texto. Mencionando a sua importância no tipo de texto em questão.
“Próximo da sua cabeça que não via, o próprio dia tinha desaparecido sem receio da noite e as
suas mãos mostraram um poder desconhecido. Foi, pois, assim. Uma força fez estremecer a
harmonia do mundo em Boliqueime, mas uma outra, (…) aparecia. ”
Grupo II
1 . Ler o seguinte texto com muita atenção e responde com clareza e correção ao
questionário seguinte.
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Luís de Camões
(1) depressa
(2) desgostos
A- Relembra um dia em que estavas em família e escreve um texto em que contes as tuas
memórias.
B
Quer o Diário quer as Memórias são formas de escrita autobiográfica. Aponta as
diferenças e as semelhanças entre um e outro tipo de texto.
Boa Sorte!
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