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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

1ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0000462-03.2021.8.16.0162

Recurso Inominado Cível n° 0000462-03.2021.8.16.0162


Juizado Especial Cível de Sertanópolis
Recorrente(s): GOL TRANSPORTES AEREOS S.A.
Recorrido(s): JOAO PAULO AUSECHI
Relator: Bruna Richa Cavalcanti de Albuquerque

EMENTA: RECURSO INOMINADO. DIREITO DO


CONSUMIDOR. TRANPORTE AÉREO. CANCELAMENTO DE
VOO. NECESSIDADE DE READEQUAÇÃO DA MALHA AÉREA
EM DECORRÊNCIA DA PANDEMIA OCASIONADA PELO
COVID-19. REEMBOLSO DO VALOR DA PASSAGEM NÃO
UTILIZADA QUE DEVE RESPEITAR A REGRA ESTABELECIDA
PELA LEI 14.034/2020. REEMBOLSO EM 12 MESES.
REEMBOLSO DO VALOR DA NOVA PASSAGEM ADQUIRIDA
PELA PARTE AUTORA NÃO DEVIDO. ENRIQUECIMENTO SEM
CAUSA. SERVIÇO DEVIDAMENTE PRESTADO. DANO MORAL
NÃO CONFIGURADO. ASSISTÊNCIA MATERIAL
DEVIDAMENTE PRESTADA. OPÇÃO DE REMARCAÇÃO DO
VOO NÃO ACEITA PELA PARTE AUTORA. NÃO
COMPROVAÇÃO DE MAIORES REFLEXOS EM DECORRÊNCIA
DA SITUAÇÃO VIVENCIADA. SITUAÇÃO EXTREMA E
IMPREVISÍVEL. CONDENAÇÃO AFASTADA. SENTENÇA
REFORMADA. Recurso conhecido e provido.

RELATÓRIO

Relatório dispensado nos termos do Enunciado n° 92 do FONAJE.

VOTO

Da admissibilidade:

Presentes os pressupostos de admissibilidade, o recurso deve ser conhecido.

Do mérito:

A controvérsia recursal diz respeito à existência de excludente de responsabilidade


no caso concreto, em decorrência da redução da malha aérea por conta da pandemia ocasionada
pelo Covid-19, a existência de prazo de 12 meses para o reembolso, retenção das taxas
contratuais e inexistência de danos morais. Subsidiariamente, ainda, pugna a parte recorrente
pela redução do quantum indenizatório.

Pois bem.

Ao caso aplicam-se as regras do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que as


partes se enquadram nos conceitos de consumidor e fornecedor dos artigos 2° e 3°, além da Lei
n° 14.034/2020, que dispõe sobre as medidas de emergência para a aviação civil brasileira em
razão da pandemia ocasionada pelo Covid-19.

O cancelamento do voo se deu em decorrência da readequação da malha aérea por


causa da pandemia ocasionada pelo Covid-19, situação externa que, por certo, foge do controle
da ré, inclusive não fazendo parte do risco da operação. Entretanto, apesar disso, é dever da
companhia aérea prestar a assistência material devida ao passageiro.

Primeiramente, no tocante ao valor pago pela passagem do voo que foi cancelado
pela ré, em sendo optado pelo consumidor o reembolso, esse poderá ser realizado em até 12
meses, contados da data do voo cancelado, com atualização monetária pelo INPC, nada obstante
sem os descontos das taxas contratuais, uma vez que não há previsão legal nesse sentido quando
o cancelamento se dá pela Companhia Aérea (art. 3º, Lei n° 14.034/2020).

Portanto, considerando que ainda não se esgotou o prazo para o reembolso,


entendo que a parte autora não merece guarida em relação a tal pedido.

No que diz respeito ao pedido de reembolso do valor pago pela nova passagem
adquirida pela parte autora, entendo também que sem razão. Isso porque, o serviço em relação a
tal foi devidamente prestado, não sendo possível o seu reembolso, sob pena de enriquecimento
sem causa.

Assim, a condenação em danos materiais fixada na sentença deve ser afastada.

Por fim, no tocante ao dano moral alegado, entendo também pelo afastamento da
condenação. Com efeito, o cancelamento do voo se deu em decorrência da readequação da
malha aérea por conta da pandemia ocasionada pelo Covid-19, e, apesar do transtorno, a parte
ré ofereceu a remarcação da passagem para outro voo, com aproximadamente dois dias após a
data originalmente contratada, o que não foi aceito pela parte autora.

Considerando que ela efetuou a compra de outra passagem para chegar ao seu
destino no dia marcado, a assistência material em relação a translado, hospedagem e
alimentação não foi necessária.

Ainda, saliento que nenhuma falha nesse sentido foi sustentada pela parte autora.

Assim, entendo que a assistência material foi devidamente prestada pela parte ré,
não tendo sido comprovado pela parte autora que sofreu dissabores em decorrência da situação
vivenciada que extrapolem os limites do cotidiano, considerando a situação extrema e
imprevisível que o mundo vivencia desde a decretação de pandemia.

Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “a presença de dissabores,


desgostos e frustrações compõem muitas vezes a vida cotidiana e, nem por isso, são capazes de
causar danos morais sobre aqueles que os suportam” (REsp 1698758/PR, Terceira Turma, STJ,
DJe 15/02/2018).

Portanto, entendo que a parte ré possui razão em seus pedidos, motivo pelo qual o
provimento do pleito recursal é medida que se impõe.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, voto no sentido de conhecer e dar provimento ao recurso,


reformando a sentença a fim de julgar improcedentes os pedidos iniciais, nos termos da
fundamentação supra.

Custas na forma da Lei nº 18.413/2014.

Ao recorrido vencido não fixo condenação em honorários sucumbenciais, nos


termos do artigo 55 da Lei 9.099/95.

Ante o exposto, esta 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais


resolve, por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de GOL TRANSPORTES AEREOS
S.A., julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Provimento nos exatos termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Nestario Da Silva


Queiroz, com voto, e dele participaram os Juízes Bruna Richa Cavalcanti De Albuquerque
(relator) e Melissa De Azevedo Olivas.

03 de dezembro de 2021

Bruna Richa Cavalcanti de Albuquerque

Juiz (a) relator (a)

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