Você está na página 1de 12

🩸

A Solenidade do Santíssimo
Corpo e Sangue de Cristo
Jesus e o Yom Kippur Celestial
(Ano‌‌B)‌ ‌
Segunda‌‌Leitura‌‌
Autor: Dr. Brant Pitre


Primeira‌‌Leitura‌‌ Exodus 24:3-8 ‌

Refrao‌‌(Salmo)‌‌‌ Feliz‌‌o‌‌povo‌‌que‌‌o‌‌Senhor‌‌escolheu‌‌por‌‌
sua‌‌herança.‌‌

Salmo‌‌ (115) 116:12-13, 15-16, 17-18



Segunda‌‌Leitura‌‌ Hebreus 9:11-15‌

Aclamação‌‌do‌‌Evangelho‌‌ ‌ u sou o pão vivo descido do Céu:quem


E
deste pão come sempre há de viver.
(Jo 6:51)
Evangelho‌‌ Marcos 14:12-16, 22-26 ‌

A Segunda Leitura, da Festa de Corpus Christi provém da Carta aos Hebreus


9:11-15. É uma passagem muito poderosa, uma passagem muito famosa da
Epístola aos Hebreus sobre o Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo e sobre o poder
redentor do Sangue de Jesus Cristo, e é por isso que é escolhida para esta
Solenidade. Podemos encontrar muitas raízes Judaicas, na Carta aos Hebreus.

diz assim:

Irmãos: 11. Cristo veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Através
de uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas,
isto é, que não faz parte desta criação, 12. e não com o sangue de bodes
e bezerros, mas com o seu próprio sangue, ele entrou no Santuário uma
vez por todas, obtendo uma redenção eterna.

13. De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas


espalhada sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual
dos corpos, 14. quanto mais o Sangue de Cristo purificará a nossa
consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em
virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como
vítima sem mancha.

15. Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele
reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E,
assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança
eterna.1

A Carta aos Hebreus é complexa. É uma das cartas mais sofisticadas do Novo
Testamento. É o Grego e o mais difícil do Novo Testamento. E é densa.
Muitas coisas estão acontecendo aqui.

Para nossos propósitos, quero apenas refletir sobre alguns elementos que são
essenciais para entender a ideia básica sobre o que a Carta aos Hebreus está se
referindo aqui.
O primeiro ponto é que Jesus Cristo está sendo identificado como um Sumo
Sacerdote, E o que significa nomear Jesus como Sumo Sacerdote? Bem, qualquer
Judeu do primeiro século, estaria familiarizado com o fato de que no Pentateuco, a
coleção dos cinco primeiros livros de Moises do Antigo Testamento (Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio ), Arão (irmão de Moisés) foi separado
para ser o Sumo Sacerdote sobre o povo de Israel.

Ele era o principal oficiante na adoração sacrificial a Deus que era realizada no
Tabernáculo de Moisés, que era um santuário portátil que foi desenhado por Deus,
e feito para Deus, e revelado a Israel através de Moisés no Livro do Êxodo,
expressamente como o lugar e a maneira como Deus queria ser adorado na época
do Êxodo.
1
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
E Aarão é colocado à parte como o Sumo Sacerdote, o mais alto posto religioso do
antigo povo de Israel. E seus filhos da Tribo de Aarão serão, na verdade,
designados como seus sucessores nesse Sumo Sacerdócio.

Portanto, a diferença entre um Sumo Sacerdote e um Sacerdote comum no Antigo


Testamento - continua até o tempo do próprio Jesus.
Enquanto um Sacerdote Aarônico comum poderia entrar no Tabernáculo ou no
Templo no Pátio Exterior do Sacrifício e oferecer holocaustos e touros e bodes e
cordeiros... e poderia até entrar no lugar Santo e oferecer o Pão da Presença (na
mesa da proposição) e incenso e coisas assim que eram oferecidas no Tabernáculo,
só o Sumo Sacerdote podia entrar no santuário mais interno do templo, conhecido
como o Santo dos Santos, e ele só podia fazer isso uma vez por ano.

E uma vez por ano ele entrava no Santo dos Santos, e oferecia o sangue do
sacrifício no Dia da Expiação - em Hebraico, conhecido como Yom Kippur.
E este era o dia em que o sacrifício seria oferecido pelo Sumo Sacerdote, um
sacrifício especial para expiar ou reconciliar por todos os pecados cometidos por
ele mesmo, por todos os sacerdotes e por todo o povo durante o ano todo.

Assim, você poderia oferecer sacrifícios para si mesmo ou para sua família.
Se você cometesse um pecado, você ofereceria uma oferta pelo pecado. A fim de
fazer uma reparação, você ofereceria uma oferta de culpa. Ao longo do ano,
indivíduos poderiam oferecer sacrifícios. Era isso que se fazia no Templo.

Mas todos os anos, uma vez por ano, o Sumo Sacerdote entrava no Santo dos
Santos, o Santuário mais interno, e ele oferecia um sacrifício para expiar todos os
pecados de todo o povo durante o ano inteiro.
Era uma oferta anual coletiva ou universal pelo pecado.
Então, quando a Carta aos Hebreus identifica Cristo como o que:

11 a. ...veio como sumo sacerdote dos bens futuros... 2

O que está fazendo é traçar um paralelo tipológico entre o Sumo Sacerdote no


Antigo Testamento e Jesus no Novo Testamento.

Isto teria sido chocante para um leitor Judeu do I Século. Porque Jesus não é um
membro da Tribo de Aarão. Jesus não é um membro da Tribo de Levi. Jesus vem
da Tribo de Judá, como nos diz Sua genealogia. Portanto, Ele faz parte da Tribo
Real.
Então, é muito misterioso porque Jesus teria sido um Leigo (apenas em um nível
histórico, terrestre). Este é um dos mistérios de Jesus. Ele é ao mesmo tempo
Leigo e Sumo Sacerdote - como a Mãe Santíssima que é ao mesmo tempo
Virgem e Mãe. Estes diferentes mistérios os envolvem em si mesmos.

Então o que a Carta aos Hebreus está descrevendo aqui é Jesus agindo como o
verdadeiro Sumo Sacerdote - o segundo ponto:

11 b. Através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de


mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação...3

A que isso se refere? Bem, a palavra tenda ali, skéné, é a palavra que é usada para
o tabernáculo no Antigo Testamento. Portanto, o tabernáculo era apenas um
Santuário portátil. Era uma grande tenda erguida pelos Levitas.
E essa tenda que estava dividida em três partes ... você tinha o Santuário, e o Pátio
2
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
3
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Exterior do sacrifício.
Depois havia uma tenda interior, o lugar sagrado, chamado Santo, onde estava o
Pão da Proposição sobre a Mesa da Proposição, e havia um Menorá dourado, e o
Altar Dourado do Incenso (Êxodo 30: 1-10) com as orações subindo a Deus.

E depois havia o terceiro santuário mais interno que era o Santo dos Santos. E que
abrigava a famosa Arca da Aliança -
A arca era uma caixa como um baú, coberto em puro ouro (Êxodo 25:10-16) por
dentro e por fora.
A arca guardava três itens que mostravam como Deus se relacionava com o Seu
povo: as tábuas com os dez mandamentos que dava a orientação de Deus, a vara de
Arão que mostrava a autoridade de Deus e uma jarra com o maná, mostrando a
provisão de Deus para necessidades diárias do Seu povo.
A Arca da Aliança era coberta com duas estátuas douradas de querubins, que era
chamada de Assento da Misericórdia ou Propiciatório.
Era o lugar onde o Sumo Sacerdote entrava e derramava o sangue do sacrifício para
o Dia da Expiação uma vez por ano - todos os anos no outono. Era aí que isso
aconteceria.
Entre Setembro e Outubro era quando o Dia da Expiação aconteceria (e acontece
até hoje em dia) não no Templo, mas os Judeus celebram o Yom Kippur ainda hoje
como uma festa anual.

Assim, o que a Carta aos Hebreus está dizendo aqui é que Jesus é um
verdadeiro Sumo Sacerdote, e Ele não entra no lugar sagrado do templo na
Terra. Ele entra em uma:

11 a. ...tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas,


isto é, que não faz parte desta criação...4

Bem, onde fica esta tenda? Onde está a tenda que a Carta aos Hebreus está
falando? Este tabernáculo Hebraico?
Bem, a Carta aos Hebreus se refere aqui ao Tabernáculo Celestial, ao Santo dos
Santos, a morada Celestial de Deus. E ao fazer este argumento, a Carta aos
Hebreus assume um entendimento Judaico bastante comum do I século d.C. que
remonta ao Livro do Êxodo.
4
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Quando Deus, no Livro do Êxodo, dá a Moisés aquelas instruções longas que todos
param de ler .
Quando as pessoas tentam ler a Bíblia e passam por Gênesis, dizem: "Uau, é
fascinante, até mesmo um pouco ousado". Então eles chegam ao Êxodo: "Uau - a
história do Êxodo do Egito”. Mas quando chegam a Êxodo 24-25, param de ler a
Bíblia, porque as instruções detalhadas sobre como construir o Tabernáculo são
muito cansativas de se ler.
Mas é muito importante, porque Deus realmente diz a Moisés em Êxodo 25:40,
quando Ele lhes dá instruções Ele diz:

“Cuida para que se execute esse trabalho segundo o modelo que te


mostrei no monte.” Êxodo, 25:405

Moisés modela o Tabernáculo terrestre como o Tabernáculo Celeste que ele vê


quando sobe ao cume do Monte Sinai e tem uma visão do Céu.
Assim, a partir daquele tempo no Judaísmo, sempre houve este entendimento de
que o templo terrestre era como um ícone visível do Templo Celestial.
O tabernáculo terrestre era como uma sombra material do tabernáculo invisível da
morada de Deus no Céu.

É isso que a Carta aos Hebreus está dizendo aqui que Cristo não é o Sumo
Sacerdote do tabernáculo terrestre.
Ele não foi como Aarão ao Santo dos Santos uma vez por ano para oferecer o
sangue de touros, cabras e cordeiros.
Mas Ele entrou no Tabernáculo Celestial, “que não foi uma obra feita com mãos
humanas, em outras palavras não faz parte desta criação”. E Ele trouxe consigo
Seu próprio Sangue para assegurar não uma redenção anual, mas uma redenção
eterna, um sacrifício eterno...em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro.

Então você pode perceber, este é realmente um argumento poderoso. Ele diz:

“...12 b. Ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo uma
redenção eterna.

13. De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas


5
Êxodo, 25 - Bíblia Ave Maria
espalhada sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual
dos corpos...6

Esse seria o antigo sacrifício da Aliança do Dia da Expiação.

14. quanto mais o Sangue de Cristo purificará a nossa consciência das


obras mortas, para servirmos ao Deus vivo… (Hebreus 9:12b-14)7

A Carta aos Hebreus usa um argumento do menor para o maior ao dizer que se o
sangue de touros e cabras tinha o poder de expiar e limpar a carne das impurezas
externas, quanto mais o Sangue de Cristo tem o poder de purificar nossa
consciência das obras mortas (isso significa pecado) para servir ao Deus vivo? É
isso que a Carta aos Hebreus quer dizer no versículo 15 quando diz:

15. Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. 8 (Hebreus 8:15a)

No Antigo Testamento, a Aliança era um vínculo familiar sagrado entre Deus e


Israel. A Aliança estabelecia um relacionamento entre Ele e Seu povo. E esse
relacionamento se renova através de atos de amor que chamamos de sacrifício -
atos de oferenda a Deus que aconteceriam diariamente e anualmente naquele
templo terrestre.
Mas ao final, todos aqueles sacrifícios de sangue de touros e cabras - que muitas
pessoas modernas consideram repugnantes, na verdade e até mesmo algumas
pessoas daquele tempo achavam estas coisas estranhas; por exemplo, pagãos
convertidas ao Cristianismo. eles se perguntavam: Por que o Deus do Universo se
importaria se eu abatesse um touro ou um bode? Do que se trata isso?

Bem, o que a Carta aos Hebreus está revelando aqui é que o sangue material
terreno daqueles touros e bodes foi uma prefiguração ou uma sombra do Sangue
de Cristo - o sangue infinitamente valioso de Cristo, o sangue que foi derramado
por um amor infinito, a fim de expiar não apenas os pecados de todo o povo
durante um ano, mas os pecados de toda a humanidade e de toda a história

6
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
7
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
8
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
humana para toda eternidade. É isso que queremos dizer quando dizemos que
Cristo é o mediador. Ele é o mediador entre a humanidade e Deus. Ele conduz a
humanidade ao Santuário Celestial de Deus, onde derrama Seu Sangue para nossa
Salvação e para o bem de todo o mundo.

E quando acontece isso?


A maioria de nós, pensamos no sacrifício de Cristo como Ele derramando
Seu sangue no Calvário, no tempo, e na história. E isso é absolutamente
correto. O Calvário é o cumprimento do Dia de Expiação, no sentido de que
Cristo derramou Seu sangue para expiar os pecados do mundo inteiro.

Entretanto, lembre-se que a Sexta-feira Santa não é o fim do Mistério Pascal,


porque o que vai acontecer é que Cristo vai morrer, ser enterrado, e então Ele
ressuscitará com as feridas de Seu corpo crucificado, agora glorificado!

Ele ascende ao Céu. E eu não sei a seu respeito, mas durante anos eu me
perguntava: "Bem, por que Jesus subiu ao céu? Por que Ele nos deixou para
trás? Por que Ele simplesmente não ficou aqui? Nós precisamos da ajuda dEle
aqui."

A resposta está na tipologia que a Carta aos Hebreus nos está dando aqui. Jesus
cumpre o Dia da Expiação não apenas em Sua morte no Calvário, mas em Sua
Ascensão ao Tabernáculo Celestial onde Ele se oferece ao Pai no Espírito Santo,
não apenas por um dia, mas por toda a eternidade - “12b. de uma vez por
todas,”9 como diz a Carta aos Hebreus aqui e em outros lugares, como nos
capítulos 8, 9 e 10.

E é precisamente a natureza eterna da redenção e isto é importante, que nos


permite compreender como, na Festa de Corpus Christi, quando o Sacerdote diz as
palavras da consagração, "Este é o meu corpo" e "Este é o meu sangue", como é
que o Corpo e o Sangue de Cristo se tornam verdadeiramente e realmente
presentes?

Cristo morreu há dois mil anos. Como que Seu Corpo e Seu Sangue que foram
destruídos no Calvário chegam até mim hoje no altar? Bem, é porque o mesmo

9
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
corpo que foi crucificado, Cristo o levou à eternidade. Ele agora está fora do tempo
e no Tabernáculo Celestial, Ele está se oferecendo por toda a eternidade ao Pai e
agora Ele pode oferecer-se sobre cada altar, em cada santuário em todo o mundo
toda vez que o Santo Sacrifício da Santa Missa é celebrado.

É isso que queremos dizer quando dizemos que a Eucaristia é o mistério do


sacrifício de Cristo.
Na Eucaristia, Cristo se torna presente no Seu sacrifício sobre o altar. É por isso
que chamamos a Missa de sacrifício, porque o sacrifício de Jesus não terminou no
Calvário. O sacrifício de Jesus foi consumado no Calvário, mas como a Carta aos
Hebreus deixa claro, na medida em que o sacrifício envolve uma oferta.

“...14. quanto mais o Sangue de Cristo purificará a nossa consciência


das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do
espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem
mancha.” (Hebreus 9:14)10

Lembre-se aqui... no Dia da Expiação, o Sumo Sacerdote entrava no Santo dos


Santos e aspergia o sangue do sacrifício sobre o Assento da Misericórdia ou
Propiciatório sobre a Arca da Aliança sete vezes. Assim como o Sacerdote do
Antigo Testamento entra no Santo dos Santos para oferecer o sangue do sacrifício
no Dia da Expiação, assim também Cristo, o Sumo Sacerdote das coisas boas que
estão por vir, vai entrar no Santo dos Santos Celestial, para oferecer o sacrifício
perfeito - Ele mesmo,oferece ao Pai, no Espírito, para uma Eterna Redenção. E é
por isso que a Carta aos Hebreus continua assim:

15 b. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da


herança eterna.11 (Hebreus 9:15b)

Em outras palavras, assim como o povo sob o Sumo Sacerdote Aarão, na Época do
Êxodo, entrou na herança terrestre da Terra Prometida, assim também agora Cristo
nos assegura a herança eterna, não de uma Terra Prometida terrestre, mas do Reino
Celestial de Deus, da Terra Celestial Prometida.

10
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
11
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
Portanto, é uma descrição poderosa, significativa, não focalizada tanto na presença
real de Jesus na Eucaristia, que é o que tendemos a pensar quando pensamos em
Corpus Christi, mas sim na natureza eterna do sacrifício e da oferta própria de
Cristo que é prefigurada no Dia da Expiação através do sangue dos touros e bodes,
e depois realizada no Calvário e na Ascensão de Cristo ao Tabernáculo Celestial.

E para concluir, temos a palavra de São Tomás de Aquino em seu pequeno livro,
Comentário sobre Hebreus12 onde explica esta relação entre Cristo e o
Tabernáculo Celestial:

Cristo veio como Sumo Sacerdote dos bens futuros...

E então São Tomás continua com vários pontos para sustentar este argumento.
Vou expor apenas alguns deles. Ele diz:

Segundo, ele mostra a dignidade interior do tabernáculo quando diz,


“Através de uma tenda maior e mais perfeita,” [Heb 9:11] ...que não
é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação, pois
este é o tabernáculo da Glória Celestial... Terceiro, e não com o
sangue de bodes e bezerros, mas com o Seu próprio sangue, Ele
entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção.
como diz em Levítico (Lev 16:33)13: mas com Cristo não foi assim
(i.e.), não foi com o sangue de outro... “mas pelo Seu próprio sangue,”
que Ele ofereceu na cruz para nossa salvação... Quarto, quando ele
entrou, porque uma vez por ano. Mas para Cristo foi ao longo de toda
a eternidade … “Entrou no Santos dos Santos” e derramou Seu
sangue uma vez: “Cristo morreu uma vez pelos nossos pecados.”
(1Pedro 3:18)14...Além disso, Ele entrou uma vez, pelo fato de que Ele
entrou no céu, onde Ele está sempre presente.

Está em Tomás de Aquino, Comentário sobre Hebreus, parágrafo 436-440.

12
Tomás de Aquino, Comentário sobre Hebreus, parágrafo 436-440
13
Levítico, 16 - Bíblia Ave Maria
14
I São Pedro, 3 - Bíblia Ave Maria
Agora essa citação pode parecer um pouco confusa, porque eu meio que
selecionei parágrafos-chave e palavras-chave de algumas passagens. Mas posso
resumi-la para você e dizer apenas o seguinte.

Primeiro, o que Tomás está dizendo aqui é que Cristo é o Sumo Sacerdote do
Tabernáculo Celestial. Você pode ver isto porque quando Hebreus o descreve
entrando no tabernáculo maior, ele não está falando sobre o terreno. Ele está
falando de um Tabernáculo de Glória.

Em segundo lugar, também nos diz como Ele entrou, porque quando descreve o
fato de que o Sumo Sacerdote teve que trazer sangue ao Tabernáculo -em Levítico
16, o Dia da Expiação - Cristo vai entrar no Tabernáculo Celeste não com o
sangue de um animal, mas com Seu próprio Sangue que Ele ofereceu na Cruz para
nossa Salvação.

Agora você pode estar pensando: "Bem, espere, Jesus está derramando Seu sangue
no céu?" Não. Ele morre apenas uma vez, mas quando Ele ressuscita dos mortos,
lembre-se do que Ele diz aos Apóstolos quando eles pensam que Ele é um fantasma.
Em Lucas 24, Ele diz:

“Tendes aqui alguma coisa para comer?”." (Lucas 24:41 b)15

Ele lhes pede algo para comer e diz:

“Vede minhas mãos e meus pés, que sou eu mesmo; manipulai-me


e vede, pois um espírito não tem carne e ossos como vedes que eu
tenho". (Lucas 24:39)16

Em outras palavras, o corpo de Jesus é um corpo totalmente humano, mesmo


estando em um estado glorificado. Ele tem carne, sangue e ossos, e assim, Ele traz
aquele mesmo corpo que Ele ofereceu uma vez na cruz do Calvário na Sexta-feira
Santa para a eternidade, a fim de oferecê-lo de uma forma incruenta perfeito e
íntegro, glorioso para sempre no sacrifício perfeito de Si mesmo.

15
São Lucas, 24 - Bíblia Ave Maria
16
São Lucas, 24 - Bíblia Ave Maria
Finalmente, São Tomás de Aquino diz (isto é importante) que o Sumo Sacerdote só
entrava uma vez por ano no tabernáculo para prefigurar o fato de que quando Cristo
entra no céu, Ele o faz de uma vez por todas.
Portanto, Ele sempre está presente, e isso é crucial para que possamos entender o
Mistério da Eucaristia.
É muito importante lembrarmos que o Cristo ressuscitado entrou no céu
corporalmente e que Ele permanece lá em Seu corpo e estará lá, como diz São
Tomás de Aquino, sempre em Seu corpo.

E é isso que celebramos hoje na Festa de Corpus Christi - o fato de que Cristo
morreu de uma vez por todas por nossos pecados e que Ele agora oferece em nosso
nome ao Pai no Espírito por toda a eternidade, o sangue precioso que nos garante
uma redenção eterna.

Esse áudio é baseado nos estudos, do Dr Brant Pitre,17 Leigo, casado, pai de cinco
filhos, Professor das Sagradas Escrituras na Universidade de Notre-Dame, nos
Estados Unidos. Traduzido por Bárbara Borges, e Maria Teresa Papa, e o áudio é
feito por mim, Maria Teresa.

17
https://catholicproductions.com

Você também pode gostar