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HISTÓRIA DO BRASIL III

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD


História do Brasil III – Prof. Ms. Rubens Arantes Corrêa

Meu nome é Rubens Arantes Corrêa. Sou doutorando em


História pela Universidade Estadual Paulista – campus de Franca,
onde também fiz a graduação, e mestre em Ciências Sociais
(área de especialização: Sociologia Política) pela Universidade
Federal de São Carlos – UFSCar. Minha dissertação versou sobre
o pensamento e a militância política de Raul Pompéia (1863-
1895). No Centro Universitário Claretiano, sou professor nas
áreas de História, Sociologia e Antropologia, além de lecionar
algumas disciplinas na área de Educação. Sou autor do livro O
Pensamento Político de Raul Pompéia, lançado em 2008 pela
Editora Ex Libris e Raul Pompéia – Coleção Pensamento Americano, lançado em 2010
pela Editora Ícone.
e-mail: rubens.arantes@claretiano.edu.br

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Rubens Arantes Corrêa

HISTÓRIA DO BRASIL III

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

981 C84h

Corrêa, Rubens Arantes


História do Brasil III / Rubens Arantes Corrêa – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
206 p.

ISBN: 978-85-8377-057-2

1. Da proclamação da República à consolidação do regime (1889-1894): disputas


  políticas, conflitos sociais e quadro econômico. 2. A República das Oligarquias
(1894-1930): as estruturas sociais, econômicas e políticas, o contexto internacional,
movimentos sociais e culturais. 3. A revolução de 30 e a Era Vargas (1930-1945):
o governo provisório e a revolução dos paulistas, a Constituição de 34 e governo
constitucional, os extremismos dos anos 30 e o golpe do Estado Novo, a Constituição
de 37 e as estruturas política e econômica, a Segunda Guerra e o fim da ditadura
varguista. I. História do Brasil III.

CDD 981

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Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO........................................................................... 11

Unidade 1 – A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA: O ACONTECIMENTO


E O CONHECIMENTO
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 31
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 32
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 32
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 36
5 A IDEIA DE REPÚBLICA NO BRASIL.................................................................. 37
6 A CRISE DO SEGUNDO REINADO (1840-1889)................................................. 42
7 O 15 DE NOVEMBRO DE 1889........................................................................... 49
8 TEXTO COMPLEMENTAR................................................................................... 51
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 54
10 C ONSIDERAÇÕES............................................................................................... 54
11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................. 55
12 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 56

Unidade 2 – OS PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA: OS GOVERNOS


DEODORO DA FONSECA E FLORIANO PEIXOTO (1889-1894)
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 57
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 57
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 58
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 59
5 O GOVERNO PROVISÓRIO DO MARECHAL DEODORO DA FONSECA
(1889 – 1891)...................................................................................................... 61
6 A CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1891....................................................... 66
7 O GOVERNO CONSTITUCIONAL DE DEODORO DA FONSECA (1891)............ 68
8 O GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO (1891-1894).......................................... 70
9 TEXTO COMPLEMENTAR................................................................................... 75
10 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 78
11 C ONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 79
12 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................. 79
13 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 80
Unidade 3 – REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS (1894-1930): DE PRUDENTE
DE MORAES A WASHINGTON LUÍS
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 81
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 81
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 82
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 86
5 OS MECANISMOS DE SUSTENTAÇÃO POLÍTICA E AS BASES SOCIAIS
DA REPÚBLICA DAS OLIGARQUIAS ................................................................. 86
6 A BASE SOCIOECONÔMICA.............................................................................. 91
7 OS MOVIMENTOS SOCIAIS............................................................................... 98
8 CRISE E FIM DO SISTEMA OLIGÁRQUICO........................................................ 110
9 TEXTO COMPLEMENTAR................................................................................... 112
10 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 115
11 C ONSIDERAÇÕES............................................................................................... 115
12 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 116
13 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS....................................................................... 116

Unidade 4 – A ERA VARGAS (1930-1937): DA REVOLUÇÃO DE 1930 AO


GOLPE DO ESTADO NOVO
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 119
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 119
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 120
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 125
5 1930: REVOLUÇÃO OU REFORMA?.................................................................. 126
6 O GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934)............................................................ 130
7 O GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934-1937).................................................. 138
8 TEXTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 145
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 146
10 C ONSIDERAÇÕES............................................................................................... 147
11 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 147
12 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 148

Unidade 5 – A ERA VARGAS (1937-1945): A DITADURA DO ESTADO NOVO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 149
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 149
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 150
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 151
5 O ESTADO NOVO: MECANISMOS DE LEGITIMAÇÃO...................................... 152
6 A POLÍTICA TRABALHISTA DO ESTADO NOVO................................................ 161
7 AS DIRETRIZES ECONÔMICAS DO ESTADO NOVO.......................................... 165
8 A POLÍTICA EXTERNA DO ESTADO NOVO........................................................ 169
9 FIM DO ESTADO NOVO..................................................................................... 173
10 T EXTO COMPLEMENTAR................................................................................... 176
11 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 177
12 C ONSIDERAÇÕES............................................................................................... 177
13 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................. 178
14 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 179

Unidade 6 – A REPÚBLICA LIBERAL-DEMOCRÁTICA (1946-1954): O


GOVERNO DUTRA E A VOLTA DE VARGAS
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 181
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 181
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 182
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 187
5 A CONSTITUIÇÃO DE 1946................................................................................ 188
6 O GOVERNO DUTRA (1946-1950)..................................................................... 192
7 O GOVERNO VARGAS (1951-1954) .................................................................. 197
8 LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................... 203
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 204
10 C ONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 205
11 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 206
12 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 206
Claretiano - Centro Universitário
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Da Proclamação da República à consolidação do regime (1889-1894): dispu-
tas políticas, conflitos sociais e quadro econômico. A República das Oligarquias
(1894-1930): as estruturas sociais, econômicas e políticas, o contexto internacio-
nal, movimentos sociais e culturais. A Revolução de 1930 e a Era Vargas (1930-
1945): o Governo Provisório e a Revolução dos paulistas, em 1932; a Constitui-
ção de 1934 e o Governo Constitucional; os extremismos da década de 1930
e o golpe do Estado Novo; a Constituição de 1937 e as estruturas política e
econômica; a Segunda Guerra e o fim da ditadura varguista.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
O principal objetivo deste estudo é resgatar e analisar o pro-
cesso histórico brasileiro que se estende da Proclamação da Re-
pública, em 1889, até o fim da Era Vargas, em 1954. Pretendemos
situá-lo de uma perspectiva o mais ampla possível, levando em
conta uma abordagem econômica, política, social e cultural.
10 © História do Brasil III

Como você poderá observar no decorrer de nosso estudo,


esse longo período da História da República é objeto de controvér-
sias historiográficas, algo importante a ser identificado pelo futuro
professor de história. Em seu processo de formação, é fundamen-
tal que você não apenas entenda os fatos históricos, mas que tam-
bém tenha conhecimento dos embates historiográficos em torno
dos mesmos.
O campo historiográfico é plural, uma vez que não há con-
senso sobre um mesmo acontecimento histórico. De acordo com
os estudos dos Cadernos de Referência de Conteúdos Metodologia
da História I e II, bem como do Caderno de Referência de Conteúdo
Historiografia e Teoria da História, que você ainda terá oportuni-
dade de estudar, o fato histórico é único e irrepetível. Entretanto,
o conhecimento que se produz sobre ele é multifacetado, variando
conforme a visão de mundo de cada historiador, de sua formação
teórica e de seus compromissos ideológicos.
Procurando facilitar uma melhor compreensão dos con-
teúdos abordados neste Caderno de Referência de Conteúdo,
dividimos as unidades de forma bem didática. Apesar disso, é
fundamental que você aproveite as indicações bibliográficas su-
geridas ao longo de todo o material e que faça o maior número
possível de leituras. O exercício da leitura contribui não só para
que tenhamos um conhecimento mais profundo sobre um deter-
minado assunto, mas também para que ampliemos nossa com-
preensão do mundo.
Outro elemento importante que você encontrará durante
os estudos é a referência a obras literárias e filmes, sugeridos no
corpo do texto. Embora nem a literatura nem o cinema tenham o
compromisso de abordar o fato histórico como rigor historiográfi-
co – há para o escritor e para o diretor de cinema a possibilidade
da ficção e do “voo livre” em suas narrativas – tratam-se de dois
discursos muito interessantes para uma melhor compreensão da
História.
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

Nossos estudos se iniciarão pela recuperação do contexto


histórico imediato que culminou na Proclamação da República em
1889. Você verá diversos relatos de testemunhas daquele aconte-
cimento, e como a historiografia incorporou o tema ao seu reper-
tório de pesquisa. Em seguida, na Unidade 2, passaremos para a
análise da República da Espada (1889-1894), o período inicial da
República, marcado pelo domínio das forças militares, representa-
das pela figura dos presidentes-marechais Deodoro da Fonseca e
Floriano Peixoto.
A Unidade 3 traz um retrato crítico da chamada República
das Oligarquias (1894-1930), fase de domínio das elites rurais, so-
bretudo daquelas ligadas ao setor cafeeiro. Esse período se carac-
teriza pela presença do coronelismo e do clientelismo como práti-
cas políticas em todos os níveis administrativos.
Posteriormente, entraremos na Era Vargas (1930-1954), o
mais longo período da História Republicana brasileira, que será
objeto de estudo das unidades 4, 5 e 6. Getúlio Vargas simboliza
a transição do Brasil agrário-exportador para o Brasil industrial-
-urbano. Com ele, veio à tona um modelo de Estado – interventor,
dirigente, nacionalista – superado apenas muito recentemente.
Bons estudos!
Após essa introdução aos conceitos principais deste Caderno de
Referência de Conteúdo, apresentaremos, a seguir, no Tópico Orienta-
ções para estudo, algumas orientações de caráter motivacional, dicas
e estratégias de aprendizagem que poderão facilitar seu estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Prof. Ms. Rodrigo Touso Dias Lopes

Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu-


dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará

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12 © História do Brasil III

em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma


breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões
no estudo de cada unidade. No entanto, essa Abordagem Geral
visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do
qual você possa construir um referencial teórico com base sólida
– científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profis-
são, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social. Vamos começar nossa aventura pela apresentação
das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este Caderno
de Referência de Conteúdo.
Para chegar até aqui, você já trilhou um longo percurso em
nossa História, desde o “descobrimento” do Brasil, com a monta-
gem do antigo sistema colonial. Seus estudos percorreram tam-
bém o processo de independência e todo o período imperial. Ago-
ra chegou o momento de darmos continuidade ao estudo de nossa
História, refletindo sobre o Brasil republicano.
É bastante comum ouvirmos em aulas ou vermos em livros
que a Monarquia no Brasil caiu como um fruto maduro, ou seja,
que não foi necessário um grande abalo para que ela despencasse.
Porém, isso não explica o fim do período monárquico. Este será
melhor explicado a partir da observação de três fatores principais:
o abolicionismo, o republicanismo e o militarismo.
Analisemos primeiramente o abolicionismo. A partir dos úl-
timos 15 anos do século 19, a questão não era mais se haveria
abolição, mas quando isso aconteceria. Os grupos se dividiam en-
tre os que desejavam que ela ocorresse imediatamente e os que
defendiam uma transição lenta, gradual e, acima de tudo, segura e
indenizada. Entre este segundo grupo estava o Barão de Cotegipe,
que era presidente do Conselho de Ministros e líder do Senado.
Aprovou-se, então, a Lei Saraiva-Cotegipe, que conhecemos como
Lei dos Sexagenários.
A Princesa Isabel, por outro lado, ao tomar a frente do pro-
cesso abolicionista em 1888, fez o oposto de Cotegipe: promoveu
a abolição imediata, terminando oficialmente com a escravidão no
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

Brasil. Dizem que Cotegipe, ao cumprimentar a princesa pela assi-


natura da lei, teria dito: “Vossa Majestade redimiu uma raça, mas
acaba de perder o trono”.
A frase de Cotegipe foi profética apenas sobre o segundo
ponto, porque sabemos que a abolição não redimiu nenhuma
raça. Ao abolir a escravidão daquela maneira, Isabel não agrada-
va a nenhum grupo:para os escravistas, foi rápida demais; para os
abolicionistas, foi uma abolição frustrante, já que não garantia a
inserção dos ex-escravos no sistema social. Não garantia oportuni-
dades de trabalho, nem moradia. Assim pensavam Joaquim Nabu-
co, André Rebouças e Rui Barbosa.
Com a abolição, portanto, Isabel isolava a Monarquia de
grande parte de seus aliados: os monarquistas abolicionistas e es-
cravistas se convertiam, em grande parte por ressentimento, em
republicanos de última hora.
O segundo ponto que precisamos articular para pensar o iní-
cio da República é o republicanismo. O primeiro partido republicano
a existir oficialmente no Brasil foi o do Rio de Janeiro: em 1870, foi
lançado o Manifesto Republicano, escrito por Quintino Bocaiúva:
A manifestação da vontade da nação de hoje pode não ser a ma-
nifestação da vontade da nação de amanhã e daí resulta que, ante
a verdade da democracia, as Constituições não devem ser velhos
marcos da senda política das nacionalidades, assentados como a
consagração e o símbolo de princípios imutáveis. As necessidades
e os interesses de cada época têm de lhes imprimir o cunho de sua
individualidade.
Se houver, pois, sinceridade ao proclamar a soberania nacional,
cumprirá reconhecer sem reservas que tudo quanto ainda hoje
pretende revestir-se de caráter permanente e hereditário no poder
está eivado do vício da caducidade, e que o elemento monárquico
não tem coexistência possível com o elemento democrático. É as-
sim que o princípio dinástico e a vitaliciedade do Senado são duas
violações flagrantes da soberania nacional, e constituem o principal
defeito da carta de 1824.

Perceba que os ataques do manifesto carioca não se dirigem


apenas à Monarquia, mas também ao senado vitalício. As assinatu-

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14 © História do Brasil III

ras que seguem o manifesto mostram o perfil do partido: a imensa


maioria era formada por advogados, médicos, engenheiros, fun-
cionários públicos, professores e negociantes – profissionais libe-
rais com carreiras urbanas interessados numa transição pacífica da
Monarquia à República, talvez com a morte do imperador.
O Partido Republicano de São Paulo, criado três anos mais
tarde na Convenção de Itu, era representado eminentemente por
fazendeiros proprietários de terra. Como você pode perceber, em-
bora os partidos tivessem o mesmo nome, os interesses e obje-
tivos que almejavam ver realizados no regime republicano eram
bastante diversos. O historiador Boris Fausto (2008) resumiu tais
interesses assim: enquanto os republicanos cariocas associavam o
regime republicano à maior representação política dos cidadãos,
aos direitos individuais e ao fim da escravidão, o Partido Repu-
blicano Paulista (PRP) estava quase inteiramente devotado à luta
pelo regime federalista.
Ou seja, os paulistas desejavam com a República a descen-
tralização política, a autonomia provincial e uma política econômi-
ca de incentivo ao oeste paulista. Observemos que o PRP se mos-
traria mais influente que os cariocas, fazendo de seus dois únicos
deputados os primeiros presidentes civis da República nascente:
Prudente de Moraes e Campos Sales.
Por fim, resta ainda um último elemento para que possamos
montar um quadro bem contextualizado do fim da Monarquia no
Brasil: o militarismo.
Dos campos de batalha no Paraguai, em 1867, um militar
mandou a seguinte carta à sua esposa no Rio de Janeiro:
Espero que toda esta porcaria acabe o mais depressa possível... não
posso, e não devo, ser militar com a numerosa família que tenho,
e pelos nenhuns recursos que dá esta desgraçada classe em nosso
país (BUENO, 2003, p. 239).

A carta era de Benjamin Constant, um militar que evitava


usar farda, detestava guerras e gostava mesmo era de dar aulas
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

de Matemática. Contudo, isso não o impediu de ser um dos arti-


culadores do golpe militar que deu fim à Monarquia. Antes disso,
porém, toda a revolta sobre a tal “desgraçada classe” militar, como
escreveu Constant, foi ainda mais inflamada com a chamada Ques-
tão Militar.
Uma das proibições aos militares era a de se expressarem
publicamente sobre assuntos políticos. E foi exatamente o que o
Coronel Antonio de Sena Madureira fez ao defender publicamente
o fim da escravidão em um jornal republicano chamado A Federa-
ção.
Do outro lado do país, no Piauí, o militar liberal Coronel
Cunha Matos apurava irregularidades contra um comandante cor-
rupto e passou a sofrer ataques públicos dos conservadores na
Câmara. Acusavam-no de covardia na Guerra do Paraguai. Cunha
Matos também usou os jornais para se defender e acabou preso
por dois dias, aumentando ainda mais a tensão entre os militares
liberais e os conservadores civis.
O Marechal Deodoro da Fonseca interviu a favor de Sena
Madureira e Cunha Matos, mas a ala conservadora puniu a todos,
inclusive a Deodoro. Foi preciso a intervenção do imperador, que
perdoou aos três e aparentemente encerrou a questão. Mas, de
qualquer modo, era a primeira vez que os militares se uniam como
classe. Com isso, inspiravam a chamada mocidade militar, aquela
que tinha aulas de matemática no Rio de Janeiro com o positivista
Benjamin Constant, no centro da fermentação golpista, a Escola
Militar da Praia Vermelha.
Na recepção aos oficiais chilenos que visitavam o Brasil, con-
vidados de honra do famoso Baile da Ilha Fiscal em homenagem às
bodas de prata de Isabel, os alunos dessa escola militar gritavam
“Viva a República...do Chile!” Isso era um anuncio do que estava
por vir.
A Questão Militar não melhorou as condições dos militares.
Porém, a partir desse episódio passaram a ter consciência de seus

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16 © História do Brasil III

problemas e de sua força como classe, tanto que, em 1887, funda-


ram no Rio de Janeiro o Clube Militar, com a participação funda-
mental do Marechal Deodoro e de Benjamin Constant.
O Clube Militar era formado pela mocidade de militares com
algum estudo. Inspirados pelos ideais positivistas transmitidos por
Constant e tendo a figura de Deodoro como símbolo, conspiravam
por uma república governada por militares. No entanto, o próprio
Deodoro relutava em tomar parte dos planos.
Assim amanheceu o dia 15 de novembro de 1889. Os mili-
tares ocupavam o Campo de Santana, onde hoje é a Praça da Re-
pública, no Rio de Janeiro. Alguns sabiam do plano, outros apenas
estavam lá, quando Deodoro, mesmo doente, apareceu. No entan-
to, não cumpriu completamente a sua parte: declarou derrubado
o gabinete comandado pelo ministro Ouro Preto, mas não disse
nada sobre a República.
Foi apenas à noite, em sua casa, na presença de Constant e
de dois membros do Partido Republicano – Quintino Bocaiúva e
Aristides Lobo – que Deodoro finalmente declarou que a República
estava instaurada.
No entanto, proclamada a República, todos os interesses di-
versos que se alinharam ao redor da queda da Monarquia passa-
ram a se desencontrar. Ou melhor, passaram a revelar que tinham
de fato muito pouco em comum a não ser a ideia de que a Repú-
blica seria a solução para seus problemas. Sobre essa desordem, o
historiador Renato Lessa (apud BUENO, p. 242) escreveu:
Nem mesmo aqueles que acreditam ter a história algum sentido
podem honestamente supor que havia ordem subjacente e invisí-
vel a regular o caos da primeira década republicana no Brasil.

Proclamada pelos militares, a República teve oficiais cum-


prindo os dois primeiros mandatos na presidência: o Marechal
Deodoro, seguido por Floriano Peixoto, o “Marechal de Ferro”.
Foi sob o comando de Floriano que as duas primeiras rebe-
liões republicanas tiveram fim: a Revolta da Armada e a Revolução
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

Federalista do Rio Grande do Sul. Ao final desta última, Floriano


mandou colocar o próprio nome na cidade insurrecta, como em-
blema da vitória. Assim, a antiga Nossa Senhora do Desterro pas-
sou a ser conhecida como Florianópolis.
Enquanto no Rio de Janeiro o primeiro governo civil se con-
solidava no poder, no sertão da Bahia um povoado crescia ao redor
da figura emblemática de Antônio Conselheiro. Este povoado, co-
nhecido como Arraial de Belo Monte, mais tarde recebeu o nome
de Canudos.
Um aglomerado de casebres pobres como tantos outros? Ha-
via algumas diferenças: o arraial já era umas das maiores cidades
no interior da Bahia, estabelecera um eficiente comércio, inclusive
com o exterior, a posse da terra era comunal. Portanto, representa-
va uma alternativa para os miseráveis da região. Mas não era apenas
isso: em meio à República que nascia, Antonio Conselheiro era mo-
narquista, um monarquista que assombrava o governo da província.
O estopim para a primeira tentativa de invasão do Exército
a Canudos foi uma banalidade, levada às últimas consequências:
um carregamento de madeira que viria de Juazeiro, já pago, não foi
entregue. Conselheiro quis mandar seus homens atrás do comer-
ciante para pegar a madeira. O juiz de Juazeiro, que já não tinha
um bom relacionamento com o povo do Arraial, pediu ajuda ao
governador contra o que considerava um saque à cidade e, sem
esperar que o saque ocorresse, resolveram invadir o arraial.
Nem tudo saiu como o planejado. Houve diversas batalhas.
Cada derrota militar ocorrida nesse fim de mundo ganhava reper-
cussão nacional e ares de desafio monarquista à Republica, o que
sempre justificava outro ataque ainda maior. Foi o que aconteceu
por quatro vezes: a última expedição contava com mais de 4 mil
homens divididos em duas colunas de ataque, com 700 toneladas
de munição, metralhadoras, fuzis, canhões de guerra e um imenso
canhão chamado de “matadeira”, tão pesado que eram necessá-
rias 20 juntas de boi para arrastá-lo pelo sertão.

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18 © História do Brasil III

Se na última expedição não estivesse presente um correspon-


dente de guerra do jornal O Estado de São Paulo, Euclides da Cunha,
talvez nós nunca soubéssemos do massacre. Ele transformou esse
episódio em objeto de seu épico “livro vingador’, Os Sertões. Como
ele mesmo escreveu, “Canudos, a Tróia de taipa dos jagunços”.
O presidente da República na época desses acontecimentos
era Prudente de Moraes. O período marcou o retorno dos latifun-
diários ao poder central. Eles, que haviam sido o grande suporte
do poder imperial, estavam afastados das altas esferas durante os
governos militares. Representando especialmente os interesses
dos cafeeiros paulistas, Prudente de Moraes negociou um acordo
com bancos Ingleses, que mais tarde seria arrematado pelo fun-
ding loan, acordo acertado entre Campos Sales e estes mesmos
banqueiros ingleses.
O funding loan foi um empréstimo adicional para o paga-
mento dos juros do empréstimo anterior. Resolvia um problema
imediato dos cafeicultores, mas colocava a economia nacional em
estado de alerta: apesar da suspensão temporária do pagamento
principal da dívida, o montante total crescia e as linhas de crédito
ficavam mais escassas.
Diversos impostos sobre produtos acabaram sendo criados
para aumentar a receita do governo, incluindo um selo que deve-
ria ser colocado nos alimentos para comprovar o pagamento do
imposto. Este fato originou uma anedota: chama-se o presidente
de “campos selos”. Até hoje, Sales é um dos mais impopulares pre-
sidentes de nossa História.
No cenário político, Campos Sales “costurou” um acordo que fi-
cou conhecido como política dos governadores. Ignorando os partidos
políticos e assembleias, apoiou diretamente os governos estaduais
fiéis. Estes, em contrapartida, ofereciam bases eleitorais regionais ao
governo central – inclua-se entre os "benefícios" a fraude eleitoral
para a perpetuação dos feudos estaduais. O resultado da aplicação
desse esquema de governo foi a política do café-com-leite, ou seja,
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

a alternância no poder entre os Estados de Minas Gerais e São Paulo,


que duraria até o final da década de 1920.
A estabilização da República como sistema de governo ainda
teria vários percalços, e também criaria seus símbolos. Um des-
ses símbolos, talvez o mais emblemático deles, foram as reformas
pelas quais o Rio de Janeiro, capital do país na época, passou nos
primeiros anos do século 20. Isso ocorreu sob a presidência de Ro-
drigues Alves, eleito com o apoio de São Paulo e Minas, e com
a participação do então prefeito do Rio, Francisco Pereira Passos,
com suas “Picaretas do Progresso”.
A reforma urbana do Rio de Janeiro foi feita em tempo re-
corde: durante cerca de um ano, mais de 600 imóveis foram de-
molidos e deram lugar a um bulevar de inspiração francesa, com
33 metros de largura e dois quilômetros de extensão, espaço de-
dicado a quem quisesse flanar ao redor das novas butiques e cafe-
terias. Além disso, foi construída a Avenida Beira-mar, que eviden-
ciava aos moradores a beleza de sua cidade.
No entanto, o valor dos imóveis disparou com essas refor-
mas. Some-se a isso a pressão habitacional dos antigos morado-
res dos cortiços que foram demolidos no centro, e nós veríamos
a marcha para os morros como a única saída para os cariocas que
não podiam passear pelas novas avenidas.
E as reformas não pararam por aí: o plano de modernização
do Rio contava também com um aspecto sanitarista, que visava
principalmente ao combate da febre-amarela, da peste bubônica
e da varíola – contra a qual, por fim, foi instituída a vacinação obri-
gatória. Essa ideia foi proposta pelo médico Oswaldo Cruz. Contu-
do, o modo como ocorreu a vacinação e o medo que a população
nutria por aquelas “injeções envenenadas” ocasionaram o levante
popular de novembro de 1904, a Revolta da Vacina.
Por trás do levante popular estava novamente a Escola Mi-
litar da Praia Vermelha, a mesma que esteve envolvida na Procla-
mação da República. Os militares viam desordem política nos atos

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20 © História do Brasil III

dos três presidentes civis sucessivos e, é claro, o deslocamento


gradual do centro de interesses político-econômicos do país para o
eixo São Paulo-Minas. No meio do levante, no entanto, a escola foi
bombardeada e fechada. Poucos anos depois, foi demolida e em
seu lugar construíram o Pavilhão da Exposição Nacional de 1908. O
local que havia sido o berço do positivismo republicano e ditatorial
serviu como emblema para o modernismo civil oligárquico.
Assim, as agitações militares – fenômeno que seria conhe-
cido como tenentismo – e as forças oligárquicas no governo da
República seriam antagônicas até 1930, com a chegada de Vargas
ao poder. Antes dessa data, ocorreram diversos levantes militares,
entre 1922 e 1925, entre os quais se destacaram o Levante dos 18
do Forte de Copacabana e a Coluna Prestes.
O Levante dos 18 do forte de Copacabana deveria contar
com todas as guarnições militares do Rio contra a posse de Ar-
thur Bernardes, a quem os militares se opunham, por considerá-lo
achincalhador e fraudador das eleições. Um tiro na madrugada de
5 de julho de 1922 foi a senha para o início do levante, que, no
entanto, não foi seguido por nenhum outro quartel.
Isolados na manhã seguinte e cercados por 4 mil soldados,
273 dos 301 homens do Copacabana desertaram. Restaram 28,
que rasgaram uma bandeira em 28 pedaços e saíram à rua em di-
reção ao palácio do governo, num ímpeto suicida. A certa altura,
outros 10 desertaram, restando 18 militares e um civil, que se jun-
tou à marcha suicida. Era Otávio Correia, um engenheiro gaúcho,
que marchou de terno, chapéu e espingarda ao lado dos militares
que se recusaram a desertar, e morreu com eles durante o dia, a
tiros, em plena Avenida Atlântica.
Ironicamente, os dois únicos sobreviventes da marcha foram
seus líderes, Siqueira Campos e Eduardo Gomes, que iriam aderir,
cada um a seu tempo, aos novos levantes tenentistas de 1923 e
1924, no Sul e em São Paulo. O movimento tenentista ganhava, en-
tão, um ar heroico e patriótico que inspiraria outros movimentos.
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

Contra os desmandos eleitorais dos governos locais; contra


o presidente Arthur Bernardes e inspirados no levante carioca,
ocorreram em 1923 no Rio Grande do Sul e em 1924 em São
Paulo duas revoluções tenentistas que acabariam unidas, em sua
estratégia de retirada e resistência, em uma marcha que rece-
beria o nome de Coluna Prestes, o movimento mais longo entre
as revoltas tenentistas e o exemplo mais contundente de que os
ideais podem se afastar dos resultados mais do que os líderes
podem imaginar.
Tendo marchado durante mais de dois anos com mais ou
menos 1.500 pessoas por quase todos os Estados brasileiros, além
de Paraguai e Bolívia, enfrentando a resistência do Exército nacio-
nal, a Coluna Prestes não convenceu a população do campo de que
ela poderia fazer a revolução contra as elites que os oprimiam. Ao
contrário, provou que o medo dos homens simples diante da pala-
vra revolução era imenso.
A despeito do tenentismo, a política oligárquica do acordo
São Paulo-Minas seria desfeita apenas em 1930. O fato que pre-
cipitou a derrocada do acordo foi um desarranjo interno: a resis-
tência de São Paulo em permanecer no poder, “pulando a vez” de
Minas e seu candidato Antonio Carlos Ribeiro de Andrada em favor
do paulista Júlio Prestes – candidato apoiado pelo presidente, o
também paulista Washington Luís.
A dissidência organizada por Minas propunha o sulista Getú-
lio Vargas como presidente, e João Pessoa, da Paraíba, como vice.
Na verdade, ainda que de fato Vargas se tornasse o próximo presi-
dente, nem tudo sairia como planejado pelos mineiros.
Nos bastidores do jogo político, falava-se cada vez mais em
golpe e revolução, principalmente no Rio Grande do Sul, um Esta-
do acostumado a agitações desde o início da República. Dessa vez,
os articuladores foram a geração de 1907, composta pelos políti-
cos formados em direito com Vargas naquele ano, em colaboração
com os tenentes sobreviventes dos levantes da década.

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22 © História do Brasil III

Oficialmente, Julio Prestes ganhou as eleições. No entanto,


sabemos que, com as comissões verificadoras e as fraudes, isso
não significa que ele tenha tido mais votos que Vargas, ainda que
contasse com o apoio da maioria dos Estados. Antes do anúncio
oficial do resultado das eleições, o vice de Vargas, João Pessoa,
seria assassinado.
Sua morte acirrou os nervos, e ainda que ela não tenha ocor-
rido por razões estritamente políticas, já que o assassino fora um
amante desmascarado, isso não impediu que os revoltosos culpas-
sem o governo central pela morte de João Pessoa, que se tornara
mártir imediatamente.
A Revolução começou no dia 3 de outubro de 1930. Dois
dias depois, apenas São Paulo, Bahia e Pará não haviam aderido
à causa. A adesão do Rio de Janeiro era a grande dúvida, mas, no
dia 24 do mesmo mês, a solução parecia se desenhar. Uma junta
de militares depôs Washington Luís e chegou a se insinuar no po-
der. Foi a vez de Vargas marcar posição e avisar aos militares que
ele mesmo chefiaria o governo provisório. Ainda assim, a posse
de Vargas marcava o retorno dos militares à esfera de poder: a
anistia aos envolvidos nos movimentos de 22 e 24 demonstram
isso.
Vargas ocuparia o poder como presidente provisório até 1934;
depois, como presidente constitucional, até 1937; e, como ditador
no chamado Estado Novo, até 1945. Deposto, retornaria em 1951
após vencer eleições diretas, e ficaria no poder até 1954, quando,
segundo ele mesmo, saiu da vida “para entrar na História”.
Como você pôde ver, a História do Brasil do século 20 é a
história do amadurecimento do sistema republicano e do enraiza-
mento de tradições díspares nesse sistema: modernização exclu-
dente e arbitrária; pactos oligárquicos com eleições fraudulentas;
ditaduras em nome da liberdade; revoluções em nome da segu-
rança nacional.
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

Portanto, estudar a nossa História não é o mesmo que fazer


a genealogia das grandes tradições e dos grandes nomes que a
marcaram. Trata-se, na verdade, de uma conscientização sobre a
origem longínqua das questões mais atuais da nossa sociedade.

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no Caderno de Referência de
Conteúdo História do Brasil III. Veja, a seguir, a definição dos prin-
cipais conceitos:
1) Positivismo: corrente filosófica de grande repercussão
na Europa e no Brasil, não só ao longo do século 19, mas
também em parte do 20. O pensamento positivista foi
sistematizado pelo francês Auguste Comte (1789-1857).
Comte acreditava que a fonte principal de organização
da sociedade está na fórmula “amor, ordem e progres-
so”, ou seja, “o amor procura a ordem e a impele para o
progresso; a ordem cosolida o amor e dirige o progresso;
o progresso desenvolve a ordem e reconduz ao amor”
(RIBEIRO JR., 1984, p. 31).
2) Jacobinismo: termo surgido no contexto da Revolução
Francesa (1789-1799), relativo aos revolucionários de
origem pequeno-burguesa que defendiam medidas re-
publicanas mais radicais. Os jacobinos propunham pro-
fundas transformações nas estruturas econômica, políti-
ca e social. Posteriormente, o termo foi empregado em
outros momentos da História. Entre eles, na conjuntura
da transição da Monarquia para a República no Brasil.
Para o “jacobinismo” brasileiro, “não bastava que o re-
gime fosse republicano e federativo. Deveria ser presi-
dencialista sobretudo, já que esta era a fórmula mais
diretamente oposta ao parlamentarismo da Monarquia”
(QUEIROZ, 1986, p. 90).
3) Oligarquia: termo de origem grega e que significa “go-
verno de poucos”. Foram os próprios gregos que apli-

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24 © História do Brasil III

caram o termo oligarquia para classificar governos que


buscam apenas satisfazer interesses de grupos privile-
giados. Por isso, consideravam a oligarquia uma forma
de governo degenerada. No Brasil, a prática política
oligárquica esteve marcadamente presente durante
os primórdios do regime republicano, especificamen-
te entre a eleição de Prudente de Morais, em 1894, e
o fim do mandato de Washington Luís, em 1930. Esse
longo período ficou conhecido como República das Oli-
garquias, pois os governos estavam a serviço dos inte-
resses dos grandes proprietários de terra, em especial
dos cafeicultores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro.
4) Populismo: Tradicionalmente, consiste na prática po-
lítica baseada na aproximação com os interesses do
povo, a fim de obter aprovação e popularidade. Desde
a década de 1990, no entanto, o conceito tradicional de
populismo tem sido objeto de revisão, tanto por parte
da historiografia brasileira como da latino-americana.
Os historiadores Alberto Aggio, Ângela Castro Gomes
e Jorge Ferreira trabalham com a perspectiva de que o
populismo não existiu de fato. Segundo essa concepção,
o conceito abarca personagens e contextos históricos
que possuem entre si mais diferenças que semelhanças.
Nesse sentido, exceto o claro apelo popular, Vargas e o
argentino Perón, ditos populistas, pouco teriam em co-
mum. Nessa visão, o populismo seria um conceito que
traz mais problemas do que soluções.
5) Autoritarismo político: no âmbito da Ciência Política, au-
toritarismo significa o exercício do poder em que a razão
do Estado está acima dos interesses dos cidadãos. Por
isso, pode ser classificado também como uma forma de
despotismo, em que um indivíduo ou um grupo assume
uma autoridade que não lhe foi confiada pelos cidadãos,
impondo-se como autoridade legítima. No Brasil, pode-
mos citar pelo menos dois momentos históricos onde o
Estado agiu de forma autoritária: no Estado Novo (1937-
1945) e na Ditadura Militar (1964-1985).
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-
quema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteú-
do. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de
conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício
é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignifican-
do as informações a partir de suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-

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26 © História do Brasil III

siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais


de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é
você o principal agente da construção do próprio conhecimento,
por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações inter-
nas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo
tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co-
nhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, esta-
belecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer
com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap-
tado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/
mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11
mar. 2010).
Como você poderá observar, esse Esquema dará a você,
como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos
mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar
entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o
seu processo de ensino-aprendizagem.
© Caderno de Referência de Conteúdo 27


República

Positivistas  Jacobinistas


Conflitos e Militares Consolidação
cisões internas  do regime


Economia Oligarquias  Coronelismo
rural

Novos grupos Transição para a
Era Vargas  economia
no poder
 urbano-industrial



Trabalhismo
+ 
Populismo
+ 
Intervencionismo
+ 
Autoritarismo

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo História do
Brasil III

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente
virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles
relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen-
cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se
da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento.

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28 © História do Brasil III

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como re-
lacioná-las com a prática do ensino de História, pode ser uma forma
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de
questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir
uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você ainda encontrará, no final de cada unidade, um gabari-
to que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas (as de múltipla escolha e as abertas objetivas).

As questões dissertativas obtêm por resposta uma interpretação


pessoal sobre o tema tratado. Por isso, não há nada relacionado a
elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o
seu tutor ou com seus colegas de turma.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte in-
tegrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilus-
trativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados
no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os
conteúdos do Caderno de Referência de Conteúdo, pois relacionar
aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma
boa formação intelectual.
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
lo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se
conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido perce-
bido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele
à maturidade.
Você, como aluno do curso de Graduação na modalidade
EaD e futuro profissional da educação, necessita de uma forma-
ção conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com
a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da
interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o
seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

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30 © História do Brasil III

Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a


este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.


EAD
A Proclamação da
República:
O Acontecimento
e o Conhecimento
1
1. OBJETIVOS
• Retomar e apresentar as origens da ideia de República no
Brasil desde o final do período colonial até as circunstân-
cias que culminaram com a Proclamação da República, no
dia 15 de novembro de 1889.
• Situar, historicamente, a proclamação da República a
partir do fim da Guerra do Paraguai e do lançamento do
Manifesto Republicano de 1870, marco da propaganda
republicana.
• Mapear as interpretações das diversas correntes historio-
gráficas que procuraram analisar os significados da Pro-
clamação da República.
• Resgatar os depoimentos e testemunhos da Proclamação
da República, procurando relacioná-los às diversas cor-
rentes republicanas.
32 © História do Brasil III

2. CONTEÚDOS
• A ideia de República no Brasil: do período colonial à pro-
paganda da 2a metade do século 19.
• O Brasil da 2a metade do século 19: do fim da Guerra do
Paraguai à decadência das instituições monárquicas.
• A Proclamação da República: testemunhos e interpretações.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos explicita-
dos no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Concei-
tos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC.
Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho.
2) Procure ter sempre por perto um dicionário de Língua
Portuguesa, para que você possa ter uma compreensão
o mais completa possível acerca de palavras e termos
desconhecidos. Não podemos passar por cima de pa-
lavras cujos significados ignoramos e não buscar meios
para decifrá-las. Lembre-se de que a leitura e sua com-
preensão passam pelo domínio das palavras.
3) Dicionários e enciclopédias de História também são im-
portantes ferramentas de estudo. Facilitam, por exem-
plo, a contextualização de personagens na História e a
identificação mais precisa de fatos históricos, além de
permitirem o aprofundamento de questões conceituais.
Uma boa sugestão de material complementar para seus
estudos é o Dicionário de História do Brasil escrito por
Moacyr Flores e publicado pela Editora da PUC/RS.
4) Entre os diversos conceitos trabalhados nesta unidade,
destacamos o Positivismo como conceito-chave para en-
tendermos as características das propostas dos republi-
canos para o Brasil. Procure cotejar o conceito original
divulgado na França pela chamada Filosofia Positivista e
os rumos tomados por essa corrente filosófica no Brasil.
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 33

5) Leia com atenção o texto complementar desta unidade. Nele,


a historiadora Maria de Lourdes Mônaco Janotti contesta a vi-
são segundo a qual a Proclamação da República em 1889 não
encontrou oposição. A autora procura demonstrar que tal in-
terpretação minimiza os conflitos que envolveram a consoli-
dação do novo regime, protagonizados pelos monarquistas.
6) Como preparação para esta unidade, vamos conhecer os
personagens históricos que estarão presentes em nos-
sos estudos.

Manuel Deodoro da Fonseca

Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892) lutou na Guerra


do Paraguai (1864-1870) e, após a proclamação da Repú-
blica em 1889, tornou-se o primeiro presidente do Brasil,
governando entre 1889 e 1891 (imagem disponível em:
<http://www.coolegiosaofrancisco.com.br/alfa/republica-
-velha/imagens/republica5>. Acesso em: 18 jun. 2009).

Saldanha Marinho

(Imagem disponível em: <http://www.maconariauniversal.


com.br/carlos-gomes.gif>. Acesso em: 17 jun. 2009).

Quintino Bocaiúva

Quintino Bocaiúva (1836-1912): jornalista e político que


teve efetiva participação no movimento que culminou com
a Proclamação da República, em 1889 (imagem dispo-
nível em: <http://www.utaquintino.seed.pr.gov.br/redees-
cola/escolas/13/2820/24/arquivos/Image/quintino.jpg>.
Acesso em: 17 jun. 2009).

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34 © História do Brasil III

Lopes Trovão

(Imagem disponível em: <http://www.colegiosaofrancisco.


com.br/alfa/jose-do-patrocinio/imagens/foto-de-jose-do-
-patrocineo.gif>. Acesso em: 17 jun. 2009).

Aristides Lobo

(Imagem disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wi-


kipedia/commons/a/a8/Aristides_Lobo.jpg>. Acesso em:
17 jun. 2009).

Campos Salles

(Imagem disponível em: <http://www.geocities.com/ato-


leiros/images/Brasil_Campos_Sales.jpg>. Acesso em: 18
jun. 2009).

Francisco Glicério

(Imagem disponível em: <http://prumo.gob.org.br/mu-


seu/16_francisco_glicerio.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2009).
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 35

Antônio da Silva Jardim

Antônio da Silva Jardim (1860-1891): propagandista abo-


licionista e republicano (imagem disponível em: <http://
upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1f/Sil-
va_Jardim.png/180px>. Acesso em: 18 mar. 2009).

Rui Barbosa

(Imagem disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.


br/paracriancas/img/rui/ruibarbosa_foto1.jpg>. Acesso
em: 18 jun. 2009).

Joaquim Nabuco

(Imagem disponível em: <http://www.america.org.br/tem-


plates/images/jpg/Joaquim_Nabuco.jpg>. Acesso em: 18
jun. 2009).

Alberto Salles

(Imagem disponível em: <http://2.bp.blogspot.


com/_6XvZ4HOj2j8/R73MhFWWw-I/AAAAAAAABQw/
aHdmm_4Iotc/s400/Z.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2009).

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36 © História do Brasil III

Benjamim Constant

(Imagem disponível em: <www.exercito.gov.br/Galeria/


imagem/1889.jpg>. Acesso em: 18 jun. 2009).

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Vamos para mais uma etapa de estudos sobre a História do
Brasil. Para iniciar, trataremos das origens do pensamento republi-
cano no Brasil, desde os tempos coloniais até o processo histórico
que culminou com o dia 15 de novembro de 1889, quando um
golpe, encabeçado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, colocou
fim à experiência monárquica iniciada logo após a independência
política em 1822. Como vimos no Caderno de Referência de Con-
teúdo História do Brasil II, dos sessenta e sete anos de existência
do regime monárquico, o reinado de Pedro II foi o mais longo, atin-
gido, praticamente, cinquenta anos, período no qual o Brasil viveu
grandes transformações no campo econômico e social.
Sob esse reinado, o café tornou-se o produto-chave da
economia brasileira, ligando-a aos mercados internacionais, que
passaram a consumi-lo em grande quantidade. Acompanhando
o ritmo de crescimento da demanda por café no exterior, houve
o aumento dos negócios internos ligados ao "ouro verde": novas
fronteiras agrícolas foram abertas, alargando o território produti-
vo que se iniciou no Vale do Paraíba e atingiu seu auge no Oeste de
São Paulo; a necessidade por mão de obra facilitou a entrada em
número cada vez maior de trabalhadores livres vindos da Europa;
a riqueza gerada possibilitou a modernização do sistema de trans-
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 37

portes com o surgimento de ferrovias, bem como da vida urbana


com o aparecimento de casas bancárias, escritórios de importa-
ção-exportação, bondes elétricos etc.
Por isso, no decorrer da segunda metade do século 19, ob-
servamos o surgimento de um descompasso entre as novas neces-
sidades advindas com a modernização da estrutura econômica e
as velhas e carcomidas instituições políticas do Império de Pedro
II. Assim, surgem novos grupos ávidos por poder político, como os
cafeicultores de São Paulo e o Exército, vitorioso no maior confli-
to militar regional – a Guerra do Paraguai (1864-1870). As classes
médias urbanas, ainda que incipientes, também colocaram novas
questões para o debate da sociedade, como o abolicionismo, a Re-
pública, as ideias positivistas, a urgência em alinhar o Brasil a pata-
mares civilizatórios mais elevados, entre outros.
Em decorrência de todo esse processo e diante de conflitos
políticos pontuais cada vez mais intensos e frequentes envolven-
do as forças militares e as classes políticas no poder, sobretudo
na conjuntura dos anos de 1880, a queda da Monarquia tornou-
-se inevitável. Fruto de suas próprias contradições internas e da
ação oportunista de oficiais do Exército, em conjunto com repre-
sentantes da elite do café, o reinado de Pedro II, legítimo herdeiro
da Casa de Orleans e Bragança, chegou ao fim na noite de 15 de
novembro de 1889. Dois dias depois, o próprio imperador destro-
nado, acompanhado por membros da família real, embarcou para
a Europa, uma vez que foi banido do país pelos dirigentes do novo
regime. Caía, então, a Monarquia, após sessenta e sete anos, sem
que houvesse reações mais incisivas.

5. A IDEIA DE REPÚBLICA NO BRASIL


Podemos encontrar, já no período colonial, manifestações
em favor do regime republicano no Brasil, embora, em algumas
delas, a documentação ou as fontes encontradas não revelassem

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38 © História do Brasil III

condições indiscutíveis de seus membros pela adoção da Repúbli-


ca. São os casos da Guerra dos Mascates de 1710, deflagrada na
capitania de Pernambuco, da Inconfidência Mineira de 1789 e da
Conjuração Baiana de 1798. De acordo com o historiador Reynal-
do Carneiro Pessoa, os documentos são ainda insuficientes para
caracterizarmos, de forma definitiva, as propostas republicanas
desses movimentos e, apesar disso, podemos sim considerá-los
predecessores do movimento republicano no Brasil.
Repare que todos os movimentos citados estão localizados
ainda no período colonial e são, portanto, anteriores à nossa inde-
pendência e à opção pela Monarquia que se fez nesta.
No século 19, entretanto, a ideia de República ganhou mais
alento e força, tornando-se um ideal a ser perseguido, estando
presente em diversas ocasiões marcadas por revoltas, sublevações
ou simples manifestações políticas. Dessa forma, o marco efetiva-
mente contundente dos movimentos republicanos no Brasil foi a
Revolução Pernambucana de 1817, uma revolta inspirada no ideá-
rio iluminista dos revolucionários franceses e de caráter anticolo-
nialista. Sete anos depois, houve uma nova revolta em Pernambu-
co: a Confederação do Equador de 1824, movimento fortemente
antilusitano.
Na conjuntura do período regencial – fase iniciada com a
abdicação de D. Pedro I e que durou até 1840, com a chamada
"maioridade" de D. Pedro II –, novamente eclodiram revoltas de
inspiração republicana. No sul do país, por exemplo, estourou
a Guerra dos Farrapos, iniciada em 1835 e terminada em 1845,
constituindo-se a mais longa guerra civil transcorrida no Brasil.
Os revoltosos gaúchos chegaram a proclamar a República Piratini
em 1836, aprovando, posteriormente, a Constituição da República
Rio-grandense. Ainda nesse contexto, foi deflagrado, na Bahia, o
movimento republicano e separatista conhecido como Sabinada,
em 1837, com grande participação da maçonaria.
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 39

No entanto, o movimento republicano ganhou corpo, efeti-


vamente, apenas após a Guerra do Paraguai (1864-1870). O tér-
mino do conflito sul-americano marcou o início de uma série de
transformações políticas e sociais, marcada pela entrada do Exér-
cito na política e da melhor organização dos movimentos aboli-
cionista e republicano. Em 1870, surgiu, nas páginas do jornal A
República, o Manifesto Republicano, que se tornaria a referência
histórica dessa nova etapa do movimento republicano no Brasil.
O Manifesto Republicano, assinado por representantes da
elite econômica e intelectual, entre eles alguns que se tornariam
republicanos históricos como Saldanha Marinho, Rangel Pestana,
Quintino Bocaiúva, Lopes Trovão, Aristides Lobo e outros, foi uma
exposição de críticas ao regime monárquico e uma defesa ao fede-
ralismo republicano:
Fortalecidos, pois, pelo nosso direito e pela nossa consciência,
apresentamo-nos perante os nossos concidadãos, arvorando reso-
lutamente a bandeira do partido republicano federativo. [...] Somos
da América e queremos ser americanos. [...] A nossa forma de go-
verno é, em sua essência e em sua prática, antinômica e hostil ao
direito e aos interesses americanos (PESSOA, 1973, p. 60).

Como você pode perceber, o efeito do Manifesto Republi-


cano foi o de promover a propagação dos ideais republicanos por
todo o país. Na sua esteira, foram fundados clubes, jornais e par-
tidos republicanos em diversas localidades do Brasil. Um exemplo
disso foi a fundação do Partido Republicano Paulista, fato ocor-
rido por ocasião de uma convenção sediada na cidade de Itu em
1873. Os republicanos paulistas eram, em grande parte, membros
da elite do café, ávida em tomar para si os destinos políticos do
país. Muitos de seus fundadores tomaram parte nos quadros go-
vernamentais das primeiras décadas da República, tais como Cam-
pos Salles, Francisco Glicério, Bernardino de Campos, Américo de
Campos, Cerqueira César, entre outros.
Ocorrências de manifestações nessa mesma direção entram
pela década de oitenta do século 19, fazendo crer que o movimen-
to republicano ganhava adesão por todos os cantos do Brasil. Ape-

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40 © História do Brasil III

sar disso, é na Província de São Paulo que os republicanos foram


mais atuantes na defesa de seus propósitos. Em 1888, o Partido
Republicano Paulista (PRP) voltou a se reunir em um congresso
lançando mais um "manifesto à nação", no qual voltavam a fazer
a defesa enfática do federalismo e da abolição da escravidão, a
condenar a Monarquia e suas instituições e a alertar a nação para
os riscos do Terceiro Reinado.
De acordo com alguns estudiosos da questão, o movimen-
to republicano, embora seja tratado como um movimento único
e organizado, tinha, na realidade, internamente grupos com graus
de interesses conflitantes. Para Boris Fausto (2001), por exemplo,
havia diferenças pontuais entre os republicanos paulistas e os do
Rio de Janeiro: os paulistas pautavam-se pela defesa do federalis-
mo, não dando muita importância para as questões dos direitos
civis e políticos; já os republicanos do Rio de Janeiro, embora mui-
to atuantes em termos de divulgação pela imprensa, não tinham
organização partidária.

A socióloga Ângela Alonso, recentemente, fez um ótimo trabalho,


no qual ela aponta os diversos grupos republicanos da época im-
perial, suas características, semelhanças e divergências. Desse
modo, deixamos aqui a referência bibliográfica para que você
possa aprofundar seus estudos acerca do assunto em questão:
ALONSO, Ângela. Idéias em movimento: a geração de 1870 na
crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

O historiador José Murilo de Carvalho (1990) identifica três


grupos dentro do movimento republicano dos anos 1870/80, con-
forme o viés ideológico: os liberais inspirados no modelo norte-ame-
ricano, os jacobinos influenciados pelo movimento revolucionário
francês e os positivistas. Essas três correntes propunham modelos
diferentes de República, como elucida Carvalho (1990, p. 9):
No caso do jacobinismo, por exemplo, havia a idealização da de-
mocracia clássica, a utopia da democracia direta, do governo por
intermédio da participação direta de todos os cidadãos. No caso do
liberalismo, a utopia era outra, era a de uma sociedade composta
por indivíduos autônomos, cujos interesses eram compatibilizados
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 41

pela mão invisível do mercado. O positivismo possuía ingredientes


utópicos ainda mais salientes. A república era aí vista dentro de
uma perspectiva mais ampla que postulava uma futura idade de
ouro em que os seres humanos se realizariam plenamente no seio
de uma humanidade mitificada.

Na prática, entretanto, não era possível perceber os três


projetos de República em disputa, até porque as correntes e os
grupos políticos republicanos eram integrados por setores elitis-
tas da sociedade brasileira, tanto em termos econômicos como
intelectuais. Assim, podemos concluir que as lutas políticas se da-
vam à margem da vida cotidiana do homem comum, sobretudo se
lembrarmos que os percentuais de analfabetismo naquela época
eram alarmantes, inviabilizando, por exemplo, que amplos setores
sociais pudessem acompanhar os debates pelos jornais impressos.
Desse modo, Emília Viotti da Costa (1985), historiadora pau-
lista, identificou uma divisão dentro do movimento republicano
considerando suas vinculações com os setores populares, con-
cluindo, então, que os republicanos estavam divididos em duas
tendências:
• revolucionária, que defendia a participação popular;
• evolucionista, que defendia o controle do jogo político
pelos setores dominantes da sociedade.
Levando em conta essa disposição da arena política em que se
travou a luta pelos ideais republicanos, temos dois personagens em-
blemáticos dessa luta: Antônio Silva Jardim, advogado fluminense,
propagandista da República e defensor de uma revolução popular, e
Quintino Bocaiúva, igualmente fluminense, político, jornalista e que
acreditava na vertente segundo a qual a própria evolução dos fatos
levaria à queda da Monarquia e à aclamação da República. De acor-
do com Villa (1996, p. 46) "as personalidades de Silva Jardim e Quin-
tino Bocaiúva simbolizam os dilemas dos republicanos: radicalismo
e contemporização, arrojo e moderação, revolução e reforma".
Enfim, o que temos por consenso é que a participação po-
pular tanto no movimento republicano como nos fatos que cul-

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42 © História do Brasil III

minaram com a Proclamação da República a 15 de novembro de


1889 foi pífia, ficando à margem de todo o processo. Independen-
temente das opções ideológicas e políticas reivindicadas pelos di-
versos grupos republicanos, a República foi fruto de uma conver-
gência de interesses, envolvendo, sobretudo, os cafeicultores de
São Paulo, reunidos em torno do Partido Republicano Paulista, e
os oficiais do Exército, descontentes com o desprestígio. Mesmo a
facção mais radical, defensora de um projeto mais revolucionário,
não conseguiu transformar seu discurso em conteúdo solidamen-
te ancorado nas classes populares. Como resultado, tivemos uma
conspiração civil-militar, uma quartelada, sem conteúdo popular e
onde até mesmo personalidades próximas do grupo republicano
mais atuante foram tomadas de surpresa com os fatos decorridos
no dia 15 de novembro de 1889.

6. A CRISE DO SEGUNDO REINADO (1840-1889)


Tradicionalmente, a historiografia, desde o primeiro momento
em que a Proclamação da República se tornou objeto de investiga-
ção historiográfica até os mais recentes trabalhos produzidos sobre
a temática, costuma arrolar um conjunto de fatores políticos e so-
ciais que teriam contribuído decisivamente para o aprofundamento
da crise e, por fim, o definitivo suspiro da Monarquia no Brasil.
O marco decisivo para a compreensão dessa crise era exa-
tamente o final da Guerra do Paraguai, que, embora tenha sido
terminada com a vitória das forças militares da Tríplice Aliança,
trouxe, no caso específico do Brasil, um corpo militar mais discipli-
nado e hierarquicamente constituído, passando, então, o Exército
a exigir maior participação política e visibilidade social.
Nesse contexto e de acordo com a abordagem essencial-
mente política do processo histórico que resultou na Proclamação
da República em 1889, teríamos um conjunto de causas pontuais,
tais como:
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 43

1) Questão republicana, iniciada em 1870 com a divulgação


do Manifesto Republicano, no Rio de Janeiro.
2) Questão abolicionista, que se tornou central no debate
público nos jornais e no próprio Parlamento, especial-
mente a partir de 1871, com a aprovação da Lei do Ven-
tre Livre (que promovia a libertação de filhos de escra-
vos nascidos a partir daquela data).
3) Questão religiosa, motivada pelo desacato de sacerdotes
católicos em relação à decisão do governo brasileiro de
não reconhecer determinações de bula papal em 1872.
4) Questão militar, com uma série de crises envolvendo ofi-
ciais do Exército e decisões governamentais.
A questão republicana, como foi dito anteriormente, mobilizou,
a partir de 1870, todos aqueles que desejavam a transformação das
instituições do país: a elite paulista do café, os oficiais do Exército e os
importantes setores das classes médias, como intelectuais, jornalistas
e profissionais liberais. Entre as várias discussões sobre o tema, as in-
terrogações que esses grupos colocavam para o debate público eram:
• Qual o melhor e mais adequado regime político para o
futuro do país? Monarquia? República? Qual a possibili-
dade de combinar modernização econômica com institui-
ções monárquicas?
Não havia, contudo, uma uniformidade de interesses e viés
ideológico dentro do campo republicano. Por exemplo, muitos,
particularmente após a abolição da escravidão em 1888, aderiram
à causa republicana muito mais pelo desencanto com a Monarquia
do que propriamente por convicções de natureza política. E foram
poucos os que tomaram esse caminho; basta lembrarmo-nos dos
nomes de importantes monarquistas que ocuparam cargos im-
portantes no governo da República, como Rui Barbosa e Joaquim
Nabuco. Em contrapartida, os “radicais da República", embora
preconizando uma "revolução popular" como forma de salvação
da nação, tinham pouco conteúdo social, abrindo caminho para
a configuração de uma aliança entre a elite paulista do café e as
forças do Exército.

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44 © História do Brasil III

Após a fundação do Partido Republicano Paulista em 1873, a


elite paulista começou a jogar todo seu peso econômico na defesa
de seus interesses políticos. Para os paulistas, a República era uma
forma de eles ganharem o poder de decisão dos rumos da nação
e, com isso, garantirem seu domínio e seus privilégios de classe.
Claro que havia, entre os paulistas, republicanos autênticos e con-
victos, como Alberto Salles, que se converteria em uma espécie de
teórico do grupo. No entanto, não há como negar que boa parte
dos republicanos de São Paulo via no novo regime uma oportuni-
dade de fazer valer interesses localizados e regionais.
A questão abolicionista, por sua vez, ao lado da propaganda
republicana, foi amplamente divulgada no país a partir dos anos
setenta do século 19, envolvendo diversos segmentos da socieda-
de. Foram mobilizados intelectuais e jornalistas que divulgavam
a causa por meio de artigos, panfletos, jornais, conferências, ro-
mances, entre outros meios; surgiram sociedades secretas, como
os caifases, que incentivavam e promoviam a fuga de escravos das
fazendas; setores mais dinâmicos da economia passaram a investir
em trabalhador assalariado, como os cafeicultores do oeste pau-
lista; e o próprio Exército passou a se recusar a atuar na captura de
escravos fugidos e de negros quilombolas.
Da mobilização da sociedade, a questão abolicionista ganhou
a arena do debate político. Parlamentares passaram a debater e a
propor a extinção da escravidão no país, invariavelmente, levando
em conta os interesses dos proprietários. Desse modo, o fim da
escravidão só foi aceito por meio de um processo lento e contro-
lado pelas elites e que garantisse a indenização aos proprietários
de escravos.
Assim, a partir de 1871, com a aprovação da Lei Rio Branco
– porque fora apresentada pelo gabinete chefiado pelo visconde
do Rio Branco –, passaram a ser considerados livres os filhos de
escravos nascidos a partir daquela data. Em 1885, o Parlamento
aprovou a Lei Saraiva-Cotegipe (também conhecida como a Lei do
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 45

Sexagenário), que concedia liberdade aos escravos com mais de


sessenta anos. Nesse meio tempo, contudo, em algumas regiões
do Brasil, já havia, oficialmente, sido declarada extinta a escravi-
dão em seus territórios, como foi o caso do Ceará, em 1884.
Embora a elite mais conservadora fosse controlando por
todos os meios as pressões em prol da abolição total da escravi-
dão, os fatos faziam crer que era iminente o golpe definitivo na
instituição escravocrata. E essa era uma percepção correta, uma
vez que, quatro anos depois, em 13 de maio, a Lei João Alfredo
foi aprovada pelo Parlamento e sancionada pela Princesa Isabel,
declarando extinta a escravidão no Brasil, porém, sem determinar
a indenização aos seus proprietários. Na perspectiva da historio-
grafia política, estaria, assim, selada a derrocada do Reinado de
Pedro II: a abolição sem indenização significou o fim do apoio dos
grandes proprietários ao regime monárquico.

A abolição da escravidão sem integração dos negros


A abolição da escravidão em 13 de maio de 1888 não foi
acompanhada por um projeto de integração dos negros à socie-
dade. Ao contrário. Com a abolição, os negros foram jogados à
própria sorte, tornando-se vítimas da marginalização social. Nas
regiões economicamente mais dinâmicas, os ex-escravos foram
preteridos diante da introdução de mão de obra europeia nas fa-
zendas de café, por exemplo.
Nos grandes centros urbanos, ocuparam-se em atividades
de menor remuneração, vivendo como subempregados. Diante
desse contexto, uma pergunta faz-se necessária: afinal, qual o sig-
nificado do 13 de maio de 1888? Talvez, uma resposta adequada
para essa questão tenha sido dada pela historiadora Emília Viotti
da Costa (1986, p. 96):
[...] a Abolição foi apenas um primeiro passo em direção à eman-
cipação do povo brasileiro. O arbítrio, a ignorância, a violência, a
miséria, os preconceitos que a sociedade escravista criou ainda pe-
sam sobre nós. Se é justo comemorar o Treze de Maio, é preciso, no

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46 © História do Brasil III

entanto, que a comemoração não nos ofusque a ponto de transfor-


marmos a liberdade que simboliza num mito a serviço da opressão
e da exploração do trabalho.

Vejamos, na Figura 1, a cópia do texto da lei que aboliu a es-


cravidão em 13 de maio de 1888, sancionada pela Princesa Isabel.

Figura 1 Texto da lei que aboliu a escravidão.

Mais um dos fatores que concorreram para o desgaste da


Monarquia foi a questão religiosa que veio à tona em 1872. Desde
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 47

1824, com a outorga da Constituição, ficou estabelecido que ca-


beria ao Estado brasileiro seguir ou não, em conformidade com as
normais jurídicas legais, as determinações vindas do Vaticano. Ca-
beria, portanto, ao imperador, à luz das leis constitucionais, aceitar
ou não os decretos papais, chamados de bulas. Naquele contexto,
o Papa Pio IX, por meio da Bula Syllabus, proibiu qualquer ligação
da Igreja com as lojas maçônicas, fato que, no Brasil, não foi rati-
ficado pelo Imperador Pedro II, sob orientação do visconde de Rio
Branco, que era um venerável da loja maçônica.
Inconformados com a recusa da Monarquia brasileira em se-
guir as orientações do Vaticano nesse caso em particular, os bispos
do Pará e de Olinda – respectivamente, Dom Antonio de Macedo
Costa e Dom Vital – rebelaram-se publicamente, sendo, inclusive,
presos por ordens governamentais. Um fato aparentemente ba-
nal, mas que gerou, naquela conjuntura, um desgaste nas relações
entre Estado e Igreja, levando até mesmo D. Pedro II, diante de
pressões do Vaticano, a anistiar os bispos e a substituir o gabinete
do visconde do Rio Branco pelo de Duque de Caxias.
Veja que a confluência de fatores pontuais contribuiu para
criar um clima de animosidade de todo staff monárquico com im-
portantes e decisivos setores sociais. Não bastando esses fatores,
para tornar a temperatura ainda mais elevada, surgiu a questão
militar, indispondo o Parlamento e a Monarquia contra os oficiais
do Exército.
O episódio que serviu de estopim para a crise entre Exército
e governo ficou representado pela manifestação pública de oficiais
por meio da imprensa, algo que era proibido por código disciplinar
e prontamente punido com prisão. As críticas partiam de diversas
partes do país. No Piauí, foi o coronel Matos que atacou o ministro
da guerra Alfredo Chaves, um civil. Na capital federal, foi a vez de
o coronel Madureira escrever um artigo defendendo abertamente
o abolicionismo. Ambos foram presos tal como determinava o có-
digo disciplinar dos militares.

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48 © História do Brasil III

O episódio feriu a honra dos oficiais mais graduados do Exér-


cito, entre eles o próprio Marechal Deodoro da Fonseca, herói da
Guerra do Paraguai e militar com muito prestígio e trânsito nos
meios políticos. Protestos foram lidos no Parlamento e divulgados
por oficiais, revelando, ao mesmo tempo, o descontentamento
das armas e um razoável espírito de corporação que viria a ser o
traço fundamental do Exército em anos posteriores.
O Exército brasileiro, àquela altura, era um agrupamento com
forte influência do pensamento positivista, oriundo da França. A Es-
cola Militar tornou-se um celeiro de oficiais com fortes inclinações
republicanas sob o comando de Benjamim Constant. Essa influência
tornava os oficiais mais atuantes na realidade política nacional, rei-
vindicando prestígio e maior participação em assuntos de natureza
governamental. Ao final de três anos de disputas entre militares e
governo, o Marechal Deodoro foi transferido para o Mato Grosso,
ficando, assim, distante da Capital Federal e com pouca influência
sobre seus subordinados estacionados no Rio de Janeiro.
Apesar da relativa calmaria, tais episódios, envolvendo mili-
tares e governo, abriram uma cisão definitiva que se tornaria, em
1889, insustentável, levando o próprio Marechal Deodoro da Fon-
seca a ser o personagem central nos fatos que culminaram com a
Proclamação da República. Estaria fechado, dessa forma, um círcu-
lo crítico que isolaria politicamente o Imperador Pedro II das prin-
cipais peças que o sustentariam: elite do café, setores de classe
média, Igreja Católica, proprietários descontentes com a abolição
sem indenização e, claro, os militares do Exército.
Em outra linha de análise, o historiador Prado Júnior (1983)
aponta outros fatores que teriam contribuído, de forma decisiva,
para o fim do reinado de Pedro II em 1889. Segundo esse autor, as
velhas instituições monárquicas não eram mais compatíveis com o
novo cenário de progresso econômico atingido pelo Brasil na se-
gunda metade do século 19 e, para exemplificar, cita a questão da
abolição da escravidão como fator central:
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 49

A questão servil é disto o mais frisante exemplo. Na sua solução


não fez o Império outra coisa que protelar, limitando-se a peque-
nas concessões [...], numa palavra, marcar passo, enquanto a nação
avançava vertiginosamente. Só resolveu o governo imperial alistar-
-se na corrente quando à sua revelia praticamente solucionado
pela alforria particular [...] (PRADO JÚNIOR, 1983, p. 100).

Ainda de acordo com Prado Júnior (1983), pouco importa


buscar explicações para o fracasso do Império na figura de Pedro II,
pois o que se revelava incompatível com as novas forças econômi-
cas e políticas daquele momento histórico era o conservadorismo
tacanho adotado por toda a estrutura institucional monárquica, in-
capaz de dar respostas aos grandes problemas nacionais. Mesmo
quando o chefe de gabinete Visconde de Ouro Preto esboçou um
projeto de reformas políticas para o país, não encontrou respaldo
em uma base social sólida que lhe pudesse dar sustentação. Dessa
forma, "[...] o Império moribundo [...] já agonizava. Uma simples
passeata militar foi suficiente para lhe arrancar o último suspiro..."
(PRADO JÚNIOR, 1983, p. 102).

7. O 15 DE NOVEMBRO DE 1889
A marcha dos fatos que culminou com o 15 de novembro
remonta a uma reunião na casa do Marechal Deodoro da Fonse-
ca, ocorrida quatro dias antes, na qual tomaram parte Francisco
Glicério, Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Benjamim Constant,
Major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro e Rui Barbosa. No encon-
tro, discutiu-se e planejou o desencadeamento do golpe contra a
Monarquia, prevendo, inclusive, a data de 20 de novembro para
sua realização.
Nos dias seguintes à reunião conspiratória, intensificou-se a
agitação nos quartéis e batalhões, agitação essa encampada pelo
Major Sólon, responsável pela divulgação de boatos segundo os
quais o governo havia ordenado a prisão dos principais oficias do
Exército, entre eles o Marechal Deodoro e Benjamim Constant,
provocando, com isso, indignação ainda maior na tropa. Notícias

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50 © História do Brasil III

dando conta de que o governo já havia tomado conhecimento da


conspiração e que ordenaria o envio da Guarda Nacional para con-
ter os rebelados eram constantes.
Na manhã do dia 15 de novembro, o Marechal Deodoro
assumiu o comando das tropas, dirigiu-se ao Quartel-General do
Exército, onde ordenou a prisão do Visconde de Ouro Preto, chefe
do gabinete do Império, deflagrando, definitivamente, o golpe mi-
litar. Em seguida, o velho Marechal, adoentado, dirigiu-se ao Arse-
nal da Marinha, onde obteve a adesão do Almirante Wandenkolk.
Desse modo, consolidou-se o movimento militar com a ade-
são de unidades do Exército e da Marinha. Aos civis coube a inicia-
tiva de aclamar a República oficialmente na sede da Câmara Mu-
nicipal do Rio de Janeiro, por volta das 15 horas. Ao iniciar a noite,
Deodoro da Fonseca era reverenciado pelos republicanos à frente
de sua residência.
Da parte da Monarquia, as reações foram frágeis: o Impe-
rador tentou nomear um novo gabinete e o Senado reuniu-se
pela última vez levantando, em vão, a bandeira da legalidade e
do respeito à Constituição. Nenhum obstáculo de maior vulto foi
imposto pelos defensores do regime monárquico, não existindo
condições materiais para a articulação de uma reação militar aos
conspiradores republicanos.
Em 16 de novembro, já respondendo como chefe do gover-
no provisório da República, o Marechal Deodoro assinou e enviou
uma carta ao Imperador Pedro II comunicando-lhe a decisão do
novo governo de banir a família real do Brasil. No dia 17 de no-
vembro, Pedro II, seus familiares e amigos próximos embarcaram
no navio rumo à Europa. No mesmo dia, era ordenado e cumprido
o fechamento do Senado do Império. O golpe, enfim, foi consu-
mado.
A repercussão do movimento vitorioso de 15 de novembro
pôde ser auferida por meio dos jornais da Capital Federal. De acor-
do com o historiador Marco Antonio Villa (1996), até as vésperas
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 51

da Proclamação do dia 15 de novembro, apenas o Correio do Povo


apoiava abertamente a República. No dia seguinte, entretanto, to-
dos os demais passaram a apoiar e a saudar o novo regime, sinal
de que o fenômeno do adesismo se tornaria frequente, envolven-
do, inclusive, membros da classe dominante.
Antigos políticos da ordem monárquica aderiram de imedia-
to ao novo regime após a proclamação do dia 15 de novembro. A
adesão indiscriminada à nascente República levou muitos militan-
tes republicanos históricos como Saldanha Marinho, Silva Jardim,
entre outros, a se desiludirem com os rumos tomados pelo novo
regime.
Quanto ao envolvimento popular nos acontecimentos de 15
de novembro, temos como testemunha a célebre frase do jornalis-
ta Aristides Lobo, que à época dos fatos escreveu no Diário Popular
de São Paulo:
O que se fez é um degrau, talvez, nem tanto, para o advento da
nova era. Em todo caso, o que está feito pode ser muito, se os ho-
mens que vão tomar a responsabilidade do poder tiverem juízo, pa-
triotismo e sincero amor à liberdade. [...] Por ora a cor do governo é
puramente militar e deveria ser assim. O fato foi deles, só, porque a
colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu aqui-
lo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava
(LOBO apud ALENCAR; CARPI; RIBEIRO, 1996, p. 220).

Podemos concluir desse trecho jornalístico que a nascente


República no Brasil nasceu sob o signo do militarismo e da ausên-
cia de povo; fato esse que se constatará no decorrer dos anos sub-
sequentes ao 15 de novembro de 1889.

8. TEXTO COMPLEMENTAR
A historiadora paulista Maria de Lourdes Mônaco Janotti
discorda da versão historiográfica dominante, segundo a qual não
houve contestação à implantação da República em novembro de
1889. Na obra Os Subversivos da República (1986), ela propõe uma
revisão historiográfica sobre os primórdios da República no Brasil,

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52 © História do Brasil III

revisão que nos permitiria situar com maior precisão os conflitos


entre os diversos grupos políticos atuantes naquele contexto.
Vejamos um trecho dessa obra, cujo principal objeto de pes-
quisa e análise é a atuação dos diversos grupos monarquistas na
conjuntura do golpe republicano.

Os subversivos da República–––––––––––––––––––––––––––
Após a proclamação da República consagraram-se dois mitos sobre o aconteci-
mento: o do consenso nacional e o da indiferença da população. E ambos reali-
zaram uma mesma função, ou seja, obscureceram os conflitos que se travaram
entre os grupos políticos e sociais. Generalizou-se assim, a partir de então, a
versão, veiculada inclusive pelos manuais didáticos, de que não houve oposição
ao novo regime nem houve discordâncias entre os republicanos sobre o modelo
de República adotado.
Todavia, os primeiros anos republicanos caracterizaram-se pelas várias decre-
tações de estado de sítio, pelo arbítrio e violência como formas de resolver os
desentendimentos da classe dominante e neutralizar as manifestações das con-
tradições entre as diferentes classes sociais.
O estudo do comportamento dos monarquistas recupera para a História do Brasil
a visão dos destituídos do poder, bem como revela aspectos da violência como
prática de dominação.
Na realidade dois grupos de opinião delinearam-se entre os políticos da Monar-
quia frente ao novo regime: o dos que achavam que a situação era reversível e o
daqueles que aderiram à situação; restauradores de um lado e neo-republicanos
de outro. Os dois grupos foram tratados com rigor pelos primeiros cronistas da
história republicana, a exemplo de Felício Buarque. Aos restauradores atribuíam
todas as maquinações tendentes a desmoralizar a imagem do país no exterior,
a confundir a opinião pública e a semear a discórdia entre os patriotas; e aos
neo-republicanos, ou adesistas, atribuíam um comportamento caracterizado pelo
oportunismo e pela ausência de princípios. Em nenhum instante, porém, tentou-
-se compreender as profundas divergências que já grassavam nos partidos do
Império sobre a eventualidade de um terceiro reinado, e que sem dúvida, aliadas
a outras razões de ordem estrutural, haviam desatado os laços de solidariedade
dos políticos para com a Monarquia.
Com o passar dos anos, foram esmaecendo na historiografia as tintas fortes com
que os primeiros críticos retrataram os restauradores e os adesistas; vencidos os
primeiros, sobre eles desceu a pecha de visionários; vencedores os segundos,
amalgamaram-se aos personagens republicanos.
Logo de imediato à proclamação da República aparece o grupo dos inconforma-
dos – no exílio e no Brasil. As formas que eles encontraram de contestação ao
regime variaram: pronunciamentos pessoais, manifestos coletivos, conspirações
em parceria com grupos republicanos descontentes e, principalmente, sustenta-
ção de uma imprensa combativa.
Vozes isoladas inicialmente foram, pouco a pouco, se arregimentando em peque-
nos grupos que, com o tempo, mantiveram estreitos contatos entre si. Organiza-
ram-se em torno de políticos influentes do Império, cercaram-se de jornalistas
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 53

competentes e contaram, em seu meio, com intelectuais que divulgaram sua


ideologia. Estas condições conferiram-lhes a fisionomia de um grupo político es-
truturado.
Em todas as antigas províncias subsistiram pequenos grupos de políticos que
não aceitaram o novo regime. Os mais atuantes foram os do Pará, Ceará, Rio
Grande do Sul e, notadamente, os do Rio de Janeiro e de São Paulo. [...] Os
monarquistas pertencentes a esses dois grupos [Rio de Janeiro e São Paulo] se
confundiam de tal forma que muitas vezes os mesmos homens atuavam nos dois
estados. Jornais paulistas e cariocas publicavam os mesmos artigos e tinham
colaboradores comuns. Ressalte-se que o Partido Monarquista foi fundado em
fins de 1895, em São Paulo, e logo a seguir – janeiro de 1896 – organizou-se o
centro Monarquista do Rio de Janeiro. Foram elas as duas primeiras organiza-
ções formais dos restauradores no Brasil.
Compunham-se os grupos monarquistas de antigos políticos de expressão, obs-
curos políticos de províncias, funcionários vinculados à burocracia, portadores
de títulos nobiliárquicos e jornalistas da imprensa partidária: todos tinham em co-
mum ressentimentos relativos à perda do prestígio, dos cargos e dos privilégios
que desfrutavam sob o Império. Também homens novos cerraram fileiras entre
os monarquistas: bacharéis das faculdades de Direito, principalmente os de São
Paulo; jovens ligados, por parentesco, às famílias de políticos decaídos; católicos
radicais e descontentes por razões diversas. Ligavam-nos, a todos, o profun-
do respeito pela tradição, sentimentos antimilitaristas, a idealização do Império
como modelo de virtudes cívicas e o conservadorismo religioso.
Quanto à situação de classe da cúpula dirigente dos restauradores, pode-se afir-
mar que tinham raízes na lavoura tradicional e nas finanças. E todos tinham per-
tencido ao estamento burocrático do Império. Exceção deve ser feita ao paulista
Eduardo Prado, um dos principais sustentáculos do movimento, que não havia
desfrutado de posições no Império e cuja fortuna familiar ligava-se às novas re-
lações de produção da lavoura cafeeira.
Sem pretender estabelecer uma tipologia rígida, pode-se distinguir entre os mo-
narquistas: os afetivos, os saudosistas, os intelectuais e os ativistas. Evidente-
mente esses tipos não existiam de forma pura, mesclando-se, na maioria das
vezes, na mesma pessoa.
Os afetivos foram aqueles que não abandonaram os sentimentos relativos à mís-
tica do trono e às simpatias pela família real, manifestando-os, através de vasta
correspondência com os exilados reais e seus fâmulos, por ocasião de aniversá-
rios, casamentos, batizados, falecimentos ou datas significativas da história do
Império. [...].
[...] os saudosistas, em geral católicos radicais, apegavam-se exclusivamente à
crítica moralista dos novos costumes políticos e sociais. [...].
Os intelectuais, os sustentadores da propaganda, foram responsáveis por volu-
mosa produção de panfletos, livros e artigos. Travaram polêmicas e debates pela
imprensa, mediante os quais censuravam todos os atos do governo, e sempre
ressaltando a instabilidade do regime e a possível reversibilidade ao monarquis-
mo. [...].
Mais difíceis de serem identificados são os ativistas, sobretudo porque se con-
fundiam com os tipos anteriores, notadamente os intelectuais da imprensa mili-
tante. [...] (JANOTTI, 1986, p. 7-11).
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9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, a decadência das instituições monárquicas no
Brasil, a Proclamação da República e as interpretações que esse
fato teve na posteridade.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Aponte as contradições internas que tiveram papel decisivo para a derroca-
da do Segundo Reinado.

2) Explique com suas próprias palavras quem eram os grupos atuantes na con-
juntura política de 1889 e quais eram seus respectivos projetos de república.

3) Após a leitura do Texto Complementar, você afirmaria que a Proclamação da


República em 1889 foi fruto de uma acomodação de novos grupos sociais e
econômicos ao poder? Explique.

10. CONSIDERAÇÕES
Vimos nesta unidade que a Monarquia chegou ao fim no ano
de 1889 por fruto de suas próprias contradições internas, na me-
dida em que suas instituições não foram capazes de dar conta das
novas necessidades que emergiram a partir do desenvolvimento
econômico do país, verificado na segunda metade do século 19
e alavancado em grande parte pelo café. Com o progresso mate-
© U1 - A Proclamação da República: O Acontecimento e o Conhecimento 55

rial proporcionado pelo café, surgiram novos atores sociais – elite


paulista, camadas médias urbanas, setores de oficiais do Exército
–, os quais passaram a pressionar a Monarquia por interesses que
entravam em choque com o conservadorismo retrógrado das ins-
tituições monárquicas.
A demora da Monarquia em responder às questões, como
a escravidão e o federalismo, às novas exigências de um sistema
eleitoral mais representativo e moderno, entre outras demandas,
levou a uma corrosão de sua estrutura, pelas suas próprias fra-
quezas e envolvida por fatos pontuais, como a propaganda abo-
licionista e republicana. Assim, o regime monárquico, isolado po-
liticamente e sem bases sociais de apoio, foi golpeado de morte
num movimento militar vitorioso que não lhe deixou margens para
reagir.
A República nasceu oficialmente no Brasil a partir de 1889,
sob o predomínio dos militares que permaneceriam no poder, inin-
terruptamente, até 1894, mas que, permanentemente, voltariam
à cena política em diversas ocasiões, tornando-se uma marca do-
minante de toda a nossa história republicana. Com o nascimento
da República, surgiu, também, o mito da "salvação nacional", cor-
porificado pelas forças armadas e que seria uma marca de nossa
cultura política até os dias de hoje. Em contrapartida, as práticas
republicanas inauguradas a partir de 15 de novembro de 1888 fo-
ram predominantemente marcadas pela apropriação privada da
"coisa pública", ou seja, os grupos políticos que passam a ocupar o
poder nunca estiveram atentos para a separação entre o interesse
público e os negócios particulares.

11. E-REFERÊNCIAS
Lista de figura
Figura 1 – Texto da lei que aboliu a escravidão: disponível em: <http://www.
coolegiosaofrancisco.com.br/alfa/abolicao-da-escravidao-no-brasil/im>. Acesso em: 26
mar. 2009.

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56 © História do Brasil III

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: a geração de 1870 na crise do Brasil Império. São
Paulo: Paz e Terra, 2002.
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi.
3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
______. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
CASALECHI, José Enio. A proclamação da República. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 3 ed. São Paulo:
Brasiliense, 1985.
______. A Abolição. 3 ed. São Paulo: Global, 1986.
PESSOA, Reynaldo Carneiro (Org.). A idéia republicana no Brasil através dos documentos.
São Paulo: Alfa-Omega, 1973.
PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil: Colônia e Império. 13. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
RIBEIRO JÚNIOR, João. O que é positivismo. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
VILLA, Marco Antonio. A queda do Império: os últimos momentos da monarquia no
Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Os Subversivos da República. São Paulo: Brasiliense,
1986.

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