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BIOQUÍMICA GERAL

Rodrigo Binkowski
de Andrade
Carboidratos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Diferenciar a estrutura dos monossacarídeos, dissacarídeos e


polissacarídeos.
 Reconhecer as diversas funções que os carboidratos podem desem-
penhar nas células.
 Identificar a isomeria entre os monossacarídeos e as ligações
glicosídicas.

Introdução
Os carboidratos correspondem a mais de 45% da ingestão calórica diá-
ria de um indivíduo. Eles são a maior fonte de substratos energéticos
em uma dieta típica ocidental. Portanto, essas biomoléculas fornecem
grande parte da energia nos processos celulares, além de participarem
da comunicação intercelular e da composição das membranas.
Neste capítulo, você vai ver como os carboidratos estão amplamente
distribuídos nos vegetais e nos animais e possuem papéis estruturais, de
reserva e metabólicos importantes.
Os glicídios são compostos formados por unidades fundamentais,
chamadas oses, e por polímeros destas unidades. Os glicídios simples são
compostos ternários, isto é, formados por três elementos: carbono, hidro-
gênio e oxigênio. Esses três elementos encontram-se na proporção de 1:2:1.
Os glicídios simples admitem, assim, uma fórmula geral CnH2nOn. Nesta
fórmula existe uma molécula de água para cada átomo de carbono, o que
originou, erroneamente, o nome de hidratos de carbono ou carboidratos
para estes compostos. Uma curiosidade interessante sobre este tema é
que os adoçantes artificiais estimulam os mesmos receptores gustativos
dos açúcares, porém não são aproveitados pelo organismo.

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2 Carboidratos

A estrutura dos monossacarídeos,


dissacarídeos e polissacarídeos
Os carboidratos podem ser chamados também de glicídios, hidratos de carbono,
açúcares e oses. Estes compostos são aldeídos ou cetonas e seus derivados que
contêm duas ou mais hidroxilas. A nomenclatura inclui a função, o número
de átomos de carbono e a terminação ose. No caso da aldo-hexose, significa
que é um aldeído de seis carbonos.
Os monossacarídeos são carboidratos que não podem ser hidrolisados a
compostos mais simples. As oses portadoras de grupo aldeído são chamadas
aldoses e as portadoras de grupo cetônico, cetoses. Tanto as aldoses como
as cetoses são classificadas de acordo com o número de átomos de carbono
existentes na molécula. As oses com três carbonos são denominadas de trio-
ses; com quatro carbonos, tetroses; com cinco carbonos, pentoses; com seis
carbonos, hexoses e com sete carbonos, heptoses (Figura 1).

Figura 1. Os principais monossacarídeos. Em A, estão representadas duas trioses. Em B,


duas hexoses comuns e, em C, as pentoses de ácidos nucleicos.
Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 244).

Já os oligossacarídeos são polímeros de menos de oito monossacarídeos.


Por fim, os olissacarídeos são feitos a partir da união de oito ou mais monos-
sacarídeos. “Os dissacarídeos (como maltose, lactose e sacarose) consistem em
dois monossacarídeos unidos covalentemente por uma ligação O-glicosídica,
a qual é formada quando um grupo hidroxila de uma molécula de açúcar,
normalmente cíclica, reage com o carbono anomérico de outra molécula”
(NELSON; COX, 2018, p. 250). Na figura 2, é possível observar três exemplos
de dissacarídeo: lactose, sacarose e trealose.

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Figura 2. Três dissacarídeos mais comuns estão representados com suas ligações glicosídicas.
Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 253).

As funções que os carboidratos podem


desempenhar nas células
Os polissacarídeos da dieta são sólidos, cristalinos e incolores, dissolvendo-se
perfeitamente em soluções aquosas (polares). O amido é um homopolissacarí-
deo, pois é composto exclusivamente por polímeros da glicose. Há dois tipos:
a α-amilose (linear, de ligações α- 1,4), extraída durante o cozimento da batata
e responsável pela coloração escura da água, e a amilopectina (ramificada,
de ligações α-1,4 e α-1,6), que não é liberada do legume ao aquecimento. Nos
alimentos é encontrada em grãos. O cozimento rompe as moléculas ali arma-
zenadas, aumentando a digestibilidade. Com o resfriamento, essas estruturas
se reorganizam. Por outro lado, o glicogênio tem ligações α-1,4, mas possui
mais ramificações com as ligações α-1,6 e tem origem em células animais.
Veja na Figura 3 abaixo a estrutura desses polissacarídeos.

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Figura 3. Glicogênio e amido. No item A está representado a amilose, com as ligações


glicosídicas α-1,4. No item B, estão demonstradas as ligações α-1,6 da amilopectina e nos
pontos de ramicação do glicogênio. No item C está um esquema dos agrupamentos de
amilose e amilopectina.
Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 256).

A celulose é uma fibra e, portanto, é digerível apenas pelos ruminantes,


possuidores de uma bactéria simbionte específica no trato digestório, secre-
tora de celulase. Caracteriza-se como um homopolissacarídeo linear não
ramificado de glicoses unidas em ligações β-1,4. Outro polissacarídeo é a
quitina, homopolissacarídeo feito por N-acetilglicosaminas e interconectados
em ligações β-1,4. Compõe o exoesqueleto de insetos e a parede celular de
fungos. Uma utilidade dos carboidratos é a fabricação de ágar, pois certas
algas contêm uma mistura de D-galactose e L-galactose, com que se produz
um gel utilizado no processo de eletroforese. A eletroforese é uma técnica que
separa biomoléculas por meio de carga e massa molecular.

Metabolismo de açúcares pelas bactérias: nem todo amido ingerido é hidrolisado,


principalmente aquele rico em amilose ou pouco hidratado, como o do feijão. Essas
substâncias entram, então, no cólon, onde são digeridas por bactérias em ácidos graxos
de cadeia curta, lactato e gases. Deste grupo, podem ser citados o gás hidrogênio (H2),
o gás carbônico (CO2) e o gás metano (CH4).

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dratos na animação da BiologyBasics.

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Isomeria entre os monossacarídeos


e as ligações glicosídicas
O D-gliceraldeído, o L-gliceraldeído e a dihidroxiacetona são os hidratos de
carbono mais simples (trioses). O átomo de carbono assimétrico mais afastado
da carbonila define se um composto é D, se estiver à direita, ou L, à esquerda.
Estes isômeros são o aldeído D-glicérico e o aldeído L-glicérico. O primeiro
é dextrógiro e o segundo, levogiro.
Os enantiômeros são compostos nos quais a conformação espacial de um
é a imagem especular do outro. Já os epímeros são esteroisômeros (isômeros
ópticos) que diferem na configuração dos ligantes de apenas um carbono
assimétrico. Alguns exemplos de aldoses epímeras: D-Glicose, D-Manose
e D-Galactose.
Os carboidratos têm a propriedade de ciclização em soluções aquosas.
Aldotetroses e todos os monossacarídeos de cinco ou mais átomos de car-
bono apresentam- se como anéis, pois o grupo carbonila une-se ao oxigênio
da hidroxila. Forma-se, então, um composto intermediário, os hemicetais,
de cetonas, ou hemiacetais, de aldeídos, que apresentam um carbono quiral
adicional. As aldohexoses tendem a fazer ligações 1,5 e as aldocetoses, 2,5 e
2,6, pois a carbonila está no segundo carbono.
O sufixo é dado aos açúcares cíclicos, furanoses, em anéis de cinco membros
e piranoses em anéis de seis. As formas α e β de um mesmo monossacarídeo
são anômeras, diferindo somente na configuração dos elementos do carbono
anomérico. Em solução, embora reajam como aldeídos e cetonas, essas subs-
tâncias majoritariamente apresentam-se como hemiacetais e hemicetais. Outra
propriedade importante é a mutarrotação: a conversão de um anômero em
outro. Além disso, para que um açúcar seja considerado redutor deve possuir o

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carbono anomérco livre. Como a oxidação de um composto só ocorre na forma


linear, um dissacarídeo cujo dois carbonos anoméricos não sejam ocupados
na ligação, pode atuar como glicídio redutor (Figura 4).

Figura 4. Piranoses e furanoses. As conformações


cíclicas dos monossacarídeos glicose e frutose,
respectivamente.
Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 248).

A ligação glicosídica, de modo geral, acontece com o carbono anomérico de


um monossacarídeo e o C-4 ou C-6 de outro, liberando uma molécula de água,
sendo uma ligação covalente. Duas oses são epímeras quando se diferenciam
pela posição de uma única hidroxila (Figura 5). Quando a diferença se encontra
no carbono 2 não há necessidade de especificar o número do carbono que deu
origem à epimerização. Nos outros casos, o número do carbono responsável
pela epimerização deverá ser salientado. A glicose e a galactose são epímeras
em C4 e a ribulose e a xilulose são epímeras em C3.

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Figura 5. Epímeros. A D-glicose e seus epímeros são mostrados em suas fórmulas químicas.
Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 246).

Deficiência das dissacaridases é uma patologia relativamente frequente, causada por


defeito genético, declínio fisiológico pela idade ou por agressões à mucosa. A enzima
mais facilmente atingida é a β-glicosidase (lactase). A deficiência da lactase ocorre
porque o dissacarídeo não pode ser aproveitado pelo organismo nem quebrado em
unidades menores, permanecendo no intestino e causando desequilíbrio osmótico.
A grande quantidade de água no trato intestinal provoca, então, diarreia aquosa, fluxo
intestinal anormal e cólicas abdominais. Essa doença tem prevalência de quase 100%
em asiáticos e de 0% em dinamarqueses e holandeses.

Referências

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6 ed. Porto Alegre:


Artmed, 2014.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2019.

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