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Embora a guerra tenha declarado certa paz entre humanos e demais seres, é impossível

apagar as dores que foram geradas nesse processo. Esse é o caso de um casal canadense
cujo ambos tiveram as famílias desestruturadas por criaturas ferozes, e que com essa
possível trégua, viram a oportunidade de formar uma nova. O fruto desse amor foi Nero, um
humano que não se iguala aos demais apenas pelas deformidades em seu DNA e parto
arriscado, com pouquíssimas chances de sobreviver. Como consequência, o garoto tinha
imunidade baixíssima, adquirindo facilmente qualquer doença. Sua estimativa de vida não
passava dos 25 anos.
Saúde à parte Nero recebeu todo amor e atenção que um filho poderia receber, se não, até
mais. Por essa vivência tão próxima dos pais, desenvolveu junto um pequeno remorso dos
outros seres, embora os responsáveis nunca tenham detalhado a raiz desse ódio. O menino
sempre se mostrou muito inteligente e comunicativo, e adorava participar de inúmeras
atividades oferecidas a ele, mesmo que suas condições dificultassem quase todas elas.
Essa era a forma que levava a sua vida, pois sabendo que não iria viver muito como todo
mundo, mantinha pensamentos positivos para construir uma boa história até o fim.
Porém, retornando para casa após dormir na casa de um amigo, decidiu tomar o caminho
mais curto entre casas abandonadas, já que se via exausto demais para seguir o trajeto
convencional. Estava puro silêncio, o que gerava certa segurança, até ser abruptamente
arremessado contra uma parede. A pancada o deixou tonto, mas mesmo que tentasse se
recompor, o que causou aquilo o acompanhou, logo abrindo um rasgo enorme em suas
costas com dentes imensos, seguido por outro no pescoço. Não conseguia gritar, não
encontrava fôlego ou força, e com aquela respiração quente e animalesca em seu ouvido,
assistiu tudo se apagar lentamente, como se sua jornada fosse encerrada antes do
imaginado.
Sons de um grupo de aves foi escutado ao longe assim que, inesperadamente, recobrava a
consciência. Se levantou de imediato, sentindo uma dor absurda pelas fraturas do ataque
que jurava resultar na sua morte. E como se isso não fosse surpresa o suficiente, o corpo
do lobisomem estava logo ao seu lado, imóvel. Nero não custou ficar para averiguar a
situação, correndo mais do que podia aguentar para chegar em casa. Não tinha noção do
tempo que estava desacordado, mas seu único pensamento era como foi capaz de
sobreviver a uma criatura que não costuma deixar sobreviventes.
Enfim, em seu lar, percebeu seus pulmões agirem como nunca antes, resultando num grito
alto e estrondoso, clamando pelos pais. Nenhuma resposta. Checou os devidos quartos,
outros cômodos, até ligou para eles, mas os telefones estavam em casa. Haviam
desaparecido naquele mesmo dia sem um aviso sequer. Com esses inúmeros mistérios
corroendo sua mente, Nero encarou a pior semana de sua vida, tendo que encarar sozinho,
a tortura da transformação naquilo que odiava junto daqueles que sumiram do nada.

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