15. EmogGes e decisdes morais
Nossas decis6es morais séo
Que relagao existiria entre a moral e nossas
emogdes?
influenciadas por nossas emogées, ou seriam as emogées efeitos de nossos conflitos morais?
Se até recentemente esse tipo de questionamento pertencia ao campo da filosofia e da
psicologia, agora neurocientistas comegam a abordar esses temas de maneira experimental.
Imagine que vocé se defronte com o seguinte problema: um pequeno vagio vem descendo,
descontrolado, por um trilho que desemboca em uma bifurcagao. Cabe a vocé operar um
comando que determina se o vagio vai para a direita ou para a esquerda. Se o desviar para a
esquerda, ele vai atropelar ¢ matar cinco pessoas. Se o desviar para a direita, vai matar uma
tinica pessoa. Diante desse dilema moral, a grande maioria das pessoas escolhe o mal menor:
desviar 0 vagao para a direita, sacrificando um para salvar cinco. Imagine agora que 0 vagio
vem descendo a ladeira em diregdo as cinco pessoas, mas antes vai passar por baixo de uma
ponte. Vocé est4 em cima da ponte e tem que tomar uma decisfio. Ou nao faz nada e deixa as
cinco pessoas morrerem, ou agarra uma pessoa que esté em cima da ponte e a langa sobre os
trilhos para deter o vagio. Apesar de o ntimero de pessoas mortas ser idéntico em cada op¢ao
(cinco mortes em vez de uma), a maioria das pessoas prefere deixar as cinco pessoas
morrerem a tomar a atitude fisica de jogar uma pessoa inocente nos trilhos e causar sua morte.
Recentemente, esse e outros experimentos do mesmo tipo foram repetidos com pacientes
que possuiam uma les&o no cértex pré-frontal. Seis deles foram escolhidos por possuirem
lesdes causadas por tumores ou por derrames em uma regiao especifica do cérebro que, se
destruida, reduz a capacidade da pessoa de sentir emogdes como empatia, culpa ou vergonha.
Apesar de no sentirem essas emogées, os pacientes possuiam capacidade de raciocinio ¢ uma
inteligéncia normal. O que se observou é que os pacientes com a leso tomavam as mesmas
decisées que as pessoas normais quando as escolhas morais ndo envolviam aspectos
sentimentais muito proximos ao individuo. Assim, nos exemplos acima esses pacientes
reagiram da mesma maneira que pessoas normais no caso do desvio do vagio. Ao contrério
das pessoas normais, mesmo quando a decisdo envolvia pessoas préximas, os pacientes coma
lesdo tendiam a escolher a op¢ao légica. No exemplo da ponte, nao hesitavam em atirar uma
pessoa de 1a para salvar outras cinco. A conclusao desse estudo é que as nossas decisdes
morais sao intrinsecamente dependentes de fatores emocionais, mas que essa influéncia sé
ituagdes muito proximas ao
altera 0 julgamento quando a decis%io moral envolve pessoas ousujeito.
Tal resultado nao ¢ inesperado, afinal a propria Justiga reconhece que 0 julgamento moral
das pessoas pode ser bloqueado quando a decisao envolve pessoas ou situagdes muito
préximas a cada um de nés. O interessante é que pela primeira vez se obtém comprovagao
experimental dessa observagao, inclusive com o mapeamento das regides do cérebro
envolvidas nesses fenémenos. Aos poucos a biologia vai explicando fenémenos mentais que
antes pareciam ser uma exclusividade do campo da filosofia.
Mais informagées: “Damages to the prefrontal cortex increases utilitarian moral
judgements”. Nature, vol. 446, p. 908, 2007.