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-2. Para uma greve ontoldgica We stuckin fala kare ven when wewin we gon'lose estamos retidas em aia lane Mesmo quando ganhamos. pardemss) waren Living at he speed of light Like bullet { coule be dead by the morning [ivenda ne velocidadeds lue como unia bale eu poderia estar mortapelamenhal ONDER Epis6dio 1: Morte lenta/Aceleragaio Eu me lembro de trabathar como se estivesse cortendo, Bu sem- pre tivea impressio de que morreria de repente, acometida de uma forma qualquer de exploséo interna ow arbitrariamente inscrita nas terriveis estatisticas de pessoas dissidentes sexuais edesobedientes de género racializadas que sio alvejadas por bala ou esfaqueadas por nada no Brasil, assim como em vérias outras, partes do mundo, Eu me lembro de trabalhar coma se estivesse correndo. Correndo rumo a uma ilusdo de conforto e estabili- 49 dade, tentarsalvar-me de coisas das quais no posso ser salva, Eeu também lembro de trabathar como se eu pudesse alcancar a velocidade necesséria para cruzar pontes ainda nao erguidas; camo se, correndo, eu pudesse existir entre mundos assimétricos. O trabalho dentro do qual eu estava cortendo, afinal, no 0 tipo de trabalho que meu corpo é encorajada a fazer. O mundo da arte néo é uma geografia na qual sou autorizada a simplesmente acessar, ainda que eu passe por If, s vezes, com tendo, Fscrever, ler, traduzir, performar, criay, falar, pensar em voz alta contra a constante expectativa de falha ¢ erro, contra toda a logica social que institui a brancura e a cisgeneridade, bem como sua presungdo de subjetividade autocstabelecida, como a mais confidvel garantia de acesso aos mundos da arte e da intclectualidade. Eu poderia fazer dessa hist6ria uma ex cepcional nartativa sobre a luta de uma bicha preta por acesso esses mundos, mas ndo estou particularmente interessada em retratar nenhuma trafetéria rumo ao mundo daarte como heroica. Em ver. disso, este texto almeja constituir uma des- crigao do mundo da arte como sendo uma ficgdo naturalizada feita para quebrar subjetividades pretas e indigenas na forma devalor roubado. Eu quero falar quanto aos custos de tal jomnada, uma vez que, no diagrama de dispositivos racializantes que representam, meu. corpo como sendo marcado por uma ferida, eunio existo ‘em uma forma capazde fazer essa jornada sem custos, Eu que- 10 falar quanto aos modos como tendéncias contemporiineas de 50 mercantilizacio exploram de maneira particular presenga de corpos trans ¢ dissidentes sexuais pretos e indigenas dentro do. mundo da arte. Em outras palavras, com este texto eu quero, refletir sobre o valor procuzido por nossas sensibilidades € 0 modo como ele rouhado de nds, fornecendo uma redefinigao. de valor na vida-apds-a-morte do colonialismo e da escravi- dio como algo simultaneamente roubado de e produzidopor nbs. Paraiisso, seria necessdtio redescrever a cisgeneridade ea branquitude como formas de extorsio ontoligica e repensara integridade do sistema de arte contemporanea como um dis- positive irrepardvel voltado 20 consumismo branco e cisgérero, ed exploragio do outro. Como parte da Infraestrutura do mundo como o conhece~ ‘mos, que éa infraestrutura da vida branea e clygénera ela mes- ‘ma, sistemas de arte nao sto separados dos dispositivos socials ‘que reproduzem a situagao critica das gentes desobedientes de género e dissidentes sexuais racializadas. Ao contrario, eles estio situados numa posigao privilegiada, desde a qual pos- sivel determinar (parcialmente, ao menos) os limites do que é pensivel e imagindvel num certo enquadramento de tempo. A emergéncia historicamente disruptiva de discursos, praticas € demandas antirracistas, queer/cuir, feministas e descoloniais, apartir dosanos 1960, definitivamente mudou o horizonte re- presentacional em relagdo ao qual as politicas da visibilidade sc definem. Ainda assim, nio & seguro ler esse processo como serdo linear ou transparente, especialmente se consideramos a 61 lasticidade do capitalismo rac figurar os modos de apropriacio do trabalho de comunidades tacializadas contra essas mesmas comunidades), a onipresenca de formas racial das e genderizadas de aniquilago ¢ 2s con- tradigdes interns 4s formas de distribuigio da violéncia como elementos constitutivos desse processo, Num certo sentido, 0 acesso a circuitos artisticos ¢ inte- Iectuais preocupados com as assim chamadas “politicas da di- vyersidade” est predicado na nossa habil lade em reproduzir até mesmo como posigio ica por meio da qual somos marcadas, Isso significa que tomar-se uma trabalhadora cultural racializada ¢ desobediente de género ¢ um processo sempre ja dinamizado pela reconstitulgto da racialidade como um design global inescapavel, no sentido de que nossa presen- (aesta condicionada por uma demanda de auto-objetificacio positiva, de aeordo com a qual nds devemos sempre enderecar nossa desobediéncia sexual e de género, assim como nossa ra- cialidade como o tema central de nossa expertise. Esse processo pode event ite dar-nos uma posigio dentro do diagrama que constitu sociedades racializadas, mas inevi- tavelmente também res nossa posigiio no marco das lutas histéricas contra a desigualdade que nos trouxeram até aqui, dada a nossa inscrigio contingente em estruturas que foram: primeiramente construfdas contra nés, ¢ que agora esto no processo de atualizagao para “incluin” desigualmente aquelas de nds que estiveram trabalhando como se corressem. ‘A estranha continuidade entre exaustio c imparabilidade opera aqui como um indice das cenas de sujelgo que estéo dis- poniveiss ‘outras” do mundo branco e cisgénero no contexto de cendrios artfsticos hegemdnicos — especialmente se conside- ramos os modos como nossa vida ela mesma, inciuinda sua hi- perdetetminaciio por dindmicas estruturais, trndem a tornar-se ‘uma extensio do nosso trabalho. A imparabilidade (unstoppabi- ) do trabalho trans racializado engendra seus produtos. Ali- ‘menta arquives privados com mercadorias criticas, cria imagens, textos, ideias e sensagdes para o consiimo de audiénciasbrancas ticas em circuitos artisticos; éapropriado por instituigdescomo sinal de “tesponsabilidade social’, “diversidade” e “inclusio’. 4 precisamente na intersecgio entre 0 aparentemente mitado, supostamente desconstrutive campo das mercado- as, ¢ a experiéncia sitiada (hiperdeterminada) de ser quebcada pelo mundo como o conhecemos que minha posigio aqui se articula, Nem como oposigao aos projetos de liberagio do qual descendo, tampouco como contestagio as tradigSes especulativas emergentes que estdo proliferando junto & nossa presenga nesses espacos. Este texto faz, mais bem, uma recon: frontagio com a presumida estabilidade das narrativas de in- clusioe sua dimensio pseudoemancipatoria; é um exercicio de suspeita radical que, no limite, busca preservar 0 espago sideral de nossa imaginagio radical do extrativismo amigavel que ca- racteriza amercantilizagio dos aparatos criticos desobedientes, sexuais ¢ de género racializades pelo sistema de arte, agora, enquanto escrevo este texto — como uma trabalha- dora cultural trans (nao bindria) e negra (de pele clara), ainda sem papéis, migrando desde uma ex-coldnia rumo & Fortaleza Europa (Fortress Europe) ~, eu me sinto tio movida pelo cha- mado feito por autoras como Denise Ferreira da Silva em dire- 40 possibilidade de refigurar a negritude por meio de uma equagio de valor que nos permitiria ir além do texto moderno ede suas graméticas de morte e captura (e rumo a um outro mundo) quanto ptesa na fronteira da violenta socialidade que constrange as vidas dissidentes sexuais e desobedientes de ge- nero racializadas sob a forga restritiva da determinacdo moder no-colonial, Ferida e criativa, procutiva e precéria, igualmen- te apodrecida e triunfante em minha rota de fuga, doente de desespero, e ainda assim mais segura que aquelas para quem. © acesso ao mundo da arte global e& Academia est bloquezdo Por economias de poder estruturais: eu nfo posso senio pensar que a condigao para minha inclusio neste mundo & comprar morte lenta com aceleraciio, Episédio 2: Ansiedade/Intuigao Quando Lauren Olamina, personagem central da série de Pa- rAbolas de Octavia Butler, com cerca de 15 anos e a viver com a familia numa comunidade murada estadunidense em 2025, pressente 0 limite daquele modo de vida, em face do apocalipse 54 em curso, 0 que dispara seu processo especulative €a conjun- io de episédios do presente: tiros e explosdes que se ouvem para ld dos muros; as imagens que ela prépria colheu, quando saiu do bairro com uma comitiva para uma atividade de reco- mhecimento de campo; assassinato de uma crianga com uma bala aleatoriamente disparada contra o portio da comunidades 0s pedlagos de noticia quanto a proliferagdo deuma nova droga que transforma a experiéncia sensorial de assistir aineénd.os numa forma de prazer “mals excitante que sexo’. £ a atuali- za¢do indefinida desses sinais que, na subjetividade sitiada de (lamina, propicia a formulagio de uma futuridade ameagala, perante a qual, no entanto — ¢ essa ¢ a formulagio ética cue eu quero agui evidenciar —, no cabe esperar passivamente Deus émudanga {Cod is change) é a premissa fundaren- tal da teologia experimental que Olamina esta desenvolvendo, enguanta, expectante, prepara-se para o pior. A operacio sub- jetiva performada por ela, situada que esti pelo sentido de ine- vitabilidade da situagio que prevé, faz coincidir seu mergulho cru na economia da ameaca com 2 articulagio de uma densa textura especulativa, capaz de refundar um possivel mesmo dliante do diagrama mais saturado deimpossibilidades. Moldar deus é moldar o destino: dobrar as condigdes, estudaro tempo, a coreografia das forgas e operar sobre o destino como uma escultora que se sabe & partida aquém da matéria sobre a qual trabalha, Através dessa personagem, ¢ ao longo de todaa sétie, Butler desenha a convergéncia de uma forma radicalmente pro- 65 positiva de pessimismo com um otimismoa partida despojado de qualquer investimento na esperanga. ODSM;' que fornece a contengiio textual de ansiedade en- ‘quanto patologia, define-a como “antecipagio deameaga futu- 12”, Em fungiio dessa definigao, a ameaga fundamental posta pela ansiedade seria ade ultrapassaro futuro, dada aintensiva materializagdo de uma Futuridade pessimista na experiéncia do presente. Bm outras palavras, o risco da antecipagio na forma de ansiedade patologizada € precisamente a captura da intuigéo na cela da imaginagdo capturada, sua deteriora- ‘cdo enquanto intuigdo liberada em nome da reprodugio da economia da ameaga como forma tiltima de futuridade so- cial, Mas como poderia a intui¢ao (como ansiedade) romper com tal captura, desmantelando 0 escopo da patologizacio, quando experimentada desde a situacdo interseccional das vidas desobedientes sexuais e de género racializadas — que estdo sempre jé inscritas por violencia no marco da referi- da economia da ameaga? E, como isso redescreveria o riscoe adorinevitével de existir em um mundo que existe contraa nossa existéncia, sem circunscrever cada gesto antecipatério numa economia do desespero? Assim, se a ebordegem do tempo que Butler escreve para (lamina ¢ profundamente dinamizada pelo que 0 DSM chama 1 Diagnestic and Statistical Manual of Mental Disorders — em portugues, Manual de Diagndstico e Estatistico de Transtornos Mentais, 56 ansiedade, esta nfo pode ser circunscrita ao dom{nio atomiza- do do sujeito que a personagem encarna, como um problema do corpo individuado pela légice da patologizagao, Em ou:ras palayras, a ansiedade de Olamina esté predicada numa forma contundente de engajamento social, como prinefpio de leitu- rarealista c, sobretudo, como dispositivo que condiciona sua sobrevivéncia num perfedo posteriormente apresentado como ‘The Apocalypse, ou simplesmente The Pos, Isto mais do que fornecer uma versdo transparente da ansiedade como forma Insuspeitada de satide, problematiza 0 dispositivo patoldgico ele mesmo (e, por extensio, o que quer que chamemos satide), abrindo o cédigo da doenca contra as analiticas cientificashe- gemnicas que o modulam no sentido da reproduc do diag- nbstico em detrimento da gerasio do improvivel como matiria e forca no corpo diagnosticado. Neste ponto, é inevitvel: como uma furia no peito, uma urgincia correndo através de minhas veias, como tim espasmo perpétuo no miisculo principal, ela vird e durard por agora epa- +a sempre, Porque jd estd aqui: o instante impardvel da ansieda- do, 0 né indissociivel do desespero. Ums vez e outra, vibrando apesar daimobilidade, Como uma convulstio no mundo que & também, uma convulsio do corpo, do corpo contra o mundo, do corpo contra © corpo ele mesmo, ¢ do corpo contra o texto. E inevitavel no sentido em que escrever sobre ansiedade com ansiedade énecessariamente uma forma de escreveralém dean- sledadee contra a texto. 97 Esta tentativa de redescrever a ansiedade como um progra- ‘ma contingente d intuigio, © consequentemente aos modos re~ lacionais como mundo (com suas dinamicas de poder e diagra~ mas de forge) € compo (com seus ritmos, marcase sensibilidades situadas) interagem, € inseparvel da vibragdo anslosa que me atravessa. Nao escrevo, contudo, para tentarme salvar da an- siedade, Antes, escrevo para livrar aansiedade de mim, liberé-la da circunscrigio demasiado historica, demasiado posicional da minha subjetividade, para s6 entao liberar as sensibilidades ‘que me atravessam do registro demasiado formal, demasiado hormativo da patologia, fazendo dlelas poro e superficie de con- tégio para a ansiedade como intuigdo voltada para o limite do ‘mundo, ou melhor dizendo: limite da situacio-prablema tenta- tivamente articulada ao longo deste ensaio, que nao é propria- mente apressio contra dissidentes racializadas, masaquilo de que esses sistemasde opressio dependem: ainscrigio arbitréria e cruel da dissidéncia sexual, da desobediéncia de género eda racialidade como ontologias, e no como Forgas. Episédio 3: Fim do mundo/Transigao Em agosto volte! ao Brasil para uma temporada de vinte dias, em que um dos trabalhos que me competia fazer era wma con- feréncla publica no Rio de Janeiro. Cheguei ao espago pouco antes dea fala comecar, ea sala ja estava cheia, Eu ndo me ser 38 tia bem. Os pensamentos vagavam por trim, sem tomar forma, perdendo-se amitide num espago qualquer entre a voz e oin- pulso, Bra uma imobilidade dorida, Palarfot dificil, mas aquele era 0 meu trabalho. Comecei pedindo licenga para gagudar. Entretanto, houve momentos de gagucira bastante ldcidos, em. especial um que me marcou intensamente, Quando, jé préximo ao final da conferéncla, ao tentar provocar uma critica & nego estandardizada de fluiiez de genero que certes aproprlagdes do canone queer no contexto sul-americano parecem reprodvir, eu consegui apenas dizer qualquer coisa como: "O problema conceitual da nogio de fluidez de géneto num contexto de pre- cariedade generalizada... €que...meu géneto.. meu genero no lui. como pode?” Poucos dias antes daquela conferéncia, pela primeira vez, eu havia enunciado, mum contexto social mais ou menos fntimo,a um grupo grande e irregular de pessoas, durante uma festa, a travessia encorpada, afetiva e sensorial em que tenho insistido como programa simultaneamente autodestrutivo ede inven- io. Poucos dias antes daquela declaragio gaguejante quanto Ando fluidez do meu género num mundo contra o qual ew me debato, eu falava sem conter alingua sobre estar em transi ‘Transig&o, Embora consiga desenhar o marco de onde ela par te, como movimento fugitivo — da masculinidade compuls6- ria como projeto arbitrério de inscrigao do fundamentalismo cisgeneto sobre meu corpo e, logo, do projeto moderno-colo- nial-racial de humano —, sigo sem coordenadas quanto aque 89 isso me leva — e assim vou 20s tropegos, abrindo a textura da minha vor & gagueira como politica da enunciagio, Assim como descclonizar, é possfvel que em toda transi- <¢40 haja, mais ou menos implicita, a demanda por um fim de mundo, sem que isso signifique, sendio como promessa, a garan- tia de um mundo a seguir; Articular essa dimensdo negativa, propriamente abolicionista, de todo proceso que se precipita sobre e contra o mundo como nos foi dado conhecer, € parte do necessario trabalho de cuidado que esses processos ensejam Cuidar, aqui, ndo tem uma fungdo reparativa, pols designa, mais diretamente, um trabalho sobre o limite, para o limite, e contra qualquer ideia de cura como retorno ¢ restituicao de ‘coesio ao corpo social. E possivel que fazer transi¢ao, assim como descolonizar, demande uma forma de cuidado que seja solvente, isto é: que fagaa mediagao das coisas que deterioram, acompanhe a duragao da rufna, adense a rachadura do hori- zonte e faga assentar em lava 0 mundo de sentidos, formulas, figuras e obras do poder que toda transigio, assim como toda descolonizagao, demanda que queime. Ni se trata de uma apologia da destruigdo, nem meramen- ‘te de uma pottica da “destruigdo criativa’, mas da formulagio tentativa e arriscada de uma abertura que comporte o que est aguém de toda férmula, cuja passage implica um trabalho contra o trabalho do mundo, um trabalho contra as obras do poder que nao consiste em simplesmente destruf-las para re- crié-las de outra forma ou noutro lugar. Mais precisamente, 60 falo em criar formas continuadas de destruigo, como progra- ‘ma denso de refundagio de toda a superficie do sentido, Pensar a transigio e a descolonizagio em chave abolicionista implica pensar esse efeito e deslocar, de maneira contingente, a questi quanto @ tornar-se, abrindo espago para questdes inteiramente outras, como: “Como desfazer’o que me tornam” e, ainda, ‘co- ‘mo desmontar 0 imperativo de ser” Quando pensada em paralelo com as quest6es que abrem este ensaio, quanto a imparabilidade do trabalho cuir e negro, € & reproducio do regime ontoepistemoldgico em que s6 nossas ‘marcas potlem nos dar consistencla enquanto pessoas, esse cu dado negativo adquire conotagdes politicas, pots interage esira- tegicamente com espacos, situagdes ¢ contextos que solicitam, ‘muito contundentemente, que ocupemos nossas situacdes-pro- blema ontolégicas (ontological predicaments) como condigio par ralutarmos contra os efeitos brutalizantes de poder que deles sedesdobram. Isso implica que, mesma quando parecemos ter, no marco deste mundo, as ferramentas para interromper os ciclos de opressio e violencia que nos inscrevem, estas, em vez de abrir espago para outras emergéncias afetivas, sensoriais, cognitivas, encarnadas ¢ epistemolégicas, devolvern-nos inde- finidamente ao mesmo mundo — A mesma situagio-problema, com outra forma de pesigao. Como, entéo, cuidar dos processos destrutivos, sem pardlos em nome dos ideais de satide, progresso, moralidade, norma: lidade ech ago que constituem a base do texto colonial? a Como cuidar dos processos destrutivos que destituem o hu- mano de seu pddio, como condigéo para desmontar 0 ra como descritor hierArquico? Como eriaras condigdes para uma destruigio sempre mais consistente dos mecanismos que dio pesoe densidade ao fundamentalismto cisgénero, com sua ma quina patoldgica a capturar e reinserever tudo que escapa i norma como condig#o de emergéncia do normal? Finalmente, como integrar tais processos no aparato dinémico ¢ intensivo de preservagio dos germes das gentes ainda sem nomena came das gentes Cujo nome foi negado; como fazer implicar, em cada transigdo que se anuncia, a ancestralidade das gentes cuja terra fol roubada, como poten e semente das gentes cuja terra ainda hé de ser feita? 82 -3. Rumo a uma redistribuicéo. desobediente de género e anticolonial da violéncia "36 porque niohéumaguerrango signifes quehsle pa” MISTICA EM X-MEN APOCAURSE (ante Cena 1: Quem policia a policia? C. morreu asfixlada no porta-malas de uma viatura da Policia Militar de Sao Paulo, A narrativa oficial éa de que ela teria en- trado la por vontade propria, na intengio de roubar algo e eca- bara morta. Segundo um portal de noticias online, a viatura foi reparada, limpae voltouas ras em poucos dias, Ningguém foi responsebilizado exceto C., de 19 anos de idade, que morreuas- fixiada e ti encontraram na traseira da viatura militar, ha o resto roxo eas mos sujas de sangue quando a Um boletim de ocorréncia foi feito contra ela A policia no Brasil é uma das tinicas facgdes criminosas que 6 responsivel pela investigagio de seus préprios crimes, 63

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