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Trabalho Final

Teoria Política Aplicada às Relações Internacionais III

Andressa Mendes de Almeida


Andrey Braga da Silva
Larissa Adão Rodrigues

Niterói
2020
1-
Quando analisamos o liberalismo e suas ideias no que se diz respeito a democracia
embora podemos notar ideias similares, é importante primeiro analisar o ponto de vista
separadamente de cada um dos principais autores.

Ao analisarmos a obra de Tocqueville, O diagnóstico tocquevilleano a respeito das


sociedades modernas afirma que o individualismo inerente ao estado social democrático e o
consequente confinamento dos homens nas esferas da privacidade são produtores de uma
crescente indiferença cívica que constitui o caldo de cultura da emergência de um novo tipo
de despotismo. Em outras palavras, só haverá liberdade democrática onde houver ação
permanente do corpo de cidadãos na esfera pública, Se as “tendências naturais” da igualdade
impelem os indivíduos para o isolamento e a alienação cívica do bem-estar da vida privada, o
combate ao despotismo impõe ao intelectual político a tarefa de persuadir os homens de seu
tempo a participarem da esfera dos negócios públicos como condição da sobrevivência da
liberdade. Percebe-se que o conceito de democracia foi utilizado em dois níveis distintos por
Tocqueville, um histórico-empírico (sociedades históricas que ultrapassaram por um ou outro
caminho as estruturas sociais herdadas do feudalismo) e outro teórico (modelo de ordem
social fundada sobre a premissa da igualdade). A grande obsessão de Tocqueville era a
liberdade e igualdade, suscitando a democracia. “A Democracia na América” publicada em
1835, procura mostrar um processo de igualização presente, ao mesmo tempo em que se
preserva a liberdade; realização da democracia com liberdade. Tocqueville busca um
conhecimento tão amplo do fenômeno democrático de tal forma que possa chegar a um
conceito definidor de democracia, o qual, aliás, trata-se de um processo de caráter universal e
inalienável. Para o pensador francês, a democracia “é universal, durável e todos os
acontecimentos, como todos os homens, servem ao seu desenvolvimento. Querer parar a
democracia parecia, então, lutar contra Deus”. Tocqueville não valoriza as grandes diferenças
econômicas, raciais e culturais presentes nos EUA. Para ele, na igualdade política e cultura,
está assentada sua ideia de que, no desenvolvimento do processo democrático, um povo
tornar-se-á homogêneo. A expressão de uma ideia, uma crença de que os homens são iguais
permite, para ele, desencadear um processo igualitário que não poderá ser interrompido.
Porém, sobretudo a ação política desse povo irá definir se tal democracia será liberal ou
tirânica. A principal preocupação tocquevilleana é a possibilidade de a democracia vir a se
transformar numa tirania da maioria. O processo de igualização crescente pode envolver
desvios perigosos que levariam à perda da liberdade. O trama tocquevilleano é buscar solução
para a questão da preservação da liberdade na igualdade, haja vista que igualdade sem
liberdade seria algo insuportável.

Outro autor essencial de se discutir é John Stuart Mill, para ele o liberalismo despe-se
de seu ranço conservador, defensor do voto censitário e da cidadania restrita, para incorporar
em sua agenda todo um elenco de reformas que vão desde o voto universal até a emancipação
da mulher. A obra de Stuart Mill é um compromisso entre os pensamentos liberais e as ideias
democráticas do século XIX. O fundamento deste compromisso está no reconhecimento de
que a participação política não é, e não pode ser, encarada como um privilégio de pessoas.
Stuart Mill procura dotar o Estado liberal dos mecanismos capazes de institucionalizar esta
participação ampliada. A incorporação dos segmentos populares é, por Mill, a única via
possível para salvar a liberdade inglesa de ser capturada pelos interesses egoístas da próspera
classe média. O voto é uma forma de poder, que deve ser estendido aos trabalhadores. Mill
pretende levar à prática as discussões teóricas do novo liberalismo. As elites culturais vão
mediar o processo de inserção e participação, o voto deles deve valer mais que um, segundo o
autor, nessas questões de disputas e pressões (tomadas complexas de decisões). Diante de
impasses, as elites culturais deveriam decidir o impasse porque supostamente teriam maior
capacidade intelectual e de decisões mais imparciais. As concepções de Stuart Mill para a
sociedade e para o indivíduo têm como base o utilitarismo. Nessa concepção de pensamento,
fundado por James Mill e Jeremy Bentham, a realidade da economia de mercado constitui-se
num paradigma teórico para a contenção dos modelos de sociedade e indivíduos. Homem =
maximizador de prazer e minimizador de sofrimentos; sociedade: agregado de consciências
autocentradas e independentes, cada qual buscando realizar seus desejos e impulsos. O “bom
governo” será aquele capaz de garantir o maior volume de felicidade líquida para o maior
número de cidadãos. Para cada ação política será sempre possível aplicar este raciocínio para
avaliar a “utilidade” de seus resultados. Segundo Mill, o bem estar está assegurado como
critério último para a avaliação de qualquer governo e sociedades, logo não é o mais
importante. Aliás, um conceito básico para o utilitarismo. Mas para Mill, o homem é capaz de
desenvolver suas potencialidades, ou seja, faz parte de sua essência. Nesse sentido, o “bom
governo” será medido pelo “grau em que ele tende a aumentar a soma das boas qualidades
dos governados, coletiva e individualmente”. Funda-se aqui a utilidade da democracia e da
liberdade. O governo democrático é melhor porque nele encontramos as condições que
favorecem o desenvolvimento das capacidades de cada cidadão. Logo, para Mill, o “bom
governo” é aquele que pode aumentar as boas qualidades dos governados e não o medido em
felicidade líquida de fato, haja vista que isso é uma questão extremamente subjetiva. A
democracia demanda auto aperfeiçoamento e isso gera frutos coletivos e melhorias sociais.
Ao aperfeiçoar individualmente (logo caráter mais objetivo) só acontece no plano coletivo, ou
seja, inserido no sistema de indivíduos; enquanto que a melhoria social a longo prazo é mais
subjetiva. Mill não foca na questão transcendental da democracia mas ele não é utilitarista
propriamente dito como seu pai. Por fim, ao analisarmos ambos os autores e suas teorias em
seus devidos contextos históricos e sociais, é perceptível que ambos temem que a democracia
acabe se tornando uma tirania.

2-

Friederich Engels era filho de um industrial, dono de fábrica têxtil e detinha uma
enorme quantidade de dinheiro; viu de muito perto a exploração, a pobreza e as injustiças de
dentro da fábrica do pai dele e ao redor da sociedade alemã e europeia. Durante todas as
mudanças por expulsões de diversos países europeus, fixou-se na França e conheceu
efetivamente Karl Marx - já tinham se encontrado antes na Inglaterra quando Engels publicou
num jornal editado por Marx. A partir desse momento de encontro, tanto Marx quanto Engels
engajaram-se na análise da mazela social e na teorização da revolução, pois viam as revoltas e
os descontentamentos da sociedade europeia pipocando em diversos locais.

A abordagem dos autores em sua obra “O Capital” é baseada no materialismo


histórico, ou seja, a técnica de analisar a História da humanidade via percepções de
transformações econômicas que modificaram as relações sociais e familiares. Tal técnica
também foi utilizada por Morgan, por coincidência, anos depois; por consagração. tal análise
foi denominada como a ‘análise marxista da história’.

A obra de Engels “A origem da família, da propriedade privada e do Estado” é a única


obra realmente autoral de Engels, já numa idade avançada. Explica toda a estrutura
metodológica do materialismo histórico, desenvolvida por Marx e pelo Engels; buscaram
analisar as influências entre a estrutura e a superestrutura.

O modo de produção é o mecanismo de riquezas e tem as relações de produção, ou


seja, a relação é hierárquica: há quem ganha mais e quem ganha bem menos, patrão é patrão e
empregado será sempre empregado. Esse panorama está sempre em conflito, as forças
produtivas estão sempre hierarquizadas; desse cenário de conflitos e de total estratificação,
surgem a consciência a partir da base (proletária). Essa estrutura do modo de produção do
capitalismo avançado é fundamental para influenciar e corroborar com instituições e criar
visões de mundo que fomentem a realidade da exploração capitalista, ou seja, essa estrutura
determina e dá forma para a superestrutura, a qual cria ideologias, legislações e instituições
que fundamentam o pensamento da dominação burguesa. Da base origina-se a nova
consciência de classes, senão ficará sempre num ciclo de dominação.

A estrutura ideológica, por exemplo, transforma-se com o surgimento do capitalismo


mais avançado, como o fortalecimento da burguesia e dos reis e o surgimento de uma nova
interpretação religiosa, o que culmina na reforma protestante. Esses aspectos transformados
são a superestrutura, a qual mantém e legitima a estrutura (determina a super). O modo de
produção cria uma animosidade nas relações de produção, ou seja, o modelo predatório do
proletariado cria uma revolta por conta da hierarquia e opressão. Esse panorama desenvolve e
culmina na tomada de consciência, a qual se dá pela percepção das injustiças hierárquicas e
exploratórias. A práxis genuinamente marxiana fala que a estrutura e a superestrutura
determinam-se e condicionam-se mutuamente sempre, mantém-se num ciclo vicioso; essa
retroalimentação dinâmica é a base construída da dialética marxiana. Para condicionar a
sociabilidade que dialoga com o modo de produção, Morgan também buscou esse quesito em
diferentes momentos históricos da sociedade humana, para entender como o modo de
produção da época modifica e condicionava as relações políticas e sociais.

Três períodos distintos são apresentados por Morgan e explicam a funcionabilidade do


modo de produção e como as relações familiares foram modificadas com o decorrer do tempo
– o estado selvagem, a barbárie e a civilização. Vê-se com o estado selvagem como o homem
apropria-se, exclusivamente, dos produtos da natureza para sua subsistência e, até mesmo,
proteção. Na barbárie, porém, o homem aprimora-se proporcionando o meio de trabalho
necessário para ampliar a produção que a natureza oferece, através da criação de gado e da
agricultura. A civilização é marcada pela evolução do homem em trabalhar com os produtos
naturais, agora com a presença das indústrias e da arte.

Em cada um dos períodos apresentados por ele, é possível identificar diferentes tipos
de relações familiares, começando nas famílias de casamento grupal e avançando ao fim desse
tipo de formação familiar. É interesssante, porém, observar que o surgimento da democracia
burguesa condicionou as conjunturas estatais e familiares a funcionarem a seu favor;
evidencia-se isso ao analisar a diferença entre o modelo familiar burguês e o modelo familiar
do proletariado.
O modelo familiar burguês funciona com a predominância de direitos do homem, visto
como o provedor da casa, enquanto a mulher mantém suas funções domésticas – cuidando da
casa e dos filhos. No entanto, as famílias do proletariado mantêm relações trabalhistas,
incluindo as mulheres e as crianças, o que gera desigualdades e um alto índice de mortalidade
infantil – tudo isso para manter o funcionamento das indústrias com alta produtividade,
enriquecendo cada vez mais as famílias burguesas e empobrecendo as famílias da classe
trabalhadora.

Na obra “18 de Brumário de Luís Bonaparte”, Marx mostra como a sociedade


burguesa na França se apropriou do que já existia com as aristocracias e aprimorou ainda mais
as formas de oprimir as classes “inferiores”. Não há uma diferença, portanto, entre as ações
realizadas pelas monarquias para com seus suditos e as ações da atual democracia burguesa
para com seus cidadãos – o senso de igualdade seria um fator totalmente utópico, pois a
burguesia seria vista como classe superior à classe trabalhadora. É mostrado, também, que
com a ascenção de Luís Bonaparte na França, a burguesia é, praticamente, obrigada a escolher
entre dois extremos para manter seus interesses em vigor; a escolha foi claramente pelo
despotismo, ao invés da anarquia – fator que pode ser observado ainda nos dias atuais, em
muitas democracias ao redor do mundo.

Tanto Engels quanto Marx criticam o sistema de economia burguês e a influência que
este exerce diretamente no Estado, alterando de forma quase que revolucionária nas relações
sociais e familiares. O materialismo está vinculado à burguesia, ainda que ela não o tenha
criado, pois foi com o acúmulo de bens que esta classe chegou ao topo e derrubou monarquias
e aristocracias, tomando o lugar que antes as pertencia. O problema desse sistema está
completamente voltado à exploração das classes subalternas, a qual gera anomalias em toda a
sociedade – fome, alto índice de mortalidade por essas classes não obterem acesso à saúde;
desigualdades; problemas sociais, como o aumento na criminalidade, dentre outros fatores
preocupantes. A expansão das democracias burguesas no mundo alavancaria a perpetuação do
legado deixado pelas monarquias, dessa vez, não somente explorando a mão de obra
escravizada vinda de outro continente, e sim de pessoas de seu póprio país – pessoas essas que
antes se mantinham no campo, mas agora tentavam encontrar uma melhora nas condições de
vida partindo para as cidades construídas pela própria classe burguesa.
Bibliografia:

ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. In:


MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Obras Escolhidas. Volume 3. São Paulo: Alfa-
Omega, s/d. p. 1-65.

FERNANDES, Luís. O Manifesto Comunista e a dialética da globalização. In: REIS


FILHO, Daniel Aarão (org.). O Manifesto Comunista 150 Anos Depois. Rio de Janeiro:
Contraponto; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998. p. 109-119.

JASMIN, Marcelo. Alexis de Tocqueville: a historiografia como ciência da política. Rio de


janeiro: Access, 1997.

MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. O Manifesto do Partido Comunista. In: REIS


FILHO, Daniel Aarão (org.). O Manifesto Comunista 150 Anos Depois. Rio de Janeiro:
Contraponto; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998. p. 7-41.

MILL, John Stuart. A Liberdade; Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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