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2ª Edição

2021
Bahia / Brasil
Copyright © 2021 Bibi Santos
Capa: TG Design
Revisão: Hellen Caroline
Copidesque: Danilo Barbosa
Diagramação Digital: Tati Dias

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
_________________
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios ─ tangível ou intangível ─ sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
AVISO
Saudações amores,
Vamos embarca em mais uma aventura, gostaria de pedir que
leiam todos os avisos antes de abrir esse e-book.
Esse livro pode conter gatilhos emocionais.
Nele contém cenas de violência; sobre abuso; Violência contra a
mulher.
Se não se sente bem com esses assuntos, não leia esse e-book.
Esse livro é ficção, não condiz com a realidade; não foi baseado
em fatos reais;
E voltando a deixar claro que contém gatilhos emocionais, será
escolha sua abre ele mesmo com todos os avisos!
SINOPSE
ESSE LIVRO PODE CONTER GATILHOS EMOCIONAIS.

Isabel Santana não teve uma vida fácil.


Órfã, e com um passado trágico, precisa mentir para consegui um emprego.
Fingir ser mulher do seu melhor amigo é o mínimo, mas não contava com seu
chefe sagaz e interessado.
Pedro é um homem capaz de tudo para ter o que deseja, e nada fica em seu
caminho quando assim decide.
Um empresário famoso, e sem escrúpulos quando o assunto e seu Passarinho.
Nem o fato dele ter um relacionamento misterioso o faz se afasta.
Acaba enredando Isabel em seu plano de sedução.
Um homem intenso;
Uma mocinha procurando recomeçar;
O Ogro e o Passarinho voltam a Amazon;
Nova revisão;
Nova capa;
Mais intenso;
ÍNDICE
AVISO
SINOPSE
HOJE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
A CARTA
EPÍLOGO
PRÓXIMO LANÇAMENTO
BIOGRAFIA
Praticar o amor-próprio e desenvolver este cuidado por si mesmo

pode ser, para algumas pessoas, uma tarefa difícil e um exercício

que exige prática diária.

No entanto, os benefícios psicológicos, de se valorizar e se

respeitar são inegáveis, cruciais para que tenhamos equilíbrio e

harmonia nas mais diferentes áreas da nossa vida, muitas vezes

sendo necessária a ajuda de psicólogo.


HOJE
Sei que depois de contar minha história, vocês vão me odiar. Pensarão
que sou indigna de perdão e deixei-me seduzir. Fui vil, permitindo que os
desejos do meu corpo conseguissem levar a melhor, o desejo fazendo com
que deixasse o raciocínio de lado.
Mas acha que me importo com isso? Se a resposta for sim, então me diz
por que eu não choro nesse momento, cheia de culpas? Pelo fato de que não
consigo me arrepender. Podem me chamar de ordinária… Olhar para mim
com desprezo. Mas se fosse preciso, faria tudo de novo sem hesitar.
Eu me chamo Isabel e amo um homem casado. Além disso, fui amante
dele por seis meses.
Sim, eu sei: sou uma destruidora. Mas só pode me julgar quem nunca
se apaixonou…
O Pedro é o amor da minha vida e, na época, também era meu chefe.
Foi impossível resistir aos olhos verdes e cheios de promessas, a pele
morena, aquela boca maravilhosa…
Só que nunca foi meu, por inteiro. Por isso estou partindo.
Até podia ser diferente. Exigir que ficasse comigo, a termos uma vida
juntos, mas me nego a isso. Existe muita coisa em jogo, e infelizmente nesse
momento ficar sozinha é a melhor solução.
Fadada a ser infeliz.
Como deixei isso acontecer?!
Procuro na memória o exato momento onde as coisas perderam o
controle e não encontro. Vou te contar, portanto, como tudo começou e a
forma trágica com que as coisas terminaram… Quem sabe não me ajuda a
descobrir? Encontrar o exato instante quando deixei me levar pela força do
desejo…
CAPÍTULO 1
Sentia-me mal por mentir, mas precisava desesperadamente daquele
emprego.
Faria qualquer coisa para consegui-lo, é verdade. Até mesmo meter-me
nunca encrenca, como estava naquele momento. Não ia recorrer ao Diogo, ele
já tinha me salvado demais. Já estava na hora de tomar as rédeas de minha
vida, então sim, eu mentiria para conseguir aquele emprego.
— Bom dia — cumprimentei a mocinha que estava na recepção.
Sei o que ela via diante de si. Havia me produzido muito bem para a
entrevista e estava pronta para assumir o papel séria e segura. Beleza sempre
foi um fardo, me causando problemas. Por isso tentava ao máximo passar de
forma discreta. Naquele momento, minhas capacidades que deveriam se
sobressair.
— Tenho uma entrevista de emprego agendada com o senhor Pedro
Fontana.
— Seus documentos, por favor — ela pediu sorrindo. Muito simpática,
por sinal.
— Estão aqui.
— Isabel Santana? Já estão aguardando sua presença no segundo andar,
sala em frente ao elevador. — Devolveu-me os documentos.
Segui até o elevador, tremendo de medo pelo que faria.
Deus, me perdoe, mas preciso deste emprego. Você bem sabe como
anda minha vida.
Depois que o Diogo casou e se mudou para Nova Iorque com o Alan,
prometi a ele que cuidaria de mim. Só que, para falar a verdade, não estava
sendo bem-sucedida na tarefa… Mas ele não precisa saber disso. Meu amigo
merecia ser feliz depois de tudo que passou para me defender, e a qualquer
custo eu sairia empregada daquela empresa.
Entrei na sala indicada e me deparei com um rapaz sorridente e muito
bonito. Loiro, dos cabelos meio compridos, com certeza devia balançar
muitos corações por aí.
— Bom dia! Vim para a entrevista com o senhor Pedro Fontana.
— Isabel Santana? Seja bem-vinda! A dona Cris iria conduzir sua
entrevista, mas ficou doente e por isso o senhor Pedro vai fazê-lo
pessoalmente.
Sorriu e na mesma hora algo me dizia que podia confiar nele.
— Pode entrar, por favor.
— Obrigada.
Assim que atravessei a porta, fiquei congelada por alguns instantes.
Não estava preparada para a beleza do homem que me recebeu. Nunca tinha
visto nada igual. Parecia um gangster, com o olhar mais frio que já vi na
vida.
Anotei mentalmente: ele não é para você, nunca esqueça jamais disso.
Ele me encarou e por um momento percebi que se passava algo ali, um
certo brilho no olhar… Como se, de certa forma, ele também tivesse sentido
algo com minha presença.
Aquilo só podia ser minha imaginação trabalhando. Com certeza!
— Bom dia, sou a Isabel. Vim para a entrevista para o cargo de
assistente pessoal.
Ele apertou minha mão e esse contato foi eletricidade pura. Parecia que
havíamos sido conectados e o tempo parado. Foi desconcertante.
O homem soltou minha mão e quebrou nosso contato, indo até a
poltrona e sentando-se. Acomodei-me diante dele, aparentando uma calma
que não sentia, pois por dentro estava morrendo de medo. Ele não seria
enganado facilmente.
— Muito bem, dona Isabel. Como já imaginou, eu sou o diretor-
presidente da Fontana & Cia e, caso seja aprovada, trabalhará diretamente
comigo. Por acaso sabe qual o nosso ramo de negócio?
— Sim, é claro. A empresa é uma das maiores no ramo de importação e
exportação de produtos minerais da América Latina.
— Na verdade, somos a número um nesse mercado. A vaga requer
muita competência discrição, pois junto com o trabalho vem minha agenda
pessoal e todos os negócios e segredos das negociações. Não tenho tempo,
dona Isabel, a perder com treinamentos. Acha-se apta para a vaga? — O tom
de voz era agressivo e parecia que bem irritado em realizar aquela entrevista.
— Sim, estou perfeitamente preparada para a vaga. — Tentava
empregar em minha voz uma confiança que eu não sentia.
— Posso saber por quê? — Em nenhum momento abaixou o olhar,
parecia que tiraria minha alma. Hesitei por um momento antes de responder e
ele continuou, sem me deixar comentar. — Eu te deixo nervosa?
— Claro que não… Sou capaz de assumir o trabalho, já fiz isso antes.
Se o senhor leu meu currículo, viu que já atuei na mesma função em outras
empresas. — Ele não precisava saber que era tudo mentira o que estava
escrito ali, fiz tudo aquilo com o máximo cuidado. Então restava rezar para
dar tudo certo.
— Muito bem. Seu currículo é ótimo e foi recomendada pela agência.
Sabe que para trabalhar como assistente pessoal de qualquer executivo aqui
da empresa é necessário ser casada e o marido ter ciência de que precisará
viajar algumas vezes?
— Sim.
— O seu marido concorda com isso?
— Sim, senhor. — Comecei a suar frio, o filete descendo por minhas
costas. Só mais essa mentira… — O Diogo sabe de tudo, foi ele mesmo
quem me inscreveu para a vaga.
— Muito bem. Sem problemas em começar hoje mesmo? Passará por
um período de testes. Permanecer ou não dependerá de sua competência. —
Ele olhou para o relógio impacientemente. — Tenho outra reunião agora e o
Gio vai lhe acomodar, além de explicar tudo sobre o trabalho. Seja bem-
vinda, dona Isabel.
Por dentro estava fazendo a dança da vitória. Meu Deus! Nem estava
acreditando naquilo.
Tinha que ir à igreja do Bonfim agradecer pela vitória, e que Ele
perdoasse por todas as mentiras que contei até ali.
— Suponho que a vaga foi preenchida… — Gio comentou alegremente
assim que me viu.
— Sim! Estou tão feliz.
— Acho que vou gostar de trabalhar com você. — Apertou minha mão.
Senti sinceridade naquele gesto. O ser humano era cruel na maioria das
vezes e, dentro dos meus vinte e cinco anos, vi muito disso. Homens,
principalmente, se aproximavam querendo sexo, e quando recusados podiam
explodir a qualquer momento. Mas dava para notar a malícia deles, o que não
acontecia naquela situação.
— Também vou gostar de trabalhar com você.
— Então vamos começar?
CAPÍTULO 2
Já fazia dois meses que estava na empresa, e apesar da dureza do
trabalho, estava aprendendo muito. Não relaxei a ponto de fazer amizades, o
tempo todo policiando meu comportamento. Aquilo era desgastante.
Meu chefe era um verdadeiro ogro, me tratando na maioria das vezes
sem educação nenhuma. Muitas vezes tinha vontade de explodir, mas
respirava fundo — e olhe que foram muitas vezes durante esses meses —, me
lembrando do quanto precisava daquele emprego. Agradecia então a
oportunidade e esquecia tudo que ele fez ou disse para mim, seguindo em
frente.
O senhor Pedro sempre foi um homem poderoso, temido e admirado
por muitos. Raiva à parte, eu ficava encantada em vê-lo em ação no trabalho.
O homem tinha uma mente brilhante e uma presença hipnótica.
Era casado há quase nove anos com a Dra. Lúcia, e apesar das
aparências de casal perfeito, mais pareciam dois estranhos. Pelo que entendi,
tinham um acordo silencioso, no qual ele administrava a empresa que foi
fundada pelos pais dos dois, sócios até se aposentarem, enquanto ela
advogava sem que o marido atrapalhasse ou tentasse contê-la.
A vi poucas vezes, mas quando aparecia por lá, era impossível desviar
os olhos daquela mulher lindíssima, loira, alta e de olhos azuis.
Sempre que ligava, ela falava diretamente comigo, nunca pedia para
contatar o marido. Até mesmo para avisar que ia viajar para algum congresso
e ficaria fora, era para mim o recado. Eu o transmitia depois, e ele só
afirmava que estava tudo bem, sem desviar as vistas dos papéis.
Gente rica era estranha!
Um dia eu me casaria e teria filhos. A partir daquele momento eu me
dedicaria a ser mãe em tempo integral. Cuidaria dos meus filhos, não
deixando outro ser humano tomar conta deles. Contaria histórias e daria
beijos de boa-noite, faria o almoço para minha família, nunca os abandonaria.
Seria uma mulher realizada, exatamente para eles exatamente o contrário do
que fizeram comigo.
Eu aprendia muito rápido e buscava sempre por novidades. Pesquisei
muito sobre a empresa, lia tudo que achava sobre ela. O Gio cuidava dos
clientes e eu do bonitão do chefe. Tomava notas, fazia agenda, levava café,
redigia cartas, cartões, e tinha que lembrar de tudo que era dito, pois depois
ele gostaria de saber.
Era desgastante, mas também muito estimulante. Ele sempre
conversava sobre os contratos comigo e o Gio, nunca nos escondia
informações, confiava em nosso potencial para entender e dar palpite sempre
que possível. No começo ficava calada e só os ouvia, mas depois comecei a
participar das discussões e debates.
Sentia-me viva e útil. Chegava em casa cansada, e logo era banho e
cama. Como não tinha vida social ou amigos, os fins de semana eram um
saco e eu os odiava.
Sempre me vestia de forma discreta para trabalhar. Vestidos de cores
neutras, calças largas, cabelo preso e pouca maquiagem. Sentia-me apagada,
mas precisava manter a fachada e discrição.
Nunca aceitava o convite para cerveja às sextas. Alegava que o marido
me aguardava e tinha de fazer os trabalhos domésticos. O povo me olhava de
forma esquisita, mas respeitava. A imagem que mantinha era a de uma
mulher casada com um marido duro e ciumento, assim ninguém se
aproximava.
Ninguém sabia que nas sextas eu tinha aulas on-line da pós-graduação
em Gestão. Estava me preparando, pois poderia ser descoberta a qualquer
momento, então tinha que melhorar meu currículo.
— Sonhando acordada, Isabel? — Gio chamou a minha atenção.
— Nada. Estava pensando em tudo que tenho que fazer quando chegar
a casa.
— Você devia tomar uma cerveja com a gente, se distrair. Peça um vale
night ao marido e vamos para o aniversário da Milena.
— Você é uma figura! Mas o que é o vale night?
— Não acredito que desconheça essa expressão! De que planeta você
veio? —Começou a cair na risada e o acompanhei.
— Não sei o que é, rapaz. Fale aí, estou curiosa agora.
— É quando o marido ou esposa libera para um sair sem o outro,
sozinhos, com amigos etc. Então você estaria de vale night… — Ele ia
terminar de explicar quando a porta da sala se abriu e o senhor Pedro entrou,
parando diante de nós. Gio engoliu em seco, sabendo que ia tomar uma
esculhambação.
— O senhor conhece a política da empresa, não é? Sabe o quanto
relacionar-se com outros colaboradores é proibido. Portanto, nada de
molestar as colegas.
Tanto o Gio como eu ficamos mudos, a cor fugindo dos nossos rostos.
Estava mortificada com aquela insinuação.
— Mas, senhor, estávamos só conversando. Nossa conversa jamais foi
de cunho de interesse… — defendi, mortificada.
— Perguntei à senhora? Não lembro de ter citado seu nome…
Baixei a cabeça, calada, e contei até dez. Minha vontade era de dar um
tapa na cara dele.
— Muito bem. Acho que ficou entendida a situação. Por gentileza,
dona Isabel, quero um café.
Ele entrou na sala pisando duro. Ia ser um dia difícil e previa chuvas e
trovoadas.
— Desculpa, Gio. Não queria que ele pensasse isso…
— Pare, Isabel. Não tivemos culpa… esqueça. Se não fosse isso ele
arrumaria outra coisa para esculachar a gente. — Gio piscou para mim.
— Verdade. O dia vai ser tenso.
A porta abriu-se abruptamente e ele surgiu no vão.
— Vai ficar mesmo se em dois minutos eu não tiver meu café na mesa.
Gio, os contratos que lhe pedi ontem. Ande logo, rapaz!
Corri para pegar o café e voltei em tempo recorde. Peguei a agenda e
fui para a sala dele. Coloquei o café a sua frente e sentei para passar a agenda
do dia.
— Muito bem. A senhora está aprendendo como as coisas funcionam
por aqui. Não tive a intenção de ser grosseiro com a senhora.
— Entendo… — Tentei manter um tom indiferente.
— Acho que a senhora não entende — ele retrucou. — Essa empresa,
dona Isabel, tem um nome a zelar. Sabe por que só contratamos mulheres
casadas?
Meu olhar sempre fugia para a mão dele, segurando a xícara com
firmeza. Tenho certeza de que os sentimentos dele eram planejados, como
tudo na vida dele. Friamente calculado.
— Não faço ideia…
— Porque não queremos casos extraconjugais por aqui. Houve no
passado muita confusão por alguns chefes, que se envolverem com suas
subordinadas. Depois de abandonada, a moça vendeu informações
valiosíssimas para nosso concorrente.
— Entendo os motivos da empresa ter que se precaver, é um perigo
muito grande, existem muitos executivos interessantes por aqui. — Vi um
arremedo de sorriso em seus lábios com a minha resposta sarcástica.
— Percebo que a senhora tem senso de humor, mas a situação é séria.
Apesar dos executivos não serem galãs de cinema, eles têm o que a maioria
das mulheres deseja: dinheiro e poder. Isso tudo pode ser um poderoso
afrodisíaco para as interesseiras.
— O senhor acredita nisso que acabou de dizer?
— Como assim? Claro que acredito… — Ele me olhava fingindo um ar
de dúvida antes de sorrir mais abertamente. Ficava lindo quando não estava
tão sério.
— Na realidade, eles poderiam muito bem seduzir uma mulher casada.
Seria mais fácil contratar só homens. — Imediatamente me arrependi do que
disse.
— Então, devo demiti-la e contratar um rapaz? É isso?
— Não quis dizer isso… Só estava supondo e mostrando os furos dessa
escolha de somente casadas.
— Entendo. Acredita que corre risco de ser seduzida aqui?
— Eu não disse isso — expliquei, quase gaguejando. — Sou fiel ao
meu esposo.
— Isso é bom. Seu marido tem sorte em ter uma mulher tão dedicada
como a senhora. — Encarou-me com seriedade.
— Obrigada.
— Agora vamos ao trabalho… — O homem parou a frase e me encarou
por um tempo, deixando-me incomodada. — Seus olhos são muito bonitos.
— Ah, obrigada.
— Como está minha agenda para hoje? — Assim ele quebrou qualquer
clima surgido, como não tivesse me elogiado segundos antes.
Proteja-me, meu Senhor do Bonfim! Não precisava de nenhuma
confusão em minha vida.
— Bem, hoje é aniversário de sua mãe… Mandei as flores que o senhor
pediu logo cedo e o jantar de comemoração será às sete.
— Odeio essas festas que ela oferece! Nada mais é que uma forma de
bajular algum político. Ela nem lembra mais da idade que tem. Só comemora
para ter motivo de fazer festa.
— O senhor vai querer comprar algum outro presente?
— Uma joia. Escolha um brinco e avise a minha esposa que terá de
comparecer a esse circo.
Passou a mão no rosto, parecendo cansado. Triste viver de teatro com a
própria família. Ele levantou e foi até a mesa ao lado. Pegou um papel e
voltou, dizendo:
— Tem irmão, dona Isabel?
— Não, sou órfã… — Não daria detalhes sobre minha vida, era
perigoso.
— Sorte sua. A minha família não é nada agradável de conviver.
— Eu queria ter meus pais. Sei lá, mas acho que quem nunca teve quer
saber como é… — Dei um riso sem graça. Era triste não ter ninguém.
— Imagino que sim. Não deve ter sido fácil ter vivido sem um
provedor. Não quis ser indelicado quando comparei minha história com a sua,
mas minha família me deixa com vontade de ser órfão.
— Não diga isso. É difícil viver em lares adotivos, orfanatos, e sempre
descobrir que ninguém te quer. Sempre sentir frio e fome.
— Nem toda família, dona Isabel, faz de sua casa um lar. Nem todo
mundo que tem filhos serve para ser pai e mãe. Nem sempre ter uma cama
quente é sinônimo de amor e segurança.
Aquilo me fez refletir. A minha história não poderia ser base para todas
as histórias do mundo, mesmo porque onde tinha humanos, a dor poderia ser
constante ou não. Tudo depende como levaríamos as coisas. Tentei analisá-lo
com mais calma antes de julgá-lo. Talvez ele fosse mais humano do que
imaginava, mas isso não o tornava menos perigoso.
CAPÍTULO 3
Depois daquela conversa com o chefe – íntima demais para o meu
gosto – algo mudou… Algo mais forte que eu, que acabou me deixando nessa
atual situação. Aos poucos, o jeito que olhava parecia mexer comigo, dava
arrepios… Um e se brotava na minha mente, cheio de possibilidades. Mas eu
sempre dava um jeito de mandar aquilo embora, mudar o foco. Talvez fosse
por conta da minha solidão.
Mas os pensamentos altamente pecaminosos com ele pareciam
aumentar. Graças a Deus ele não podia ler pensamentos.
Meu celular tocou e fui correndo atender. Sempre às sete da noite,
Diogo me ligava.
— Boa noite, amor!
— Olá, minha querida… — Posso imaginá-lo sorrindo ao falar comigo.
— Saudade de você, amore. Está se cuidando bem? Comendo direito…
— Sim, mamãe, estou ótimo e sinto sua falta. — Ele brincou e comecei
a rir. Logo em seguida, falou num tom sério. — Não entendo por que não
quis vir comigo. Fico inconformado com isso, Bel.
— Meu amigo, sou uma mulher adulta e estava na hora deixá-lo viver.
— Isabel, quem disse que não vivia quando estava contigo? Vamos
voltar a ter essa discussão?
— Só se continuar insistindo que eu deveria ter ido para os Estados
Unidos.
— Ok, não está mais aqui quem falou… Como vai o trabalho?
— Bem… Meu chefe é um ogro, mas tudo bem.
— Sei… Bonito, seu chefe? Algum gatinho como colega de trabalho?
— Ai, Diogo. Para!
— As minhas esperanças ainda continuam de pé. Poxa, quero ser tio e
sei que deseja ser mãe.
Nesse momento conseguia visualizar o bico que estava fazendo. Isso
nunca mudava. Tratei então de mudar o assunto para não rolar outra
discussão.
Conversamos um pouco e antes de nos despedirmos, ele comentou:
— Você nunca se lembra de perguntar pelo Alan. Ele vai ficar
magoado com você qualquer dia desses.
— Nós falamos tanto que sempre acabo esquecendo. Mande beijos para
ele.
A verdade era que não gostava dele, apesar de saber que amava o
Diogo. Por isso o tolerava. Ele tinha tanto ciúmes de nós que deixou bem
claro o quanto eu sobrava na vida deles, e precisava libertar o meu amigo.
Sabendo o quanto não era bem-vinda e prevendo uma briga se o Diogo
descobrisse aquilo, resolvi ficar no Brasil e seguir em frente. Depois de tanta
dor, ele merecia esse amor, e seria incapaz de atrapalhar isso. Hoje, graças a
Deus, se tornara um executivo maravilhoso. Valeu a pena o frio e a fome que
passamos para ele estudar. Tinha muito orgulho do meu amigo.
Fui dormir melancólica. Senti saudade de comer pizza com ele e
assistirmos filmes enroscados no sofá, assim como das risadas bobas…
Bons tempos aqueles.

Acordei atrasada e não teria como fazer minha corrida matinal. Comi
um cereal rapidamente e fui para o ponto de ônibus, orando para conseguir
pegar a condução a tempo.
Mas como aquele não era meu dia, o ônibus já tinha passado. Levou
meia hora para passar o próximo, e quando consegui chegar à empresa já
passava das nove da manhã. Entrei correndo e acabei trombando com um
peito forte e braços que me seguraram pela cintura para que não caísse.
Olhei para cima e, morta de vergonha, descobri que era quem?
Ninguém mais, ninguém menos, que meu chefe. Comecei o dia atrasada e
ainda praticamente atropelei meu chefe. O que poderia ser pior?
— Desculpa, senhor Pedro, me perdoe!
— A senhora estava fugindo da polícia? Para onde ia com tanta pressa?
— Para a sala. Meu ônibus atrasou e…
— Seu marido deve ser bem ciumento. — Ele cortou, encarando-me.
— Não entendi… — Fiquei na defensiva.
— Para fazer uma mulher tão bonita usar vestidos tão horrorosos assim.
Essas cores desmerecem sua beleza.
Fiquei olhando para ele, chocada. Ultimamente ele vinha fazendo esses
tipos de observações, no meio das conversas, do nada, sobre a minha
aparência.
— Me perdoe se meu vestido não lhe agrada. — Desvencilhei-me dele
e comentei, bem cínica.
— Hummm… A tigresa tem garras! Calma, não falei para ofender. Só
acho que uma cor faria bem à senhora.
Foi embora, deixando-me no meio do corredor, confusa com aquele
comportamento. Como aquele homem era estranho.
O resto do dia passou sem incidentes. Praticamente fui ignorada pelo
ogro, o que me permitiu relaxar um pouco. Participamos de duas reuniões,
onde anotei todas as informações e depois as descrevi em um relatório.
Mandei por e-mail para todos os envolvidos e interessados. O telefone da
minha mesa tocou, de repente.
— Isabel, em minha sala, por favor.
O Gio me olhou estranhamente, como se soubesse de alguma coisa.
Torci que não tivessem descoberto nada sobre as minhas mentiras.
Entrei na sala apreensiva. Não sabia o porquê, mas estava morta de
medo. Sentei na cadeira diante dele, colocando minha mão no colo para não
perceber o quanto tremia.
— Em que posso ajudar, senhor Pedro?
— Conhece o contrato da Mex, certo?
— Sim. — Fiquei aliviada.
— Então sabe que estamos tentando fechar o contrato com eles, e o
senhor Nil fica de gracinha, inventando desculpas para não assinar.
— Ele foi meio evasivo na reunião passada, pelo que percebi. O que é
muito estranho pelo valor que estamos dando pelo contrato.
— Fico feliz que a senhora tenha entendido. Na realidade, pelas minhas
investigações, o senhor Nil recebeu propina de outra organização para vender
o contrato… Mas isso não é pertinente no momento.
— Que absurdo! Ele merece cadeia! Seus superiores deveriam saber
disso.
— Seus olhos ficam mais intensos quando a senhora está chateada.
— Hummm? Não entendi…
E lá vinha ele de novo.
— Desculpa, só acho intrigante esse seu lado. De calma e passiva, você
se transforma em uma mulher apaixonada em questão de segundos.
— O senhor está me deixando constrangida.
— Como disse: desculpa. Voltemos para o assunto em pauta.
Ele desviou o olhar para um papel que tinha na mão. Calmamente,
como se nada tivesse sido dito. Admirava essa frieza nele, apesar de ter
ficado com o coração disparado.
— Bem, o que o senhor pretende fazer sobre esse assunto?
— Hummm? — Ele me encarou novamente, com um arremedo de
sorriso nos lábios.
— Sobre o senhor Nil!
— Ah, ele é peixe pequeno. Esse fim de semana terá um encontro de
executivos no Rio de Janeiro, em um resort, e lá encontrarei o peixe que
desejo pescar: o dono na empresa.
— O senhor quer que eu faça sua reserva?
Entendi a estratégia dele. O homem tinha uma mente brilhante.
— Sim, e a sua também. A senhora vai comigo. As informações
encontram-se no e-mail que enviei.
Jesus! Nem acreditava que passaria o fim de semana sozinha com o
homem mais lindo que já vi.
Respirei fundo, tentando voltar ao foco. Ele era casado e,
supostamente, eu também.
Aquiesci e levantei-me silenciosamente. Fui até a porta, mas ele me
chamou de volta.
— Ah, Dona Isabel…
— Sim?
— Coloque na mala roupas coloridas e elegantes, por favor.
Abri e fechei a boca, tomada pela raiva, então saí chateada. Bati a
porta.
Como ele se atrevia a me chamar de brega? Sabia que minhas roupas
não eram de última moda, mas eram as mais discretas que tinha.
Que vontade de bater nele!
— Ogro, imbecil.
— Parece que a conversa não foi legal! — Gio me olhava preocupado.
— Ele falou das minhas roupas. Disse que são de mau gosto.
Ele começou a rir descontroladamente.
— Acha engraçado isso?
— Perdão, Isabel, mas ele tem razão. Com todo respeito, é claro.
— Você concorda e ainda se diverte? — Chocada, joguei a minha
caneta na cabeça do Gio.
— Epa! Você é violenta demais.
— Idiota!
— Isabel, você é linda e fica se escondendo por debaixo dessas roupas.
Pelo amor de Deus!
— Eu… Eu gosto, tá?! — Era chocante ouvir certas coisas.
— Tudo bem, mas não deveria deixar seu marido convencê-la a isso.
Não é saudável.
— Meu marido? O que ele tem a ver com isso?
— Suponho que seja quem não a deixe vestir-se diferente. Desculpa,
mas como nunca fala muito dele, e nunca sai ou almoça com a gente,
presumimos que seu marido seja ciumento.
— Presumiram errado — rebati. — Chega! Não vou ficar aqui
discutindo minha relação.
Meu Deus, que encrenca! Eu tentando ser discreta, e acabei levantando
suspeitas sobre meu suposto marido. Isso em nada me ajudava.
Sentei na minha mesa, abri o e-mail e tentei não pensar em tudo que
ouvi. Fiz as reservas em silêncio, sem coragem de olhar para o Gio.
— Poxa, Isabel, desculpa se fui grosseiro. Não precisa fazer voto de
silêncio.
— Tudo bem, só estou trabalhando…
— Estamos de bem? — Ele me olhou sorrindo, com aquelas covinhas
lindas e o dedinho mindinho apontado em minha direção, como uma criança.
Não resisti e dei risada, apertando o dedinho dele.
— Estamos sim.
CAPÍTULO 4
Estava ansiosa para ver a cara do senhor ogro quando percebesse meu
visual mais, digamos, natural. Encontrava-me no aeroporto, depois de
atravessar a cidade de táxi, só o aguardando chegar para entrarmos no jatinho
particular que nos levaria ao Rio de Janeiro.
Sorri secretamente de alegria quando vi o cara entrar pela porta de
embarque antes de engolir em seco. Lindo era pouco para descrever sua
aparência. Diria divino, poderoso, arrogantemente delicioso. Era um perigo
aquele homem andando por ali.
Vestido de camisa azul e calça preta de brim, e — pasmem — All Star
azul nos pés. Estava totalmente informal, com uma pequena mala e outra
pasta de trabalho ao lado. Vê-lo foi como um soco no meu estômago. Como
ficaria um fim de semana inteiro com aquele homem sem babar em cima
dele?
— Bom dia, senhor Pedro.
Ele desviou o olhar para mim e ficou sem palavras por alguns
segundos. Abriu e fechou a boca, parecendo abobado. Pronto! Assim ele
saberia como me senti ao vê-lo, inúmeras vezes.
Caprichei no visual. Quem é a mal vestida agora?
Estava com um vestido floral esvoaçante e chapéu de palha verdinho,
combinando com os detalhes do vestido. Calcei sandálias de tiras e trouxe
uma bela bolsa de lado. A maquiagem estava bem leve, com os cabelos
presos, e o rímel aplicado para deixar o rosto mais expressivo.
— Nossa, Dona Isabel, a senhora está muito bonita, diria até que…
Linda.
— Obrigada.
— Seu esposo é um homem de sorte, com certeza.
Fiquei sem palavras diante daquele olhar intenso. Depois de longos
minutos, resolveu fingir uma tosse e foi até o balcão de embarque.
Fomos em silêncio até o jatinho e fiquei encantada ao entrar. Nunca
tinha visto um de perto, era muito confortável. Foi servido um almoço com
frutos do mar, champanhe… Vida de rico era o máximo! Para variar, o chefe
não tirava o olho do computador, mas até tomou cerveja. Importada, é claro.
Toda hora ele me vinha com uma nova surpresa de sua faceta.
— Tudo bem, dona Isabel? Seu marido reclamou da vinda?
Tomei um susto quando ouvi a voz dele do outro lado da aeronave.
Virei para ele e seu olhar estava pregado em mim, esperando uma resposta.
— Não, ele sabia que ao aceitar trabalhar em sua empresa teria de fazer
essas viagens.
— Muito bem. Sabe, Isabel, se eu fosse seu marido não a deixaria vir.
— Por quê? É por isso que sua esposa não o acompanha?
— Touché, Isabel!
— Não quis ser grosseira ou inconveniente, desculpe-me.
— Tudo bem. Na realidade, minha esposa não gosta dos negócios da
família, só de gastar o dinheiro. Tem seus próprios interesses.
— Imagino.
Mentira. Não sabia como uma mulher não desejaria viajar com seu
esposo para ajudar nos negócios da família. Sem contar que ele era lindo…
— Gostaria que a senhora olhasse uns papeis. Decore os nomes e anote
tudo que achar válido, pois vou precisar de sua mente para lembrar-me dos
detalhes na hora certa.
Peguei então o que me pediu e fui trabalhar. A partir dali não nos
falamos até chegarmos ao Rio. Lá, um carro estava nos esperando e fomos
em direção ao litoral. Uma paisagem mais linda que a outra. Não conhecia o
Rio de Janeiro, mas prometi que voltaria ali para passear.
A perna do chefe encostou na minha e fiquei quente de repente, como
se sua proximidade tivesse um efeito intoxicante. Como poderia estar
interessada em um homem comprometido? Odiava homens que traíam suas
mulheres, aceitando migalhas. Era uma vergonha deitar-se com maridos
alheios. Já vi muitas prostitutas de luxo e sabia do que elas eram capazes para
atrair homens poderosos, destruindo lares para ter algumas roupas e uma
falsa ideia de vida normal. No fim, eles as abandonavam ou voltavam para as
mulheres, alguns arrumavam outras, pois no fundo eles queriam apenas sexo
sem cobranças.
O resort era lindo, um paraíso! Vários carros chegando e saindo,
mulheres e homens belíssimos, tudo muito rico e organizado. Se soubessem
de onde eu vinha, provavelmente me expulsariam daquele local.
— Fecha a boca, dona Isabel! Parece que nunca viu nada igual. É só
mais um hotel.
— Nunca estive em nada parecido.
— Para mim é tudo a mesma coisa.
— Verdade. Já conheceu vários, certo?
— Sim, tive minha cota disso na vida.
— Ser rico deve ser ruim, mesmo. Tomar champanhe, cervejas caras e
muitas bajulações. Realmente…
— Touché para você de novo! Mais uma vez me surpreendendo… Fica
linda quando faz isso.
— Foi uma cantada?
— Não, Isabel, só um elogio. Não me envolvo com mulheres casadas.
— Touché para o senhor! Presunção minha achar isso.
— Por quê? Poderia ser uma cantada, sim.
— O senhor disse…
— Eu disse que não me envolvo com mulheres casadas. Não que te
ache feia ou nada interessante. Sabe qual é sua sorte, Isabel?
— Não… — respondi em estado de hipnose, já que ele me olhava de
um jeito quase indecente.
— Você ser uma mulher casada. Não responderia por mim se fosse o
contrário.
Com essas palavras, caminhou para dentro do hotel, deixando-me ali,
digerindo aquilo tudo. Agora tinha certeza: ele se sentia atraído por mim, e
para piorar toda a situação, eu correspondia.
Na recepção fomos encaminhados aos nossos respectivos bangalôs, que
ficavam um ao lado do outro. Para chegar lá, fomos em um carrinho de golfe,
o que só tinha visto antes nos filmes. O quarto tinha uma vista perfeita para o
mar, como se nele houvesse uma praia particular. Caso eu tentasse nadar nua
ninguém veria, só o senhor ogro ali.
Instalei-me no quarto que era maior que meu apê todinho, com uma
cama maravilhosa no centro. Parecia um lugar para amantes. Pensei em como
deveria ser o quarto do senhor Ogro.
— Senhora Santana, seu pacote inclui: SPA, salão de beleza e alguns
passeios pela ilha. Assim, se desejar alguma coisa é só discar para nossos
atendentes. Os números encontram-se ao lado da cama. Seja bem-vinda.
— Muito obrigada — Falei ao rapaz que nos acompanhou até ali.
— O prazer é todo nosso. Estamos à disposição.
Quando ele saiu do quarto eu me joguei na cama. Nem acreditava que
estava em um lugar daqueles, e, melhor ainda, com tudo pago pela empresa.
Rindo como louca, fazendo a dança da alegria em cima da cama, ouvi
palmas vindo da porta do quarto. Quase caí da cama, mas braços fortes me
sustentaram antes que me esborrachasse no chão.
Mais uma vez.
— Acho que assustei a senhora. Está virando um hábito segurá-la para
não cair — Ele tirou o cabelo do meu rosto. Empurrei-o para longe e fui para
o outro lado do quarto.
— Bem, passei para dizer que vou encontrar alguns conhecidos para
um drink. Espero que esteja bem acomodada.
— Estou sim, gostei bastante.
— Percebi e fico feliz. Tem alguns adicionais no pacote que
compramos, então a senhora pode aproveitar o resto do dia. Vamos nos
encontrar à noite, pois haverá um jantar no qual preciso de sua presença.
Espero que tenha alguma coisa para vestir.
— Pode deixar que providenciarei, senhor — eu fui sarcástica.
Tenho certeza de que ele percebeu. Era mais forte que eu… Aquela
necessidade de bater nele na maioria das vezes, e no resto deste tempo, beijá-
lo. Quer saber? Acho que estou ficando insana.
— Ok. Às sete, no salão de festa.
Saiu, fechando a porta do quarto. Ogro idiota! Ele teria uma surpresa
àquela noite.
— É do salão de beleza? Quero um horário!
Enquanto isso, fiquei um pouco na banheira. Depois, coloquei um short
e top vermelho para conhecer os arredores. Bebi um drinque maravilhoso à
beira da piscina e fiquei com vontade de fazer aula de mergulho. Como não
sabia como seria o dia seguinte, anotei mentalmente para praticar se tivesse
tempo.
Quando estava tranquila aproveitando o sol, uma sombra caiu sobre
mim. Era o senhor ogro, com uma cerveja de nome estranho na mão.
— Sabia que por trás de tanta cor marrom teria uma bela mulher.
— Vou deixar passar, sei que é a bebida falando.
Levantei para sair, mas ele agarrou meu braço. Nesse momento, graças
a Deus, meu celular tocou e na tela apareceu a imagem do Diogo. Ele me
soltou, como se tivesse contraído uma peste, e foi embora.
Suspirei e atendi o celular.
— Oi.
— Oi? Não te dei educação, não, menina?
— Desculpa, Diogo.
— Dia difícil?
— Mais ou menos.
Contei que estava no resort a trabalho e quem era meu chefe, deixando
de fora o detalhe de que nós dois estávamos atraídos um pelo outro.
— Jesus! Como você conseguiu esse emprego, Isabel Santana?
— Pela agência.
— Como? Eles só aceitam mulheres casadas para assistentes pessoais.
— Como sabe disso?
— Não é segredo para ninguém no mercado. Isabel, o que você
aprontou?
Expliquei então tudo que fiz para conseguir o trabalho. Não era boa em
mentir para o Diogo, pois sabia que mais cedo ou mais tarde ele descobriria
— Meu bom Jesus, você é louca… Já pensou na encrenca que se
meteu? Esse homem vai engolir você. Ele é poderoso, Bel, uma máquina no
mercado financeiro. Vai virar uma fera quando descobrir que foi enganado
por uma ladrazinha órfã.
— Poxa, Diogo, você tem que falar assim? Estou construindo uma
vida.
— Mentindo? Enganando? Você acha que tem futuro fazendo isso?
— Ok, o que você queria que eu fizesse? Dissesse para a agência: olha
aqui… tenho vinte e cinco anos e nunca tive um trabalho de carteira assinada.
Obtive meus diplomas em cursos online porque passei anos da minha vida
em um bordel, me prostituindo …
— Não, Bel, você entendeu errado.
— Entendi o suficiente. A gente se fala depois.
Desliguei o celular e coloquei minha cabeça entre as pernas, contando
até dez. Era um exercício que a psicóloga ensinou para me acalmar.
O telefone voltou a tocar. Sabia quem era e me recusava a atender.
Devia demais ao Diogo, mas no momento estava magoada e não teria boas
palavras para ele.
Sabia que eu não era grande coisa. Ouvi, ao longo dos anos, que a única
coisa que me fazia interessante era a beleza. O Diogo tinha visto além disso.
Ele sabia do que eram feitos os meus sonhos.
Fui até meu quarto, meio atordoada. Porém, lembrei no caminho que
tinha horário no salão de beleza e voltei. Fiz tudo no automático, mas
precisava me acalmar, sem hora para crise de pânico. Há anos que não me
sentia assim.
— Senhora Santana?
Olhei para a atendente que se encontrava a minha frente, com o
telefone na mão.
— Sim, sou eu!
— Telefone para a senhora.
Quem poderia ser?
— Alô?
— Bel, não desliga, por favor.
— O que foi, Diogo?
— Perdão! Eu me expressei mal com você e fui cruel, eu sei. Acontece
que eu fico com medo dele te magoar. Somos uma família, Bel, e amo muito
você.
Ele estava chorando e eu comecei também.
— Você me perdoa? Eu sei o potencial que tem, sei que pode ir longe,
mas tenha cuidado. Ele é um lobo.
— Diogo, é só um trabalho. Estou sendo discreta e já tenho mais de
dois meses na empresa, ninguém percebeu nada.
— Eu sei, Bel, mas deixa eu te falar: fique longe dele. Ele é
colecionador de amantes, tem todas que deseja. É um homem frio, sem
sentimentos.
— Ele é casado!
— Sabemos que isso não impede homens como ele de conseguir as
coisas. Vai por mim, a fama dele é lendária.
— Vou tomar cuidado. Ele acha que sou casada com você, então ficarei
segura — garanti, tentando acreditar em minhas palavras, pois sabia que a
atração entre nós já existia.
— Cuidado, Bel. Eu amo você!
— Também te amo!
Desliguei o telefone e o entreguei à atendente.
— Meu marido.
— Ele deve ser um homem incrível. Ligou para o hotel desesperado
para achar você, já que não conseguiu no celular. — Ela disse e todas as
meninas do salão suspiraram.
— Ele é mesmo, e eu o amo muito!
Terminei o cabelo e a maquiagem. Sentia-me linda, e para não estragar
o penteado um carrinho foi chamado para me levar até o bangalô, onde me
troquei. Estava quase na hora do jantar. Escolhi um vestido longo de cetim
verde com algumas rendas ao redor do busto. Parecia um modelo simples,
mas tinha uma fenda na lateral que se abria bem acima da coxa.
Sempre ganhava roupas bonitas quando ia para fora do país. Era
necessário ficar bonita para os clientes.
Estava saindo do quarto quando o carrinho que vinha me buscar
chegou. Sentei e agradeci ao condutor.
O local da festa era um salão enorme, com várias mulheres bem
vestidas ostentando joias que deveriam custar dez anos do meu trabalho.
Muita bebida e comida. Parecia que a nata da sociedade se encontrava ali.
Procurei o senhor Ogro e o avistei ao lado de uma morena muito bela e
um senhor de cabelos grisalhos que, pelas minhas pesquisas, seria o senhor
Josué, dono da Mex.
Como se tivesse sentido minha presença, Pedro se virou e me viu.
Depois de ter passado o susto com a minha mudança, abriu um lindo sorriso.
Nunca o tinha visto sorrir tão espontaneamente assim.
Fui ao seu encontro, me sentindo deslocada com tanta gente rica ao
meu redor. Os homens nem eram discretos ao me encarar, enquanto as
mulheres me observavam com inveja. Mas meu olhar era todo para ele.
O homem estava lindo naquela roupa de gala toda preta, parecia um rei.
Destoava de todos ali, porque exalava poder, atitude e sexualidade.
— Seja bem-vinda, dona Isabel. Gostaria de lhe apresentar ao senhor
Josué, das empresas Mex, e à senhorita Aline, sua filha. Essa é minha
assistente, Isabel Santana.
— Muito prazer. — Apertei a mão do homem e balancei a cabeça para
a senhorita. Mesmo porque ela fez questão de me ignorar.
— Só você mesmo pra trazer uma assistente para uma festa —
comentou a moça, azeda.
— Onde fica sua agência? Quero uma mulher bonita assim para
trabalhar comigo — falou o velho babão, olhando para meus peitos.
— A dona Isabel é extremamente importante para a empresa. Para que
serve uma assistente se não podemos contar com elas? — brincou o senhor
Ogro.
— Verdade, meu rapaz.
O garçom foi passando, peguei uma taça e dei um gole na bebida. A
noite seria longa.
Sorrindo descaradamente, o senhor Ogro piscou para mim. Idiota!
CAPÍTULO 5
Já eram duas da manhã e ainda não conseguia entender por que estava
naquele evento. O sapato estava me matando, já tinha tomado várias
margueritas, fora outras bebidas que nem conseguia lembrar o nome. Sem
contar o monte de ricaços metidos à besta com os quais tive de dançar.
Encontrava-me sentada numa cadeira, tentando mexer um pouco os
pés, enquanto o senhor Ogro estava sentado em uma mesa próxima, falando
com algumas pessoas que nunca tinha visto e, sinceramente, sequer tinha
interesse em conhecer.
Queria era minha cama, urgente.
Isso sem contar o tanto de cantadas que levei, todas ridículas e sem
noção. Por que todos achavam que mulheres sozinhas em festa era sexo fácil?
— Cansada?
Virei e me deparei com o meu chefe sentando-se do meu lado, me
encarando. Aquele olhar me deixava sem graça e desconcertada, pois era
intenso e parecia esconder mil segredos. Ele trazia à tona tudo que eu gostaria
de repelir, e cada vez mais eu tinha a certeza de aquele homem seria minha
perdição.
— Sim, estou. O senhor ainda precisa de mim? — Virei para o outro
lado, doida para fugir dali. Para variar, parecia me ignorar.
— Foi uma noite produtiva. Percebi que a senhora dançou muito e se
divertiu.
— Não tanto o senhor pensa, mas sim…
— Bem… Então, para fechar a noite, falta a minha dança.
Encarei-o de repente e notei a mão estendida. Fiquei na dúvida se
aceitava aquela dança. Desconhecia aquele jogo. Na minha opinião, tinha
deixado claro os meus receios.
— Não mordo, Isabel. Só quando você pedir…
— Acho melhor voltar para o meu quarto.
Com certeza, naquele momento devia estar pegando fogo.
— Você tem medo do quê, Isabel?
— Sou uma mulher casada!
— E quem disse o contrário? O seu marido deixou isso claro para
todos, hoje à tarde.
Fiquei sem entender o que ele queria dizer com aquelas palavras.
— Como assim?
— Quando ele ligou para o hotel insistentemente, à sua procura, é
claro. Parece ser um homem possessivo.
Ah, aquilo…
— Nós tivemos uma discussão, foi isso.
— Imaginei… Ele deve ter medo de perder uma ave tão rara e bela. Eu,
se fosse ele, também teria.
— O senhor não deveria dizer essas coisas.
— Verdade… Mas foi só um elogio. Vamos dançar e dar a noite por
encerrada, tudo bem?
Assenti. Fomos à pista de dança, onde uma música lenta tocava, e
começamos a dançar. Era maravilhoso ter a mão dele ao redor de minha
cintura, a respiração tão próxima, os corpos quase juntos… Mas é errado
desejá-lo. Por isso, prometi apenas guardar na memória aquele momento
mágico. Algo só para mim…
— Amanhã pela manhã vamos tomar café com o senhor Josué.
A voz dele em meu ouvido trouxe-me de volta à realidade. Dei um pulo
e meus pelos se arrepiaram de prazer diante disso.
— Está com frio?
— Não, só foi um vento.
— Imagino. Parece um passarinho assustado.
Para minha sorte, nesse momento a música acabou. Eu apenas me
afastei, à procura de voltar à respiração normal.
— Que pena… Estava adorando dançar com você.
Aquele jeito de me encarar prometia tanta coisa… Era, sem dúvidas,
um homem intenso. O comportamento dele me levava a crer que estava
interessado em mim, e me sentia presa a essa hipótese, desejando algo mais,
lutando contra os meus sentimentos… Era perigoso ficar perto dele.
— Vou para meu bangalô. Boa noite, senhor Pedro.
Falei bem devagar para não gaguejar.
— Boa noite, Isabel. Tenha excelentes sonhos.
Virei e quase saí correndo, apavorada. Sabia que o fato de achar que era
casada o mantinha longe de mim. Mas por quanto tempo?
Assim que fechei a porta, tirei o vestido, tomei um banho e me joguei
na cama, exausta. Acabei esquecendo de perguntar o horário que seria o
maldito café da manhã no dia seguinte. Estava ali à trabalho e precisava focar
nisso, ou pegaria o primeiro voo para longe daquele homem lindo e proibido
Joguei-me na cama com os fones de ouvido, ligando a música no
máximo. Adorava dormir com som, mas naquela noite mal escutei, pegando
logo no sono.
Acordei com batidas insistentes na porta. Levantei ainda bêbada de
sono, com ressaca. A boca parecia que tinha chupado milhares de pregos.
Abri a porta abruptamente, esquecendo-me que usava apenas uma
camisola curta e transparente.
— Desculpa acordar a senhora, mas está atrasada para o café.
Percebi que era o meu chefe ao sentir o calor dos olhos dele
percorrerem o meu corpo.
— A senhora não deveria abrir a porta vestida desse jeito.
— Desculpa, foi o reflexo do sono…
Virei correndo para pegar o penhoar e acabei piorando as coisas,
porque tive que me abaixar para pegá-lo perto da cadeira, deixando parte da
minha bunda à vista. Ouvi-o dar um gemido…
Nem tive tempo de me virar. Logo suas mãos me puxavam para o
corpo dele, tirando a minha razão.
— Não me provoque, passarinho… Respeito o seu relacionamento, mas
temos que ser sinceros que existem uma atração mútua aqui – a voz sussurrou
no meu ouvido, tirando o meu ar.
Ele me virou e a boca domou a minha, a língua me invadindo
possessivamente, meus cabelos puxados com força entre seus dedos. Ele
estava excitado, eu podia sentir na calça dentro roçando em mim, enquanto a
mão passava pela barra da minha camisola.
Com isso saí do transe. Empurrei ele, correndo para o outro lado do
quarto, mantendo distância, mesmo querendo fazer o oposto.
Ele passou a mão no cabelo e apontou o dedo na minha direção.
— Não vou pedir desculpas. Você estava gostando tanto quanto eu.
— Eu nem te convidei a entrar…
— No entanto, abriu a porta. Agora é tarde para arrependimentos. —
Pareceu voltar a si, mostrando o lado frio que tinha no escritório. —Vista-se.
Estarei te esperando no restaurante.
Saiu batendo a porta e fiquei ali, parada, sem saber o que fazer. Tinha
vontade de sumir…
Por que isso tinha que acontecer comigo?
Logo eu, que sempre quis marido e filhos para mimar. Não queria
aquela vida de amante. Era impossível para eu lidar com aquilo.
Corri até o banheiro e tomei um banho rápido. Optei por um vestido
leve de verão rosa com uma fenda na lateral, que se moldava bem à minha
pele. Precisava esquecer aquele equívoco, aquela loucura toda. E aquele era o
traje mais discreto e adequado para a ocasião.
Segui até o restaurante e fui encaminhada pela recepcionista até a mesa
onde os dois homens me aguardavam. Assim que cheguei, ambos se
levantaram para me cumprimentar.
Sentei na cadeira, totalmente sem graça com toda aquela atenção. Pedi
o meu café sem olhar o ogro do meu chefe diretamente. Passei o tempo todo
ouvindo a conversa em silêncio, mexendo na fruta que estava no meu prato,
embora tivesse perdido a fome.
— Minha empresa é referência na área, isso não se contesta…
— Com certeza não me lembro de ter visto sua proposta junto às
outras.
— Deve haver algum engano, pois tive várias reuniões com seu
funcionário.
— Imagino que sim.
— Como sou um homem precavido, e ontem, pela nossa conversa,
percebi que o senhor não tinha conhecimento da proposta, eu a trouxe
comigo. Isabel?
Passei a pasta com os contratos para o senhor Josué, que começou a ler
e fazer perguntas. Respondi a todas calmamente, explicando cada cláusula,
das quais conhecia todos os detalhes, pois estudei na viagem até ali, e antes
mesmo disso, para outra reunião com o funcionário do homem.
— Parabéns, Pedro, que menina brilhante! Vou acabar roubando-a de
você.
— Não faça isso. Dona Isabel é um tesouro e não pretendo deixá-la ir
tão fácil.
Percebi que ele não estava mais falando de trabalho, e sim de nós.
Agradeci ao elogio e me virei para tirar o cabelo preso em meu rosto,
deparando-me com seu olhar diante da minha falsa aliança.
— Vou querer uma cópia dessa proposta. Quero ler e te darei uma
resposta até a hora do almoço — decretou o empresário, levantando-se da
mesa.
— Pode ficar com essa via — avisei. — Vou imprimir as originais e
enviá-las para o bangalô do senhor agora mesmo.
— Menina inteligente. Faça isso — falou ao sair da mesa.
— Parabéns, Isabel. Acho que fisgamos o peixe — ouvi ele murmurar
assim que o outro saiu das nossas vistas.
— Creio que sim. Até o fim do dia ele terá assinado.
— Sem dúvida. — Pedro falava olhando para a porta por onde o senhor
tinha acabado de sair.
Levantei, deixando o guardanapo na mesa e pedi licença.
— Tem programa para hoje?
— Se o senhor não for precisar de mim, pretendo participar de algum
passeio com mergulho.
— Fique à vontade… Mas na hora do almoço temos que almoçar com
Josué e a filha.
— Tudo bem. Com licença.
Corri então para fazer a minha inscrição para mergulhar e rapidamente
passei pelo bangalô para colocar um biquíni, louca por aquela experiência.
Logo estava diante do professor. Seguimos de bote até o recife mais
afastado, onde recebemos instruções de como nos comportar na água, e então
colocamos o aparelho. O instrutor era gato e muito simpático. Deu-me toda a
atenção, mergulhou comigo mostrando os corais, além de tirarmos muitas
fotos. Voltamos para a praia perto da hora do almoço.
No caminho para o bangalô, o professor, que se chamava Fábio,
acompanhou-me comentando sobre as aulas e o passeio. Estávamos em meio
às gargalhadas diante de uma de suas experiências quanto às aulas, quando o
senhor Ogro apareceu.
Ele olhou friamente para o Fábio, que sentiu o clima e logo se
despediu, indo embora. Continuei andando e o ignorei completamente. Não
lhe devia satisfação alguma. Estava na minha hora de folga… Mas precisava
ficar longe de encrenca.
— Mais um admirador? A senhora trabalha rápido.
— Não estou entendendo o que quer dizer. — Parei e o encarei.
Quem ele pensava que era?!
— Depois de me beijar já foi pegar o instrutor de mergulho.
— Em primeiro lugar: eu não te beijei. Segundo: não tem o direito de
fazer insinuações maldosas a meu respeito. O fato de ser meu chefe nunca lhe
deu o direito de falar o que bem entendesse.
— Olha, passarinho, vou dizer uma coisa… — Apontou a dedo para
mim, medindo-me de cima a baixo. — O único homem fora seu marido que
pode te olhar com desejo sou eu. Mesmo que negue, já sou dono dos seus
pensamentos. Mesmo que recuse, não consigo pensar em outra coisa.
— Você é louco!
— Pode ser, mas só estamos adiando o inevitável. Quero você,
passarinho, e vou tê-la. E isso é recíproco.
Soltou meu queixo, deu meia volta e foi embora, deixando-me de
pernas bambas.
Fui até o bangalô, entrei fechando a porta com força, e andei de um
lado para o outro. Como havia me metido naquela merda? Estava perdida! O
pior é que, mesmo sendo tão prepotente, havia dito apenas verdades.
Deus! Teria, mais uma vez, que voltar para a vida dos sem teto.
Desempregada? Eu jurei que nunca mais venderia meu corpo, seria
humilhada ou faria alguma coisa que me envergonhasse. Estava apavorada
diante dos acontecimentos, mas já tinha vivido fases piores em minha vida.
Não era um macho cheio de tesão que me assustaria. Ele não destruiria os
meus planos.
Chorei sentada na cama e depois de extravasar meus medos através das
lágrimas, prometi a mim mesma que não iria fugir. Nunca mais.
Coloquei o vestido rosa por cima do biquini e fui almoçar. Ao chegar
em nossa mesa, ninguém estava presente. Sentei e aguardei os demais. Estava
com toda papelada sobre o negócio nas mãos, pronta. Afinal, foi para isso
que fui ali, a trabalho. Era isso que faria.
— Vejo que estamos atrasados …— O senhor Josué foi o primeiro a
chegar, junto da asquerosa filha, usando um vestido que só cobria metade do
traseiro inexistente.
Fui surpreendida pela pasta de documentos jogada por ele diante de
mim.
— Li o contrato e gostei muito da proposta. Não sei por que ninguém a
discutiu comigo antes, mas vou me informar. Já assinei tudo e peço que envie
minha via para o escritório, por favor, na segunda-feira.
— Sim, claro. Providenciarei agora mesmo. — Quando fiz menção de
levantar, ele segurou o meu braço e fez com que sentasse. Era um homem
forte para a idade.
— Não agora. Hoje vamos nos divertir. Temos uma festa à noite e
quero vocês conosco. — O homem parou um pouco, a respiração pesada de
repente. — Estou cansado, acho que vou pedir o almoço no quarto.
— O senhor está bem, papai?
— Estou bem, linda, só cansaço. Coisas da idade…
— Então almoçarei com o senhor. Peça desculpas ao Pedro por nós,
Isabel… — O tom de voz dela era de desagrado antes de ir embora. Com
certeza, pelo olhar, odiou não almoçar com o senhor Ogro.
Resolvi que estava com fome e não ficaria esperando meu chefe chegar
para comer, então fiz o pedido. Uma bela salada de lagosta, já que não estava
pagando mesmo.
— Desculpa a demora… — Ele se aproximando com pressa.
— Já fiz meu pedido — avisei, bem séria, e empurrei os papéis para
perto dele, que os pegou, intrigado.
— O senhor Josué pediu desculpas por não poder participar do almoço,
mas estava cansado e foi almoçar no quarto.
— Ele já assinou? Bem que você disse… — Ele olhava os papéis e
depois desviou o foco para mim. Foi quase um gesto de amante, suave e
desejoso.
— Ele pediu que disponibilizemos uma cópia autenticada na segunda-
feira.
— Tudo bem — ele concordou, pegando minha mão sobre a mesa. —
Isabel, sobre aquela conversa de hoje à tarde…
— Não quero falar sobre isso, por favor. — Interrompi, me afastando.
— Tudo bem. Se esse é seu desejo… — falou, chamando o garçom
para fazer o próprio pedido. — Mas saiba que não retiro nada do que disse.
— Como pode falar assim? Somos casados!
— Tem coisas na vida que são inevitáveis. É como um ônibus vindo
em nossa direção, sem freios.
— Não acredito nessa coisa de destino. As pessoas inventaram isso
para justificar seus atos.
— Não acha que sei a verdade? Está morrendo de tesão por mim! Deve
pensar em nossos corpos se pegando na cama…
— Você é louco. Fale baixo!
— Pensa que desejo isso para minha vida? Foi como um soco a hora
que vi a senhora naquele ridículo vestido cinza, mas eu lhe desejei.
As palavras foram interrompidas pelo garçom, que trouxe nossas
bebidas e meu pedido.
Ele pegou a taça de vinho branco e levou aos lábios, me encarando.
— Não vai ser fácil resistir e confesso que nem tenho mais esse desejo.
— Meu marido vai matar você!
— Morro feliz, mas terei exorcizado esse desejo em mim, porque não
penso em outra coisa a não ser ter seu corpo embaixo do meu, gemendo meu
nome.
Engoli em seco enquanto o desgraçado tomava mais vinho e falava
calmamente, como se tivesse discutindo sobre o clima.
— Realmente não tem respeito pelas pessoas. Vou processar você por
assédio sexual. — Jogando o guardanapo na mesa, levantei para sair,
passando por ele, mas Pedro segurou minha mão com força. Não podia fazer
uma cena, havia várias pessoas olhando.
— Não adianta correr, Isabel. Vou te provar que seremos ótimos na
cama. Depois pago milhões aos meus advogados, vou até para a cadeia se
quiser, mas antes… — Me olhava com arrogância antes de soltar a minha
mão.
Meu coração batia como um tambor. Saí em disparada para a praia,
tirei o vestido e me joguei no mar. Precisava de um banho frio, pois as
imagens dele nu comigo, dos nossos gemidos, do sexo… Tudo invadia minha
mente. Eu tinha que me acalmar.
Sentei na areia e fiquei parada, olhando as ondas. Estava mais calma…
Tinha que traçar um plano para continuar na empresa, mas sem ficar perto do
Pedro. Não podia perder aquele emprego, não agora que estava organizando a
minha vida, pagando minhas contas, comendo direito. Merecia essa
organização, uma vida calma, já tinha sofrido demais.
Deus sabe quanta fome passei, humilhações… Só estava viva por conta
do Diogo. Ele merecia que eu fosse vitoriosa depois de tudo que fez por nós,
após tanta dor. Não deixaria a luxúria me dominar.
— Falando sozinha, gatinha?
O instrutor de mergulho sentou ao meu lado.
— Só estava pensando na vida mesmo.
— Hummm, imagino… Esse lugar lindo deixa a gente pensativo, de
fato.
— Realmente, o lugar é muito bonito. Como vim a trabalho, não vi e
nem curti quase nada ainda.
— Estou de folga hoje à tarde. Precisa de um guia? Posso te mostrar as
coisas que têm por aqui.
— Não sei se devo. Estou à disposição do meu chefe.
— Aquele mal encarado?
— Sim — respondi, dando risada.
— Relaxa. Ele foi para a sala de jogos com um monte de figurões, com
certeza não sai de lá tão cedo. Eles adoram aquela sala.
— Tudo bem, então. Já que estou aqui, por que não me divertir?
— É isso aí!
Segui o Fábio pela praia e foi a melhor coisa que fiz. Maravilhoso o
passeio, ele era um excelente guia. Levou-me para andar no banana boat,
jogar tênis — claro que foi um fiasco total, por que nunca tinha jogado, mas
foi muito divertido —, andamos de lancha pelas pequenas ilhas e tomamos
banho de piscina. No fim da tarde estava exausta e muito contente por ter me
concedido esses momentos.
Perto do bangalô nos despedimos e combinamos de tomar um drinque à
noite, já que seria minha última naquele paraíso.

Coloquei sais na banheira, pedi um vinho e resolvi dar uma de rica


como nos filmes. Entrei, relaxei e acho que até dormi. Não sabia se era
sonho, acreditava que sim, mas minha nuca foi beijada, uma língua deliciosa
entrou em meu ouvido, beijando e soprando. Estava toda arrepiada, sem
vontade de abrir os olhos para o sonho não acabar, tamanha minha excitação.
Tive meus peitos apertados e beliscados nos mamilos, uma língua
começou a lamber e dar leves chupões neles… Já estava gemendo.
— Caralho, quero você! Estou ficando maluco.
Ouvindo aquela voz, dei um pulo da banheira, espalhando água para
todos os lados. Em pé no banheiro, estava meu tormento em forma de
homem.
— Como você entrou e com que direito fez isso?
— Chamei e você não respondeu, por isso entrei. A porta estava aberta,
por sinal.
— Encostada. — Corrigi. — O que não te dá o direito de invadir.
Ele desviou o olhar pelas paredes do banheiro e passou a mão no
cabelo, parecendo desconcertado.
— Desculpa. Quando entrei você estava nessa banheira, nua e molhada,
não resisti. Foi errado, tem razão.
— Sai do meu quarto!
— Esteve onde hoje, fazendo o quê?
— Fui passear… Por favor, saia agora. Preciso me vestir.
— Com quem?
— Não é da sua conta…
Nesse momento meu celular tocou em algum canto do quarto. Peguei a
toalha, me enrolei e fui atender.
— Oi, Diogo. — Olhei para ele, pedindo com o olhar que se retirasse,
mas me ignorou. Sentou-se na cama e ficou ouvindo minha conversa. — Sim,
meu querido, volto amanhã. Creio que depois do almoço.
Conversei amenidades por pelos menos uns dois minutos, quando senti
a minha toalha sendo retirada e jogada longe. Tentei puxar de volta, mas ele
sorriu e segurou meus seios, alisando-os com as mãos. Depois abaixou-se e
assoprou cada um deles
— Estou bem, Diogo. Não gemi, não… De onde tirou essa ideia?
Tentei manter uma distância dele e fui para o outro lado do quarto, mas
foi impossível. Começou a alisar minhas costas com a mão enquanto beijava
minha nuca.
— Diogo, ligo para você amanhã… Estou bem, sim, só tenho um jantar
de negócios agora.
Joguei meu telefone e virei para confrontá-lo, mas acabei perdendo o
equilíbrio e caindo na cama. Aproveitando-se do momento, ele aproximou o
corpo do meu e a boca veio voraz na minha, as mãos ocupando todas as
partes do meu corpo.
Não sei como ele ficou nu, mas nossos corpos se encaixavam muito
bem, pareciam um só.
— Você é minha — ele repetia isso o tempo todo em minha boca.
Desceu, lambendo minha barriga, enquanto o dedo invadiu minha
boceta com precisão.
— Preciso saber que sabor você tem. Sonhei que era de frutas
vermelhas.
A boca foi até o ponto sensível entre as coxas e acho que meus gemidos
foram ouvidos no fim da praia. Enquanto ele lambia e chupava meus clitóris,
eu gemia alto, o prazer vindo em ondas, de forma incontrolável e deliciosa.
— Sim, vem pra mim… Adoro essa boceta gostosa. Você é linda,
passarinho…
— Ai, ai… Não aguento mais. Deus…
— Goze, passarinho, goze para mim.
Seus dedos e língua faziam um trabalho perfeito, me deixando à beira
do abismo. Meu corpo era um arco musical em sua mão. Ele era o mestre
perfeito. Fui jogada do alto da montanha em um prazer indescritível. Juro que
não sabia o que eram orgasmos até então.
Foi uma experiência linda. Depois de beber da fonte do prazer, seria
difícil parar.
Caí na cama saciada e com medo daquilo que surgia em mim.
— Eu sei, passarinho… Você tem medo. Eu também estou…
Ele sentou-se nu na cama e pegou na minha mão. Com a outra,
enxugou a lágrima silenciosa que desceu pelo meu rosto e nem tinha
percebido. Depois se levantou e vestiu a roupa. Sem mais palavras, saiu do
meu quarto fechando a porta silenciosamente.
Abracei o travesseiro e chorei. Pelas mentiras que contei, pelo meu
passado, e mais ainda porque perdi meu coração para o único homem que não
deveria amar.
CAPÍTULO 6
Entrei no bar bem decorado com muitas velas e flores. Decididamente,
aquele era um dia para encher a cara e esquecer os problemas em um copo de
bebida.
Vestia uma saia longa vermelha e uma blusa branca de botõezinhos,
além das sandálias baixas, o cabelo preso em um coque frouxo. Onde passei
no bar recebi olhares maliciosos, mas no momento nem dei importância.
Estava tomada pela vergonha, precisava de uma válvula de escape porque
chorar de nada resolveria.
— Quero uma tequila.
O garçom trouxe, bebi e fiz cara feia. Nunca fui muito fã de bebidas,
pois elas entorpeciam os sentidos e tiravam meu raciocínio lógico. Não
confiava em bêbados, eles eram violentos e pervertidos. Aprendi desde cedo
a não me envolver com álcool e drogas. Na hora em que eram misturados, o
ser humano virava uma máquina perigosa.
— Outra tequila.
— Mais uma para a moça bonita aqui.
Virei e dei de cara com o Fábio.
— Oi, confesso que me esqueci do nosso combinado.
— Imaginei. Por isso segui suas pegadas até aqui.
— Instrutor e rastreador!
— Estou brincando! Um colega disse que te viu a caminho do bar e não
estava com uma carinha nada legal. Pelo que está bebendo, acredito que a
coisa não seja boa.
— Nada… Toma uma comigo?
— Claro, mas prefiro uma cerveja à tequila.
— Como pretendo me embebedar, vou em mais um shot. — Sorri para
o garçom e virei a dose que ele trouxe.
— Outra!
— Cuidado, menina. Está exagerando.
— Não se esqueça de colocar na conta do meu quarto. — Dei o cartão
da hospedagem para ele passar os valores.

Lá pelas duas da manhã já estava totalmente bêbada, mas ainda


chateada porque as lembranças ainda estavam ali, presentes. Dancei na boate,
cantei no karaokê e resolvi pedir uma coisa mais forte, pois a tequila não
estava adiantando muito.
— Garçom, uma dose da bebida mais forte que você tiver.
— Ela não vai querer mais nada, pode fechar a conta.
Virei ao ouvir o som de comando e lá estava o cara que me fodeu,
literalmente, à tarde. De pé na minha frente, tinha as mãos na cintura e cara
de poucos amigos.
— Maldição! Acho que joguei pedra na cruz! O que você quer me
perseguindo?
— Não estou fazendo isso. Vamos para o quarto. Você nem se aguenta
de pé.
— Não vou. Fique bem longe de mim.
— Isabel, pode evitar essa cena?
— Cena?! Olha aqui, mocinho, eu estava aqui, nesse bar, com meu
amigo garçom e VOCÊ veio me atrapalhar…
Batia no peito dele, irritada. Realmente minha cabeça estava rodando.
Precisava sentar, então me joguei no banco mais próximo.
— Meu drinque, por favor — pedi ao garçom novamente.
— Ela não vai beber mais nada. Como disse, pode fechar a conta.
— Eu a levo para o bangalô, senhor.
Fábio estava ao meu lado, segurando-me a mão, tentando me levantar,
e olhava firmemente o Ogro nos olhos.
— Quem te chamou? Como é seu nome mesmo?
— Fábio… Ela estava bebendo comigo.
Achei bonitinho ele tentando me ajudar. Era uma excelente pessoa, mas
isso fechou o tempo no semblante do outro.
— Gosta de trabalhar aqui?
— Sim, senhor.
— Então solte-a agora mesmo ou amanhã não terá mais emprego. Vou
tratar de fazer seu chefe saber que anda entretendo os hóspedes,
principalmente as casadas.
— Não é nada disso. — Ele soltou minha mão e se afastou.
— Você é um grosso! Ele é meu amigo.
— Ele não é pago para fazer amizades aqui, e se você não me
acompanhar por bem, cumprirei minha promessa.
— Você não faria isso!
— Experimente, Isabel.
Irritada, levantei do banco e segui para fora do bar. Estava revoltada.
No caminho para o bangalô, quase não acertei a direção, bêbada
demais. Falava baixinho, fazia promessas relacionadas à faca cega, mutilação
e outras mais.
Ele ouvia tudo e nada dizia, sempre calado e com as feições fechadas.
Abri o bangalô e entrei, me jogando na cama com roupa e tudo.
Senti meus sapatos sendo retirados e o vestido também, mas sem forças
para reclamar. No dia seguinte bateria nele.
Acordei tempos depois, enjoada, e saí correndo para o banheiro.
Maldita tequila! Coloquei tudo que tinha em meu estômago no vaso sanitário,
completamente tonta.
— Vou morrer.
— Não vai. Só acordará mais tarde querendo isso.
— O que faz aqui no meu quarto? Sai! Isso é humilhante.
Notei que estava só de calcinha e provavelmente toda descabelada, com
cara de morta-viva.
— Você não deveria ter enchido a cara, passarinho.
— Não é da sua conta.
— É sim. Você teve bem mais êxito que eu. Tentei me embebedar, mas
não consegui. Só pensava no seu gosto, de como foi bom ter seu corpo junto
ao meu.
— Ai minha cabeça… Estou passando mal.
Joguei minha cabeça no vaso e tornei a vomitar. Não queria ouvir as
palavras dele.
Terminei, exausta e suando frio. Ouvi barulho do chuveiro sendo
ligado, ainda entorpecida pelo efeito da bebedeira, quando fui jogada por ele
debaixo da água fria. Sentei no chão do chuveiro e chorei.
— Vai ficar tudo bem.
Levantei a cabeça e o encarei.
— Não vai. Nada vai ser igual. Somos casados, está errado tudo isso.
Será impossível trabalharmos juntos.
— Veremos quando voltarmos. Agora é a pior hora para discutir tudo
isso.
Ele me enrolou na toalha e levou-me para a cama, enxugando com todo
carinho. Em seguida fui deitada na cama e coberta com muita calma.
Senti o sono me levar, muito cansada para reclamar. Senti que uma
nova fase se iniciava na minha vida e estava apavorada.
Acordei com uma dor de cabeça terrível. Gemi ao tentar levantar e
colocar os pés no chão. Procurei o chinelo e não achei. Virando na cama,
percebi que ele dormia por cima das cobertas, vestido.
— Pedro, acorda! Você dormiu aqui no meu quarto?
— Ah, sim… Pensei que poderia passar mal de novo.
Ainda sonolento, levantou e foi ao banheiro, super à vontade em meu
quarto. Sentia-me uma idiota por achar que ele ficava lindo todo bagunçado.
Voltou, calçou o sapato e pegou o casaco. Continuei deitada, olhando
para ele, muda, sem ter o que comentar.
— Vamos tomar o café aqui mesmo. Duvido que suporte cheiro de
muita comida agora. Preciso tomar um banho e já volto.
Saiu como se fosse meu dono, organizando minha vida. Porém, ele
tinha razão. Eu não suportava nem pensar em comida.
Arrastei-me até o banheiro, tomei banho e coloquei um vestido leve,
floral. Estava me sentindo uma merda.
Tomei dois analgésicos para dor de cabeça, e ao sair na varanda,
deparei-me com uma bela mesa de café arrumada, com frutas, sucos, geleia,
torradas e algum tipo de líquido verde.
E sentado, parecendo bem relaxado em sua roupa branca, o senhor
Ogro. Joguei-me na cadeira vazia, sem vontade de bater papo.
— Tome um pouco dessa vitamina que mandei preparar. Depois disso,
vai se sentir melhor.
— O que é isso? Parece vômito de lagarto!
— Já viu um lagarto vomitando? — Olhei para ele com cara de poucos
amigos. — Beba. Vai ver que ajuda com a ressaca.
— Obrigada pela preocupação.
— Você fica bem azeda quando está ruim, hein?!
Fingi que não estava ouvindo e terminei de tomar a meleca verde
musgo, horrível, por sinal.
— Parece que você não tem o costume de beber muito — comentou
ele, passando geleia na torrada, bem à vontade. Se não estivesse com tanta
raiva teria achado a cena linda: ele, o mar ao fundo, tomando café na varanda
do meu quarto.
— Esse é meu segundo porre na vida. Perdão se não me ensinaram a
beber.
— Segundo? De que planeta veio? Não teve adolescência?
— Viemos de mundos diferentes. Não tive tempo de ser adolescente e
sair para ser rebelde com os amigos ou beber todas.
Ele me olhava intensamente, parecia que desejava desvendar minha
alma.
— Eu era muito doente e órfã. Para fugir do juizado e não ser mandada
para orfanato, Diogo e eu fomos morar em um prostíbulo… Era melhor do
que qualquer instituição pública que não protege ninguém…
— Conhece seu marido há muito tempo, então.
— Diria que desde sempre. Fomos adotados juntos pela mesma família,
ele com cinco e eu com dois anos, mas não nos encaixamos nos padrões de
perfeição que eles queriam. Por isso nos mandaram de volta para o abrigo.
— Por que isso?
— Nem lembro. Era muito pequena, mas o Diogo diz que foi por que a
dona da casa queria crianças modelos para a sociedade e uma que fizesse xixi
na cama não era.
— Hummm… Uma pena para eles, passarinho.
— Por que insiste em me chamar de passarinho?
— Porque você parece uma ave rara, linda e inatingível.
— Acho que já terminei. — falei, de repente. — Vou arrumar minha
bagagem.
— Sabe, queria ficar aqui para sempre. Não gosto de saber que voltará
para seu marido. Isso me consome por dentro.
— O que diz de sua mulher? Ela também estará te esperando.
— Minha mulher é outra história, não vem ao caso no momento.
Voltei e o encarei, cruzando os braços. Não acreditava no que tinha
acabado de ouvir. Ele sempre me surpreendia, e nunca de uma forma boa.
— Você acha que meu marido é um empecilho, e sua mulher não? Ela
não merece respeito? Eu não posso trair, mas você pode?
— Você nunca vai entender como funcionam as coisas em meu mundo,
passarinho.
— Com certeza, e nem quero. Eu pretendo ter filhos e ser fiel ao meu
marido. Sabe aquela coisa de casinha com cerca branca e flores? Pois fui eu
quem escreveu aquilo.
— Uma pena, Isabel, porque você já destruiu isso.
Ele saiu da mesa.
— Idiota!
Arrumei a mala e a levei até a varanda, onde o rapaz colocou tudo no
carrinho de golfe junto com as malas do senhor Ogro. Ele estava sentado no
outro, olhando seus e-mails através do iPhone. Fez questão de me ignorar, o
que era ótimo, porque nada tinha a dizer.
Fomos até a recepção e a conta foi encerrada, nossas bagagens postas
dentro de um carro preto. Seguimos para a capital e toda viagem foi feita em
silêncio. No jatinho ele fez questão de sentar em uma poltrona bem longe da
minha.
Ótimo! A loucura de fim de semana tinha passado. Graças a Deus,
assim poderia esquecer também e seguir em frente.
Estava exausta, a ressaca ainda me deixava com um pouco de dor de
cabeça. Coloquei o fone e comecei a ouvir música, trabalhando em meu
computador de mão. Acho que adormeci, pois acordei quando já estava
aterrissando em Salvador.
Fiz questão de pegar um táxi para casa e ele pareceu não se importar.
Pagou meu táxi e entrou no carro dele. Meu coração ficou triste por sua
frieza, mas era para estar aliviado. Eu havia me apaixonado, mas precisava
superar e esconder bem meus sentimentos.
CAPÍTULO 7
Na segunda-feira encontrava-me pisando em ovos. Não só eu, mas
todos do escritório. O senhor Ogro estava insuportável, e já tinha
esculhambado quase todo mundo. Se recusara a olhar na minha cara, mesmo
quando fui repassar a agenda. Respondeu com resmungos e monossílabos, e
praticamente me colocou para fora do escritório.
— O homem parece muito nervoso… — Gio foi o primeiro a comentar,
logo após do meio-dia.
— Verdade. Coitado de quem cruzar o caminho dele hoje.
— O que houve nesse fim de semana com vocês? — Ele olhava para a
tela do computador, tentando disfarçar. Como responderia a essa pergunta
sem levantar suspeita?
— Na realidade, fechamos um contrato milionário. Não faço ideia
porque está zangado assim.
— Concordo com você. Deve ser briga em casa com a mulher.
Quando ouvi aquilo, a curiosidade aumentou.
— Eles não parecem um casal de brigas… — Tentei soar
despretensiosamente.
— Nem parecem um casal, isso sim! — rebateu. — Sem conversas,
nada de viajar juntos… Imagina as coisas que interessam…
— Estranho, não é? — Estiquei-me para ver se ele sabia de mais
alguma coisa.
— Ricos são assim, casam só para garantir a herança e depois dormem
com quem querem. Essa coisa de casamento aberto está na moda desde que
mundo é mundo.
— Eles dormem com outras pessoas? Nunca imaginei!
— Claro! O senhor Pedro já teve mais amantes que alguns famosos.
Acabamos dando muita risada, sem nos contermos. A porta da sala se
abriu de repente e Ogro entrou pisando duro, batendo a porta.
— Essa semana vai ser fogo — Gio resmungou e piscou para mim.
O resto do dia passou se arrastando, muito tenso. Cada vez que um de
nós era chamado na sala do Ogro, ficávamos apavorados.
Já eram quase cinco horas da tarde e estava sentada na minha mesa,
analisando um contrato de parceria com uma empresa de Curitiba. Pegaria a
assinatura do chefe no dia seguinte, porque de boa vontade não entraria
naquela sala.
Quase na hora de ir embora o interfone tocou.
— Dona Isabel e Gio, aqui dentro agora! — exigiu nosso chefe.
— Eita! Uma hora dessas? Jesus, o que fizemos dessa vez? — Gio
revira os olhos e repousa a cabeça na mesa.
— Melhor ir lá saber, certo? — Olhava para a porta fechada, tensa.
Seguimos de cabeça baixa até a sala do chefe e fomos convidados,
friamente, a nos sentarmos nas cadeiras diante dele.
— Como vocês dois já devem ter percebido, de alguns meses para cá
muitos de nossos contratos foram desviados. Dona Isabel, mesmo, num outro
dia, achou estranho que algumas empresas alegaram a falta de recebimento
— explicou, cruzando as mãos e nos encarando friamente. Meu estômago deu
uma embrulhada. — Na reunião de hoje com alguns acionistas chegamos à
conclusão de que temos um espião dentro da empresa.
Prendemos nossas respirações. Será que ele achava ser um de nós dois?
— Por isso, preciso ter alguém de confiança no setor de contratos. A
partir de hoje, Gio será o meu assistente pessoal, e você, Isabel, irá para os
contratos. Será os meus olhos e ouvidos lá dentro.
Assim que ouvi aquilo, tive certeza que foi a forma encontrada para me
colocar longe de seus olhos o dia todo. Sentia-me grata por aquilo, assim não
seria obrigada a pedir demissão.
Ele olhava para mim intensamente, esperando uma resposta sobre o
assunto. Na verdade, estava emocionada, porque sabia que o Gio seria a
pessoa mais indicada para o cargo. Fiquei contente de ver o quanto o Ogro se
esforçava para fazer os ajustes necessários, e ainda valorizar quem precisava.
Respirei fundo, e finalmente respondi.
— Gostaria de agradecer a oportunidade, senhor Pedro. Darei o meu
melhor.
— Não espero menos da senhora. — Senti um pouco de orgulho em
sua voz. — Passe minha agenda ao Gio e amanhã apresente-se ao setor de
contrato.
— Obrigada.
— Dona Isabel, olhos e ouvidos abertos. No primeiro mês vou querer
reunião e um relatório sobre tudo o que ocorrer lá.
— Tudo bem.
— Podem ir. Boa noite. — Levantou e foi até a janela, dando-nos as
costas.
Saímos da sala em silêncio. Fui até a minha mesa desligar o
computador, até que senti a mão do Gio nas minhas costas.
— Estou feliz por mim, mas triste por você… — confidenciou, tocando
em meu ombro e forçando uma risada.
— Sei que você estava batalhando por uma promoção há muito tempo.
— E ganhei, menina. Veja bem. Sendo assistente dele, fica mais fácil
do meu potencial ser percebido e ganharei mais um pouco, porque seu salário
era melhor que o meu.
— Então podemos comemorar!
— Vamos tomar uma cervejinha aqui no bar da frente. Hoje é segunda
e não podemos acordar com ressaca para o primeiro dia nos cargos novos.
Sem desculpas!
Acatei e fomos ao barzinho em frente ao trabalho. Tomamos umas
cinco cervejas. Enquanto conversávamos, ele assumiu que vivia com um
rapaz, mas não estava dando certo, já que o cara era muito violento. Iria se
separar, mas estava sem condições de alugar um apartamento sozinho.
Fiquei pensando que seria bom se eu dividisse as minhas despesas com
alguém, mas como contaria para o Gio que não era casada?
Ele parecia ser um cara legal e sua alegria me faria bem. Não tinha
amigos, só o Diogo e mais ninguém. Nunca fui de confiar nas pessoas, mas
sentia que nele eu poderia.
Daria um jeito de resolver logo essa situação de matrimônio fictício.
Peguei um táxi para ir embora e quando cheguei na porta do meu
apartamento, estranhei ao ver pela fresta a luz acesa e o som da TV ligada.
Já ia ligar para o porteiro, achando que meu apartamento tinha sido
invadido, mas alguém abriu por dentro, me surpreendendo.
— Então a bela apareceu! — Diogo apareceu só de cueca boxer branca,
parecendo muito à vontade, como se nunca tivesse ido embora. Meu amigo
jogou-se em meu sofá e pegou o controle da TV.
— Seu cachorro! — Briguei. — Achei que meu apartamento tinha sido
assaltado. Tomei um susto! Por que você não me avisou que viria? — Soltei a
bolsa no chão e me joguei em cima dele no sofá, espalhando muitos beijos
em sua bochecha.
— Assim vou ficar excitado, pare com isso.
Ele falava fazendo cócegas em minhas costelas.
Sentei no sofá ao seu lado e me virei para ele, que parecia cansado.
— Voo difícil? — Estava acontecendo alguma coisa, mas sabia que não
me falaria facilmente.
— Mais ou menos. Vim resolver algumas transações da empresa, fico
até sexta. — Bagunçou o meu cabelo, só para desviar o assunto. Ele nunca
curtia quando era o foco das atenções.
— Que bom! Amo tê-lo por perto.
Abracei-o, pois tinha certeza que precisava de carinho. Na hora certa
contaria o motivo de suas aflições.
— Eu sei, Bel. — Ficamos sentados em silêncio.
— Vou tomar banho e fazer alguma coisa pra gente comer. —
Levantei-me do sofá.
— Não precisa. Vou pedir pizza e assistiremos a um filme, como nos
velhos tempos.
— Oba! Vou tomar banho enquanto pede a pizza.
Apesar de alegre, estava preocupada com o Diogo. Ele parecia cansado
e triste, e em nenhum momento falou no Alan. Só podia esperar.
Vestida em um pijama de algodão com desenhos da Mônica, voltei para
a sala e o encontrei sentado no sofá, procurando filmes na TV.
— Pediu a pizza?
— Sim. Estava com saudades desse sofá…
— Só do sofá, hein?! Nem um pouco de mim?
— Não!
Joguei-me nele e fiz cócegas.
— Pare, tá bom, senti sua falta, muitoooooooooo! Pareeee, mulher sem
coração. — Ele era muito fraco para cócegas.
— Muito bem.
— Vamos assistir Os Vingadores, então?
— Eu gosto dessa opção.
A pizza chegou rápido e a devoramos em meio ao filme com muito
refrigerante de limão, o preferido dele. Demos risada do Homem de Ferro, o
meu super-herói preferido.
— Então, por que você chegou tarde hoje? — Voltamos a conversar
quando o filme terminou.
— Estava comemorando minha promoção.
— Como assim, mocinha? Mal chegou à empresa.
Contei como tudo aconteceu, desde o começo. Menos a parte que
estava apaixonada pelo chefe, é claro.
— Nesse mundo ainda tem gente canalha que vende informações do
trabalho? Vergonha de gente assim — ele reclamou, indignado, pois era
muito correto em suas ações no trabalho. Diogo sabia o quanto era difícil
ficar desempregado e não ter comida na mesa.
— Verdade.
— Então, como seu colega viu a promoção? Pelo que entendi ele
queria, certo?
— Gio foi bem tranquilo, ainda saiu comigo para beber.
— Fico feliz, Bel, que você esteja se permitindo fazer amigos. Fico
preocupado com você aqui sozinha.
— Estou bem, meu amigo, nada para se preocupar.
— Estou me separando do Alan — ele finalmente falou, calmamente.
Sabia que alguma coisa o estava incomodando.
Coloquei sua cabeça em meu colo e fiz um cafuné em seu cabelo,
esperando que se abrisse.
— Ele não é o cara, sabe, Bel? Mentiu para mim.
— O que ele fez?
— Nunca gostou de você, nem quer que eu te veja. Acredita nisso?
— Deve haver uma explicação, Diogo. Você não deveria terminar por
conta disso.
Eu gaguejei na hora. Droga!
— Você já sabia… — Ele se levantou e me encarou.
Sim, mas também tinha noção do quanto ele amava o Alan. Diogo tem
uma necessidade de enorme de ficar acompanhado… Amo tanto meu amigo
que nunca ficaria em seu caminho para a felicidade, mesmo que isso nos
magoe ou machuque, Diogo é como irmão para mim e merecer toda
felicidade do mundo.
— O que eu podia fazer? Você merece ser feliz, e não me levar a
tiracolo em sua vida — argumentei, exasperada.
— Foi isso que ele lhe disse?! — Ele já estava nervoso, a veia do
pescoço começando a saltar.
— Diogo, me escute. O Alan te ama e quer você junto dele.
— Não, Bel, ele só ama a si mesmo — rebateu, chateado. — Não vou
largar minha melhor amiga por um pau.
— Para com isso. Me sinto culpada assim, atrapalhando sua vida.
— Por quê? Somos irmãos de alma, Bel.
— Por isso devemos deixar sempre o outro ser feliz — declarei,
segurando minha cabeça entre as pernas e as lágrimas caindo.
— Prometemos nunca nos separarmos, proteger um ou outro… Nunca
quebraria essa promessa por um maluco que se acha meu dono!
— Ele não fez por mal. Apenas ama você.
— Sabe como eu descobri que te odeia?
— Não… — Temia o que estava por vim.
— Sempre que falava de você, ele fechava a cara e desconversava, todo
ciumento. Fui promovido e ele não comemorou comigo, disse que agora eu
não teria mais tempo para ele, parecia arrasado e não feliz pelo meu sucesso.
— Oh, meu amigo… — Abracei-o. Ele precisava dos meus braços e
aconchego.
— Me senti triste, mas relevei. Tenho fotos suas nos meus porta-
retratos que começaram a sumir. Perguntava a ele, e respondia que deveria
ser a menina da faxina que havia mudado de lugar. Ele sempre organizava as
finanças e eu deixava porque sou uma negação nisso.
— Eu sei. Você gastava tudo em refrigerante de limão — brinquei,
tentando desanuviar o clima.
— Bom, o fato é que ele não depositou o dinheiro que mandava para
você todo mês, nenhum centavo.
— Diogo, o dinheiro era para vocês…
— Faço com a minha parte o que quiser. Ele não tinha o direito de
mudar isso. Você não tinha emprego, poderia estar passando fome.
Nunca contaria a necessidade que passei sem o dinheiro dele. Ajoelhei-
me entre suas pernas e o abracei pela cintura, juntos ali por um tempo.
— Eu amo você, Bel. Você é minha irmã, a única família, e não vou
deixar ninguém ficar entre nós. Quem não entende isso está proibido de
caminhar ao meu lado.
— Vocês vão se entender, tenho certeza.
Ele levantou meu rosto e beijou-me a testa, dizendo:
— Não tem volta, Bel. Ele deixou de fazer parte da minha vida.
Ele era muito amoroso e protetor, mas também altamente decidido. Se
ele havia terminado com o Alan, com certeza não voltaria atrás da decisão.
Esse era o Diogo.
Passei a noite rolando na cama, preocupada com essa decisão do Diogo
e pensando em meu chefe. Sei que é errado, mas meus pensamentos sempre
se voltam para ele.
Acordei com cheiro de ovos fritos. Apesar de me sentir culpada,
adorava saber que estávamos juntos outra vez. Sentia falta de Diogo demais,
era minha família e amigo, sem ele ficava sem chão.
— Bom dia, dorminhoca — falou quando entrei na cozinha, ainda de
pijama.
— Você acorda cedo demais.
— Fui correr na praia. Sentia falta de tudo isso, sabia?
— Diogo, você está de volta de vez ao Brasil?
— Ainda não, amore. Ainda não!
Ele se virou para o fogão e continuou preparando o nosso café. Tinha
mais coisas por trás de tudo, mas, como sempre, ele só contaria no devido
tempo.
CAPÍTULO 8
Meu primeiro dia de trabalho na nova função foi intenso. Conheci meus
três colegas de setor, todos muito simpáticos. Fiquei tensa em imaginar que
alguém havia vendido informações ou até mesmo sabotado a empresa. Todos
ali pareciam pessoas incapazes de fazer isso.
A Cris era casada e mãe de dois garotos, com fotos da família por toda
parte. Uma pessoa muito comunicativa, parecia a mãe do grupo.
O João era calado, raramente falava sobre assuntos fora da empresa e
ficava me olhando com desconfiança. Não era mal educado, mas nada
receptivo.
O Henrique era um canastrão, lindo, e sabia disso. Ficava o tempo todo
jogando charme para as meninas do escritório e foi logo me chamando de
gatinha. Tirando isso, era muito calmo e aberto para explicar as coisas.
Era uma equipe pequena, mas gostei do ambiente. Na hora do almoço
já tinha estudado todo o roteiro dos contratos, o que não era difícil. Até o
momento nada justificava uma tentativa de sabotagem.
— Vamos almoçar, gatinha? — Henrique parou ao meu lado, mas antes
que respondesse chegou um buquê de flores da recepção.
— Deve ser o maridão quem comprou. Custou uma grana, porque são
muitas flores — Cris logo comentou. Fiquei desconcertada quando li o
cartão.

Sorte, Passarinho!!!!!

— Quem mandou? — Ela parecia curiosa.


— Não tem nome no cartão, deve ser o Diogo. Ele ama me fazer
surpresas…
Pedi licença e fui procurar um vaso para colocá-las na água.
Por que ele tinha feito aquilo? Nem um telefonema para perguntar
como estavam as coisas. Homem estranho! De qualquer forma precisava
agradecê-lo, por isso liguei para o número pessoal.
No terceiro toque ele atendeu.
— Bom dia. Gostaria de agradecer pelas flores — falei baixinho,
olhando para os lados, com medo de alguém perceber a conversa.
— Não precisa agradecer, passarinho. Pode parecer loucura, mas sei
que fiz a coisa certa.
— Eu concordo. Foi melhor assim.
— Estou sentindo falta até do seu vestido cinza… — Ele suspirou do
outro lado da linha.
— Não estou de cinza hoje.
Nem sei por que falei isso.
— Qual a cor de hoje? — Pela voz, notei que estava sorrindo.
— Azul claro. O Gio não ia gostar que eu aparecesse no meu primeiro
dia em o novo cargo com o vestido velho — esclareci, sorrindo.
— Você ficou muito íntima do Gio. — A voz foi firme. Parecia
ressentido por minha amizade.
— Ele é meu amigo e é gay. — Não deveria ter dito isso também.
— Eu sei, mas tenho ciúmes mesmo assim, passarinho. Queria que
sorrisse comigo como faz para ele.
— Pode parar, por favor?
— Como evitar te desejar? Parece uma doença.
— Vou desligar. Só liguei para agradecer pelas flores.
Fiz com um sorriso nos lábios. Era loucura, mas adorava ser chamada
de passarinho. Sentia como se fosse um segredo só nosso.
João falou da mesa, tirando-me dos devaneios.
— Isabel, tem alguém na recepção te aguardando.
— Obrigada, João. Deve ser o Diogo, vamos almoçar juntos.
— Poxa, gatinha, hoje é dia dos amigos almoçarem juntos — reclamou
Henrique. A Cris revirou os olhos e ele piscou de volta para ela.
Quando cheguei à recepção lá estava o Diogo, lindo como sempre.
Vestido todo de preto, arrancando suspiros e sorrisos das meninas da
recepção.
— Olá, amor, vamos almoçar? — Beijou-me na bochecha.
— Vamos! Estou azul de fome.
Saímos abraçados e ao chegar no estacionamento para pegar o táxi,
Diogo me cutucou e perguntou:
— Quem é? Está olhando para nós com cara de poucos amigos.
Virei para ver de quem falava, e lá estava o senhor Ogro, dentro do
carro e de óculos escuros, nos encarando. Quando percebeu meu olhar, deu
partida e saiu do estacionamento em alta velocidade.
— Então, quem é? — Tornou a perguntar Diogo, já dentro do táxi.
— Não faço ideia. De óculos ficou difícil saber.
Ele me olhou com cara de quem ia insistir e depois desistiu.
Comemos em um restaurante japonês, comida da qual eu era louca. Dei
muita risada das histórias das viagens do Diogo. Adorava sua companhia.
Terminamos de almoçar e voltamos para meu trabalho. De lá o Diogo
ia para uma reunião em um prédio próximo, o que dava para ir andando, por
isso ficamos conversando até dar meu horário.
— Depois que mudou de cargo se esqueceu de mim, foi? — Gio
apareceu, aproximando-se de nós.
— Gio! Ia te ver hoje, mas ainda não deu tempo. Deixa eu te apresentar
o Diogo.
Os dois se olharam e senti que rolou uma química. Apertaram as mãos
e esqueceram-se de soltar. O Diogo foi o primeiro a se tocar e desprender, e
por dentro dei risada da minha tragédia grega. Meu marido agora iria ser
conhecido por ser gay e estar afim do meu amigo de trabalho. Muita
sacanagem!
— Foi um prazer conhecê-lo. Tenho que ir. — Gio saiu apressado.
Bati no Diogo e mostrei a língua para ele.
— Você tinha que ficar afim do meu colega de trabalho?
— Gostei dele. Tem uma bunda linda… Poxa, Bel, você só tem colega
delícia aqui!
— Sacana, galinha… Agora todos vão dizer que levei chifre porque
você é gay.
— Melhor. Assim acaba logo com essa farsa ridícula e me arruma um
encontro com seu amigo.
— Devo ter jogado pedra na cruz — reclamei, revirando os olhos.
Ele me abraçou e beijou-me a cabeça, dando risada. No fundo, ele sabia
que eu faria o que pedira, se fosse para vê-lo sorrindo de novo.
Despedi-me e segui para o setor do Gio. Precisava resolver aquela
bagunça logo.
— Oi! — Entrei na sala.
— Oi… — Ele se recusava a me olhar.
— Preciso falar contigo. Podemos tomar uma cerveja depois do
expediente?
— Claro, Isabel. Quando sair passo na sua sala.
— Tudo bem, vou te esperar — concordei, já saindo da sala.
A porta da sala do senhor Ogro se abriu e ele saiu de lá com cara de
poucos amigos.
— Posso falar com você, Dona Isabel? — perguntou, já abrindo a porta
e me dando passagem.
— Claro, senhor. — Passei por ele e fiquei esperando no meio da sala,
com a mão na alça da bolsa.
Ele me pegou pela cintura, a boca descendo sobre a minha, de surpresa.
Invadiu-me com a língua e tomou toda a minha energia vital. Não queria
parar. Queria acordar e dormir naqueles braços.
Pedro invadia a boca, as línguas se duelando, os corpos roçando. Sentia
o quanto estava duro, faminto. Gemidos eram ouvidos e fabricados por nós
dois.
A bolsa foi ao chão, minhas mãos seguraram seus cabelos como se
fossem uma tábua de salvação. Estava perdida naqueles braços. Aquele
homem me dominava, era o dono do meu corpo e não sabia como isso tinha
acontecido.
A boca foi até minha garganta, onde ele lambia e beijava.
— Não faz isso comigo de novo! — ele falava entre gemidos. — Você
vai acabar comigo. Estou ficando maluco.
Entre as nuvens de êxtase, ouvi aquelas palavras e me soltei. Fui até a
porta para fugir, mas precisava pegar a bolsa. Retornei rápido e nesse meio
tempo fui agarrada pelo braço, naquele olhar vendo dor e arrependimento.
— Passarinho, larga ele e fica comigo.
— Não posso. Você é casado! — Comecei chorar.
Por que a vida tinha que ser cruel conosco?
— Vou resolver isso, juro, mas nos dê uma chance. — Ele soltou meu
braço e começou a andar pela sala, parecendo um tigre enjaulado. — Quase
passo meu carro por cima dele hoje. Não suporto vê-lo te tocando, seus
sorrisos para ele… Sou um homem violento e possessivo, passarinho.
— Para com essas coisas. É injusto me pressionar assim. É um erro
esse nosso envolvimento e você sabe disso.
Me virei e corri para fora da sala, nem falando com o Gio na saída.
Estava muito abalada.
Entrei na sala e fui direto até a mesa, onde me sentei. Liguei o
computador, tentei trabalhar, mas minha mente sempre voltava para o beijo
que troquei com o senhor Ogro.
Entrei no meu e-mail e lá tinha uma mensagem dele.

Não vou pedir desculpas!

Ele ainda mandava e-mail para acabar comigo de vez. Deus, o que eu
faria para resolver essa situação?
Preferi não responder, mas mais tarde, outro chegou entrou em minha
caixa de entrada.

Estou excitado até agora. Ainda sinto seu gosto na minha boca.

Ah, era demais!

Não basta me perturbar pessoalmente, tem que fazer isso por e-


mail também?
Não tenho culpa se você está na minha cabeça. Quando fecho os
olhos vejo suas pernas abertas em meu rosto. Estou vivendo em um
estado constante de dureza.

Fiquei vermelha com aquela declaração. Como ele podia passar na


minha cara meu momento de fraqueza? Os homens eram uns idiotas!
Não abri mais o e-mail para ver as mensagens. Estava lendo um
contrato que precisava da correção em alguns pontos quando o João entrou na
minha sala e sentou em frente a cadeira. Pelo jeito, ele precisava conversar.
— Preciso de sua ajuda — falou, sério.
— Como posso fazer isso?
— Tem alguns dias que mandei o contrato para o Slat, na Califórnia,
assinar. Como eles não me responderam, liguei hoje para saber e não chegou
lá esse contrato.
— Você mandou pelo Correio?
— Sim, e por e-mail também.
— Como eles podem não ter recebido?
— Não sei, por isso preciso de você. Tem muita coisa sumindo por
aqui.
— Entendo. Esse contrato é muito caro e vai ser um rombo no
orçamento da empresa, sem contar que foram meses para que o senhor Pedro
conseguisse renová-lo.
— Então como vamos resolver isso? — Ficou esperançoso.
— Vamos fazer assim: não conte a ninguém e imprima outro contrato.
Vamos reenviá-lo, mas desta vez por Sedex. Eles têm uma filial em São
Paulo, vou fazer com que isso chegue lá.
— Obrigado, Isabel. Confesso que não devemos confiar em muita
gente por aqui.
— Vamos manter isso em segredo.
— Pode deixar comigo — disse ele, levantando-se da mesa e saindo da
sala.
Quem estava fazendo isso era muito bom e rápido, mas chegaria um
momento que deixaria furos, e nada como uma ex-ladra para pegar um
ladrão.
Mais tarde, com o contrato em mãos, fizemos todo o procedimento em
segredo. Na hora que o carro do Sedex chegou para buscar a encomenda, a
Cris veio até minha mesa, desconfiada.
— O Correio não vem todo dia às dez? — Olhava para o rapaz, que
pegou a encomenda e foi embora.
— Sim, mas hoje tivemos um caso especial que exigia urgência.
— Entendi. Se soubesse teria mandando uma papelada que tem aqui e
precisava ser enviada.
— Amanhã enviamos, pode ser?
— Claro, Bel. Sem pressa.
Saiu da sala com um sorriso, batendo uma revista na cabeça do
Henrique pelo caminho, que se voltou e bateu na bunda dela.
Tudo muito comum para um local de trabalho, mas tinha coisas ali que
não se encaixavam e eu precisava descobri-las.
Peguei o telefone e liguei para quem podia me ajudar.
— Gio?
— Sim, Bel. O que precisa?
— Você tem como marcar uma reunião com o senhor Pedro e o
investigador da empresa ainda hoje?
— Vou olhar a agenda dele e te retorno.
— Ok, amigo.
Desliguei. Tinha um plano traçado na cabeça e com ele em mente
pegaria o traidor.
Perto das três da tarde, o Gio me ligou dizendo que havia conseguido
um horário naquele momento, e que subisse logo, pois o chefe estava no meu
aguardo.
Ainda estava abalada pelo beijo e as palavras que trocamos horas antes,
mas tinha que ser profissional e seguir em frente.
Entrei na sala vinte minutos depois e o investigador já estava lá. Era um
homem careca e de cara amarrada.
Com um sorriso safado na boca, o senhor Ogro me recebeu. Senti
vontade de bater na cara dele, mas me sentei, o ignorando.
— Geovano, essa é Dona Isabel.
— Prazer, senhora — respondeu o outro com azedume.
— Bem, o que gostaria de falar conosco?
Coloquei o plano na mesa, falei todos os detalhes e como achava que
deveria ocorrer a operação.
— Muito bem. Creio que assim vamos conseguir pegar o sabotador —
afirmou o chefe. Seu olhar brilhava de orgulho e me senti feliz que tivesse
percebido potencial no meu plano.
— Muito bem. Posso conseguir tudo que a senhora deseja — Geovano,
depois de um momento, se despediu de nós.
— Vou ficar aguardando seu retorno, então — avisei, apertando-lhe a
mão e o seguindo.
— Dona Isabel, ainda quero falar com a senhora.
Meu Deus! Parecia que fazia isso de propósito!
— Sim? — Virei-me para ele, mas mantive a distância.
— Esqueci de dizer mais cedo que a senhora fica muito bem de azul.
— Só isso? Obrigada por perceber — agradeci de maneira azeda.
— Não seja impertinente. — Ele levantou da mesa e veio até mim. —
Fico muito excitado quando vejo o quanto é inteligente, além de linda. Você
é como um tesouro, passarinho.
— Pare de fazer isso!
— Por quê? Sei que você também me deseja. Acha que vai conseguir
se conter?
— Sou muito forte e não uma demente incapaz de se conter.
— Me ensina? Porque com você me sinto um animal, quero tudo que
tem.
— Está louco!
— Por você. — Mais uma vez sua boca domou a minha, dessa vez sem
presa ou arroubos. Foi um beijo apaixonado, calmo, e assim como começou,
acabou.
— Vá embora, passarinho. Se continuar aqui vou te deitar na mesa. E
nada vai me impedir.
Saí da sala praticamente correndo. Sorte que o Gio não estava por ali,
para não me ver sair de novo correndo da sala do chefe.
Cheguei a minha cadeira sem fôlego, emocionalmente cansada.
Precisava falar com alguém, pois aquela angústia estava me matando.
Tinha duas chamadas do Diogo em meu celular. Retornei rapidamente.
— Diga, meu príncipe.
— Poxa, Bel, você não atende a droga desse celular. Já estava ficando
nervoso.
— Estava em reunião. Alguém pegou fogo, morreu?
— Não, sabidinha. Queria saber como foi com o Gio.
— Rapaz, você não estava sofrendo pelo Alan?
— Águas passadas, Isabel. Fala logo!
— Pronto. Vou conversar com ele em um barzinho aqui na frente do
prédio. Depois de meia hora aparece por lá, como quem não quer nada.
— Passa o endereço do bar por mensagem. Obrigado, Bel. Sei como
isso põe em risco seu trabalho, mas vai dar certo.
— Sim, seu galinha!
CAPÍTULO 9
Chegamos ao barzinho lá pelas sete da noite. Por conta de alguns
assuntos, acabamos nos atrasando para sair da empresa.
Pedimos uma cerveja e ficamos jogando conversa fora, sobre os mais
diversos assuntos. Tomei coragem, pois precisava contar a verdade a ele.
— Gio, preciso te contar uma coisa.
— Pode falar, Bel. Sou todo ouvidos.
— É coisa séria. Posso perder meu emprego se essa informação vazar
na empresa.
— Já estou ficando com medo, Isabel. Deixe esse clima de suspense
para os filmes, pelo amor de Deus!
— É que estou sufocando com essa história. — Uma lágrima escorreu
sem que eu quisesse. Nunca pensei que aquilo me incomodava tanto.
Ele pegou a minha mão e a segurou sobre a mesa, preocupado.
— Eu já sei o que é, Bel. Fico triste por você. Sei como é amar gente
assim.
— O que você sabe?
— Quando olhei seu marido hoje, pensei: a Bel deve ser assim calada,
sempre sozinha, por medo das pessoas descobrirem que o marido é gay.
Soltei uma risada que todo o barzinho virou para me olhar, mas era
impossível parar.
— Isabel, o que é isso? Tá doida? — O Gio me olhava sem entender.
— Desculpa! Mas você se enganou em um detalhe. Eu não sou casada,
ele é meu melhor amigo, quase irmão.
— Como assim? — Colocou a mão no peito.
— Vou te contar, mas promete que não pode espalhar?
— É claro!
Durante meia hora, expliquei tudo que fiz para conseguir o trabalho.
Omiti apenas sobre o meu passado com o Diogo. Isso seria demais.
— Deus! Mulher, você é muito louca! Estou chocado com sua
coragem. Isso pode dar em demissão.
— Por que acha que pedi segredo?!
— Pode deixar, amigos não fazem essas coisas.
Nessa mesma hora, o Diogo chegou. Lindo como sempre, de bermuda
cargo, tênis e uma camisa branca aberta na frente. As mulheres viravam para
olhá-lo descaradamente. Ele era um pecado e o Gio não tirava o olho.
Com certeza esses dois acabariam na cama.
A tensão sexual passou a reinar na mesa, já que os dois estavam
praticamente se engolindo com o olhar. Tomamos várias cervejas antes de eu
resolver ir embora. Estava sobrando ali.
Cheguei em casa e caí na cama. Acordei no meio da noite com um
barulho estranho. Curiosa, levantei e fui até a sala, mas voltei correndo para o
quarto quando percebi que o Gio, o Diogo e outra menina estavam se
pegando no sofá.
Minha curiosidade, no entanto, venceu, e resolvi xeretar novamente. Na
ponta dos pés, voltei para perto da porta e fiquei quietinha, olhando.
O Diogo estava atrás do Gio, enquanto este ficava entre as coxas da
menina, que gemia sem pudores.
A cena era muito quente… Só restava eu voltar para o quarto e meu
vibrador. Fazer o quê…
Pela manhã, encontrei o Diogo cantarolando. Não tinha sinal dos outros
dois, graças a Deus. Assim evitaria qualquer constrangimento. Não perguntei
sobre o assunto, talvez porque ignorasse a minha “visita”.
Tomei café e resolvi vestir uma calça jeans alta, com uma blusa de seda
verde oliva. E saltos, é claro.
Chega de me esconder, decidi. Estava cansada das pessoas ditarem
regras na minha vida… Ou talvez só desejasse que Pedro me olhasse como eu
realmente era.
— Ficou gostosa pra caralho nessa roupa.
— Obrigada. Preciso ir para não me atrasar.
Adiantada vinte minutos, entrei na empresa e fui direto para minha sala.
Senti os olhares em mim conforme passava, mas ignorei. Precisava conviver
com isso. Chega de roupas cinza! Estava farta da falta de cor.
— Bom dia, Isabel! Hoje você está quente — Henrique me seguiu até a
cafeteria.
— Obrigada.
— Por nada, gatinha. Seu marido é um homem de sorte.
— Com certeza… — Pensei por um momento, mas resolvi aproveitar a
ocasião para largar logo a fofoca. — Na verdade, estamos nos separando…
As coisas não estavam indo bem entre nós. Por isso, conversamos e acho que
tomamos a melhor decisão.
Perto de nós, três outras funcionárias pararam descaradamente para
ouvir a conversa.
— Poxa, Isabel, sinto muito. Esse negócio de separação é complicado.
— Como se ele realmente estivesse preocupado com isso.
— Não sinta. Há algum tempo que não estava dando certo.
— Imagino. Mas bola para frente. Uma gatinha como você logo arruma
outro gavião.
— Valeu, Henrique, mas prefiro ficar sozinha. Vocês dão muito
trabalho.
Voltamos para o setor. Tinha certeza de que logo a fofoca se espalharia
e acabaria com essa mentira de casamento. Não suportava mais.
Depois das dez a Cris entrou em minha sala e se sentou na cadeira
diante de mim.
— Soube que você separou — comentou ela. — Quer conversar?
— Obrigada, Cris, mas estou bem. Foi uma decisão a dois.
— Bom assim. Há anos venho dizendo que vou me separar e nunca
tomo coragem. O bom é que você não tem filhos.
— Pensei que tivesse uma relação legal com seu marido.
— É só que meu coração já não está na relação. É complicado, sabe?
— Fico triste em saber, mas é injusto para os dois ficar numa relação
assim. Só faz com que sejam infelizes. A família toda.
— Eu sei… — Parecia que ia dizer mais alguma coisa, mas resolveu
levantar e sair da sala. Passou por Henrique, que piscou para ela, e nesse
momento tive certeza que era dele o coração da moça.
Minutos depois ele foi para a sala dela, onde ficaram conversando. Cris
parecia muito triste. Eu também fiquei pelos dois. Era difícil viver um amor
clandestino, ainda mais com filhos.
Tanto desencontro cansava. As pessoas mereciam ser felizes. Levantei
e fui até a sala de cópias. Aproveitei e no caminho peguei um café. Na volta,
dei de cara com o senhor Ogro na porta do elevador, lindo, de terno e gravata.
Olhou-me de cima abaixo, enquanto eu passava.
Na mesma hora entrou uma mensagem de um número desconhecido em
meu celular.

Você está linda. Vou ter que matar todos os homens desta
empresa. Não quero ninguém olhando para você!

Já sabia de quem tinha vindo aquela mensagem e me recusei a


responder. Não iria de forma nenhuma dar esperanças a uma loucura
daquelas.
Atrevido! Mas ele continuou.
Seu marido verifica suas mensagens?
Respondi, por fim.
Depois que você manda a mensagem é que se preocupa? Quero
que a sua mulher descubra.
É igual a todos os homens! Só presta para trair e nem se importa
com o mal que causa.

Ele ficou sem responder. Assim era melhor. Como alguém pode se
casar, fazer festa e tudo, para depois trair, sem sentimento nenhum de culpa?
O silêncio durou pouco tempo.

Bobagem, Passarinho! A única que é dona dos meus pensamentos


é você.

Quando eu me casasse, pretendia ser fiel e exigir o mesmo do meu


marido. Não aceitava menos que isso.
Trabalhei até tarde, pois tinha que descobrir o porquê dos números do
contrato não baterem. Também porque o Diogo havia convidado o Gio para
dormir lá em casa, sem me comunicar. Soube pela boca do ficante, que veio
todo serelepe contar que dormiria lá depois de assistir um filme. Queria ter
essa facilidade de me entregar em outra relação sem neuras.
Antes de voltar para casa, eu ligaria. Não queria pegar de surpresa
cenas quentes na minha sala.
O meu telefone tocou e pensei que fosse o celular, mas era do fixo, que
mostrava um número diferente.
— Alô?
— Na minha sala. Preciso falar urgente com você.
— Quem é?
— Não estou dando risada, Passarinho — Ele desligou na minha cara.
O que tinha sido dessa vez? Já eram quase oito horas da noite, nem era
para ele estar no escritório. Achei melhor ignorar.
Tinha passado dez minutos e a curiosidade foi maior. Resolvi enfrentar
a fera. Subi até a sala dele, entrando sem bater.
— Sim, senhor?
— Por que está na empresa uma hora dessas? — Olhava para uns
papéis em sua mão.
— Porque tinha trabalho a realizar.
— É perigoso voltar tarde para casa, Isabel. Não deveria se colocar em
perigo assim.
— Tudo bem, estou indo para casa então. — Voltei-me para a porta.
Era melhor sair logo.
— Na realidade, quero perguntar uma coisa a senhora.
— Sim? — Voltei-me para ele com a mão na maçaneta.
— Por que todos no escritório estão falando que a senhora está solteira?
Como fofoca voava por ali! Já havia chegado no ouvido até do chefe, a
história. Na verdade, nem pensei como ele reagiria àquilo.
Naquele momento tive certeza que tinha sido uma péssima ideia
espalhar aquela história. Ele levantou da mesa com a mão na cintura e
aproximou-se.
— Estou esperando uma explicação, passarinho.
Engoli a seco e resolvi ser dura nas palavras. Ele precisava manter-se
longe de mim.
— Não acredito que o senhor se importe com fofoca de funcionários,
com “disse-me-disse” de corredor.
— Só quando o assunto me diz respeito — rebateu, aproximando-se
mais, minhas costas praticamente pregadas na porta.
— Não vejo motivos para isso ser da sua conta. É um homem casado e
não deveria me perseguir assim.
— Isso é um mero detalhe, Isabel. Vou resolver isso. Agora vamos ao
que interessa.
Irritei-me com suas palavras.
— Como pode pensar que seu casamento não é nada? Tenha pena da
sua esposa, que fica em casa enquanto o senhor corre atrás de rabos de saia
por aí.
— Isabel, você não sabe nada da minha vida. Nunca fale de coisas que
desconhece.
— A única coisa que sei é que nunca trairia meu esposo ou a minha
família, arrumando um amante na rua.
— Por isso, passarinho, admiro você. Além de linda é íntegra,
amorosa… Será uma excelente mãe.
Fiquei sem palavras com a afirmação dele. O que queria dizer com
aquilo? Sua esposa o traía? Estava confusa com aquela conversa.
— Se não é feliz com sua mulher, por que não se separa?
— Existe muita coisa em jogo, passarinho… Mas estou resolvendo
tudo, fique tranquila.
Chegando perto, fui sugada pela proximidade e força daquele olhar.
Promessas de momentos maravilhosos. Como eu era uma fraca, sem
conseguir resistir.
— Não podemos fazer isso. Não concordo com traição — eu
argumentava, jogada em seu ombro, a mente oscilando entre o certo e o
errado. O meu coração entre o desejo e o amor.
— Não tem como correr, estamos conectados. Nossos corpos se
reconhecem, nossos corações também.
— Não fala assim… Um dia vou acabar acreditando e estarei perdida.
— Acredite, passarinho. — Pegou meu rosto e encarou-me com muita
intensidade. — Vou te fazer feliz, passarinho. Prometo!
Estava perdida. Como poderia fugir de uma promessa daquelas,
principalmente se o coração já se encontrava envolvido?
Levada até o sofá, minha boca encontrava a dele em um beijo intenso.
Sentando comigo em seu colo, sentia o pulsar do desejo embaixo de mim.
— Quero uma cama quando tiver você em meus braços. Quero horas
contigo — ele falava entre os beijos. — Nem acredito que está aqui.
A mão dele procurava onde abrir meu sutiã e acabou descobrindo que
estava sem.
— Meu Deus! Estava andando por aí sem nada? Ainda bem que só
soube agora, senão teria um dia de cão, só imaginando isso.
— Até parece que o senhor ficaria pensando em peitos com tanta coisa
para fazer.
— Primeiro, meu nome é Pedro, nada de senhor. E segundo, para você
é amor… — Alisava meus seios já sem blusa. — Eles são lindos! Quero
lambê-los e chupá-los para sempre!
— São pequenos demais — retruquei, reclamando, e acabei gemendo
depois da chupada que eles ganharam.
— São ótimos. Cabem em minha boca. Saborosos, não canso de lambê-
los.
Ele pegava um e amassava o outro, depois dava igual atenção,
alternando entre os dois. Já me encontrava molhada, pegando fogo, quando a
mão desceu pela calça e alisou minha braguilha, tentando descer o zíper.
— Quero ver você nua, mas juro que ficarei quieto. Só um pouco, por
favor.
Levantei e tirei a roupa. Nua em pelo diante dele, o vi prender o fôlego.
— Linda! Tive várias noites de banho frio lembrando de você assim, de
como nos encaixamos bem dançando.
— Também recordei do orgasmo mais intenso que tive — admiti,
ajoelhada entre as pernas dele. Abri o zíper e puxei o pau para fora, enorme e
muito duro. Passei a língua em sua haste, ele gemeu, encostando a cabeça no
sofá e fechando os olhos.
Levei-o várias vezes para a boca, lambi da cabeça até a ponta, engoli
até onde minha garganta aguentava, fazendo movimentos de vai e vem.
Chupei, lambi as bolas… Era uma perita em chupar pau. Antes por
obrigação, agora era por prazer.
— Onde aprendeu isso tudo? Jesus! Você está me matando com essa
boca.
Quanto mais ele gemia, mais eu fazia. Senti que ele ficou mais duro,
sabia que já estava próximo de gozar.
— Se não parar vai ter que engolir. Ai… Porra, estou gozando, caralho.
Senti todo o líquido quente em minha garganta e adorei. Era lindo
como ele gemia, xingava e chiava, gozando. Sentia-me a mulher mais sexy
do mundo.
Pegando minha mão, ele me levantou e fez com que sentasse em seu
colo. Então beijou-me na boca. Achei sexy para caralho ele fazer isso. Nem
todos gostavam de sentir o próprio gozo através dos lábios da parceira.
— Você acabou comigo, mas me deixou viciado. Essa boca é um
tremendo pecado. — Cada palavra era um beijo ganhado.
— Está tarde, preciso voltar para casa. — Levantei e comecei a catar a
roupa. Não queria ter aquela conversa pós-sexo. Nesta hora, eles diziam que
era tudo brincadeira e mandavam a gente embora.
Fui abraçada por trás e trazida até o peito dele.
— Por que a pressa? Eu te levo para casa… Ou se preferir, dorme
comigo.
— Ficou maluco? Como explicaria em casa que dormiu fora?
— Você me faz acreditar que esse tipo de casamento realmente existe,
passarinho!
— Não entendo algumas coisas que fala.
— Durma comigo hoje.
— Não é fácil assim… Me dê um tempo! — Aquilo só me deixava
confusa.
— Tudo bem, vamos embora. — Ele parecia triste, pensativo.
Em todo o caminho para casa, dirigia só com uma mão. A outra estava
entrelaçada à minha. Não queria romper a conexão, apesar do silêncio que se
instalou entre nós.
Chegando no meu prédio, ele estacionou e ficou olhando para frente.
Não saí do carro ou disse nada, com medo de enfrentar minha consciência.
Não era fácil amar e saber que era errado vivê-lo. Pedro não era um homem
livre, e pelo silêncio dele, também sofria como eu.
— Quer mudar de ideia, passarinho? Ainda podemos ficar juntos essa
noite.
— Acho melhor eu subir… Obrigada por me trazer. — Já fui saindo do
carro.
— Isabel, não tranque a porta de sua vida para mim — suplicou,
pegando em minha mão. — Eu não vou aceitar essa recusa passivamente.
Vou acabar arrombando e entrando à força.
Nada respondi. Corri até o prédio e subi as escadas, já com a visão
nublada pelas lágrimas. Cheguei até o apartamento e nem lembro como abri a
porta.
Passei pelos meninos na sala e fui direto para o quarto. Tirei minha
roupa e caí sob a água do chuveiro, precisava esquecer. Eu não era uma
prostituta, nem queria ser amante de ninguém. Mas acabei caindo nos braços
de um homem casado. Perdi meu coração para ele…
Sentei no chão do banheiro e chorei. Nem sei quanto tempo fiquei
assim, até sentir o chuveiro ser desligado e uma toalha me envolver. Era
Diogo.
Sem dizer nada, colocou-me no chão, enxugou meu cabelo e corpo,
depois me pôs na cama como uma criança. Era sempre ele quem me salvava,
e aquilo acabava comigo. Parecia que dessa vez eu estragava tudo que
havíamos conquistado.
— Eu sou uma puta, Diogo! Você me perdoa? — pedi, aos prantos.
— Você não é, Bel. Quem te disse isso? — Ele alisava meu cabelo.
— Eu, eu… Estou apaixonada por um homem casado…
— Imaginei que isso fosse acontecer. Seu chefe?
— Como você sabe? — Sentei na cama, olhando-o.
— O Gio comentou algumas coisas e acabei deduzindo que estava
encrencada. Qual o nível desse relacionamento?
— Ele disse que vai resolver tudo, que ficaremos juntos, que vai me
fazer feliz e tal, mas sabe como é: todos dizem isso.
— Nós já vimos histórias assim. Homens como eles, Bel, não aceitam
gente como nós. Somos a vergonha que eles escondem.
Abracei meu amigo. Ele era meu maior tesouro.
— Eu não posso mandar no seu coração, Bel. Só posso ficar aqui para
te acolher e torcer por você.
— Eu sei, vou contar tudo a ele. Assim ele some logo e eu sofro pouco
— zombei da minha própria situação.
— Pode ser um plano melhor agora, certo? — Ele alisava meu cabelo
com carinho e isso me acalmou um pouco.
Precisava mudar o foco da conversa.
— Diogo, sei de tudo que aconteceu entre você e o Alan… Mas você
não o amava? Era difícil demais tentarem se acertar?
Vi que ele se entristeceu. Sabia que tinha mais coisa vindo ali.
— Sim, Bel. No dia que te liguei, já estava zangado por conta do
descaso referente ao dinheiro. Eu tinha feito a besteira de comentar com ele
como você arrumou o trabalho. De como mentiu para consegui-lo…
O meu coração apertou naquele momento. Tinha sido uma má ideia
mudar o assunto.
— Foi quando ele disse que não te queria mais por perto. Disse que
você não passava de uma puta preguiçosa, além de mentirosa.
Minha garganta fechou-se com mais lágrimas. Como ele pôde dizer
aquilo? Ele sabia dos nossos laços e toda a história que passamos. Não fiquei
triste por mim, e sim por ele.
— Se ele tem vergonha e acha isso do seu passado, Bel, tem de mim
também. Tudo que você fez foi para sobreviver e eu também. Por isso, não
vou deixar nenhum mauricinho nos humilhar por isso.
— Oh, amigo! Quando vamos conseguir enterrar tudo e sermos felizes?
— Um dia. Se existe um Deus, logo isso vai acontecer.
— Cadê o Gio?
— No meu quarto. Ele disse que ia nos dar privacidade.
— E esse romance?
— Não sei ainda, estamos curtindo o momento. Ele também tem seus
segredos, mas é um cara legal.
— Espero de coração que vocês sejam felizes. Gosto muito do Gio.
— Ele também de você.
— Não sei como ele percebeu do meu envolvimento com o Pedro…
— Ele disse que o homem volta e meia pergunta por você. Faz
perguntas estranhas, tipo se ele conhecia seu marido, se ele era bom para
você. — Sorriu. — O cara está de quatro por você, docinho.
— Sei não. Morro de medo dessas coisas. Final feliz não existe, só em
contos de fadas.
— Siga seu coração, Bel. Tenho certeza que tudo vai dar certo. Bom,
agora vou dormir. — Beijou-me e saiu do quarto, fechando a porta e me
deixando lá.
Meu celular tinha uma ligação do senhor Ogro e uma mensagem.

Sonhe comigo e não desista da gente.

Resolvi responder.

Boa noite!
CAPÍTULO 10
Acordei com olheiras enormes, que tentei esconder com um corretivo
amarelo, mas sem sucesso. Coloquei uma calça preta e uma camisa social
vermelha, com sandálias da mesma cor. Fiz um coque frouxo e saí para tomar
café junto com os meninos, já que ninguém estava com ânimo para cozinhar.
Já sentados em uma lanchonete, o Gio teve uma ideia.
— Bel, meu primo está vendendo o carro dele. Você poderia comprar.
— Não tenho dinheiro, gato.
— Tem sim, Isabel. Você andando de ônibus nem combina.
— Ué, ganhei na Mega Sena de ontem para hoje, lindo? Porque não me
lembro dessa grana, não… — Mordi meu delicioso pão com manteiga.
— Isabel Maria!
— Não fala meu nome alto. Ninguém precisa saber, Diogo.
Odiava o “Maria” do meu nome e ele sabia disso.
— Bel, lembra da grana que te mandei e nunca chegou em sua conta?
Peguei de volta. Você devia conferir sua poupança.
Fui até o aplicativo do banco no celular e acessei a conta. Tinham
tantos zeros no saldo que dava para comprar um carro novinho e ainda
sobraria.
Comecei a chorar ali mesmo, na lanchonete. Não merecia aquele
dinheiro. Fui até o Diogo e o abracei.
— Você não deveria ter feito isso!
— Merece ainda mais, Bel. Não tenho como pagar por tudo, mas posso
cuidar de você como se deve.
— Te amo, irmão. Para sempre.
— Também te amo para sempre.
— Poxa, vocês dois vão me fazem chorar assim. Essa amizade é tão
linda que sinto orgulho, como se fosse comigo.
Acabamos abraçando o Gio também e fizemos um aperto de urso.
Todos olhando, nos achando um bando de malucos… Mas aquilo não
importava, porque nos amávamos e pronto.
Resolvemos que iríamos no fim da tarde olhar o carro. Fiquei radiante
de felicidade. Cheguei sorrindo na empresa, e assim que entrei no elevador o
celular vibrou com uma mensagem.

Espero que toda essa felicidade seja para mim.


PS: Você está linda!

Vou comprar um carro!


PS: Obrigada!

Isso é ótimo. Fico tranquilo por não precisar mais pegar ônibus.

Verdade. Mas ainda estou na dúvida de qual carro comprar.

Quer ajuda? Posso ver para você.

Não precisa, o Gio vai comigo.

Ok!

Sabia que ele não tinha gostado de ser trocado pelo Gio, mas era
impossível fazer diferente. O Diogo estaria lá e se o visse teria de dar uma
explicação que, no momento, me recusava a dar.
Entrei na minha sala e fui recebida com uma xícara de café pelo João.
Não entendi tanta gentileza.
— O contrato chegou e já foi assinado, assim como a cópia escaneada e
enviada por e-mail. Tudo deu certo, graças a você.
— Maravilha! Realmente, temos que comemorar com esse belo café.
Obrigada!
— Eu que agradeço por salvar minha pele.
— Nossa pele! Afinal, somos uma equipe. Tudo que acontece aqui
reflete no grupo como um todo. Então vamos trabalhar para descobrir por que
isso vem acontecendo?
— Com certeza. Vamos ficar de olho. Mais uma vez, obrigado, Isabel.
— De nada. Pode contar comigo sempre que precisar.
Assim que eu saí, meu telefone interno tocou.
— Isabel…
— Bom dia, passarinho.
— Bom dia.
— Você está linda. Na realidade, mais que isso.
— Obrigada. Percebeu que conseguimos fechar o contrato?
— Soube desde ontem, mas tinha outra coisa na mente e acabei
esquecendo. — Sabia quais eram os pensamentos dele e dei risada.
— Você não tem jeito.
— Quero um beijo. Venha me ver, Isabel. Estou morrendo por causa de
você.
— Mais tarde passo aí. — Desliguei o telefone.
Voltei ao trabalho com carga total. Estava imensamente feliz e nada
acabaria com o meu bom humor.
Almocei na empresa mesmo, pois queria sair mais cedo. Estava em
meio a uma digitação de um e-mail quando o entregador apareceu me
procurando.
— Isabel?
— Sou eu.
Recebi uma linda violeta e junto um pingente de passarinho. Nem
precisava dizer quem tinha enviado. Agradeci ao entregador e fiquei olhando
para o presente sem saber qual atitude tomar.
— Quem mandou está apaixonado — comentou a Cris da porta da sala.
— Será? Você atende meu telefone por uns minutos? Preciso ir ao
banheiro.
— Claro que sim, vai lá.
Na verdade, queria vê-lo e consegui a melhor desculpa para isso.
— Gio, o senhor Pedro pode me atender agora?
— Claro, Bel. Acho que ele adivinhou isso, porque disse que era para
deixá-la entrar na hora que chegasse.
Ele sabia qual seria minha reação ao receber a violeta. Entrei na sala
sorrindo. Aquele homem era o ogro mais lindo que podia imaginar.
Fui recebida por braços fortes e uma boca faminta. Não sei como fomos
parar no banheiro privativo. Em minutos estava sobre a pia, sem calcinha e
com ele entre minhas pernas, lambendo o meu clitóris. Gemia loucamente…
— Passei o dia pensando em fazer isso. Tive de me segurar para não
invadir sua sala.
— Ah, vou gozar… Ai, ai, delícia.
— Sim, é culpa sua. Estou faminto por você.
— Deus… — Soltei um gemido longo e gozei.
— Caralho, você é deliciosa.
— Você é louco! O Gio vai acabar descobrindo.
— Sei disso. Podia facilitar e dormir comigo hoje.
— Você sabe que não posso!
Ele lavou a mão na pia, enquanto eu tomava uma rápida chuveirada.
Com minha resposta ele amarrou a cara, zangado, dando-me as costas.
Abracei-o, tentando deixá-lo mais calmo.
— Você me prometeu um tempo, lembra?
— Não condene um homem apaixonado.
— Perdoado — falei, beijando suas costas.
Ele virou e me beijou na boca com força.
— Estou morrendo por você, passarinho. É difícil não poder ficar perto,
nem assinar o cartão como gostaria hoje.
— Eu sei, mas não quero destruir o seu casamento, Pedro.
— Esse é um problema que vai além da minha mulher, mas preciso
sentar e conversar com você.
— Concordo.
— Então dorme comigo hoje? — Fez cara de guloso.
— O Gio vai comigo comprar o carro e depois vamos comer pizza.
— Entendo…
Mais uma vez o olhar dele ficou frio e distante.
— Vamos marcar uma pizza só nos dois outro dia. O que acha?
— Tudo bem, Isabel. Eu sei que no momento é impossível sair como
namorados.
— Tudo bem. Vou indo, então. — Beijei-o rapidamente mais uma vez.
Ele aprofundou o carinho, como se recusasse a me deixar ir. Nossa
situação ficava cada vez mais complicada, pois queríamos coisas que não
poderíamos nos dar naquele momento.
Despedi do Gio, que me olhou com uma expressão de pena. Preferia se
manter de fora.
Voltei para a sala e fiquei olhando minha violeta, que coloquei ao lado
das flores que havia recebido anteriormente. Ninguém nunca se preocupou
em um gesto desse antes, e nunca me preocupei com isso também. Afinal, a
prioridade era me manter viva. Nem imaginava como era receber mimos
como aquele.
Obrigada pelas flores e o pingente.

Queria poder lhe dar o mundo, mas falta pouco agora,


passarinho.

Saí com o Gio para encontrar o Diogo na concessionária. Fiquei na


dúvida diante de tantos carros, sem imaginar que teria um para mim algum
dia. Tirei a carteira por insistência dele e estava emocionada por estar
vivendo aquele momento.
— Você tem que parar de sonhar e escolher a porra do carro, Isabel
Maria.
— Não me chama assim! Estou na dúvida, oras.
— Mulheres! — Diogo resmungou, já nervoso.
Vendo a cara de chateado dos meninos e minha indecisão, o vendedor
me chamou para um test drive em um New Beetle amarelo e foi paixão à
primeira vista.
Fiquei com ele. Era tão feminino…
— Não acredito que você comprou essa banheira amarela! Você é uma
vergonha para nós. — Diogo não se conformava com a escolha.
— Eu gostei. Super clean, Isabel. Você fica gata dirigindo ele.
Gio estava amando minha opção.
— Obrigada, Gio. Só você me entende!
— Até você? Não acredito nisso! Isso é uma banheira amarela.
— Eu gosto, Diogo. Não fale assim dele.
— Só falta colocar nome — comentou, exasperado.
— Boa ideia, Isabel. Podemos chamá-lo de Amarelão.
— Pode ser! — Estávamos falando isso só para irritar o Diogo.
— Vamos logo comer essa pizza, seus chatos. Melhor, vou leva-los em
um lugar bem fino para que aprendam.
— Ah, não, Diogo. Quero pizza em casa.
— Agora que você me desrespeitou comprando esse carro ridículo, vai
ter que sair do meu jeito.
— Ninguém merece. Vamos logo, senhor chique.
O local era um pequeno restaurante tailandês muito requintado, mas
aconchegante. A noite estava muito divertida, mas acabou quando o senhor
Ogro entrou com a bela esposa ao lado.
Senti-me naquela hora uma formiga, insignificante. Meu coração
disparou.
— O que foi, Isabel? Viu um fantasma? — Gio ficou tão preocupado
que acabou virando para a porta, descobrindo o que me incomodava.
— Tá tudo bem… — Bebi mais um pouco do vinho, negando ao meu
amigo com a cabeça. O que não precisava era de uma cena.
— O que foi que vocês…? — Diogo virou-se para a porta e deu de cara
com o olhar mortal do Pedro.
— Seu chefe? E a esposa?
— Sim, vamos terminar e sair, por favor? — pedi, já sem graça e com o
coração despedaçado.
— Tudo bem.
Meu amigo se virou para o garçom e pediu a conta.
Na mesma hora, o celular vibrou com uma mensagem. Já sabia de
quem era e resolvi não olhar. Sabia que vida de amante era aquela, mas
estava despreparada para a humilhação que sentia, junto ao ciúme que me
corroía.
Fomos para casa calados. Sabia que os meninos estavam com pena de
mim, então segui direto para o quarto. O brilho do meu dia foi arrancado,
estava arrasada.
— Quer conversar? — Diogo parou na porta.
— Não, só quero ficar sozinha.
— Tudo bem. Estamos aqui na sala vendo um filme. O Gio vai dormir
aqui, tudo bem?
Assenti a cabeça e o esperei fechar a porta. Peguei o celular e abri a
mensagem há tanto tempo evitada.

O que faz com seu ex-marido? É piada?

Não respondi. Desliguei o celular, tomei banho e fui até a geladeira.


Peguei um pote de sorvete e voltei para a cama. Passei pelos meninos sem
uma palavra, vendo que eles só olharam para mim e balançaram a cabeça.
Acabei com o pote de sorvete de creme e chorei todas as lágrimas do
meu corpo. Estava acabada, arrasada, morta espiritualmente.
Bateram a minha porta duas da manhã.
— O que foi, Diogo?
— O porteiro disse que tem um homem lá embaixo te procurando.
— Como assim? São duas da manhã!
— Não sei. Quer que eu desça com você?
— Não precisa. Já sabemos quem é.
— Cuidado com esse cara, Bel. Ele parece passional.
— Pode deixar que vou resolver isso agora.
Desci as escadas do prédio e passei pelo porteiro. O senhor Ogro
encontrava-se encostado no carro, parecia aborrecido.
Parti para cima dele, desferindo um monte de murros e chutes. Ele não
tinha o direito de vir ao meu prédio de madrugada perturbar minha vida.
— Você é louco?
— Pare de me bater! Perdeu o juízo? — Ele me segurou sem nenhum
esforço.
— Eu? Olha o que está fazendo? — Debatia-me em seus braços,
tentando me soltar.
— Precisamos conversar.
— Não vou a lugar nenhum com você. Vai embora da minha porta,
agora.
— Se não entrar, vou te carregar à força.
— Você não teria coragem.
— Entra no carro, Isabel. Agora, por favor!
Obedeci e bati a porta. Estava só com um pijama de gatinho, muito
infantil, por sinal, nem aí para o que ele ia pensar daquilo.
Ele arrancou com o carro e ganhou as ruas.
— Você ficou louco! Está me levando para onde, maluco?
— Não vou conseguir dormir sabendo que seu marido está naquela
casa. — Praticamente vomitou as palavras.
— Realmente, você é louco.
— Como pode ficar comigo e deixá-lo entrar na sua casa? Ele estava
dormindo com você?
— Sua esposa sabe que veio atrás de mim?
— Ela não tem nada a ver com essa história!
Já estávamos gritando e ele dirigia como um maluco, ultrapassando
todos os sinais de trânsito.
— Pare esse carro! Vai acabar causando um acidente!
Ele respirou fundo, desviou o olhar para mim e depois desacelerou.
Acabamos entrando no estacionamento de um prédio muito bonito.
Ele desligou o carro e soltou o cinto de segurança. Deu a volta no carro,
me pegou no colo e levou-me para um elevador no subsolo.
— Que lugar é esse?
— Minha casa.
— Como assim? O que fez com sua esposa?
— É minha casa, Isabel. Nada aqui tem a ver com a Lúcia.
O apartamento ficava na cobertura do prédio e era muito bem decorado,
parecia coisa de novela.
Pedro me colocou no chão e foi até o bar. Serviu-se de uma dose de
whisky e bebeu. Depois sentou-se no sofá e ficou olhando para mim.
— Por que você saiu com seu ex-marido?
Precisava avisar ao Diogo. Tinha saído sem meu celular. Perguntei
onde era o telefone e liguei para o número dele.
— É a Isabel, sim. Tudo bem, Diogo. Com certeza, vou resolver —
falei rápido ao telefone. Virei-me e encontrei Pedro me olhando de cara feia.
— Dando satisfação? É isso? — O copo foi arremessado na parede,
quebrando e soltando cacos para todos os lados.
Encolhi-me, sentindo medo da raiva que ele exalava. O homem estava
transtornado pelo ciúme. Precisava contar a verdade e acabar com aquela
farsa.
— Pedro, me ouça. Precisamos conversar sobre tudo isso.
— Não quero. — Ele veio até mim e rasgou meu pijama, puxando-me
os cabelos e me beijou com força.
Era um beijo de punição. Entrei em desespero. Lembrava de outras
mãos rasgando minhas roupas, outra boca me lambendo e a dor de ter meu
corpo virgem invadido com força e sem respeito. Eu era só uma criança…
Comecei a lutar e chorar, pedir socorro, debatendo-me me como uma
louca.
— Calma, passarinho!
Depois de algum tempo percebi que ele me embalava e voltei ao
normal. Parecia que tinha saído do meu corpo e voltado no tempo.
Pulei do sofá, magoada. Ele não tinha o direito de me tratar assim. Eu
não era culpada da situação que nos encontrávamos. Pedro se aproximou,
mas eu o repudiei.
— Não toque em mim! — ordenei, apontando o dedo para ele.
— Me perdoa, passarinho.
Ele tentou me abraçar, mas me afastei.
— Vou só dizer uma coisa para você, Pedro: você não tem o direito de
me cobrar nada! Estava com sua esposa naquele restaurante e em nenhum
momento fui desrespeitosa. Assim que percebi vocês, fui embora para não
causar nenhuma cena.
— Eu sei, droga, eu sei… Mas não suporto saber que ele estava com
você, que pode sair para jantar contigo, que conhece seus amigos… Eu nem
sei a sua cor preferida.
— Mesmo assim nada te dá o direito de aparecer na minha porta
fazendo escândalo e me cobrando uma coisa que nem pode me dar.
— Caralho, Isabel, pensa que não sei disso? — Ele foi até o bar
novamente e fez outra dose.
— Sou a porra de um homem fodido, louco por uma mulher que não
pode ter, porque ela ama a porra de outro idiotinha, que nem sabe o valor
dela… E mesmo assim, a quero, nem se for os restos para mim jogados…
Ele falava as palavras como se fosse o único sofredor ali. Não tinha
modo de pará-lo… Tinha de soltar de uma vez.
— Pedro, eu não sou e nunca fui casada com o Diogo.
CAPÍTULO 11
Ele me olhou como se eu tivesse ficado louca. Colocou o copo em cima
do balcão e aproximou-se. Em pé na minha frente, cruzou os braços.
— Explique-se!
— Eu menti para conseguir o emprego. Disse que era casada…
— Esse tempo todo me enganou pelo emprego? — Voltou ao balcão e
pegou a bebida, virando-a de uma vez.
— Sim. Estava desesperada, quase passando fome, o aluguel atrasado.
Sem saída, fui até a agência e quando soube da vaga e suas exigências, veio a
ideia de fingir que era casada com meu melhor amigo. A empresa deixava
claro que só aceitava mulheres casadas, e a vaga tinha exatamente o que
precisava. Precisava tentar.
— Eu não estou acreditando nisto! — Passou a mão no cabelo.
— Conheço o Diogo desde criança. Fomos criados juntos, e somos
como irmãos. Ele é gay e está namorando o Gio — fui soltando tudo de uma
vez só.
— Você quer dizer que esse tempo todo estou enlouquecendo de
ciúmes por um cara que nem gosta de mulher? Que quase dei um tiro num
inocente só de pensar que ele estava em sua cama hoje?
— Nunca foi por maldade. Como saberia que isso tudo aconteceria?
Ele veio pisando duro em minha direção e me pegou no colo. Carregou-
me até um quarto decorado, com uma enorme cama de casal ao centro.
Pedro me jogou nela e começou a tirar a própria roupa.
— O que está fazendo? — Estava confusa.
— No momento vou só dormir agarradinho com você. Amanhã
discutiremos tudo isso. Minha mente está confusa demais para tomar
qualquer atitude.
Só de cuecas ele subiu na cama e deitou ao meu lado, jogando pernas e
braços em cima de mim.
— Você é muito quentinha. Adoro seu cheiro.
Na mesma hora pegou no sono. Relaxei naqueles braços… Se soubesse
que seria aquela a reação, teria contando há mais tempo.
Acordei nem sei quanto tempo depois, com a sensação de que alguém
me mordia… Não queria abrir os olhos para acabar com aquela sensação.
— Acorda, Passarinho! Quero fazer amor com você acordada.
Na mesma da hora abri os olhos, assustada. Olhei para o lado, e lembrei
onde estava. Jesus! Estava atrasada para trabalhar! Olhei para a mesa de
cabeceira procurando um relógio.
Deparei-me com ele deliciosamente parado diante de mim, totalmente
nu e com a espada suspensa. Aquele pau era lindo, dava água na boca só de
olhar.
— Bom dia, Passarinho.
— Bom dia! Preciso me apressar para o trabalho… — A voz saiu sem
convicção, olhando para aquela rocha dura a minha frente.
— Creio que não seja possível. Já são dez horas e seu chefe lhe deu
folga hoje.
— Deu? — Olhei para o rosto dele e depois para o corpo esculpido. Era
um perigo um homem daqueles.
— Sim. Hoje vamos colocar os pingos nos “is”, mas antes quero fazer
amor com você.
Subiu na cama e puxou o cobertor que estava sobre meu corpo, já que o
pijama havia se tornado apenas um trapo, graças as mãos dele. Foi até meu
pescoço e deu leves lambidas e mordidas.
A mão estava entre as minhas coxas já sabia o quanto estava molhada,
desde que o havia visto nu. Ele gemeu, pois sabia que estava pronta.
— Deliciosa… Não vou durar muito assim.
Desceu e lambeu meu clitóris. Subiu pela barriga, os dedos fazendo
movimentos maravilhosos de vai e vem dentro de mim.
Já estava perto de um orgasmo. Ele lambia minha boceta, levando-me a
quase perder os sentidos.
Rapidamente foi à gaveta ao lado e colocou o preservativo, para vir por
cima de mim, entrelaçando os dedos aos meus, rosnando um monte de
palavras desconexas e invadindo-me o corpo.
Fui possuída com força, mas não tive medo, só prazer. Estávamos
suados, os movimentos eram tão intensos, que a cama batia na parede.
— Caralho, Isabel, você é muito gostosa, porra! — gemia em meu
pescoço. Gostava da boca suja, isso me excitava. — Ah, porra… Boceta do
caralho. Fica sugando meu pau, adoro, faz isso de novo.
Sinceramente, nem imaginava o que ele estava falando, mas era uma
delícia ouvir aquele descontrole, a boca pairando na minha. Percebi que
estava próximo do orgasmo.
Fitando os olhos nublarem, o quanto ficava lindo gemendo meu nome,
acabei gozando. Acreditava que nossos gemidos pudessem ser ouvidos do
outro lado da cidade.
Ele saiu de cima de mim e deitou ao lado, puxando-me para ele. Estava
com o corpo mole. Deitei em seu ombro e ficamos em silêncio.
— Por que não me contou a verdade antes? — ele estava com voz
sonolenta.
— Achei que assim estava protegida — fui sincera mais uma vez.
— Eu tentei ficar longe, mas sem chance, Isabel. Pertencemos um ao
outro. Percebi isso quando te vi entrando pela porta da minha sala.
— Você se interessou por mim naquele dia? — questionei, descrente.
— Sim. Tinha certeza de que seria minha. O corpo formigou inteiro
quando apertou minha mão.
— Queria ter essa certeza também. Tenho tanto medo.
Ele veio sobre mim e encarou meu rosto com olhar sério.
— Passarinho, não estou brincando com seus sentimentos. Sei que não
sou santo, mas te amo de verdade.
O coração disparou e acho que ele percebeu o impacto daquelas
palavras sobre mim, pois logo afastou-se.
— Não espero que sinta o mesmo por mim ainda.
Levantei da cama. Fiquei de pé ao lado dele, peguei-o na mão e disse:
— É tarde para nós dois, porque meu coração escolheu você. Também
te amo, mas isso não me deixa mais tranquila.
Coloquei a cabeça no peito dele.
— Vai dar tudo certo.
— Tem sua esposa, sua família nessa história.
— Isabel, há anos Lúcia e eu vivemos separados. Esse apartamento é
meu lar. Ela vive em nossa casa, sem nos meter na vida um do outro.
— Como conseguem? Não é complicado?
— Fizemos um acordo e é só isso que precisa saber. Não haverá
escândalos ou alguém na sua porta exigindo que deixe o marido dela.
Pedro sumiu atrás de uma porta, que provavelmente era o banheiro.
Tomamos um delicioso banho, e fizemos amor na banheira, mais de
uma vez. Ele era um amante espetacular, carinhoso, atencioso, incansável em
me dar prazer com a boca e mãos.
Mais tarde, estávamos na mesa da cozinha, almoçando e dando risada.
Não cansava de beijá-lo, e o dia não podia ficar melhor. Éramos só nós,
ninguém para estragar tanta felicidade… Pelo menos assim pensava.
Um senhor entrou de repente pela sala, pisando duro e nos olhando com
decepção. Pedro levantou-se rápido da cadeira, parecendo confuso. Eu fiquei
com vergonha, por ser encontrada naquela posição por estranhos.
— Pai? Como entrou aqui?
— Tenho as chaves. Você não foi trabalhar hoje, fiquei preocupado.
— Não tem com o que se preocupar.
— Por uma mulher, meu filho? Já imaginou se alguém descobre que
está enrabichado por uma qualquer?
— Não fale da Isabel assim… Ninguém te deu esse direito! — rebateu
Pedro para seu pai, os dois trocando olhares, se enfrentando. — Fiz o que o
senhor queria, agora eu resolvo a vida do meu jeito, não se meta.
— Já que vai manter uma amante, pelo menos seja discreto. Se o pai da
Lúcia souber será um escândalo — lembrou, apontando para mim.
— Pedro, acho melhor ir me trocar… — Sentia-me humilhada.
— Conheço você de algum lugar… — O pai dele começou a me
encarar. Fiquei branca como cera. Sabia quem ele era e o porquê de lembrar-
se de mim. Sentia muito medo por conta de tudo, as lembranças vindo à tona,
pregando-me uma peça. O passado deveria ficar no passado.
— Creio que não. Vou para o quarto, Pedro. — Saí correndo da sala.
Por que tinha que ser logo o pai do homem que eu amava?
Ouvi vozes na sala e depois uma porta bater. Em seguida, os passos
vieram até o quarto.
— Perdoe, Isabel. Nada disso deveria ter acontecido. — Abraçou-me.
— Pedro?
— Sim!
— Sei de onde seu pai me conhece.
— Deve ser lá da empresa.
— Não é…
— Como assim? — Percebendo meu corpo tenso, virou-me e me
encarou, aguardando uma explicação.
Precisava contar a verdade. Sabia que depois disso nada seria igual.
— Seu pai era frequentador do meu antigo trabalho.
— Do bordel onde você foi criada? É isso?
— Na realidade, precisamos conversar…
Fui até a sala dele, pois não queria macular aquele quarto com meu
passado. Ali tive os melhores momentos de amor da vida.
Sentados no sofá, despejei tudo que já tinha acorrido em minha vida e
como fui parar em bordel de luxo.
— Já contei a você que eu e o Diogo nos conhecemos desde pequenos.
— Sim, lembro bem disso.
— Então, quando ele estava com dez anos e eu com oito, fugimos do
último orfanato em que estávamos, pois não aguentávamos apanhar e passar
fome. Aquilo era um inferno.
Ele segurou minha mão em um gesto de solidariedade. Aquilo me fez
sentir vontade de chorar.
— Fomos para a rua e tivemos que roubar para comer. Ele sempre me
protegeu, rodamos praticamente o Nordeste todo, sempre procurando abrigo
para não sermos pegos por assistentes sociais. Fazia muito frio às vezes e o
Diogo acabou se viciando em drogas.
Éramos só nós dois no mundo, um menino de dez anos e uma garotinha
de oito. Ficamos alguns meses em um bordel na Paraíba. Em troca de
comida, retribuíamos lavando pratos e limpando o chão.
Um dia me acharam bonita e tentaram comprar meu corpo. E a dona
conseguiu, antes de fugirmos. Assim fui estuprada e o Diogo tornou-se um
assassino, pois matou o homem a facadas. Era tarde demais para fechar as
feridas ocasionadas.
— Deus, Isabel! Nenhum ser humano deveria passar por isso. Você era
uma criança.
— O Diogo até hoje se arrepende de não ter chegado antes, mas essa
culpa nunca foi dele. Simplesmente a dona armou tudo, o mandou comprar
material na cidade, mas ele desconfiou no caminho e voltou, só que já era
tarde.
— Ele também era uma criança, Passarinho.
— Verdade. O mundo é cruel, às vezes. Existe muita gente ruim.
Fugimos para longe, pegando carona durante a noite e nos escondendo
durante o dia. Assim, acabamos chegando a São Paulo. Vivíamos de
pequenos furtos, batendo carteira na Avenida Paulista. O Diogo mergulhava
cada vez mais no vício.
Os olhos dele estavam vidrados em mim.
— Quando completei dez anos resolvi que roubaria dinheiro para
comer pizza. Era o meu aniversário. Ou melhor, a data que disseram ser a do
meu nascimento…
Tentei fazer graça para cortar a tensão que estava no ar. Sem sucesso.
— Vi um figurão bem vestido, com vários anéis nos dedos, que tive
certeza ser de ouro. Foi ele que escolhi para roubar, mas calculei errado…
Fui imatura e acabei pega por seus homens. O sobrenome dele era Salvatory,
um bandido muito temido e cruel.
Não gostava de lembrar, mas era necessário.
— Para salvar minha vida, o Diogo se ofereceu para trabalhar para ele.
Fazia pequenas entregas de drogas e em troca eles nos davam comida e um
quarto em um depósito para dormir.
Fui até a janela e dei-lhe as costas. Mesmo assim, sentia que seu olhar
não me deixava.
— Levamos alguns anos tranquilamente… Pelo menos até o Diogo
crescer e se transformar num belo homem. Foi aí que nosso tormento
começou. O Salvatory nos ameaçou novamente, dizendo que caso o Diogo
não se prostituísse, me venderia para o mercado de escravas brancas. Ele só
tinha 14 anos, Pedro, era uma criança… Mas foi vendido noite após a noite
para diversos homens e mulheres. Cada dia usava mais droga, para ficar
entorpecido e não lembrar da degradação.
Pensei que choraria muito ao falar sobre isso com ele, mas não, só tinha
alívio.
— Fomos levados à Itália, onde vários jovens eram sodomizados,
humilhados na mão de homens sem escrúpulos, que sentiam prazer em
maltratar, humilhar e espancar.
— Passarinho, não me diz que meu pai é um desses homens? — Os
olhos dele estavam escuros e nublados. Parecia um homem capaz de matar.
— Sim, ele foi um dos amantes regulares do Diogo. — Comecei a
chorar, sabendo que depois daquela revelação o mundo dele desabaria.
— Meu Deus, Isabel! Meu pai nunca foi uma pessoa boa, mas nunca
imaginei isso. É muito mesquinho, doentio, mal consigo imaginar.
Abracei-o e o embalei nos braços enquanto desmoronava. Era difícil
saber que o homem que o colocou no mundo tinha prazer em destruir os
outros.
— Era eu quem deveria consolar você, Passarinho. Passou por tanta
coisa… Nunca poderei pagar ao seu amigo por protegê-la.
— Ele conseguiu até certo tempo. Fazia-me esconder os seios com
bandagem de tecidos velhos, enquanto as meninas mais velhas me vestiam
com vestidos folgados. Todos éramos amigos. Às vezes perdíamos um dos
nossos de overdose ou eram mortos por eles.
Meu ogro estava com os olhos marejados de lágrimas. Cortava-me o
coração vê-lo sofrer. O pior era eu saber que o final do meu relato seria o
nosso “adeus”.
— Um dia o Diogo adoeceu. Teve muita febre e ficou dois dias sem
trabalhar. Estávamos apavorados, pois sabíamos que se a febre não cedesse,
eles dariam um jeito de matá-lo. Neste dia, vendi meu corpo para um dos
guardas, em troca do remédio para ele. Faria tudo de novo, se precisasse. Ele
era minha única família e não poderia deixá-lo morrer. Depois dessa vez, fui
vendida diversas vezes, até os meus dezesseis anos. Aprendi a ler e a falar
outras línguas, a usar a roupa e o batom certo. Eu era muito bonita e homens
pagavam muito por mim.
Seus olhos me deixaram, impossíveis de me encarar. O coração
afundou no peito.
— Tive sorte. Eles nunca me bateram, mas fui obrigada a cheirar pó e a
beber para acompanhar os caras em suas noitadas.
— Como você saiu?
— A polícia deu uma batida e acabou prendendo o Salvatory, por
venda e tráfico de entorpecentes. Assim acabaram descobrindo o bordel que
ele mantinha sob a fachada de cassino.
— Você resolveu voltar ao Brasil? — Ele estava frio e distante, mas era
sempre assim. Eles tinham vergonha de gente como eu.
— Sim, tinha saudades da minha terra. Voltei junto com o Diogo sob
proteção policial, fizemos acompanhamento psicológico por um tempo,
voltamos a estudar e nos formamos. Passamos algumas dificuldades
financeiras, até nos formarmos. Na realidade, fiz administração junto com
ele. O Diogo se formou em tempo recorde, pois pegou várias matérias
antecipadas. É muito inteligente e trilíngue, conseguindo trabalho em uma
multinacional.
Ao terminar o relato, me sentia cansada, arrasada e muito sozinha.
Levantei-me do sofá e fui para o quarto, mas lembrei que estava sem
roupa para vestir, pois tinha ido até ali de pijama.
Apesar de não ter culpa de nada, nem pelo sistema ou os erros dos
outros, poucos homens aceitam em sua vida uma mulher com um passado
como o meu.
Peguei o telefone ao lado da cama e liguei para a única pessoa que me
entenderia.
— Diogo, vem me buscar?
CAPÍTULO 12
Peguei uma calça de moletom na gaveta e uma camisa branca,
vestindo-as. Foi quando ouvi o barulho de vidro se quebrando e corri para a
sala desesperada, achando que ele poderia estar ferido.
Assim que cheguei, a cena me deixou chocada. Toda a sala destruída,
cacos de vidros por todo lado e seu vulto perto da janela, olhando para mim
com os olhos injetados de fúria.
— Meu pai dormiu com você? — Fiquei em silêncio, paralisada de
medo. — Tocou em você?
A raiva ficou latente.
— Não. Sempre preferiu meninos.
— Meu Deus!
Dominado pela fúria, voltou até um jarro ao lado da mesa e o
arremessou na parede, quebrando-o em mil pedaços. Odiava aquilo: o grito, a
dor, a falta de empatia, a alegria de muitos em machucar. Todos aqueles
sentimentos me dominaram e fugi, como se revivesse tudo.
Corri para a porta e disparei correndo até o elevador, apavorada.
Lembrei quando não conseguiam ficar excitados, quebravam tudo e me
batiam. Era sempre minha culpa…
Enquanto o elevador descia, a cabeça rodava e ouvia os gritos, ossos
quebrando, sempre culpa minha. Por que contei? Ele não ia me perdoar. Me
encostei na parede, desci até o chão e chorei.
Foi assim que o Diogo me encontrou quando o elevador abriu as portas.
Mais uma vez fui salva. Pegou-me no colo com carinho e foi na direção do
carro comigo,
— Solte minha mulher agora! — Congelei ao ouvir aquela voz.
Meu amigo se virou na mesma hora.
— Cara, deixe ela em paz. Você não vê que já a machucou demais? —
Diogo falava calmamente, mas eu sei que por trás daquela calma existia uma
fúria escondida.
— Eu cuido. Você não sabe o que houve… Venha, Passarinho, vamos
conversar! — Ele parecia outro homem, não aquele que quebrou o
apartamento inteiro há pouco.
Encolhi-me nos braços confiáveis do Diogo, assim que se aproximou.
Ele paralisou quando percebeu meu medo.
Dando um passo para trás, o rosto era uma máscara de tristeza e
arrependimento.
— Depois vocês conversam. Vou levar Isabel para descansar agora —
Diogo pediu em tom de sugestão para o Pedro.
Meu amigo me colocou no lado do carona e deu a volta para sentar
atrás do volante. Encolhi no banco, totalmente abalada.
— Passarinho, prometa que vai me escutar depois. Não suma. Poxa, sei
que não me comportei como devia, mas vamos conversar, caralho… — Ele
suplicava ao lado da minha janela, angustiado.
Não olhei para frente, nem conseguia dizer nada, a garganta travada.
Simplesmente fiz silêncio.
Diogo arrancou o carro de lá e ganhamos as ruas. Nada foi
pronunciado, pois minhas lágrimas falavam por mim.

Fazia uma semana que não atendia o telefone ou saía de casa. O


porteiro estava proibido de deixar qualquer pessoa que não fosse o Gio passar
pela portaria. Diogo tinha voltado para os Estados Unidos e o deixou
cuidando de mim, mas ligava todos dias para saber como eu estava. Apenas
pedi demissão por carta e não voltei mais na empresa, sem motivos para
voltar àquele lugar.
O senhor Ogro ligava todos os dias e o ignorava. Sei que tentou várias
vezes invadir o prédio, até a polícia foi chamada certo dia. Ganhei flores, mas
as joguei fora.
Não queria falar dele, nem pensar nele. Ainda me lembrava da cara de
raiva e transtorno quando soube que o pai era um pedófilo.
Toda vez que olhasse para mim, se lembraria do quanto sabia desse
segredo da família e como participei bem de perto. Não tinha futuro um
romance assim, mesmo porque, ainda tinha sua esposa.
Eu não era a culpada por tudo que passei, nem voltaria para aquela
situação de autopiedade novamente. Já havia superado essa fase da minha
vida. Não era justo comigo ou com o Diogo.
Fui tomar um banho e fazer uma comida bem gostosa para quando o
Gio chegasse. Ele merecia, depois de praticamente me aturar a semana toda
chorosa e chateada.
Fiz um estrogonofe de frango com aspargos e arroz branco, e já estava
colocando a mesa quando ele entrou.
— Saudações, pessoa! Respirando, finalmente?
— Claro, seu bobo! Fiz um jantarzinho para nós.
— Creio que mereço, meu dia foi de cão. Aliás, todos esses dias
naquele escritório têm sido assim.
Fiquei calada. Não queria tocar naquele assunto. Percebendo meu
silêncio, o Gio me deu um beijo na testa, compreensivo, e foi ao quarto trocar
de roupa.
Na volta abriu um vinho branco para acompanhar o prato. Sentados à
mesa, comemos e falamos de amenidades.
— Bel, sei que você não quer falar disso — Gio falou enquanto
estávamos lavando a louça.
— Mas como você é bocudo, com certeza vai falar — brinquei. Estava
na hora de seguir em frente, e mesmo que fosse me magoar, ele precisava
desabafar. — Fale, Gio.
— Cara, aquele homem vai matar um a qualquer hora. Ninguém
suporta mais. Chegou até a jogar o grampeador em mim.
— Atentado! Dá uma queixa dele — zombei, sorrindo sem graça.
— Estou falando sério, Bel. O cara anda sem rumo, transtornado, não
se importa com mais nada. A mulher esteve lá hoje.
Fiquei sem cor com essa notícia. Ela nunca aparecia por lá.
Teriam resolvido viver um casamento normal?
— Eles gritaram e ela saiu pisando duro, estava uma fera.
— Por que será?
— Pelo que entendi, o pai dela pediu que fosse lá porque estão todos
preocupados.
— Entendo. Deve ser difícil ver uma rocha desmoronar. A culpa é
minha, não devia ter contado nada.
— Não é sua, Isabel. Pare com isso!
— É sim, Gio. Eu contei sobre meu passado e ele não reagiu bem com
isso e agora abalou a estrutura familiar dele.
— Bel, conheço sua história. Desculpa, mas o Diogo me contou.
Estamos pensando em namorar sério e não tenho vergonha de vocês dois.
Você foi vítima, Bel.
— Fico feliz por vocês. Faz meu amigo feliz, está bem?
— Vou sim. Ele é um cara incrível. Acho que estou meio apaixonado
— confessou, ficando vermelho e sem graça.
— Ohhhh, meu Deus! — Abracei o Gio fortemente. Ambos mereciam
alguém especial.
— Tenho certeza que vai encontrar alguém legal também, Bel.
— Acho que o amor não é para mim.
— Quem disse isso, Isabel Maria?
— Não me chama assim… — pedi, de cara feia para ele.
— Menina boba! Vamos ao cinema amanhã?
— Vou pensar no seu caso depois dessa!
Demos risada e fomos dormir. Foi minha primeira noite tranquila, sem
pesadelos. Acordei disposta e resolvi correr na praia.
Vestindo um top e bermuda de ciclista curta, nem esperei o Gio
acordar. Deixei um bilhete explicando onde tinha ido e saí de casa.
Corri por quase cinco quilômetros. Tinha perdido a forma e precisava
fazer isso mais vezes. Comprei uma água de coco e voltei andando pela
calçada. Sentei na areia e fiquei olhando a imensidão do mar. Aquela vista
me acalmava bastante.
Em meio aos meus pensamentos, nem percebi uma sombra, até que já
estava sobre mim. Quando percebi quem era, tentei me levantar, mas ele se
apoiou em meus ombros e voltei a me sentar, calada.
— Estou sofrendo, Passarinho. Deixe-me explicar…
— Não vejo necessidade. Sei que não foi fácil para você ouvir aquelas
coisas do seu pai. Se pudesse voltar no tempo, não teria contado nada.
Ele olhou para mim, incrédulo. Parecia que estávamos falando de
coisas diferentes pelo seu olhar.
— Acha que estou preocupado com meu pai? Que sinto raiva de você,
é isso?
— Você se descontrolou e quebrou a casa toda. Olhou para mim com
ódio…
Ele passou a mão em meu rosto, tanta tristeza e dor ali… Com a barba
por fazer, era a imagem de um homem derrotado.
— Nunca, Isabel. Como poderia te odiar? Senti raiva pelo meu pai,
pelos homens que te magoaram. Sei que não pode me perdoar, que ele causou
muita dor ao seu amigo e, consequentemente a você, mas é impossível ficar
longe. Eu não posso me responsabilizar pelo passado… Só peço que não me
crucifique, Bel.
Naquele momento que fui entender o quanto ele sentia-se culpado por
tudo que passei.
— Não tenho raiva de você, nem do seu pai.
— Mas ele foi um monstro!
— Há muitos assim por aí… E não sou Deus para crucificar ninguém.
Só quero seguir em frente. Odiar é se ferir com as lembranças, e elas não têm
lugar em minha nova vida.
— Então, por que fugiu de mim? Por que rejeitou minhas flores, as
ligações?
— Te vi transtornado pela dor. Toda vez que me olhar, lembrará da
prostituta, e me recuso a aceitar isso. Não foi minha escolha.
— Eu não tenho vergonha de você e nem te culpo. Isso nunca passou
pela minha cabeça. Perdão se te fiz pensar isso, mas a ideia de que meu pai te
tocou ou tenha lhe machucado me causou uma fúria enorme. Naquele
momento eu o teria matado.
— Nunca mais diga isso! Ele é seu pai. Esqueça, Pedro, isso nunca
daria certo entre nós. Além de tudo, é casado.
Consegui me soltar e levantei para voltar ao carro, mas ele me seguiu.
— Você consegue esquecer? Dorme à noite sem lembrar de nós dois?
Porque eu não! Estou vegetando sem você. Entende isso?
Chegando perto do meu carro, abri a porta e fui entrar, mas ele me
impediu:
— Você pode negar, Isabel, mas já me pertence e nada pode mudar
isso.
Fechou a porta do carro e seguiu para o outro lado da rua.
Como ele sabia que me encontraria ali?
Segui para meu prédio, estacionei e chamei o elevador, a cabeça ainda
nele. Quando chegou e a porta abriu, fui arrastada para dentro dele por mãos
fortes e firmes.
— Como conseguiu entrar?
Meu corpo foi empurrado e a boca invadida como se fosse a tábua de
salvação dele. Nossas línguas envolvidas na carícia da saudade. Não imaginei
que sentia tanta falta daquele homem.
As pernas envolveram a cintura dele, meus cabelos foram puxados para
trás… Parecia que queria me marcar, selvagem, enlouquecido.
— Minha, Passarinho. Só minha…
O elevador chegou ao meu andar e já estava pronta para ele. Fui
arrastada praticamente até a porta, as pernas bambas de tanta excitação.
Ele tomou a chave e abriu a porta.
— Onde fica seu quarto? — Apontei com o dedo e ele me carregou até
a cama. O top ficou no meio do caminho, os seios expostos e sugados,
lambidos, deixavam meu corpo à beira de um orgasmo.
Puxei a camisa dele desesperadamente para sentir o corpo. Minhas
mãos estavam frenéticas, a calça arrancada por nós dois, os botões da camisa
voando pelo quarto, sem jamais a boca dele sair da minha.
Peguei o grosso pau pela cueca e o apertei de leve, fazendo-o dar um
gemido e me jogando no meio da cama.
— Não quero você com essa roupa por aí. Os homens têm vontade de
rasgar você, de comer você, e é minha.
— Sim. — Naquele momento diria qualquer coisa para não parar de
meter o dedo em minha boceta molhada. Estava em chamas.
Pegando meu cabelo e puxando, pareou seus olhos com os meus e
invadiu-me o corpo com uma só estocada.
— Ai, Deus… Ai, Pedro!
— Diga meu nome de novo.
Mais uma estocada. Ele estava me provocando.
— Pedro, Pedro… — gemi, já no limite, querendo mais.
— Sim, sou eu, sempre eu, e jamais será outro nome que vai sair dessa
boca na hora do seu prazer. Esse corpo me pertence.
Ele falava e estocava devagar, como se estivesse me marcando com as
palavras. E seus olhos, em nenhum momento, abandonavam os meus.
— Mais, preciso de mais, me faça gozar. — Já estava desesperada.
Com aquele pedido, ele começou a bombar com força, euforia, a boca
me reivindicando. Sentia-me completa, viva.
— Sim, goza, meu Passarinho, assim… Aí, sim, vem comigo!
Meu corpo correspondia, flutuando num orgasmo que me fez tremer.
Os quadris batiam com força, com golpes duros. Já sabia que também estava
perto quando gritou meu nome gemendo.
Caindo sobre mim, estávamos quase dormindo quando me colocou de
lado, deitada em seu ombro, e começou a me acariciar.
— Não me afaste de novo, Passarinho! Eu disse que não ficaria de fora
de sua vida.
— Você sabe que isso é errado?
— Nada é, Passarinho. Fomos feitos um para o outro e vou provar isso
a você.
Começou a me beijar carinhosamente por todo o rosto. Senti seu pau
ficar duro entre as coxas mais uma vez e ele enterrar a cabeça em meu
pescoço, começando a lamber.
— Quero você de novo. Foi uma semana difícil, merecemos mais um
pouco. — O sorriso dele era bem descarado.
— Concordo.
Fui invadida mais uma vez por sensações maravilhosas. Ele fez de mim
um instrumento musical que se envergava com o toque daqueles dedos,
produzindo sons divinos. Ele era meu mestre. E só ele.
CAPÍTULO 13
Já tinham se passado três meses desde que Pedro e eu havíamos feito as
pazes. Nem eu sabia ao certo como estava levando aquele relacionamento…
Sentia-me estranha. Mal por estar com um homem casado, que nunca falava
em se separar da esposa, mas me oferecia todo carinho e companheirismo
possível. Vivia me convidando para morar na casa dele, mas de seu
relacionamento oficial eu pouco sabia.
Como morria de medo de um dia ser flagrada dormindo no apartamento
dele pela esposa… Afinal, nunca se sabe se teria a chave dali. Assim como o
pai dele apareceu outro dia, poderia fazer o mesmo. Então, para evitar riscos,
o convencia a dormir no meu. Apesar de que ele vivia reclamando que era
pequeno e sem conforto algum.
As roupas de Pedro já ocupavam o armário e seus cosméticos
habitavam o banheiro. Parecíamos marido e mulher.
Cada dia era uma nova surpresa. Era o homem perfeito, um cavalheiro
na rua e animal na cama. Fazíamos sexo em todos os lugares, onde tínhamos
oportunidade. Ele vivia demonstrando o tesão por mim.
Recusei-me a voltar à empresa. Seria difícil esconder nosso
relacionamento das pessoas, então fiz algumas entrevistas e consegui trabalho
no aeroporto, na parte administrativa. Ele não gostou muito, achava
desnecessário que trabalhasse. Esse foi o motivo da nossa primeira discussão
depois de três meses.
— Não vejo necessidade de você trabalhar. Posso muito bem sustentar
a minha mulher!
— Está parecendo um homem das cavernas! Quero minha
independência, me recuso a ser sustentada por você!
— Por que? Não gosto da ideia de vê-la naqueles uniformes apertados.
— Jura que seu problema é ciúmes?
— É proteção, isso sim!
— Nunca fui um objeto seu, Pedro. Odeio quando fala desse jeito.
Fechei a cara e voltei para o quarto. Naquela noite dormimos juntos
sem nos tocarmos.
Pela manhã acordei com a mão dele em minhas pernas, gemendo em
meu ouvido.
— Me perdoa, amor. Fui um idiota ontem!
Virei para o outro lado e fingi que voltaria a dormir.
— Vou pensar!
Ele continuou com os beijos em meu ombro os dedos a subirem pelas
coxas. A respiração começou a me trair. Pedro tinha o poder de me excitar e
era impossível negar isso.
Virei-me para ele, que me colocou por cima, o pau batendo em minha
bunda, duro como pedra.
— Bom dia, amor. Não consigo ficar longe de você. Diz que me perdoa
por ser um idiota ciumento?
A boca saqueou a minha, nossas línguas duelando enquanto começava
a subir e descer sobre ele, fazendo atrito com o pau de Pedro em mim.
— Perdoado! — E comecei a cavalgada matinal.

Depois dessa discussão não tivemos mais problemas sobre o trabalho.


Ele sempre fazia questão de passar por lá para almoçar, ou seja, marcar
território, mas nunca criou cena.
Meus amigos estavam firmes e fortes no namoro. Tanto que o Gio foi
passar férias nos Estados Unidos e fiquei na dúvida se voltaria para o Brasil.
Ambos estavam muito apaixonados e eu feliz por eles.
O passado não foi mais mencionado, mas parecia uma sombra que nos
rondava. Nunca tive coragem de perguntar se Pedro havia abordado o pai
com a verdade.
Ele nunca falava da família. Sempre que tinha eventos, ele levava a
Lúcia, deixando-me em casa à sua espera, com medo de que em algum
momento algo mudasse.
Aquela semana começamos preocupados. Pedro me disse que o
detetive da empresa já sabia quem era o sabotador e revelaria tudo em uma
reunião. Como eu não poderia estar lá, roía as unhas de ansiedade.
Passei o dia inquieta, esperando um telefonema, que veio quase perto
da hora da minha saída. Pela voz, parecia chateado.
— Oi, amor, como foi? — Fui logo perguntando.
— Era o Henrique… Mas suspeitamos que ele não seja o único. Tem
mais pessoas envolvidas, Bel. Henrique se nega a dar qualquer informação.
— Nunca imaginei isso! Ele era muito galanteador e suspeito que tenha
um caso com a Cris. Será que ela está envolvida?
— Não. Ele disse que aceitou fazer tudo isso por ela, porque queria
que morassem juntos. Ela chorou muito, na hora. Ficou histérica,
praticamente.
— Imagino. Agora todos vão saber, inclusive o marido dela, porque a
coitada terá de depor. Sinto muito por isso.
— A polícia já está na busca do possível cúmplice. Daqui a alguns dias
vamos descobrir quem é. Ah, tem outra coisa… Não vou poder dormir em
sua casa hoje.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, é só que meus sogros estão no Brasil e vão dormir na casa da
Lúcia. Aí vou ter que bater cartão por l…á — Tentou fazer graça, mas eu não
achei nenhuma.
— Ok. Amanhã nos falamos, então. — Fui fria na resposta.
— Bel, não faz assim! Sabe que preciso fazer isso.
— Na verdade, eu nunca sei. Alguma vez me explicou a razão de fazer
isso? Qual a necessidade de ficar com alguém que não se ama, mentir para os
pais dela e toda a família? Ou talvez seja para mim que está mentindo. — Sei
que não deveria cobrar nada de Pedro, afinal aceitei os termos, mas um
sentimento ruim dominou meu peito naquele momento e acabei soltando as
palavras que me oprimiam o coração.
— Bel, é complicado… Eu queria resolver logo, mas ainda não posso!
— OK… Então sou quem está se enganando?
— Eu disse isso? Para de distorcer as minhas palavras. Você é minha
mulher. Só você!
— É, mas sou eu quem precisa ficar escondida, que nunca pode andar
ao seu lado. Sabe como me sinto? Sua puta, sua amante!
— Bel! — ele gritou no telefone.
— Boa noite, Pedro, depois nos falamos. — Bati o telefone na cara
dele, entrei no carro e fui para um bar. Beber era melhor que deixar aquilo me
remoendo.
Mas não fiquei muito tempo por lá. Os homens ficavam me encarando,
tentando pagar bebida… Isso cansa! Tem dias que as mulheres só querem
entrar em um bar para beber, não arrumar homem. Em pleno século 21 eles
não entenderam isso ainda?!
Voltei para casa, frustrada e muito chateada. Não consegui nem me
embebedar para esquecer.
Tomei banho, falei com os meninos pelo telefone. Estava com
saudades. Não comentei nada sobre minha discussão.
Fui dormir e acordei no meio da noite com alguém erguendo a minha
camisola. Assustei, porque sabia que havia ido dormir de calcinha, mas já
estava sem.
Virei-me, apavorada, pronta a gritar.
— Calma, amor, sou eu… — Aquilo já era demais!
— Você não ia dormir na casa da sua esposa?
Fechei a cara, o empurrei e voltei me afastei dele na cama.
— Eu não consigo fazer nada quando sei que está chateada…
— Pedro, eu sei do nosso acordo. Agora volte pela mesma porta que
entrou.
— Calma, gatinha… Vou dormir com você. Saí sem ninguém lá de
casa ver.
— E você acha que me deixa feliz em ouvir isso?
Ele saiu da cama e acendeu a luz do quarto. Ficou diante de mim, com
os braços cruzados.
— O que você quer, então? Eu não posso simplesmente sair do meu
casamento só porque é o seu desejo!
Aquelas palavras me magoaram muito. Eu sabia que já estava na hora
de tomar uma decisão, estava cansada de viver assim. Mesmo apaixonada,
sabendo que sofreria sem ele, nunca mais deixaria alguém me humilhar.
Levantei friamente da cama e fui até o armário. Puxei a mala dele e
joguei em cima da cama.
— O que vai fazer?
Olhava de mim para a mala.
— Você não pode se separar e eu entendo, mas a partir de hoje me
recuso a ficar me escondendo. Está na hora de sair da minha vida, Pedro.
— Passarinho, para de graça!
Ele balançava a cabeça e sorria, como se minha reação fosse uma coisa
boba.
— Sai da minha casa, Pedro. Agora! Some de minha vida! Eu não sou
um objeto que você brinca, tira e coloca na estante quando deseja.
— Eu nunca disse isso. Só que isso, no momento, não tenho como
resolver. Peça qualquer outra coisa, coração, faço o que você quiser. Menos
me separar…
— Não quero mais nada, Pedro. Se tem vergonha de mim ou do meu
passado…
— Está doida? Essa história não é minha, Isabel, e fez de você quem é.
Nem mesmo a Lúcia se importa que eu viva com você.
— Como pode isso? Se eu fosse casada nunca dividiria meu marido
com ninguém!
—Você é, comigo! Só não temos documentos para mostrar para as
pessoas. Pura convenção! Eu sou seu e você é minha!
Comecei a rir na cara dele.
— Casamento é mais que isso, Pedro. Quero a festa e todas as
bobagens, quero casar, ter filhos, uma casa branca e cachorros. Quando vai
poder me dar isso?
Ele ficou calado, me encarando com tristeza e pesar. Aquela era a
resposta que precisava.
Sabia que nunca poderia me dar o que mencionei, sem nenhuma
perspectiva de futuro para nós dois. Sentei na cama de novo. Coloquei o rosto
entre as pernas e chorei. Por ele, por mim e pela mulher dele.
Eu amava aquele homem. E disse isso em voz alta para ele.
— Eu também te amo. — Ele ajoelhou-se aos meus pés. — Me dá um
tempo, tá?! Vou resolver tudo. Só um pouco mais de paciência, Passarinho.
Naquela noite só ficamos ali, os corpos colados, o braço em volta da
minha cintura. Dormi com beijos e palavras de carinho.
Acordei e ele já não estava mais lá, provavelmente tinha voltado a
fingir que dormia em casa.
Minha cabeça estava meio zonza. Onde terminaria essa história?
Precisava ser forte para desistir ou terminar de vez, mas como seria
viver sem ele?
Tomei um banho rápido, vesti o uniforme do trabalho e nem tomei
café. Meu estômago estava meio embrulhado.
Fiquei sem notícias do Pedro o dia inteiro e a noite. De madrugada o
telefone tocou.
— Alô?
— Oi, Passarinho. Desculpa não ligar mais cedo, é que surgiu uma
emergência e tive que viajar para São Paulo.
A voz era tensa e aflita ao mesmo tempo. Parecia que tinha acontecido
alguma coisa muita séria.
— O que houve? Posso ajudar?
— Não. O pai da Lúcia passou mal e tivemos que transferi-lo para São
Paulo.
— Ele está bem?
— Entrou em coma. Ela ficou arrasada e nesse momento não posso
deixá-la sozinha.
Meu coração deu um tranco no peito. O corpo ficou frio, parecia que ia
desmaiar de tanta aflição. Foi quando ouvi ao longe a voz dela. Lúcia, a
esposa.
— Pedro, com quem você está falando?
Fiquei muda, aguardando a resposta dele.
— Ninguém importante. — Aquilo foi como uma apunhalada no peito.
— Passarinho, depois te ligo… Passarinho, ainda está aí?
— Sim. Boa sorte com tudo!
O telefone foi desligado e meu corpo entrou em erupção. Desde que
havia conhecido o Pedro eu sentia mais tristezas que alegrias. O quanto tinha
chorado… Mas naquele momento não tinha mais lágrimas para derramar.
Sabia que uma amante na vida de um homem tinha prazo curto, o interesse se
perdia rápido, mas me ouvir sendo descartada daquela forma machucou
mesmo assim.
Depois do telefonema o sono foi embora. Minha mente sempre voltava
para a frase “ninguém importante” …
Levantei às cinco da manhã, mais cansada do que quando deitei. Meu
coração parecia quebrado e morto por dentro.
Quando estava tomando café a porta se abriu e tomei o maior susto. Era
o Gio chegando de viagem. Derramei café na mesa e quase em cima da calça.
— Que susto! Por que não me avisou? — Fui até ele e o abracei pela
cintura.
— Baby, tinha que ser surpresa! Saudades, Bel.
— Também senti. Como vai o meu amigo?
— Pergunte para ele — Virou-se então para a entrada.
— Meu Deus, você veio…
Comecei a chorar, vendo o Diogo entrar pela porta.
— Chorona! Dessa vez, amor, é para ficar de vez. — Fui abraçada por
ele e logo Gio se aproximava também, apertando-me do outro lado.
— Adoro ter vocês por perto.
Tentei me manter firme, mas desabei em lágrimas.
— Meu Deus, eu volto e você chora, Isabel Maria? — reclamou Diogo,
olhando feio para mim.
— Não me chama assim, você sabe que não gosto.
Enxuguei as lágrimas e comecei a beijar o rosto dele.
— Estou feliz, poxa… Quase um sonho, isso.
— Pedi transferência para o Brasil e eles me deram. Não aguentava
mais ficar longe, Bel.
— Sei bem do que estava sentindo saudades… — brinquei, olhando
para o Gio, que teve a cara de pau de ficar corado.
Eles deram risada e sentaram-se à mesa para tomar café. Em meio a
risadas, o Gio perguntou o que eu temia.
— Cadê o senhor Ogro?
— Teve um problema em São Paulo, mas não quero falar dele agora.
Quando eu voltar, à noite, conversamos. Pode ser?
Eles se olharam e resolveram esquecer o assunto. Fui trabalhar bem
mais tranquila, pois sabia que não estava mais sozinha.
No aeroporto aproveitei para trocar o número do celular. Era o primeiro
passo para não correr o risco de receber ligações de Pedro e atendê-las. Então
mandei mensagem com meu novo número para os meninos, usando uma
desculpa qualquer.
O dia passou rápido, tinha muito trabalho a fazer e estava atrasada para
o jantar. Saí quase correndo para o estacionamento, mas parei, em choque,
quando vi o Pedro e a Lúcia de mãos dadas, seguindo para um carro preto
que os aguardava.
Eles não me viram, mas o motorista sim. O olhar do homem na minha
direção era de entendimento e pena. Virei o rosto e corri para o meu carro.
Tranquei-me lá dentro e tentei me segurar. Mas, mais uma vez, as lágrimas
estavam descontroladas.
Nem sei como cheguei em casa. Encontrei um buquê de flores na
portaria, enorme, de rosas amarelas, e um cartão.

Te amo. Saudades!

Fiquei tão irada que destruí o buquê, joguei-o no chão e pisei, na frente
de um porteiro de olhos esbugalhados. Fui então até o lixo e coloquei tudo lá
dentro. Estava na hora de parar de fingir que ele me amava. Aquilo nunca foi
amor, e sim loucura.
Subi até o apartamento quando uma dor súbita me acometeu no
elevador. Quase não consegui chegar até a porta de casa. Dei um grito e senti
sum líquido vazar entre as pernas. Passei a mão e era sangue.
Comecei a gritar por socorro e o Diogo abriu a porta, desesperando-se
ao me ver.
Pegou o celular e chamou uma ambulância.
— Calma, Bel, vai ficar tudo bem… Respira fundo.
Estava doendo demais, era insuportável. Em meio aos gritos a
ambulância chegou. Fui medicada e apaguei antes de chegar ao hospital.
CAPÍTULO 14
Acordei confusa, mas aos poucos fui entendendo onde estava. Olhei
para o lado da cama e, como sempre, meu cavalheiro de armadura brilhante
estava lá, sentado em uma poltrona, dormindo.
A enfermeira entrou e abriu a janela, fazendo com que Diogo
despertasse, assustado. Ele se virou para mim e deu um pequeno sorriso.
— Tudo bem, princesa? Alguma dor?
— Vou chamar o médico e dizer que ela acordou — avisou a
enfermeira, olhando para Diogo com admiração. Ele sempre causava isso nas
mulheres. Uma pena para elas.
— O que houve, Diogo? Só me lembro da dor e mais nada.
— Eles sedaram você, Bel. Você…
— Sim…
O olhar dele estava quebrado e triste.
Quando ia continuar, o médico entrou no quarto sorrindo, mas era algo
que não chegava aos olhos.
— Como vai, dona moça? Nos deu um grande susto.
— O que houve comigo, doutor?
Ele olhou para o Diogo, que se virou para a janela. Fiquei com medo da
resposta.
— Eu preciso saber. Diogo, o que está havendo?
— Conte a ela, doutor. — Meu amigo veio para perto da cama e
segurou-me a mão.
— A senhora sofreu um aborto. Estava com oito semanas de gestação.
Eu estava grávida? Como, se sempre tomei remédio?
— Perdi meu filho? Eu nem sabia que estava… Por quê?!
— Na verdade, dona Isabel, a senhora tem endometriose, o que lhe
impede de engravidar ou segurar uma gestação. Dificilmente a senhora será
mãe por vias normais.
Aquela foi a minha sentença de morte. Levei anos sonhando em ser
mãe. Nada, nem mesmo as pancadas que os homens me davam quando
bebiam demais, o estupro sofrido, nenhuma dor me preparou para aquele
vazio em saber que jamais geraria uma criança em meu ventre.
Meus gritos foram ouvidos por todo o hospital. Podia morrer naquele
momento porque nada mais fazia sentindo. Nada mesmo.
No dia seguinte recebi alta e fui direto para casa. Lá encontrei o
apartamento todo florido, e em cada ramalhete encontrava-se um cartão.
Peguei um e li.
Te amo, não esquece!
— Jogue todas no lixo — decretei e fui direto pra cama.
Diogo nem discutiu. Silenciosamente, fez o que pedi.
A partir daquele dia tornei-me uma máquina. Fazia tudo
mecanicamente, dificilmente sorria ou conversava com meus amigos.
Voltei ao trabalho, sem querer permanecer em casa. Aquele
apartamento estava me deixando nervosa, cheio de lembranças. Procurei
então outro local para morar.
Uma noite, quando voltei para casa, dei boa-noite aos meninos que
estavam na sala e fui para o quarto. Era essa minha rotina naqueles tempos.
Só que dessa vez, de lá pude ouvir uma conversa.
— Até quando acha que vou conseguir enrolá-lo? O cara está igual
siri na lata, quer notícias toda hora.
Era Gio que falava.
— Ela vai falar com ele quando achar que deve. Pedro causou isso,
então tem de aguentar — Diogo retrucou.
Pedro tentou manter contato. Soube que teve de voltar para São Paulo,
o sogro continuava em coma e a família unida lá… Mas isso não me
interessava mais.
— Sei disso, mas tente entender… O cara está com o sogro em coma, a
empresa está um caos por conta da descoberta do Henrique como traidor.
Todo mundo sob suspeita, ele não pode confiar em ninguém lá dentro. É
complicado… A família da mulher cobrando que dê …
— E a Bel perdeu o filho sozinha! O cara estava lá? Não! Sinto muito
se não tenho pena dele.
— Eu entendo, mas Pedro nem sabe que isso aconteceu.
— E não vai saber, entendeu, Gio? Nunca por nossa boca…
— Não sou dedo-duro, Diogo! Assim você me ofende. Eu amo a Bel,
mas poxa, o cara é casado e cheio de problemas. Ela sabia que poderia
terminar assim.
— Você quer dizer que a culpa é dela? É isso? Não acredito…
— Não falei isso. Só acho que temos de analisar os dois lados.
— Olha, ser mãe era o maior sonho dela… Se estivesse lá e visse a
cara dela ao descobrir que nunca seria, Gio!
Mais uma vez eu era culpada pelos problemas de relacionamento do
Diogo com alguém. Isso tinha que acabar. Ninguém merecia o meu fardo.
Com um plano traçado na cabeça, tranquei a porta do quarto e comecei
a arrumar as malas. Já tinha passado da hora de resolver minha vida.
Coloquei tudo no carro sem acordar ninguém.
Acordei cedo naquele dia, coloquei a roupa de malhar e saí para correr
na praia. Não podia chamar atenção mudando a rotina.
Na volta encontrei os meninos tomando café e uma forte tensão no ar.
Entrei, tomei banho e me arrumei. Coloquei o uniforme como de costume.
Tomei café em silêncio.
Meu coração estava partido, mas precisava fazer aquilo. Por todos nós.
Fui até o Diogo e sentei em seu colo, beijando-o no rosto.
— Te amo, meu irmão. Obrigada por tudo que vem fazendo por mim.
Ele me olhou, estranhando aquilo. Há dias que eu andava respondendo
com monossílabos e naquele dia resolvi falar. Tinha que mudar o foco. Ele
sempre acabava descobrindo tudo que pensava.
— Também te amo, Bel. Fico feliz que esteja reagindo bem, isso me
deixa mais em paz.
— Vai dar tudo certo. Tenha certeza que amo muito você.
— Você parece diferente. O que está aprontando, Isabel Maria? — Ele
me encarou e fiquei com medo que meu olhar me entregasse.
— Nada, meu amigo. Só estou com vontade de dizer que amo vocês
mesmo. Agora preciso trabalhar.
Passei pelo Gio e também dei beijos em seu rosto, calmamente, como
se por dentro não estivesse me desfazendo em pesar.
Segui para o quarto onde peguei minha bolsa e fui até a porta. Os dois
continuaram ali, olhando para mim.
Soprei um beijo e fui embora, só que dessa vez para sempre.
A CARTA
Estava cansado pra caramba. O dia foi complicado, com vários
contratos para analisar, muita coisa para organizar na empresa, mas estava
feliz. Só de imaginar que estava de volta ao Brasil, junto da Isabel e
namorando um cara tão legal como o Giovano… Ah, eu não gostava daquele
apelido, Gio. Era meio pobrinho, mas se ele preferia… Aquele era um cara
muito especial.
Pensei em dizer sobre o apelido, mas sei que rolaria a maior briga…
Mas se seguir aquele delicioso pega de reconciliação, por que não?
Sorri só de imaginar a cena e estacionei na vaga do prédio. Esperava
que a Isabel tivesse chegado, pois precisava falar com ela. Já estava na hora
dela voltar a viver e parar de se esconder.
Aquele imbecil do Pedro precisava saber do filho que tinha perdido!
Minha amiga ignorou todos os telefonemas do cara, jogou as flores fora…
Não que fosse fã dele. Achava homens daquele tipo uns babacas. Idiotas que
tinham dinheiro e se achavam no direito de enganar as pessoas conforme
queria. Minha vontade era de quebrar a cara do imbecil.
Entrei em casa, jogando a maleta no sofá. Olhei o cômodo, pensando
que era hora de arrumar um apartamento maior, mais arejado. Imaginava que
a Bel gostaria da ideia. Quem sabe o Gio pudesse morar conosco?!
O apartamento estava silencioso quando cheguei. Fui no quarto dela e
em cima da cama havia um envelope vermelho. Não sabia o porquê, mas
aquela visão me deu um frio na barriga.
Peguei-o e vi que estava endereçado para mim, com a letra da Bel.
Antes de abrir, fui para a sala e sentei no sofá, olhando para ele por um
tempo. Tinha medo de lê-lo, o choro já vindo com força do meu peito.
Foi desse jeito que o Gio me encontrou, com o envelope na mão e a ira
jorrando junto com as lágrimas.
Ele me abraçou e ficamos ali sentados, mas precisava fazer alguma
coisa. Arrancar o coração daquele babaca que quebrou minha menina. Ele
pagaria.
Levantei-me, disposto a fazer isso, enquanto Gio lia o que estava
escrito, assim como eu fiz antes.
— Onde você vai, Diogo? Acalme-se.
— Estou calmo. Só vou dar uma volta.
— Sei que é mentira, você vai atrás dele! Não faz isso. Não é o que ela
deseja, pense bem!
— Não me venha com suas suposições. Sabe por acaso o que ela
passou? Foi comigo que ela cresceu e esse cara precisa pagar pelo que fez.
Depois que eu acabar com esse imbecil, vamos encontrá-la.
Saí batendo a porta, muito nervoso.
Cheguei ao prédio do idiota em minutos, depois de dirigir feito louco
pela cidade.
Vou matar aquele cara, jurei a mim mesmo.
Entrei no prédio sem me anunciar, com sede de sangue. Fui até o
elevador com o porteiro correndo atrás de mim.
Cheguei no andar dele e toquei a campainha insistentemente.
Ele abriu a porta com cara de poucos amigos, e ao me reconhecer deu
espaço para que entrasse.
— O que houve com a Bel? Fala! — exigiu, apressado, sabendo que
alguma coisa estava errada. Quase fiquei com pena do homem, apesar dele
não merecer.
Dei um soco no rosto dele com força e em seguida nós dois rolamos
pela sala, trocando socos e pontapés. Minha vontade era arrancar a vida dele,
assim como havia feito com a minha menina.
— Ficou louco? — Afastou-se, indo até o outro lado da sala.
— Você é um maldito babaca, um idiota! Minha vontade é dar um tiro
nessa sua cara.
— Sei que quer proteger a Isabel. Eu estou arrumando tudo para nós,
mas ela não fala comigo, nem me atende… Praticamente sumiu.
— Realmente foi isso que ela fez.
— Do que você está falando? — Veio até mim, abrindo e fechando a
mão. — Onde está a Isabel?
— Ela foi embora.
Pedro ficou branco como uma folha de papel, a ponto de precisar sentar
no sofá, ainda me encarando. Senti satisfação em saber que ele estava
sofrendo com a notícia tanto quanto eu, e colocaria mais sal sobre a ferida.
— Ela deixou essa carta de despedida. Leia e sofra com cada linha.
Lembre-se que a culpa foi sua. — Joguei a carta em cima dele, e saí pela
porta.
Que ele se matasse depois da notícia. No momento não conseguia sentir
nenhuma simpatia por Pedro, a raiva dominando o corpo, por perder a minha
amiga, a melhor pessoa em toda a vida.

Diogo,

Não guarde mágoa pela decisão que estou tomando, meu irmão. Todos
os dias pergunto a Deus por que ele me deu você, pois na maioria das vezes
não mereço seu amor.
Você é meu sol!
Desde pequeno você ria quando falava que teria cinco filhos e um
cachorro, quando faziam bonecas de restos de pano e roubava uma para
mim, dizendo “toma mais uma filhinha para você treinar”. Eu sempre achei
linda essa sua atitude, de entender que aquele era meu desejo e por
alimentá-lo.
Por isso agora me sinto tão vazia, ao descobri que carreguei por
alguns dias um ser humano em meu ventre, mas até isso me foi negado.
Você merece ser feliz. O Gio é um cara legal e te ama. Fico feliz em
saber que te deixo em boas mãos. Seja legal com ele também, e juízo! Nada
de querer mandar em tudo e todos!
Não foi fácil tomar essa decisão, mas é difícil demais viver na mesma
cidade que o Pedro. Preciso encontrar meu caminho, minha estrada, me
sentir bem. Estou quebrada para ter uma família, nunca poderei ser mãe,
realizar meu sonho. Nunca, Diogo, nunca…
Quero te livrar da minha má sorte. Já basta a culpa do nosso
passado…É meu herói, meu irmão, meu único e verdadeiro amigo. Mas
agora preciso cuidar de mim.
Fique tranquilo. Assim que estiver bem, te aviso, mas agora preciso
deste tempo, curar as feridas. Perdoe se maculei tudo que você me ensinou
sendo amante de alguém, mas eu o amava, ele era uma esperança em meio à
escuridão que foi nossas vidas. Sei que errei e estou pagando por isso.
Perdi meu filho, Diogo. Perdi o que mais desejei na vida.
Seja feliz, meu irmão.
Te amo.
Sua,
Isabel.
EPÍLOGO
Minha cabeça parecia ter sido aberta por uma furadeira. Doía muito.
Virei para a janela, sentindo-me cansada. Tentei lembrar o que fazia em
um hospital e não consegui.
Uma senhora deitada ao meu lado me olhou e sorriu, percebi que ela
apertou o botão para chamar a enfermeira. Será que estava sentindo alguma
coisa? Tentei perguntar se podia ajudar, mas a minha garganta não permitiu,
seca. Parecia que não via água há muitos anos.
Tentei me mexer, mas meus braços não obedeciam para apertar o botão
de emergência. Estava cansada, dolorida, e a cabeça não parava de latejar.
Entrou então uma mulher que supus ser a enfermeira, que me olhou
carinhosamente.
— Com sede, dorminhoca? — Foi até o outro lado da cama e colocou o
copo em minha boca. Dei longos goles.
Ela olhou meu soro e foi aí que percebi que um dos meus braços estava
enfaixado, parecia quebrado. O outro estava muito machucado.
— Vou chamar o dr. Ramires, volto logo! — Saiu em seguida do
quarto.
Poucos minutos depois ela voltou, acompanhada de um moreno alto e
muito bonito, que devia ter uns dois metros de altura, todo de branco. Deduzi
ser o tal doutor.
— Muito bem, a bela adormecida acordou.
Verificou minha pressão sempre fazendo piadinhas. Parecia uma pessoa
feliz e agradável.
— Preciso que me diga qual seu nome. Temos de avisar a sua família.
Fiquei em pânico
Meu Deus! Eu não lembrava do meu nome! A mente parecia uma
parede em branco.
— Não sei… — falei baixinho.
— Não sabe seu nome? — Ele olhou para a enfermeira, apreensivo.
— Sim. — Minha garganta doía quando tentava falar. — O que houve?
— Você sofreu um acidente de carro muito grave há um mês.
Estava totalmente em pânico. Procurei por minhas memórias e elas não
vinham. Não sabia quem eu era, nem de onde vinha.
Será que tinha alguém me esperando em algum lugar?
— Minha bolsa?
— Saquearam seu carro e levaram todos os seus pertences. Quando o
socorro chegou só te encontrou deitada na beira da estrada, muito machucada.
Já demos parte na polícia, mas até agora ninguém veio.
Os dois me olhavam com pena. Esse sentimento me desolava.
Será que era uma alma sozinha? Não, sei que não… Preciso lembrar.
Fechei os olhos fazendo esforço e minha cabeça começou a doer mais
forte. Chorei de dor.
— Não faça isso. Você teve um trauma muito grande no acidente. Aos
poucos vai começar a lembrar de tudo, então vamos aguardar. Um médico
especialista vai falar com você.
Ele passou a mão em minha cabeça e sorriu, solícito, depois fitou a
enfermeira e saiu do quarto. Ela trocou meu soro, deu um sorriso triste e me
deixou ali.
Não conseguia conter minhas lágrimas. Voltei o rosto para a senhora da
outra cama e ela me fitou com pena.
Aquilo era insuportável. Por que não morri no acidente?
Olhei para a janela e um lampejo de imagens veio, fazendo a minha
cabeça pulsar de dor.
— Isabel! Volte aqui, dona Isabel.
Eram só palavras, mas agora tinha um nome.
Isabel! Eu me chamo Isabel, repeti.
PRÓXIMO LANÇAMENTO
A FORÇA DO AMOR
Estava morto sem ela...
Depois de meses sofrendo sem saber onde estava meu Passarinho, finalmente
a encontrei, mas, mais uma vez o destino nos coloca em uma situação
extrema.
Depois de perder a memória, Isabel tem um encontro misterioso com o
homem que diz saber tudo sobre seu passado, lindo e confiante, será que ela
poderia confiar realmente nele?
Vários segredos serão revelados, Pedro e Isabel tem que lutar contra um
inimigo obscuro e ainda manter o seu amor forte, mesmo com tantos segredos
e adversidades.
Quem era de verdade nesta história?

Trecho

Sentia-me um homem morto. Não sei quanto tempo estava ali naquele
sofá com aquela carta nas mãos, mas precisava fazer alguma coisa. Eu sei que
tudo foi culpa minha, que devia ficar longe dela com toda minha merda.
Impossível, ela era minha e não iria desistir. Nunca a condenaria por ter
perdido um filho ou porque não podia ser mãe. Adotaríamos quantas crianças
ela quisesse. Faria o que fosse necessário para tê-la de volta.
Determinado, peguei o meu celular e fiz a ligação para a única pessoa
que poderia achar a mulher da minha vida.
— Miguel, quero você em minha casa em cinco minutos. — Ele
reclamou que estava jantando e amanhã passava em minha sala — Não me
importa que esteja jantando ou fazendo sei lá o quê. — Falei desligando o
celular.
Sempre conseguir que queria e não seria diferente desta vez, a Bel era
minha mulher e, portanto, voltaria para o lugar de onde nunca deveria ter
saído.
Como ela se atreve a fugir de mim, partir assim? Eu disse que não
ficaria de fora, que não adiantava ela trancar a porta, eu a arrombaria.
Atrevida! Onde poderia estar? Passei a mão na cabeça. Ela deveria ter
ficado muito magoada comigo, ela me amava, eu sei disso, como podia
desistir de nós dois com tanta facilidade?
Bati os dois punhos da minha mesa: — Droga, droga!
A campainha tocou, deveria ser o Miguel, abri e lá estava o detetive.
— Entre, tenho uma missão urgente para você. — Falei não perdendo
tempo, virei-me até o centro da sala não esperando ele me acompanhar.
— Estava jantando com minha filha, foi constrangedor! — Teve o
desplante de reclamar.
— Creio que lhe pago um salário muito bom para você me atender
quando e a hora que eu necessito de você. — Ele parecia constrangido com
minha resposta.
— Vamos ao que interessa, preciso que encontre uma pessoa, para
ontem.
— Muito bem, quem seria?
— Minha namorada. — Ele ficou vermelho com minha resposta direta.
— Humm, entendo.
— Tem todas as informações na pasta dela lá na empresa, pode pegar
no setor pessoal, quero tudo para ontem. Vou deixar bem claro Miguel, disso
depende seu emprego.
— Sei, sei... Entendi a importância do assunto.
— Muito bem.
Levei-o até a porta e antes dele sair a Lucia chegou vestida em seu
terno caro e perfume Frances.

Em breve...
BIOGRAFIA
Biografia: Bibi Santos Nordestina, baiana, formada em Administração e
professora na área, começou a escrever a uns anos, mas engavetou seus
trabalhos com medo de não consegui finalizar.
Hoje autora Best-seller Amazon com mais de 20 livros publicados.
Apaixonada por livros e maquiagem, boca suja e sincera, com humor único,
vive no interior da Bahia.

Facebook: Bibi Santos


@autorabibisantos

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