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ALFABETIZAÇÃO GEOGRÁFICA A PARTIR DOS CONCEITOS DE MILTON

SANTOS: ESPAÇO, LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO.


Heliton Mendes Brito¹1;
helitonmendes14@gmail.com
Rafael Alexandre Alves Menezes².
rafa.menezes1996@gmail.com

RESUMO

O presente trabalho busca uma forma de trabalhar os conceitos de Milton Santos


aplicando- os na realidade dos alunos do sexto e sétimo ano do ensino fundamental maior no
município de Melgaço- PA. Esta forma de repassar o saber geográfico a partir dos conceitos
(espaço, lugar, paisagem e território) que a comunidade acadêmica julga essenciais para o
compreendimento da realidade social vigente. Desta forma, a aplicabilidade dos conceitos vai
dá-se no formato construtivista, assemelhando-se ao pensamento freiriano, ou seja, a partir de
múltiplas indagações até concretizar de forma sistêmica a concepção conceitual que está sendo
proposta nesta composição.

Palavras-chaves: Geografia, conceitos, educação.

GEOGRAPHICAL LITERACY FROM THE CONCEPTS OF MILTON SANTOS:


SPACE, PLACE, LANDSCAPE AND TERRITORY.

ABSTRACT

The present study seeks a way to work the Milton Santos’s concepts by applying them
in the reality of sixth and seventh grade students of middle school Melgaço- PA. This way of
passing on the geographical knowledge from the concepts (space, place, landscape and
territory) that the academic community believe is essential to the understanding of the current
social reality. To that end, the applicability of concepts is given in the constructivist format,
resembling Freirean thinking, that is, starting from multiple inquiries until the system
conceptually proposed in this composition is realized.

1
Graduando do curso de Bacharel/Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Pará, Bolsista no
grupo PET- Geografia UFPA;
² Graduando do curso de Bacharel/Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Pará, Bolsista no
grupo PET- Geografia UFPA.
Keywords: Geography, concepts, education.

INTRODUÇÃO

O conhecimento geográfico está diretamente ligado ao cotidiano de todos. Desde a


infância há um desenvolvimento de um entendimento próprio sobre o espaço em que se vive.
Tendo em vista isto, a geografia tem como objetivo à análise do espaço e compreensão de sua
organização, seus aspectos naturais e os fatores que o modificam. Assim, se mostra a
importância de trabalhar desde a pré-escola a alfabetização geográfica através de representações
que partam da realidade do aluno afim de mostrar o grande valor do saber geográfico para a sua
formação como pessoa e cidadão.

A utilização de conceitos miltonianos oferece uma oportunidade de se trabalhar


didaticamente um saber inicial que subsidiará o avanço do saber geográfico nos anos posteriores
de formação escolar. Diante desta perspectiva, usamos como referencial teórico os livros: “Por
uma geografia Nova” (2004)”; “Metamorfoses do Espaço Habitado” (2014); “A Natureza do
Espaço” (2006) e “Espaço e Método (2014) de Milton Santos; com o intuito de promover um
debate e interação sobre o cotidiano dos alunos, abrangendo os quatros principais conceitos que
estão presentes nas obras citadas e na vida deles: espaço, paisagem, território e lugar. Tendo
em vista essa perspectiva, a aplicação da referida metodologia de ensino teve como primeira
experiência no evento denominado IFNOPAP (Imaginário nas Formas Narrativas Orais
Populares da Amazônia) nos municípios de Breves, Portel e Melgaço no Estado do Pará.
Relacionando um recorte analítico ao município de Melgaço e uma escola situada no local,
aplicamos o ensaio teórico e a dinâmica ocorreu por meio de oficina e gincana que foram
atreladas aos conceitos propostos e, por sua vez, abrangendo os eixos temáticos que ressaltaria
a importância da biodiversidade e identidade cultural local dos alunos. Explanando e associando
o saber popular as múltiplas formas do saber, evidencia-se que a forma conceitual-
metodológica de Santos surge com um aspecto que supre a necessidade teórica, a partir do saber
popular, mostrando que o saber empírico é tangível ao científico e desta maneira faz-se
necessário uma melhor explanação sobre o saber popular e suas múltiplas formas de
conhecimento que passa observar a realidade cotidiana de forma conceitual e viabilizando uma
criticidade ao seu meio geográfico.
PARÁ: Político administrativo, regional rodoviário e hidroviário. Belém: MENEZES, Rafael,
2018. 1 mapa, color., 79 cm x 95 cm. Escala 1:25.000.000.

DO SABER GEOGRÁFICO MILTONIANO AO SABER CULTURAL LOCAL

Famoso e respeitado por propor no que ele chama de “um projeto ambicioso” de
renovação da geografia, Milton Santos colaborou com suas obras em novas concepções acerca
de conceitos básicos trabalhados na ciência geográfica. Questões relacionadas a espaço, lugar,
paisagem e território ganharam destaque em suas discussões e mostraram a preocupação do
autor em uma elaboração atualizada de seus conceitos frente a nova organização espacial e
mundial. Tendo em vista que essa concepção miltoniana é um saber que precisa ser vinculado
a uma forma concreta da realidade, viabilizamos essa discussão de maneira sistêmica, afim de
proporcionar as concepções que julga-se necessário no processo de ensino-aprendizagem,
relacionando ao campo analítico geográfico popular dos municípios de Breves, Melgaço e
Portel. Em um primeiro momento, propomos um debate onde buscamos observar a
compreensão dos alunos acerca dos conceitos a serem trabalhados. A partir disso, expomos as
contribuições teóricas propostas por Santos, afim de sustentar teoricamente o que foi repassado
pelos estudantes da localidade. Em seguida, aplicamos de forma lúdica, por meio de um jogo
de perguntas e respostas o que foi trabalhado na oficina (Alfabetização geográfica a partir dos
conceitos de Milton Santos: espaço, lugar, paisagem e território.), tendo como objetivo
primordial exercitar os conhecimentos que já foram expostos no momento anterior. Então por
meio dessa forma analítica, observa- se que o saber geográfico transcende os muros da escola,
aplicando uma forma integradora de ensino, assim como lembra muito bem Teixeira (1997)
sobre a importância da disseminação da educação integral e importância da leitura do seu meio,
por vez ressalta que
resta toda a obra de familiarizar a criança com os aspectos fundamentais
da civilização, habitua-la ao manejo de instrumentos mais
aperfeiçoados de cultura e dar-lhes segurança de inteligência e de crítica
para viver em um meio de mudança e transformação permanentes
(Teixeira, 1997, p.85).

A principal categoria trabalhada por Santos (2004), diz respeito ao “espaço geográfico”,
pois a partir dele pode-se perceber suas categorias internas (paisagem, configuração territorial,
divisão territorial do trabalho, rugosidades e formas-conteúdos) e seus recortes espaciais (lugar,
região, redes e escalas). Para a geografia, segundo o autor, interessa o espaço como sendo
humano e social, um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do
presente e por uma estrutura representada por relações que estão acontecendo e manifestam-se
através de processos e funções (2004, p. 153). Um fato, fator e instancia social ao passo que ele
se apresenta como um conjunto de possibilidades, determinante e determinado (2004, p. 163)
sendo através da técnica e do trabalho o intermédio feito entre o homem e o espaço. Formado
por um conjunto indissociável, solidário e contraditório de sistemas de objetos e sistemas de
ações (2014, p. 61) e também de fixos e fluxos que nele interagem (2014, p. 58). Este conceito
foi contextualizado de forma substancial para o entendimento dos demais.
O próximo conceito trabalhado por autor compete a paisagem, este por sua vez sendo
como um resultado de adições e subtrações sucessivas, uma espécie de marca do trabalho e das
técnicas, formada de elementos naturais e artificiais (SANTOS, 2014).

Um dos principais esforços metodológicos tratados pelo autor está na diferenciação de


espaço e paisagem. Por se tratar de concepções abstratas costuma-se confundir os dois conceitos
no dialeto comum. Enquanto a paisagem no ponto de vista do autor é o conjunto de formas que
exprimem as heranças que representam as sucessivas relações entre o homem e a natureza, o
espaço são essas formas mais a vida que as anima (2006, p. 103). Os dois conceitos são pares
dialéticos, completam-se e se opõem (2014, p. 74). Essa discussão foi suscitada em um debate
de bastante valia entendimento da realidade local dos alunos do sexto e sétimo ano do ensino
fundamental menor. Então, a dialética de coexistência de espaço e paisagem vincula- se ao que
eles denominaram de “coisas que estão a nossa visão, mas também as construções que tem na
nossa cidade” (texto de um aluno do sétimo ano), algo que parece ser “difícil” de ser analisado
a priori. Entretanto com o diálogo perante as situações de viabilidades teóricas e empíricas,
mostraram que o saber geográfico, sobretudo em tais conceitos, é algo de suma importância
para compreender a realidade estrutural e paisagística que compõe o meio que define-se
geográfico. Deixando claro que, a partir, de tantas questões levantadas surge por sua vez a
questão da territorialidade ou propriamente a questão do território da sua cidade.

Abrangendo a ênfase dada pelos estudantes sobre a divisão de áreas de comando das
múltiplas formas de organização territorial presente em Melgaço, surge então a indagação sobre
“o que é território?”. Fazendo um ensaio teórico presente nas obras de Santos, destacam que ao
falar de território, chama a atenção da junção entre a técnica e a organização política, econômica
e social no espaço transformando-o em espaço geográfico ou território usado. Reconhece-se o
território nessa concepção como um conjunto de frações funcionais diversas em diferentes
escalas operando através de fluxos resultados da ação humana ou herança espacial (SANTOS,
2014). Por sua vez, explanado a análise teórica sobre o questionamento em questão, obtivemos
respostas que assemelham- se ao conteúdo pragmático repassado aos alunos, pois ao repassar
esse viés conceitual, eles conseguiram de maneira eficaz contextualizar com sua realidade,
chegando a dizer que o conceito de “território” está diretamente ligado ao que eles denominam
de “o poder que cada fração do lugar exerce em determinado local” e quando “esses lugares
entram em atrito, surge então, o conflito”, que é o “choque” em poderes (territórios) distintos.
A ideia de que o espaço como um todo é formado de um campo de forças que o
caracterizam de formas diferenciadas entre si resultado da ação de diversos elementos que o
integra nos permite analisa-lo a partir de diversas escalas que compõem esse mosaico espacial.
O lugar, a menor escala dentre os conceitos trabalhados pelo autor nesse estudo, caracteriza-se
como pontos distintos que estão ligados a todos os demais por um nexo único através das forças
motrizes do modo de acumulação hegemonicamente universal (SANTOS, 2006), é a
convivência dialética entre a razão local e a razão global (2014, p. 339). É nele que há a
materialização entre a cooperação e o conflito da vida comum entre a sociedade existindo ali
muito mais que uma referência pragmática no mundo, mas também a existência e proximidade
dos indivíduos. A forma teórica implantada na concepção de “lugar”, trouxe à tona uma série
de indagações vinculadas ao “papel” de cada lugar no mundo, todavia com ênfase na cidade
local. Desta maneira, dentre do que foi proposto, mostra que este conceito é algo substancial
para o que eles vivenciam, pois segundo um aluno do sexto aluno, ele “sabia o que o lugar onde
ele morava representava na vida das outras pessoas do Estado”, e depois de explicar de maneira
lúdica o que este conceito representa, eles por sua vez conseguiram abrigar novas formas de
visão do seu redor, ou seja, do seu lugar vivencial, chegando a conclusão de que “cada lugar
tem um papel importante no espaço” e aquele não era distante desta concepção analítica.

Então evidencia-se como foi a assimilação dos alunos sobre tais temas: eles a partir de
suas vivencias construíram e observaram que estas formas conceituais presente no pensamento
de Milton Santos estão diretamente ligadas ao seu cotidiano. Porém, a forma utilizada para a
assimilação de tal substância metodológica correspondeu a expectativa, pois ao gerar
inquietação de: “o que é o espaço?”; o que seria paisagem?”; “o que é território” e por fim “qual
é o papel do meu lugar”, as dúvidas por parte dos alunos fizeram que relativizassem os
conceitos, atribuindo peculiaridades que só eles conheciam, por exemplo: “a forma do espaço
é a parte que vivemos e interagimos dentro da nossa casa, escola, rua e campo de futebol”; “o
território é onde as garotas de programa trabalham e as que ficam na rua”; “a paisagem é tudo
aquilo que eu vejo e sinto no meu dia, até os ‘tapas’ da mamãe” e por fim “o lugar onde eu
moro faz sim uma diferença no Estado” (texto informado por um dos alunos do Município de
Melgaço). É importante frisar que ao adentrar no município (Melgaço) com o pior IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano) do Brasil, segundo o IBGE, observamos que a estatística
numérica não compete a realidade cotidiana e dissolução cultural eminentemente presente
naquela fração espacial. Superando todas as expectativas que foram levadas da “capital”,
vincula- se o saber popular e cientifico ponderando sistematicamente na realidade vivencial de
cada morador do município em questão, e em particular os alunos desta localidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir disso, pudemos observar de maneira preliminar, porém promissora, que a


alfabetização geográfica praticada nas referidas localidades teve como êxito uma maior
compreensão por parte dos alunos dos conceitos fundamentais na ciência geográfica a partir das
suas próprias vivências locais. O desenvolvimento de uma leitura crítica do espaço é algo que
deve ser trabalhado desde o princípio na educação, onde o cidadão saiba dos porquês do espaço
geográfico se moldar da maneira que é, ou seja, de maneira eminentemente popular e difusa e
assim entendendo as influências da política e da economia que modificam a construção do
espaço habitado.

Então conclui-se que a concepção miltoniana de compreensão do: espaço, lugar,


paisagem e território está ligada com aquilo que a sociedade, em seu saber empírico, denomina
de “vivência”. Estas vivencias estão regadas de experiências inenarráveis, pois estas coexistem
com saberes cientificamente comprovados e estudados nas obras de Santos. A experiência que
foi vivida neste evento possibilitou um processo de ensino-aprendizagem diferenciado, ou seja,
algo que eles levarão para fora dos muros da escola no que diz respeito ao conhecimento teórico
adquirido a partir da oficina ministrada e denominada Alfabetização geográfica a partir dos
conceitos de Milton Santos: espaço, lugar, paisagem e território.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTOS, M. Por uma geografia nova. São Paulo: Edusp. 2004.

SANTOS, M. Natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo:


Edusp. 2006.

SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Edusp. 2014.


SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e
metodológicos da geografia. São Paulo: Edusp. 2014.

TEIXEIRA, A. (1997). Educação para a democracia. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ.


(Original publicado em 1936);

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