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MA T radição
NA C atólica
edição 043

QUE
PERIÓDICO
FORMATIVO E
INFORMATIVO DA
CAPELA
SANTO AGOSTINHO
PARNAÍBA - PI
Católica
Tradição
ALMANAQUE

edição
43
TC
Luta contra os pecados capitais: O orgulho * Como conservar as virtudes * Os
jovens descobrem o Tesouro da Fé: Uma geração que aspira ao que nunca viu *
A Confraria dos Homens para a Castidade * O uso do véu e a modéstia no vestir
* Ladainha da Humildade * e mais...
Nesta edição:

TEMA:

- Foi concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria (São


Tomás de Aquino) - 5

SÉRIE: LUTA CONTRA OS PECADOS CAPITAIS

- O orgulho (Adolph Tanquerey) - 9

ARTIGOS e MATÉRIAS:

- Como conservar as virtudes (São João Bosco) - 23

REPORTAGEM:

- Os Jovens Descobrem o Tesouro da Fé: Uma Geração que


Aspira ao que Nunca Viu (Raquel Veiga) - 31

CARÍSSIMOS IRMÃOS:

- Parábola administrador infiel (Dom Lourenço Fleichman) - 35

ORAÇÃO:

- Ladainha da humildade (Cardeal Merry Del Val) - 40

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DOCUMENTOS: CIRCULAR SOBRE A REVERÂNCIA AOS
SANTOS SACRAMENTOS

- O uso do véu e a modéstia no vestir (Dom Antônio de Castro


Mayer) - 42

ENTREVISTA: DOM LOURENÇO FLEICHMAN

- A Confraria dos Homens para a Castidade - 45

CONTOS DE FÉ:

- Você tem razão - 48

COLUNA NOTAS RÁPIDAS - 49

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Foi concebido do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria
por São Tomás de Aquino

 Não é somente necessário ao cristão acreditar que Jesus é o Filho


de Deus, mas também convém crer na Sua Encarnação. Por isso, o Bem-
aventurado João, após ter falado muitas coisas elevadas e de difícil
compreensão, logo a seguir nos insinua a Sua Encarnação, quando diz: “E
o Verbo se fez carne” (Jo 1, 14). Para que possamos aprender algo dessa
verdade, darei dois exemplos:
 Sabe-se que nada é tão semelhante ao Filho de Deus como a
palavra concebida em nosso interior, mas não pronunciada
exteriormente. Ninguém conhece a palavra enquanto está no interior do
homem, a não ser ele, que a concebeu. Mas logo que é proferida
exteriormente, torna-se conhecida. Assim o Verbo de Deus não era
conhecido senão pelo Pai, enquanto estava no seio do Pai. Mas logo que
se revestiu da carne, como a palavra concebida no interior, pela voz,
tornou-se manifesto e conhecido. Lê-se na Escritura: “Depois disso foi
visto na terra, e conviveu com os homens” (Br 3, 38).
 Vejamos o segundo exemplo. A palavra, pronunciada
exteriormente, é ouvida, mas não é vista, nem se pode nela tocar. Escrita,
porém, em uma folha, pode ser vista e tocada. Assim também o Verbo de
Deus tornou-se visível e palpável, quando foi, de certo modo, escrito em
nossa carne. Ora, quando numa mensagem estão escritas as palavras do
rei, ela também é chamada de palavra do rei. Do mesmo modo, o homem a
quem está unido o Verbo de Deus numa só pessoa, deve ser chamado do
Filho de Deus. Lê-se em Isaías: “Toma o grande livro e escreve nele com a
pena de um homem” (Is 8, 1). Declararam também os Apóstolos: “Que foi
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concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria”.
 Com relação a este artigo do Credo, muitos caíram em erros. Por
isso os Santos Padres, em outro símbolo, o de Niceia, acrescentaram
muitos esclarecimentos que nos permitem ver agora como esses erros
foram destruídos.
 Orígenes afirmou que Cristo nasceu e que veio a este mundo para
salvar também o demônio. Disse ainda que todos os demônios seriam
salvos no fim do mundo. Afirmar tal coisa, porém, é ir contra a Sagrada
Escritura, pois se lê no Evangelho de São Mateus: “Afastai-vos de mim,
malditos, e ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e para
os seus anjos” (Mt. 25, 41). Por essa razão, foi acrescentado no Símbolo:
“Que desceu dos céus para nós, homens (não se diz: para os demônios) e
para a nossa salvação”. Essas palavras evidenciam, ainda mais, o amor
de Deus para conosco.
 Fotino, não obstante ter aceito que Cristo nasceu da Bem-
aventurada Maria Virgem, afirmou que Ele era um simples homem, que,
por ter vivido bem e ter feito a vontade de Deus, mereceu ser considerado
Filho de Deus, como o são os outros santos. Contra essa afirmação, lê-se
na Escritura: “Desci do céu, não para fazer a minha, mas a vontade de
quem me enviou” (Jo 6, 38). Ora, é evidente que não teria descido do céu,
se aí não estivesse; e, se fosse um simples homem, não poderia ter estado
no céu. Para afastar esse erro, foi acrescentado: “desceu dos céus”.
Manés ensinava que Cristo foi sempre Filho de Deus e que desceu
do céu, mas que não possuía verdadeira carne, pois que esta era apenas
aparente. Isso é falso. Ora, não convinha ao Mestre da verdade, mostrar-
se com alguma falsidade. Por isso, como apareceu em verdadeira carne,
devia também possui-la. Lê-se no Evangelho de São Lucas: “Palpai e
vede, porque o Espírito não tem carne nem ossos, como me vedes
possuir” (Lc 24, 39). Para afastar tal erro, os Padres acrescentaram: “E se
encarnou”.
 Com relação a Ebion, que era judeu, aceitava ele que Cristo
tivesse nascido da Bem-aventurada Maria, mas de uma união carnal, e de
sêmen humano. Isso, porém, é falso, porque o Anjo disse: “O que nascerá
dela, é obra do Espírito Santo” (Mt 1, 20). Para afastar esse erro, os
Padres acrescentaram: “Do Espírito Santo”.
Valentino aceitava que Cristo tivesse sido concebido pelo
Espírito Santo, mas também ensinava que Cristo trouxera um corpo
celeste e o depositara na Bem-aventurada Virgem, e que este corpo era o
de Cristo. Por esse motivo, dizia, a Bem-aventurada Virgem nada fizera
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senão ter-se dado como receptáculo daquele corpo, e, que este passava
por ela, como por um aqueduto. Mas tal afirmação é falsa, porquanto o
Anjo disse: “O santo que de ti nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc.
1, 35). Do mesmo modo, o Apóstolo: “Quando chegou a plenitude dos
tempos, enviou Deus o seu Filho feito de mulher” (Gl 4, 4). Eis porque os
Padres acrescentaram no Símbolo: “Nasceu da Virgem Maria”.
 Ario e Apolinário afirmaram que Cristo era o Verbo de Deus e que
nasceu da Virgem Maria, mas que não possuía alma, estando em lugar
desta, a divindade. Mas isto é contra a Escritura, onde se encontram estas
palavras de Cristo: “Agora, a minha alma está perturbada” (Mt 26, 38).
Para refutar o erro de ambos, os Santos Padres acrescentaram no Símbolo:
“E fez-se homem”. Ora, o homem é constituído de alma e corpo. Por
conseguinte, Ele possuiu tudo o que o homem pode possuir, exceto o
pecado.
 Pela expressão — “fez-se homem” — são destruídos todos os
erros acima enumerados, e todos os que possam surgir. Foi destruído, por
essa expressão, principalmente o erro de Eutíquio que ensinou ter havido
uma mistura, isto é, que havia uma só natureza em Cristo, oriunda da
divina e da humana, de modo que Cristo não era nem simplesmente Deus,
nem simplesmente homem. Tal afirmação é falsa, porque, se não fosse
falsa, Cristo não seria homem como fora definido: “fez-se homem”.
 É destruído também o erro de Nestório que afirmou que o Filho de
Deus reuniu-se ao homem só por inabitação. É falsa também essa
doutrina, porque então não estaria escrito apenas homem, mas no homem.
O apóstolo declara que Cristo foi homem: “Foi reconhecido, conforme se
apresentou, como homem” (Fl 2, 7). Lê-se também em São João: “Por
que me quereis matar, eu, um homem que vos disse a verdade que ouvi de
Deus?” (Jo 8, 40).
 Dessa exposição sobre o 3° artigo do Credo, podemos tirar
algumas conclusões práticas para nossa instrução. Em primeiro lugar,
para confirmação da nossa fé. Se alguém falasse de uma terra longínqua,
na qual nunca estivera, não seria tão bem aceita a sua palavra como seria,
se a conhecesse.
 Antes da vinda de Cristo, os Patriarcas, os Profetas e João Batista
falaram algumas verdades a respeito de Deus. Os homens, porém, não
acreditaram nelas como acreditaram em Cristo, que este com Deus, e,
mais do que isso, constituía um só ser com Ele. Eis porque a nossa fé foi
muito mais confirmada pelas verdades transmitidas por Cristo. Lê-se em
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São João: “Ninguém jamais viu a Deus. O Filho Unigênito, que está no
seio do Pai, nos revelou” (Jo 1, 18). Muitos mistérios da fé, que antes
estavam velados, nos foram revelados após o advento de Cristo.
 Em segundo lugar, para elevação da nossa esperança. Sabemos
que o Filho de Deus não sem elevado motivo veio a nós, assumindo a
nossa carne, mas para grande utilidade nossa. Fez, para consegui-la, um
certo comércio: assumiu um corpo animado, e dignou-se nascer da
Virgem, para nos entregar a sua divindade; fez-se homem, para fazer o
homem, Deus. Lê-se em São Paulo: “Por quem temos acesso pela fé
nessa graça, na qual permanecemos, e nos gloriamos na esperança da
glória dos filhos de Deus” (Rm 5, 2).
 Em terceiro lugar, para que a nossa caridade seja mais fervorosa.
Nenhum indício é mais evidente da caridade divina do que o Deus,
Criador de todas as coisas, fazer-se criatura; o do Senhor nosso, fazer-se
nosso irmão; o do Filho de Deus, fazer-se filho de homem. Lê-se em São
João: “Tanto Deus amou o mundo, que lhe deu o Seu Filho” (Jo 3, 16).
Pela consideração dessa verdade, deve ser reacendido e de novo em nós
afervorado, o nosso amor para com Deus.
 Em quarto lugar, para conservação da pureza de nossa alma. A
nossa natureza foi a tal ponto enobrecida e exaltada pela união com Deus,
que foi assumida para consorciar-se com uma Pessoa Divina. Por esse
motivo o Anjo, após a Encarnação, não permitiu que o Bem-aventurado
João o adorasse, quando antes permitira que até os maiores Patriarcas o
fizessem. O homem, pois, reconsiderando e atendendo à própria
exaltação, deve perceber como se degrada e avilta a si e à própria
natureza, pelo pecado. Por isso escreve São Pedro: “Por quem nos
concedeu as máximas e preciosas promessas, para que nos tornássemos
consortes da natureza divina, fugindo da corrupção da concupiscência
que existe no mundo” (2 Pd 1, 5).
 Em quinto lugar, a meditação dos mistérios da Encarnação
aumenta em nós o desejo de nos aproximarmos de Cristo. Se alguém,
irmão de um rei, dele longe estivesse, naturalmente desejaria aproximar-
se dele, estar com ele, permanecer junto dele. Ora, sendo Cristo nosso
irmão, devemos desejar estar com Ele e nos unirmos a Ele. Com relação a
esse desejo, lê-se em São Mateus: “Onde quer que esteja o cadáver, aí se
apresentarão os abutres” (Mt 24, 28). São Paulo desejava dissolver-se
para estar com Cristo: esse desejo cresce também em nós pela
consideração do mistério da Encarnação. TC
(O Credo. Expositio in Symbolum Apostolorum reportatio Reginaldi de Piperno)
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SÉR
IE Luta contra
os
Pecados Capitais
Adolph Tanquerey

o orgulho
LUTA CONTRA OS PECADOS CAPITAIS

 Esta luta, em substância, não é senão uma espécie de


mortificação. Para completar a purificação da alma e impedir que venha a
recair no pecado, é indispensável combater a origem do mal em nós, que é
a tríplice concupiscência. Como ela é a raiz dos sete pecados capitais,
importa conhecer e combater essas más tendências. De fato, são antes
tendências que pecados; chamam-se contudo pecados, porque nos levam
ao pecado, e capitais, porque são fonte ou cabeça dum sem-número de
pecados.
 Eis como essas tendências se prendem com a tríplice
concupiscência: da soberba nascem o orgulho, a inveja e a cólera; a
concupiscência da carne produz a gula, a luxúria e a preguiça; enfim, a
concupiscência dos olhos identifica-se com a avareza ou amor
desordenado das riquezas.
 A luta contra os sete pecados capitais ocupou sempre um lugar
importante na espiritualidade cristã. Cassiano trata dele longamente nas
suas Colações e Instituições; distingue oito em lugar de sete, porque
separa o orgulho e a vanglória. São Gregório Magno distingue claramente
os sete pecados capitais que faz derivar todos do orgulho. Santo Tomás
põe-nos também em conexão com o orgulho e mostra como se podem
classificar filosoficamente, tendo em conta os fins especiais a que o
homem aspira.
 A vontade pode tender para um objeto por um duplo movimento:
a conquista de um bem aparente ou a fuga de um mal aparente. Ora o bem
aparente, procurando pela vontade, pode ser:

 1. o louvor ou a honra, bens espirituais, desordenadamente


procurados: é o fim especial do vaidoso;
 2. os bens corporais, que têm por fim a conservação do indivíduo
ou da espécie, agenciados de modo excessivo; são os fins respectivos do
guloso e do luxurioso;
 3. os bens exteriores; desordenadamente amados, são o fim do
avarento.

 O mal aparente, que se deseja evitar, pode ser:

 1. o esforço necessário para a aquisição do bem, esforço de que


foge o preguiçoso;
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2. A diminuição da excelência pessoal, que temem e fogem o
invejoso e o colérico, ainda que de modo diverso.

 Assim se tira a distinção dos sete pecados capitais dos sete fins
especiais que norteiam a atividade do pecador. Na prática seguiremos,
por ser a mais simples, a divisão que põe em conexão os vícios capitais
com a tríplice concupiscência.

O orgulho e os vícios anexos

O orgulho em si mesmo

 O orgulho é um desvio daquele sentimento legítimo que nos leva


a estimar o que há de bom em nós, e a procurar a estima dos outros na
medida em que ela é útil às boas relações que devemos manter com eles.
Não há dúvida que podemos e devemos estimar o que Deus pôs em nós de
bom, reconhecendo que Ele é o primeiro princípio e o último fim de tudo:
é um sentimento que honra a Deus e nos leva a respeitar-nos a nós
mesmos. Pode-se, outrossim, desejar que os outros vejam esse bem, que o
apreciem e deem por ele glória a Deus, do mesmo modo que devemos
reconhecer e estimar as qualidades do próximo: esta mútua estima não faz
senão favorecer as boas relações que existem entre os homens.
 Mas pode haver desvio ou excesso nestas duas tendências. Por
vezes esquece o homem que Deus é autor desses dons, e os atribui a si
mesmo: o que é evidentemente desordem, porque é negar, ao menos
implicitamente, que Deus é o nosso primeiro princípio. Assim mesmo,
pode alguém ser tentado a operar para si próprio, ou para ganhar a estima
dos outros, em lugar de trabalhar para Deus e de lhe referir toda a honra do
que faz: é também desordem, porque é negar, implicitamente ao menos,
que Deus é o nosso último fim. Tal é a dupla desordem que se encontra
neste vício.
 Pode-se, pois, definir: um amor desordenado de si mesmo que faz
que o homem se estime explícita ou implicitamente, como se fosse o seu
primeiro princípio ou último fim. É uma espécie de idolatria, porque o
homem se considera como o seu próprio Deus, segundo faz notar
Bossuet. Para melhor combatermos o orgulho, exporemos: as suas
formas principais; os defeitos que ele gera; a sua malícia; os seus
remédios.

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As principais formas do orgulho

 A primeira forma consiste em se considerar a si mesmo o homem,


explícita ou implicitamente, como seu primeiro princípio.

 Há relativamente poucos que explicitamente se amem de forma


tão desordenada que cheguem a considerar-se primeiro princípio de si
mesmos. É o pecado dos ateus que voluntariamente rejeitam a Deus, por
não quererem senhor; É deles que fala o Salmista, quando assevera:
«Disse o insensato em seu coração: não há Deus». Foi equivalentemente
o pecado de Lúcifer, que, pretendendo ser autônomo, recusou submeter-
se a Deus; o dos nossos primeiros pais, que, desejando ser como deuses,
quiseram conhecer por si mesmos o bem e o mal; o dos hereges, que,
como Lutero, se negaram a reconhecer a autoridade da Igreja
estabelecida por Deus; e o dos racionalistas que, ufanos da própria razão,
não querem submetê-la à fé. É, outrossim, o pecado de certos intelectuais
que, demasiadamente orgulhosos para aceitarem a interpretação
tradicional dos dogmas, os atenuam e deformam, para os harmonizarem
com as suas exigências.
 É maior o número dos que caem implicitamente neste defeito,
procedendo como se os dons naturais e sobrenaturais, que Deus nos
liberalizou, fossem completamente nossos. Reconhece-se, é verdade, em
teoria que Deus é o nosso primeiro princípio; mas na prática, tem-se da
própria pessoa uma estima desmesurada, como se cada um fosse autor das
qualidades que possui.
 Há quem se compraza nas suas qualidades e merecimentos, como
se fosse único autor deles: «A alma, vendo-se bela, diz Bossuet, deleitou-
se em si mesma e adormeceu na contemplação da própria excelência:
deixou um momento de se referir a Deus: esqueceu a própria
dependência; primeiramente demorou-se e depois se entregou a si
mesma. Mas, procurando ser livre até se emancipar de Deus e das leis da
justiça, tornou-se o homem cativo do seu pecado».
 Mais grave é o orgulho dos que se atribuem a si mesmo a prática
das virtudes, como os Estoicos; dos que imaginam que os dons gratuitos
de Deus são frutos dos nossos merecimentos e que as nossas boas obras
nos pertencem mais que a Deus, quando em realidade é Ele a sua causa
principal; ou enfim, dos que nelas se comprazem, como se fossem
unicamente suas.
É este mesmo princípio que faz que o orgulhoso exagere as suas
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qualidades pessoais.
 Fecham-se os olhos sobre os próprios defeitos, e remiram-se as
qualidades com óculos de aumento; por esse processo chega o homem a
atribuir-se qualidades que não possui ou que ao menos não têm mais que a
aparência da virtude; e assim é que, dando esmola por ostentação, julgará
que é caritativo, quando não passa de orgulhoso; imaginará que é um
santo, porque tem consolações sensíveis, ou escreveu belos pensamentos
ou excelentes resoluções, quando na realidade está ainda nos primeiros
degraus da escala da perfeição. Outros creem ter uma grande alma, porque
fazem pouco caso das pequenas regras, querendo-se santificar pelos
grandes meios.
 Daí a preferir-se injustamente aos demais não vai mais que um
passo, examinam-se a lente os defeitos alheios, nos próprios nem se
sonha, vê-se o argueiro nos olhos do vizinho, nos próprios não se enxerga
a trave. Por este caminho chega muitas vezes o orgulhoso, como o
Fariseu, a desprezar os irmãos; outras, sem ir tão longe os rebaixa
injustamente no próprio conceito, julgando-se melhor que eles, quando na
realidade lhes é inferior. Do mesmo princípio vem procurar dominar os
demais e fazer reconhecer a sua superioridade sobre eles.
 Com relação aos Superiores, traduz-se o orgulho pelo espírito de
crítica e revolta, que leva a espiar os seus mais pequeninos gestos ou
passos, para os censurar: quer-se julgar, sentenciar de tudo. Deste modo se
torna muito mais difícil a obediência; sente-se enorme dificuldade em
acatar a sua autoridade e decisões, em pedir-lhes as licenças necessárias;
aspira-se à independência, isto é, em última análise, a ser seu primeiro
princípio.

 A segunda forma do orgulho consiste em se considerar um a si


mesmo explícita ou implicitamente como seu último fim, fazendo as
próprias ações sem as referir a Deus e desejando ser louvado, como se elas
fossem completamente suas. Este defeito deriva do primeiro, pois, quem
se considera como seu primeiro princípio, quer ser também seu último
fim. Aqui seria mister renovar as distinções já feitas.
 Explicitamente, pouquíssimos são os que se consideram seu
último fim, exceto os ateus e os incrédulos.
 Muitos são, porém, os que procedem na prática, como se
estivessem imbuídos desse erro.
 Querem ser louvados, cumprimentados pelas suas boas obras,
como se fossem os seus autores principais e tivessem o direito de proceder
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por sua conta, para satisfação da própria vaidade. Em lugar de referirem
tudo a Deus, entendem antes que devem receber felicitações pelos seus
pretensos triunfos, como se tivessem direito a toda a honra que daí
provém. Procedem por egoísmo, pelos próprios interesses, dando-se-lhes
muito pouco da glória de Deus, e ainda menos do bem do próximo. E
assim, vão até o excesso de imaginar praticamente que os outros devem
organizar a sua vida para lhes agradarem e prestarem serviço; fazem-se
assim centro e, a bem dizer, fim dos demais. Não será isto usurpar
inconscientemente os direitos de Deus?
 Sem irem tão longe, há pessoas piedosas, que se buscam a si
mesmas, se queixam de Deus, quando Ele as não inunda de consolações,
se desalentam, quando se veem na aridez, e imaginam assim falsamente
que o fim da piedade é gozar das consolações, sendo que em realidade a
glória de Deus deve ser o nosso fim supremo em todas as ações, mas
sobretudo na oração e nos exercícios espirituais.
 É, pois, forçoso confessar que o orgulho, sob uma ou outra forma
é defeito muito comum, até mesmo entre as pessoas que se dão à perfeição
defeito que nos segue através de todas as fases da vida espiritual e que só
conosco morrerá. Os principiantes quase nem sequer dão por ele, porque
não se estudam assaz profundamente. Importa chamar-lhes a atenção para
este ponto, indicar-lhes as formas mais ordinárias deste defeito, para as
tomarem por matéria do exame particular.

Os defeitos que nascem do orgulho

 Os principais são a presunção, a ambição e a vanglória.


 A presunção é o desejo e a esperança desordenada de querer fazer
coisas além das próprias forças. Nasce de ter o homem opinião demasiado
subida de si mesmo, das suas faculdades naturais, da sua ciência, forças,
virtudes.
 Sob o aspecto intelectual, crê-se o presunçoso capaz de discutir e
resolver os mais intrincados problemas, as questões mais árduas, ou, ao
menos, de empreender estudos em desproporção com os seus talentos.
Persuade-se facilmente que tem muita discrição e sabedoria, e, em vez de
saber duvidar, decide com entono as questões mais controversas.
 Sob o aspecto moral, imagina que tem bastante luz para se guiar e
que não há grande utilidade em consultar um diretor. Persuade-se que,
apesar das faltas passadas, não tem que temer recaídas, e lança-se
imprudentemente nas ocasiões de pecado, em que sucumbe; daí
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desânimos e despeitos que são muitas vezes causa de novas quedas.
 Sob o aspecto espiritual, é mais que medíocre o seu gosto das
virtudes ocultas e crucificantes, prefere as virtudes brilhantes e em vez de
construir sobre o fundamento sólido da humildade, afaga sonhos de
grandeza de alma, força de caráter, magnanimidade, zelo apostólico
triunfos imaginários com que a fantasia doira o futuro. Logo, porém, às
primeiras tentações graves se percebe quão fraca e vacilante é ainda a
vontade. Às vezes chegam-se até a menosprezar as orações comuns e as
que se acoimam de pequenas práticas de piedade; tem aspirações talvez a
graças extraordinárias, quem ainda esta nos princípios da vida espiritual.

 Esta presunção, junta ao orgulho gera a ambição, isto é, o amor


desordenado das honras, das dignidades, da autoridade sobre os outros.
Como presume demasiado das próprias das próprias forças e se julga
superior aos demais, quer o ambicioso dominá-los, governá-los, impor-
lhes as suas próprias ideias.
 A desordem da ambição pode-se manifestar de três maneiras, diz
Santo Tomás:

 1. Buscando as honras que se não merecem e ultrapassam os


nossos meios;
 2. Buscando-as para si, para própria glória, e não para a glória de
Deus.
3. Parando no gozo das honras por si mesmas, sem as fazer servir
ao bem dos outros, em contrário da ordem estabelecida por Deus, que
exige que os superiores trabalhem pelo bem dos inferiores.

Esta ambição estende-se a todos os campos:

 1. Ao campo político, em que o ambicioso aspira a governar os


outros, e muitas vezes à custa de quantas baixezas, de quantos
compromissos, de quantas covardias que cometem, para obterem os votos
dos eleitores;
 2. Ao campo intelectual, procurando com obstinação impor aos
outros as próprias ideias, até mesmo nas questões livremente
controvertidas;
 3. À vida civil, buscando com avidez os primeiros lugares, as
funções de mais brilho, as homenagens da multidão.
 4. E ate mesmo a vida eclesiástica; pois, como diz Bossuet,
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«quantas precauções se houveram de tomar, para impedir nas eleições, até
mesmo eclesiásticas e religiosas, a ambição, as intrigas, os enredos, as
solicitações secretas, as promessas e os manejos mais criminosos, os
pactos simoníacos e os outros desmandos tão comuns nesta matéria, e
Deus sabe se com tudo isso se terá conseguido pouco mais que encobrir ou
paliar esses vícios, longe de se haverem inteiramente desarreigado». E,
como nota São Gregório, não passam assim as coisas, até mesmo entre os
membros do clero, que querem ser chamados doutores e procuram
avidamente os primeiros lugares e os cumprimentos?

 É, pois, mais comum do que se poderia julgar à primeira vista este
defeito, que se relaciona também com a vaidade.

 A vaidade é o amor desordenado da estima dos outros. Distingue-


se do orgulho, que se compraz na sua própria excelência. Mas geralmente
a vaidade deriva do orgulho: quem se estima a si mesmo de maneira
excessiva, deseja naturalmente ser estimado dos outros.

Malícia da vaidade

Há um desejo de ser estimado que não é desordem: desejar que as


nossas qualidades, naturais ou sobrenaturais, sejam reconhecidas, para
Deus ser por elas glorificado e a nossa influência para o bem ser por esse
modo aumentada, em si não é pecado. A ordem pede, efetivamente, que o
bem seja estimado, contando que se reconheça que Deus é o autor de todo
o bem e que só Ele deve ser por isso louvado e engrandecido. Quando
muito, pode-se dizer que é arriscado demorar o pensamento em desejos
desses, porque se corre perigo de desejar a estima dos outros para fins
egoístas.
 A desordem consiste, pois, em querer ser estimado por si mesmo,
sem referir essa honra a Deus, que em nós pôs tudo quanto há de bom; ou
em querer ser estimado por coisas vãs que não merecem louvor; ou enfim
em procurar a estima daqueles, cujo critério não tem valor, dos mundanos,
por exemplo, que não apreciam senão as coisas vãs.
 Ninguém descreveu melhor este defeito que São Francisco de
Sales: «Chamamos vã a glória que nos atribuímos, ou por coisa que não
existe em nós, ou por coisa que está em nós, mas não é nossa, ou por coisa
que está em nós e é nossa, mas que não merece que dela nos gloriemos. A

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nobreza da raça, o favor dos grandes, a honra popular, são coisas que não
estão em nós, senão em nossos predecessores ou na estima de outrem. Há
quem todo se envaideça e pavoneie, por se ver em cima dum bom cavalo,
por levar um penacho no chapéu, por estar vestido suntuosamente, mas
quem não vê esta loucura? É que, se há glória nessas coisas, essa glória é
para o cavalo, para a ave ou para o alfaiate... Outros miram-se e remiram-
se, por terem o bigode frisado, a barba bem penteada, os cabelos anelados
mãos muito finas, por saberem dançar, tocar, cantar; mas não será de
ânimo vil querer encarecer o seu valor e acrescentar a reputação com
coisas tão frívolas e ridículas? Outros, por um pouco de ciência, querem
ser honrados e respeitados do mundo, como se cada qual tivesse
obrigação de ir à escola a casa deles e tê-los por mestres; é por isso que os
chamam pedantes. Outros narcisam-se extasiados na própria formosura e
creem que toda a gente os galanteia. Tudo isto é extremamente vão,
insensato e impertinente e a glória que se toma de tão fracos motivos
chama-se vã, louca e frívola».

Defeitos que derivam da vaidade

 A vaidade produz vários defeitos, que são como a sua


manifestação exterior; em particular a jactância, a ostentação e a
hipocrisia.

 1. A jactância é o hábito de falar de si ou do que pode reverter em


seu favor, no intuito de se fazer estimar. Há alguns que falam de si mes-
mos, de sua família, de seus triunfos com uma candura que faz sorrir a
quem os escuta; outros têm uma habilidade rara para fazerem deslizar a
conversa para um assunto em que possam brilhar; outros ainda falam
timidamente dos seus defeitos com a esperança secreta de que os des-
culparão, pondo em relevo as suas boas qualidades.
 2. A ostentação consiste em atrair sobre si a atenção por certas
maneiras de proceder, pelo fausto que alardeia, pelas singularidades que
dão o que falar. .
 3. A hipocrisia toma os exteriores ou as aparências da virtude,
ocultando sob essa máscara vícios secretos muito reais.

A malícia do orgulho

 Para bem se julgar desta malícia, pode-se considerar o orgulho em


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si mesmo ou nos seus efeitos.
.
I - Em si mesmo:

 A) O orgulho propriamente dito, o que consciente e


voluntariamente usurpa, ainda mesmo implicitamente, os direitos de
Deus, é pecado grave, o mais grave até dos pecados, diz Santo Tomás,
porque não se quer submeter ao supremo domínio de Deus.
 Assim, querer ser independente, recusar obediência a Deus ou aos
seus representantes legítimos em matéria grave, é pecado mortal, porque
é revoltar-se contra Deus, nosso legítimo soberano.
 É falta grave também atribuir-se a si mesmo o que vem manifesta-
mente de Deus, sobretudo os dons da graça, porque é negar implicitamen-
te que Deus seja o primeiro princípio de todo o bem que há em nos.
Muitos, contudo, o fazem, dizendo, por exemplo: eu sou filho das minhas
obras.
 Peca ainda gravemente quem quer operar para si, com exclusão
de Deus, porque isso equivale a negar-lhe o direito de ser nosso último
fim.

B) O orgulho atenuado que, conquanto reconheça a Deus como


primeiro princípio e último fim, não lhe dá tudo o que lhe é devido, antes
lhe rouba implicitamente uma parte da sua glória, é falta venial bem
caracterizada. Tal é o caso dos que se gloriam das suas boas qualidades e
virtudes, como se estivessem persuadidos que tudo isso lhes pertence
como próprio; ou então o dos que são presunçosos, vaidosos, ambiciosos,
sem contudo fazerem nada que seja contrário a uma lei divina ou humana
em matéria grave. Podem contudo estes pecados degenerar em mortais,
impelindo-nos a atos gravemente repreensíveis. Assim a vaidade, que em
si não passa de falta venial, torna-se grave, quando leva a contrair dívidas
que não se poderão pagar, ou a excitar nos outros amor desordenado. É
preciso, pois, examinar também o orgulho nos seus resultados.

II. Em seus efeitos:

 A) O orgulho que não se reprime chega por vezes a efeitos


desastrosos. Quantas guerras não foram ateadas pelo orgulho dos
governantes e às vezes dos mesmos povos? Sem ir tão longe, quantas
divisões nas famílias, quantos ódios entre particulares se devem atribuir a
18
este vício? Os Santos Padres ensinam com razão que ele é a raiz de todos
os outros vícios, e que ademais corrompe muitos atos virtuosos, porque
nos leva a praticá-los com intenção egoísta.

 B) Encarando esses efeitos pelo lado da perfeição, que é o que nos


interessa, pode-se dizer que o orgulho é o seu maior inimigo, porque
produz em nossa alma uma lastimosa esterilidade e é fonte de numerosos
pecados.

 Priva-nos, efetivamente, de muitas graças e merecimentos:

 1. Priva-nos de muitas graças, porque Deus, que dá com


liberalidade a sua graça aos humildes, recusa-a aos soberbos. Pesemos
bem estas palavras, Deus resiste aos soberbos porque, como o soberbo
ataca diretamente e aborrece a soberania divina, Deus lhe resiste às
pretensões insolentes e horríveis.
 2. Priva-nos de muitos merecimentos: uma das condições
essenciais do mérito é a pureza de intenção; ora o orgulhoso opera para si,
ou para agradar aos homens, em lugar de trabalhar para Deus e assim
merece a censura dirigida aos fariseus, que faziam as suas boas com
ostentação, para serem vistos dos homens, e, por esta razão, não podiam
esperar recompensa alguma de Deus.

E, além disso, fonte de numerosas faltas:

 Faltas pessoais: por presunção, expõe-se um ao perigo em que


sucumbe, por orgulho, não pede instantemente as graças de que precisa, e
cai, depois vem o desalento, correndo até perigo de dissimular os pecados
na confissão;
 Faltas contra o próximo: por orgulho, não se quer ceder, até mes-
mo quando se não tem razão, empregam-se picuinhas mordazes na con-
versação, travam-se discussões ásperas e violentas que acarretam
dissenções e discórdias; daí, palavras amargas, injustas até, contra os ri-
vais, para os abater, críticas acerbas contra os Superiores, recusa de
obedecer às suas ordens.

É, enfim, uma causa de infelicidade para quem cede habitu-


almente ao orgulho: como o orgulhoso quer ser grande em tudo e dominar
os seus semelhantes, para ele deixa de haver mais paz e repouso. E na
19
verdade, como por um lado não pode sossegar, enquanto não consegue
triunfar de seus rivais, e por outro jamais o consegue completamente,
vive perturbado, agitado, infeliz. Importa, pois, buscar remédio para este
vício tão perigoso.

Os remédios do orgulho

Já dissemos que o remédio mais eficaz contra o orgulho é


reconhecer que Deus é o autor de todo o bem, e que, por conseguinte, só a
Deus pertence toda a honra e glória. De nós mesmos não somos mais que
nada e pecado, e, por conseguinte, não merecemos senão esquecimento e
desprezo.
Não somos mais que nada: É esta uma convicção fundamental
que os principiantes devem haurir da meditação, refletindo lentamente, à
luz divina, nos pensamentos seguintes: não sou nada, não posso nada,
não valho nada.
Não sou nada: aprouve, é certo, à Bondade divina escolher-me
entre milhões e milhões de possíveis, para me dar a existência, a vida,
uma alma espiritual e imortal, e por esses benefícios devo-lhe dar graças
todos os dias.
Eu saí do nada, e pelo meu próprio peso tendo para o nada,
aonde me precipitaria infalivelmente, se o meu Criador não me
conservasse pela sua ação incessante; o meu ser não me pertence, pois,
mas é todo inteiramente de Deus, e a Deus é que eu devo fazer dele
homenagem.
Este ser que Deus me deu é uma realidade viva, um imenso
benefício, de que jamais lhe poderia dar graças excessivas; mas, por mais
admirável que seja, este ser, comparado ao Ser divino, é um puro nada,
tão imperfeito é!
 1. É um ser contingente, que poderia desaparecer, sem que nada
faltasse à perfeição do mundo;
 2. É um ser de empréstimo, que não me é dado senão com a
reserva expressa do soberano domínio de Deus;
 3. É um ser frágil que não pode subsistir por si mesmo e necessita
de ser sustentado a cada instante por Aquele que o criou. E, pois, um ser
essencialmente dependente de Deus, sem outra razão de existir mais que
dar glória ao seu autor. Esquecer esta dependência, proceder como se as
nossas qualidades fossem completamente nossas e envaidecermo-nos
delas é, pois, erro, loucura e injustiça inconcebíveis.
20
E o que dizemos do homem na ordem da natureza, mais verdade é ainda na
ordem da graça: esta participação da vida divina, que faz a minha
dignidade e grandeza, é um dom essencialmente gratuito, que tenho de
Deus e de Jesus Cristo, que não posso conservar muito tempo sem a graça
divina, que não aumenta em mim senão com o concurso sobrenatural de
Deus; é, pois, caso para dizer: «gratias Deo super inenarrabili dono
eius». Que ingratidão e injustiça atribuir a si mesmo a menor parcela deste
dom essencialmente divino.
Não posso nada por mim mesmo: é certo que recebi de Deus
faculdades preciosas que me permitem conhecer e amar a verdade e a
bondade. Estas faculdades foram aperfeiçoadas pelas virtudes sobre-
naturais e pelos dons do Espírito Santo; e mal poderíamos admirar em
excesso esses dons da natureza e da graça que tão perfeitamente se
completam e harmonizam. Mas, de mim mesmo, de minha própria
iniciativa, não posso nada para pô-los em ação e os aperfeiçoar: nada, na
ordem natural, sem o concurso de Deus: nada, na ordem sobrenatural, sem
a graça atual, nem sequer formar um bom pensamento salutar, um bom
desejo sobrenatural. E, sabendo isto, poderia eu envaidecer-me destas
faculdades naturais e sobrenaturais, como se elas fossem inteiramente
propriedade minha? Ainda aqui seria ingratidão, loucura, injustiça.
Não valho nada: se considero o que Deus pôs em mim e o que em
mim opera pela Sua graça, não há dúvida que sou de altíssimo preço, sou
um valor: valho o que custei e custei o sangue dum Deus!». Mas a honra
da minha redenção e santificação é a mim que deve referir-se ou é a Deus?
A resposta não pode oferecer a menor dúvida. - Apesar de tudo, diz o amor
próprio vencido, ainda tenho alguma coisa que é minha e me dá valor: é o
meu livre consentimento ao concurso e à graça de Deus. Certo que temos
nisso alguma parte, mas não a principal: esse livre consentimento não é
mais que o exercício das faculdades que Deus nos deu gratuitamente, e, no
próprio momento em que o damos, é Deus que o opera em nós, como
causa principal:
E, por uma vez que consentimos em seguir o impulso da graça,
quantas vezes lhe resistimos, quantas vezes não cooperamos com ela
senão imperfeitamente! Verdadeiramente que não temos neste ponto nada
de que nos ufanar, senão de que nos humilhar.
Quando um grande mestre pintou uma obra-prima, é a ele que atri-
buímos e não aos artistas da terceira ou quarta ordem que foram seus
colaboradores. Com mais força de razão devemos atribuir os nossos
méritos a Deus, como causa primária e principal, pois que segundo canta a
21
Igreja, depois de Santo Agostinho, Deus coroa os seus dons, quando
coroa os nossos méritos.
Assim pois seja qual for a luz a que nos consideremos, seja qual
for o preço imenso dos dons que há em nós, e até mesmo dos nossos
próprios méritos, não temos o direito de nos jactarmos deles, mas o dever
de os referir a Deus na mais sentida homenagem de ação de graças, pedin-
do-lhe ao mesmo tempo perdão do mau uso que deles temos feito.
Sou pecador e, como tal, mereço o desprezo, todos os desprezos
com que aprouver a Deus esmagar-me. Para disso nos convencermos,
basta recordar o que dissemos do pecado mortal e venial.
Se tive a infelicidade de cometer um só pecado mortal, mereço
eternas humilhações, pois que mereci o inferno. Posso ter, é certo, a doce
confiança de que Deus já me perdoou; mas nem por isso deixa de
continuar a ser verdade que cometi um crime de lesa-majestade divina,
uma espécie de deicídio e suicídio espiritual, e que, para expiar a ofensa à
Majestade divina, devo estar disposto a aceitar, a desejar até todas as
humilhações possíveis, as maledicências, as calúnias, as injúrias, os
insultos: tudo isso fica muito aquém do que merece aquele que uma só vez
ofendeu a infinita Majestade de Deus. E, se o ofendi muitas vezes, qual
não deve ser a minha resignação, a minha alegria até, quando tenho
ocasião de expiar os meus pecados por meio de opróbrios de curta
duração!?
 Todos nós temos cometido pecados veniais, e, sem duvida, de
propósito deliberado, preferindo a nossa vontade e o nosso prazer à
vontade e glória de Deus. Ora isto, como dissemos, é uma ofensa à
Majestade divina, ofensa que merece humilhações tão profundas que,
nem mesmo com uma vida inteira passada na prática da humildade,
poderíamos por nós mesmos restituir a Deus toda a glória de que injus-
tamente o despojamos.
 Se a alguém parecer exagerada esta linguagem, lembre-se das lá-
grimas e penitência austera dos Santos, que não tinham cometido senão
faltas veniais, e que nunca se podiam persuadir que faziam demais para
purificar a sua alma e reparar os ultrajes infligidos à Majestade divina.
Estes Santos viam nisto mais claro do que nós; se não pensamos como
eles, é porque estamos obcecados pelo orgulho.
 Devemos, pois, como pecadores, não somente não procurar a
estima dos outros, mas desprezar-nos a nós mesmos e aceitar todas as hu-
milhações que a Deus aprouver enviar-nos. TC

22
Como conservar as
virtudes

Toda virtude é preciosa perante


Deus e perante os homens. Mas a virtude
rainha, a virtude angélica, é a santa
pureza, tesouro inestimável, que torna o
homem semelhante aos anjos, embora
vivendo ainda na terra. Com efeito, na
ressurreição, nem eles se casam e nem
elas se dão em casamento, mas serão
como anjos no céu (Mt 22, 30). Essa
virtude é como o centro ao redor do qual
se congregam e se conservam todos os
bens e, se por desgraça, viermos a perdê-
la, todas as outras virtudes também se
corromperão. Com ela me vieram todos
os bens, de suas mãos, riqueza
incalculável (Sb 7, 11).
Mas, essa virtude que tanto
agrada a Jesus e Maria, é muito atacada
pelo inimigo, que costuma usar de vários
meios para a manchar e a destruir. Por
esse motivo, indico algumas normas e
armas espirituais, com as quais com
certeza você alcançará a graça de a
preservar e repelir o Tentador.
A arma principal é o pudor. A pureza é
um diamante de grande valor; se alguém
expõe um tesouro perante a vista de
ladrões, corre grande perigo de ser
assaltado. São Gregório Magno declara
que se alguém carrega em público uma
riqueza, é sinal de que deseja ser
roubado.
Junto com o pudor, é preciso frequentemente se confessar com
extrema sinceridade, comungar sempre e evitar pessoas que com atos ou
palavras, demonstrem não apreciar a virtude da pureza.
Recorde o aviso do Senhor, de que algumas tentações, somente
com jejuns e orações podem ser vencidas. Jejum significa mortificações
dos sentidos: refrear os olhares, a gula, fugir do ócio e consentir ao corpo
somente o descanso estritamente necessário. Jesus Cristo recomenda a
oração persistente, fervorosa e cheia de fé, até que a tentação se afaste.
As jaculatórias também são armas formidáveis, podemos dizer:
Meu Jesus tem misericórdia de mim! Maria, concebida sem pecado,
rogai por mim que recorro a vós! Maria, auxilio dos cristãos, rogai por
mim! Doce coração de Maria, sede a minha salvação! É também muito
eficaz beijar o crucifixo, alguma medalha benta ou o escapulário de Nossa
Senhora.
Finalmente, podemos recorrer a uma arma invencível, a presença
de Deus, que tudo observa. Será que teremos a ousadia de ofendê-lo
diante de sua presença? O patriarca José, quando era ainda escravo no
Egito, sendo tentado a cometer um ato abominável, respondeu: Como
poderia eu realizar um tão grande mal e pecar contra Deus? (Gn 39, 9).
Também, você amigo deve dizer: Como poderei deixar-me
induzir a cometer este pecado na presença de Deus, meu Criador e
Salvador, este que pode precipitar-me no inferno?
Creio ser impossível se deixar vencer pelas tentações, sempre que
pensar na presença de Deus.

Devoção à Maria Santíssima

Um grande sustentáculo é a devoção a Maria Santíssima. Tenha a


mais íntima convicção de que obterá todas as graças desta boa Mãe,
contanto que seus pedidos contenham retidão. Deve pedir com
insistência particular, três favores que são necessários.
O primeiro é de não cometer nenhum pecado mortal. Entende o
que significa pecado mortal? Renunciar ser filho de Deus, para tornar
escravo de Satanás: perder todos os merecimentos adquiridos para a vida
eterna, ficar pendurado na boca do poço do inferno, ofender a Bondade
Divina. Todas as graças recebidas seriam inúteis se cair no pecado mortal.
Peça a Maria, sempre a graça de não cair em pecado mortal, de manhã e de
noite, em todas as práticas de piedade que fizer.
O segundo favor é a conservação da virtude da pureza, quem a
24
conserva é semelhante aos anjos do Céu; o Anjo da Guarda o considera
como um irmão e se alegra de estar sempre em sua companhia.
Para preservar essa bela virtude, aconselho que evite a
companhia do sexo oposto em ambientes perigosos, como por exemplo,
só os dois em uma casa. Tenha muito respeito nas conversas. A guarda dos
sentidos contribui muito para a conservação dessa bela virtude, portanto,
evite o excesso na comida e na bebida, muito cuidado na escolha dos
programas de divertimento, que, atualmente em sua grande maioria, são a
ruína dos bons costumes.
Guarde principalmente os olhos, que são as janelas pelas quais o
pecado entra no coração e o demônio vem tomar posse de nossa alma.
Nunca se detenha em olhar para algo que seja contrário ao pudor.
Certa vez, perguntaram a um jovem, porque era tão recatado no
olhar, este respondeu: Tomei a resolução de nunca fitar uma mulher, com
intenções dúbias, para assim, poder sempre contemplar o rosto
puríssimo de Maria Santíssima.
A terceira graça que você deve implorar da Virgem Imaculada é a
de ficar sempre afastado da companhia de pessoas, que possuem um
péssimo linguajar, mesmo que sejam da própria família. Posso garantir
que é mais prejudicial a companhia de um desses, que a do próprio
demônio. Fugindo dessas companhias, você será feliz e trilhará o
caminho que conduz ao Paraíso. Por isso, quando algum amigo proferir
blasfêmias, desprezar as práticas religiosas e dizer palavras que vão
contra a virtude da pureza, fuja como se fosse da peste. Fique certo de que
quanto mais puros forem os olhares e as conversas, tanto mais Maria
intercederá por você, junto de seu Filho e nosso Redentor.
Com certeza, você alcançará de Nossa Senhora esses favores, se
sempre for devoto sincero, proferindo-lhe jaculatórias e rezando todos os
dias o Rosário.

Conselhos para aqueles que participam de alguma associação

Caso esteja participando ou pertença a alguma congregação,


movimento ou associação, leiga ou religiosa, procure frequentar
continuamente e observe suas normas com exatidão. Tenha grande
respeito pelos diretores, comunicando-lhes quando tiver que se ausentar.
Na capela, diante do Santíssimo, esteja sempre comedido e em silêncio,
rezando ou lendo algum livro espiritual, até que se comecem as
meditações.
25
É muito importante que os mais experientes, edifiquem e ajudem
na formação dos mais novos. Lembre-se de que o testemunho é o
principal meio de apostolado, por isso, evite apelidos pejorativos e seja
sempre verdadeiro, pois caso deslize em alguma mentira, além de
ofender Deus, terá prestado péssimo serviço perante os amigos e
superiores. Recomendo que tenha filial confiança no diretor espiritual,
sempre recorrendo a ele, quando tiver alguma dúvida. Por fim, acolha
com humildade as tarefas indicadas.

A vocação

Nos seus eternos desígnios, Deus marcou cada um de nós com


uma determinada condição de vida e nos nutre com as graças para
corresponder. Como em todas as realidades, também nessa, que é de
capital importância, deve o cristão procurar conhecer a vontade divina,
imitando Jesus Cristo, que proclamava: Meu alimento é fazer a vontade
daquele quem me enviou e consumar sua obra (Jo 4, 34).
Algumas almas foram favorecidas por Deus, de modo
extraordinário, para que soubessem claramente a vocação que lhes eram
destinadas. Você, caro amigo, não precisa pretender tanto, fique
consolado com a segurança de que Deus o guiará pelo reto caminho,
desde que não se afaste dos meios oportunos para tomar essa decisão.
Um desses meios é se conservar puro durante a infância e a
juventude ou desagravar com sincera penitência os pecados cometidos.
Outro meio é a oração humilde e perseverante. Podemos dizer: Senhor,
que quereis que eu faça? Ensinai-me a fazer vossa vontade, porque vós
sois o meu Deus.
Quando chegar o momento de acolher a sua vocação, suplique ao
Senhor com orações, novenas, abstinências, peregrinações e aplique a
Santa Missa para essa finalidade. Recorra a Nossa Senhora, que é Mãe do
bom conselho; a São José, que sempre foi fidelíssimo às ordens divinas;
ao Anjo da Guarda e aos seus Santos Padroeiros. Sendo possível, diante
de tamanha decisão, é frutuoso recorrer a um retiro espiritual.
Acontecendo que pais ou responsáveis queiram persuadi-lo de
mudar o caminho traçado por Deus, lembre-se então de que é o caso de
pôr em prática o conselho do Evangelho, isto é, obediência a Deus acima
da obediência aos homens, não esquecendo o respeito e a honra que lhes
deve. Consulte o diretor espiritual, dizendo com toda clareza os detalhes e
suas disposições.
26
Quando São Francisco de Sales manifestou perante seus
familiares, que Deus o chamava ao sacerdócio, os pais lhe disseram que
na qualidade de primogênito, deveria ser o apoio e sustentáculo para a
família; que a inclinação ao estado eclesiástico era passageira e que
poderia ser santo vivendo no mundo; e até para tentar dissuadi-lo de suas
intenções, propuseram-lhe um casamento muito vantajoso. Mas nada
pôde removê-lo do propósito. Colocou constantemente a vontade de
Deus, acima da pretensão de seus pais, aos quais respeitava e amava com
muita ternura; preferiu renunciar todas as vantagens temporais, a faltar
com a graça de sua vocação. E os pais, que eram piedosos, mais tarde,
reconheceram a escolha certa do filho e ficaram orgulhosos.

Fugir do ócio

A principal arma que o demônio utiliza é o ócio, origem de todos


os vícios. Perceba que o homem nasceu para trabalhar e quando evita o
labor, está fora de seu centro e ofende Deus.
A ocupação nobre combate e vence a inércia. O que mais
atormenta os condenados no inferno, é saber que ficaram no ócio,
enquanto Deus lhes fornecia o trabalho para que se salvassem. Pelo
contrário, é grande a satisfação dos bem-aventurados do Céu, saber que
todo tempo empregado na glória de Deus, proporcionou-lhes a felicidade
eterna.
Isso não significa que você deve ficar ocupado o dia inteiro sem
nenhum descanso. Eu lhe quero muito bem e concedo de bom grado, um
tempo para o lazer. Todavia, não posso deixar de recomendar, que busque
atividades que mesmo sendo para recreação, sejam de utilidade para a
formação. Como por exemplo: bons livros, jogos e entretenimentos
lícitos. Lembre-se de que fraudes, trapaças, alcunhas e palavras obscenas
causam discórdias e podem ofender os amigos, além de serem um
contratestemunho cristão.
Mesmo nessas ocupações, não deixe de elevar o pensamento a
Deus, também oferecendo esses momentos para sua honra e glória. Certa
vez, São Luiz, enquanto se entretinha alegremente com os amigos, foi
indagado no que faria, se naquele momento aparecesse um Anjo avisando
que em quinze minutos, Deus o chamaria ao juízo. Prontamente
respondeu que continuaria sua ocupação, porque estava certo de que
aquelas atividades agradavam a Deus.

27
Cuidado com certas amizades

Há três espécies de companheiros: os bons, os maus e os que estão


no meio termo. Com os bons podemos nos relacionar, que será muito
frutuoso; com os medíocres somente quando houver necessidade, mas
sem contrair familiaridade; quanto aos maus, de vemos evitar sempre.
Quem são esses terríveis maus companheiros? Todos que não se
envergonham de ter conversas obscenas, murmuradores, mentirosos,
blasfemadores; os que têm vida escandalosa e aconselham a desobedecer
aos pais, a roubar, a transgredir os deveres. Todos esses são péssimos
companheiros e ministros de Satanás, dos quais você deve fugir mais do
que da peste e do demônio.
Quem andar com o virtuoso, será também virtuoso. Estando com
os bons, eu garanto que alcançará o Paraíso. Pelo contrário,
permanecendo com os perversos, sua alma corre grande perigo.
Alguém poderá dizer: São tantos os maus, que seria preciso sair
deste mundo para poder evitá-los. É verdade que são numerosos e, é
justamente por isso que o risco é grande. Lembre-se de que sempre terá a
companhia de Jesus Cristo, da Bem-aventurada Virgem Maria e do Santo
Anjo da Guarda. Existirão companheiros melhores que esses?
É possível encontrar bons amigos, juntos poderão frequentar os
Sacramentos da Confissão e da Eucaristia; amigos que com palavras e
exemplos, estimularão o cumprimento dos deveres sociais e religiosos.
Desde que Davi, quando jovem, conheceu Jônatas, tornaram-se grandes
amigos com proveito recíproco, porque um animava o outro nas práticas
das virtudes.

Evitar conversas fúteis

Muitos estão no inferno por terem escutado conversas frívolas!


Essa verdade já preocupava São Paulo, quando dizia que as coisas
inconvenientes não devem ser comentadas entre cristãos. As más
companhias corrompem os bons costumes (1 Cor 15, 33). As conversas
são como alimentos: por muito bom que seja o prato, é suficiente que
contenha uma só gota de veneno para matar. O mesmo acontece com
conversas obscenas. Uma palavra, um gesto, uma anedota basta para
propagar a malícia e o vício.
Às vezes poderá estar em um local que não é possível evitar,
então, como fugir de conversas desse tipo? Caso haja possibilidade de
28
diálogo, corrija com carinho e firmeza, do contrário ignore a conversa não
participando nem com sorrisos ou palavras e no coração desagrave Deus
com alguma jaculatória.
Pode acontecer que alguém escarneça e ria, mas não se preocupe,
tempo virá em que o riso e o sarcasmo dos malvados se transformarão em
pranto, o desprezo dos bons costumes se converterá na mais consoladora
alegria no Céu. Em verdade, em verdade, vos digo: chorais e vos
lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós se entristeceis, mas vossa
tristeza se transformará em alegria (Jo 16, 20). Perceba que
permanecendo fiel a Deus, com o tempo esses mesmos que detratam,
serão obrigados a prezar a sua virtude.
Onde se encontrava São Luiz Gonzaga, ninguém se atrevia a
proferir palavras indecentes ou quando se aproximava, diziam logo:
Silêncio! Aí vem Luiz.

Evitar escândalos

A palavra escândalo significa tropeço. Denomina-se escandaloso


aquele que, com palavras ou obras, oferece ocasião a outros de ofender
Deus. O escândalo é um enorme pecado, porque rouba de Deus as almas
que foram criadas para o Céu e resgatadas pelo sangue precioso de Jesus
Cristo. O escandaloso é um verdadeiro agente do maligno. Quando o
demônio com seus artifícios não consegue se apoderar de sua presa,
costuma se servir dos escandalosos.
O que devemos dizer dos que ensinam malícias aos inocentes? O
Senhor tendo tomado pela mão uma criança, disse: Se alguém
escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que lhe
prendessem ao pescoço a mó que os jumentos movem e o atirassem ao
mar (Mc 9, 42).
Uma menina, ao ouvir uma conversa escandalosa, disse a quem
falava: Foge daqui, demônio maldito. Se você meu caro, quer ser
verdadeiro amigo de Jesus e Maria, deve não somente fugir dos
escândalos, mas se empenhar em reparar com o bom exemplo, o grande
mal que esses fazem às almas.
Por isso suas conversas sejam boas e modestas; seja devoto na
igreja, obediente e respeitoso com os superiores. Como diz Santo
Agostinho: O que alcança a salvação de uma alma, também pode
esperar a salvação de sua alma.

29
Cuidado com as leituras

Nunca leia obras de cuja seriedade não esteja seguro, peça antes
conselho a quem pode discernir com critério justo. Caso possua livros
perniciosos o melhor é destruí-los.
Quando falamos de livros contra os bons costumes, entenda obras
que vão contra a moral, a religião e as práticas de piedade e que atacam a
Igreja e seus ministros. Porque não só os costumes, mas principalmente a
fé deve se conservar pura e imaculada; aquela fé sem a qual, como diz São
Paulo, não podemos agradar a Deus; aquela fé pela qual, milhares de
mártires derramaram o próprio sangue.
Mesmo que os livros dessa espécie sejam atraentes e estejam em
voga, devemos evitá-los. Por acaso você beberia com prazer um licor, se
soubesse que está envenenado, só por que foi oferecido em um cálice de
ouro?
Ainda mais que nós, católicos, não precisamos recorrer a tais
livros, pois possuímos uma vasta e riquíssima literatura que pode
perfeitamente entreter e instruir.

Evitar espetáculos imorais

Frederico Ozanam, fundador das Conferências de São Vicente de


Paulo e professor da Universidade da Sorbone, em Paris, gloriava-se na
presença do célebre Ampére, de nunca ter pisado num teatro público.
Os doutores da Igreja foram sempre unânimes em condenar as
cenas teatrais. As razões para isso são a moral distorcida que apresentam
e a apologia a todo tipo de vício.
É claro, que excetuo as representações e filmes de caráter
honesto, que podem divertir, sem nenhum perigo para os bons costumes e
a fé; infelizmente, tais exibições são raras, ao passo que em grande escala
se exibem espetáculos dúbios, onde a moral e a religião são desvirtuadas.TC

Retirado da obra “O cristão bem formado” de São João Bosco.

30
REPORTAGEM

Os Jovens
Descobrem o
Tesouro da Fé:
Uma Geração que
Aspira ao que
“Tão forte é a Tradição
que as gerações futuras Nunca Viu
sonharão com aquilo
que elas nunca viram” Por Raquel Veiga

(G. K. Chesterton) É crescente o número


de pessoas com idade cada vez
mais jovem que abraçam a
santa causa da tradição
católica, a despeito de toda a
tendência progressista e
modernizante da sociedade do
século XXI, com a queda da
valoração dos princípios
morais que guiaram as famílias
inteiras de outros tempos e
serviam de base para a
formação da infância e
juventude de suas épocas.
 Como explicar, então,
que do meio da degradação
moral reinante, uma quantidade
expressiva de jovens tenha

O Jovem Chesterton. Há mais de cem anos


previa o cenário da atual geração, saudosa
pela Tradição quase esquecida.
tomado interesse e gosto pela Fé que guiou os Santos de outros tempos, de
cuja luz apenas fumega e aparece quase extinta hoje? E jovens que, no
meio de tanta superficialidade e futilidade nos interesses dos de sua idade,
se dediquem a estudar a fundo a atual crise por qual a Igreja atravessa, e
que é, por si só, um catalisador de toda a desordem que abunda em todo o
mundo contemporâneo...
 Não seria talvez porque procurem, pela reta razão, esta Luz que
iluminou os povos, e que hoje sentem falta como a Bússola segura que os
devia guiar, e pela própria desorientação de seus pares e amigos passem a
buscar um sentido maior para a própria existência?
 Procuramos ouvir da boca de alguns destes jovens convertidos à
Fé o que os move a esta decisão de vida que, embora doce e tocada pelas
alegrias celestes, não deixa de ter suas renúncias e exigências, sobretudo
para os oriundos do progressismo conciliar.
 Isamara Lopes, 18 anos, piauiense do interior do estado
convertida à Fé há pouco mais de onze meses, acredita que a busca pela
tradição nos dias de hoje é algo de influência igualmente sobrenatural e
humana:“Muitas pessoas observam o caos em que o mundo está
mergulhado pela desobediência a Deus e tentam mudar suas vidas e a
vida da sociedade dando bom exemplo e deixando bons exemplos no
mundo (filhos). Nós somos inclinados a servir nosso Criador e muitos
corações, por uma graça, ficam contritos por estar compactuando com
as barbaridades do mundo moderno.”
 Lucas Vitorino, 20 anos, do Apostolado Nossa Senhora de Fátima
em Teresina, acredita que essa busca deva ser, antes de tudo,“pela
verdade, cuja a razão está inclinada, principalmente; e depois, o que se
fazem nas paróquias é desgastante para quem quer agradar retamente
Nosso Senhor, isso que me levou a converter-me a tradição.”
 Já para José Ribeiro, 19 anos, residente em São Raimundo
Nonato - PI, para os jovens que já possuem uma caminhada dentro da
realidade conciliar com algum nível de conhecimento da desordem
existente, a busca pela Fé é um refúgio:“Devido ao progressismo
avassalador, a má formação na educação católica e a crise na
fidedignidade dos sacramentos devido às últimas novidades, no qual
substituem a matéria e infelizmente até mesmo o rito, procuramos nos
aproximar de Capelas que ainda preservam a Tradição Católica,
obedientes ao Magistério e rezando sempre por toda Igreja, pelo Papa,

32
por todo clero, que não abandonou sua missão de salvar as almas.”

Em meio ao caos, princípios de conversão

 Apesar de perceber a desordem atual do mundo, nem todo jovem


é tocado pela graça para compreender a crise pela qual a Igreja passa.
Isamara conta como começou este processo de conversão: “Eu me dei
conta da crise na igreja quando ia assistir à missa nova e conseguia
perceber erros e desrespeito que aconteciam na mesma. Também percebi
com mais clareza, desde que me dei conta da carência de busca pelas
virtudes por parte daqueles que frequentavam missas todos os domingos
e foram catequizados e crismados.”

Contato com o legado de Dom Marcel Lefebvre – Relatos dos jovens

Isamara Lopes: “Meu contato inicial com obras de Marcel Lefebvre foi
através de um amigo. O que mais me chamou a atenção foi o fato de
existir um clérigo cuja memória e ações neste mundo remetiam à luta
para manter a missa de São Pio V.”

Lucas Vitorino: Foi quando vi o vídeo das sagrações em Ecône. Aquilo


logo me chamou atenção, como quando no sermão ele fala firmemente
contra o concílio, e logo veio o questionamento: “Um bispo está falando
contra o concílio...Como e por que isso aconteceu?” Pois, até aí, como
estava mergulhado no modernismo, o Concílio Vaticano II tinha sido
como os outros. Foi então que eu pesquisei mais sobre as obras escritas
por esse combatente da tradição até chegar na “Carta aberta aos
Católicos Perplexos”, apresentada por uma pessoa que hoje é meu
padrinho de crisma, cujo teor já se revela em seu título: é uma carta de
um bispo católico aos fiéis que estavam estupefatos com toda aquela
mudança que ocorreu depois do concílio.”

José Ribeiro: "Meu primeiro contato com a obra do Monsenhor Marcel


Lefebvre foi no início de minha juventude. Fui acólito no progressismo
por algum tempo, e sempre procurei estudar o catecismo, a doutrina e o
magistério da Santa Igreja Católica, para assim conhecer a minha Fé,
cumprir com meus deveres de estado e ser um bom católico. Desde então,

33
me aprofundando na Tradição Católica, acabei conhecendo as missões
da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X.”

Os desafios próprios da perseverança em um século sem Deus

 Em meio à volatilidade das relações e da diluição dos princípios, é


realmente previsível a dificuldade de que a geração atual tem de manter
compromissos duradouros com qualquer causa que abracem.
 Perguntado sobre qual desafio maior, se perseverar em meio ao
deserto dos sacramentos ou desvencilhar-se dos resquícios da formação
modernista, Lucas foi assertivo em sua resposta:“Uma junção dos dois,
diria, haja vista que é uma realidade em que estamos inseridos. Os
sacramentos nos chegam de pouquinho, mas isso que nos dá a fortaleza
necessária para esperar até a próxima missa, manter-se firme e recusar
os ensinamentos modernistas.”
 Para Isamara, que não viveu muito tempo a experiência dos erros
do Progressismo, a maior dificuldade em manter a Fé é suportar a escassez
sacramental, por assim dizer, em meio à Crise.“Creio que o mais difícil
certamente é perseverar em meio ao deserto de sacramentos e de missa,
pois muitos mesmo conhecendo a tradição, nunca deixam de frequentar o
rito novo.”
Perguntamos a Lucas, que já caminha há três anos da verdadeira
Fé: Se você pudesse conversar com um neo-convertido hoje e dar um
conselho sobre o que é necessário para perseverar, o que diria?
“A orientação com os padres; eles são os médicos de nossas
almas. Eu brinco com meus amigos do Apostolado que saímos de uma
direção com o Padre com a vida resolvida. E no mais, é o estudo do
Catecismo e dos textos sobre a Crise, pois um católico que não conhece a
sua fé está fadado a definhar e perdê-la, de certo modo.”

34
Caríssimos irmãos,
A parábola do administrador infiel
São Lucas 16, 1-8

“... e o senhor louvou o feitor


i n í q u o p o r t e r p ro c e d i d o
prudentemente, porque os fílhos
deste século são mais hábeis na
sua geração que os filhos da luz.”

Caríssimos irmãos,

 Nós nos perguntamos muitas vezes o que temos nós haver com
esse feitor iníquo (do evangelho) para que seja dado um elogio como
esse. Por que razão Nosso Senhor diz que devemos espelhar nossa
prudência e a nossa religiosidade, nessa prudência mundana, profana,
desse feitor iníquo?
Na verdade, nós deveríamos nos perguntar é como nós devemos
fazer para que a nossa prudência sobrenatural, a nossa sabedoria
espiritual nos leve a ter para as coisas de Deus e para as coisas da nossa
vida o mesmo zelo, a mesma preocupação, a mesma intensidade de amor
que os profanos têm nas suas coisas, nos seus afazeres... Como que nós
podemos lidar com a nossa vida sobrenatural, com essa mesma igualdade
de intensidade, de preocupação, de estar o tempo todo focado naquilo que
interessa a eles. E a chave dessa questão para nós, está nessa epístola de
São Paulo aos romanos, quando ele diz: "É pelo Espírito que vós vivereis,
não pelas coisas da carne". Então nós temos que aprender a lidar com as
coisas da nossa vida profana, da carne, com os critérios espirituais de
qualquer batizado.
35
Nós fomos elevados a uma outra vida: a vida de Cristo. Nós
fomos configurados com Cristo e enxertados na vida d’Ele e na alma
d'Ele. Somos feitos uma mesma planta, diz São Paulo. Somos uma
mesma planta com Ele. Não é possível que o batismo não traga para nós
consequências nos nossos atos, em todos os atos. Não apenas quando nós
rezamos, mas também quando nós saímos para o trabalho, quando nós
vamos ganhar dinheiro. É necessário ganhar dinheiro na vida moderna, e
ai daquele que negligenciar essa obrigação! É necessário nós cuidarmos
da escola e estudarmos. As crianças precisam estudar. Obrigação das
crianças. Com que espírito vão elas então, cuidar dessas coisas? Nós
somos católicos quando rezamos e profanos quando cuidamos das coisas
do mundo? Não é assim.
Nós fomos transformados em “in ictu oculi" (em um piscar de
olhos), “fez assim” e nossa alma já não é mais a mesma, somos outra
pessoa. E é necessário que essa outra pessoa tenha atitudes, atos próprios
de uma alma consagrada, de uma alma que foi assumida pela própria
Alma Divina. Deus nos assumiu como seus filhos, coerdeiros de Cristo
somos nós. Por causa do espírito. É pelo espírito que nós viveremos.
Como que nós podemos realizar as obras do espírito, como que nós
devemos realizar as obras que realmente interessam para nós, para nos
levar para o Paraíso? É aí que está toda a questão: com o mesmo amor que
os profanos agem nas suas obras. É isso que Nosso Senhor está dizendo
para nós. Então, como fazer com que as coisas aconteçam do modo
correto?
Em primeiro lugar, nós temos uma relação para com Deus. Deus é
o primeiro objeto do nosso conhecimento, do nosso amor. Será o único no
Céu. Aqui na terra não é o único, mas é o principal. E deve ser o principal.
Nós devemos estar com esta ideia presente em tudo aquilo que nós
fazemos. O primeiro critério nosso para ganhar dinheiro é Deus. O
primeiro critério nosso para construir uma casa é Deus. O primeiro
critério nosso para passar de ano na escola é Deus. É sempre Ele que tem a
primazia, é sempre Ele que tem a finalidade última da nossa vida. É Ele.
Nós não podemos deixá-lo de lado hora nenhuma, em nada que nós
fazemos.
E não é fácil isso, porque nós nos envolvemos com as coisas do
mundo, nós nos envolvemos com as nossas necessidades. São lícitas, são
boas, precisamos disso, mas esquecemos de Deus. E vamos usando
critérios, e alguém apita no nosso ouvido: "Olha, faz assim", " vá por ali",
"dê um jeitinho", e nós esquecemos que Deus olha tudo aquilo que nós
36
fazemos e que nós temos uma obrigação de finalizar tudo em Deus, na
perfeição divina que está dentro de nós pela graça.
Então, Deus é o primeiro objeto do nosso conhecimento, do
nosso amor. E depois nós temos um segundo, que somos nós mesmos, nós
precisamos trabalhar para a vida eterna. Tudo que nós fazemos nessa vida
deve ter como finalidade a vida eterna.
Então, temos que nos dedicar às coisas de Deus e temos que nos
dedicar às coisas profanas, do mundo, com a intenção de irmos para o
Céu. Eu não posso fazer nada que desvie a minha alma da vida eterna, que
desvie a minha alma da salvação. Qualquer coisa que seja proposta pelo
mundo moderno ou pelo melhor amigo que seja, que vá me provocar um
pecado, nós temos que recusar. E nós temos que recusar todos os
instrumentos do pecado que pululam hoje no mundo, e que são muitos, e
que são realmente instrumentos de pecado, e que estão aí, nessas coisas
todas que o mundo inventou e que vai desviando nossa capacidade de
trabalhar em tudo por causa do amor de Deus.
Em terceiro lugar, nós temos que olhar em volta de nós e
olharmos para o nosso próximo. O amor de Deus em primeiro lugar, o
amor de si mesmo como modelo do amor do próximo. E quando nós nos
dedicamos ao próximo, nós devemos fazer isso sempre com um critério
católico, sempre com um critério espiritual, sempre com o olhar do Céu.
Do mesmo modo que eu quero o Céu para mim eu tenho que querer o Céu
para aquele que está do meu lado, pode ser o pai, a mãe, os filhos, pode ser
um amigo, pode ser um companheiro de trabalho, pode ser um mendigo
na rua. Nós temos que nos preocupar com a salvação das almas. "O que
será dessa pobre coitada mulher que carrega seu filho pobre, que não tem
dinheiro, que é miserável, que está deitada numa calçada? O que
acontecerá com seu filho? Entrará no Paraíso? Quando eu estiver no
Paraíso, eu vou encontrá-lo lá?".
Pelo menos um olhar de misericórdia, pelo menos uma Ave Maria
nós devemos rezar, nós temos essa obrigação. Muitas vezes não temos
mais condição de dar uma esmola no sinal. Um moleque pede esmola, e
vai cheirar cola com aquele dinheirinho que a gente dá para ele. Não, não
somos obrigados a fomentar o inferno dele. Mas temos que nos
preocupar. Temos que rezar pelo menos uma Ave Maria, temos que ser
espirituais e termos critérios espirituais.
Que os homens cuidem das coisas materiais, mas nós cuidamos
das coisas espirituais para aqueles que nós não podemos cuidar
completamente. Daqueles que nós temos condições de cuidar
37
completamente, desses nós temos que cuidar do espírito e da carne, do
espírito e do corpo.
Santo Ambrósio, numa leitura de matinas dessa noite, mostra
como que nós podemos nos enganar nesse modo de encarar as coisas de
Deus e as coisas dos homens. E ele diz "os judeus muitas vezes são
zelosos" naquela época não havia protestante, nós poderíamos dizer o
mesmo com os protestantes, "são zelosos, são piedosos, querem agradar a
Deus", mas se perdem. Por que eles se perdem? Porque não conhecem a
Deus pela verdadeira ciência, diz Santo Ambrósio, não amam a Deus pela
verdadeira sabedoria, pela verdadeira caridade. Isso falando dos judeus.
Então quando eles se circuncisam, não agradam a Deus. E por que não
agradam a Deus? Porque veio Jesus Cristo e elevou o judaísmo a outro
nível, ao nível do batismo sacramental, que nos torna iguais, semelhantes
a Deus. Não é mais um sinal de pertencer a uma raça, pertencer a um
povo. A circuncisão caducou, não serve mais. Então quando eles fazem,
podem estar fazendo com um sentimento bom, mas não serve para a vida
eterna deles, não leva para o Céu, já não faz parte da vida religiosa, já não
faz parte da religião revelada.
A mesma coisa nós podemos dizer de tudo aquilo que acontece no
mundo moderno. E hoje em dia, são as seitas que estão em volta de nós,
com seus altos falantes, gritando do nosso ouvido, e muitas vezes são
pessoas boas, são pessoas piedosas. E muitas vezes nós ouvimos: "Ah,
mas eles são piedosos", são piedosos no mundo, são piedosos sem
eficácia, porque a religião deles não é a religião revelada, não é a religião
de Jesus Cristo. Qual a eficácia que pode ter a oração? Nenhuma. No
máximo pode fazer deles pessoas boazinhas. Mas isso não leva para o
Céu.
Então, qual nossa atitude para com eles?
Uma preocupação verdadeira. "O que acontecerá com aquele
pobre pastor que está enganado, que é honesto na sua preocupação com
Nosso Senhor Jesus Cristo, mas que está enganado, porque ensinaram
errado para ele, o caminho dele é o caminho do inferno?"
Então nós temos que rezar por eles, temos que converter o mundo
todo, nós temos que carregar esse mundo todo nas costas: na oração, no
sacrifício, na penitência. Rezar por todos esses que se desviaram do reto
caminho, para que eles voltem para o caminho da salvação, para que eles
voltem para a luz de Jesus Cristo, o verdadeiro Cristo. Então tudo isso são
atitudes que nós temos que ponderar. Com que espírito nós rezamos?
Com que espírito nós trabalhamos? Com que espírito nós encontramos as
38
pessoas lá fora? E eles? Com que espírito eles fazem essas coisas? Qual o
papel que nós temos para trazer de volta essas almas ao caminho da
salvação?
Então, quando nós ouvimos Nosso Senhor falar, deste feitor
iníquo, que por causa da perda do emprego, vai dar um desconto a todos
os seus devedores do seu senhor, e com isso vai sair dali para talvez
encontrar outro emprego, Nosso Senhor diz: está vendo? Ele teve
cuidado para se preparar para o momento em que ele perdeu o emprego. E
nós temos cuidado para não perdermos o Céu? Nós temos cuidado para
não perdermos o Paraíso? É isso que Nosso Senhor está tentando nos
dizer. E muita das vezes nós somos surdos, não ouvimos as suas palavras,
não entendemos o que realmente Ele quer dizer, e vamos agindo no
mundo com aquele critério profano, imitando todos os colegas do
trabalho, todas as pessoas da rua, todos os jornais que inventam moda
todo dia e nós vamos mergulhando nessa moda, e vamos mergulhando
nos seus filmes e nós vamos mergulhando nas suas séries, e vamos
contaminado nosso espírito e perdemos contato com essa espiritualidade.
Existe um livro do Père Emmanuel - esse que tem alguns livros já
editados pela Permanência - tem um livrinho que eu ainda não editei, mas
gostaria de editar, que se chama "O católico do mundo e o católico do
evangelho", católico que vive com os critérios do mundo e católico que
vive com os critérios do evangelho. Como que nós vamos viver? Qual vai
ser o efeito da nossa oração? Como nós vamos viver para que realmente
nosso catolicismo não seja apenas de palavras soltas no ar, mas que seja
eficazes no amor de Deus, produzam em nosso coração o amor de Deus, e
façam com que esse amor seja realmente uma transformação das nossas
almas? Se nós não tivermos nossa vida focada, centrada com critérios
sobrenaturais de vida de oração e também de vida lá fora, no mundo,
então nós nos perderemos. É fácil o mundo nos engolir, com todas as
nossas orações, e elas passarão a ser vazias, como a circuncisão dos
judeus é vazia, como Santo Ambrósio nos ensina.
Então peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que sopre em nós o
verdadeiro espírito pelo qual nós trabalhamos em tudo na vida, de modo a
não perder o caminho da salvação. TC

por Dom Lourenço Fleichmann,


Sermão do 8º Domingo depois de Pentecostes (2019)

39
Ladainha da Humildade
por Cardeal Merry Del Val, Secretário de São Pio X

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos


humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós… Humilhai-
vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará”

Senhor, tende piedade de nós.


Cristo, tende piedade nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus manso e humilde de coração: ouvi-nos.
Jesus manso e humilde de coração: atendei-nos.
Jesus manso e humilde de coração: fazei o nosso coração
semelhante ao Vosso.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser amado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser procurado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser louvado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser honrado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser preferido, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser consultado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, Jesus
Do desejo de ser adulado, livrai-me, Jesus
Do temor de ser humilhado, livrai-me, Jesus
Do temor de ser desprezado, livrai-me, Jesus
Do temor de ser rejeitado, livrai-me, Jesus
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Do temor de ser caluniado, livrai-me, Jesus
Do temor de ser esquecido, livrai-me, Jesus
Do temor de ser ridicularizado, livrai-me, Jesus
Do temor de ser escarnecido, livrai-me, Jesus
Do temor de ser injuriado, livrai-me, Jesus
Que os outros sejam mais amados do que eu Ó Jesus, concedei-me
a graça de desejá-lo
Que os outros sejam mais estimados do que eu Ó Jesus, concedei-
me a graça de desejá-lo
Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa
diminuir Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo
Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que
eu seja deixado de lado Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo
Que os outros sejam louvados e eu esquecido Ó Jesus, concedei-
me a graça de desejá-lo
Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo Ó Jesus,
concedei-me a graça de desejá-lo
Que os outros possam ser mais santos do que eu, contanto que eu
pelo menos me torne santo como puder Ó Jesus, concedei-me a
graça de desejá-lo
Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós
São José, protetor das almas humildes, rogai por nós
São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o
primeiro a abatê-lo, rogai por nós
Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai
por nós
ORAÇÃO
Ó Deus, que, por meio do ensinamento e do exemplo do
Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre
os tesouros da graça cf. Tg , e como início de todas as outras
virtudes caminho certo para o Céu concedei-nos, por intercessão
da Bem-Aventurada Virgem Maria, a mais humilde e mais santa de
todas as criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que a
Vossa Divina Providência nos oferecer. Por N. S. J. C. que convosco
vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.

41
O uso do véu e a
modéstia no
vestir –
reverência aos
Santos
Sacramentos
+ Antônio de Castro Mayer
Circular sobre a reverência aos
Santos Sacramentos 21/11/1970
(trechos)
As senhoras comunguem de cabeça coberta

 […] Sobre a recepção da Sagrada Comunhão mantenha-se o


costume tradicional que manda às senhoras e moças que se apresentem
com a cabeça coberta. Outro hábito imemorial, fundado na Sagrada
Escritura (cf. 1 Cor. 11, 5 e ss.), que não deve ser modificado. São Paulo
recorda a veneração e o respeito aos Anjos presentes na igreja, que as
senhoras significam com o uso do véu. Nada mais belo, mais ordenado,
mais encantador do que a mulher cristã que reconhece a hierarquia
estabelecida por Deus, e manifesta externamente sua adesão amorosa a
semelhante disposição da Providência.

A imodéstia no trajar e a nossa responsabilidade

 Na mesma ordem de ideias, lembramos aos nossos caríssimos


Sacerdotes que devem empenhar-se, a fundo, por conservar nos fiéis o
amor à modéstia e ao recato, que os tornam menos indignos de receber os
Santos Sacramentos.
 Não nos esqueçamos de que, se a sociedade se paganiza, se ela
foge da mentalidade cristã, como esta se define nas máximas evangélicas,
não o faz sem a conivência e a cooperação das famílias católicas, e,
portanto, em grande parte, por nossa culpa, de nós Sacerdotes. Ou por
comodismo, que em nós cria aversão ao exercício de nossa função de
orientadores do povo fiel, ou quiçá – PROH DOLOR! – por
condescendência com a sensualidade reinante, somos remissos em
42
declarar, sem rebuços, que as modas de hoje destoam gravemente da
virtude cristã, e, mais ainda remissos somos, em usar da firmeza
apostólica, ainda que suavemente exercida, para afastar dos Sacramentos
a atmosfera sensual atualmente introduzida na sociedade pelas vestes
femininas. É com tristeza que sabemos de Sacerdotes na Diocese, e de
outras pessoas com responsabilidade de orientação de almas que não
tomam a menor medida no sentido de manter em torno dos Sacramentos,
especialmente da Santíssima Eucaristia, o ambiente de pureza que Jesus
Cristo exige de seus fiéis servidores. Por que todas as igrejas da Diocese
não ostentam, em lugar bem visível, as disposições eclesiásticas no
sentido de que as senhoras e moças não se apresentem no templo de Deus
com vestes ajustadas, decotadas, de saias que não desçam abaixo dos
joelhos, ou de calças compridas, estas últimas mais próprias do outro
sexo? E por que não tomam todos os Sacerdotes medidas a fim de que
com semelhantes trajes, não se apresentem aos Sacramentos as senhoras
e moças, ou para recebê-los ou como madrinhas ou testemunhas? Seria o
mínimo que se poderia pedir a quem está realmente interessado por que a
adaptação de que tanto se fala, não seja uma profanação do Sagrado, com
prejuízo pessoal, para o povo fiel e para a sociedade em geral.
 Caríssimos Sacerdotes, o zelo pela Casa de Deus, bem como a
caridade com o próximo, pedem, nos tempos atuais, maior atenção à
maneira de vestir dos fiéis que o são e querem viver cristãmente. A
Sagrada Escritura lembra que “as vestes do corpo, o riso dos dentes e o
modo de andar de um homem fazem-no conhecer” (Ecl. 19, 27). E Pio XII
comenta: “A sociedade, por assim dizer, fala com a roupa que veste; com
a roupa revela suas secretas aspirações, e dela se serve, ao menos em
parte, para construir o seu próprio futuro”.

Uma medida simples e eficaz

 Uma das ocasiões em que mais especialmente devemos aplicar a


palavra da Escritura e a orientação pontifícia é quando dos casamentos.
Todas as paróquias deveriam ter um folheto, breve e simples, onde se
recordassem a natureza, a santidade e as qualidades do Matrimônio
cristão, as disposições para recebê-lo frutuosa e dignamente, e mais as
advertências quanto aos trajes como hão de se apresentar na igreja os
noivos, as testemunhas e convidados. Tal folheto deveria ser entregue aos
interessados no momento em que cuidam do processo matrimonial na
igreja.[...]
43
 Ora, caríssimos Sacerdotes, inúmeras mudanças, que se
apresentam como outras tantas etapas do “aggiornamento”, tendem só a
favorecer as comodidades da natureza humana decaída, e a diminuir o
fervor da caridade para com Deus. Sob o título de dignidade humana
reduzem o lugar devido a Deus na vida do homem, cuja autonomia é
lisonjeada de todos os modos. Semelhante “aggiornamento” não se
insere dentro da salutar Tradição católica. Nele o lugar da mortificação,
da renúncia, é mais o de uma concessão a que dolorosamente, não se pode
fugir, do que o de uma exigência positiva, como ensina o dogma do
pecado original, ponto básico da Economia da redenção, a cuja amorosa
adesão se há de conformar a vida cristã, que porá sua alegria na
austeridade e penitência, com que o homem se prepara para a visão
beatífica no seio de Deus.
 Com o “aggiornamento” de que falamos, aliás, perde-se de vista
a bem-aventurança futura, para se cuidar da prosperidade do conforto, da
felicidade aqui na terra, como se o homem aqui tivesse sua moradia
permanente.
 Não é preciso mostrar como um tal “aggiornamento” constitui
um escândalo, no sentido próprio da palavra, pois contribui para perder as
almas.

Sejamos cautelosos com certas permissões

 Caríssimos Sacerdotes, estas nossas considerações, como


facilmente podeis verificar, têm o valor perene que lhe confere a Tradição
católica, de onde procedem. Valem por si. Contra elas, pois, não há aduzir
o exemplo do que se possa realizar alhures. De fato, sabemos as razões
que determinam as permissões peculiares de outras regiões, sempre na
hipótese de que não se trate de abusos, mas de concessões. Sabemos,
aliás, por confissão do próprio Cardeal Gut, Prefeito da Sagrada
Congregação para o Culto Divino, que mais de uma vez, o Papa permitiu
contra a vontade, certas práticas que ele mesmo, ele Papa, considera
abusivas. O que quer dizer que devemos ser cautelosos ainda quando se
trata de permissões dada pela mesma Santa Sé. Enfim, o que podemos
dizer é que aqui não militam motivos que, talvez, justifiquem usos
introduzidos em outras partes. O que talvez em outros lugares não seja
censurável, aqui certamente é coeficiente de dessacralização. TC
(Retirado do livro “Dom Antônio de Castro Mayer – 1948-1988:
Quarenta anos de episcopado”)

44
TC entrevista
Dom Lourenço Fleichman

Tema: A Confraria dos Homens Castos


TC - Dom Lourenço, qual o histórico de fundação da Confraria dos
Homens para a Castidade?

DL – A ideia de lançar a Confraria dos Homens para a Castidade, que


acabou sendo chamada mais simplesmente de Confraria dos Homens
Castos, foi a partir da constatação da grande dificuldade que hoje existe
para a manutenção da castidade em todas as formas de vida – solteiros,
jovens, idosos, casados... Por causa dessa dificuldade, que se constata no
mundo todo, e aqui no Brasil em particular por ser um povo muito
superficial, sensível e sentimental, me veio essa ideia de um ataque
frontal contra o pecado da carne. Esse ataque frontal seria, então, uma
atitude não mais de defesa, de se proteger, de tentar escapar do pecado,
mas de atacá-lo. Então nós faríamos uma confraria em que os estatutos
estabeleceriam critérios de combate verdadeiro, ativo, efetivo, como
sendo o ato específico de quem é membro da Confraria. A ideia foi
apresentada para alguns padres da Fraternidade, mas não encontrei uma
recepção muito boa, ficavam meio temerosos... Um dia redigi um estatuto
e apresentei a Monsenhor De Galarreta, que conversou comigo, propôs
algumas modificações e chegamos então a um texto definido. E ele
aprovou.
45
 A Confraria tem como atividade principal uma oração diária.
Infelizmente nós não temos condições de fazermos reuniões esporádicas,
porque foi aberta pra inscrições através da Internet pro Brasil todo, ou
mesmo quem moraria no exterior pode também participar. De vez em
quando enviamos algum texto para alimentar a formação e o combate dos
membros da Confraria.
É tudo muito simples, é tudo muito caseiro. Ninguém vai precisar
fazer coisas extraordinárias, apenas puxar a espada todo dia para um
combate mais sério, mais constante contra a sensualidade, os pecados do
sexto mandamento, nono mandamento, enfim... dependendo do estado de
vida, se a pessoa solteira, casada, viúva, etc. Basicamente é isso.

TC - O que é preciso então especificamente para alguém se tornar


membro e quais as obrigações de quem se inscreve na Confraria dos
Homens Castos?

DL - Para se tornar membro bastar preencher o formulário. É uma


confraria reservado aos homens. E a ideia de reservar aos homens é, de
uma certa forma, restabelecer um critério próprio da natureza humana que
é o fato de que o homem foi criado por Deus do barro da terra, e a
referência do homem é a terra. Primeiro, porque ele é responsável pelo
uso da terra, como Deus estabelece no Gênesis; como também ele é
responsável pela família, como Deus também estabelece no Gênesis. E a
mulher tem como referência não a terra, mas o próprio homem, já que Eva
foi criada da costela de Adão. A minha ideia é que trabalhando de um
modo muito sério e muito ativo a castidade nos homens, as mulheres
teriam no homem casto e no homem forte a sua referência, e elas mesmas
se tornariam também castas, entrariam dentro de um ambiente de
combate pela castidade porque os homens da sociedade estão fazendo
assim.
 Para se inscrever, existe um link no site da Permanência, com uma
apresentação rápida e um formulário online para preenchimento. Os
dados são colocados organizados numa planilha com os e-mails de todos,
para os quais são enviados textos de formação, de meditação... para as
pessoas alimentarem esse combate. Os estatutos estabelecem alguns
critérios de enfrentamento do mal e de ir em busca da vitória sobre o mal.
Não é uma atitude passiva, isso é que é o ponto principal. Não é ficar se
defendendo e fugindo das ocasiões, não. É estabelecer critérios, quebrar
coisas, deletar seguidores, sair das redes sociais e, enfim, cortar qualquer
46
vínculo com esses instrumentos sociais de hoje que são as portas por onde
entram o lixo da pornografia e da impureza.

TC - Com quantos membros conta atualmente a Confraria? O senhor já


cataloga relatos de frutos e avanços espirituais junto aos membros?
DL - Nós estamos com cerca de 650 membros completando um ano de
existência da Confraria (ela foi fundada em dezembro de 2018). É um
número que me surpreendeu. Eu não esperava que chegasse a tanto. Cada
vez que algum texto, algum sermão – como há pouco tempo eu fiz os
sermões sobre o martírio da castidade – são dezenas de novos membros
que se inscrevem e eu que não vamos ficar parado nisso. Nós vamos
atingir a meta de mil, de mais de mil talvez, em pouco tempo, porque tem
crescido.
 Foi feita uma primeira enquete sobre justamente o resultado da
confraria, se as pessoas tinham tirado proveito ou não, em junho ou julho
desse ano, e muitas pessoas responderam falando sobre a mudança de
suas vidas, como que a Confraria e o fato de rezar aquela oração todos os
dias, e as práticas que os estatutos estabelecem... como que isso tudo
favoreceu e mudou a vida das pessoas. E é muito impressionante ver
como que realmente tem dado resultado. A ideia é depois eu poder
desenvolver mais esse modo de ser da Confraria atual, que é um pouco
limitado por conta das minhas diversas atividades. Eu não posso estar o
tempo todo trabalhando com a Confraria, porém mais adiante pode ser
que a gente consiga desenvolver isso. Essa enquete, eu pretendo enviar
para a leva dos novos membros que entraram depois do primeiro envio.
De qualquer forma é bastante surpreendente o testemunho das pessoas
que realmente mudaram de vida por causa da Confraria. TC

Para saber mais informações e se inscrever na Confraria dos


Homens para a Castidade, acesse o link abaixo:

https://permanencia.org.br/drupal/node/5471

47
Contos de Fé
Você tem razão
Havia um senhor rico que não queria saber de religião, nem de igreja,
nem de preceito pascal, nem de oração.
Com ele vivia, há muitos anos, um ótimo criado, piedoso, fiel e que
lhe queria muito bem. Esse criado, valendo-se da confiança que lhe dava o
patrão, dizia-lhe às vezes:
- Mas, senhor patrão, pense também um pouco em Deus e em sua
alma.
- Fique tranquilo, respondia-lhe o patrão. Veja: ou eu sou
predestinado e então me salvarei da mesma forma sem ir à igreja receber os
sacramentos e rezar; ou não sou predestinado, e então, faça eu o bem que
fizer, me condenarei do mesmo modo.
Aconteceu que, um dia, aquele senhor caiu doente. Chamou logo o
servo fiel e disse-lhe:
- Vá chamar o médico para mim.
O criado ouviu, mas não foi. Chegada a tarde sem que o médico
aparecesse, perguntou o enfermo:
- Você não chamou o médico?
- Escute senhor patrão; eu pensei assim: ou Deus destinou que meu
patrão sare, e então sarará também sem médico; ou destinou que morra, e
então, mesmo com todos os médicos do mundo, morrerá igualmente; por
isso é inútil chamar o médico.
- Você é um bobo, um imbecil! Gritou o patrão, furioso. Deus não
quer fazer milagres sem motivo, quer que empreguemos os meios que
estabeleceu. Em caso de doença quer que se chame o médico; e você vá
correndo chamá-lo, ouviu?...
-Sim; sim, senhor; vou já; por que o senhor patrão não raciocina do
mesmo modo quando se trata de sua alma?...
A observação era acertada e o patrão teve de responder:
- Você tem razão! TC

48
coluna NOTAS
NOTAS RÁPIDAS
4 ANOS DEPOIS...

Enfim, relançamos com alegria nosso Almanaque Tradição


Católica. Depois de uma sequência ininterrupta de 42 edições mensais
desde sua criação em junho/2012, veio uma pausa de quatro anos onde
nos debruçamos em outros projetos editoriais. Com essa nova etapa que
se inicia com a edição nº43, pretendemos seguir a mesma linha editorial,
buscando maior abrangência e alcance. Longa vida ao nosso Almanaque
que propaga a fé católica de sempre!

UMA CAPELA PARA A TRADIÇÃO CATÓLICA

A comunidade amiga da Fraternidade Sacerdotal São Pio X,


estabelecida na cidade de Parnaíba, no Piauí, iniciou a construção da
igreja que tem como padroeiro Santo Agostinho, e como co-patrona
Santa Filomena. Esta primeira etapa, prevista para conclusão em cinco
meses, contemplará toda a estrutura de concreto-armado pré-moldado.
O projeto contempla ainda uma casa paroquial em anexo, que contará
com instalações para três padres, salas de catecismo, biblioteca e salão
de reunião. Os fiéis católicos deste recanto do Nordeste brasileiro se
rejubilam por tal empreendimento.

SEU TIJOLO PARA ESTA OBRA

Todos são convidados a colaborar com orações e também


financeiramente para o erguimento da Capela Santo Agostinho. Seja o
correspondente ao valor de um saco de cimento ou um tijolinho,
esperamos alegres sua doação. Rezem por nós! Estaremos sempre
rezando por vocês. Seguem abaixo os dados para depósito.

Banco Itaú - Agência: 7696 - Conta corrente: 06971-0


ASA – Associação Santo Agostinho
CNPJ 28.395.538/0001-61
ou doe através do seu cartão de crédito pelo PAY-PAL ou
PAGSEGURO acessando o link de doação em nosso site
www.capelasantoagostinho.com
Expediente:

ALMANAQUE
Tradição Católica
PERIÓDICO FORMATIVO E INFORMATIVO DA
COMUNIDADE DE TRADIÇÃO CATÓLICA
EM PARNAÍBA - PI
CAPELA SANTO AGOSTINHO

edição

43

Publicação desta edição


DEZEMBRO/2019

Coordenação
Márcio Régis

Editoração
Claudiomar Filho

Reportagem
Raquel Veiga

Cadastro de sócios /
Assinaturas
Iara Meneses

Oficina Gráfica
Francinaldo Freitas
Dyones Souza

Tiragem
Impressão sob demanda
Proesa
PROJETOS EDITORIAIS
SANTO AGOSTINHO

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