LODOS ATIVADOS
DEFINIÇÃO
O processo de lodos ativados é biológico. A remoção da matéria orgânica presente nas águas
residuárias sanitárias e industriais é realizada pela participação de micro-organismos aeróbios e
facultativos, principalmente bactérias. O princípio geral deste processo consiste em acelerar a
decomposição natural da matéria orgânica que ocorre nos corpos hídricos receptores, mantendo-se
em um reator ou tanque de aeração uma concentração elevada de micro-organismos.
Parte da matéria orgânica é convertida em biomassa microbiana e parte, em CO2 e H2O,
sendo a biomassa separada do líquido por meio de simples sedimentação.
Os seguintes mecanismos de depuração ocorrem durante o processo:
o captura física do material em suspensão;
o bioabsorção;
o oxidação da matéria orgânica para manutenção de suas atividades metabólicas e
produção de novas células.
O sistema de lodos ativados surgiu na Inglaterra, no início do século XX. O pesquisador inglês
John Flowler (1912) utilizou cultura de biomassa suspensa em tanque de aeração para tratamento de
água residuária, sem recirculação de lodo, e verificou que ao manter a inoculação contínua no
tanque, eram obtidas boas eficiências de remoção de matéria orgânica. Em 1914, Edward Andern e
William Lokett, discípulos de Flowler, apresentaram trabalho à Sociedade Britânica de Química
Industrial, no qual relataram que a matéria orgânica presente na água residuária era removida
eficientemente devido à introdução de ar em um tanque (reator) e a manutenção de concentração
elevada de micro-organismos, conseguida pela adição de lodo (biomassa).
Desta forma, a água residuária era convenientemente misturada, formando-se flocos
macroscópicos de micro-organismos que eram posteriormente separados da fase líquida por
sedimentação. Ao iniciarem nova batelada, parcela do lodo sedimentado no sedimentador,
caracterizado pela presença de micro-organismos ativos, retornava para o tanque (reator),
acelerando o processo de degradação da água residuária. Assim, surgiu o sistema que se
convencionou chamar de “lodos ativados”.
PRINCÍPIO DO PROCESSO
Aeração
Mistura
Água Residuária Ar Agitação
Bruta Água Residuária
Tratada
Reator
Sedimentação
Lodo
Lodo de Retorno
retorno
Excedente
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substrato (água residuária) para se desenvolver e, com a degradação da matéria orgânica, ocorre
liberação de energia que, juntamente com os nutrientes (nitrogênio e fósforo), é utilizada para a
formação de novas células.
Quanto maior o número de bactérias no reator, mais eficiente será o processo, pois maior será
a assimilação da matéria orgânica presente na água residuária afluente.
A concentração de bactérias no reator é aumentada devido à recirculação de lodo presente na
unidade de sedimentação secundária, o qual possui elevada concentração de bactérias ativas e
ávidas por alimento. Este é o princípio básico do sistema de lodos ativados, em que os sólidos
(lodo) são recirculados do fundo do sedimentador, por meio de bombeamento, para o reator.
As recomendações de percentuais para recirculação de lodo são em relação à vazão da água
residuária tratada de 25% para SSV ≤ 3500 mg/L; de 50% para 3500 mg/L<SSV<4500 mg/L e de
100% para SSV 4500 mg/L, sendo os valores de SSV referentes à concentração de sólidos no
reator.
No sedimentador secundário, a biomassa é separada do líquido graças a sua propriedade
floculenta. O floco formado, constituído de bactérias que se unem a partir de uma matriz gelatinosa,
é de grande dimensão, o que facilita a sedimentação.
A maior permanência da biomassa no reator garante a elevada eficiência do lodo ativado, já
que os micro-organismos dispõem de tempo suficiente para metabolizar a matéria orgânica presente
no despejo. Por outro lado, a entrada contínua de alimento no reator, favorece o crescimento
microbiano, de modo que o lodo excedente deve ser removido para evitar problemas como o de
transferência de oxigênio. O lodo excedente deve receber tratamento adequado antes de sua
disposição final.
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CONCEITOS BÁSICOS
VARIAÇÕES DO PROCESSO
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Medidor de
vazão
Grade
Afluente Caixa de areia Sedimentador Reator
Lodo de
retorno Sedimentador
Efluente
Lodo
excedente
O lodo removido no sedimentador tem de ser estabilizado, devendo, assim como o lodo
secundário, sofrer tratamento antes de sua disposição final.
O processo tipo convencional necessita de menor tempo de detenção hidráulica, que é de 6 h
a 8 h. A idade do lodo (c) de 4 a 10 dias, não propiciando a endogenia das bactérias.
Mecanização
Ruídos
Desvantagens: Formação de aerossóis
Exige tratamento completo do lodo
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Lodos ativados com aeração prolongada
O reator tem dimensões maiores, devido à grande quantidade de lodo que se acumula em seu
interior. A idade do lodo (c) é maior, ou seja, a biomassa permanece mais tempo no sistema, em
geral, de 20 a 30 dias, e recebe a mesma carga de matéria orgânica. Com isso, há menos alimento
por unidade de volume do reator, fazendo com que as bactérias passem a utilizar o próprio
protoplasma celular para sobreviverem. O TDH também é alto, de 16 h a 24 h, de modo que como
há a necessidade da água residuária permanecer mais tempo no reator, o mesmo apresenta maiores
dimensões, ocorrendo, assim, menor concentração de substrato por volume do reator.
Grade
Afluente
Caixa de areia Reator Sedimentador
Medidor de Efluente
vazão
Lodo
excedente
Lodo de
retorno
Reator em
enchimento
Lodo
excedente
O processo consiste de um ou mais reatores de mistura completa onde ocorrem todas as etapas do
tratamento. Os ciclos normais de tratamento são: enchimento (entrada de esgoto bruto), reação
(aeração/mistura da massa líquida contida no reator), sedimentação (sedimentação e separação dos
sólidos em suspensão do esgoto tratado), descarte do efluente tratado (retirada do esgoto tratado do
reator) e repouso (ajuste de ciclos e remoção do lodo excedente). Pode ser utilizado tanto na
modalidade convencional como na aeração prolongada.
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SISTEMA DE AERAÇÃO
A aeração tem dupla finalidade. A primeira é a de disponibilizar oxigênio suficiente para as
necessidades dos micro-organismos aeróbios e, a segunda, a de provocar agitação e homogeneidade
suficiente para ocorrer a mistura completa no reator. Além disso, vários produtos voláteis são
removidos do meio.
A quantidade de oxigênio exigida é função da idade do lodo e da carga orgânica, dependendo,
portanto, do crescimento bacteriano e da respiração endógena.
Existem dois tipos de aeração artificial:
o aeração por ar difuso;
o aeração superficial ou mecânica.
Na aeração por ar difuso, ar ou oxigênio são introduzidos diretamente no líquido. Deve ser
utilizada em reatores cuja profundidade não ultrapasse 3 m para que se obtenha mistura e
oxigenação adequada do líquido em toda a unidade. O sistema é composto por difusores submersos
no líquido, tubulações distribuidoras de ar e sopradores. O ar é introduzido próximo ao fundo do
tanque, evitando a sedimentação do lodo, e o oxigênio é transferido ao meio líquido à medida que a
bolha de ar se eleva à superfície. O sistema de aeração por ar difuso é classificado em função da
porosidade do difusor:
- difusor poroso: promove a geração de bolhas finas ( < 3 mm) e médias (3 mm < < 6 mm).
Podem ser na forma de pratos e tubos;
- difusor não poroso: forma bolhas grossas ( > 6 mm), sendo constituído por tubos
perfurados ou com ranhuras.
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REMOÇÃO BIOLÓGICA DE NUTRIENTES
_ +
+
2NH4 –N + 3O2 2NO2 –N + 4H + 2H2O eq. (2)
Nitrosomonas
_ _
2NO2 –N + O2 2NO3 –N eq. (3)
Nitrobacter
A desnitrificação é realizada por bactérias Pseudomonas sp., de acordo com a eq. (4).
_
+
2NO3 –N + 2H N2 + 2,5O2 + H2O eq. (4)
Pseudomonas sp.
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Com relação ao fósforo, estima-se que cerca de 2,5% do lodo se compõe de fósforo e sua
remoção é atribuída à precipitação do fosfato mineral e à formação de biomassa bacteriana de alto
teor de fósforo, sendo sua remoção efetuado juntamente com a do lodo em excesso. Observa-se que
nas zonas anóxicas e aeróbias subsequentes à zona anaeróbia ocorrem à incorporação de fosfato
pelo lodo.
Qa Qe
I II III
Qr Qr Qr
Qr
Qex Qex Qex
O sistema comporta-se com características distintas em cada um dos pequenos reatores, de modo
que em I, tem-se oxidação aeróbia de matéria orgânica carbonácea em curto tempo de retenção
celular; em II, ocorre predomínio de nitrificantes, produzindo efluente final com concentração
elevada de nitrato e matéria orgânica remanescente, porém em concentração muito baixa. No último
reator (III), é mantida condição anóxica visando à conversão do nitrato em nitrogênio gasoso,
porém há necessidade de adicionar fonte externa de carbono, em geral, metanol ou etanol.
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SISTEMA BARDENPHO
Visa à remoção de nitrogênio, sendo mais eficiente e econômico que o sistema anterior por
trabalhar com pré e pós-desnitrificação, dispensando o uso de fonte externa de carbono.
_
NO3
Qa Qe
(I) (II) (III)
Anóxico Aeróbio Anóxico
Qr
Qex
SISTEMA JOHANNESBURGO
Visa à remoção de fósforo, possuindo a configuração abaixo:
_
NO3
Qa Qe
(I) (II) (III)
Anaeróbio Anóxico Aeróbio
Qr (IV)
Anóxico Qex
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Favorece o desenvolvimento das bactérias poli-P (acumuladoras de P) de modo que na célula
anaeróbia as mesmas são as únicas capazes de utilizar preferencialmente acetato para a produção de
polihidroxibutirato, o qual é armazenado no interior da célula. Durante a produção do
polihidroxibutirato há gasto energético elevado que resulta na liberação de fosfato para o meio
líquido.
Nas células II e III, o polihidroxibutirato é metabolizado e a energia reposta ocorrendo absorção de
grande concentração de fosfato do meio líquido. A célula IV é responsável pela manutenção das
condições anaeróbias em I, uma vez que impede a chegada de nitrato na referida célula.
_
NO3
Qa
(I) (I) (III) (IV) (V)
Anaeróbio Anóxico Aeróbio Anóxico Aeróbio
Qe
Qr Qr
(VI)
Anóxico Qex
Desta forma, na célula anaeróbia ocorrerá a produção de PHB e seu armazenamento, com
conseqüente liberação de fósforo para o meio, o qual será assimilado em grande escala pelas
acumuladoras de fósforo nas células anóxicas e aeróbias.
Em relação ao nitrogênio, a remoção efetiva ocorrerá nas células II e IV, quando será processada a
desnitrificação. A célula III fornecerá o nitrato necessário para o processo de desnitrificação em II e
IV. A introdução da célula aeróbia após a IV é opcional e objetiva a diminuição da flotação de lodo
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devido à presença elevada de nitrogênio gasoso, o pode arrastar lodo para fora do fundo do
sedimentador.
Semelhantemente ao sistema Johannesburgo, há também a introdução de célula anóxica entre a
linha de recirculação do lodo como fator de segurança, a fim de impedir a entrada de nitrato no
ambiente anaeróbio, no caso de desnitrificação incompleta, o que inviabilizaria a remoção de
fósforo no sistema.
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Formação dos flocos
A teoria clássica da formação de flocos parte do princípio da presença da bactéria Zooglea,
que se caracteriza por possuir uma matriz gelatinosa. Esta característica seria responsável pela
absorção de partículas em suspensão, dando origem ao floco.
Contudo, observações posteriores revelaram que, dependendo da composição da água
residuária a ser tratada, tais bactérias podem aparecer ou não, sem que haja interferência na
formação dos flocos.
Este fato deu origem a uma nova teoria, baseada em estudos mais recentes, a de que a
formação dos flocos não estaria diretamente relacionada à produção de substâncias gelatinosas. A
aglutinação de bactérias para a formação de flocos nada mais seria que o resultado de forças físicas
de atração. Embora não se trate de um colóide, a suspensão de bactérias em um meio líquido
comporta-se como tal, dentro de certos limites. Porém outra força interfere na floculação, a força
motora das bactérias.
Em meios ricos em nutrientes, a força de locomoção das bactérias se sobrepõe às forças de
atração, que procuram aproximá-las. De fato, observa-se que no material floculado as bactérias se
apresentam imóveis, com o metabolismo reduzido ao mínimo.
Na fase exponencial, quando há alta carga orgânica disponível e o número de bactérias ainda
é pequeno, não há floculação. Nesta fase, as bactérias apenas querem degradar a carga orgânica para
a obtenção de energia, utilizada na reprodução das mesmas. Quando a matéria orgânica escasseia
para o grande número de bactérias, as bactérias menos resistentes começam a morrer, ocorrendo a
floculação devido à liberação de polissacarídeos.
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Algas: embora o ambiente não seja propício ao seu desenvolvimento, devido à ausência de luz,
algumas espécies podem ser encontradas, porém pouco se sabe sobre sua participação no processo
de lodos ativados. Os principais grupos encontrados são os de algas azuis e verdes e diatomáceas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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