220 Paulo Eduardo Rodrigues Alves
Evangelista
Gaseinsanalista, a solicitude libertadora descreve 0 modo de estar disp.
nivel do psicoterapeuta para seus pacientes, cuidando para que possam
assumir a responsabilidade por suas existéncias. Nao estaria a estagiéria,
mesmo que com a melhor das intengdes, substituindo-a no seu ter que
discursivamente apresentar suas experiéncias?
desconforto da estagidria no didlogo com a paciente manifes-
ta como sente qualquer pessoa que se proponha a conversar com ela. Seu
siléncio incémodo, a falta escancarada e a dificuldade mobilizam o inter-
locutor a preencher a lacuna, eliminar o siléncio, esconder a falta. Fazen-
do isso, o interlocutor tira dessa senhora a responsabilidade por dizer por
si mesma o que ela tem para dizer. Mas existir é compartilhar com os
demais como os entes a mim se aparecem. Nos dilogos, ela acaba sendo
silenciada, sua existéncia lhe ¢ apresentada como substituivel.
3s relatos cli estagiéria podem ser interpretados em supervisio
de dois modos: como um relato do ocorrido a fim de que o supervisor
revele sobre a paciente aquilo que esti acontecendo e indique para o esta-
gidirio 0 que e como ele deve agir ou ouvir o relato da estagiéria como um
compartilhar de sua experiéncia, portanto, de seu modo de ser-no-mundo,
enredado em entendimentos ¢ estados-de-inimo sobre o que e como se
deve ser ¢ agir. Nesta segunda diregao, o sentido da supervisio é convo-
car 0 estagidrio a repetir sua tradig2o, desvelando os entendimentos que 0
norteiam (seu senso comum) e impedem de assumir a originalidade desta
situagao atual.
Como supervisor, minha escuta e minha fala acontecem na rela-
io com a estagiaria e dirigem-se a ela, ao invés de serem sobre a pacien-
tc, Eu objetivo propiciar a ela liberdade para ser e estar com a paciente,
dado que seus modos habituais a restringem. Esta atitude est em conso-
nineia com a proposta de Morato (1989) de que 0 foco da supervisto é 0
supervisionando. A luz da fenomenologia existencial posso dizer que €
cuidar para que 0 supervisionando seja fenomendlogo, isto é, deixe que
‘5 fendmenos que se dio no ai compartilhado por paciente ¢ terapeuta
possam se mostrar por si mesmos para serem recolhidos e expressados tal
como si, Neste processo, isso significa nao interpretar a dificuldade na
fala como sintoma de um proceso fisico (ancurismas), nem 0 nervosis-
mo, @ itritago e depresstio como resultantes do aneurisma ou das seque-
las. A paciente precisa poder apresentar-se e, para isso, a psicéloga feno-
menologica precisa dar-Ihe espago, deixando de lado seus modos tradicio-
nais de interpretagio. A ontologia de Heidegger exige confrontamento
com o senso comu.
Psicologia Fenomenoldgica Existencial 21
Minha intervengio em supervisio vai na diregfio de questionar
‘com a estagiiia 0 sentido de completar as frases da paciente, o que acaba