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RESUMO
Objetivo: descrever os indicadores de risco para perda auditiva presentes em neonatos e lactentes
que realizaram a Triagem Auditiva Neonatal no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, nascidos em 2008. Métodos: foram pesquisados os 787 neonatos e lactentes que rea-
lizaram a Triagem Auditiva Neonatal no citado Hospital, nascidos em 2008. Foi montado um banco de
dados com informações do formulário com histórico familiar e clínico dos pesquisados e resultado da
triagem, para análise dos indicadores de risco. Resultados: os indicadores de risco mais prevalentes
na população estudada foram presença de hiperbilirrubinemia, nascimento pré-termo, baixo peso
ao nascimento, uso de medicamento durante o período gestacional, permanência em Unidade de
Terapia intensiva e presença de infecções intra-uterinas durante a gestação. Os indicadores de risco
para perda auditiva com associação estatisticamente significante com o resultado falha na triagem
foram nascimento pré-termo, baixo peso, permanência em Unidade de Terapia Intensiva, uso de
ventilação mecânica e uso de medicamento ototóxicos. Conclusão: houve ocorrência de indicadores
de risco pré, peri e pós-natais, porém apenas foi encontrada significância estatística entre alguns
indicadores peri e pós-natais e a falha na triagem.
(1)
Fonoaudióloga; Professora do Curso de Fonoaudiologia da INTRODUÇÃO
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, PE;
Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Fede-
ral de Pernambuco. O funcionamento normal da audição fornece
(2)
Fonoaudióloga; Pós-graduanda em Saúde da Família pela experiências auditivas que capacitam o indivíduo
Faculdade Redentor, Itaperuna, RJ. para a aquisição da linguagem oral. A identifica-
(3)
Fonoaudióloga; Pós-graduanda em Saúde da Família pela ção das alterações auditivas pode permitir que as
Faculdade Redentor, Itaperuna, RJ.
famílias recebam informações e apoio no intuito de
(4)
Fonoaudióloga; Professora do Curso de Fonoaudiologia evitar atrasos significativos no desenvolvimento da
da Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife,
PE; Doutora em Linguística pela Universidade Federal de linguagem dessas crianças 1. Por isso, programas
Pernambuco. de Triagem Auditiva Neonatal (TAN) são justifica-
(5)
Aluna do curso de Graduação em Fonoaudiologia da Uni- dos e vêm sendo implementados em todo o mundo.
versidade Federal de Pernambuco. A TAN permite a detecção de possíveis altera-
(6)
Aluna do curso de Graduação em Fonoaudiologia da Uni- ções auditivas em neonatos e lactentes, possibili-
versidade Federal de Pernambuco.
tando o diagnóstico da perda auditiva antes do ter-
(7)
Aluna do curso de Graduação em Fonoaudiologia da Uni- ceiro mês de vida e a intervenção antes dos seis
versidade Federal de Pernambuco.
meses de idade. Idealmente, todos os neonatos
Conflito de interesses: inexistente
e lactentes deveriam realizar a TAN. Entretanto,
quando isto não é possível, aconselha-se realizar de apneia; hipocalcemia; pequeno para a idade
a TAN, ao menos, nos neonatos e lactentes que gestacional.
possuíram algum indicador de risco para perda A identificação dos indicadores de risco dos
auditiva 2. neonatos e lactentes atendidos no serviço de
Apesar da recomendação ser a realização da Triagem Auditiva Neonatal do HC/UFPE torna-se
TAN universal, a identificação dos indicadores de importante para o seu monitoramento, possibili-
risco é fundamental para que haja acompanha- tando o acompanhamento audiológico e o direcio-
mento audiológico dos neonatos e lactentes e para namento das ações de prevenção e promoção à
a escolha dos protocolos de cada programa de saúde auditiva.
TAN, uma vez que condições socioeconômicas e Portanto, este estudo objetivou descrever os
demográficas podem estar influenciando a condi- indicadores de risco para perda auditiva presentes
ção de saúde de uma determinada região. Portanto, em neonatos e lactentes que realizaram a TAN no
percebe-se a importância da identificação dos indi- HC/UFPE, nascidos no ano de 2008, assim como
cadores de risco para perda auditiva específicos descrever os resultados da triagem para cada indi-
da população atendida no Hospital das Clínicas da cador e analisar a associação estatística entre o
Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE). resultado ‘falha’ e os indicadores de risco.
Vários são os estudos que identificam os indica-
dores de risco para perda auditiva. Dentre as diver- MÉTODOS
sas listas existentes, podem ser vistos os seguintes
indicadores 2-12: história familiar de perda auditiva Participaram desta pesquisa os 787 neonatos e
permanente na infância; infecção congênita (cito- lactentes que realizaram a TAN na Maternidade do
megalovírus, rubéola, herpes, toxoplasmose, sífilis, HC/UFPE, nascidos no ano de 2008. Neste Hospi-
Human Immunodeficiency Virus (HIV)); malforma- tal, realiza-se o “Teste da Orelhinha” em neonatos
ções da cabeça e pescoço; peso ao nascer abaixo e lactentes, através do exame de Emissões Otoa-
de 1500g ou 2500g; hiperbilirrubinemia, com ex- cústicas Transientes (EOAT) e pesquisa do reflexo
sanguíneo transfusão; meningite bacteriana; asfixia cócleo-palpebral (RCP).
severa, incluindo índices de Apgar de 0 a 4 no 1º Foi realizado um estudo observacional, des-
minuto ou de 0 a 6 no 5º minuto; uso de medica- critivo, transversal e com desenho do tipo seccio-
mentos ototóxicos (aminoglicosídeos, usados em nal, cuja coleta de dados foi realizada a partir das
múltiplos casos ou em combinação com diuréticos, informações de registro dos neonatos ou lacten-
tombramicina, diuréticos como furosemida, genta- tes atendidos no programa de TAN, vinculado ao
micina, amicacina, vancomicina, furosemida, indo- Curso de Fonoaudiologia da UFPE. O registro de
metacina) utilizados por mais de 5 dias; estigma cada neonato ou lactente é constituído pelos resul-
ou outro achado associado à síndrome que inclua tados do exame de EOAT (realizado com equipa-
perda auditiva sensório-neural; permanência em mento do modelo Capella, da marca Madsen) e da
Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) pesquisa do RCP e por um formulário, que contém
por mais de 48 horas; preocupação do cuidador em dados referentes a uma entrevista com as mães
relação à audição, fala, linguagem ou atrasos no dos neonatos e lactentes e informações originadas
desenvolvimento; síndromes associadas a perda dos prontuários. Os registros foram digitalizados
de audição progressiva ou tardia (Usher, Waar- formando um banco de dados a ser analisado.
denburg, Alport, Pendred, Jervell e Lange-Nielson); O presente trabalho fez parte da pesquisa Pro-
desordens neurodegenerativas (síndromes ou neu- grama de Triagem Auditiva Neonatal do HC/UFPE,
ropatias sensório-motoras, como ataxia de Frie- aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa envol-
dreich); infecções pós-natais, associadas a perda vendo seres humanos do Centro de Ciências da
de audição sensório-neural, incluindo confirmação Saúde da UFPE sob o número 160/07. Todas as
de meningite bacteriana ou viral (especialmente mães do programa de TAN do HC/UFPE assinaram
vírus de herpes e varicela); traumatismo craniano, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
incluindo a região do osso temporal; quimioterapia; que esclarecia os objetivos do trabalho, riscos e
fatores perinatais, como anóxia, icterícia, prematu- benefícios ao participante.
ridade e baixo peso; consanguinidade; alcoolismo Para análise, foram obtidas distribuições absolu-
materno; uso de drogas psicotrópicas na gestação; tas e percentuais univariadas e bivariadas (técnicas
convulsões neonatais; suporte ventilatório por mais de estatística descritiva) e utilizados o teste Qui-
de 5 dias; Síndrome do Desconforto Respiratório; quadrado de Pearson ou o teste Exato de Fisher,
fibroplasia; aspiração de mecônio; anormalidades quando as condições para utilização do teste Qui-
cromossômicas; diabetes materna; gestações múl- quadrado não foram verificadas. No estudo biva-
tiplas; ausência de cuidados pré-natais; episódios riado foram obtidos o Odds Ratio (ou Razão das
Chances) e intervalos para o referido parâmetro significância estatística entre tais indicadores e o
com confiabilidade de 95%, considerando-se sem- resultado ‘falha’ na triagem auditiva.
pre como referência a primeira ou a última categoria. Na Figura 1, observa-se a distribuição dos
casos de infecção nas mães de neonatos e lac-
RESULTADOS tentes durante o período gestacional. Não houve
casos de herpes, citomegalovirose e rubéola. Duas
Os resultados referentes aos indicadores de mães tiveram mais de um tipo de infecção. Das
risco dos 787 neonatos e lactentes, nascidos em 176 (93,6%) mães que relataram acometimento por
2008 e triados no Programa de TAN do HC/UFPE, outros tipos de infecção, diferentes de citomegalo-
foram divididos em indicadores de risco pré-natais vírus, rubéola, herpes, toxoplasmose, sífilis e HIV,
e indicadores de risco peri e pós-natais. 92% (n=162) contraíram infecção urinária, sendo
Na Tabela 1, encontram-se os indicadores de que 50,0% (n=81) de seus filhos obtiveram “falha”
risco pré-natais e destaca-se que não foi observada na TAN, sem significância estatística.
Tabela 1 – Avaliação dos indicadores de risco para perda auditiva pré-natais de neonatos e lactentes,
nascidos em 2008, que realizaram a triagem auditiva neonatal do HC/UFPE
TAN
INDICADORES
Falha Passa TOTAL Valor de p OR (IC a 95%)
PRÉ-NATAIS
n % n % n %
Antecedente familiar
(1)
Sim 46 47,9 50 52,1 96 100,0 p = 0,405 1,00
Não 353 52,5 320 47,5 673 100,0 1,20 (0,78 a 1,84)
Grupo Total 399 51,9 370 48,1 769 100,0
Acompanhamento pré-natal
(1)
Sim 392 51,9 363 48,1 755 100,0 p = 0,507 1,00
Não 13 59,1 9 40,9 22 100,0 1,34 (0,57 a 3,17)
Grupo Total 405 52,1 372 47,9 777 100,0
Drogas ilícitas
Sim 6 85,7 1 14,3 7 100,0 p(2) = 0,125 **
Não 374 51,4 353 48,6 727 100,0
Grupo Total 380 51,8 354 48,2 734 100,0
Álcool
Sim 38 55,9 30 44,1 68 100,0 p(1) = 0,476 1,20 (0,73 a 1,98)
Não 342 51,4 324 48,6 666 100,0 1,00
Grupo Total 380 51,8 354 48,2 734 100,0
Fumo
Sim 30 58,8 21 41,2 51 100,0 p(1) = 0,296 1,36 (0,76 a 2,42)
Não 350 51,2 333 48,8 683 100,0 1,00
Grupo Total 380 51,8 354 48,2 734 100,0
Medicamentos
Sim 101 50,0 101 50,0 202 100,0 p(1) = 0,554 1,00
Não 279 52,4 253 47,6 532 100,0 1,10 (0,80 a 1,53)
Grupo Total 380 51,8 354 48,2 734 100,0
Infecções intra-uterinas
Sim 92 48,9 96 51,1 188 100,0 p(1) = 0,272 1,00
Não 301 53,6 261 46,4 562 100,0 1,20 (0,87 a 1,68)
Grupo Total 393 52,4 357 47,6 750 100,0
Má-formação craniofacial ou
síndrome
Sim 7 77,8 2 22,2 9 100,0 p(2) = 0,183 **
Não 310 52,5 281 47,5 591 100,0
Grupo Total 317 52,8 283 47,2 600 100,0
Associação significante a 5,0%; (**): Não foi possível determinar devido à ocorrência de frequências muito baixas.
(*):
(1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson; (2): Através do teste Exato de Fisher.
OUTRAS 93,6
SÍFILIS 4,2
HIV 2,1
TOXOPL. 1,1
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Figura 1 – Distribuição percentual dos casos de infecção em mães de neonatos e lactentes, nascidos
em 2008, que realizaram a Triagem Auditiva Neonatal no HC/UFPE
Já na Tabela 2, encontra-se a distribuição dos pacientes com perdas auditivas não sindrômicas.
indicadores de risco peri e pós-natais na população Neste aspecto, os testes genéticos poderiam ser
estudada. Fica evidenciada a significância estatís- utilizados como complemento de TAN, uma vez
tica entre o resultado ‘falha’ na triagem e os seguin- que as modificações genéticas são responsáveis
tes indicadores: nascimento pré-termo, permanên- por grande parte das perdas auditivas de origem
cia em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), uso de hereditária 13. Testes desta natureza são de grande
medicação ototóxica, uso de ventilação mecânica e valia, pois esclarecem a etiologia de alguns casos
baixo peso ao nascimento. e a sua identificação possibilita o aconselhamento
genético 16.
DISCUSSÃO O acompanhamento pré-natal, estratégia impor-
tante de cuidados preventivos em gestantes e
crianças, é capaz de orientar a promoção da saúde
O antecedente familiar de perda auditiva, apesar e do bem-estar, além de oportunizar o tratamento
de não ter tido associação estatisticamente signifi- de problemas que podem afetar as mães e seus
cante com o resultado ‘falha’ na triagem, é um indi- filhos nesse período 17.
cador de risco que pode interferir no resultado da O objetivo principal do acompanhamento pré-
triagem e é amplamente descrito na literatura. natal é acolher a mulher desde o início da gravidez,
Cerca de 60% dos casos das perdas auditivas possibilitando, no fim da gestação, o nascimento de
congênitas estão associadas a fatores hereditários uma criança saudável e a melhoria do bem-estar
13
. Dentre os casos de perda auditiva com fatores materno e neonatal, pois inclui ações de prevenção
hereditários, podem ser citadas as perdas auditivas e promoção à saúde, além de diagnóstico e trata-
de origem genética. O diagnóstico desse tipo de mento adequado dos problemas que possam vir a
perda auditiva tende a aumentar, uma vez que atu- ocorrer nesse período 18.
almente há melhores condições de investigação da No Brasil, o número de consultas pré-natais por
etiologia da surdez, especialmente no que diz res- mulheres que realizam partos pelo Sistema Único
peito às questões associadas ao estudo genético. de Saúde (SUS) vem aumentando. Por exem-
Diferentes genes envolvidos com a surdez reces- plo, em 1995, ocorriam 1,2 consultas por parto, e
siva não sindrômica tem sido descritos 14. em 2005, ocorreram 5,45 consultas por parto. No
Porém, ainda se observam percentuais inferio- entanto, esse indicador apresenta diferenças regio-
res de antecedente familiar de perda auditiva em nais significantes. Em 2003, o percentual de nasci-
estudos de TAN, sendo encontrados percentuais de dos de mães que fizeram sete ou mais consultas foi
0,95% e de 3% 9,15. Já em outro estudo observou- menor no Norte e Nordeste. Idealmente, devem ser
se a presença deste indicador em 6,8% da popu- realizadas, no mínimo, seis consultas de pré-natal,
lação, e também não foi encontrada significância sendo, preferencialmente, uma no primeiro trimes-
estatística 14. Esses resultados, juntamente com os tre, duas no segundo trimestre e três no terceiro tri-
resultados do presente estudo, podem estar apon- mestre da gestação 18.
tando para a necessidade de inclusão de testes Através de um estudo de caso-controle de base
genéticos para complementar a investigação de populacional, foram analisados os riscos para a
Tabela 2 – Avaliação dos indicadores de risco para perda auditiva peri e pós-natais de neonatos e
lactentes, nascidos em 2008, que realizaram a triagem auditiva neonatal no HC/UFPE
TAN
INDICADORES PERI E PÓS-
Falha Passa TOTAL Valor de p OR (IC a 95%)
NATAIS
n % n % n %
Idade gestacional
Até 36 semanas (pré-termo) 136 58,4 97 41,6 233 100,0 p(1) = 0,013* 1,49 (1,09 a 2,05)
37 semanas ou mais (a termo) 231 48,4 246 51,6 477 100,0 1,00
Grupo Total 367 51,7 343 48,3 710 100,0
Peso ao nascer
< 1500g 37 68,5 17 31,5 54 100,0 p(1) < 0,001* 2,48 (1,36 a 4,53)
1500 a 2499g 113 61,7 70 38,3 183 100,0 1,84 (1,30 a 2,61)
≥ 2500g 227 46,7 259 53,3 486 100,0 1,00
Grupo Total 377 52,1 346 47,9 723 100,0
Apgar no 1o minuto
1a4 15 60,0 10 40,0 25 100,0 p(1) = 0,455 1,37 (0,60 a 3,10)
5 a 10 245 52,4 223 47,6 468 100,0 1,00
Grupo Total 260 52,7 233 47,3 493 100,0
Apgar no 5o minuto
1a6 7 63,6 4 36,4 11 100,0 p(1) = 0,454 1,60 (0,46 a 5,54)
7 a 10 258 52,2 236 47,8 494 100,0 1,00
Grupo Total 265 52,5 240 47,5 505 100,0
Hiperbilirrubinemia
Sim 193 53,0 171 47,0 364 100,0 p(1) = 0,651 1,07 (0,80 a 1,44)
Não 175 51,3 166 48,7 341 100,0 1,00
Grupo Total 368 52,2 337 47,8 705 100,0
Procedimento para Hiperb.
(1)
Fototerapia 133 55,6 106 44,4 239 100,0 p = 0,692 **
Transfusão Sanguínea 1 100,0 - - 1 100,0
Fototerapia e Transfusão S. - - 1 100,0 1 100,0
Grupo Total 134 55,6 107 44,4 241 100,0
Permanência em UTI
Sim 110 59,8 74 40,2 184 100,0 p(1) = 0,006* 1,62 (1,15 a 2,29)
Não 233 47,8 254 52,2 487 100,0 1,00
Grupo Total 343 51,1 328 48,9 671 100,0
Tempo na UTI
Até 5 dias 41 53,9 35 46,1 76 100,0 p(1) = 0,153 1,00
≥ 5 dias 54 65,1 29 34,9 83 100,0 1,59 (0,84 a 3,01)
Grupo Total 95 59,7 64 40,3 159 100,0
morte de fetal (anteparto) e observou-se que todos emissões otoacústicas em recém-nascidos, indi-
os fetos de mulheres hipertensas, sem nenhum cando que a função das células ciliadas externas
cuidado pré-natal, vieram a óbito, o que mostra a do neonato pode ser afetada 20.
importância do acesso e adequação do pré-natal Apesar dos prejuízos causados pelo uso de dro-
para a saúde fetal anteparto 17. gas, álcool e fumo no período gestacional, nota-se
Observou-se na literatura o grande percentual que uma parcela da população estudada consumiu
de mães que realizaram pré-natal, correspondendo esses produtos, possivelmente por desconheci-
a 93,0%, resultado próximo ao da população aten- mento com relação aos seus malefícios. Sugere-
dida no HC/UFPE 15. Estes percentuais são expres- se, então, que mais orientações possam ser dadas
sivos e podem estar indicando melhores condições durante o pré-natal, para que esse índice diminua,
de saúde das gestantes, interferindo positivamente minimizando, assim, os efeitos negativos apresen-
nos aspectos relacionados aos riscos de compro- tados pelo neonato em virtude de seu consumo
metimento da saúde geral e, consequentemente, pelas gestantes.
da saúde auditiva desses neonatos. Mesmo não
Vale ressaltar que, nesta pesquisa, o uso de
sendo encontrada significância estatística entre
medicamentos durante a gestação pode estar rela-
esta variável e a ‘falha’ na TAN, ainda se pode
cionado à utilização de medicações ototóxicas ou
observar que os neonatos e lactentes cujas mães
uso de suplemento (complementos vitamínicos e
realizaram pré-natal obtiveram maior percentagem
minerais) pré-concepcional. A suplementação pré-
“passa” na triagem.
concepcional com ácido fólico, por exemplo, repre-
Em outro estudo sobre TAN, as informações senta uma proteção contra os defeitos do tubo neu-
sobre o uso de álcool ou drogas durante a gesta- ral 21. Neste caso, o indicador de risco ‘utilização de
ção foram pesquisadas conjuntamente, sendo refe- medicamentos’ não necessariamente indica risco
ridas por 1,5% das mães. Além disso, assim como à saúde auditiva, podendo, inclusive representar
no presente estudo, não foi encontrada associação
diminuição do risco de má-formação no neonato,
estatisticamente significante com as respostas da
uma vez que pode estar associado ao uso de medi-
triagem 14. Entretanto, os autores ressaltaram ainda
cação suplementar.
que, provavelmente, essas informações não são
completamente precisas, podendo ter havido sub- A literatura dispõe de estudo em que foram
notificação, fato que também pode ter ocorrido no encontradas apenas duas (0,25%) crianças cujas
HC/UFPE, por inibição, constrangimento das mães mães tinham ingerido medicamento ototóxico no
no momento da entrevista. período gestacional 14. Apesar de mais de 1/4 das
mães do HC/UFPE terem ingerido medicamentos
É sabido que o uso do álcool está relacionado
no período gestacional, é importante esclarecer
a efeitos teratógenos, definidos como um padrão
específico de malformações, denominado de sín- que podem estar incluídos todo e qualquer medica-
drome alcoólica fetal (SAF). A SAF é uma condição mento por elas utilizado (ototóxicos e suplementos).
irreversível caracterizada por anomalias craniofa- As infecções congênitas relacionadas à perda
ciais típicas, deficiência de crescimento, disfunções auditiva, vastamente descritas nos estudos de TAN,
do sistema nervoso central e várias malformações incluem rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose,
associadas 19, o que representa risco de alteração sífilis, herpes 22 e HIV 5.
auditiva 9. Uma pesquisa investigou a associação da
O fumo do tabaco durante a gestação também perda auditiva com a presença de infecções (toxo-
tem sido apontado como fator etiológico de baixo plasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e sífi-
peso ao nascimento, prematuridade e más-forma- lis), dentre outros indicadores de risco, em que se
ções congênitas, como deformidades orais/pala- observou que 36,4% (129) das mães apresentaram
tais e distúrbios do sistema nervoso central. Além infecção 14. Já outra pesquisa envolveu 4951 mães
disso, o monóxido de carbono do cigarro modifica de recém-nascidos de duas maternidades públicas
o suporte de oxigênio fetal, causando hipóxia 20. do Espírito Santo e colheram informações dos perí-
Ou seja, o fumo provoca acometimentos que são odos gestacional e pós-natal, para localizar os indi-
amplamente descritos como indicadores de risco cadores de risco para deficiência auditiva, obtendo
para a perda de audição 9,14. ocorrência de 13,8% para infecção 23. Um terceiro
Mesmo não sendo encontrada, na população estudo verificou a percentagem de 0,64% com
estudada, associação estatisticamente significante ocorrência de infecções 9. Neste último estudo, a
entre a ‘falha’ na TAN e o fumo pela mãe na gesta- baixa ocorrência de casos de gestantes que apre-
ção, não se pode descartar os riscos que este vício sentaram algum tipo de infecção intra-uterina pode
representa para a audição, pois já foi revelado que estar relacionada às questões do perfil de saúde
fumar durante a gravidez parece ter diminuído as pública de países desenvolvidos.
A infecção do trato urinário é comum em mulhe- de tronco encefálico), sendo a primeira de maior
res jovens e representa a complicação clínica mais ocorrência 26.
freqüente no período gestacional. A gestação oca- Em estudo prospectivo com 30808 crianças,
siona modificações, algumas mediadas por hormô- verificou-se que 20 delas apresentaram toxoplas-
nios, que favorecem as infecções do trato urinário, mose congênita, o que resultou na proporção de
pois há aumento da produção de urina, favore- 1:1590 infectados por nascidos vivos. Destas, 19
cendo o crescimento bacteriano e as infecções. Se crianças passaram por avaliação auditiva, sendo
não tratada, as mulheres podem sofrer complica- que quatro apresentaram alteração auditiva sen-
ções como trabalho de parto prematuro, anemia e sorioneural. Os autores afirmaram que os achados
restrição do crescimento intra-uterino. O tratamento sugerem que a toxoplasmose congênita, prevalente
indicado para estas infecções se dá através de no Brasil, é um fator de risco para hipoacusia, cujo
antibioticoterapia, utilizando-se de medicamentos impacto dessa infecção nas perdas auditivas deve
como a ampicilina 18, considerado indicador de risco ser estudado 27.
para perda auditiva 7. Isso faz com que os neonatos As más-formações craniofaciais podem incluir
e lactentes das mães que tiveram infecções uriná- alterações ligadas ao aparelho auditivo (orelha
rias possam ser considerados de risco para perda externa, média e interna) ou outras síndromes
auditiva, não pela própria infecção, mas no caso de envolvendo malformações da face ou sistema
ter havido tratamento por medicação ototóxica. nervoso 22.
Outro acometimento importante para a mulher Em estudo desenvolvido com 798 crianças,
grávida é a sífilis, que pode causar aborto, morte observou-se que a ocorrência de crianças com má
intra-uterina do feto, levar ao óbito neonatal ou dei- formação e síndrome associada a perda auditiva
xar seqüelas graves nos neonatos. A transmissão somavam 1,25%, resultado semelhante ao desta
do Treponema pallidum, agente etiológico da sífilis, pesquisa 14. Porém, também foi encontrado na lite-
se faz da gestante infectada para o concepto por ratura estudo em que se analisou somente o item
via transplacentária, em qualquer momento da ges- ‘anomalia craniofacial congênita’, obtendo 0,36%
tação. Os casos de recém-nascidos assintomáticos de ocorrência; desta forma, não é possível saber
estão mais relacionados à transmissão no terceiro se não houve caso de síndrome em sua amostra ou
trimestre 24. se esta variável não foi analisada 9. A identificação
A sífilis é uma condição patológica cujo diagnós- desses indicadores de risco é importante para que
tico e tratamento podem ser realizados com baixo se possa acompanhar a audição deste neonato ou
custo e pouca ou nenhuma dificuldade operacional. lactente até os 3 anos de idade 2.
O tratamento da gestante com sífilis se dá minis- Em relação ao nascimento pré-termo, encon-
trando doses de penicilina ou, em casos de aler- tram-se na literatura estudos com resultados diver-
gia à penicilina, indica-se o uso de eritromicina 18, sos: alguns deles com percentagens bem abaixo
sendo ambos os medicamentos tóxicos ao sistema do observado no HC/UFPE, com 4,0% e 4,75% 15,9;
auditivo 7,25. Dessa forma, atenção especial deve em contrapartida, foi encontrada também percen-
ser dada a gestantes e neonatos, nos casos de sífi- tagem mais próxima (39,1%) de crianças apresen-
lis diagnosticada. tando este indicador de risco 14. Este último estudo
Seria ideal que as mulheres tivessem uma ade- também foi realizado em maternidade de referência
quada assistência à saúde e noções de prevenção para gestações e partos de alto risco, assim como
a doenças antes mesmo do período concepcional, o HC/UFPE, e, provavelmente por isso, encontrou
evitando a necessidade de ingestão de medica- percentagens elevadas.
mentos que podem ser tóxicos ao sistema auditivo Fatores como baixo peso ao nascer e índice de
de seus filhos. Apgar baixo podem causar aumento da morbidade
As perdas auditivas sensorioneural e central, neonatal e são responsáveis, em muitos casos,
associadas com a Síndrome da Imunodeficiência por atraso no desenvolvimento global. Os avan-
Adquirida (AIDS), podem ocorrer devido a efeitos ços tecnológicos e científicos vêm aumentando a
diretos do vírus HIV no sistema nervoso central sobrevivência de crianças prematuras, neonatos
ou nervo auditivo periférico, causas iatrogênicas com baixo peso e de recém-nascidos com outros
secundárias a medicações ototóxicas, infecções comprometimentos severos 14.
(como toxoplasmose, meningites viral ou bacte- Em um estudo realizado em programa de TAN,
riana, citomegalovirus, herpes) ou neoplasias do das 88 (11,1%) crianças que apresentaram peso ao
sistema nervoso central. As alterações ocorrem nascimento inferior a 1.500g, nove (10,2%) apre-
na via auditiva periférica (perda auditiva condu- sentaram alteração da audição (p < 0,001) 14. Os
tiva decorrente de comprometimento de orelha autores afirmaram ser compreensível a proporção
média) e/ou via auditiva central (comprometimento elevada de neonatos de muito baixo peso, por se
tratar da maternidade de um hospital de referência referida em 1,0% 31. Porém, quando se comparam
para gravidez e partos de alto risco, assim como os dados de hiperbilirrubinemia tratada com trans-
no presente estudo. No HC/UFPE também, houve fusão sanguínea, a literatura diverge, pois foram
significância estatística entre o peso ao nascer e a encontrados resultados aproximados (0,14%) e
‘falha’ na TAN, evidenciando que esta variável pode outros que se contrapõem (10,5%) aos encontrados
constituir um risco à audição. na presente pesquisa 9,23.
A literatura aponta que baixos índices de Apgar Tendo em vista que níveis elevados de bilirru-
podem constituir risco de alterações auditivas 14. bina podem levar a alterações auditivas, é impor-
O índice de Apgar tem a finalidade de verificar de tante que se tenha em mente a necessidade de
forma rápida o estado clínico do neonato e identi- identificação dos neonatos e lactentes acometidos,
ficar aqueles que necessitam de assistência, ava- para que passem por uma bateria de testes audio-
liar riscos e prevenir sequelas. Ele consta de cinco lógicos e eletrofisiológicos para a obtenção de um
parâmetros: frequência cardíaca, respiração, tônus diagnóstico preciso, possibilitando a intervenção o
muscular, irritabilidade reflexa e coloração da pele mais cedo possível.
do recém-nascido. Numa escala de 0 a 10, se o seu A literatura indica que a permanência em UTI
valor for menor que 7, será diagnosticada hipóxia representa risco à audição quando o seu tempo de
fetal 28. permanência for de 5 dias ou mais ou, ainda, se
São descritos resultados não muito diferentes na houver nessa permanência a presença de compro-
literatura, porém inferiores aos encontrados nesta metimentos como assistência ventilatória, exposi-
pesquisa: 2,0% com Apgar de 1 a 4 no 1° minuto e ção a medicamentos ototóxicos, hiperbilirrubinemia
0,5% com Apgar de 1 a 6 no 5° minuto 15. O citado a nível que requeira ex-sangüíneo transfusão 2. É
estudo foi realizado em maternidade referência para importante salientar que, neste estudo houve sig-
alto risco, assim como o HC/UFPE. A quantidade nificância estatística para a permanência em UTI,
de neonatos e lactentes neste estudo sem informa- porém isso não ocorreu ao se analisar o tempo de
ção sobre Apgar no 1° minuto é maior que no 5°, permanência. Este fato pode estar indicando que os
pelo fato de apenas esta última constar no cartão neonatos e lactentes que permanecem neste tipo
da criança, sendo, por vezes, o único registro que a de unidade merecem atenção da equipe de triagem
mãe tem sobre o escore de Apgar de seu filho. auditiva, independente do tempo, pois podem apre-
As alterações auditivas em decorrência da sentar outros riscos associados.
hiperbilirrubinemia ao nascimento, especialmente Pesquisadores analisaram a audição e identifica-
os casos em que se faz necessária a realização ram vários indicadores de risco em neonatos inter-
de transfusão sanguínea, vêm sendo descritas na nados em uma UTIN. Os indicadores que melhor
literatura científica. As consequências dos níveis caracterizaram o grupo foram: antecedente familiar,
elevados de bilirrubina são mais relevantes para malformação craniofacial, síndrome genética, peso
o sistema nervoso central, o que inclui o núcleo menor que 1.000 g, asfixia, hiperbilirrubinemia e
coclear 29. uso de ventilação mecânica 32. Como se pode per-
Algumas doenças são responsáveis por níveis ceber, os neonatos de UTIN acumulam uma série
extremamente elevados de bilirrubina, como as de indicadores de risco, que provavelmente consti-
doenças hemolíticas por incompatibilidade san- tuem as causas da perda auditiva.
guínea materno-fetal e por deficiência da enzima Na população estudada, houve associação sig-
G6PD, que parecem ser as causas mais importan- nificante no caso do uso da ventilação mecânica,
tes da hiperbilirrubinemia neonatal e demandam a mas não pareceu haver diferença ao se conside-
realização da transfusão sanguínea. Crianças com rar o tempo que o neonato ou lactente passou na
história de hiperbilirrubinemia neonatal podem ter ventilação. Esta associação talvez fosse verificada
resultados alterados à avaliação audiológica 30. ao se aumentar o número da amostra, pois não se
A literatura relata um caso de recém-nascido a pode deixar de considerar que a literatura aponta
termo que recebeu alta sem intercorrências e com o tempo de ventilação mecânica de 5 dias ou mais
resultado normal de triagem auditiva por EOA. como indicador de risco para a perda auditiva 5. No
Porém, evoluiu com icterícia neonatal tardia e foi entanto, a presente pesquisa pode estar servindo
internado, necessitando de fototerapia de alta de alerta para casos de alteração auditiva mesmo
intensidade e duas transfusões sanguíneas. Em com pouco tempo de uso da ventilação.
segunda avaliação audiológica, por exames de Em se tratando da ocorrência de neonatos e
EOA e potencial evocado auditivo de tronco ence- lactentes que usaram ventilação mecânica, estes
fálico, foi detectada grave perda auditiva bilateral 29. números estão próximos do encontrado alguns
Os dados do HC/UFPE diferem da literatura no estudos, que obtiveram 20,0%, e 21,36% 23,11.
quesito ocorrência de hiperbilirrubinemia, que foi Porém, superam o encontrado em outro estudo, em
ABSTRACT
Purpose: to characterize neonates and infants who were born in 2008 and have been submitted
to the Newborn Hearing Screening Program of the Federal University of Pernambuco Hospital
according to the presence of risk factors related to hearing loss. Methods: a total of 787 newborns
took part in the study. Information from clinical charts and tests results were collected in order set up
a database. Results: the most prevalent risk factors for hearing loss in the related population was
hyperbilirubinemia, prematurity, low weigh at birth, use of medication during pregnancy, presence of
diseases during pregnancy and permanence in a Newborn Intensive Care Unit. The factors that have
shown significant statistic relation with hearing loss were: prematurity, low weigh at birth, permanence
in a Newborn Intensive Care Unit, neonatal ventilation dependence and ototoxic drug exposure.
Conclusion: we identified prenatal, per natal and postnatal risks factors for hearing loss. Although,
only per natal and postnatal risks factors were significantly related to hearing loss.