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SISTEMÁTICA I
Programa de Formação Ministerial/Teologia
Por
Carlos Abejer
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 2
TEOLOGIA
SISTEMÁTICA I
Programa de Formação Ministerial/Teologia
STNB
Por
Carlos Abejer
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 3
PALAVRAS DE BOAS-VINDAS
Olá caro(a) estudante! Você está iniciando uma disciplina que faz parte do eixo
teológico que o STNB oferece no seu Programa de Formação Ministerial/Teologia. Os
conteúdos oferecidos nessa apostila apresentam uma linguagem dialógico-reflexiva e
encontram-se integrados à proposta pedagógica do STNB, contribuindo no processo
educacional, complementando sua formação acadêmica, desenvolvendo competências e
habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-
lo(a) mais adequadamente no ambiente de serviço cristão (Aplicação das 4C’s).
Além disso, lembre-se que existe uma equipe de facilitadores que se encontra
disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem,
possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Oramos para que o Senhor continue a usá-lo(a) no ambiente ministerial onde atua
para edificação do seu Reino. Esperamos que este material seja útil no cumprimento desta
tarefa especial.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 4
PRESENTAÇÃO
AP
Estimado(a) estudante, é com grande prazer que apresento o material que você deve
utilizar para o estudo da disciplina Teologia Sistemática I. Há alguns anos tenho me
dedicado ao estudo das ênfases teológicas e divido com você aquilo que há de mais atual
e academicamente relevante sobre tal disciplina.
Tendo por convicção que a força motriz que estimula o labor teológico é o desejo de
se criar espaço acessível à fé, a partir da autocompreensão que o ser humano tem de si
mesmo e da sua compreensão de totalidade do ser nas diversas situações históricas de sua
vida, minha reflexão considera duas dimensões existenciais fundantes que, ao mesmo
tempo em que sintetizam, extrapolam as referidas posições teológicas, a saber: a
horizontalidade, referente às capacidades cognitivas que o ser humano possui para o
conhecimento do mundo empírico, e a verticalidade, alusiva às condições a priori que
antecedem e ultrapassam as estruturas do entendimento.
No gesto de estruturar esse conteúdo, assumo aquilo que a teologia sempre afirmou:
“a missão da igreja e todo o seu instrumental institucional não se esgota na compreensão
da fé”. Diante disso, penso que é justamente essa condição que mantém em permanente
construção o itinerário teológico que viabiliza um melhor posicionamento diante do
mistério insondável. Assim, entendo que é tarefa da teologia abrir espaços ao diálogo e
providenciar um tipo de investigação que possibilite, preferencialmente, a expressão das
intuições e as alegações de todos os lados envolvidos nessa reflexão.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 5
deste trabalho é o levantamento de aspectos que, possivelmente, estão presentes, em
maior ou menor grau, na compreensão daqueles que estão inseridos nesse percurso
curricular proposto pelo STNB. Por outro lado, este material refere-se a uma investigação
acadêmica, a qual privilegia o enfoque bíblico, enfatizando uma sinergia entre teoria e
prática, no sentido de potencializar nosso entendimento no intuito de forjar ferramentas
metodológicas que sirvam à reflexão epistemológica e auxiliem na compreensão das
múltiplas abordagens teológicas.
Importa mencionar também que este estudo constitui-se em uma pesquisa inclusiva
onde as fundamentações conceituais sobre a temática abordada foram buscadas,
principalmente, junto a três fontes bibliográficas que explicitam a nossa identidade
teológica, a saber: (1) a excelente obra do Dr. Ray Dunning, Graça, fé e santidade. Uma
teologia sistemática wesleyana; (2) a clássica obra de teologia sistemática do Dr. H. Orton
Wiley, intitulada Introdução a teologia cristã; e, (3) o livro Viver a graça de Deus de
Walter Klaiber e Manfred Marquardt; fontes estas as quais, conjuntamente, contribuem e
sustentam as discussões estabelecidas. Foram integradas também fontes bibliográficas
secundárias que muito enriqueceram esse árduo processo de reflexão e escrita.
À luz das distinções analíticas feitas acima, concluo dizendo que creio firmemente
que pensar teologicamente alivia a existência. A tarefa teológica ajuda a desvelar a beleza
divina que na curva dos acontecimentos se abriga e convida à redenção que dela se
desprende. E quando a existência humana a percebe, sente-se traduzida, e por isso
acompanhada. O labor teológico tem essa incumbência, a de nos revelar esse horizonte
carregado de redenção onde as maiores e mais profundas inquietações encontram
respostas. E é nas respostas vindas dessa Fonte inesgotável que nossa vida se aperfeiçoa,
se liberta dos excessos e se santifica no Sim e no Amém do nosso Amado Redentor, Jesus
Cristo de Nazaré.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 6
UNIDADE I
Prolegômenos da Teologia Cristã
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 7
TEOLOGIA EM PAUTA
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 15
Por outro lado, a reflexão teológica tem necessidade de
conhecer o mundo em que essa tarefa acontece. A abertura à
realidade é uma dimensão básica do pensar teológico, na medida
em que ela deseja articular com responsabilidade uma reflexão
capaz de ajudar no discernimento do caminho a ser percorrido e de
promover um agir transformador da realidade, em conformidade
com o projeto salvífico de Deus, conforme comenta Millard
Erickson (1997), a teologia é elaborada no contexto da cultura
humana, por que o caráter dinâmico da história, a natureza fluída
da linguagem e as mudanças no cenário cultural, bem como o
desenvolvimento do pensamento filosófico tornam imperativo que
cada geração procure lidar com o significado contemporâneo da sua
fé (p. 16). Sobre isso, Purkiser (1991) vai dizer que “a constante
tarefa da igreja é interpretar sua fé no mundo contemporâneo” (p.
14). Essa relação também é descrita por Karl Barth ao afirmar que
“no campo da teologia a igreja chega às suas conclusões de acordo
com o estado do seu conhecimento nas diferentes épocas” (1960, p.
11).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 16
teologia. Ele deve também dominar a problemática do seu próprio
contexto, consciente tanto dos desafios filosóficos, históricos,
políticos, sociais e econômicos, quanto dos morais e éticos, e,
sobretudo, os culturais colocados pelas artes: pintura, escultura,
cinema, dança e música, poesia, entre outros. Isto implica na
inclusão das Ciências Humanas como parceiras em sua atividade
interpretativa do próprio contexto (p. 127).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 17
no lugar onde se encontra. Desse modo, povo e contexto se definem
e se condicionam mutuamente. Desde essa época, o termo contexto
foi crucial para distinguir traços característicos do trabalho e do
produto final do teólogo, no intuito de que este representasse as
características culturais, sociais, políticas, econômicas e religiosas
do lugar desde o qual e para o qual ele elaborava a sua reflexão
teológica. A maneira de avaliar uma teologia passou a considerar
em que medida ela representava legitimamente o seu lugar. René
Padilla, um dos expoentes deste interesse, advogou, nos anos 70,
uma proposta de contextualização do Evangelho. Pedro Savage, foi
outro pensador que nos anos 80, desenvolveu um programa para
uma teologia contextual evangélica para a América Latina. Quem
discutiu amplamente a questão da contextualização da teologia no
início deste século, foi o conhecido Juan Stam (Sanches, 2009, p.
1-2).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 18
fixadas, mas de fazê-lo enquanto a caminho com aqueles com quem
se deseja comunicar o Evangelho. Isto significa ouvir o que os
teólogos têm dito quanto à necessidade de que suas igrejas de
origem os ouçam e prestem atenção em seus contextos a fim de lidar
corretamente com eles.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 19
De início é preciso uma teoria para analisar o contexto. Para
Cervera Conte (2006), contexto sugere quatro possibilidades: (1) as
características comuns de um agrupamento humano, como língua,
geografia, história, que geram uma forma comum de viver a vida,
por exemplo, o contexto rural em oposição ao urbano; (2) as
questões sociais, econômicas, políticas não integradas ou
contraditórias quanto à forma comum de viver a vida, por exemplo,
o contexto de mulheres ou de idosos; (3) cada etapa da vida e seus
sentidos adequados, como o contexto infantil ou adolescente; e, (4)
a situação total da existência humana, o contexto humano (p. 152-
154).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 20
(Padilla, 1978, p. 18). Esta exige a rejeição pela igreja local da
simples reprodução da teologia recebida de outro contexto e o
esforço para interpretar esta teologia em seu próprio contexto. Isto
implica em que a própria comunidade de crentes assuma a
preeminência no processo de interpretação, no qual perceberá que
cada cultura torna possível uma certa abordagem ao Evangelho que
destaca certos aspectos salientes que em outras culturas
permanecem menos visíveis ou até ocultas. Visto desta perspectiva,
as mesmas diferenças culturais que encobrem a comunicação
intercultural podem servir para afirmar o entendimento da
pluralidade da sabedoria de Deus; eles servem como canais de
expressão de aspectos da verdade do Evangelho, aspectos que a
teologia ligada a uma cultura particular dificilmente consegue
abranger (p. 6).
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Contudo, como é lógico, o método vem primeiro e não faz parte da
própria teologia, embora esteja implícito (p. 56).
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pessoas estão sujeitas por meio de alterações significativas em seu
contexto. Outro tem por alvo as mudanças sociais e econômicas que
sujeitam as pessoas a condições precárias de vida em função das
alterações em andamento. O primeiro tipo se concentra em questões
de identidade e continuidade cultural. O segundo se concentra em
questões de mudança e descontinuidade social. Isoladamente,
ambos os tipos possuem fraquezas que são superadas com a união
dos dois em um único modelo de contextualização (p. 13-15).
TERMINOLOGIA
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caráter tem sido definido de forma decisiva pela sua atuação em
Jesus Cristo (p. 32). Essa verdade tem de ser levada a sério, uma
vez que é esta ênfase teocêntrica, com um caráter Cristo-normativo,
que mantêm a unidade da disciplina que aqui estamos
desenvolvendo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 24
compulsória também deve ser compreendida a aplicação da palavra
dogma à tradição doutrinária cristã em Inácio de Antioquia, quando
se refere aos dogmas do Senhor e dos apóstolos. Em termos de
conteúdo, deve-se pensar em instruções éticas.
DEFINIÇÕES DE TEOLOGIA
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o Logos que traz noticias a respeito da divindade em discurso e
canto dos poetas (A Republica 379 a 5s). Não se trata aí da análise
reflexiva pelo filósofo. No entanto, já Socrates chamou uma das
três disciplinas da filosofia teórica de teologia (Met. 1026a 19 e
1064b 3), e a posteriori chamada de metafísica, por que teria por
objetivo o divino como o princípio de todo ente, que abrange e
fundamenta a todo o mais. Depois os estóicos distinguiram uma
teologia dos filósofos adequada à natureza da divindade da teologia
mítica dos poetas, e da teologia política dos cultos estatais: aqui
teologia já não é mais somente objeto de análise filosófica, e, sim,
é ela mesma (Pannenberg, p. 25-26).
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abrangente protagonista da teologia. Dessa forma, e conforme
Pannenberg afirma, Deus é o ponto de referência unificador de
todos os temas que são tratados na teologia (p. 30).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 27
natureza da matéria de que ela trata. A verdadeira teologia repensa
os pensamentos de Deus e os põe na disposição de Deus, como os
construtores do templo de Salomão.
ALCANCE DA TEOLOGIA
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dando a consciência básica do sobrenatural, sem a qual o ser
humano estaria incapacitado de receber as revelações da verdade
divina; (3) Revelação: como a fonte primária dos fatos sobre os
quais se estrutura a teologia sistemática; (4) Jesus Cristo: o Verbo
Pessoal e Eterno, no qual toda a verdade encontra o seu centro e
circunferência; (5) A Igreja: em que a verdade tem sido
sistematizada e desenvolvida sob a assistência e direção do Espírito
Santo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 29
quem não seja possuído de humildade e reverência, quem não seja
um investigador humilde diante dos mistérios da encarnação e da
expiação, quem não sinta e saiba que, nestes grandes fatos, há
alguma coisa que o compele a tirar as sandálias do seu coração,
porque está pisando território santo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 30
os princípios que os· ligam por meio do raciocínio contínuo e deter
o juízo até que as suas conclusões sejam provadas pela Escritura e
pela experiência (p. 38). Esse tipo de mente distingue-se pela
firmeza e decisão em rejeitar preconceitos quando a sua verdadeira
natureza se toma evidente. Prova todas as coisas e retém o que é
bom; abraça as verdades intuitivas assim como as que se adquirem
pela lógica e pela razão. É uma mente que não está escravizada ao
processo racional, mas que possui intuição espiritual assim como
entendimento cognitivo.
Teologia Natural
Teologia Exegética
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Teologia Bíblica
Teologia Histórica
Teologia Prática
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Teologia Sistemática
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da norma e perdemos o contato com a situação, tornamo-nos
irrelevantes. O que nas palavras de Helmur Thielicke, seria
“proteger as cinzas em vez da chama” (1974, p. 54). Thielicke fala
dessa mesma tensão ao usar os termos atualização. O autor afirma
que a Palavra de Deus deve dirigir-se ao ser humano onde se
encontra. Tem de ser atual na situação presente. Usando as
categorias que se tornaram proeminentes, as quais sugerem que
uma nova situação histórica apresenta um desafio ao qual a teologia
tem de dar resposta. Isso quer dizer que a teologia sistemática
procura responder às questões que são levantadas em cada época e,
por meio da Palavra de Deus, influenciar o ethos dessa geração. Isso
é o que Thielicke entende por atualização, trazer a Palavra para o
cenário presente. A verdade em si, permanece intacta. Significa que
o ouvinte é convocado e chamado pelo seu próprio nome e na sua
situação particular (Dunning. 36-37).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 34
Para além disso, devemos concordar com Gustav Aulén (1961)
quando argumenta que essas características da teologia sistemática
não implicam que esta seja um sistema racionalmente completo (p.
6). Com isso, o autor pretende afirmar que a unidade da teologia
não está no fato dela ser um sistema fechado de raciocínio, mas
antes uma unidade caracterizada por uma tensão interna. Isto é,
embora não existam nela contradições lógicas, possui elementos
paradoxais que não podem ser reduzidos a um compromisso
racional. Esse elemento paradoxal está presente porque a teologia
trata do Deus vivo e não de um objeto finito (Dunning, p. 41).
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das suas proposições. Exige que o autor indique a metodologia que
pretende seguir e que a respeite, ponto por ponto.
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Gonçalves sugere ainda que apesar de lançar mão de diferentes
modelos históricos para a produção teológica, jamais pode a
teologia prescindir de dois elementos fundamentais em sua
constituição: o auditus fidei e o intellectus fidei. O primeiro
pressupõe que o ser humano seja um ouvinte da Palavra, capaz de
experimentar a revelação em função de seu potencial também
transcendental que o possibilita encontrar-se com Deus. Por isso, a
fé é escuta e abertura à revelação do próprio Deus que se auto-
comunica, revelação testemunhada na Escritura e que tem sua
continuidade formal na tradição cristã e nas diferentes
manifestações históricas de Deus. Trata-se, então, de manusear os
dados objetivos colhidos pelo teólogo com o auxílio de recursos
metódicos sempre com a finalidade de objetivar o dado revelado,
corrigindo especulações apressadas, imprecisas e sem
fundamentação, mantendo-se fiel à Escritura (p. 18-19).
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acessível historicamente capaz de explicitar raciocínios, deduções,
reflexões teóricas convincentes e plausíveis à atualidade histórica.
Os dados da fé e o pensamento humano são articulados, havendo
uma coerência intrínseca do discurso da fé que se pretende ser
constantemente atual, útil e necessário ao ser humano concebido
em sua totalidade histórica. Essa coerência enfatiza as funções de
especulação, explicitação e atualização do intellectus fidei (p. 21).
MÉTODOS DE ORGANIZAÇÃO E
APRESENTAÇÃO DA TEOLOGIA
Método Trinitariano
Método Federal
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 38
organiza essa abordagem considera a história do relacionamento de
Deus com a humanidade, desde a criação, a queda até a redenção
para a consumação, sob o marco de três abrangentes alianças
teológicas: Aliança das Obras, Aliança da Graça e Aliança da
Redenção.
Método Cristocêntrico
Método Sintético
AS FONTES DA TEOLOGIA
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FONTE PRIMÁRIA
A Bíblia
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Todas as elegâncias das composições humanas nada são em relação
a ela. Deus fala, não como um homem, mas como Deus. Seus
pensamentos são muito profundos, e daí que suas palavras sejam de
inexaurível virtude. E a linguagem dos seus mensageiros, também
são de alto nível porque as palavras dadas a eles são respostas
exatas da impressão feita em suas mentes. As Escrituras são de
autoria de Deus, que inspiradas pelo Espírito Santo, gerou as
impressões da sua vontade na mente dos escritores. Os escritos não
são ideias sujeitas as distorções ou influências que a mente humana
possa sofrer. Ainda que se trate de um livro de fé, ao usar o termo
impressão, queremos colocar as Sagradas Escrituras acima da
categoria da crença, fugindo, portanto, da relativização proposta
por alguns teólogos.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 41
com o Senhor vivo, cujas palavras excelsas, cujas obras
incomparáveis e cuja morte por nós constituem o grande tema do
Livro dos Livros.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 42
Testamento como o Novo são tradições fixas. Muito antes da
tradição (que é lida com a auto-revelação de Deus e suas promessas
a Abraão, Isaque e Jacó) ser escrita, ela foi transmitida de geração
em geração na forma de tradição oral. Certamente o mesmo foi
verdade para a revelação do Novo Testamento em, e através de,
Jesus Cristo. Aqueles a quem foi dada a revelação original
(testemunhas oculares) transmitiram-na a outros na forma a que os
primeiros Pais da Igreja denominaram de tradição apostólica. Com
o tempo foi transformada em documentos que, mais tarde,
acabaram por ser as Escrituras. O processo de selação dos
documentos comprovativos de autoridade foi acelerado pelo cânon
de Marcião que refletia uma tradição diferente da sustentada pela
fé cristã clássica (Dunning, p. 78).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 43
este perverter a religião pura do Antigo Testamento, com as
tradições dos anciãos. Tal não implica, necessariamente, que toda a
tradição seja má, mas antes que pode ter uma função corrompida
(p. 79).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 44
foram ultrapassadas por tais decisões” (Tillich, 1:52). Indicam
ainda, os compromissos teológicos da comunidade de fé.
A importância da tradição
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 45
igreja e ser contemporâneo com os autores do Novo Testamento,
exceto no sentido espiritual da aceitação de Jesus como o Cristo.
Qualquer pessoa que encontre o texto bíblico é guiada na sua
compreensão religiosa pelo entendimento desenvolvido por todas
as geraações precedentes; e, (3) a natureza da teologia cristã. Como
comentado anteriormente, uma das características essenciais da
teologia é interpretar a fé em termos contemporâneos, já que “o que
está envolvido não é a mera reprodução da mensagem bíblica,
assim, a teologia nao pode agir como se existisse um vácuo entre as
Escrituras e os nossos dias (Aulén, 1960, p. 69). A história dessa
tarefa contemporânea é chamada, por Aulén, de “testemunho vivo
da igreja” (p. 71). Desse modo, a tradição é compreendida, não
como algo separado das Escrituras, mas como uma tarefa contínua
de reinterpretação da mensagem bíblica e pode mesmo ser
reconhecida como a atividade contínua do Espírito Santo. Assim
compreendida, a tradição, “mantém a guarda contra as
interpretações irresponsáveis da Bíblia” (p. 72).
As limitações da razão
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 46
abordagem teológica dava lugar à revelação, a qual então,
formulava a natureza de Deus, impossível de ser descortinada pelo
uso independente da razão humana (p. 81).
A função da razão
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uma faculdade lógica que nos permite ordenar as evidências da
revelação e, juntamente da tradição, fornecer os subsídios
necessários para nos defendermos contra os perigos de uma
interpretação descontrolada das Escrituras. É o papel estrutural da
razão enfatizado por Wiley: “A sua reivindicação como uma fonte
subsidiária de teologia reside, unicamente, no fato de ter o poder de
sistematizar e racionalizar a verdade, de modo que seja apresentada
à mente, de maneira apropriada à sua assimilação” (p. 89). Em
suma, isso é lógica. John Wesley usava a lógica para apresentar os
argumentos dos seus próprios raciocínios e a defendia como uma
disciplina indispensável no treino para o ministério, sendo apenas
ultrapassada em importância, pelo estudo da Bíblia.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 48
distorção, no entanto, apesar desse perigo, nenhum teólogo
expressou, ou poderá alguma vez expressar, a fé cristã por meio de
um conjunto de ideias apenas com origem bíblica, completamente
livre de conteúdo, derivado não apenas da filosofia, mas também
de outras formas de pensamento secular capazes de contribuir com
essa tarefa (Thiselton, 1980, p. 9). Inclusive a história valida a
solidez dessa afirmação. Todos os credos e confissões utilizam
conceitos filosóficos predominantes, no sentido de abordar os
assuntos específicos em debate (Aulén, p. 74).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 49
deveriam neste sentido ter o caráter mistagógico, não limitando a
refletir a expressão correta da verdade salvífica (ortodoxia), mas
também provindo de e conduzindo a mesma verdade vivida
(ortopraxia) na comunidade eclesial (Miranda, 2001, p. 74).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 50
escolástica. Nesta época apresenta-se fortemente o desejo de
transmitir de maneira fiel o dado recebido. Se acresce neste período
a utilização do instrumental da lógica aristotélica que determinou a
metodologia teológica nesse momento. A teologia se desenvolveu
segundo os padrões acadêmicos afastando-se da vida e problemas
reais das pessoas, perdendo-se em disputas de linguagem acessíveis
apenas a um pequeno grupo de intelectuais. Neste período acontece
a separação entre Oriente e Ocidente no qual o Oriente ainda integra
o mistério revelado, celebrado e vivido enquanto no Ocidente esta
unidade é perdida. Embora se perceba grandiosas obras elaboradas
neste período como também o esforço de trazer a experiência da fé
à intelectualidade e ainda o de se preservar o tesouro da Sagrada
Escritura e dos Pais da Igreja, neste tempo a experiência da fé foi
cristalizada. Este tipo de teologia gerou, por um lado, uma reflexão
áspera que não encantava nem suscitava a fé, e por outro, gerou
uma piedade intimista e até mesmo alheios a fé.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 51
partir de uma reflexão intelectual mas a partir de um verdadeiro
encontro que envolve a totalidade da existência, de uma experiência
realizada com Cristo que dá ao ser humano o sentido de sua
existência, a visão e a valoração de seu mundo e neste sentido todas
as decisões da vida (Coreth, 2009, p. 388). Trata-se da atitude de fé,
de abertura a presença de Deus em Jesus Cristo através da pessoa do
Espírito Santo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 52
estéticas, científicas e religiosas (p. 33). Ao usar essa definição
mais ampla, Dunning vai sugerir um papel mais preponderante para
a experiencia que não se reduz apenas ao aspecto espiritual (p. 87).
A esse respeito Miranda vai dizer que a experiência não trata apenas
da dinâmica de uma parte do ser humano mas refere-se ao ser
humano por inteiro, com toda sua inteligência, vontade,
sentimentos, imaginação, corporeidade (p. 67). Experiência que
envolve, neste sentido, toda a existência do ser humano e não
apenas uma dimensão deste.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA
TEOLOGIA CRISTÃ
A teologia originante
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 53
de reinterpretação das Escrituras e das tradições judaicas, quanto da
adesão dos gentios. O testemunho de fé registrado no Novo
Testamento foi feito teologia originante, fontal ou paradigmática,
estimuladora de toda teologia posterior. Sua base se tornou
irrenunciável para todo futuro exercício teológico. Indiretamente, a
afirmação doutrinária da primeira comunidade cristã se fez dogma,
registrado, por exemplo, nas fórmulas cristológicas (Gonçalves, p.
23).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 54
amor, onde Deus será tudo em todos, e o conhecimento de Deus
será total e completo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 55
experiência (p. 23).
A teologia patrística
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 56
Roma, pois ambas disputavam o domínio da região. No período em
que o cristianismo se espalhou por essa área, essa cidade era uma
colônia romana. Entre os importantes escritores da região estão
Tertuliano, Cipriano de Cartago e Santo Agostinho. Isso não
significa que outras cidades do Mediterrâneo não tinham
importância. Roma, Constantinopla, Milão e Jerusalém também
eram importantes centros teológicos (p. 475).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 57
uma dentre tantas outras, lutando por influência no mundo romano.
A conversão do imperador Constantino ocasionou uma mudança
completa na situação do cristianismo em todo o Império. Ele
aproximou igreja e estado, operando uma expressiva mudança na
mentalidade de sua época. Em 321, decretou que os domingos
deveriam se tornar feriados. A igreja agora contava com o apoio do
estado. Assim, a teologia saiu do círculo dos encontros cristãos para
se tornar uma questão de interesse e preocupação públicos.
Progressivamente, os debates doutrinários tornaram-se uma
questão de importância também política. O desejo de Constantino
era ter uma igreja unificada em todo seu império. Preocupava-se
com o fato de que as diferenças doutrinárias deveriam ser debatidas
e conciliadas como uma questão prioritária (Gonçalves, p. 24).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 58
não-cristãs (Pannenberg, p. 477).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 59
(Gonçalves, p. 25).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 60
Ocidental, a base de um grandioso projeto teológico. Uma parte
fundamental da sua contribuição é o desenvolvimento da teologia
como uma disciplina acadêmica (p. 25).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 61
generalizada e posteriores mudanças estruturais na região. Somente
a partir do século XI um certo grau de estabilidade foi estabelecido
nessa área. Surgiram três grandes sistemas de poder em substituição
ao antigo Império Romano. O Império Bizantino, cujo centro era a
cidade de Constantinopla. A forma de cristianismo predominante
nesta região baseava-se na língua grega e era profundamente ligada
aos escritos dos estudiosos patrísticos da região do mediterrâneo
oriental, como Atanásio, por exemplo. A Cristandade Ocidental,
principalmente em regiões como a França, a Alemanha, os Países
Baixos e o norte da Itália. A forma de cristianismo que veio a
predominar nessa região tinha como centro a cidade de Roma e seu
bispo era a figura máxima da igreja no ocidente. E por fim, o Islã,
região que compreende grande parte do Extremo Oriente e do sul
do Mediterrâneo (Gonçalvez, p. 26).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 62
de Rotterdam e João Calvino. Outros centros de estudos
semelhantes foram logo criados em outras partes da Europa.
Instaurou-se um novo programa de desenvolvimento teológico
voltado para a consolidação dos aspectos intelectuais, legais e
espirituais da vida da igreja cristã (Gonçalves, p. 26).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 63
humanidade. Seu nome é derivado das grandes escolas medievais,
nas quais se debatiam questões de teologia e filosofia,
freqüentemente com tamanha complexidade, e têm surpreendido os
historiadores contemporâneos, como Le Goff. A Escolástica era
considerada pela maioria das pessoas, especialmente os
humanistas, no início do século XVI, como uma inútil e árida
especulação intelectual a respeito de trivialidades. O termo
escolasticismo foi inventado por escritores que ansiavam por
desacreditar o movimento por ela representado. A expressão Idade
Média foi, em grande parte, uma criação humanista, cunhada por
escritores humanistas, do século XVI, em referência pejorativa a
um insípido período de estagnação, situado entre a Antigüidade (o
período clássico) e a modernidade (o Renascimento). A Idade
Média é vista como nada mais do que um tempo intermediário entre
o esplendor cultural da Antigüidade e seu ressurgimento, no
Renascimento. Da mesma forma, o termo escolástico era
empregado pelos humanistas em referência, igualmente pejorativa,
às idéias da Idade Média (Pannenberg, p. 483).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 64
status de ciência.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 65
italiano é um retorno ao esplendor cultural da Antigüidade e uma
marginalização das conquistas intelectuais da Idade Média.
Escritores renascentistas tinham pouco respeito em relação a estas
conquistas, considerando que as grandes conquistas da
Antiguidade eram superiores às da Idade Média. O Renascimento
pode ser parcialmente visto como uma reação contra o tipo de
abordagem progressivamente associado às faculdades de
humanidades e teologia, das universidades do norte da Europa.
Irritados pela natureza técnica da linguagem e dos debates
escolásticos, os escritores do Renascimento os deixaram totalmente
de lado. No caso da teologia cristã, a chave para o futuro
encontrava-se em um engajamento direto com o texto das
Escrituras e com os escritos do período Patrístico.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 66
teologia nesta nova estrutura.
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de teologia, acrescentando-lhe ainda uma gama de dados que em
nada tem a ver com a primeira teologia originante.
A teologia na modernidade
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 68
volta do século XVI da era cristã, na parte ocidental da Europa.
Seus germes foram a Renascença e a Reforma Protestante, tendo
como fundamentos filosóficos e políticos nos séculos XVII e XVIII
o empirismo e o posterior positivismo científico.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 69
subjetividade moderna acabou por afugentar a pessoa em um
mundo destituído de solidariedade. A ideologia modernista se
mostra insuficiente e por isso está em crise. Esta crise da
modernidade é a crise do sujeito moderno.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 70
patrocinavam a nova sociedade. Fechadas sobre si mesmas, as
igrejas cristãs na defesa de suas ortodoxias viveram pleiteando
favores dos príncipes. Isso aconteceu principalmente junto aos
burgueses. O cristianismo, conforme a crítica weberiana ao
calvinismo, se adequou perfeitamente e se tornou estrategicamente
aproveitável aos interesses da nova classe. Dividido e sectário,
perdeu a oportunidade de caminhar na direção da história de forma
consciente e dialogal (p. 27-28). Já no século XVIII, quando do
contexto da Revolução Francesa e da luta por uma nova ordem
social, a igreja se constituiu uma força contra-revolucionária.
Iniciou uma ofensiva contra os ditos erros modernos, o socialismo
e o liberalismo. No catolicismo, a reação culminou com o Syllabus
(Pio IX, 1864) e o Vaticano I (1869-1870) perdurando até o
Vaticano II. Já no protestantismo, o conservadorismo fez nascer o
fundamentalismo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 71
No ano seguinte Kant publicou sua Crítica da Razão Pura, que é o
resultado de uma teologia fundada sobre os princípios de uma razão
puramente dedutiva e especulativa. Depois de Kant vemos
Schleiermacher construir uma teologia a partir do novo ideal
científico, apresentando-nos uma teologia positiva. Assim, vemos
o racionalismo se desenvolvendo dentro da teologia: a escola alemã
de Ritschl e Troeltsch, a escola simbólico-fideísta na França, a
escola católica de Tubinga, todos se consagraram pelo uso do
método histórico experimental e indutivo em detrimento do antigo
método escolástico racional e dedutivo que suplantou o método
agostiniano (Pannenberg, p. 486).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 72
incapazes de interpelar o homem de hoje, muitas vezes não
conseguem se desamarrar das lógicas do racionalismo ocidental.
Por isso também se revelam, muitas vezes, definitivamente
incapazes de sentido para o mundo atual (p. 29).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 73
UNIDADE II
O que cremos acerca das Escrituras Sagradas
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 74
AS ESCRITURAS SAGRADAS
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de Moisés. Não sabemos se, já na leitura da lei por Esdras (cerca de
450 a.C.), essa obra tinha a atual extensão. Entretanto, deve ter sido
fixada em sua forma final, o mais tardar, no século IV a.C., já que
os samaritanos, que pelo fim desse período se separaram da
comunidade jerusalemitana, o receberam na mesma forma literária
(Klaiber e Marquardt, p. 39).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 76
apocalípticos, mas mantiveram os livros igualmente contestados de
Cântico dos Cânticos e Ester. Enquanto a Igreja Ortodoxa Grega e
a Igreja Católica Romana conservaram o cânon amplo da tradição
grega, respectivamente latina, os reformadores consideraram o
cânon hebraico como original. Lutero, em sua tradução da Bíblia,
colocou os restantes escritos como apócrifos entre o Antigo e o
Novo Testamento. Atualmente também se fala de escritos
deuterocanônicos ou tardios do Antigo Testamento.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 77
apóstolos, a qual é formulada, de fato, sempre com palavras de
Paulo. É certo que suas cartas desde cedo são colecionadas e lidas
(1 Pedro 3.15) e se tornam o próprio conteúdo da autoridade
apostólica. (2) Pelo fim do século II, a situação se modificaria
radicalmente, talvez sob a pressão do movimento de Marcião, o
qual rejeitou o Antigo Testamento e o tinha substituído por uma
escrita cristã.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 78
ação. Não é à toa que a palavra grega kanon, significando medida,
critério, se tornou um conceito técnico para Bíblia. Visto que esse
fato foi diferentemente valorizado durante a história, queremos
chamar a atenção para três aspectos do processo de fixação do
mesmo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 79
tradição viva são suficientes para fazer valer a Palavra do Senhor
da igreja. São imprescindíveis, antes de mais nada, as palavras,
claramente delimitadas, das promessas do Antigo Testamento e do
testemunho original de Jesus Cristo, para que se verifique de novo
a Palavra viva de Deus.
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A CONSERVAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
A SIGNIFICAÇÃO DA BÍBLIA NA
HISTÓRIA DA IGREJA
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sempre gozou de grande consideração dentro da igreja; nunca foi
esquecida, embora sua mensagem estivesse sempre em perigo de
ser apropriada e sufocada pela doutrina eclesiástica dominante.
Justamente nesse ponto, a Bíblia exerceu sua função crítica, e dela
partiram os impulsos para reformas e os apelos para a
reconversão da igreja ao seu princípio em Jesus Cristo.
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Assis, os valdenses, John Wycliff ou John Huss (Klaiber e
Marquardt, p. 46).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 83
vocálicos hebraicos, embora esses tenham sido acrescentados
somente nos séculos IX e X d.C., isto é, muito tempo após a
conclusão do cânon. Mas, não somente nesses casos extremos, e
que foram muito além do escopo visado, a posição literalista se
revelou como inútil e prejudicial. Pela doutrina da inspiração
baseada a apoiada na palavra isolada, o peso diferente das
diferentes afirmações bíblicas foi nivelado por baixo e assim foi
perdida a dinâmica da mensagem bíblica, descoberta por Lutero. A
Bíblia se tornou uma coleção de verdades isoladas de fé e à força
inseridas dentro de um sistema doutrinário, com o qual a ortodoxia
da Igreja devia ser afirmada. Por mais meritório que possa ter sido
o labor especulativo, nela contido, ele tirava da mensagem da
Escritura o seu caráter de palavra e diálogo vivo, que, a partir de
uma situação bem determinada, é dirigida ao ouvinte leitor (Klaiber
e Marquardt, p. 47).
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 84
posteriores e assim trazê-la novamente à plena luz. Por conseguinte,
sua crítica não se dirigia contra a Bíblia, mas contra a ortodoxia
que, em sua opinião, se constituía num doutrinarismo que sufocava
a voz da Bíblia. Entretanto, bem cedo os instrumentos da pesquisa
histórica se transformaram em críticas das verdades bíblicas, e em
arma para amplas críticas à fé cristã, como foi no caso dos
estudiosos S. Reimarus e David Friedrich Strauss. Doutrinas
fundamentais das confissões de fé, como a da ressurreição de
Cristo, são postas em dúvida em nome da racionalidade histórica,
ou explicadas por meio de elucubrações aventureiras, racionalistas,
para se tornarem conformes à razão.
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formas de interpretação histórico-crítica: (1) O método histórico-
crítico, em sentido estrito, trabalha com as três categorias que o
filósofo e teólogo Ernst Troeltsch designou como normativas para
qualquer trabalho histórico: (a) a crítica, como dúvida metódica:
realmente foi assim como as narrativas descrevem?, (b) a
correlação, como condição fundamental dos eventos históricos:
cada fato está dentro de um contexto natural de causa e efeito,
devendo haver nexo entre eles; e, (c) analogia, como derradeiro
critério para a avaliação dos processos históricos: conhecimentos e
explicações históricas proporcionam juízos de probabilidade sobre
acontecimentos passados sobre a base de sua analogia para com
experiências humanas universais. É fácil de ver que aqui está
pressuposta uma imagem fechada do mundo, em que não há lugar
para intervenções de Deus, ou para acontecimentos sem analogia,
como a ressurreição de Cristo.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 86
meditativos são de grande auxílio; métodos de exegese concreta,
que promovem a identificação pessoal do leitor com o evento e as
pessoas bíblicas, mas, sobretudo o diálogo intenso com outros sobre
o significado dos textos.
MODELOS DE ENTENDIMENTO
BÍBLICO ATUAL
A compreensão fundamentalista
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divergentes e assim chegar ao necessário trabalho crítico de
discernimento.
O entendimento liberal
O entendimento querigmático
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Bíblia e trabalha com o método histórico-crítico, sobretudo em sua
forma aberta, ampla. Essencial não é a harmonia com as ciências
naturais ou com as particularidades históricas, mas o poder interno
da mensagem que vem de Deus, que criou o mundo e salvou os
homens através de Jesus Cristo. Mandamento básico para o
comportamento do ser humano é o mandamento do amor, a partir
do qual, naturalmente, também os mandamentos específicos da
Bíblia podem receber significado como concreções do amor, sem
serem entendidos como leis. Deste ponto de vista possível,
analogamente ao modo de agir de Lutero, fazer críticas objetivas a
algumas passagens bíblicas, o que, entretanto, nunca leva a um
questionamento dos fundamentos da mesma (Klaiber e Marquardt,
p. 53).
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A BÍBLIA: PALAVRA DE DEUS EM PALAVRAS
HUMANAS
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frase a Bíblia é a Palavra de Deus, por exemplo, descreve com
exatidão que a Bíblia inteira quer ser testemunho do agir e do falar
de Deus. Mas encobre o fato de que esse falar é formulado de
modos muito diferentes e que seus testemunhos também abrangem,
mui conscientemente, afirmações humanas, a resposta da fé, bem
como o não da infidelidade; as vozes de queixas, lamentações e
desespero, da mesma forma como o canto de gratidão e louvor.
A BÍBLIA E A REVELAÇÃO
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revelação, “a aliança, e, portanto: Deus como Deus do ser humano
e o ser humano como ser humano de Deus, essa história, essa obra
como tal é o enunciado da Palavra de Deus, que a distingue de
qualquer outra palavra” (p. 19-20).
A importância da revelação
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autocomunicação divina como uma manifestação da graça que
convidava o ser humano a entrar num relacionamento pessoal com
Deus (p. 74).
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de novo, e leva homens à fé que salva (Romanos 1.16). Deus
mesmo se dirige ao ser humano pela mensagem dos apóstolos (2
Coríntios 5.20) e na palavra daqueles que levam adiante esta
mensagem. Por conseguinte, a ação reveladora de Deus se orienta
para diante, aberta a todos os ouvintes futuros!
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próprio, é a Palavra eterna e feita carne, que Ele nos falou em Jesus
Cristo e na qual Ele se revelou na profundidade do seu ser, isto é,
no seu inquebrantável amor. Esta Palavra é a base e a causa para
qualquer testemunho humano sobre a Palavra de Deus, à qual o
procede e lhe dá poder. (2) Da Palavra revelada de Deus só sabemos
pelas palavras atestadas na Sagrada Escritura, que são as palavras
das testemunhas vétero-testamentárias, que, oculta ou
explicitamente, apontam, em ousada antecipação e com distância
histórica-salvífica, para a revelação em Jesus Cristo; bem como as
palavras dos apóstolos e pregadores do Novo Testamento, que nos
descrevem a ação de Deus na vida e obra de Jesus, e o manifestam
a nós como o Cristo de Deus (Klaiber e Mardquardt, p. 16).
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revelação de Deus, através das palavras da Sagrada Escritura,
também vale o princípio: ela quer ser recebida com fé. Somente
assim, de palavras de tempos passados, nascem palavras atuais e
válidas para o leitor que vive hoje e para os ouvintes da Palavra. (4)
Também a Palavra anunciada hoje por testemunhas cristãs, é
Palavra de Deus, pela qual Deus se dirige aos homens e neles
produz a fé. Somente porque isto é verdade, temos esperança
fundamentada de que nosso testemunho atinge as pessoas no seu
mais íntimo e que através de fracas palavras humanas, eles se
encontram com o Deus salvador e vivificante (p. 16-17).
A BÍBLIA E A INSPIRAÇÃO
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 96
No geral é aceito o fato de que a Bíblia é inspirada por Deus.
Em 2 Timóteo 3.16-17, há uma afirmação de que toda a Escritura
inspirada por Deus tem utilidade singular para a vida do ser
humano, a fim de que este, recebendo a comunicação de Deus, seja
mais fiel a ele e assim possa ser melhor em sua própria vida. Este
valor prático da Escritura deriva-se do poder que ela tem em si
mesma.
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participação da sobrenaturalidade no processo histórico de
confecção da narrativa bíblica. A terceira tendência vê a Bíblia
como resultado da ação divina e humana. A Bíblia ocorre como
resultado de uma sinergia entre as ações divina e humana. Deus
acontece na historicidade humana e é em meio a esse processo que
Ele se manifesta, mesmo com todas as contingências humanas, a
partir do modo humano de compreender a Deus. Logo, concebe o
texto bíblico como produto da simultaneidade entre o divino e o
humano. É uma abordagem conjuntiva e não disjuntiva.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA I 98
próprios fundamentalistas, ao passo que as distintas interpretações
estão erradas (Mendes e Santos, p. 541).
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Raça Humana); Wilhelm Friedrich Hegel (1870-1831); Ferdinand
Christian Baur (1792-1860); David Friedrich Strauss (Vida de
Jesus, 1835). No enciclopedismo francês destacam-se Denis
Diderot e Jean D’Alembert (Encyclopédia); JeanJacques Rousseau
(Emílio e Contrato Social); Johan Pestalozzi (Como Gertrudes
Ensina seus Filhos); J. G. Eichhorn (Introdução ao Antigo
Testamento); J. Astruc (Prolegômenos à História de Israel); Julius
Wellhausen (1844-1918); Notáveis são também nomes como
Albrecht Ritschl (1822-1889); Adolf von Harnack (1851-1930) e
Ernst Troeltsch (1865-1923).
Visto que no tempo em que isto foi escrito, ainda não houve
nenhum Novo Testamento, devemos concluir que o autor fez esta
declaração sobre o Antigo Testamento, aparentemente a
Septuaginta que era a versão da Bíblia usada pela igreja primitiva
helenística onde Paulo e Timóteo trabalharam. É interessante notar
que a Septuaginta contém os chamados livros Apócrifos, mas, visto
que o autor desta carta não está falando aqui sobre os limites do
cânon (o conceito que ainda não foi discutido na igreja), talvez seja
melhor não concluir necessariamente que ele teria aceito os livros
apócrifos como possuindo a mesma autoridade dos outros, isto é,
os livros incluídos na Bíblia Hebraica dos judeus.
Os mandamentos morais
Amor e passividade
Soberania e amor
Asseidade
Eternidade
Onipresença
Onisciência
Imutabilidade
ATRIBUTOS BÍBLICOS
Verdade
Retidão
Misericórdia
A TRINDADE
A caminho de Nicéia
Triteísmo
Modalismo
Subordinacionismo
Por trás dessa solução está uma doutrina de Deus pouco cristã.
O Adocionismo não concebia um Deus que pudesse tomar a
iniciativa na salvação humana, mas antes tinha que esperar que um
homem bom surgisse. Por isso, a igreja rejeitou essa doutrina,
porque colocava Deus no meio do processo e não no início da obra
redentora. Embora pudesse ser intelectualmente satisfatória para
Arianismo