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A atual Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 

lançada
pelo Ministério da Educação em 2008, surgiu a partir de um contexto de mudança de
paradigma impulsionado pelo movimento de educação inclusiva. Ela é um marco no
sentido de se compreender que a educação é para todos, de ressignificação e
reestruturação dos serviços de Educação Especial que passam a estabelecer novas
relações com a educação escolar comum. Educação Especial deixa de ser um
sistema paralelo com abordagem assistencialista e clínica terapêutica e passa a ser
uma modalidade que perpassa todos os níveis, etapas e outras modalidades de
ensino, sem substituí-los, ofertando os recursos e serviços de acessibilidade aos
estudantes segundo o seu público.

Na Educação Escolar Indígena, o reconhecimento da diversidade sociocultural


como política pública vem consolidando, através das ações dos movimentos sociais
indígenas, os parâmetros legais que orientam o funcionamento desta modalidade de
educação. Ainda sobre as políticas indígenas, na Convenção nº 169 da Organização
Internacional do Trabalho ficam garantidos os Direitos Fundamentais para a
subsistência da vida e a preservação da cultura dos povos indígenas, além do direito
à educação e meios de comunicação. É uma modalidade da educação básica que
garante aos indígenas, suas comunidades e povos a recuperação de suas memórias
históricas, reafirmação de suas identidades étnicas, a valorização de suas línguas e
ciências, bem como o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da
sociedade nacional e demais sociedades indígenas. Desta forma, é garantida a
formação de membros dos povos indígenas, bem como a promoção de sua
participação na formulação e implementação de programas
educacionais, podendo, ainda, ter atendimento institucional específico e diferenciado
no sistema de educação.
A Educação Escolar Indígena é assegurada na Constituição Federal Brasileira de
1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) que assegura
às comunidades indígenas o direito à educação diferenciada, específica e bilíngue.
Outro documento importante é a Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais, promulgada no Brasil por meio do
Decreto nº 5.051/2004, bem como a Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948 da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Declaração das Nações Unidas
sobre os direitos dos povos indígenas de 2007

A Educação do Campo surge no contexto histórico de luta e expressa as


contradições sociais no campo. Como processo defende imbricada mente a
construção de um projeto de educação dos trabalhadores e das trabalhadoras do
campo para «sujeitos concretos que se movimentam dentro de determinadas
condições sociais de existência». O marco inicial dos debates sobre Educação do
Campo pode ser situado no I Encontro Nacional de Educadores e Educadoras das
Áreas de Reforma Agrária em julho de 1997, em Brasília. O desafio alavancado
naquele encontro provocou uma grande reunião de entidades, organizações e
movimentos sociais, que juntos realizaram, em 1998, em Luziânia, a primeira
Conferência por uma Educação Básica do Campo. A afirmação desse movimento por
Educação do Campo, permeado por lutas, tem evidenciado algumas conquistas.

Outras duas conquistas relacionadas a esse movimento foram a aprovação pelo


Congresso Nacional, a partir de 2001, de Planos Nacionais de Educação com
destaque para a Educação do Campo, e a instituição das Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo, aprovada pela Resolução CNE/CEB de 3
de março de 2002. As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas
do campo podem ser entendidas como resultado de um trabalho no qual estavam
presentes e dele participando ativamente as organizações e movimentos
sociais. Trazem a indicação legal do reconhecimento, por parte do Estado, da
Educação do Campo. A aprovação do Decreto n 7.352, de 04 de novembro de
2010, concretiza juridicamente e respalda a política nacional de Educação do Campo.

Por princípio, a agricultura capitalista é incompatível com a Educação do Campo,


exatamente porque a primeira sobrevive da exclusão e morte dos camponeses», e
progride num campo sem sujeitos, sem vida. O diálogo se dá em torno de uma
concepção de ser humano, cuja formação é necessária para a própria implementação
do projeto de campo e de sociedade que integra o projeto da Educação do Campo. A
Educação do Campo nasce como demanda dos movimentos sociais do campo, entre
eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Ao longo do tempo vem se
configurando como conceito, que se firma no campo educacional, ao passo que
ocupa um lugar significativo no meio acadêmico, com desenvolvimento de várias
pesquisas, promoção de debates, extensões, especializações, que no seu conjunto
demonstram sua importância.

Este processo de reconhecimento conceitual da Educação do Campo tem provocado


um tenso espaço de disputa ideológica e política. Por ser um conceito
atual, precisamos discuti-lo dentro do contexto da sociedade brasileira, principalmente
no que concerne aos sujeitos do campo, principais agentes desse processo. Desta
forma, a partir da década de 1990, a expressão Educação Rural vem sendo
substituída por Educação do Campo, com o objetivo de incluir no processo « uma
reflexão sobre o sentido atual do trabalho camponês e das lutas sociais e culturais
que hoje tentam garantir a sobrevivência deste trabalho. Contudo, não consiste
somente em uma mudança de expressão, pois pressupõe um projeto de educação
que se volta ao conjunto dos trabalhadores do campo, sejam camponeses, incluindo
quilombolas, sejam as ações indígenas, sejam diversos tipos de assalariados
vinculados à vida e ao trabalho no meio rural.

É inaceitável pensar a Educação do Campo desconectada das necessidades dos


seus sujeitos, desrespeitando sua cultura, sua história e seus anseios de vivências e
saberes. Ela deve ser construída com base na realidade local, como ferramenta para
os estudantes nos processos de modificação da realidade e permanência no
campo, com dignidade e qualidade de vida. Essa relação é tensa, é dialógica, envolta
em um projeto de desenvolvimento diferenciado para a sociedade, que não
compreende o campo como espaço atrasado, e sim dinâmico, com direito à
autonomia e respeito às identidades dos povos do campo. A educação do campo
emerge das contradições do campo brasileiro, na luta social e na organização
coletiva, no embate entre projetos de campo diferentes.

A escola do campo compreende não somente as que estão situadas naquele espaço
geográfico. O Decreto n 7.352, de 04 de novembro de 2010 estabelecer seus
limites, reconhecendo aquelas situadas em área rural, conforme definição pelo
IBGE, ou em área urbana, desde que predominantemente destinadas a populações
do campo. Ao longo dos últimos tempos, os movimentos de Educação do Campo
pensam e repensam a escola, considerando diferentes elementos teóricos e
pedagógicos, entre eles a educação popular, que tem como seu principal precursor
Paulo Freire. Os professores que moram no campo irão se envolver na construção do
currículo da Escola do Campo, buscando um ensino integrado, conectado à realidade
do estudante, numa concepção libertária de educação.

Assim, a escola, pode atender as especificidades do campo, inclusive com


calendários especiais. Também é importante o reconhecimento da Pedagogia da
Alternância como alternativa capaz de possibilitar o profundo diálogo entre a vida e o
trabalho no campo e a escola. Destaca-se, portanto, a necessidade de
universalização da Educação Básica em escolas do e no campo. Conforme este
entendimento, a formação inicial e continuada dos professores precisa estar em
consonância com a proposta de educação do campo, com estudos que respeitem a
diversidade e o efetivo protagonismo dos sujeitos do campo na construção da
qualidade individual e coletiva, conforme já mencionado em lei, priorizando
professores das comunidades do campo.

Nas séries/anos iniciais do ensino fundamental das escolas do campo, uma das


formas de organização é a multissérie, uma turma composta de duas ou mais séries.

A Educação Escolar Quilombola está relacionada com os aspectos de resistência


desse segmento étnico-social que nos oferece profunda reflexão sobre os valores de
liberdade, tendo em vista que os quilombos são territórios marcados pela história de
escravidão de pessoas de origem africana que, ao fugirem para terras distantes para
se preservarem livres, vislumbraram e vivenciaram um modelo paralelo de
existência, com cultura e educação próprias. É desenvolvida em unidades
educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em
respeito à esfericidade étnico-cultural de cada comunidade e formação especifica de
eu quadro docente, observado os princípios constitucionais, a base nacional comum e
os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na estruturação e no
funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua
diversidade cultura. O reconhecimento público de uma orientação educacional
especifica dirigido às comunidades quilombolas é fruto da luta política travada pelos
movimentos sociais negros, bem como, da própria constituição de um movimento de
povos quilombolas no país. Nesse direcionamento, é significativo observamos que a
Educação Escolar Quilombola atualmente se constitui como modalidade de ensino da
educação básica. Especificação esta, oriunda das deliberações retiradas da
Conferência Nacional de Educação (CONAE) realizada em Brasília, em 2010. Diante
de tais conquistas, é importante atentarmos para algumas especificações
significativas no trato com tais questões:

a) Garantir a elaboração de uma legislação específica para a educação quilombola,


com a participação do movimento negro quilombola, assegurando o direito à
preservação de suas manifestações culturais e à sustentabilidade de seu território
tradicional.
b) Assegurar que a alimentação e a infraestrutura escolar quilombola respeitem a
cultura alimentar do grupo, observando o cuidado com o meio ambiente e a
geografia local.
c) Promover a formação específica e diferenciada (inicial e continuada) aos/às
profissionais das escolas quilombolas, propiciando a elaboração de materiais
didático-pedagógicos contextualizados com a identidade étnico-racial do grupo.
d) Garantir a participação de representantes quilombolas na composição dos
conselhos referentes à educação, nos três entes federados.
e) Instituir um programa específico de licenciatura para quilombolas, para garantir a
valorização e a preservação cultural dessas comunidades étnicas.
f) Garantir aos professores/as quilombolas a sua formação em serviço e, quando
for o caso, concomitantemente com a sua própria escolarização.
g) Instituir o Plano Nacional de Educação Quilombola, visando à valorização plena
das culturas das comunidades quilombolas, a afirmação e manutenção de sua
diversidade étnica.
h) Assegurar que a atividade docente nas escolas quilombolas seja exercida
preferencialmente por professores/as oriundos/as das comunidades quilombolas”.

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