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| & aS | GENERO, SEXUALIDADE E DIREITO: UMA INTRODUGAO Género, Sexualidade e Direito: Uma Introdusio COrganizadores: Marcelo Maciel Ramos, Pedro Augusto Gravaté Nicol, Paula Rocha Gouvéa Brenet # edisio ~ 2046 - Initia Via Copyright © desta edicio [2016] Initia Via Edivora Leda Rus dos Timbiras, no 2250 ~sl. 10}-104 ~ Baiso Lourdes Belo Horizonte, MG, Brasil, 0140-061 Edizora-Chef: Ieolda Line Ribeiro Projeto grafico ediagramacso: Livia Furtado Ae da capa: Diverso UEMG -io do miclo: Designed by Smithytomy ~ Freepik.com, ‘TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a re de qusisquer umar de suse partes, por qualquer meio ou proceso, sm a prévia autorizcio do Editor. Vedada a memerizacio elou recuperacio total ou parcial, bem como a inclusio de qual- quer parte desta obra em sistemas de processamenta de dados. A violagio dos direitos aucoras & dugio total ou parcial deste ivro ou ‘punivel coma evime e passvel de indenizagies diversae. (Ogtd — Género, seswalidade e dreito: um introdugio / organizadores: Marcelo Maciel Ra- ‘mos, Pedro Augusto Gravatk Nicol, Paula Rocha Gouvéa Brener. ~ Belo Hori zonte: Initia Via, 20:6 atop. Outros autores: Lae Lopes, Gustavo Henrique Pereira Ribeiro, Bruna Camilo de da Costa Santos, Thiago Coacc, Tauane Calde Souza Lima Silva, Thays ni Roberta Alves dos Reis, Victor Sousa Barros Marcial ¢ Fraga, Mateus Oliveira Barros, Caio Benevides P Morelli Tanure Santos, Joio Felipe Zini, Ana Flivia Vial. Ingrid Cunha Dantas, Livia de Sours, [lia Somberg Alves, Marina Gongalves Guimaries, Gustavo Le ses, Leticia Leite, Mafra C, Cortés Fernandes, Gabriela Alkmin, Gustavo Lemes de Queiroz, Victor Afonso de Almeida, Rafael Porto 1 Porto, Fagner Licio de Toledo, Ts sd, Lobana ISBN 978-85-64912-86+ [lmpresso] 1. Diseitos humanos. 2. Psicologia. 5. Mdentidade de género. 4. Comportamento Sexual. I. Ramos, Marcelo Maciel Il. Niel, Pedeo Augusto Gravatd IL. Brener, Paula Rocha Gouvéa, IU. Tilo DD 341.27 rane r220 | | | | eT o i a | CAPITULO 4 COMO 0 DIREITO SE RELACIONA COM O GENERO E A SEXUALIDADE? “Thiago Coacei*™ Introdugao, O presente capitulo tem como foco as relagées entze Dircito, 0 Gé- nero ea Sexualidade. Buscaremos fornecer um arcabougo teérico-metodo- ligico interdisciplinar para a anilise da relagio entre esses trés elementos, bem como apresentar um breve panorama hist6rico de como efetivamente esses clementos se relacionaram. 1. Direito, género e sexualidade como construsées sociais Para isso, o primeiro paso é compreender que esses trés elementos, o Di- reito, o Género ¢ a Sexualidade, podem ter diversos sentidos ¢ combinagées. Muita tinta jé foi gasta tentado definir 0 que é 0 Direito ¢ nao serd aqui que resolveremos esse dilema, no entanto, precisamos de alguma definicio & que seja operacional para a anilise das relagdes propostas. Consideraremos, entao, como Direito um conjunto de normas que organizam os mais variados aspectos da vida piblica e privada, produzidas de maneira que 0 Estado ¢ a Sociedade as reconhesam como legitimas e que possam vir a ter feito, ainda que por meio da coergao estatal®. Essa é uma definigéo empitica de Dircito, que tem a vantagem de ser flexivel em relagao ao contetido ¢ a forma. Isto 6, nao esta dado de antemao o que é legal ou no, nem a maneira como 22 Advogado, Mestre Doutorando em Ciéncia Poltica pela UFMG, Pesquitador do Nicleo de Estudos ¢ Peaquitassobte a Mulher (NEPEM/UFMG). Integra a Comissio de Divers dade Sexwal da OAB/MG. 23 importante reconhecer que essa definigio de Dieico tem suas limicages. Primeito, ela é bastante influenciada pelo paradigms eutoeéntsico do Estado-nagio, dessa mancita nio dé conta de recanhecer o fenémeno do Direito em sociedades sem Extado ov a possiblidade nio-etatal, Segundo, ¢ possivelimaginar que alguns tericos do Direto, especialmente influenciados por Radbruch, poderiam objetar que esa nocio é petigosa por reconhecer como Direito normas extemamenteinjustas, Por mais relevante ve essa diseussio possa ser para a teoria do dieitoe para a prtiea juries, para a and 5c empitica € interessante abarear 0 conjunco mais amplo possvel de normasjuridicas, independentemente do seu valor de justisa, incluindo-s, assim, até mesmo az normas de injutiga extrema. Terceiro, por mais que produgio académica sobre o Dieito posta vir ser uma fonte do Diteto, 0 foeo dessa definigio eoloca a doutsina 3 matgem de existéncia de um Di | | patent eo & vane r228 | | | & aS | COMO © DIREIO SE RELACIONA COM © GENERO E A SEXUALIDADE? a regra ¢ formulada e materializada (por uma Lei escrita, por uma decisio judicial, pelo costume, ete.) O Diteito, o Género e a Sexualidade™ sio produtos das interagées hu- manas, dessa forma, variam ao longo da hist6ria, em diferentes sociedades ou culturas. Ha uma ampla gama de trabalhos que buscam retragar a his- toria do género ¢ da sexualidade ao redor do mundo (FOUCAULT, 2009; GREEN, 2000; HALPERIN, 2013; LAQUEUR, 2001; MCINTOSH, 199 STRYKER, 2008; VAINFAS, 2011; WEEKS, 1986). Existe uma série de dis- putas c discordincias internas nessas reconstrug6es, mas € possivel afirmar a existéncia de um certo consenso no fato de que no hé uma continui- dade histérica ou uma coeréncia entre as formas de se compreender o gé- nero ¢ a sexualidade nas sociedades do passado, como a grega, ¢ as nossas atuais (WEEKS, 1986). As experiéncias histéricas ou de outras culturas podem nos influenciar e muitas vezes efetivamente 0 fazem, mas nio sio necessariamente compariveis ao que denominamos hoje de homossexual ¢ transexual, Até mesmo as nogées de homem e mulher ¢ as formas como compreendemos nosso corpo variaram bastante. AAs variagées permitem, entio, diversas relagbes entre Direito, Género « Sexualidade, pois, como afirma Jeffrey Weeks (2009, p. 117), 0 que acte~ ditamos que sio a Sexualidade ¢ 0 Géncro, estruturam as nossas respostas tanto individuais, quanto as formas de regulagées. Uma ver entendido isso, podemos dar o segundo passo e entender como esses trés elementos vatiaram, ¢ se combinaram através da histéria nas distintas sociedades e culturas. 2. Tipologias de posigées ¢ discursos para analisar as relagées Nio ¢ facil tragar uma tendéncia geral das variagées € combinagées, hd vatiagdes locais bastante especificas, bem como avangos e retrocessos. Algumas tipologias podem nos ajudar nesse esforgo de entender como cada sociedade compreendia o género ¢ a sexualidade, quais as propostas, de regulagées derivavam dessas compreens6es e quais os fundamentos de tais compreensées ¢ propostas de regulagdes. Wecks (2009, p. 118) prope uma tipologia de trés diferentes tipos de estratégias de regulacéo que influenciaram, através da histéria, os debates sobre sexo e politica sio eles: i) a posigio absolutista; i) a posigéo liberal ou liberal-pluralista; ii) a posigéo libertaria. A tipologia é um continuum entre dois extremos ¢ combina valores sobre a sexualidade com a dispo- 24 ExplicagSes aprofundadas sobre 0 que é 0 género ea sexualidade podem ser encontradas ‘nos capitulos 1 e2 do presente volume | | atest 61 & 61 rane r220 | | | | € 62 ENERO, SEXUALIDADE € DIRENTO sigio de regulé-la para localizar as diferentes estratégias. No extremo da posigéo absolutista haveria uma defesa da sexualidade como algo ruim, perverso e perigoso, junto a uma tendéncia a apoiar a regulamentagio da sexualidade com a proibigio de préticas sexuais nao reprodutivas. O extre- mo oposto, da posigio libertéria, haveria uma defesa da sexualidade como positiva, liberradora, bem como a tendéncia para recusar regulamentagées da sexualidade. A posigio do meio abarcaria diversos tipos de discursos ¢ propostas que suspeitam dos “radicalismos” de ambos os extremos. Existem, ainda, trés tipos de discursos que orientam ¢ fundamentam essas distintas estratégias/posigées e, portanto, possuem um papel essencial nas formas que o género ¢ a sexualidade adotaram e se combinaram com. © Ditcito, sio cles: a) os discursos religiosos, especialmente da tradigio judaico-crista que molda grande parte da cultura ocidental; b) os discur- s0s cientificos, especialmente da medicina, psicologia, psiquiatria, psica- nilise e sexologia; ¢) e mais recentemente, os discursos ativistas, baseados principalmente nas experiéncias dos movimentos feministas e LGBT. Nao ha um paralclismo entre esses tipos de discurso ¢ as posigées acima, um mesmo tipo discursivo pode orientar distintas posigbes no continuum das estratégias. Os discursos religiosos, por exemplo, podem fundamentar as posigdes absolutistas de criminalizagio da homossexualidade, mas podem. também destoar dessa posigio, como no caso das igrejas inclusivas ¢ das teologias queer e feministas, que sem se afastar de uma mactiz religiosa se localizariam mais préximas de uma posicio liberal ou libertéria®. ‘A emergéncia histérica de cada tipo de discurso se dé numa espécie de se~ quéncia, os religiosos sio os primeiros a emergir e os ativistas os mais recentes. Contudo, nio hé propriamente uma substituigio de um tipo discursive por outro, Seria mais correto falar em diferentes camadas discursivas que ora se combinam, ora entram em conflito sobre o poder de dizer “a verdade” sobre 0 sexo e orientar as respostas socias e estatais. O protagonismo do Deputado ¢ Pastor Marcos Feliciano na luta conta os direitos das pessoas LGBT no Congresso Nacional é exemplo da permanéncia da influéncia dos discursos religiosos, na esfera do género e da sexualidade, ainda na atualidade. 25. O trabalho de André Musskopf (2012) é a0 mesmo tex cexemplo dessas propostas teoligicas quer, como um mapa de outsas propostasfeministas e queer similares de “en viadat” a teologia.Os erabalhos de Musskop estaiam mais préximos de uma posigio li bertiria do que liberal, por valorizar a experigneia corporal concreta de homens gays como inetrumento hermenéutico para interpreta de textos cristioseatsim recuzar ae posigbes conservadoras de teligiosos que buscam influenciat o Dircito ¢ a Politica em telagSo 20 nero a sexualdade | | patent ee & rane r220 | | | & aS | COMO © DIREIO SE RELACIONA COM © GENERO E A SEXUALIDADE? 3. Variagdes e conexses através da histéria A posigéo absolutista tem uma forte presenga na histéria de todo © mundo ocidental colonizado pela Europa. A expansio colonial eu- ropeia levou consigo todo um pacote complexo de tradigées ¢ valores (GROSFOGUEL, 2008), especialmente influenciado pelo cristianismo, que teve forca para moldar diversas instituigées sociais ¢ juridicas por todo 0 ocidente, tais como: o casamento, a familia, a heterossexualidade ¢ a monogamia**. Esses valores cristaos transbordaram da religi3o para 0 Dircito, em fungio dos séculos em que a fronteira entre Igreja ¢ Estado era bortada ow inexistente. Por essa influéncia, foi comum por todo 0 mundo, tanto nos impérios europeus quanto em suas colénias, a exis- téncia de legislagdes que criminalizavam e puniam a prética sexual entre pessoas de mesmo sexo. Todas as Ordenagées Reais Portuguesas (compilagoes de legislagoes que vigoraram no periodo imperial), nos respectivos livros dedicados a0 Direito Penal, traziam um titulo especifico para o crime-pecado da sodomia, O termo de origem biblica teve diversos significados ao longo da historia, mas principalmente a partir dos séculos XI e XII passaram significar: “os desvios da genitalidade na eépula entre individuos do mesmo sexo ou até de sexo diferente, e com mais frequéncia o coito anal homossexual ou heterosexual” (VAINFAS, 2011). As Ordenagées Afonsinas sao as mais explicitas na influéncia cristé para esse ctime-pecado, como pode ser visto no texto do Titulo XVII, Dos Que Cometem Pecado de Sodomia: “sobre todos os pecados bem parece ser mais torpe, sujo, e desonesto 0 pecado da Sodomia, ¢ nao ¢ achado outro tao aborrecido ante DEUS ¢ 0 mundo” (PORTUGAL, 1446 — grafia atualizada pelo autor). A punicio para tal crime-pecado era a fogucira. Por influéncia das Ordenagées Manuelinas ¢ Filipinas, que se seguiram &s Afonsinas e continuaram a punir a sodomia, o Brasil e as demais colénias portuguesas também puniram as préticas sexuais entre pessoas de mesmo sexo. Nao se sabe ao certo quantas pessoas foram processadas e punidas pelo crime de sodomia no Brasil, mas sabe-se que intimeros foram os processos iniciados comas visitas do Santo Oficio a colénia ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIL (PRETES; VIANNA, 2008). Apenas com a edigéo do Cédigo Criminal do Im- perio do Brasil, de 1830, a sodomia deixou de ser considerada crime nesse pais. 26 Nie quero, com iss, afitmar que eses valores sio originalmente crstios, Foucaule (2009) reconhece que ja estavam presences em sociedades anteriores, mas a forma como se expa- tharam pelo mundo e chegatam até nds € devedora da tradigho ets | | patent 68 & 53 rane r220 | | | & aS | ENERO, SEXUALIDADE € DIRENTO Regulagées similares também existiram nos paises de tradigéo da Com- ‘mon Law, como os Estados Unidos a Inglaterra. A pena de morte por so- domia vigorou oficialmente na Inglaterra até, pelo menos, 1861 (WEEKS, 1996), mas a existéncia de um crime perdurou até a reforma, em 1967, do Sexual Offences Act (MORAN, 2003). Os Estados Unidos, por sua vez, proibiram as relacées sexuais entre pessoas de mesmo sexo até muito mais recentemente. Todos os 50 estados posstsiram alguma forma de proibigéo até o ano de 1961. A descriminalizagio em nivel federal veio apenas em 2003, com a deciséo da Suprema Corte no caso Lawrence vs. Texas, quan- do declarou inconstitucional a legislasio texana e por consequéncia dos demais estados que ainda vigoravam (NUSSBAUM, 2010). ‘Todas essas regulamentagées tém em comum: a influéncia do discurso religioso; o fato de serem extremamente abrangentes ¢ intrusivas; ¢ foca- rem em priticas, no em uma categoria especifica de pessoas. A punigio da sodomia nao era entendida como uma punigio & homossexualidade, 0 homossexual, enquanto um sujeito pertencente a determinada categoria especifica de sujeitos, ainda nao existia (FOUCAULT, 2009; MORAN, 2003; PRETES; VIANNA, 2008). Além disso, essas regulagées eram mais frequentemente voltadas aos homens, o que nio significa que a sexualida- de feminina nao era controlada” O século XIX é marcado por uma série de mudangas qualitativas. Na primeira metade do século, sob influéncia da revolucio francesa e do Cédigo Penal francés de x79, que de forma pioneita removeu a sodomia da lista de crimes, alguns paises, como o Brasil (1830) ¢ a Holanda (1811) (NEWTON, 2009) descriminalizaram a sodomia, Jé a segunda metade do XIX, talver seja uum dos periodos de mudangas mais significantes para o género, a sexualida- de ¢ as formas com que esses se relacionaram com o Dircito, Primeiro, hd, nesse perfodo, o desenvolvimento daquilo que Foucault (2009) chamou de Scientia Sexualis, ou seja, a proliferagao de uma série de discursos que se pretendem cientificos sobre o sexo, por meio de pesquisas de pessoas como Karl Ulrichs, Richard von Krafft-Ebing, Magnus Hirs- chfeld, Havelock Ellis, Cesare Lombroso, Sigmund Freud ¢ tantos outros. 27, Pela falta de clarcea sobre o terme sodomia, houve intensos debates toldgico-juridicos sobre 464 prvca sexual entre mulheres poderia se considerada um tipo de sodomia, a sodomia foeminarum, os no. A posigio majoritiria acteditava ndo exist ese tipo de sodomia,agu- ‘mentando nfo ser possi! a insersio de sémen no "vaso trassts”, no caso da pica entre mulheres, mesmo nos séculos XVI © XVII que foram marcadas pela forte pereeguiglo 3 sodomia. Para uma discussio detlhada desea e outas formas de regulagio da sexualdade feminina no petiodo colonial eros tabalhos de Ronald Vainfas (2004; 2011). res, Or telats hstricosafirmam uma relativa tolernca az pritcassexvieenere rane r220 | | | & aS | COMO © DIREIO SE RELACIONA COM © GENERO E A SEXUALIDADE? Esses discursos competiram entre si sem chegar a um consenso sobre a natureza da sexualidade (WEEKS, 2009) e serviram a diversos propésitos, desde reforsar os valores morais religiosos ¢ as estrarégias absolutistas, como fazer emergir estratégias liberais*, Segundo, comega a emergit 0 sujeito homosexual como uma categoria médica, mas também comeca a emergit em uma série de cidades subculturas ou redes de solidariedade entre “des- viantes”. Terceito, a progressiva influéncia dos discursos cientificos nos Estados e 0 lento processo de secularizagio opera uma mudanga discus siva-juridica, da prética da sodomia como pecado-crime passa-se a percebet agora 0 sujeito homossexual como criminoso elou doente. As estratégias absolutistas permaneceram como tendéncia majoritatia nesse periodo ¢ hd, também, uma pulverizagio nas formas de disciplina da sexualidade, muitas delas por vias mais sutis do que a legal, como as politicas de satide e higiene” e batidas policiais constantes em reas utili- zadas para enconttos sexuais e prostituigio. Uma forma especifica de re- gulagio que emerge nesse periodo é controle mais rigido ¢ generificado das vestimentas. Regras especificas sobre vestimentas nio é uma novidade, mas é no final do XIX que surgem em diversos paises ¢ municipios re- gras que proibem 0 uso piiblico de roupas “que nio condizem com o seu sexo” (STRYKER, 2008). Para o Brasil, essa tendéncia se materializa no art. 379", do Cédigo Penal de 1890 E apenas a partir da segunda metade do século XX que as estratégias liberaise libertétias ganham forca se tornam, em grande parte do mundo, as tendéncias majoritatias. A forga ¢ o sucesso dessas tendéncias se deve, em muito, a emergéncia do movimento LGBT organizado, que a partir da 28 Um dor cxemplos mais elaros de infludncia do discurso cienifca para a promagio de wma posicio liberal, no final do século XIX, sedi com Magnus Hirschfeld, que em 1898 funda, ‘a Alemanha, uma organizacio para a promogio de reformas nas legislagbes sobre 0 sex0 € s homossexualidade, advogando uma pesigfo contriria a criminalizagio das homossexu- idades (WEEKS, 2009), Seu trabalho, infelizmente, fo ineetrompido pelo regime nazista 4 primera guerrs mundial. 29 Séxglo Carrara (1996) demonstra como, no final do século XIX e inicio do XX, a luta contr 2 Siflis no Brasil fi importante pata insalar por aqui o dispositive da sexlidade «© conseguir insticuir mecanismos de controle sabre o cospo do homem, 30 Art. 379, Usar de nome supposto,troeado ou mudado, de titulo, distinctvo, uniforme ou condecoragso que néo tenba ‘Usurpar titulo de nobrera, ou brazfo de armas que née tenbas fargar 0 sexo, tomando trajosimproprios do seu, etraze-os publicamente para enganar: ena = de prisdo celular por quinze a sessena dis. Paragrapho unico, Em igual pena incoreri a 1 que, condemnada em acgio de divor- IL, 1890 — grifos do autor) war do nome do matido, (BRY | | pasando & 66 rane r220 | | 56 + ENERO, SEXUALIDADE € DIRENTO década de 1960 comega a surgi em alguns paises", e do movimento femi- nista de segunda onda, com suas pautas de liberdade sexual. E relevante, também, a influéncia de uma segunda geragio da Scientia Sexual, com 0 desenvolvimento de pesquisas com horménios, como a pilula anticoncep- cional, a emergéncia da categoria médico-psiquidtrica da transexualidade e, mais prximo do final do século, a despatologizagio da homossexualidade. Esses discursos comecam a construir o género e a sexualidade como esferas rclativamente auténomas e como consequéncia”, a partir do final do século XX, comegam a aparecer legislacées especificas para as pessoas trans’ Dessa maneira, nesse perfodo, as relagdes sexuais entre pessoas de mes- mo sexo deixaram de ser consideradas como um crime em diversos paises ¢ alguns implementaram legislagies protetivas que reconhecem as unides entre pessoas de mesmo sexo, proibem a discriminagéo nos mais variados Ambitos, dentre outras medidas’, No plano internacional, por meio da 31 No Brasil, em funcio do contexto repressive da ditadura militar, © apenas no final da década de 1970, Para um balango do movimento LGBT (© tabalho de Jo Simées ¢ Regina Facchini (2009). Para um balanco especficamente do ‘movimento tans ver 0 uabalhe de Mério Carvalho (2011) no Brasil ver 32. Preciado (2008) argumenta que a parti disso que chamo de uma “segunda geragio da Scien sia Sewualis".haveria no periodo do pés-guerr, uma mudanea radial que Foucault e outros analstas cosumam passat por alto que implicaria inclusive em um novo regime de poder, no maie disciplinare sim farmacoposnogrifico. Nas palavra do autor: “Sten la seciedaad cdiciplinar las tecnoloias de subjeinacién consrlaban elcuerp desde el exterior como wn aparato ortaarguitectinco eterno, ems la sociedad farmacapornogrifica, la teenologiasentran a formar parte del cuerpo, se dilaen em se converten em cuerpo.” (PRECIADO, 2008, p. 66) lade foi botrads ou mesmo inexistence der cntre homossenuaie¢ bissexuais de um lado tra 33. A fionteira entre a géncto ea sexs tempo, asim, cea separagio identi vests ¢transexuais de oucto ébactamte recente, senda que no Brasil ito fica mais presente 4 partir dos anos 1980 (CARVALHO, 2011; BARBOSA, 2015}. Isso nio quer dizer que fo exitiam, no pastado, pessoas que nfo se idemtfieavam com 0 género que 3 eram at buidss, apenas que ar nossas categoria atuais no podem ser forgadas sobre elas, sob o isco de ndo at compreender e perder justamente a riqueza dessasexperiénciae anteriores, Até hoje, tal frontiza, tanto na pritica quanto no plano conceitual, no € totalmente definida, como pode set visto na teato de Arlene Stein (2004) sobre sua experiénca como profes: sora de socilogia do género e da sexvalidade. Ao refletr sobre os cursos que ministrou sobre o tema, nar dkimas décadas, pereebe que a sua abordagem vatiou ora enfatizando uma separagfo, ora uma unio dos dois conceitoe. A posigo pessoal que a socidloga tem adotado atualmente é de assumie as duasperspectivase ser zflexiva sobre quando separa fou une as categoras de géneto e sexualidade (STEIN, 2004, p.256). 34 Consulte os eapitulos 11 ¢ 12 deste lio pata dfinigSes de quem sio as pessoas tans 35. AILGA (International Lesbian, Gay, Bisexual, Tans and Intersex Association) organiza um relatrio anual sobre o- direitos das pessoas LGBT no mundo, a slima versio encontrise ssualizada até juno de 2016 (CARROLL, 2016), Exise ainda a plataforma online colabo- ‘ativaequaldex chispl/ww.equaldex.com/> que monitora em tempo teal oe direitos LGBT pelo mundo, qualquer pessoa pode colaborat prestando informagées sobre se pats | | patent oe & rane r220 | | | & aS | COMO © DIREIO SE RELACIONA COM © GENERO E A SEXUALIDADE? atuagao de ativistas feministas ¢ LGBT nas conferéncias da Organizagio das Nagées Unidas (ONU), vém se instituindo um arcabougo de direitos sexuais. Tal processo tem como Apice a ediso dos Princfpios de Yogyakar- ta, em 2009 (CORREA, 2009). Esse documento compila ¢ reinterpreta principios de direitos humanos contidos em tratados e convengées para 0 contexto dos direitos sexuais, nao se tratando, assim, de um tratado. De forma bem mais timida, algumas legislagées protetivas em relagio as pessoas trans também emergiram nos tiltimos anos, com destaque para a Argentina c Malta’, que autorizam a retificagao do nome ¢ do género por pessoas trans sem a necessidade de um processo judicial ou de laudos meédicos atestando a transexualidade. Para o Brasil, a partir da década de 1990 surgiram uma série de legisla- cs municipais ¢ estaduais contrérias a discriminagao por orientago sexual (KOTLINSKI; CEZARIO; NAVARRO, 2007). No plano federal, algumas propostas legislativas surgiram ainda na década de 1990, como o PL 11st/1995, que buscava regulamentar as unides entre pessoas de mesmo sexo. Apesar das diversas propostas, o legislativo federal vem se recusando a aprovar qualquer projeto favoravel as pessoas LGBT (OLIVEIRA, 2013). A partir dos anos 2000, com a entrada do Partido dos Trabalhadores no poder, hé uma aproximagio do movimento LGBT ¢ do Estado que tem como fruto uma série de inicia- tivas do executivo, como, por exemplo, as Conferéncias Nacionais LGBT, a ctiagdo de centros de referéncia LGBT’ em algumas cidades ¢ na instituiggo do Conselho Nacional de Combate a Discriminagao LGBT (CNCD/LGBT). Apesar das diversas iniciativas, essas nao foram prioritérias ao governo, muitas foram construidas de forma frégil e com pouco recurso, o que implicou, por exemplo, no desmonte de diversos centros de referéncia em pouco tempo apés a criacéo (MELLO; AVELAR; MAROJA, 2012). O poder judicidrio, por sua vez, foi uma das principais arenas na conquista de diteito (COACCI, 2013, 2015; OLIVEIRA, 2009). Por meio de disputas juridicas as unides entre pessoas de mesmo sexo foram pro- gressivamente conquistadas, sendo consolidadas pela decisio do Supremo ‘Tribunal Federal na ADPF 132 ¢ posteriormente com Resolugao 175 do Conselho Nacional de Justiga’”. O direito a retificagéo de nome e género 36 Ley 26.43 de 2012 ¢ Act Ne XI de 2015, respectivamente, 37 O julgamento da ADPF 132 pelo STE, em maia de 2011, revrou do mundo jusdico as ie: pretagées da Constiuigso Federal que proibiam ou restringiam 2 unio estvel entre pessoas de mesma sexo, proibindo, asim, eragio de qualquer dctingio ene as uniées home eheteror- sexunis.Posteriormente, em 2013, 0 CN] emit a resolugio 175, bascada na decisio do STE proibindo os cartérios de reusatem a habiitago para easamento de cass homosiensais | | patina 67 & 87 rane r220 | | | | € 58 ENERO, SEXUALIDADE € DIRENTO por pessoas trans vem seguindo o mesmo caminho da judicializagio". A reconstrugio realizada até aqui dé a impressio de uma evolucio histérica global, da posigio absolutista para a libertiria. E verdade que vivemos um pe- rfodo em que pela primeira vez temos uma multiplicagéo de regras protetivas para pessoas LGBT pelo mundo e isso pode sim ser interpretado como um certo avango, mas é preciso matizar as nossas andlises desse processo de trés maneiras Primeiro, a proliferagio de regras protetivas nio significa uma auséncia de controle sobre o género ¢ a sexualidade. Algumas andlises afirmam que nossos corpos ¢ sexualidades nunca foram t4o controlados como sio atual- mente, o que teria ocorrido nas tltimas décadas é uma mudanga na forma como o controle ¢ exercido (PRECIADO, 2008). Para além disso, mesmo a conquista de um direito pode ter diversos efeitos priticos, inclusive efei- tos nao esperaveis perversos ou até favordveis, a depender do enquadra- mento discursive com que essa conquista é garantida (COACCI, 2015). Segundo, & preciso reconhecer que h uma assimettia geogréfica em relagio a forma como diteito, género e sexualidade se articulam. Se na Europa, Oceania nas Américas do Sul e do Norte hé uma prevaléncia das posigées liberais, isso nao é verdade para a Africa, Asia ¢ diversos paises da regio do Caribe. Ainda existem 73 paises que de alguma forma criminalizam a homossexualidade, desses 33 se localizam na Africa, 23 na Asia, 11 na América ¢ 6 na Oceania (CARROLL, 2016, p. 36-37). Apesar das mobilizagées internacionais para mudar esse cendrio ¢ incluir os debates de géneto e sexualidade na agenda das agéncias intemacio- nais, nio ha indicios de que muitos desses paises mudarao nos préximos anos. “Terceiro, hd avangos e retrocessos acontecendo a todo tempo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a década de 1980 foi marcada por um forte conservado- rismo que produziu amplo debate e propostas legislativas sobre 0 conttole da pprostituico e da pornografia (DUGGAN; HUNTER; VANCE, 2006). No Bra sil, ambém é possivel ver 0 avanco do conservadorismo nos tikimos anos, com a ampliacéo da atuagio de setores religiosos conservadores para barrar direitos LGBT e das mulheres (MATOS, 2016; VITAL; LOPES, 2012). © processo de construgio dos planos estaduais de educagio ilustra bem esse avango conserva- dor no Brasil: 20 longo dos anos de 2015 ¢ 2016, setores religiosos conservadores compateceram em peso nas cimaras municipais e assembleias legislaivas para proibir qualquer uso do termo “género” nos planos de educacio 38 Hihi inclusive, um Recurso Extraordinivio, com repercussio geral reconhecids pelo STF iscutindo a possiblidade de alteragio de nome e gineto no regietto civil, Caso a agio ja julgadafavorivel eré um marco pats o direito dae pesoas trans. Trataze do RE 670422, ‘oandamento do processo pode ser acompanhado aqui: Aceso em 30.07.2016 | | pees oe & rane r220 | | | & aS | COMO © DIREIO SE RELACIONA COM © GENERO E A SEXUALIDADE? Conclusio © capitulo mapeou as principais tendéncias pelas quais © Dircito se relacionou com o género ¢ a sexualidade no mundo, Demonstramos que essa relagio variou bastante ao longo do tempo ¢ foi fortemente influen- ciada por discursos religiosos, cientificos ¢ ativistas que fundamentaram as nossas compreensées sobre 0 que é 0 género ¢ a sexualidade, bem como justificaram quais estratégias de regulago deveriam ser utilizadas. A importancia dessa abordagem se dé pela nio naturalizagio de ne- nhum dos elementos da relagéo, permitindo visualizar as distintas cone- xées que efetivamente aconteceram, mas também apontar para a natureza aberta do futuro das relagdes entre géneto, sexualidade e direito. O que temos até agora pode alterar amanhi, para melhor ou para pior. O foco nas tendéncias gerais permite vislumbrar o todo, mas perde a riqueza de alguns processos mais especificos. Todas as mudangas que ocor- cram ¢ foram reconstruidas aqui sio frutos de disputas politicas, acadé- micas ¢ morais que, infelizmente, foram momentancamente deixadas de lado. O arcabougo teérico-metodolégico apresentado, no entanto, pode servir para andlises detalhadas de cada uma desses processos. Referéncias bibliogréficas BARBOSA, Bruno Cesar. Imaginando Trans: saberese ativismos em torno das regu- lagées das ransformarées conporais do sexo, 2015. Tese (Doutorado) ~ Universidade de Séo Paulo. Faculdade de Filosofia, Letra e Ciéncias Humanas., Sio Paulo, 2015. BRASIL. DECRETO N. 847, DE 11 DE OUTUBRO DE 1899. Cédigo Penal 1no, 302, 10 nov. 1890. Disponivel em: . CARRARA, Sérgio. Tributo a Venus: a luta contra a sifls no Brasil, da pasrager do séeulo aos anos 40. Rio de Janeito: Editora Fiocruz, 1996. CARROLL, Aengus. State-Spontored Homophobia: A world rurvey of laws: Crimi nalisation, protection and recognition of same-sex love. 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