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TEOLOGIA
SISTEMÁTICA
M IL L A R D J . E R IC K S O N
TRADUÇÃO
R O B IN SO N M A LK O M
ES
V A LD EM A R K R O K ER
T IA G O A B D A LL A T E
IX E IR A N ET O
o
VlDA NOVA
11
PARTE 10
A SALVAÇÃO
42. Concepçõ es de salvação
43. O antecede nte da salvação: predestinação
r
Ao concluir o estudo deste capítulo, você deverá
1. Identificar e explicar os detalhes em que as
Objetivos do capítulo
estar apto a:
várias concepções sobre salva-
ção divergem.
salvação diferentes.
2. Identificar e descrever cinco concepções de
3. Estabelecer semelhanças e diferenças entr
e cinco concepções de salvação
ências bíblicas.
distintas e avaliar qual delas explica melhor as evid
Resumo do capítulo
[
Estru~ura d o ca ~
1
Detalhes em que as conce pções de salvação div erg em ent re s1
A dimensão do tempo
Natureza e locus da necessidade
o meio da salvação
A direção do processo da salvação
A extensão da salvação
Os objetos da salvação
Concepções atuais de salvação
Teologias da libertação
Teologia existencialista
Teologia secular
Teologia católico-romana contemporâne
a
Teologia evangélica
,
4. Um processo único continuo com co mponentes distinguíveis:
1 1 1 1 1
O meio da salvação
A questão de como a salvação é obtida ou transmitid~ t~mbém é ex~remamente im-
portante. Algumas concepções consideram a transmissao da salvaçao praticamente
um processo físico. Isso se aplica a certos sistemas sacramenta listas que creem que
a salvação ou a graça é obtida através de um elemento material. Por exemplo, no
catolicismo romano tradicional, acredita-se que a graça é de fato transmitida e rece-
bida ao se ingerir o pão da eucaristia. Mesmo que o valor do sacramento dependa,
em certa medida, da atitude ou condição interior do comungant e, a graça é recebida
primordialm ente por um ato físico exterior. Outros pensam que a salvação é trans-
mitida mediante ação moral. Neste caso, a salvação é produzida pela mudança do
estado das coisas. Essa ideia de salvação é encontrada no movimento do evangelho
social e nas teologias da libertação. A abordagem à mudança proposta por algumas
dessas ideologias é, às vezes, de natureza secular, envolvendo , por exemplo, o uso de
meios políticos comuns. As teologias evangélicas representam um terceiro conceito:a
salvação é mediada pela fé. A fé se apropria da obra realizada por Cristo. O receptor
é, em certo sentido, passivo nesse processo ( essas questões serão analisadas de maneir.i
mais abrangente e detalhada no cap. 48).
P _
pela transfor maçao de toda a socieda de.
A extensão da salvaç ão
A_ e~e~são da s~va~ã o ~ debatid a entre os que nela pensam como algo que se aplica
a md1v1duos, e nao a socieda de. A pergunt a é: quem ou quantos membro s da espécie
humana serão salvos? A posição particul arista entende a salvação como baseada nas
respostas individ uais à graça de Deus. Ela afirma que nem todos respond erão afir-
mativam ente a Deus; consequ enteme nte, alguns se perderão e outros serão salvos. A
posição univers alista, por outro lado, argume nta que Deus restaurará o relacion amento
de todos os seres humano s com ele, para o qual foram original mente criados. Há dois
tipos de posição univers alista. Uma pessoa pode ser universalista sendo um particul arista
otimista. Isso signific a que ela pode defende r a posição de que é necessário aceitar a Jesus
Cristo pessoal mente para ser salvo e que todo indivídu o tomará tal decisão. Entreta nto,
infelizmente, não parece que todos no passado aceitaram a Cristo; aliás, um incontá vel
número de pessoas não teve sequer a oportun idade de fazê-lo. Consequentemente,
não é plausíve l pensar em todas as pessoas sendo salvas dessa maneira , a não ser que
haja algum meio inconsc iente pelo qual as condiçõ es para a salvação sejam cumprid as.
A perspectiva univers alista mais comum é presum ir que, no final, Deus, de alguma forma,
simplesmente aceitará todas as pessoas na comunh ão eterna com ele.
Os objetos da salvaç ão
Alguns teo'logos argume ntam que somente os seres humanos, individual e coletivamente,
. - cons1ºd era O restante da criação .como
serão salvos . E ssa pos1çao merame nte um palco . .
.
em que se passa o d rama h umano; por tanto , ela' é apenas 111c1den tal para a ocorren c1a
'
completa d asalvaçao._ U . - alternat iva , no entanto , defende que os seres humano s
_ ma pos1çao . _ . .
nao fora , . e d 1 esença do pecado na cnaçao. Geralm ente mfenn-
m os umcos a1eta os pe a pr . _ .
do su _ d p 1 m Roman os 8.18-25 , a pos1çao alternatJ .va
ª propost a das afirmaç oes e au o e _
argum _ e final incluirá a restaura çao de todo o cosmo
enta que a salvaçao , em sua 1orma ' _ , . _
caído ·d- d O pecado e sua recondu çao a cond1ça o pura e
' que agora está sob a escrav1 ao ' .
gloriosa em que foi criado e para a qual foi destinad o por seu Cnador .
Asalva, ,
868 ,drJ
mente nao tem cond1çoes de viver! Além disso milhões trabalham em circunsr:u1LI•·
degradantes e injustas. 3 '
2y 7b . ,r,i1"
Pres~: ;9~i). e stages oJ economic growth, de Walt W. Rostow (2. ed., New York: Cambridge U111Vl . .
3G · Jolu1
ustavo GUTIERREZ A theolo oJ /'b
Eagleson, Maryknoll: O;bis,
197
f . . .dad lnd,t t'
p. ~- eratzon: hiSrory, politics, and salvation, trad. Can '
2
ões de salvação
conce Pç 869
A teologia da libertação não entende Deus como tradicionalmente c~do _pela maion~
dos cristãos : o ser 1mpassive
. , l , 1m
• utável
· e incognoscível. .Antes,
, Deus e ativo.
_ Ele esta
envolvido c om os po b res em sua luta, • Uma evidência disso e a encarnaçao, pela qual .
Deus , longe d e se manter 1n
. d"fi t
1 eren e e seguro , veio ao mundo na pessoa de Jesus Cnsto
......
870
A salvação
8
CONE, Ablack theology ofliberation, p. 131-2.
9
GONZÁLEZ e GONZÁLEZ, op. cit., p. 24.
'ºIbidem.
ões de salvação
concepÇ
871
refa dos que nele creem, utilizando t d .
rata o os os meios , . . 1 .
se e até mesmo a revolução se nec , . · poss1ve1s, me us1ve esforços
olíticos , essano.
p
. a existencialista
'feo1ogt .
variação das teologias do século 20 foi a t . .
Ú01ª fu d t d fü eo1ogia existencialista que recebeu este
or estar n amen a a na osofia existe .ali ,
no 01e P d d , . d. nci sta ou haver sido elaborada a partir
Na ver a e, em mve1s 1versos, provavel . .
dela. a1 d'd d . mente a ma1ona das teologias do século
. corporou guma me 1 a o existenciali
20 1n . smo em suas formulações doutrinárias.
,,.. s em mente aqm, no entanto as que sã0 b d
.1e01° _ . ' a erta e eclaradamente existencialistas
sua orientaçao, teologias em que a filosofia exist 'ali .
ern . enci sta tem um papel importante
eS
ignificativo. Talvez o representante mais notável desse t· d 1 . . R d lf
1po e teo ogia seJa u o
Bu1trn ann e seu programa de demitologizaçao. - B 1 .
u tmann procurou mterpretar o NT e
certarnen_te, ~labor~r ~ t~o~ogia com base no pensamento de Martin Heidegger. ,
O pnmeiro pnnc1p10 importante é a distinça~o que H ·d
. . . . . f:
e1 egger az entre co nh eci-·
rnento objetivo e subjetivo. O conhecimento objetivo consiste em ideias que refletem ou
correspondem corretamente ao objeto significado. Aqui, a atitude do sujeito ou conhe-
cedor não tem nenhuma contribuição positiva a fazer, tornando-se, antes, um obstáculo.
Entretanto, o conhecimento subjetivo é bem diferente. Nesse caso, o interesse central
não é a exatidão da descrição do objeto significado, mas o envolvimento subjetivo ou
0 sentimento interior do conhecedor em relação ao assunto de discussão ou objeto de
11
?\1arf H . . N y, k· Harper & Row, 1962, p. 85. [Edição em português:
Bemg and ttme, ew or ·
in EIDECGER, . . • · ( d D
Ser e temn0 p , . ] f d S K' erkegaard Conrlud111g 11mc1entijicpostscnpt tra .
.
F r , etropol.is: Vozes, 2011. ; e., e 0 ren 1 _ . ' _ )
· Swenson e Walter Lowrie, Princeton: Princeron UniverSity, 1941 • P· 169 75 ·
870
V Asalvaç·
ªº
e entrou na luta humana. Na perspectiva da teologia da liberta;ão, o Deus do teíslllo
. _ d - de mudar é na verdade, um idolo desenvolvido
tradicional que nao mu a e nao Pº ' ' ,. Por
' d nça No entanto, ao contrario De
aqueles que mais tinham a perder com a mu a . - , ' us está
- I · ifica que ele nao e neutro. Se sua· .
ativamente envolvido na transformaçao. sso sign . . Justiça
. tu r de maneira desigual e compen . .
produz igualdade, ela deve necessariamente a ª ,. ._ . satona
. al T'-1vez a afirmação mais enfatICa dessa pos1çao tenha sido feit
em um mun do des1gu . ai _ a
por James Cone: ''A teologia negra não pode aceitar uma conce~çao de Deus que não
o represente a favor dos negros e, portan co
t
°, ntra os brancos. Vivendo em um m d
un o
- ~ t mpo para um Deus neutro". 8
de opressores brancos, os negros nao tem e . _
A concepção da teologia da libertação a respeito da salvaçao presume uma pers-
pectiva particular da humanidade e do pecado. A teologia tradicional frequentemente
enfatiza a humildade e a auto-humilhação como as virtudes principais da humanidade,
planejadas por Deus. O orgulho, de maneira correspondente, é visto como pecado capi-
tal. O pecado, muitas vezes, é considerado uma questão de atitudes internas ou delitos
individuais. De acordo com os teólogos da libertação, porém, a Bíblia não enfatiza a
humildade, um atributo que frequentemente leva à aceitação da opressão. Antes, em
textos como o salmo 8, a Bíblia exalta a natureza humana. Ademais, ela não considera o
orgulho interior o pecado principal. Servindo os interesses dos poderosos nesse aspecto,
bem como em tantos outros, a teologia e a pregação cristãs tendem a ignorar o pecado
mais comumente condenado na Bíblia: ''Ai dos que ajuntam casas e mais casas, dos que
acrescentam um campo a outro, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sós
no meio da terra!" (Is 5.8). 9
A salvação não deve ser concebida primariamente como a vida individual após a
morte, afirmam os teólogos da libertação. A Bíblia se preocupa muito mais com o reino
de Deus. Mesmo a vida eterna é geralmente colocada em um contexto de nova ordem
social e considerada não tanto algo externo à história quanto uma participação em sua
culminação. E sta compreensão de que o alvo da história é a realização da justiça nunca
foi po~ular entre os poderosos. Se, de acordo com a fórmula tradicional, a história e
a eternidade são dois am~ b't 1 os para1e1os ('1.e. que não se intersectam) o nosso ,aIvo 11·i'
·a
história. é obter acesso ª' et erm ad e. A melhor ' maneira de se alcançar' isso e, ser manso
e submisso. Visto que · • al · •1r.1
, ª pnncip preocupação de um indivíduo é que sua alma va P· '
o ceu, os que exploram o d M ·0 1110
G ál corpo po em, na verdade estar fazendo um favor. as e
onz ez e González declar h' , . ' . " alv,1çã0
, am, se a 1stona e a eternidade se mtersectam, seª 5'
esta se movendo para uma d então
. nova ordem que inclui o ser humano como um to o,
precisamos lutar contra tudO O " ,o A sal iio de
todas as d que, no presente, nega aquela ordem . ' vaç,
pessoas a opressã0 , O al . ortanto,
e vo da obra de Deus na história e precisa, P
~eONE,A black theology of/'b .
9GON ZÁLEz e GoNZÁL z era~zon, p. 131-2.
iolbidem. EZ, op . c1t., p . 24.
ões de salv açã o
con ce Pç
871
tare fa dos que nel e cre em , util iza ndo
ser a tod .
, . s e até me sm o a rev olu ção se ne os os mei os po , · · 1 ·
poh nco , , . ssiveis, me us1ve es1e orço s
ces san o.
reologia exi ste nci ali sta
Urna var iaç ão das teo log ias do séc ulo
20 foi a teo l . . . .
fu d
nome por est ar n am ent ad a na filo sofi og1a existenciali sta, que rece beu este
a exis tenc iali sta ou h
dela. N a verd a d e, em nive1s, • d.
ive rso s, pro vav elm ent e aver s1 o e1a b ora d a a part.lr
.d .
zo .
inc orp oro u alg um a me did a do exi. sten a ma•ion.a d as teo1og1. as d o sec ,
u1o
. cial ism o em suas e - d .
1or mu1aço es out nna n. as.,
Ternos em me nte aqu i, no ent ant o, as
que são abe rta e dec lara dam ent e existen
em su~ ori e_n taç ão, teo log ias em que a cia list as
filosofia existencialista tem um pap el imp
e sign ific ativ o. Tal vez O rep res ent ant e ort ant e
ma is not áve l desse tipo de teo log ia seja
Bul tma nn e seu pro gra ma de dem itol ogi Ru dol f
zaç ão. Bul tma nn pro cur ou inte rpr eta r o
cer tam ent e, ela bor ar a teo log ia com bas NT e,
e no pen sam ent o de Ma rtin He idegge
O pri me iro pri ncí pio imp ort ant e é a r.
dist inç ão que He ide gge r faz ent re con
me nto obj etiv o e sub jeti vo. O con hec ime hec i-
nto obj etiv o consiste em idei as que refl ete
cor res pon dem cor reta me nte ao obj eto m ou
significado. Aq ui, a atit ude do suje ito ou
ced or não tem nen hum a con trib uiç ão con he-
pos itiv a a fazer, torn and o-s e, ant es, um obs
Ent reta nto , o con hec ime nto sub jeti vo tácu lo.
é bem dife ren te. Nes se cas o, o inte ress
não é a exa tidã o da des criç ão do obj eto e cen tral
significado, mas o env olv ime nto subjeti
o sen tim ent o inte rio r do con hec edo r vo ou
em relação ao ass unt o de discuss ão ou
con hec ime nto . O nos so con hec ime nto obj eto de
sub jeti vo de out ra pes soa não é a nos sa
de ide ias obj etiv as sob re ela; ma s é um rese rva
a que stão de nossos sen tim ent os par a com
O mesmo pri ncí pio se apl ica ao con hec ela.
ime nto subjetivo de nós me smos. A ver dad
nós , ent ão, env olv e mu ito ma is do que e sob re
info rma ção objetiva, pois, em bora pos sam
tod o tipo de con hec ime nto cien tífi co os ter
sob re nos so cor po, talv ez saib am os mu
ito pou co
sob re nos so ver dad eiro eu, que m rea lme
nte som os. 11
P ort ant o, da per spe ctiv a de Bu ltm ann
, a Bíb lia não é esse nci almente um a fo nte
info rma ção obj etiv a sob re De us e sob de
re a pessoa e a con diç ão hu ~~n as. Ela
Geschichte e n ão a Historie. Ela não é, prim no~ d ~ a
aria me nte , um rela to ob_1et1v o de oco rren
factua·1s, · d · c1as
e sim o imp act o que as d·v 1
ersa s oco rrên cias tive ram sob re os disc ípu
los. O seu
alvo - , . r orm . _
nao e nos in1 ar, m as nos t ra nsr11ormar·, não é acresce nta r mfo rma çoe s a nos so
rep ertó rio de d ado s ma s afe tar nossa
existên cia.
B u l tma nn util.. ' • d
iza o concei to e ex1s · t Anci a aut ênt ica e ina utê ntic a. E le me .
du dA . e A . nci ona
as ten enc 1as d ,, p um lad o há .
no "ho me m mo ern o • or um a ten den cia a ser gm ado na
vid ' ..
a por aut o-o rie ntação , p ara cum pri r os. d · s d e felicid ade e segura nça , util
ese_1o ida de e
. d h
proveito. I sso é egoísm o e presun ção.
O am or aos
out ros e o dese_10 e con ece r, d.1ze r
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onr ar a ver dad e são sub serv 1en . . lso do autoen gra n d ec1. men to. O s seres
tes ao imp u
1
iM . . . N Yo rk: H arper & Row, 1962 ' p. 85.. [E.dição em port ugu ês:
Ser e t anm H p
E I DEG GER , B emg and t one,
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. k , . d Con dudi ng 11 nsc,e ntijic post scnp
,-.. S emp o, etró poü s: Voz es, 201 1. ]; e f d S0re n Kier ega,1r , t (trad . D .
t•. w ·• e
. ton U 01ve
enso n e W alte r L owrie, P rinc eton : p nnc . •ry
rs1 , 194 1
, p. 169 -75) .
e
872
.
humanos nao , - d bed ient es às ord ens e exig ênc ias de Deu a es d
outros como tambem sao eso s para s . os
, .
Ou eles negam a ex1s . A . de Deu s ou, se cree m mss
tenc1a o, neg am que ele tenhauad' Vida .·
le ítimo à obediência e à devoção deles. 12 ,, , ireno
•
g
Out ra tend enci
A . d "ho mem mod erno e a auto nom ia -
a o , . a cren ça de que al ,
Q"\.l , guern
pode ob ter se.0 !ança verdadeira por meio dos pro pno s esfo rços , do acu mul o de riquei
,:e - d tecnologia e da busc a pelo exerc1c1 , . d . fl A • •
as,
d a proweraçao
• • •
873
, rnito. O signific ado demitol ogizad0 d
e . a cruz
anseios por autogra tificaçã o e seguran ça , é que cad a pessoa precisa mortificar seus
. - d
surre1çao eve ser enten d.ida em associa -a parte de De us. 17 D a mesma fo rma, a res-
.d . çao com texto R
ta rnbém, consi era1-vos mortos para do s como omanos 6 11· "Assim
, 1o nao - esta, f::..aJ.ando o peca · · · ,
, mas vivos p
ara D eus, em C risto J esus".
1
Esse vers1cu de algu
t!Ãrpressa a verd a d e d e que, se deposit ar m evento ocorrid , 0
com
J
esus. E m vez disso, ele
. . mos nossa fe em D .
futuro, seremo s vivifica dos de uma m . eus e estivermos abertos para 0
_ , aneira que não ex .
ortanto, nao e uma mudanç a na essê . d al penmen tamos antes. A salvação,
P nc1a a ma co al
regeneração, nem é uma declaraç ão c d ' mo guns
JJ0 rense e que fom . t .fi tendem d .
a entende r a
q
ue é a compre ensão tradicio nal da . .fi _ os JUS I ca os diante de D eus,
JUStl caçao. Antes é u d fu
de nossa E x istenz, de toda nossa . ' ma mu ança ndamen tal
. . perspectiva e condução da vida. is
Embora a teologi a existencialista parti ui d B
. d . c ar e u1tmann tenha perdido sua popula-
nda e, assim como o program a de demitologizaç-
. . . ao no qual e1a se fu ndarnen ta element os
da. fi1oso fi a existenc ialista sobrevivem em suas
. . . . , mm·tas 1ormas,
r: '
na teologia posterio r e na
vida relig10sa popular , mclusiv e em igrejas evangélicas. A oposição ao " · a1· "
r: A · 1 alid d " rac1on ismo , a
pre1eren. _ cia pe a ment . a . e hebraica " à grega, ares·1stencia
A · a expli caçoes - ab rangentes e
a aplicaçao da teologi a aos interess es pessoais imediatos estão entre as várias evidências
de que essa filosofi a continu a presente .
Teologia secula r
Todo o ambien te cultura l em que a teologia se desenvolve está sofrendo modificações.
A atividad e de Deus era conside rada a explicação da existência do mundo e do que nele
acontece, e o divino era o solucion ador dos problemas que os seres humanos enfrentavam.
Hoje, no entanto , as pessoas deposit am, na prática, a sua confiança no visível, no aqui e
agora, e em explicaç ões que não presum em entidades transcen dentes ou suprasse nsíveis.
Essa perspec tiva diferen te surgiu por diversos meios. Um deles foi o aument o das
explicações científi cas. Enquan to antes parecia necessário crer que algum ser ou fo rça
sobrenatural h ouvesse trazido à existência esse grande e complexo Universo, agora há
explicações alterna tivas. E m tempos passados, a complexidade do organism o físico
humano parecia apo ntar p ara um grande, sábio e poderoso arquitet o. A teoria da evo-
lução, no entanto , atribui a cOinplexidade humana a variações aleatórias combin adas
com a lut • - 1 v·
a e a com petiçao pe a 1da, em que os mais aptos se ad,lptam
.
para sobreviver.
Out -
ra razao p ara a mu d ança de perspec tiva é que a humani dade desenvo , .
lveu a
capac·d d d l . d
1 a e e reso ver mmtos os pro blemas que enfrenta.. Em tempos b1bltcos, se
uma lh ,
, . l
mu er era estenl, e a orava a D eus, e ele respond ia abnndo -lhe o utero para que
uma · ) T b , n se acredita va em Deus como a fonte do
criança nascess e (lS m 1.1- 20 . am ei . . . - . ._
cli N , d s e meJO e a chuva posteno r foram atn
ma. a epoca de E lias uma seca e tres ano
A
20· L·1ngdon
~ ul lhe sew lar meanin oí th e 1- ' · 3_z9,
e ospel, New York: Macmill an, 1963, P·
V AN BuR EN,
ILKE Nam ing the whir lwind- the
r 'g 'J
:wal of God-.language, Indiana polis: Bobbs-M
errilJ, 1969, !1s-80,
20D i rich BoNH OEFF ER, l et;ers an:n illan , 1972, P·
2'Jbi m, p. 326- 7. p -persfrom pmo n, ed. ampl., New York: M acm
concepções de salvação
875
• " 22 p ·
. onscientes . recisamos celebrar a ema . _
1nc nc1paçao do se h 1 -
corno u
m presente gracioso deste D r umano em re açao a D eus
· evemos traduz· · • .
e as pessoas seculares contemporâneas ent d trPo cnstiarusmo
. para uma linguagem
qu . . _ en am. recisamos ajudá-las a perceber que
1ião necessitam se tornar cnstas; elas já são crist- O _. . .
d as. segmento evangeüco trad1c1onal
meteu o erro e tentar tornar as pessoas 1·1 •
co re g10sas em vez de cristãs (i.e., autossufi-
·entes e plenamente humanas). Bonhoeffi .
c1 , . er era particularmente contrário ao aspecto
interior e p~ssoal da fe cnstã tradicional, o estágio final da religião.23
Os escntos de Bonhoeffer sobre esse tema sa-0 fi , · S l - h
ragmentanos. e e e nao ouvesse
sido executado, certamente teria desenvolvido melhor ess - Tal tare f: e · d ·
a concepçao. a 101 e1-
xa da P ara outros que retomaram suas 1·de·
' 1 b ·
ias e e a oraram uma teologia com base nelas.
24
John A.T. Robinson, na Grã-Bretanha, e os teólogos da morte de Deus, nos Estados
Unidos, tornaram-se os proponentes principais da teologia secular. Entre os integrantes
do segundo grupo, Thomas J. J. Altizer argumentou que o secularismo tem uma base
ontológica. O Deus primordial ou transcendente se tornou plenamente imanente no
mundo. Foi um processo longo que culminou na encarnação de Jesus. Deus não tem,
agora, uma condição independente, fora do mundo e da espécie humana. 25 Consequen-
temente, ele não será encontrado na adoração pública ou nas devoções pessoais. É mais
provável que ele seja encontrado mediante o envolvimento no movimento dos direitos
civis e em causas semelhantes. 26
Resumindo, a teologia secular rejeita a compreensão tradicional de que a salvação
consiste em afastamento do mundo e em recebimento da graça sobrenatural de Deus.
Antes, a salvação vem de forma muito mais difusa. Ela não ocorre por meio da religião,
mas é a salvação da religião. Perceber a própria capacidade e utilizá-la, tornar-se inde-
pendente de Deus, chegar à maioridade, afirmar-se e envolver-se no mundo - este é o
verdadeiro significado da salvação. A maioria das pessoas, mesmo as que estão fora da
igreja, já experimenta essa salvação. Na verdade, em vista da presente orientação "reli-
giosa" da igreja, os que estão fora talvez sejam mais genuinamente cristãos do que os q~e
estão dentro dela. Novamente, ainda que a declaração direta das ideias de Bonhoeffer
raramente seja ouvida, a fusão dos ideais cristãos com os que realmente pressupõen1
a prioridade do aqui e agora representa uma adoção popular de concepções seculares,
mesmo quando vestida de uma roupagem religiosa.
22
Ibidem , p. 280-2, 373.
23
lbidem p 344-5
24T ' • • Ph"I· dei hia: Westminster, 1963 .
JOhn A. T. ROBINSON, H onest to Cod, l '1 P . PI .1. d lphia: Westminster, 1966, p. 40-54.
2s11, Ch . . thl'tsm 11 a e '
ornas J.J. ALTI Z ER, 'lhe Cospe/ of mltan ª. d, .. 11 ornas J.J. ALTI ZE R e William HAMILTON,
2óWiJJ· f G Od h log1es to ay, ,n. 1 .
1am HAMILTON, The death o t eo 1\ , ili 1966 p. 48.
R.ª dtca/
'
theology and the death of Cod, Indianapo is:
1· Bobbs-iv1err , ,
876 A sai
. . d
. .
stões agora parece ex1st1r somente urn '
"ªçº!'
b maiona as que ' a gra d
romano so re a . , .os oficiais ainda existem, mas atualmente são su 1n e dive
'd d Padrões doutnnan d 1 p efll r,
si a e. nte contestados por ec arações posterio entad
al ns casos, aparenteme ,. . res. En !is
e, em gu _ nclusões do Concílio Vaticano II e as opin• ~ . treest
úl . d clarações estao as co toes tnd· as
amas e ,: bl' adas É necessário considerar algumas des IVidua·
de estudiosos catolicos pu ic . . . . . sas declar i1
do da posição tradic10nal da igreJa. açôes
à luz do pano d e fu n . . d
. _ ' li ficial tem sido, por mmto tempo, a e que a igr . ,
A posiçao cato ca o . . d' eJa e o ú .
. d D Essa graça é transmitida me iante os sacramentos d . n1c0
meio da graça e eus. . _ d b~ a igreja
_ .e d . •ia oficial e orgamzada nao po em rece e-la. Fundarnenta} -01
que estao 1ora a igreJ . . _ ta111b.
- tradicional é a distmçao clara entre natureza e graça A em
para essa concepçao . . · natureza d
humanidade consiste em duas partes: a capacidade pass1~a para receber a graça e o dese•:
. la graça Os seres humanos, no entanto, sao completamente in J
ou anse10 pe · , . . capazes de
satisfazer esses aspectos de sua natureza pelas propnas realizações. Isso requer a
· 'd d' · d'd ' h · graça
de Deus, que é compreendida como Vl a ivma conce i a a umamdade por Deusi;
Essa posição tradicional foi modificada em diversos pontos. Um deles diz .·
respeito
à natureza humana. Aqui , Karl Rahner faz um trabalho extraordinário. Ao descre~ a
humanidade como separada da igreja e de seus sacramentos, Rahner fala da condição
"existencial sobrenatural". Com isso, ele se refere não somente ao que os seres humanos
têm em si, como o potencial para conhecer a Deus, como também ao fato de que esse
potencial já está sendo exercido ativamente. Não existe algo como estar totalmenteà
parte da graça. A graça está presente até mesmo na própria natureza. 28
Em sua discussão das religiões não cristãs, o Concílio Vaticano II parece haver
reconhecido a possibilidade de que a graça esteja presente na natureza. Ele ressaltou a
origem e o destino comuns de todos os seres humanos. As diversas religiões representam
várias perspectivas do mesmo mistério de vida. A graça de Deus pode ser encontrada
em todas elas, embora em medidas distintas. 29 Consequentemente, os católicos são
instruídos a "reconhecer, preservar e promover os bens espirituais e morais" encontrados
entre os adeptos de outras religiões. 30
Será que a presença da graça na natureza significa que existe graça à parte ou fora
da igreja? Este é o dilema que a igreja enfrenta. Será que a ordem de Deus obrigand0
todos os seres humanos a conhecê-lo não implica que há alguma maneira pela qual eles
possam fazer isso? A resposta geral do catolicismo contemporâneo tem sido tantoª de
afirmar que todas as pessoas podem realmente conhecer a Deus quanto a de continuara
27
Joseph Po 7h H dt'r J9~;.
v. 1, p. 66-75. HL E, e sacraments: a dogmatic treatise, ed . Arthur Preuss, St. Louis: B. er. '
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30
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ões de salvação
coneepç
877
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3
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1,ans K·· • f K 1 Barth an a a
Nels UNc, Justification: the doctnne o ar
on, ! 964,p. 222-35,264-74.
878 Asalvaç·
ªº
enfatizou O primeiro, enquanto o Concílio de Trento destacou o segundo. Não ob
não há real conflito entre Barth e Trento. 35 Além do conceito protestante da justifista~te,
a Igreia Católica tem se tornado mais tolerante também com a interpretação d caça.o, a graç
'J
feita por Lutero. , . ª
Resumindo, a Igreja Católica, em anos recentes, esta mais aberta à possibUi
. , 1 al al - al dade
de que pessoas fora d a igreja v1s1ve , e t vez gumas que nao eguem ser c . _
- 'li da salvação nstas
seiam receptoras da graça. Como resu1tado, a compreen sao_ cato ca. .
, ,
esta se
'.} . .
tornando consideravelmente mais ampla do que a concepçao trad1c1onal. Além d'lqo
.
compreensão atual inclui dimensões geralment e associadas ao protestantismo. ,a
Teologia evangélica
A posição ortodoxa tradicional ou evangélica sobre a salvação está associada intima-
mente à compreensão ortodoxa da condição humana. Nela, o relacionamento entre 0
ser humano e Deus é o mais important e. Qyando essa relação não está em ordem, as
36
outras dimensões da vida também são afetadas de maneira adversa.
Os evangélicos entendem que as Escrituras indicam a existência de dois aspectos
principais relacionados ao problema humano do pecado. Primeiro, o pecado é um
relacionam ento rompido com Deus. O ser humano deixou de cumprir as expectativas
de Deus, seja por transgredi r os limites estabelecidos pela Lei dele, seja por deixar de
fazer o que é ordenado de modo positivo nela. O desvio da Lei resulta em um estado
de culpa ou sujeição ao castigo. Segundo, a própria natureza das pessoas está corrom-
pida, como resultado do desvio da Lei. Agora, há uma inclinação para o mal, uma
propensão ao pecado. Há uma tendência, por assim dizer, para longe do bem, de modo
que a pessoa se inclina naturalme nte a praticar o mal. Geralmen te denominada de
corrupção, tal inclinação frequente mente se expressa também em confusão e conflitos
interiores. Além disso, visto que vivemos no contexto de uma rede de relacionamen-
tos interpessoais, a ruptura de nosso relacionam ento com Deus também resulta em
desordem no nosso relacionam ento com outras pessoas. O pecado chega até a assumir
dimensõe s coletivas: a estrutura da sociedade em geral inflige privações e injustiças a
indivíduos e grupos minoritári os.
Certos aspectos da doutrina da salvação estão relacionad os à questão da posição
da pessoa diante de Deus. A condição legal do indivíduo precisa ser mudada: de cul-
pado para não culpado. É uma questão de ser declarado justo ou reto perante Deus,
de ser visto como satisfazen do plenamen te as exigências divinas. O termo teoló~ico
st
aqui é "justificação". A pessoa é justificada ao ser levada a uma união legal com Cn º·
d
Entretant o, é necessário algo que vá além da mera remissão da culpa, pois se pef eu
35
Jbidem, p. 275-84. J
- h lí tica ela Pº e
yr i1 Okorocha mostrou, no entanto, que pelo fa to de a salvação ser uma questao . of 'salvano
36C O 5 . n·
.d . - . . . , . .
estar associa a a questao p nnc1pal de muitos africanos: a questão do poder. V. Toe meaning Grand
an African perspective (in: W illiam A. DYRN ESS, org., Emerging voices in global Christian tbeology,
Rapids: Zondervan, 1994, p. 59-92).
concepções de salvação
· · 'dade a1etuosa
uela mtimi e
que d . 879
a q E evena car .
corn Deus. sse problema é resolvido pela dactenzar o relacionamento do . d' 'd
- f: , 1 a oção
, na qual a pessoa ,
m 1v1 uo
d
osiçao avorave perante Deus e cap . d
P . acita a a reivi . e restaura a a uma
nd1car todos os bene11c1os
pelo Pai amoroso. C! • •
providos
Além da necessidade de a pess
oa restabelecer s l .
também a de mud ar a condição de seu cor - eu re acionamento com Deus há
'd d a1 , d . 1· - açao. A transfo
d
- b, . . ,
rmaçao as1ca na onentação
da v1 a e guem, a me maçao para O
. d " peca o ao deseJ·o · · d .
te é denomina a regeneração" ou lit al positivo e viver corretamen-
, , er mente novo .
uma verdadeira transformação do cara't d ' . nascimento. Está incluída nela
er a pessoa a fu - d
ositiva. Ela, contudo, é somente O • , • d . ' 10 sao e uma energia espiritual
P m1c10 a vida espiritual A d' - ..
·
·indi'víduo é transformada progre ss1vamente· · con 1çao espmtual do
ap d f:
. b' . , ' essoa e ato se torna mais santa. Essa
mudança progressiva su ~etiva e denominada "sanf fi - ,, (" ,, .
_ a1 , i caçao tornar santo ). A sant1-
ficaçao fin mente e .completada na vida após a morte, quando a natureza espmtual ..
,
da pessoa sera . Isso, se chama "gloriºficaça-o" . E a d'1spos1çao
, aperfeiçoada. · - da pessoa de
manter a fe e o compromisso ate o final por me1·0 da graça de Deus e, a "perseverança".
Assim como fizemos em relação a outras questões, adotaremos a posição evangélica
sobre a salvação. Embora Deus esteja interessado e preocupado com todas as necessi-
dades humanas, tanto individuais quanto coletivas,Jesus deixou claro que o bem-estar
espiritual eterno do indivíduo é infinitamente mais importante do que o suprimento
das necessidades temporárias. Observe-se, por exemplo, seu conselho em Mateus
5.29,30: "Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e joga-o fora; pois é melhor
para ti perder um dos teus membros do que ter todo o c~r~o lançado no i~ferno. Se a
tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e joga-a fora; po1s,,e melhor para t1 pe_r~er um
· todo O corpo para o inferno . Sua pergunta retonca em
dos teus memb ros d o que ir
t . "Pois que adianta ao homem ganhar o mundo
Marcos 8.36 realça o mesmo aspec º· . . al
. . . ►" A reocu ação divina com o bem-estar espmtu eterno
inteiro e perder a sua vida. · P P _ 'd ' · onvincentes a favor da
b 'bl' do pecado sao evi encias c
do ser humano e o retrato i ico . , 1 26 que O pecado se origina no
- Vimos no capitu o ,
concepção evangélica da salvaçao. ' ,. posta à tentação. E observamos,
. lh al voluntaria em res
indivíduo por meio de esco a pesso d d do humano. Esta "depravação
. al rofun a o peca 1
no capítulo 28, a natureza rad1C e P fi rmação radical e sobrenatura
,, . . •fi que uma transo - , . .-
total , como é denominada, sigm ca erdão e a restauraçao a poSiçao
,. ra que ocorram O P
da natureza humana é necessana Pª
favorável diante de Deus.