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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Ensino a Distância

Uma Reflexão sobre a Pratica de Assedio Sexual nas Instituições Públicas e Privadas

Loleque Belmiro César 708191542

Curso: Educação Física


Disciplina: Ética Profissional
Ano de Frequência: 4º Ano
Docente:

Quelimane, Julho de 2022.


Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
 Índice 0.5
 Introdução 0.5
Aspectos
Estrutura
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 2.0
problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
académico
3.0
Conteúdo (expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e  Revisão
discussão bibliográfica
nacional e
2.0
internacional
relevante na área de
estudo
 Exploração dos
2.5
dados
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação parágrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
linhas
Normas APA  Rigor e coerência
Referências 6ª edição em das
2.0
Bibliográficas citações e citações/referências
bibliografia bibliográficas
Recomendações de melhoria:
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Índice

1. Introdução ................................................................................................................................ 5
1.1. Objectivos ..................................................................................................................... 6
1.1.1. Objectivo geral ............................................................................................... 6
1.1.2. Objectivos específicos ................................................................................... 6
1.2. Metodologia .................................................................................................................. 7
2. Uma Reflexão sobre a Pratica de Assedio Sexual nas Instituições Públicas e Privadas ......... 8
2.1. Conceito de assédio ...................................................................................................... 8
2.1.1. Fases do Assédio ............................................................................................ 8
2.2. Conceito de Assédio Sexual ......................................................................................... 9
2.3. Tipos de Assédio Sexual ............................................................................................... 9
2.4. As Transformações no Mundo do Trabalho e o Impacto na Vida das Mulheres ....... 10
2.5. As Expressões de Violência Contra Mulher no Âmbito do Trabalho – Desvendando o
Assédio Sexual................................................................................................................... 12
2.6. Consequências do assédio moral/sexual no local de trabalho .................................... 14
2.4. Desafios para reduzir os casos de assédio sexual ....................................................... 15
3. Conclusão............................................................................................................................... 17
4. Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 18
1. Introdução

As mulheres sempre trabalharam, estando sujeitas a diferentes condições de trabalho de


acordo com o estrato social a que pertenciam e a cultura e sociedade em que estavam integradas.
No entanto, apenas com o incremento substancial das mulheres no mercado de trabalho, é que
estas condições foram problematizadas. Por exemplo, Catherine MacKinnon criou uma nova
problemática social e de investigação, em 1979, ao denunciar o assédio sexual a que as mulheres
estavam sujeitas em contexto de trabalho. Ainda actualmente as mulheres quando entram no
mercado de trabalho não estão sujeitas às mesmas condições que os homens. O emprego
feminino é frequentemente associado à flexibilidade, senão mesmo à precariedade, à qual
acrescem, as demais desigualdades de género e a violência sexual, do qual o assédio sexual é um
exemplo. A ligação do assédio sexual às condições de trabalho é patente nas suas definições:
assédio quid pro quo (troca de favores) e assédio por intimidação (ambiente hostil).

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1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral

 Fazer uma Reflexão sobre a Pratica de Assedio Sexual nas Instituições Públicas e
Privadas

1.1.2. Objectivos específicos

 Explanar sobre as transformações no mundo do trabalho e o impacto na vida das


mulheres;
 Elucidar As Expressões de Violência Contra Mulher no Âmbito do Trabalho –
Desvendando o Assédio Sexual;
 Descrever os desafios para reduzir os casos de assédio sexual.

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1.2. Metodologia

Para a elaboração da presente pesquisa, foi possível pelo uso do método de pesquisas
bibliográficas. Que segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 66) a pesquisa bibliográfica trata-se do
levantamento, selecção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto que está
sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses, dissertações, material
cartográfico, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto directo com todo material já
escrito sobre o mesmo.

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2. Uma Reflexão sobre a Pratica de Assedio Sexual nas Instituições Públicas e Privadas

2.1. Conceito de assédio

Apesar das dificuldades em termos de conceptualização de comportamentos abusivos em


contexto de trabalho, uma definição possível de assédio é postulada pelo psiquiatra Meloy (apud
Garrido, 2002: 16) e refere que “O assédio compreende diferentes comportamentos de
perseguição ao longo do tempo; esta perseguição é vivida pela vítima como uma ameaça, e é
potencialmente perigosa”.

Não obstante esta definição genérica do assédio, salienta-se que existem várias formas de
assédio, nomeadamente, os telefonemas a marcar encontros, ou o simples facto de amedrontar a
mulher com palavras ou actos mais invulgares.

2.1.1. Fases do Assédio

O assédio pode ser analisado ao longo de um processo relacional, em que o agressor vai
estabelecendo progressivamente uma determinada relação com a vítima, e cujos comportamentos
de assédio se contextualizam em dinâmicas organizacionais específicas. Assim, de seguida serão
apresentadas fases segundo as quais o assédio sexual pode ocorrer (Wikipedia, 2022).

 Primeira fase

As organizações, são um contexto privilegiado para o aparecimento de conflitos, devido


aos diversos interesses dos trabalhadores. Assim sendo surgem por vezes problemas que se
podem solucionar de forma positiva através do diálogo ou pelo contrário, constituem o início de
um problema profundo (Wikipedia, 2022).

 Segunda fase

Nesta fase o agressor põe em prática estratégias de humilhação utilizando


comportamentos de sacrificar, ridicularizar, menosprezar a vítima, isolando-a socialmente. Não
sendo a vítima capaz de compreender o que se está a passar, esta tenderá a negar a evidência
perante o resto do grupo (Wikipedia, 2022).

 Terceira fase

Esta é a fase em que a empresa intervém uma vez que o conflito começa a ter repercussões
no funcionamento da organização. Assim surge uma possível solução positiva, que passa por
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trocar o trabalhador de cargo para não surgirem mais conflitos. No entanto, quando esta hipótese
não é possível, a solução negativa é quando o trabalhador passa a ser visto como um problema
abater (Wikipedia, 2022).

 Quarta fase

A quarta fase é chamada a fase da “marginalização”, que pode conduzir ao abandono do


trabalho por parte da vítima. No entanto, as consequências negativas desta situação não passam
apenas por questões laborais (pela perda de emprego), mas tem também consequências em
termos de saúde mental da vítima. Por vezes, a vítima acaba mesmo por tentar o suicídio face à
instabilidade e desajustamento psicológico decorrente do processo de assédio (Wikipedia, 2022).

2.2. Conceito de Assédio Sexual

O assédio sexual no local de trabalho refere a qualquer comportamento, ou revelação, por


palavras, ou acções, de natureza sexual, não pretendido pela pessoa a que se destina e que se
considera, portanto, ofensivo (Botão, 1989).

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) define o assédio sexual como

actos de insinuações, contactos físicos forçados, convites impertinentes,


desde que apresentem umas das características a seguir: “a) ser uma condição
clara para dar ou manter o emprego; b) influir nas promoções na carreira do
assediado; c) prejudicar o rendimento profissional, humilhar, insultar ou intimidar
a vítima”. Assim, o assédio sexual compreende uma forma específica das relações
desiguais de género no espaço de trabalho, em que a maioria significativa das
vítimas são mulheres devido ao facto deste segmento ocupar posições
subalternizadas no mercado de trabalho. Neste sentido, se constitui numa forma de
discriminação e de abuso de poder e, sobretudo, se constitui como uma violência
contra as mulheres.
2.3. Tipos de Assédio Sexual

Quid Pró Quo: “Quid pro quo” significa “isto por aquilo”. Um exemplo de fácil
compreensão para esta forma de assédio sexual, ocorre quando um patrão (ou qualquer
trabalhador de uma empresa) determina que só continuará a exercer a dita função na empresa ou
subirá na carreira ou ainda um aumento salarial, caso se submeta a certas condutas sexuais. Este
abuso de autoridade é considerado ilegal, independentemente de recusar ou aceitar tais favores
sexuais (Palo Alto Medical Foundation, 2008).

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Ambiente Hostil: Formas verbais, físicas ou visuais de assédio de natureza sexual, e que
podem ser suficientemente severas, persistentes ou persuasivas. Um único e rígido incidente,
como uma tentativa de agressão sexual, pode criar um ambiente hostil. Mais precisamente,
podemos dizer, que esse “ambiente hostil” é criado por uma série de tumultos (Palo Alto Medical
Foundation, 2008).

2.4. As Transformações no Mundo do Trabalho e o Impacto na Vida das Mulheres

A história das mulheres no mundo do trabalho remete a relações de opressão e


discriminação que as coloca na condição de desigualdade em todas as esferas da vida social,
sendo que nos deteremos à esfera do trabalho. Essa realidade tem sido constatada mediante
investigações que desvendam como homens e mulheres se inserem no mercado formal de
trabalho. Acrescente-se a isso a segmentação deste mercado por género, que muito interessa ao
capital no sentido da preservação do seu sistema de dominação se apropriando das relações
desiguais de género para intensificar a exploração das mulheres no espaço produtivo e
reprodutivo.

Segundo Saffioti (1976),

O trabalho não pago que a mulher desenvolve no lar contribui para a


manutenção da força de trabalho tanto masculina quanto feminina, diminuindo
para as empresas capitalistas, o ônus do salário mínimo de subsistência cujo
capital deve pagar pelo emprego da força de trabalho (p.41-42).
Nesse sentido, podemos afirmar que a divisão sexual do trabalho se apresenta tanto no
espaço produtivo como no reprodutivo com implicações directas de opressão/exploração no
interior das relações patriarcais. Como afirma Kergoat: “a exploração, tradução bem conhecida
da relação antagónica capital/trabalho se exerceria mais fortemente (e não diferentemente) sobre
as mulheres” (apud Hirata, 1989, p. 89). Ademais, apreender analiticamente a divisão sexual do
trabalho é fundamental para desvelar o processo de acumulação capitalista e, ao mesmo tempo,
compreender a exploração das mulheres nesta sociedade. Ou como defende Lobo (1991), é
preciso “desomogeineizar” a classe trabalhadora, identificando que ela tem “dois sexos”.

Dentre o conjunto de mudanças que ocorreram no processo de


industrialização encontra-se a inserção feminina no espaço produtivo. Segundo
Nogueira (2006, p.168-169) “[...] a mulher se transforma em trabalhadora
assalariada, fazendo parte da engrenagem de um processo que substitui os
trabalhadores qualificados por não qualificados”, de modo que a inserção das
mulheres ao mercado de trabalho era vinculada à “feminização” de profissões
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“que lhes permitissem desempenhar seus tradicionais papéis de mães e donas de
casa” (Veloso, 2001, p.85).
Destarte, o sistema capitalista se apropria da subordinação das mulheres para obter mais
lucro, pois sendo “inferiores aos homens”, estão mais sujeitas a receber salários baixos, aceitar
trabalhos precarizados, sem garantias trabalhistas, além da desvalorização e invisibilidade do
trabalho doméstico. Portanto, se o modo de produção regido pelo capital é perpetuado por meio
da exploração dos seres humanos, é importante frisar que umas das categorias mais atingidas são
as mulheres.

Sobre essa perspectiva Nogueira aponta,

No mundo produtivo contemporâneo um dos setores que mais absorve a


força de trabalho feminina é o de serviços. Sector esse que permite evidenciar que
frequentemente a força de trabalho feminina tem como característica a atribuição
de tarefas monótonas, repetitivas e estressantes, de trabalho part-time, etc (2006,
p.67).
Nesse sentido, fica patente que as relações de género condicionam a ideia de masculino e
feminino perpassadas no mundo do trabalho, como aponta Lobo:

As tradições de masculinização e feminização de profissões e tarefas se


constituem, às vezes, por extensão de práticas masculinas e femininas: homens
fazem trabalhos que exigem força; mulheres fazem trabalhos que reproduzem
tarefas domésticas. Mas, mais do que a transferência de tarefas, são as regras de
dominação de género que se produzem e reproduzem nas várias esferas da
actividade social (1991, p.152).
É importante ressaltar que apesar das mulheres terem conquistado avanços por intermédio
da sua inserção no mundo do trabalho e em outros espaços da vida social, esta ainda se dá de
forma precarizada e subordinada aos homens, a exemplo das actividades desenvolvidas pelas
mulheres estarem voltadas à dimensão da prestação de serviços a outrem, terem um carácter
complementar ao trabalho dos homens, pouco prestígio social e aferirem baixa remuneração em
relação ao trabalho masculino.

Outro aspecto relevante para a análise da mulher no espaço produtivo revela-se nas
transformações que atingiram o mercado de trabalho nas últimas décadas que se reflectem na
realidade dos trabalhadores como um todo, com especificidades na vida das mulheres.

A reestruturação produtiva e a mundialização do capital provocou um aumento


significativo no desemprego, bem como nas novas formas de contratação, mais flexibilizadas e
inseguras demandando inúmeros desafios no interior dessa nova dinâmica produtiva. Portanto, o
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aumento da participação feminina na força de trabalho que tem caracterizado as últimas décadas
aponta um cenário de degradação das condições de trabalho e de crescente desemprego, como
aponta Nogueira (2006):

O crescimento das taxas de participação no mundo do trabalho das


mulheres casadas ou na situação de filhas na composição familiar está claramente
associado também ao aumento da taxa de desemprego dos chefes de família
masculinos. As mulheres, mesmo tendo as tarefas domésticas sob sua
responsabilidade, buscam a sua inserção no espaço produtivo em boa parte para
compensar o desemprego masculino (p.125).
Acrescenta ainda a referida autora que as consequências desse tipo de inserção
subordinada só serão superadas mediante a construção de uma nova divisão sexual do trabalho no
espaço reprodutivo que supere a vulnerabilidade e a precarização da sua força de trabalho no
espaço produtivo. Os reflexos dessa opressão recaem sistematicamente no espaço reprodutivo,
em que a mulher ver relegado para si a dupla jornada de trabalho.

De acordo cm Hirata, (2010)


As mulheres são, portanto, as principais vítimas da precarização no
mundo do trabalho. Acrescente-se a isso as expressões de violência que
perpassam tal esfera. Dentre as mais incidentes estão o assédio moral e assédio
sexual, que na maioria das vezes permanecem invisibilizados, já que as assediadas
pouco denunciam e quando o fazem, as decisões judiciais têm sido na maioria das
vezes, desfavoráveis às vítimas, além da falta de políticas públicas para este
segmento. É importante destacar que apesar das acepções sobre assédio sexual e
moral se constituírem indistintamente entre os géneros, a pesquisa ora em tela
abordará o assédio sexual e moral dos homens sobre as mulheres devido a alta
incidência e gravidade.
2.5. As Expressões de Violência Contra Mulher no Âmbito do Trabalho – Desvendando o
Assédio Sexual

A introdução das mulheres no mercado formal de trabalho originou um maior


relacionamento entre homens e mulheres na actividade produtiva, essa convivência por sua vez,
tem desencadeado diversas formas de violência, a exemplo do assédio sexual e assédio moral,
tendo na maioria dos casos as mulheres como vítimas, aspectos que intensificam a divisão sexual
do trabalho e trazem sérias implicações para a vida deste segmento. Vale ressaltar que o assédio
sexual e moral se dão tanto no âmbito das relações hierarquicamente superiores, como no âmbito
das relações sem hierarquia superior, contudo em ambos os casos, a maioria das vítimas são
mulheres.

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Na realidade moçambicana, existe uma violência social disfarçada que se reflecte
fortemente no dia adia das mulheres dentro e fora de suas casas, que faz com que sejam
discriminadas na vida pública: a exemplo dos salários inferiores aos dos homens, na maior
dificuldade de ingresso no mercado de trabalho formal, na precarização do trabalho feminino,
bem como nas diversas formas de violência as quais são submetidas quotidianamente na esfera
do trabalho.

Nogueira (2006) afirma que,


em Moçambique esta problemática é muito comum, embora, a maioria
das vítimas não denuncie o facto às autoridades. As causas da não-objectivação
das denúncias são as mais diversas. Na maioria das vezes, as vítimas não
denunciam por temor de perder; medo de sofrerem retaliação por parte do
empregador acusado e de serem rebaixadas; de serem transferidas; não querem se
expor ao ridículo frente aos colegas, familiares e amigas; medo de perderem a
carta de referência; por simples dificuldade de falar e por acreditar que não há
recursos para tratar de maneira eficaz o problema. Entretanto, acreditamos que a
causa determinante sejam as relações desiguais entre os géneros, fundamentada no
sistema capitalista - patriarcal que naturaliza e acentua a opressão e a
subordinação das mulheres aos homens.
Vale salientar que no mundo do trabalho o poder dos homens foi culturalmente construído
pela possibilidade que o mesmo tem de infligir às mulheres uma relação que ultrapasse os limites
do profissional e se estenda para a cama, já que estas se encontram historicamente em situação de
opressão e de vulnerabilidade.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) define o assédio sexual como

actos de insinuações, contactos físicos forçados, convites impertinentes,


desde que apresentem umas das características a seguir: “a) ser uma condição
clara para dar ou manter o emprego; b) influir nas promoções na carreira do
assediado; c) prejudicar o rendimento profissional, humilhar, insultar ou intimidar
a vítima”. Assim, o assédio sexual compreende uma forma específica das relações
desiguais de género no espaço de trabalho, em que a maioria significativa das
vítimas são mulheres devido ao facto deste segmento ocupar posições
subalternizadas no mercado de trabalho. Neste sentido, se constitui numa forma de
discriminação e de abuso de poder e, sobretudo, se constitui como uma violência
contra as mulheres.
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) prevê que o empregado poderá considerar
rescindido o contrato e pleitear a devida indenização caso o empregador não zele pela segurança
e decência no local de trabalho, preservando o respeito à vida privada do empregado e ocorra ato
lesivo da honra e da boa fama do empregado.

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O assédio sexual traz sofrimentos físicos e psíquicos, tais como:
depressão, crises de choro, problemas de memória, abatimento, irritabilidade,
isolamento, perda de confiança e auto-estima, náuseas, dificuldades de dormir,
crises de suor, tremores, dificuldades de respiração, pânico, etc. Esta extensa lista,
por sua vez, pode desencadear uma série de doenças ou até mesmo o suicídio.
(Hirigoyen, 2002, p. 65).
2.6. Consequências do assédio moral/sexual no local de trabalho

 Custos para as empresas

Tendo em conta que numa situação de assédio no local de trabalho é possível que a moral
e a motivação dos trabalhadores seja diminuta, é também previsível que a produtividade possa
decrescer. De facto, se um trabalhador está constantemente preocupado com o facto de o agressor
o poder vir a assediar novamente, não consegue exercer o seu trabalho eficazmente. Ao mesmo
tempo colegas que não estão envolvidos ficam também desmotivados pois ao terem
conhecimento dos inaceitáveis envolvimentos poderão recear potenciais efeitos negativos desta
situação (Cape Gateway, 2005).

As empresas podem com efeito perder empregados valiosos, pois muitas mulheres
preferem rescindir contracto do que passar por desagradáveis confrontações.

Numa divisão de uma empresa em que estejam empregadas várias


mulheres e onde o assédio teve lugar, poucas mulheres ficam lá mais do que três
meses. Ao acontecer isto, quase que a divisão pode fechar, face ao alto
recrutamento e custos de formação em contraste com a fraca produtividade (Cape
Gateway, 2005).
O alto absentismo entre as mulheres pode também ser um resultado (ou um possível
sintoma) do assédio, pois o stress causado pela não resolução do problema, assim como o medo
de serem assediadas novamente pode conduzir a um problema de saúde, ou por seu turno
encorajar as mulheres a ficarem “seguras” em casa (Cape Gateway, 2005).

 Custos legais

As empresas podem se multadas monetariamente se o problema for ignorado. A acção


pode-se voltar contra o empregador que sabe ou que deveria saber acerca do assédio e que falha
ao não tomar as necessárias medidas preventivas. Mesmo que existam inadequadas formas de
reclamação, um empregador deve dispor de estratégias eficazes para o problema, mesmo que não
tenha conhecimento do assédio (Cape Gateway, 2005).

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Quando uma organização não tem nenhuma política esclarecedora acerca do assédio
sexual, pode vir a ter problemas se precisar de tomar medidas disciplinares face a um agressor
(Cape Gateway, 2005).

 Custos pessoais

As vítimas sofrem, geralmente, os mais elevados custos pessoais, embora os autores ou


mesmo os observadores possam, igualmente, ser prejudicados caso o assédio acabe por ser
descontroladamente permitido (Cape Gateway, 2005).

Poucas são as pessoas que, nunca tendo passado por tal experiência
pessoal, conseguem compreender a aflição e o terror que o assédio sexual pode
originar. A maioria das mulheres entendem-no como um insulto, que visa
enfraquecer a sua autoconfiança, assim como a sua eficácia pessoal. Similarmente
acaba por enfraquecer a sua confiança nos homens e nas pessoas de maior
autoridade. No caso das mulheres que foram abusadas sexualmente em criança ou
mesmo em idade adulta, uma possível experiência negativa pode causar sério
dano psicológico (Cape Gateway, 2005).
As mulheres que rescindem contrato devido a problemas de assédio sexual, têm bastante
dificuldade em conseguir boas referências, ou conceder razões por ter deixado o seu antigo
emprego; podendo ter, assim, dificuldades em arranjar outro trabalho. Neste sentido, esta
experiência poderá ter repercussões negativas na vida da mulher a longo-prazo (Cape Gateway,
2005).

2.4. Desafios para reduzir os casos de assédio sexual

O assédio sexual é uma das maiores manifestações da iniquidade de género e violência


contra a mulher em Moçambique senão dizer no mundo inteiro. Hipocritamente, oculta-se o
assédio sob o manto da neutralidade e da banalização. Contudo, é preciso que a sociedade
perceba que os efeitos perniciosos desse tipo de manifestação.

O respeito às mulheres e a preservação de sua integridade física e emocional são


requisitos básicos para a civilidade. Primeiramente, devem ser entendido os precedentes do
assédio como ocorre no quotidiano das mulheres. Em várias sociedades, elas foram tratadas no
passado como criaturas inferiores e frágeis, cuja utilidade era meramente de servir.

Sua objectificação ainda está impregnada na forma como são percebidas


pela sociedade. O desprezo que muitos têm pela liberdade e autonomia das
mulheres provoca manifestações de atentado à sua integridade. De acordo com a
Campanha Chega de Fiu Fiu, 85% delas já teve seu corpo tocado publicamente

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sem consentimento. Assim, alguns homens ignoram a lei e os bons costumes,
violando a privacidade e banalizando a relevância do ato, subjugando as vítimas.
(Minayo, 1998).
Essa violação de privacidade fere directamente a integridade física e emocional das
mulheres. Uma vez menosprezadas e seu papel social prejudicado, elas são oprimidas ao ponto de
manterem seu sofrimento em silêncio, pelo medo da exposição. Muitas meninas assimilam a
violência desde pequenas, observando o exemplo de tantas outras mulheres, o que provoca danos
inestimáveis à formação de novas cidadãs.

A dificuldade em superar o trauma decorrente do assédio pode levar as


vítimas à depressão e à exclusão, em que elas não são capazes de denunciar seus
agressores. Na sociedade actual, tem-se discutido muito sobre os desafios para
reduzir os casos de assédio sexual sofrido pelas mulheres. A banalização desta
prática, que é um tipo de violência, dificulta os esforços para uma possível
solução. (Minayo, 1998).
Esse cenário moldou-se, dessa forma, pela cultura dos homens acreditarem que as
mulheres gostam e esperam por essas atitudes invasivas. Sentem-se à vontade para assediá-las,
seja em locais públicos, como os meios de transporte, ou no trabalho, com palavras de baixo
calão ou mesmo tocando seus corpos de forma não consensual.

De acordo com Minayo (1998), no que diz respeito à dificuldade, refere-se ao facto dos
abusadores, muitas vezes, não serem denunciados, fazendo com que isso seja visto e considerado
como algo normal. Podendo estar associado, inclusive, à violência física e moral,
desencorajando-as a denunciá-los.

Dessa forma, o obstáculo das medidas contra o assédio é o não reconhecimento da


sociedade, até mesmo da vítima, de que trata-se de um assunto sério. Umas das possíveis
soluções seriam acções e campanhas do Governo que conscientizem os cidadãos e incentivem as
vítimas a denunciarem qualquer tipo de abuso de teor sexual, na tentativa de inibir e reduzir, de
forma significativa, os casos dessa prática criminosa.

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3. Conclusão

Findado o presente trabalho, é importante destacar que mesmo diante da identificação das
violências as quais as mulheres estão submetidas, as vítimas não denunciaram alegando como
impedimento a dificuldade de expor os constrangimentos sofridos, o medo de perder o emprego e
de rebaixamentos salariais, demonstrando relações de hierarquia e controle perpetrados sobre
elas. O assédio sexual na vida das mulheres compromete várias dimensões da sua sociabilidade,
criando um espaço de fragilidades e opressão que reflectem directamente na relação da mulher no
espaço de trabalho.

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4. Referências Bibliográficas

Botão, M. A. (1989), Assédio sexual no local de trabalho. Lisboa: Comissão da Condição


Feminina.

Faria, N. e Nobre, M. (1997). Género e desigualdade. São Paulo, SOF, (Cadernos Sempreviva).

Gapegateway (2005), “Consequences”. Página consultada em 20 de Dezembro de 2008,


disponível em http://www.capegateway.gov.za/eng/pubs/guides/S/63925/5

Garrido, V. (2002), Amores que matam. Assédio e violência contra as mulheres. Lisboa: Pricipia.

Hirata, H. (2010). Crise mundial e o impacto da reestruturação produtiva na divisão sexual do


trabalho. In: Divisão Sexual do Trabalho, Estado e Crise do Capitalismo. Ed. Editora SOS
Corpo. Recife.

Minayo, M. C. de S. (1998). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São


Paulo – Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco.

Nogueira, C. M. (2006). O trabalho duplicado: a divisão sexual do trabalho na reprodução – um


estudo das trabalhadoras do telemarketing. São Paulo, Expressão Popular.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. (2006). Homens e mulheres na esfera


do trabalho.

Palo Alto Medical Foudation (2008), “Types of Sexual Harassment”. Página consultada em 20 de
Dezembro de 2008, disponível em http://www.pamf.org/teen/sex/rape_assault/sexualharass.html

Veloso, R. (2001). No caminho de uma reflexão sobre Serviço social e género. In: Revista Praia
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Wikipedia (2008), “Fases”. Página consultada a 09 de Julho de 2022, disponível em


http://pt.wikipedia.org/wiki/Ass%C3%A9dio_moral2

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