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MARIANA HERESCU**
1. Introdução
Instituições políticas 39
Para finalizar, ressalte-se que a democracia liberal - que erigia a liberdade
individual em objetivo básico da organização do Estado - sofreu transformações
marcantes, mercê da evolução histórica, cultural e econômica da sociedade. E a
noção de liberdade individual absoluta, substituída pelo anseio de justiça social,
consagrou um dos princípios básicos da democracia: o respeito à dignidade da
pessoa humana.
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a) um critério estrutural segundo o qual distinguir-se-iam as instituições políticas
permanentes, que formam a "arquitetura do Estado", conforme o pensamento do
grande publicista, Prof. Pedro Calmon, entre os quais se destacam os Poderes
do Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário; e as instituições políticas eventuais,
cuja natureza e duração seria determinada pela conjuntura política condicionante
d<? regime:
b) um critério operacional, que estabeleceria como instituição política originá-
ria o Estado, e instituições políticas derivadas, todas as demais. Estas, por sua
vez, estariam divididas em instituições políticas derivadas de 19 e 29 nível, consi-
derando-se as primeiras como instrumentos através dos quais o Estado exerce
suas funções básicas - no caso, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
Essa divisão de funções, ou melhor, dos modos pelos quaís o Estado exerce
o seu poder, resultou da formulação de Montesquieu, mas sofreu grandes trans-
formações, mercê da evolução das instituições políticas e da conceituação moder-
na do Estado. A clássica tripartição do filósofo francês, já preconizada, ante-
riormente, por Locke e Kant, foi efeito do liberalismo em contraposição ao
absolutismo monárquico, consagrando a supremacia da liberdade individual sobre
o poder absoluto do Estado, fazendo uso, para tanto, de um sistema de limita-
ções da soberania, traduzido no célebre princípio: "le pouvoir arrête le pouvoir".
A rigidez inicial da concepção modificou-se, conforme acima foi acentuado,
em virtude da gradual transformação das estruturas políticas e sociais, chegando
hoje à idéia de harmonia e cooperação mais do que de divisão dos poderes, na
conformidade do disposto no art. 69 da Constituição federal. Na realidade,
a própria concepção de "poderes" do Estado evoluiu para a de órgãos do Estado;
os quais desempenham funções: a função legislativa, a executiva e a judiciária.
Entretanto, a função exercida por cada órgão não poderá ser entendida como
exclusiva e excludente das demais, mas, sim, como predominante, precípua, ad-
mitindo cada órgão, em sua espera de competência, o exercício de outra função,
• diversa da que lhe é peculiar.
2. O Estado
4 Cf. Melo Franco, Afonso Arinos de. Direito constitucional. Forense, 1979.
Instituições políticas 41
do Estado dentro de um quadro legal que o define e limita, e essa limitação do
poder pela regra jurídica é que constitui o fundamento do Estado de direito. As
regras básicas, fundamentais, que estabelecem a forma pela qual o Estado se
organiza, manifesta sua vontade e exerce seu poder, consubstanciam-se na Lei
Maior do Estado, que é a Constituição.
Através do estudo das sucessivas constituições brasileiras, é possível observar
como evoluiu historicamente a organização do Estado em seu aspecto jurídico,
bem como as diversas formas de governo e formas de Estado instituídas.
A primeira constituição brasileira foi a Constituição Política do Império do
Brasil, outorgada por D. Pedro I, a 25 de março de 1824 e que vigorou até a
Proclamação da República, a 15 de novembro de 1889. Seu objetivo foi estrutu-
rar o novo Estado que surgia com a proclamação da independência. Foi ela a
única a instituir no Brasil um Estado unitário e uma forma monárquica de
governo.
A segunda constituição brasileira, e primeira do período republicano, foi a
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada a 24 de
fevereiro de 1891. Sua elaboração ocorreu em virtude da mudança da forma
de governo, que passou de monarquia para república, ocorrida a 15 de novem-
bro de 1889. O texto de 1891, além de mudar a forma de governo, também alte-
rou a forma de Estado, instituindo a federação.
A Revolução de 1930, que se verificou em conseqüência de crises políticas,
econômicas e sociais, pretendia substituir as velhas estruturas da democracia
liberal da Primeira República por uma democracia social, capaz de sclucionar
os graves problemas políticos e econômicos do período. Com a vitória do mo-
vimento revolucionário, porém, embora se verificasse uma substituição de toda
elite dirigente nacional, não foi cumprida a promessa de elaboração de uma
nova constituição. Assim, o povo paulista insurgiu-se e, da Revolução Consti-
tucionalista de 1932, resultou a convocação de uma assembléia nacional cons-
tituinte, que promulgou a Constituição de 1934. •
A carta Magna de 1934 implantava uma democracia social com base na liber-
dade, na justiça e no bem-estar social e econômico. O novo período de norma-
lidade constitucional, porém, durou pouco, pois, a 10 de novembro de 1937, o
então presidente da República outorgou uma nova carta, conhecida vulgarmente
como a "polaca", em virtude de ter sofrido a influência da Constituição da
Polônia, e que instituiu um governo do tipo fascista.
O período da Carta de 1937, conhecido como Estado Novo, encerrou-se em
1945, com a convocação da assembléia constituinte que promulgou, a 18 de •
setembro de 1946, a quinta constituição brasileira. O texto de 1946, em vigor
até 15 de março de 1967, restabelecia o regime democrático, conforme se verifica
de seu preâmbulo.
O movimento revolucionário vitorioso em 1964 não revogou a Constituição
de 1946; editou, porém, uma série de atos institucionais e complementares. Tra-
tava-se de legislação paraconstitucional que, em conflito com a norma consti-
tucional, sobre esta prevalecia.
O Ato Institucional n9 4, editado em fins de 1966, conferia poderes constituin-
tes ao Congresso Nacional, para apreciar um projeto de constituição elaborada
pelo Executivo.
Foi, assim, promulgada a constituição que entrou em vigor a 15 de março
de 1967. A nova Carta Magna incorporou as conquistas técnicas do moderno
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constitucionalismo do pós-guerra, ignoradas pelos constituintes de 1946, dentre
as quais se destacam a racionalização do processo legislativo, a racionalização
do processo de elaboração orçamentária e a maior soma de atribuições conferi-
das ao Poder Executivo, aparelhando-o juridicamente para o exercício de suas
relevantes funções. Com efeito, esse fortalecimento do Executivo constitui fenô-
meno universal, resultante da crescente complexidade e multiplicidade das ativi-
dades do Estado contemporâneo, que evoluiu do Estado liberal - fundado
no princípio do laissez-faire - para o Estado social, que intervém na ordem
econômica e social com a finalidade de assegurar, a um número cada vez maior,
condições para uma vida digna.
A 17 de outubro de 1969, a junta militar, no desempenho do poder constituinte
originário, detido pela Revolução de 1964, colocou o Congresso Nacional em
recesso pro tempore e outorgou a Emenda Constitucional nl? 1, que reescreveu
o texto da Constituição de 1967, dando nova configuração à estrutura consti-
tucional do país.
A Emenda Constitucional nl? 11, de 13 de outubro de 1978, revogou os atos
institucionais e complementares, constituindo o marco formal que iniciou o atual
momento político do Estado brasileiro: o restabelecimento do Estado de direito
democrático em toda a sua plenitude.
3. O Poder Legislativo
Instituições políticas 43
A Constituição de 1946 restabeleceu a expressão "Congresso Nacional", inte-
grado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, denominação esta
mantida pela Constituição de 1967 e pela Emenda Constitucional n9 1, de 1969.
Durante o Império, o mandato dos deputados era temporário, tendo cada
Legislatura a duração de quatro anos (art. 16). Os senadores, por sua vez, eram
vitalícios e a sua escolha obedecia a um complexo sistema, com a eleição de uma
lista tríplice a ser submetida ao imperador, que nomeava o senador de sua prefe-
rência. Os príncipes da família imperial, após 25 anos de idade, também tinham
assento no Senado. Para os demais cargos, isto é, para a Câmara dcs Deputados,
para as assembléias provinciais e câmaras de vereadores, a escolha também era
feita por eleição indireta, mediante regras que impunham uma série de limita-
ções ao exercício do direito de voto dos cidadãos (arts. 90 a 97).
A Constituição de 1891 estabeleceu o sufrágio direto dos deputados, "garantia
a representação da minoria", conforme o art. 28.
Ressalvado o período imperial, em que os senadores eram vitalícios, seus
mandatos passaram a nove anos pela Constituição de 1891 e a oito anos pelas
demais, como ocorre ainda hoje, com a eleição de três senadores por Estado,
renovando-se um a dois terços do órgão a cada quatro anos.
Os mandatos dos membros da Câmara dos Deputados, das assembléias legis-
lativas e das câmaras de vereadores eram de quatro anos, exceto durante a
vigência da Constituição de 1891.
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3.2 Funções
Cf. Bielsa, Rafael. Derecho constitucional. 2. ed. p. 109 Apud Russomano, Rosah.
• 5
Dos Poderes Legislativo e Executivo. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, p. 22.
Instituições políticas 45
Na Constituição de 1891, essas limitações ao poder pessoal do presidente da
República eram muito tênues.
A Constituição de 1934 veio ampliar a faixa dos mecanismos de controle do
Poder Legislativo sobre os atos do Executivo, não só pela ampliação de seu
poder de polícia, exercido exclusivamente pela Câmara dos Deputados, como
pela atribuição de nova destinação constitucional ao Senado Federal, coordena-
dor dos poderes federais (art. 88), o que representa, por parte dos constituintes,
uma tentativa de preencher o vácuo institucional surgido com a adoção da tri-
partição dos poderes.
Ainda avulta, como limitação e controle da ação do Poder Executivo, a criação
dos conselhos técnicos, cujas atribuições se encontram especificadas no art. 103.
A Constituição de 1946 previu, igualmente, os referidos mecanismos de con-
trole dos atos do Executivo. O controle político era exercido, da mesma forma,
pelo Poder Legislativo, que dispunha de instrumentos constitucionais próprios,
como as comissões parlamentares de inquérito, os requerimentos de informações,
as tomadas de contas, o processo por crime de responsabilidade e, principal-
mente, a apreciação e aprovação das contas do Poder Executivo.
A Constituição de 1967 manteve os mesmos dispositivos da Constituição de
1946, ou seja, o controle político e o controle jurisdicional; estabeleceu, porém,
exceção transitória prevista no seu próprio texto e na legislação paralela de na-
tureza constitucional: os atos institucionais e complementares.
A Emenda Constitucional n<? 1, de 1969, não trouxe qualquer alteração nesse
sentido, e a situação excepcional só veio a modificar-se com a aprovação da
Emenda Constitucional n<? 11, de 13 de outubro de 1978, que revogou os atos
institucionais e complementares, restabelecendo as limitações constitucionais ao
exercício do Poder Executivo.
Não obstante, o controle político dos atos do Poder Executivo, exercido pelo
Poder Legislativo, é frágil em face da natureza jurídica do regime presidencia-
lista, que concentra na mão do Executivo, personificado pelo presidente da Re- •
pública, a maior soma de poderes do Estado. Ainda mais, se considerarmos que
a competência para legislar, definida na Constituição federal, atribui a maior
parte das matérias à União; e que a iniciativa das leis, conferida ao presidente
da República, é de largo espectro.
4. O Poder Executivo
•
4.1 Estrutura e organização
Como instituição política, o Poder Executivo pode ser estudado, em seu as-
pecto material e formal, através da evolução histórica do nosso constitucionalismo.
A Constituição do Império, de 25 de março de 1824, cuja elaboração sofreu
a influência doutrinária de Benjamin Constant e Clermont Tonerre, consagrava
a existência de quatro poderes, incluindo, ao lado dos três poderes clássicos do
Estado, o poder moderador, o qual era exercido privativamente pelo imperador.
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o Poder Executivo era exercido pelo imperador através dos ministros de Es-
tado, por ele nomeados e demitidos livremente. Tal circunstância, por si só, afasta
a tão discutida hipótese da existência do parlamentarismo no Império. Pois,
como bem acentua o insigne publicista Afonso Arinos de Melo Franco, a Consti-
tuição do Império não cogitava da responsabilidade política dos ministros, básica
no parlamentarismo.
Sendo o poder moderador a chave dos poderes, superpondo-se aos demais,
constituía ele um mecanismo de controle como árbitro e esvaziador das crises
políticas.
Sobreleva notar que a figura do imperador era sagrada, o que foi, ao lado da
resistência oposta pelo monarca à adoção da forma federativa de Estado, uma
das condições fundamentais para o crescimento e êxito do movimento republicano.
Com o advento da República e a promulgação da Constituição de 24 de feve-
reiro de 1891, foi instituída uma nova forma de Estado: a federação, e o Poder
Executivo sofreu, em sua estrutura e organização, a influência do novo modelo
político adotado, calcado no presidencialismo norte-americano, com suas carac-
terísticas próprias.
A legitimação da República ocorreu através da proclamação do Governo pro-
visório, chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que, se dizendo simples
agente da soberania nacional, propunha-se a ser o Governo "da paz, da liberdade,
da fraternidade e da ordem". Um dos seus primeiros atos foi outorgar - através
do Decreto n9 510, de 22 de junho de 1890 - uma Constituição Provisória
para os Estados Unidos do Brasil, e convocar eleições para o I Congresso Na-
cional, ao qual se atribuiu poderes específicos para elaborar e aprovar a cons-
tituição definitiva.
Essa Constituição Provisória conferia ao Poder Executivo, exercido pelo pre-
sidente da República na qualidade de "Chefe Eletivo da Nação", atribuições de
largo espectro, reproduzidas na constituição definitiva, promulgada a 24 de fe-
vereiro de 189l.
~ de assinalar-se, nessa primeira Constituição Republicana brasileira, o papel
secundário dos ministros de Estado, auxiliares do presidente da República, como
que assessores pessoais, porquanto o art. 41, que dispõe sobre o exercício do
Poder Executivo, não os menciona.
Os presidentes governavam com o auxílio de medidas arbitrárias, respaldadas
pelo instituto da intervenção federal, largamente utilizado para impor a vontade
do poder central e para abafar, em seu nascedouro, os constantes questiona-
• mentos provocados pelas oligarquias regionais, a mais das vezes separatistas.
Verifica-se, portanto, que desde a sua origem, a República Brasileira nasceu
sob o signo do poder pessoal que os republicanos tanto combateram.
A Constituição Republicana foi emendada em 1926, ampliando-se as atribui-
ções do Poder Executivo, principalmente no que concerne ao poder de intervir
• nos estados.
Essa estrutura constitucional prevaleceu no Brasil até a Revolução de 1930,
que trouxe modificações profundas à organização social e política do país, graças
às idéias do movimento conhecido como "Tenentismo".
A Constituição de 1891 foi revogada pelo Decreto n9 19398, de 11 de no-
vembro de 1930, que instituiu um Governo provisório, com o que passou o Poder
Executivo a ser exercido autocraticamente por um só homem, que era o chefe
• do Governo provisório.
I nstituições políticas 47
A Constituição de 1934 - que cristalizou, de forma profundamente feliz, as
aspirações nacionais - manteve a República presidencialista, tentando abrandar
a soma de poderes atribuídos ao presidente da República, o chefe do Poder Exe-
cutivo - mantidos os ministros de Estado na mesma posição que anteriormente
lhes fora destinada pela Constituição de 1891.
A Carta Constitucional de 1937, outorgada em decorrência do golpe de Es-
tado desferido por Getúlio Vargas, encontra-se em completa dissintonia com
as tradições constitucionais brasileiras, pois implantou um Estado de fato, autori-
tário e parafascista, suprimindo formalmente o Poder Legislativo, exercido impli-
citamente pelo presidente da República. Aliás, o Poder Executivo era, na rea-
lidade, o único poder efetivo dentro daquela estrutura constitucional.
Com a Constituição promulgada em 18 de setembro de 1946, inicia-se uma
nova fase política, pelo restabelecimento do Estado de direito e das garantias e
liberdades individuais, sendo o exercício do Poder Executivo atribuído exclusiva-
mente ao presidente da República auxiliado pelos ministros de Estado, por ele
nomeados e demitidos livremente.
Ainda no que tange à competência e estrutura do Poder Executivo no regime
da Constituição de 1946, sofreu ele grandes transformações com a Emenda Cons-
titucional n<? 4, de 2 de setembro de 1961 (ato adicional), que instituiu o sistema
parlamentar de governo.
O parlamentarismo, ao contrário dos países em que vigorava por tradição his-
tórica, constituiu, no Brasil, solução política imediatista de ordem conjuntural,
destinada a evitar a guerra civil que fatalmente ocorreria, se as Forças Armadas
chegassem a impedir a posse do então vice-presidente da República na chefia do
Executívo, vaga em decorrência da renúncia do presidente da República.
A emenda constitucional que instituiu o parlamentarismo reduziu os poderes
conferidos pela Constituição ao presidente da República e, assegurando a posse
do vice-presidente no cargo, conseguiu evitar conflitos nacionais de proporções
graves. Todavia, faltando-lhe sustentação política, atacado por todos os lados, o •
regime parlamentar não logrou permanência, pois que, submetido a plebiscito, o
ato adicional foi revogado, e restabelecido o sistema presidencial pela Emenda
Constitucional nQ 6, de 23 de janeiro de 1963.
A crise política, entretanto, não encontrou solução com as modificações de
ordem constitucional e as forças sociais em conflito levaram ao impasse que,
afinal, resultou na Revolução de 31 de março de 1964.
A Revolução de 1964 trouxe alterações ao regime constitucional instituído pela
Constituição de 1946, com relação ao Poder Executivo, cuja autoridade ampliou •
e fortaleceu. Mas esse fortalecimento do Poder Executivo não bastou para com-
patibilizar a existência do sistema constitucional de 1946 com a Revolução de
1964, razão pela qual o então presidente da República baixou o Ato Institucional
nQ 4, de 7 de dezembro de 1966, convocando o Congresso Nacional para ela-
borar uma nova constituição que "represente a institucionalização dos ideais e
princípios da revolução".
Foi, assim, promulgada a Constituição de 24 de janeiro de 1967, em que as
atribuições do Poder Executivo, exercido exclusivamente pelo presidente da Re-
pública - auxiliado pelos ministros de Estado - são extensas. O novo texto
constitucional não logrou evitar a grave situação política, a qual culminou com a
crise entre o Congresso e o Poder Executivo, levando o presidente da República
a editar o Ato Institucional n<? 5, de 13 de dezembro de 1968.
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Excluindo de qualquer apreciação judicial todos os atos com base nele prati-
cados, o Ato Institucional n<? 5 decretou o recesso do Congresso, suspendeu as
garantias constitucionais do Poder Judiciário e concentrou no Poder Executivo o
exercício da quase totalidade dos poderes do Estado.
A Emenda Constitucional n<? 1, de 17 de outubro de 1969, manteve os dispo-
sitivos relativos ao Poder Executivo. Era este exercido pelo presidente da Re-
pública, auxiliado pelos ministros de Estado, com as mesmas atribuições e com-
petência previstas na Constituição de 1967. Entretanto, a tônica da primazia do
Poder Executivo sobre os demais poderes do Estado permanecia, assegurada pela
vigência do Ato Institucional n<? 5.
Tal situação só veio a modificar-se com o projeto de abertura política, instituído
pelo chefe do Governo e concretizado pela aprovação da Emenda Constitucional
n<? 11, de 13 de outubro de 1978, que revogou os atos institucionais e comple-
mentares. Legislação posterior, concedendo anistia política, restabeleceu, em toda
a sua plenitude, o Estado de direito.
Instituições políticas 49
GOVERNO DA UN 12(0
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LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDI CIA'RIO
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DAS RE L A ÇOES
IoIINISTÉRIO MINISTÉRIO MIHISTERIO
DA SAÚDE DO TRABALHO DOS TRANSPOIITIS
EXTERIORES
4.2 Funções
52 R.C.P. 3/82
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, em conferência proferida na ESG,5 assim
o define: "Faculdade discricionária do poder público de limitar os direitos indi-
viduais em prol do interesse coletivo." Pois, como ensinam Armando de Oliveira
Marinho e Zairo Lapa Filho, o que tipifica o poder de polícia são, basicamente,
os requisitos a seguir:
5. O Poder Judiciário
Instituições políticas 53
N o capítulo referente ao Poder Judiciário (arts. 151 a 164) a Constituição
do Império reconhece o princípio da independência do Poder Judiciário - ou
"Judicial", como a ele se refere - e delineia a sua composição. Assim, em pri-
meira instância, havia juízes e jurados: estes, para se pronunciarem sobre o fato,
e aqueles, para aplicar a lei. Para o julgamento das causas em segunda instância
nas províncias do Império, existiam os tribunais locais, as relações das províncias;
e, finalmente, o Supremo Tribunal de Justiça, que constituía uma instância supe-
rior às relações das províncias, e cuja competência, definida no art. 164, era
recursal, quando julgava as "Revistas nas causas", e originária, ao conhecer dos
crimes de seus próprios membros, dos membros das relações das províncias, dos
diplomatas e dos presidentes das províncias.
Conclui-se, assim, que o Império dispunha de uma organização judiciária
única para todo o país, em conseqüência de uma organização política unitária.
Esse sistema da unidade judiciária possibilitava a aplicação uniforme da lei e a
uniformidade administrativa da Justiça, uma só para todo o território nacional.
Com o advento da República, o sistema da unidade judiciária foi substituído
pela dualidade de jurisdição: a federal e a estadual, cada uma com sua esfera de
competência própria. Evidentemente, outra não poderia ser a conseqüência do
regime federativo sobre a organização dos poderes do Estado.
A primeira Constituição republicana, promulgada a 24 de fevereiro de 1891,
consagrou a tripartição dos poderes no art. 15: "São órgãos da soberania na-
cional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e indepen-
dentes entre si"; além de adotar, " ... como forma de governo, sob o regime
representativo, a República federativa" (art. 11?).
No capítulo referente ao Poder Judiciário (arts. 55 a 62), prevê a organização
dual do mesmo, dividido em Justiça federal e Justiça estadual. À Justiça federal,
composta por juízes e tribunais federais - "tantos quantos o Congresso criar"
(art. 55) - atribuía competência específica, dispondo, em relação à Justiça
estadual - composta por juízes e tribunais locais - competência geral. O órgão
de cúpula do Poder Judiciário era o Supremo Tribunal Federal, composto de 15
juízes, com competência originária, na forma do art. 59, e competência recursal
para as decisões dos juízes e tribunais federais, e dos juízes e tribunais dos
estados.
Na vigência da Constituição de 1891, o direito adjetivo era estadual - um
para cada estado, ensejando divergência e, conseqüentemente, inúmeros conflitos
de jurisdição.
Após o desfecho da Revolução Constitucionalista de 1932, foi instituída, pela
ditadura, a comissão constitucional, com o propósito de elaborar a carta política
pela qual o país ansiava. Com relação ao Poder Judiciário, novamente veio à
baila a questão da dualidade da Justiça, muito combatida na época, chegando
a despertar verdadeira polêmica.
A Constituição promulgada a 16 de julho de 1934 manteve, "como forma de
governo, sob o regime representativo, a República federativa" (art. lI?) e, como
"órgão da soberania nacional, dentro dos limites constitucionais, os Poderes Le-
gislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si" (art. 31?).
O Poder Judiciário - estruturado dentro do princípio da dualidade em Jus-
tiça federal e estadual - era composto pela Corte Suprema, juízes e tribunais
eleitorais e, finalmente, juízes e tribunais locais. Com relação ao direito proces-
54 R.C.P. 3/82
sual, passou este a ser da competência da União, um só para todo o território
nacional (art. 59, n 9 XIX).
A Carta Constitucional, outorgada a 10 de novembro de 1937 pelo presidente
da República, manteve a República federativa, ou, conforme o disposto em seu
art. 39: "O Brasil é um Estado federal, constituído pela União indissolúvel dos
estados, do Distrito Federal e dos territórios".
O presidente da República, segundo o art. 73, era a autoridade suprema do
Estado, coordenando a atividade dos órgãos representativos de grau superior,
sem qualquer menção explícita à divisão dos poderes e ao princípio de sua inde-
pendência. O próprio controle jurisdicional da constitucionalidade das leis de-
pendia, em última análise, do presidente da República, que poderia submeter uma
decisão do Tribunal ao exame do Parlamento, o qual, confirmando uma lei, tor-
naria sem efeito a declaração de sua inconstitucionalidade (art. 96, parágrafo
único). f:. claro que, em caso de recesso do Congresso, o presidente da República
deteria, como deteve, esse poder.
A Carta de 1937 estabeleceu a unidade da Justiça em primeira instância, e a
dualidade em segunda instância, e a organização do Poder Judiciário, de acordo
com o art. 90, passou a ser a seguinte: a) Supremo Tribunal Federal; b) juízes
e tribunais dos estados, do Distrito Federal e dos territórios; c) juízes e tribunais
militares. Ficou mantida a unidade do direito processual.
Essa mesma estrutura mista - única em primeira instância, salvo para maté-
rias específicas, e dual em segunda instância - foi mantida pela Constituição
promulgada a 18 de setembro de 1946. Em seu art. 19, consagrava ela o regime
representativo, a federação e a república, reconhecendo como poderes da União
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si
(art. 36).
No capítulo em que tratava do Poder Judiciário, estabelecia a sua organização:
art. 94 - O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgãos: I - Supremo
Tribunal Federal; 11 - Tribunal Federal de Recursos; 111 - juízes e tribunais
militares; IV - juízes e tribunais eleitorais; V - juízes e tribunais do trabalho".
E ainda a Justiça dos estados, com seus juízes de primeira instância, e tribunais
de segunda instância. Foi mantida uma vez mais a unidade de processo.
I nstituições políticas 55
nais e juízes militares; IV - tribunais e juízes eleitorais; V - tribunais e juízes
do trabalho; VI - tribunais e juízes estaduais. Essa é então a atual estrutura do
Poder Judiciário, com seus órgãos e competência próprios. Como se verifica, foi
mantida a dualidade da Justiça em primeira e segunda instâncias. Com relação
às respectivas áreas de competência, adotou-se o critério de enumeração das cau-
sas e processos pertinentes aos órgãos da Justiça federal e da chamada Justiça
especial (militar, do trabalho, eleitoral). No âmbito da Justiça estadual, ficaram
incluídos os demais casos.
Já quanto à legislação processual, o sistema vigente é o da plena competência
da União, isto é, um código de processo civil e de processo penal únicos para
todo o território nacional.
A Emenda Constitucional n9 7, promulgada em 13 de abril de 1977, concre-
tizou a reforma do Poder Judiciário. Alterou 24 artigos da Constituição vigente
(Emenda Constitucional n9 1, de 1969) e acrescentou-lhe mais sete. As princi-
pais modificações, introduzidas pela Emenda Constitucional n9 7 com relação
ao Poder Judiciário, dizem respeito ao Supremo Tribunal Federal, à Justiça fe-
deral, à Justiça estadual e à magistratura.
O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário, é composto
por 11 ministros, nomeados pelo presidente da República. Entre as suas funções
mais importantes, destacam-se a função jurisdicional e a função política. A função
jurisdicional constitui a aplicação da lei ao fato, onde o Supremo Tribunal Fe-
deral atua originariamente ou em nível recursal. Também atua como órgão uni-
formizador da interpretação divergente de outro tribunal ou do próprio Supremo
Tribunal Federal, de texto legal ou constitucional, formando jurisprudência. Ou,
na ausência de norma legal, decide segundo os princípios gerais do direito. Essa
função, aliás, não é privativa do Supremo Tribunal Federal, mas sua importância
é crescente e toma-se binômio com a função de intérprete da lei. A função
política do Supremo Tribunal Federal emerge quando atua como órgão do Poder
Judiciário, guardião da Constituição e da lei, bem como da decisão judiciária.
No exercício dessa função, poderá requerer até a intervenção da União nos
estados.
As medidas mais importantes introduzidas pela Emenda Constitucional n9 7
são, em primeiro lugar, a possibilidade de, mediante provocação do procurador-
geral da República, ser chamado o Supremo Tribunal a interpretar, em tese, ato
normativo, federal ou estadual, para declarar-lhe a inconstitucionalidade. E, em
segundo lugar, avocar causa processada em qualquer juízo ou tribunal, quando
ocorrer imediato perigo de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança, e às finan-
ças públicas. Essas medidas visam a evitar a multiplicação de demandas sobre a
mesma matéria, possibilitando, a médio prazo, substancial diminuição do número
de processos a serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal, sem a necessidade
de aumentar o número de seus ministros.
A Justiça federal compõe-se de órgãos de primeira e de segunda instâncias. A
Justiça federal de primeira instância, restabelecida pelo Ato Institucional n9 2
de 1965, teve o número de juízes aumentado e extinto o cargo de juiz federal
substituto. Já quanto à Justiça federal de segunda instância - o Tribunal Fe-
deral de Recursos - teve elevado o número de seus ministros de 13 para 27,
permitindo a constituição de seis turmas, com quatro membros cada uma, reu-
nidos em dois grupos especializados, e sem função judicante o presidente, o vice-
presidente e o corregedor.
56 R.C.P. 3/82
A organização da Justiça estadual continuou a cargo dos estados, cabendo
aos tribunais locais a iniciativa de proposta de lei de alteração da organização e
divisão judiciária. Entretanto, a Emenda Constitucional n'? 7 atribuiu ao Poder
Legislativo a sua apreciação.
As normas relativas à organização, ao funcionamento, à disciplina, às vanta-
gens, aos direitos e deveres dos magistrados são estabelecidos em lei comple-
mentar, no caso a Lei Complementar n'? 35, Lei Orgânica da Magistratura Na-
cional. Merece realce a criação, no citado diploma legal, do Conselho Nacional
da Magistratura, órgão disciplinador dos membros do Poder Judiciário em âm-
bito nacional.
Finalmente, a Emenda Constitucional n'? 7 restabeleceu as garantias constitu-
cionais da magistratura: inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de ven-
cimentos. Só perderá o juiz a inamovibilidade por motivo de interesse público,
a critério do Tribunal de Justiça, pelo voto de dois terços de seus membros.
Quanto à vitaliciedade, será esta adquirida após dois anos de exercício do cargo.
I nstituições políticas 57
PODER
JUDI CIÁRIO to
, JUNTAS DE
JUIZES
ONCILIAçÃO E
E L E I TORAIS
JULGAMENTO
•
I nstituições políticas 59
Essa estrutura partidária, porém, não logrou assegurar a estabilidade do re-
gime, pois os três grandes partidos praticaram erros graves, decorrentes da natu-
reza de sua origem, de suas características e dos interesses, muitas vezes espúrios,
que defendiam. Na síntese feliz de Afonso Arinos, "o trabalhismo do PTB era
tisnado pela nostalgia caudilhista e por um aventureirismo econômico da direita,
que nada tinha de democrático. O legalismo udenista era demasiado formal, e o
partido estava, freqüentemente, inclinado a procurar apoio antes nos quartéis do
que nas urnas. A habilidade pessedista visava muito menos à salvaguarda das
instituições do que à guarda das benesses do poder".u
A Revolução de 1964 e as mudanças políticas que trazia em seu bojo não
eram compatíveis com os partidos políticos existentes que, assim, foram extintos
pelo Ato Institucional n<'> 2, de 1965. A reorganização partidária deu-se em 1966,
com o surgimento das duas agremiações, Arena e MDB, a primeira defendendo
o governo, e o segundo, concentrando as correntes oposicionistas. Esses dois
partidos perduraram até à vigência da Lei n<'> 6.767, de 20 de dezembro de 1979,
quando foram extintos, restabelecendo-se o pluripartidarismo.
7. Participação
I' Melo Franco, Afonso Arinos de. Os partidos políticos . .. op. cit.
12 Cf. Fundamentos da doutrina. op. cit. p. 18.
u Ibid. p. 246.
60 R.C.P. 3/82
As instituições políticas brasileiras serão, portanto, o reflexo do homem brasi-
leiro, identificado por seu caráter nacional, condicionado por seu modo peculiar
de pensar, agir e sentir, em virtude de valores estabelecidos pelo processo his-
tórico-cultural.
14 Fetscher, Iring. In: Revista de Ciência Política, Rio de Janeiro, FGV, (4):57-70.
out./dez. 1969. Apud Maduro, Lídice A. Pontes. Os representantes do município do Rio
de Janeiro. Revista de Ciência Política, Rio de Janeiro, FGV, 23(1):209, jan./abr. 1980.
15 Cavalcanti, Themístocles Brandão. Reflexões sobre a democracia. Revista de Ciência
Política, Rio de Janeiro, FGV, 19(1):12, mar. 1976.
Instituições políticas 61
seja, a qualidade e o grau de sua participação no processo - refletirá as tendên-
cias que condicionaram a formação dos partidos políticos e a capacidade destes
de canalizar as demandas e aspirações existentes no meio social.
62 R.C.P. 3/82
valores éticos e morais da Nação. Chegam, assim, as demandas às instituições
decisórias e executórias que detêm o poder de decisão; no caso, o Executivo e a
burocracia, importante instituto, componente do sistema político e que representa
a máquina estatal.
IH - elementos dinâmicos: são os processos que ocorrem dentro dos elementos
estruturais, balizados pelos elementos valorativos. Os elementos dinâmicos de um
modelo político fornecem os modos de seu funcionamento. São os processos que
possibilitam a vida política de uma sociedade.
Os principais processos de um modelo político são aqueles que determinam
o modo de processamento das demandas e apoio da sociedade. Como tal, desta-
cam-se os processos legislativos, eleitoral, de funcionamento da administração,
de acesso ao poder, etc.
O funcionamento dos elementos estruturais, informados pelos valores éticos
é, pois, o estágio último de um modelo político; é o todo em movimento; e cons-
titui, ao mesmo tempo, o mecanismo de retroalimentação (feedback) do sistema.
Há quem pretenda identificar modelo político com sistema político. No entanto,
a identificação é inaceitável. Enquanto o modelo político assume um compro-
misso com a realidade, o sistema, por universal, embasa-se em princípios abstra-
tos, puros. Entretanto em contato com as estruturas, converte-se em regime.
Cabe, nesta altura, estabelecer a distinção entre regime político e modelo
político. O regime político decorre do conjunto de regras e princípios de natureza
histórico-cultural que preside ao exercício do poder. Representa ele, portanto,
a expressão das condições históricas e culturais de um povo. f:, enfim, a parti-
cularização de um modelo político num contexto histórico-cultural de determinado
grupo social.
Em outras palavras, assim o concebeu Maurice Duverger: "Todo regime
político constitui um conjunto de respostas dadas a cada uma das questões for-
muladas pela existência e organização dos órgãos de governo, no interior de
um grupo social. "16
f: válido inferir-se que o regime somente é ideal quando corresponder ao
modelo político.
A expressão "modelo político", no sentido fixado pela doutrina da Escola
Superior de Guerra, corresponde à forma peculiar assumida pelo regime político
de um determinado país. f: o que os italianos chamam de "fórmula política".
A respeito, disse Gaetano Mosca: "f: evidente que a fórmula política deve, em
cada caso, corresponder ao grau de maturidade intelectual, aos sentimentos e
às crenças que prevalecem numa dada época e num povo determinado. Ela deve
igualmente estar em harmonia com o modo de escolha e de organização da
classe dirigente no mesmo instante e no seio do mesmo pOVO."17
Nesse sentido, a questão da autenticidade do modelo político toma-se primor-
dial, já que sua corporificação nos textos constitucionais irá condicionar a natu-
reza das instituições políticas, bem como seu funcionamento e grau de eficiência.
Instituições políticas 63
8.2 Modelo político brasileiro. Alteração de estruturas e processos
64 R.C.P. 3/82
b) democrático - porque fundamentado no respeito à dignidade da pessoa
humana, na liberdade de iniciativa e igualdade de oportunidade, no mecanismo
de controle e limitação dos poderes do Estado, e na participação do povo na
organização do poder;
c) viável - porque dotado de estruturas adequadas à realidade política do mo-
mento, agilizadas por processos eficazes de funcionamento, e dispondo de ins-
trumentos e mecanismos capazes de resistir às tensões decorrentes da comple-
xidade da sociedade pluralista.
Para tanto, algumas linhas de ação podem ser sugeridas, consideradas as três
ordens de elementos do modelo político:
1. Quanto aos elementos valorativos
- atuação consciente das elites, propondo padrões de comportamento autên-
ticos e condizentes com os interesses nacionais, através da formação da opinião
pública pelos meios de comunicação de massa - tudo com reflexo na cultura
política do povo.
2. Quanto aos elementos estruturais
- alteração das estruturas básicas (Poderes do Estado, sistema partidário), me-
diante sua modernização - processo de evolução das instituições políticas para
a sua adequação às mudanças sociais decorrentes do processo de desenvolvi-
mento; o que se poderá obter pelo:
a) fortalecimento do sistema federativo, ressaltando a autonomia dos estados
sem que a União perca a competência para coordená-los, através da reformula-
ção do sistema tributário, com uma distribuição mais equânime dos recursos
fiscais;
b) fortalecimento dos Poderes Legislativo e Judiciário, dotando-os de meios téc-
nicos e materiais capazes de proporcionar a ampliação do poder de fiscalização
dos atos do Poder Executivo (Poder Legislativo), e do controle da legalidade
dos atos da administração pública (Poder Judiciário), tomando-os, assim, mais
eficientes e eficazes no exercício de suas relevantes funções;
c) fortalecimento do sistema partidário, com o aumento da representatividade
dos partidos políticos;
3. quanto aos elementos dinâmicos:
a) dinamização da máquina estatal, pela descentralização administrativa e des-
burocratização, com a separação das funções da administração pública e gover-
namentais, através do instituto da delegação de competência;
b) alteração do processo eleitoral, adaptando-o às novas características do
• eleitorado, evitando a corrupção, a fraude e a influência do poder econômico.
Por derradeiro, como mecanismo retroalimentador do sistema, propomos a
ampliação da participação do povo no processo político, tomando-a efetiva na
organização do poder.
9. Conclusão
Sugeridas que foram algumas linhas de ação para a adequação das instituições
políticas à plena realização da democracia, impõe-se a indagação:
Como fazer para alcançar o objetivo?
A resposta viável consiste na reformulação da ordem jurídica vigente, através
de uma reforma constitucional.
Instifuições políticas 65
A reforma constitucional representa, de fato, a aspiração de toda a sociedade
brasileira, que é uma sociedade em transição. Por esta razão, a Emenda Cons-
titucional nl? 1/69, ora em vigor, já se encontra defasada em relação às expec-
tativas da Nação, face ao projeto político do Governo com vistas ao aperfeiçoa-
mento do regime democrático.
Quanto ao modus faciendi da reforma constitucional preconizada, as opiniões
se dividem, havendo uma corrente que pretende a promulgação de nova Lei
Magna pela via da convocação de uma assembléia constituinte. Tal solução, po-
rém, não é a melhor, eis que resultaria num projeto de Constituição fruto de
improvisação, a par da ruptura da ordem jurídica existente, pressuposto histórico
no Brasil - da convocação de qualquer assembléia constituinte.
Poderá ser, assim, promovida a reforma da Constituição pela via parlamentar,
através do processo legislativo próprio. Até porque, o Congresso a ser eleito
em 1982 conterá todas as correntes de opinião dominantes no país, já que será
composto por representantes dos mais diversos segmentos da sociedade, inte-
grados nos novos partidos políticos instituídos por força da Lei nl? 6.767. de 20
de dezembro de 1979.
Caberá, pois, ao novo Legislativo a revisão ampla da Constituição, porquanto,
no exercício de sua competência residual, o Congresso tudo pode, salvo alterar
os dispositivos referentes à federação e à república.
A nova Constituição representará, sem dúvida, um instrumento jurídico capaz
de assegurar a eficácia da ação do governo, e a estabilidade do regime. Mas ela
de nada valerá se faltar a participação efetiva e consciente do povo na prática
da democracia, e o empenho das elites dirigentes, no fortalecimento das instituições
políticas.
Pois, segundo o pensamento, sempre atual, de Themístocles Brandão Caval-
canti: "A Constituição não representa, por si só, condição para a felicidade ou
prosperidade de um povo. O essencial é o comportamento justo dos responsáveis
pela vida do país, governo e oposição."
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Em São Paulo, Av. Nove de Julho, 2029;
Em Brasília, CLS 104. Bloco A. Loia 37
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