Você está na página 1de 36

LEITURA E

INTERPRETAÇÃO DE
TEXTOS

Profa. Dra. Ana Silvia Moço Aparício e Profª. M.e Marialda de Jesus Almeida
Copyright © 2020 by Marialda Almeida

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,


que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total


ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico,
incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em
qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito da Universidade
Municipal de São Caetano do Sul.

Preparação: Marialda de Jesus Almeida


Revisão: Marialda de Jesus Almeida
Projeto Gráfico e Diagramação:  Wallace Campos
Capa:  Wallace Campos

FICHA CATALOGRÁFICA

ALMEIDA, de Jesus Marialda; APARÍCIO, Ana Silvia Moço.

Leitura e Interpretação de Textos / Marialda de Jesus Almeida e


Ana Silvia Moço Aparício. – São Caetano do Sul / SP: USCS, 2020.

Língua Portuguesa 2. Interpretação de Mundo Repertório Cultural 3.


Leitura 4. Produção de Texto 5. Erros comuns.

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL


Portal: virtual.uscs.edu.br
Tel.: (11) 4239-3200
Av. Goiás, 3400 – São Caetano do Sul – SP – CEP: 09550-051
Rua Santo Antônio, 50 – São Caetano do Sul – SP – CEP: 09521-160
Profa. Dra. Ana Silvia Moço Aparício
Profª. M.e Marialda de Jesus Almeida

LEITURA E
INTERPRETAÇÃO DE
TEXTOS

REVISÃO
Marialda de Jesus Almeida
PASSOS INTERPRETATIVOS E FONTES QUE
DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE
GARANTEM LEITORA
O CONHECIMENTO
UNIDADE 31
Leitura e Interpretação de Textos
Língua Portuguesa
Unidade 3 | desenvolvimento da capacidade leitora

66 LER É GANHAR A ALMA


66 INTRODUÇÃO
67 BREVE PANORAMA ATUAL DOS LEITORES NO BRASIL E NO MUNDO
70 A LEITURA COMO ATO SOCIAL
72 O PRAZER DA LEITURA
76 OS TIPOS DE LEITURA
77 PROCEDIMENTOS DE LEITURA: COMO LER UM TEXTO
81 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS
88 TIPO TEXTUAL: NARRAÇÃO
90 TIPO TEXTUAL: RELATO
91 TIPO TEXTUAL: DISSERTAÇÃO
92 TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
93 TEXTO DISSERTATIVO-EXPOSITIVO
94 INSTRUÇÃO
95 REFERÊNCIAS

unidade 3 | Leitura e Interpretação de Textos | 65


Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

LER É GANHAR A ALMA

Filho de ferroviário morando num subúrbio de Araraquara, o menino [Ignácio


de Loyola Brandão] tímido e encabulado, que se achava magro e feio e se
sentia marginalizado, encontrou na leitura um refúgio para sua solidão. “Meu
pai lia e parecia feliz”, lembra. “Foi ele que me presenteou com os primeiros
volumes. ‘O cisne e o negro’ e ´O patinho feio’, como me encantaram. ‘Pinó-
quio’ era deslumbrante. Não me esqueço também de ‘Robinson Crusoé’, de
‘O Barba Azul’ e tantos mais. [...]”.
“A leitura era um modo de me abstrair de tudo o que me incomodava, de
colocar minhas raivas para fora”, conta Loyola. “Depois, passou a ser a forma
de resolver meus conflitos, de viver os personagens, de amar todas aquelas
mulheres [...]. Ler era a maneira de entender a vida, de ir embora. Ainda é.
Quando estou lendo, me concentro, levito, saio de mim. Ler é ganhar a alma.
É ser sobrevivente. A leitura é uma boia salva-vidas. Um escaler (Ignácio de
Loyola Brandão, jornalista e escritor, apud CREJA; CLETO, 2013, p. 44).

INTRODUÇÃO

[...] a palavra escrita é a gaiola do som. Ler é liberar a palavra que estava en-
clausurada no papel. Palavras gostam de voar e coar o eco de seu pleno sen-
tido sonoro” (WADO, compositor alagoano apud CEREJA; CLETO, 2013, p. 45).

Já discorremos bastante sobre o texto na Unidade anterior quan-


do demos exemplos acerca de como interpretá-lo. Logo, sabemos
que o texto não é um fenômeno majoritariamente da escrita (como
esse que você está lendo). O texto está aqui, mas também está no
áudio que você envia pelo aplicativo de celular, está no sinal de
trânsito (visto que trata-se de um código), está nas esculturas do
cemitério da Consolação (São Paulo) e em uma das obras de arte
mais conhecidas do mundo, na Mona Lisa (Museu do Louvre, Paris).
Paulo Freire, grande pedagogo e pensador, afirma que a leitura nos
encaminha para um mundo o qual nos interessamos e, para que isso
aconteça, é necessário ler, no entanto, essa leitura necessariamente
precisa fazer sentido para esse leitor. O sentido (a interpretação) que
acende o leitor para o mundo! (LAJOLO, 1993, p. 5).
Quando falamos em sentido, isto é, na compreensão que teremos de
determinado texto, é muito interessante notar que ele se dará a partir do
conhecimento do leitor e que aceitar a pluralidade de leituras é aceitar
que cada ser humano é único. Veja a Figura 1 (KOCK; ELIAS, 2017, p. 21).

66 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Nessa tirinha (Figura 1), de maneira caricata, o autor afirma, inici-


almente, que há 36 formas de observar um mosquito esmagado na
parede, embora apresente apenas três desses tantos jeitos de ver
tal fato. Uma das mensagens que Galhardo quis apresentar é a di-
versidade da interpretação dos fatos. É interessante aqui notar que
esses acontecimentos se constituem a partir de um sujeito dentro
do “[.,..] seu lugar social, seus conhecimentos, seus valores, suas
vivências” (KOCK; ELIAS, 2017, p. 21).

Figura 1 – Tirinha Galhardo


Fonte: Folha de S. Paulo, 11 ago. 19971

Você Sabia?
Você sabia que a Lei n.º
9.610 de 1998 (Lei do Di-
reito Autoral) prevê que
uma obra pode ingressar
Obviamente que não estamos recomendando que daqui para em domínio público – que
frente todos interpretem textos a seu bel-prazer. Nesse momento, trata-se de uma condição
jurídica do momento em
em que notamos essas nuances interpretativas, devemos redobrar que o autor perde o direito
de propriedade sobre de-
o nosso cuidado em perceber-nos como leitores críticos, que con- terminada obra intelectual
permitindo que qualquer
sideram a existência de sinalizações do texto, como visto anterior- pessoa possa utilizá-la,
obviamente sem deixar de
mente, dentro do esquema do conhecimento linguístico, de mundo citá-la – quando há decur-
e interacional. so do tempo, falecimento
do autor sem deixar her-
deiros ou se a obra for de
origem desconhecida? Isso
só pode acontecer 70 anos

BREVE PANORAMA ATUAL DOS LEITORES NO BRASIL E NO MUNDO ou mais após o falecimento
do autor ou do coautor.
No link abaixo você encon-
trará diversas obras ricas
de nossa literatura, incluindo
A leitura é uma fonte inesgotável de prazer,
todas as obras de Machado
mas por incrível que pareça, de Assis, as quais já estão
a quase totalidade, não sente esta sede (Carlos Drummond de Andrade) disponibilizadas no Portal
Domínio Público, lançado
em 2004, por Fernando
Infelizmente sabemos que nós, brasileiros, não temos como práti- Haddad, Ministro da Educa-
ção na referida época.
ca a leitura. A seguir, apresentaremos brevemente um panorama
para que saibamos da realidade do país, mas também da nossa Fonte: <http://www.dominiopublico.gov.br/

realidade, como cidadãos, estudantes universitários, que precisam pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.


do?first=3000&skip=0&ds_titulo&co_autor&-
no_autor&co_categoria=2&pagina=1&se-
1
Disponível em: <http://acervo.folha.uol.com.br/fsp/1997/08/11/21/>. Acesso em: 15 lect_action=Submit&co_midia=2&co_obra&-
mar.2018. co_idioma=1&colunaOrdenar=NU_PAGE_
2
COSTA, D. Ler faz bem à alma. São Paulo: Butterfly, 2006. p. 85. HITS&ordem=desc>.

unidade 3 | 67
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

compreender o mundo para que, de fato, a sua passagem pela uni-


versidade não seja em vão.

Por que os brasileiros não leem? A falta de tempo é o principal motivo


alegado por não leitores (32%), leitores (43%) e não estudantes (50%) – que
gostariam de ter lido mais (3/4 dos leitores). Entre os não leitores, a falta de
gosto pela leitura é mencionada por 28%.
Mas a principal barreira para a promoção da leitura e a formação leitora está iden-
tificada nas respostas de não leitores. Somente 33% deles respondem que não
encontram nenhuma dificuldade para ler. A cada edição da pesquisa aumenta o
número dos que afirmam ter alguma dificuldade para ler. Quando comparamos
com os resultados das edições anteriores, surge uma preocupação que coloca
em suspenso a avaliação positiva sobre os indicadores de leitura: em 2007, 48%
dos não leitores disseram não ter dificuldades, e, em 2011, 43%. Estamos pioran-
do? Mais brasileiros dizem, em 2015, que não leem porque têm alguma dificuldade
para ler. Entre eles, 17% indicam algum problema físico (o que muitas vezes é ar-
gumento para não confessar que não sabe ler). Apesar dessa dificuldade ter sido
mais citada nesta edição, os demais (60%) indicam dificuldade de compreensão
ou habilidade leitora (FAILLA, 2016, p. 37, grifos nossos).

No gráfico abaixo, elaborado a partir de uma pesquisa realizada


em 2011 pela World Culture Score Index, percebe-se que o Brasil
está dentre os países que menos despendem horas semanais para
Figura 2 - Gráfico para  Russia ler no mundo (5h12 min). A Índia ocupa o topo da lista, estipulando
Beyond The Headlines 
Fonte: World Culture Score Index, 20113
10h42min por semana para leitura.

3
Disponível em: <http://chartsbin.com/view/32136>. Acesso em: 15 mar. 2018.

68 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Essas informações são interessantes para pensarmos na história


que o Brasil vem apresentando tanto na ausência de argumentos
para discorrer com apropriação sobre qualquer tema (principalmente
sobre política) quanto pelo baixo índice de desenvolvimento cultural
que perpassa a nossa intepretação de texto, como exposto por Failla
(2016) na citação acima. Outro dado interessante consta na Figura 3:

Figura 3 - Gráfico da pesquisa Re-


tratos da Leitura no Brasil -  4ª Edição.
Fonte: Failla (2016, p. 234)

O que se nota na Figura 3 é que os brasileiros, em suas horas va-


gas, se interessam mais por escrever (Leitor 54%/ Não Leitor 23%)
do que por ler (Leitor 32;27% / Não leitor 14;7%). No entanto, uma
atividade depende da outra. Podemos até dizer que a leitura neces-
sariamente precisa preceder a escrita para que esta última “acon-
teça” de forma competente. Por isso a necessidade urgente de in-
serirmos leituras em nosso cotidiano, além de nos estimularmos na
composição de textos autorais.

As Belezas que nos oferece a leitura


Eduardo Galeano, em O livro dos abraços, p. 28

“Diego não conhecia o mar.


O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito
caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: -
Pai, me ensina a olhar!”

unidade 3 | 69
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

A LEITURA COMO ATO SOCIAL


Após notar que a maioria dos brasileiros está em dívida com a
leitura, independentemente do pretexto alegado (falta de tempo, di-
ficuldade de compreensão etc.) e também depois de ter estudado
sobre a intepretação de mundo na Unidade 1, e ainda sobre a plura-
lidade de sentidos que um texto pode remeter, vamos efetivamente
falar do nosso papel na sociedade como cidadãos leitores.
Compreender a pluralidade de sentidos a qual uma leitura pode
remeter, principalmente quando falamos da correlação leitor-autor-
contexto4, e mais que isso, conseguir encadear diversas leituras de
maneira competente ao ponto de elaborar suas próprias conclusões
é um ato social, que demanda interações entre sujeitos, o que certa-
mente o(a) tornará um(a) profissional competente em habilidades e
lhe garantirá, por exemplo, um ótimo emprego.
No entanto, deixando um pouco de lado o caráter mercantilista,
que hoje é sinônimo de educação, precisamos compreender que
formar-se em um curso universitário também está relacionado à nos-
sa atuação cidadã, à percepção de que somos mais do que um
fenômeno biológico e que, com essa compreensão de mundo, con-
seguiremos nos estabelecer como fenômeno biográfico, com um
protagonismo no processo histórico da humanidade.
Assim, o que precisamos perceber é que a leitura não pode ser
caracterizada por um ato mecânico. Nessa perspectiva hermenêu-
tica5 (leitor-autor-contexto), o ato de ler não é apenas um desfrute
momentâneo, por exemplo, de uma narrativa romântica, antes disso,
ele opera uma interferência no mundo, tanto àquele mundo que per-
cebemos quanto ao mundo mais amplo, que compõe a sociedade.
Sendo assim, a leitura não deve se restringir apenas à educa-
ção, à faculdade, mas ela deve configurar-se como um ato po-
lítico, social, histórico etc., ao inserir o indivíduo no mundo da
escrita, que nos dias de hoje ainda deve ser considerado um
lugar privilegiado do conhecimento (FREIRE, 2003). Logo, a pos-
sibilidade de ler e compreender narrativas, notícias, quadros nos

4
“Contexto” aqui representa a compreensão de mundo desse leitor.
5
Ciência que tem por objetivo a interpretação textual.

70 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

torna cidadãos, que devem ter um papel protagonista na socie-


dade e não mais de coadjuvante.
Somado à dimensão social da leitura, está o ato humanizante de
perceber-se, principalmente no universo literário. A potência literá-
ria permite-nos criar e habitar outros mundos e, ainda, trazer essa
experiência para nosso mundo real. Yunes (2009, p. 30-31) afirma
que “[...] ler é criar e morar em outros mundos possíveis” e também
destaca que “[...] a literatura desatrofia dimensões do humano que
nenhum outro tipo de leitura pode fazer”.
Alberto Caieiro descreve um pouco sobre aventurar-se na leitura
no poema abaixo:

Procuro dizer o que sinto


Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras.
Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só
muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
(Alberto Caeiro – O guardador de rebanhos)

Desembrulhar-me e ser eu,


não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.
E assim escrevo, querendo sentir a Natureza,
nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer ora errando,
Fonte: Pessoa (2017)

Caindo aqui, levantando-me acolá,


Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Fernando Pessoa, além de usar um recurso chamado metalingua-


gem6 no poema acima, visto que com palavras fala sobre palavras,
6
Recurso linguístico que utiliza-se da linguagem para discorrer sobre ela mesma. Exemplos disso
seria o autorretrato de Van Gogh ou uma obra cinematográfica que retrata o próprio cinema.

unidade 3 | 71
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

busca demonstrar como a literatura consegue desatrofiar os sentidos


humanos. Quando Pessoa diz “Procuro despir-me do que aprendi”,
ele busca exercitar novas formas de aprender. Tecnicamente, nesse
ato estão envoltas todas as formas pelas quais nos apropriamos do
aprendizado, obviamente, incluindo a leitura. Ir além, ir em busca
de novas experiências, concomitante às interações humanas, eis o
papel social da leitura.

As Belezas que nos oferece a leitura

“O correr da vida embrulha tudo.


A vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”

Guimarães Rosa, em Grande sertão: veredas (p. 448)

O PRAZER DA LEITURA
Sabe-se que não se nasce com o gosto pela leitura, assim como
não se nasce com o gosto por qualquer atividade. Sendo assim, o
ato de ler é uma habilidade inata. Então, como desenvolver essa ha-
bilidade? O gosto pela leitura, e, logo, pela literatura, acontece por
meio de um estado de encanto, de êxtase quando do contato com
o texto. Sendo assim, esse estado precisa ser estimulado, experi-
mentado e vivido, já que caso o ato de ler não desperte estímulos
positivos, que envolve apreensão, apropriação e transformação de
significados, por meio de um documento escrito, deverá ser consi-
derado uma “pseudoleitura’, já que não gerou novos significados
para o leitor.
Quando o leitor, um ser repleto de vivências únicas, apropria-se de
um texto e, a partir disso, significados outrora inexistentes em seu
conhecimento se concretizam, um novo mundo se abre para ele.
Logo, podemos afirmar enfaticamente que o texto não existe sem o
leitor (ISER, 1999), visto que apenas quando do contanto entre leitor,

72 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

com suas características singulares, e do texto, que passa a existir a Você Sabia?
partir dessas perspectivas particulares, que essa interdependência Você sabia que ler poesia
é mais útil para o cérebro
se estabelece. Esse mesmo autor, Iser (1999), retoma o conceito do que livros autoajuda? E
não somos nós que fala-
de conhecimento de mundo, já tratado na Unidade 1 deste curso, mos! Especialistas da Uni-
versidade de Liverpool “[...]
quando afirma que a interpretação do texto pelo leitor acontece por descobriram que a poesia
meio do diálogo entre o que é lido e as inferências estabelecidas por ‘é mais útil que os livros
de autoajuda’, já que afeta
suas experiências, seu acervo histórico, cultural, social. o lado direito do cérebro,
onde são armazenadas as
Assim, para que o leitor alcance um estado de prazer da leitu- lembranças autobiográfi-
cas, e ajuda a refletir sobre
ra, ele precisa compreender o porquê dessa necessidade, como já eles e entendê-los desde
descrito acima. Também precisa saber os passos para realizar uma outra perspectiva.”

leitura competente, o que consta no próximo item.


Veja a matéria abaixo, retirada da
No entanto, não podemos deixar de dizer que cada pessoa, den- Folha de S. Paulo de janeiro de 2013:
tro de suas particularidades, possui uma personalidade e também <http://www1.folha.uol.com.br/ilustra-
da/2013/01/1215067-ler-poesia-e-mais-util-
gostos específicos. Muitas vezes, se você é fã de ficção científica, para-o-cerebro-que-livros-de-autoajuda-
dizem-cientistas.shtml>.
por exemplo, não adiantará você começar a prática da leitura a par-
tir de obras clássicas, como Os Miseráveis, de Victor Hugo (mas
isso não é motivo para você não planejar uma futura leitura desse
título). O importante é que a leitura seja praticada! Hoje temos à
nossa disposição uma diversidade de títulos que abrangem todos
os gostos por um valor acessível, principalmente e-books.
A propósito, na sequência, apresentaremos uma lista de suges-
tões de leitura. Hoje, nas primeiras gôndolas das livrarias, há muitos
títulos categorizados como autoajuda, cuja finalidade é, muitas ve-
zes, auxiliar-nos a lidarmos melhor com questões existenciais. Entre-
tanto, o site Universia faz uma breve descrição de algumas obras li-
terárias clássicas que podem substituir essas leituras de autoajuda,
que às vezes nos apresentam uma série de “fórmulas mágicas” sem
contextualizá-las, o que as difere da literatura, que nos ambientaliza
em cenários os quais conseguimos nos inserir e criar novas possibi-
lidades de vivências reais. Veja que interessante:

Leitura Complementar

Veja clássicos da literatura que ensinam mais do que autoajuda

Dom Casmurro, Machado de Assis (Editora Lafonte): conta a história de


Bentinho e Capitu, que se conhecem ainda crianças e se casam na idade
adulta. O ciúme é o tema da narrativa. Quando nasce o filho do casal, o
protagonista enxerga muitas semelhanças entre a criança e seu melhor

amigo, o recém-falecido Escobar. Desconfiado da traição e sem provas, mas
atormentado pelo ciúme, Bentinho destrói a família e o casamento. “A obra

provoca um debate imenso entre os leitores sobre a culpa ou não de Capitu,
mas o fato é que o ciúme conduziu o personagem à loucura e isto destruiu a
vida dele e tudo o que ele tinha construído”, diz Roberto Juliano, professor de
literatura do Cursinho da Poli. 

unidade 3 | 73
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

A Metamorfose, Franz Kafka (Companhia das Letras): trata da vida do


caixeiro-viajante Gregor Samsa que, numa determinada manhã, acorda e
se vê transformado num inseto indefinido, mas asqueroso. A partir daí, ele
passa a ser desprezado pela família, é mandado embora do emprego e
perde toda a importância social que tinha. “Trata-se de um livro interessante
para basear uma discussão mais profunda sobre o sentido da exclusão e da
opressão. É uma obra densa, que leva à reflexão sobre a condição humana na
modernidade, em que as pessoas só têm valor enquanto produzem”, afirma
Ana Lúcia Trevisan, professora de literatura da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, em São Paulo. 

A Cidade e as Serras, Eça de Queirós (Editora Martin Claret): Jacinto leva


uma boa vida em Paris, sustentada pela sua herança familiar. Porém, em
determinado momento ele começa a se decepcionar com a superficialidade
das pessoas com quem convive e até com as tecnologias que o deixam na
mão. Entediado, se muda para a propriedade rural da família, numa região
serrana de Portugal. Nesse estilo de vida mais simples ele descobre um novo
sentido para a existência, que o faz mais feliz. “Em 1901, este livro já fala
sobre o consumismo, o desespero louco de adquirir tudo o que a ciência
pode fornecer e de como isso contribui para uma sociedade fútil, pregando
abertamente que o homem precisa se voltar para as coisas mais simples da
vida”, destaca Roberto Juliano, professor de literatura do Cursinho da Poli. 

Hamlet, William Shakespeare (L&PM Editores): narra a história do Príncipe


Hamlet, que busca a todo custo vingar a morte de seu pai, assassinado pelo
tio e que, após envenenar o irmão, toma-lhe o trono e casa-se com sua viúva.
Tomado pelo desejo de dar o troco ao vilão, o personagem que dá nome à
obra acaba entrando em um processo extremamente destrutivo. “O Hamlet
não é libertado nem pelo amor. O que o conduz é a vingança que, no fim das
contas, o arrasta para a destruição. A reflexão é sobre a adequação ou não de
se agir tomado por um sentimento como esse”, analisa Silvio Pereira da Silva,
professor da Universidade Metodista de São Paulo. 

Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis (Editora Globo): a


narração é feita por um morto que resolve escrever suas memórias. Por não
estar mais preocupado com o julgamento dos vivos, o defunto-autor diz tudo
o que sempre teve vontade. “Brás Cubas revela ironicamente as vantagens
da morte, quando se pode ser realmente autêntico, pois se está livre das
amarras da sociedade. Em geral, as pessoas tendem a mostrar uma face
só, a mais feliz e positiva, e guardar a outra, mas todos temos dois lados.
Essa reflexão poderia ser retomada e atualizada em tempos de redes sociais”,
sugere Fernando Thomaz, professor de literatura da rede Singular Anglo ABC, 

74 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa (Editora Nova Fronteira): o ex-


jagunço Riobaldo, que agora vive na tranquilidade de uma fazenda, narra
a sua vida a um jovem que chegou às suas terras recentemente. Ele conta
sobre suas lutas, medos e, principalmente, sobre seus amores, inclusive
os reprimidos. “A obra fala muito sobre a solidão e sobre a tentativa de

investigarmos os próprios problemas. O protagonista vai tentando entender
a terra, a sua vida e a sua origem. O foco narrativo não é o sertão, mas este
homem que se depara com a sua própria história e quer entendê-la mais a
fundo”, resume Filomena Elaine Paiva Assolini, professora da USP. 

Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski (Editora 34): é a história de Raskólnikov,


um jovem estudante pobre que invade a casa de uma agiota com o propósito
de fazer um penhor. Porém, num ímpeto, ele acaba matando a usurária e
também a irmã dela, com quem encontra inesperadamente quando tenta
deixar a cena do crime. Dali em diante, ele passa a sofrer da culpa que sente
pelo duplo assassinato e da aflição de estar sendo sempre perseguido. “É um
romance que segue a linha da investigação psicológica e que nos faz refletir,
de uma maneira dramática, sobre as atitudes tomadas por impulso”, aponta
Fernando Thomaz, professor de literatura da rede Singular Anglo ABC.

Dom Quixote, Miguel de Cervantes (L&PM Editores): depois de ler muitas


histórias heroicas em antigos livros de cavalaria, um homem resolve
transformar-se em cavaleiro andante. Já como Dom Quixote de La Mancha,
ele sai na companhia de seu fiel escudeiro, Sancho Pança, em busca de
aventuras. Confuso entre a realidade e a fantasia, Dom Quixote enfrenta
inimigos imaginários e se mete em muitas confusões para provar seu heroísmo.
“A questão aqui é a loucura que se torna certeza: de tanto ler histórias, ele
vive uma realidade paralela. Nós também agimos assim muitas vezes, sem
noção da realidade, nos deixando levar pelo que lemos e ouvimos”, pondera
Ana Lúcia Trevisan, professora de literatura da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, em São Paulo. “Dom Quixote é também um homem em busca
dos seus sonhos, que preserva a coragem e o desejo de mudança que
toda pessoa deveria ter”, acrescenta Silvio Pereira da Silva, professor da
Universidade Metodista de São Paulo. 

Ensaio sobre a cegueira, José Saramago (Companhia das Letras): uma


epidemia de cegueira é o mote encontrado pelo autor para ir fundo na análise
do caráter humano. Na trama, numa tentativa de conter o surto, o governo
decide colocar todos os habitantes infectados em quarentena. Impotentes,
abandonados e desprezados, eles passarão a mostrar suas características
mais primitivas. “Esta obra leva a uma reflexão sobre a sociedade moderna,
que vive apenas de rótulos, sem considerar a essência de cada um”,
fundamenta Silvio Pereira da Silva, professor da Universidade Metodista de
São Paulo

Humano, demasiado humano, Friedrich Nietzsche (Companhia das Letras):


a obra traz uma reunião de reflexões filosóficas sobre o ser humano e o seu
papel na sociedade. “A partir de Nietzsche, fica impossível falar sobre um
único argumento válido, uma única verdade. Ele tem muito a ver com o nosso
momento atual, em que se discute tanto a diversidade cultural e o respeito
às diferenças”, diz Filomena Elaine Paiva Assolini, professora da USP. “No
mais, este livro obriga o leitor a pensar. Ele vai ter que se perguntar o que está
fazendo aqui e qual o sentido da sua existência”, completa 

unidade 3 | 75
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

A TECNOLOGIA AJUDA!
O Skoob é uma rede social de leitores do Brasil e ao cadastrar-se é possível fazer uma lista
dos livros que você já leu e também uma lista do que você pretende ler, além de conectar
pessoas que curtem os mesmos tipos de livros. Também há um aplicativo dele.

Acessar Endereço

O Kindle Unlimited é um app da Amazon, maior empresa do mundo (dados de 2018). Nele é
possível comprar e ler livros pelo smartphone ou pelo próprio leitor Kindle, caso você tenha.
O mais interessante é a possibilidade de “provar” gratuitamente os e-books até determinada
página. No entanto, seu objetivo maior é, como acontece com os filmes e séries da Netflix,
que o leitor faça uma assinatura mensal e tenha à disposição milhares de títulos. Também é
possível realizar esse acesso via desktop:

Acessar Endereço

No entanto, fazer uma listinha impressa de sua meta literária anual já é um primeiro passo
incrível para que desenvolva o prazer pela leitura e não perca tempo nessa vida tão rara!
Para isso criamos um arquivo em .pdf que está disponível nos downloads no curso nesta
Unidade, para que você possa começar AGORA MESMO a cumprir essa meta!

OS TIPOS DE LEITURA
Como consta na Figura 1 desta Unidade, os textos são lidos/com-
preendidos de formas diferentes, visto que as pessoas são diferentes,
considerando principalmente o conhecimento de mundo, o contexto
social a qual se encontra e seu conhecimento linguístico. Assim, é im-
prescindível que caminhos sejam indicados para que concentremos
esforços para compreender os tipos de leituras e quais habilidades
temos de desenvolver para que as compreendamos.
Disponível em: <https://universa.uol.com.br/album/2013/07/01/veja-classicos-da-literatura-
7

que-ensinam-mais-do-que-autoajuda.htm?mode=list&foto=3>. Acesso em: 15 mar. 2018.

76 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Andrade (1999, p. 19-20) apresenta-nos quatro formas as quais


utilizamos para executar o ato de ler: leitura de higiene mental ou
recreativa, leitura técnica, leitura de informação e leitura de estudo.

A leitura de higiene mental (ou recreativa) tem como objetivo trazer satisfa-
ção à inteligência, a distração, o entretenimento, o lazer. É o caso da leitura
de romances, revistas em quadrinhos etc. A leitura técnica implica, muitas
vezes, a habilidade de ler e interpretar tabelas e gráficos. Por exemplo: re-
latórios ou obras de cunho científico. Já a leitura de informação está ligada
às finalidades da cultura geral. Por fim, temos a leitura de estudo, que visa
à coleta de informações para determinado propósito, aquisição e ampliação
de conhecimentos (CAVALCANTE FILHO, 2011, p. 1723-1724, grifo nosso).

Em algum momento da vida você precisará realizar alguns des-


ses tipos, no entanto, como o público-alvo desse curso é você,
estudante, para não nos estendermos demais, enfatizaremos, na
sequência, as fases da leitura de estudo, visto que acreditamos
que seja uma necessidade imediata do estudante o domínio das
fases do texto e estratégias para apreendê-lo com primazia de
forma ágil e proveitosa.

As Belezas que nos oferece a leitura

”[...] porque se nos fascina a quebra da ordem, é por meio da ordem que
avançamos dia a dia, correndo o risco de nos anestesiarmos com a sua monotonia;
no reino das palavras, o dedo espeta a agulha com sua fina membrana,
o escuro clareia a manhã, o mar se molha nos tornozelos de quem desliza
na areia, a vida de Lázaro inesperadamente se revalida,
tantos milagres fazem as palavras dentro da redoma de cristal que edificam,
mas, do lado de cá, elas se esfacelam nos paralelepípedos da verdade, as
únicas palavras valem para sempre – tu na margem oposta, vivendo o teu
início – são aquelas, Bia, que anunciam o adeus.”

João Azanello Carrascoza, em Caderno de um ausente, 2013, p. 109.


(Este autor é professor de semiótica e redação publicitária na USP e este livro versa sobre a história de um homem que foi pai
tardiamente, e quer deixar memórias para a filha recém-nascida. As lacunas entre as palavras são propositais, pois o autor
quis materializar a sua fala ausente por meio delas).

PROCEDIMENTOS DE LEITURA: COMO LER UM TEXTO


Manguel (1997 apud ARAURRE, M.L.; ABAURRE, M. B., 2007, p. 28)
afirma que “todos lemos [...] para vislumbrar o que somos e onde esta-
mos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não
podemos deixar de ler. Ler, como respirar, é nossa função essencial”.

unidade 3 | 77
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

A partir dessa declaração, não há o que contestarmos. Pre-


cisamos desenvolver habilidades para que a ação de ler es-
teja presente em nossa vida sempre com um objetivo, seja
desenvolvendo o prazer da leitura por determinada obra ou
percebendo a necessidade de compreender determinada lei-
tura a nós endereçada, seja em nossa área de atuação, seja
na faculdade.
Nos próximos capítulos desta Unidade serão apresentados a
você os tipos e gêneros textuais, que são as situações sociais
de uso da linguagem. Saber sobre eles será um facilitador para
a compreensão da leitura. Entretanto, antes dessas informa-
ções, exporemos um artigo publicado no Jornal Nexo On-line,
e nas laterais indicaremos alguns passos para que você, leitor,
perceba e desenvolva um controle cognitivo sobre a forma que
interpreta um texto. Certamente, ao praticá-los, as suas próxi-
mas leituras estarão favorecidas:

1º passo Intervenção federal no Rio: as justificativas e as contestações


Identificar o tema do texto. Autor: João Paulo Charleaux
De que trata o texto lido? Qual 16 fev. 2018 (atualizado 27 fev., 19h02)
é o seu foco principal, ou seja,
o tema, em torno do qual as Pela primeira vez desde a Constituição de 1988, governo assume setor
informações se organizam? inteiro de um estado. Objetivo declarado é conter violência. Medida é
(Sugestão: analise o título do contestada
texto. Os títulos quase sempre
antecipam, para o leitor, a Michel Temer decretou nesta sexta-feira (16) uma intervenção federal no
quartão tematizada no texto.) estado do Rio de Janeiro, com duração prevista até 31 de dezembro
de 2018, último dia de seu mandato na Presidência da República. O
interventor será o general do Exército Walter Souza Braga Netto.
É a primeira vez que o Brasil tem um estado da federação sob intervenção
do governo federal – e sob comando de um general do Exército – desde
a Constituição de 1988.
Na prática, o general Braga Netto não substituirá o governador do Rio,
Luiz Fernando Pezão (MDB), mas o secretário de Segurança Pública, 2º passo
Roberto Sá, que, no mesmo dia, pediu para deixar o cargo. Elaborar uma síntese do
texto.
O que diz o decreto de Temer Selecione e organize as
informações, argumentos e
O decreto presidencial determina a data de validade da intervenção (31 conclusões mais importantes
de dezembro de 2018), explicita a motivação de restaurar a ordem pública do texto.
e aponta nominalmente o general interventor, Braga Netto, dizendo que Estabeleça critérios de
ele é um “interventor de natureza militar”. relevância: o que é mais
importante? O que é menos
[...] importante? O que é
informação principal? O que é
A justificativa para a intervenção informação secundária?

A decisão, tomada a pedido do governador do Rio, Luiz Fernando


Pezão (PMDB), “se limita à área de segurança pública” e tem a intenção
de combater o crime – ou, nos termos do decreto, “pôr termo a grave
comprometimento da ordem pública” no estado. Ao anunciar a medida,
Temer discursou no Palácio do Planalto, dizendo que “o crime organizado
não pode continuar nem pode se transformar em uma ameaça a todo
o país”. Pezão falou, em seguida, que o estado recorreu ao governo
3º passo federal porque “não consegue deter a guerra entre facções”. Já o chefe
Organizar as próprias ideias do Gabinete de Segurança Institucional, órgão ligado à Presidência,
com relação aos elementos general da reserva Sérgio Etchegoyen, afirmou que “a incapacidade do
relevantes. estado para resolver [o problema] sozinho e as conexões internacionais
Para organizar as informações do crime” no estado motivaram a decisão. Questionado por jornalistas,
presentes no texto, posicione- o general Braga Netto, o interventor, disse que “a situação do Rio é
se sobre o que foi tematizado. grave, mas não está fora de controle”. Ele disse que “é muita mídia”,
Esse posicionamento decorre: para se referir ao efeito da cobertura jornalística sobre a percepção de
a) da avaliação do que foi insegurança no estado. Em 2017, a taxa de mortes violentas no Rio de
dito, com base nos critérios Janeiro ficou em 40 por 100 mil habitantes, o que é comparável os níveis
adotados ao elaborar de 2009 (44,9) e 2010 (36,4). Ainda não há dados oficiais de 2018, mas 4º passo
a síntese; b) dos seus o governo está alarmado com os casos de violência ocorridos no feriado Estabelecer relações entre os
conhecimentos prévios sobre de Carnaval e com os 688 disparos de arma de fogo registrados só no elementos relevantes e entre
o tema. (Sugestão: confronte início do ano por serviços informais, como o aplicativo Fogo Cruzado, eles e outras informações de
os seus conhecimentos sobre o que representa um aumento de 117% em relação aos registros do que o leitor disponha.
o tema com as informações ano anterior. Pedidos anteriores já haviam sido feitos por estados, mas A tomada de decisão sobre
apresentadas no texto. todos acabaram não se concretizando. Em 2010, o Distrito Federal fez a os elementos relevantes
Concorda com elas? Discorda solicitação, mas o Supremo Tribunal Federal não autorizou a intervenção. selecionados permite que
delas? Por quê?) O Espírito Santo, em 2002, recorreu ao instrumento, mas a Procuradoria você perceba como esses
Geral da República não concordou. Em 1989, o Pará chegou a solicitar elementos se relacionam e
uma intervenção. O pedido foi negado. como podem ser relacionados
às informações que você
[...] já possui sobre o tema.
(Sugestão: procure responder
O risco de impunidade numa intervenção às seguintes perguntas sobre
esses elementos:
A medida foi tomada quatro meses depois de Temer ter sancionado - São complementares? Por quê?
uma lei que garante que violações cometidas por militares no Brasil – - Opõe-se? Por quê?
mesmo quando os militares estiverem exercendo papel de polícia – sejam - Subordinam-se? De que maneira?)
julgadas exclusivamente por tribunais militares, não pela Justiça comum.
Por exemplo: o interventor é um general do Exército, portanto ele não
responderá à Justiça comum, mas apenas aos tribunais militares, caso
venha a cometer alguma ilegalidade. O mesmo ocorre com suas tropas.
5º passo
Interpretar os dados e fatos Quais as críticas à constitucionalidade do decreto
representados.
Com base nas relações Assim que o decreto foi publicado, a professora de direito constitucional
identificadas, você começa da FGV em São Paulo Eloísa Machado apontou o que ela considera como
a construir um sentido seu inconstitucionalidades no texto. O Nexo fez quatro perguntas a ela.
para o texto. (Sugestão:
procure responder à seguinte Por que a sra. considera o decreto inconstitucional?
pergunta: que sentido faz
o que eu acabei de ler? Ou ELOÍSA MACHADO: Estou absolutamente convencida de que o parágrafo
seja: consideradas todas as único do artigo 1º do decreto de Temer é inconstitucional. Ele diz que
informações, argumentos e o cargo de interventor “é de natureza militar”. Isso é uma inovação. A
conclusões identificados, qual Constituição não diz que o cargo de interventor é “de natureza militar”.
é o sentido fundamental do Isso me parece uma tentativa de manter eventuais contestações e
texto?) processos judiciais sob a jurisdição militar durante este ano todo. É algo
bastante preocupante. O cargo de interventor é iminentemente civil,
pela Constituição Federal. Ele é a substituição de uma autoridade civil
estadual por uma autoridade civil federal, e não a substituição de uma
autoridade civil por uma autoridade militar. Então, dizer que o cargo
de interventor é de natureza militar tem o único objetivo de garantir ao
interventor que seus eventuais abusos – desde violações a integridade e
a direitos da população do Rio de Janeiro quanto por atos de improbidade
administrativa, tudo isso – fiquem sujeitos à jurisdição militar, não civil. O
interventor tem poderes de governo, e, governo, pela Constituição, até
agora, só civil.
6º passo
O que diz a lei sobre a possibilidade de uma intervenção parcial, apenas Elaborar hipóteses
sobre uma secretaria de um governo estadual? É uma pasta que está sob explicativas para fundamentar
intervenção? Ou é inevitavelmente um estado inteiro da federação que a análise do texto.
está sob intervenção? Após determinar quais são
as informações relevantes,
ELOÍSA MACHADO A intervenção federal é no estado do Rio de Janeiro, estabelecer relações entre elas
mas a amplitude, definida por decreto, é apenas para as competências e interpretá-las, você pode
estaduais que se referem à segurança pública. O interventor pode, procurar uma explicação para
portanto, adotar atos do governador na área de segurança pública, nos o conjunto de dados obtidos
comandos das polícias e sobre os secretários. São atos de governo, por meio da leitura.
portanto. Outro detalhe importante: a intervenção autorizaria o uso da Ao construir hipóteses
Polícia Federal. Porém, para o uso das Forças Armadas, continua sendo explicativas sobre o cenário
necessária uma autorização específica. Afinal, é uma intervenção federal, delineado pelo texto, vice vai
não uma intervenção militar. O uso das Forças Armadas como segurança além do que foi dito pelo autor e
pública é excepcional em qualquer cenário. constrói um novo conhecimento
A sra. prevê possibilidade de que o decreto seja contestado na Justiça? acerca da questão tematizada.
Quem poderia fazer isso? E em qual instância a análise da legalidade (Sugestão: alguns textos já
dessa intervenção se daria? fazem hipóteses explicativas
para os dados apresentados.
ELOÍSA MACHADO Esse decreto, assim como qualquer outro ato Veja se você concorda com
normativo, está sujeito aos controles de legalidade e de constitucionalidade. elas.)
A constitucionalidade desse texto pode ser questionada em razão de se
conferir natureza militar ao cargo de interventor. A contestação a isso
pode ser feita diretamente no Supremo Tribunal Federal por qualquer um
dos atores legitimados para isso, como partidos políticos, a Procuradoria-
Geral da República, a Ordem dos Advogados do Brasil, confederações
de classe, o governador do estado ou a Mesa da Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro. A legalidade do decreto também pode ser questionada
nos tribunais por qualquer pessoa que se sinta atingida ou que o
considere ilegal.

O decreto diz que ele “entra em vigor a partir da data de publicação”, mas
a Constituição diz que ele precisa passar pelo Congresso. Como fica?

ELOÍSA MACHADO O artigo 36 da Constituição diz que a decretação da


intervenção depende de uma série de requisitos, entre eles a apreciação
pelo Congresso no prazo de 24 horas [após a publicação do decreto]. O
uso deste verbo, “dependerá”, mostra que o decreto só é válido após a
apreciação e a manutenção do texto pelo Congresso Nacional.

******
Texto disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/02/16/Inter-
ven%C3%A7%C3%A3o-federal-no-Rio-as-justificativas-e-as-contesta%C3%A7%C3%-
B5es>. Acesso em: 15 mar. 2018.

Fonte: Adaptado de Abaurre M.L., Abaurre M. B (2007, p. 29)

78 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Fonte: Adaptado de Abaurre M.L., Abaurre M. B (2007, p. 29)

Exemplo de como proceder os passos interpretativos


relativos à leitura proposta acima:

ƒƒ 1º passo
Identificar o tema do texto:
A reportagem jornalística de João Paulo Charleaux apresenta as jus-
tificativas e contestações da intervenção federal no Rio, chancelada
em 16 de fevereiro de 2018 pelo presidente Michel Temer.

ƒƒ 2º passo
Elaborar uma síntese do texto:
A intervenção federal se deu por meio de um decreto presidencial, a pedi-
do do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, segundo ele,
devido à incapacidade do estado resolver o problema sozinho. A motiva-
ção da intervenção seria restaurar a ordem pública. Assim, justificativas
(a favor da intervenção) foram dadas pelo governo, que afirma não saber
como controlar a guerra entre facções, por exemplo. Em anos anteriores
alguns estados fizeram esse mesmo pedido ao governo e todos foram ne-
gados. Já as contestações versam sobre como se daria o comportamento
dos militares dentro das comunidades, já que quatro meses antes de de-
cretar essa intervenção, o presidente Temer aprovou uma lei que protege
possíveis infracções cometidas pelos militares no país, já que, por meio
dessa lei, eles serão julgados por tribunais militares e não pela justiça co-
mum. Segundo a professora Eloísa Machado, apenas pessoas da esfera
civil podem ser nomeadas como interventores, de acordo com a professo-
ra é assim que consta na Constituição Federal de 1988, portanto, conforme
ela afirma, esse pode ser considerado um ato inconstitucional.

ƒƒ 3º passo
Organizar as próprias ideias com relação aos elementos relevantes:
Apesar de acreditar que hoje o estado do Rio de Janeiro precisa
combater ao crime organizado e ao tráfico de drogas, de acordo

unidade 3 | 79
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

com o que já li a respeito, não acredito que a intervenção federal,


mascarada de intervenção militar, ainda mais com proteções aos mi-
litares, que podem colocar em risco a população, que precisa de
proteção.

ƒƒ 4º passo
Estabelecer relações entre os elementos relevantes e entre eles e
outras informações de que o leitor disponha:
Em 26/02/2018 o mesmo jornal on-line publicou uma reportagem
acerca do que já produziu a intervenção no Rio. A questão é muito
séria e um dos dados que confirma minha visão sobre o caso é que
patrulhas e revistas são feitas diariamente, sem qualquer tipo de cri-
tério, até em crianças. A sociedade civil que mais sofre com essa
operação.

ƒƒ 5º passo
Interpretar os dados e fatos representados:
O sentido fundamental que percebi sobre essa matéria é sobre a
necessidade de sempre escutar os dois lados e compreendê-los.
Entender as justificativas do governo e suas possíveis consequên-
cias negativas nos auxilia a compreender o que se passa hoje nas
comunidades do Rio de Janeiro.

ƒƒ 6º passo
Elaborar hipóteses explicativas para fundamentar a análise do texto:
A hipótese que levanto para o caso da intervenção no Rio de Janeiro
é que instituir uma intervenção federal sem nenhum planejamento, ir
dançando conforme a música, é característico de quem vê apenas
a ponta do iceberg. Estabelecer políticas públicas de cuidados aos
civis moradores dessas comunidades talvez fosse um caminho para
que essa geração não se associe ao crime.

80 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Esses seis passos com certeza facilitarão a compreensão para


qualquer leitura, não deixe de usá-los nos próximos textos que for
ler. Conforme for praticando, essas sequências se tornarão auto-
máticas em suas práticas de leitura.
Para finalizar este capítulo gostaríamos de afirmar (repetir!) que
a leitura é de extrema importância em todos os aspectos de nos-
sa vida! Por esta razão queremos disponibilizar um pequeno livro
do poeta contemporâneo Marcelino Freire, que faz parte do projeto
Leve um Livro, idealizado exatamente para distribuir poesia de for-
ma gratuita. Boa leitura!

Poeminhas tamanho P

Marcelino Freire

Acessar Endereço

Conheça mais sobre o projeto Leve um Livro:

Acessar Endereço

GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS


Chegamos à unidade que efetivamente nos fará pensar acerca da
produção textual. Para isso, pedimos que observe os textos a seguir:

unidade 3 | 81
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

Texto 1
DIÁLOGO FINAL
- É tudo que tem a me dizer? - perguntou ele.
- É! - ela respondeu.
- Você disse tão pouco.
- Disse o que tinha para dizer.
- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.
- Que coisa?
- Sei lá. Alguma coisa.
- Você queria que eu repetisse?
- Não. Queria outra coisa.
- Que coisa é outra coisa?
- Não sei. Você devia saber.
- Por que eu deveria saber o que você não sabe?
- Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.
- Eu só sei o que sei.
- Então não vai mesmo me dizer mais nada?
- Mais nada.
- Se você quisesse...
- Quisesse o quê?
- Dizer o que não tem pra me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu
queria ouvir de você.
Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.
- Mas tudo acabou entre nós.
- Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz
mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.

(ANDRADE, Carlos Drummond. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995, p. 70).

82 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Texto 2
ENCONTRO
Sai de si vem curar teu mal
Te transbordo em som
Põe juizo em mim
Vídeos
Teu olhar me tirou daqui Escute essa música na voz da própria
Maria Gadu:
Ampliou meu ser
Quero um pouco mais
Não tudo
Pra gente não perder a graça no escuro
No fundo pode ser até pouquinho
Sendo só pra mim sim
Olhe só como a noite cresce em glória
E a distância traz nosso amanhecer
Deixa estar que o que for pra ser vigora
Eu sou tão feliz
Vamos dividir os sonhos
Que podem transformar o rumo da história
Vem logo
Que o tempo voa como eu quando penso em você
Olhe só como a noite cresce em glória
E a distância traz nosso amanhecer
Deixa estar que o que for pra ser vigora
Eu sou tão feliz
Vamos dividir os sonhos
Que podem transformar o rumo da história
Vem logo
Que o tempo voa como eu quando penso em você

Fonte: GADÚ, Maria. Encontro. Compositora: Mayra Correa. 11. Faixa. Rio de Janeiro: Som Livre, 2009.

unidade 3 | 83
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

Texto 3

Figura 4 – Tirinha amor


Fonte: André Dahmer (2018) 8

Texto 4

Figura 2 – Anúncio amor


Fonte: Plugcitários (2015) 9

8
DHAMER, André. Disponível em: <www.malvados.com.br>. Acesso em: 15 mar. 2018.
9
Disponível em: <http://plugcitarios.com/blog/2015/06/12/20-anuncios-inspiradores-para-osdias-
dos-namorados/>. Acesso em: 15 mar. 2018.

84 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Texto 5

a.mor: sm 1. afeição acentuada de uma pessoa por outra; 2. objeto


de afeição; 3. pessoa amada; 4. zelo, cuidado.

(SOARES, Amora. Minidicionário. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 38)

Agora responda: apesar da grande diferença entre os textos apre-


sentados, produzidos para situações diversas, há algo de semelhan-
te entre eles. Você conseguiu detectar o que seria? Vamos perceber
suas peculiaridades:

ƒƒ O Texto 1, “Diálogo final”, apresenta frases curtas, linguagem trunca-


da, e, obviamente remete a um diálogo, também comprovado pelos
traços iniciais em cada fala. Pense sobre a situação do casal, o que
supostamente o homem gostaria que a mulher falasse, e acerca do
caminho, da lógica textual percorridos por Drummond nesse conto;
ƒƒ O Texto 2, “Encontro”, indica, com expressões extremamente me-
tafóricas, uma possível relação amorosa. “O tempo voa como eu
quando penso em você” apresenta essa urgência. Perceba outras
metáforas que desenham essa narrativa;
ƒƒ O Texto 3 é uma tira da série Malvados do quadrinista André Dha-
mer. As palavras “atalho e labirinto” que constam no título da tiri-
nha podem remeter às facilidades e às dificuldades de uma rela-
ção: apesar de você poder ficar sempre quentinho, não haverá
liberdade. Você acha que a relação entre labirinto e liberdade são
facilitadores da linguagem para compreender essa narrativa? E a
serpente que sempre questiona o personagem principal da histó-
ria representaria o próprio perigo do amor (fazendo relações com
seu conhecimento de mundo, recordando a parábola do antigo
testamento entre Eva e a Serpente);
ƒƒ Observe o Texto 4. Qual seria a finalidade principal dessa publica-
ção? Pense no duplo sentido da frase “você é o tomate da minha
pizza” ao remeter a ocasião a qual o texto foi publicado à situação
real de saborear uma pizza.

unidade 3 | 85
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

Após tanto observar, o que temos a dizer é que, como percebe-


ram, todos esses textos têm como tema principal o AMOR, e, apesar
de todos abordarem de forma sensata esse sentimento, eles cons-
tituem GÊNEROS diferentes, visto que apresentam características
específicas, como formato/estrutura, linguagem, finalidade, tipos de
situação de produção, suporte etc. E são esses gêneros que es-
miuçaremos nesta unidade, pois por esse conhecimento que inicial-
mente direcionaremos a nossa produção textual.
Vamos pensar um pouco sobre a finalidade desses textos que le-
mos acima: no caso de o locutor precisar persuadir alguém a con-
sumir um produto ele, deve ARGUMENTAR, como faz a pizzaria no
anúncio dos tomatinhos abraçados (Figura 2), mas se ele quer NAR-
RAR uma história ficcional, ele segue a estrutura do Texto 1, “Diá-
logo final”, para produzir o seu texto. No entanto, se ele necessita
transmitir conhecimento, ele deve construir um texto para EXPOR
saberes, como é o caso do verbete de dicionário (Texto 5).

Assim, quando interagimos com outras pessoas por meio da linguagem, seja
a linguagem oral, seja a linguagem escrita, produzimos certos tipos de textos
que, com poucas variações, se repetem no tipo de conteúdo, no tipo de lin-
guagem e na estrutura. Esses tipos de textos constituem os chamamos gêne-
ros do discurso ou gêneros textuais e forma historicamente criados pelo ser
humano a fim de atender a determinadas necessidades de interação verbal.
De acordo com o momento histórico, pode nascer um gênero novo, podem
desaparecer gêneros de pouco uso, ou, ainda, um gênero pode sofrer mu-
danças até transformar-se em um novo gênero.
Numa situação de interação verbal, a escolha do gênero textual é feita de
acordo com os diferentes elementos que participam do contexto, tais como:
quem está produzindo o texto, para quem, com que finalidade, em que mo-
mento histórico etc (CEREJA; CLETO, 2013, p. 36).

Assim, os gêneros textuais que circulam na sociedade podem ser


organizados em cinco grupos de tipos textuais: do narrar, do rela-
tar, do argumentar, do expor e do instruir.
Veja abaixo o Quadro 1, que agrupa esses tipos a seus gêneros:

86 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

Quadro 1 – Tipos e Gêneros textuais


Situações sociais de uso
Tipos de texto
Gêneros orais e escritos
Capacidades de linguagem
dominantes
romance
conto maravilhoso
romance histórico
fábula
Cultura literária ficcional novela fantástica
lenda
NARRAR conto
narrativa de aventura
Contar uma história ficcional crônica literária
narrativa de ficção científica
coerente adivinha
narrativa mítica
piada
biografia romanceada
etc.
relato de experiência vivida reportagem
relato de viagem crônica social
Documentação e memorização
diário íntimo crônica esportiva
das ações humanas
testemunho relato histórico
RELATAR
caso ensaio ou perfil biográfico
Contar fatos reais ou experiências
autobiografia biografia
vividas, situando-os no tempo e
currículo carta
no espaço
notícia e-mail
sinopse etc.
TEXTOS DISSERTATIVOS
textos publicitários
Discussão de problemas sociais textos de opinião discurso de defesa (advocacia)
controversos diálogo argumentativo discurso de acusação (advocacia)
ARGUMENTAR carta de leitor resenha crítica
Expressar opinião, utilizando carta de reclamação artigos de opinião ou assinados
argumentos para defender um carta de solicitação editorial
ponto de vista e convencer o debate deliberativo ensaio
interlocutor debate regrado etc.
assembleia
texto expositivo (em livro didático)
artigo enciclopédico
exposição oral
Transmissão e construção de tomada de notas
seminário
saberes resumo de textos expositivos e explicativos
conferência
EXPOR resenha
comunicação oral
Apresentar diferentes formas do relatório científico
palestra
conhecimento relatório oral de experiência
entrevista de especialista
etc.
verbete
instruções de montagem instruções de uso
Instruções e prescrições
receita comandos diversos
INSTRUIR
regulamento textos prescritivos
Orientar comportamentos
regras de jogo etc.
Fonte: Schneuwky e Dolz (2004 apud CEREJA; CLETO, 2013, p. 37)

unidade 3 | 87
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

Mas, como o acordo principal deste curso é não apresentar te-


orias sem contextualizá-las, indicaremos abaixo exemplos desses
textos, exatamente para que você perceba a utilidade deles no seu
contexto atual, seja nas situações profissionais, acadêmicas, pesso-
ais etc. Um estudante da área da saúde precisa conhecer o gênero
escrito Relatório, que enquadra-se no tipo textual Expositivo, e, mais
do que conhecer, ele precisa aprender a elaborar um Relatório de
um paciente, assim como um estudante de Administração necessita
saber a estrutura de um Manual de Procedimento (tipo Instrução), e,
obviamente, saber como elaborá-lo.
Dessa forma, nas próximas subseções apresentaremos exemplos de
forma genérica, no entanto, na próxima unidade ensinaremos técnicas
de estruturação desses textos específicos para quem é estudante.

TIPO TEXTUAL: NARRAÇÃO


É provável que a narração seja o mais antigo de todos os tipos de
textos. Desde que a linguagem passou a fazer parte da existência
humana, muito antes da escrita, as pessoas utilizam-se dela para
narrar acontecimentos. No entanto, aqui, de acordo com Cereja e
Cleto (2013), consideraremos “narração” para os textos ficcionais.
Como apresentado no Quadro 1, são considerados gêneros narra-
tivos: conto maravilhoso, fábula, lenda, narrativa de ficção científi-
ca, romance, conto, crônica literária etc.
Assim, a narração é um tipo de texto que conta uma história fictícia
ou a combina com dados reais. O texto narrativo apresenta perso-
nagens que atuam em um tempo e em um espaço determinados na
história, organizados por uma narração feita por um narrador, cujo
papel é imprescindível para a obra.
Há três tipos de foco narrativo: 1. Narrador-personagem: que con-
ta a história na qual é participante (por isso a história é narrada em
1ª pessoa). 2. Narrador-observador: ele conta a história como al-
guém fora dela (geralmente é narrada em 3ª pessoa). 3. Narrador-
onisciente: esse narrador revela seus pensamentos e sentimentos
íntimos (narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, se mistura com

88 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

pensamentos dos personagens).


Geralmente, o texto narrativo apresenta a seguinte estrutura:
ƒƒ Apresentação: é a parte de reconhecimento de alguns persona-
gens em que são apresentadas algumas circunstâncias da histó-
ria, como o tempo e o lugar onde se dará a ação dessa história.
ƒƒ Complicação: nesse momento a ação, de fato, acontece. Diversos
fatos podem acontecer, o que conduzirá ao clímax da narrativa.
ƒƒ Clímax: é o ponto em que há, na narrativa, algum momento deci-
sivo, o que remeterá a um desfecho infalível.
ƒƒ Desfecho: é uma possível resolução do conflito produzido durante
todo o caminho percorrido pelos personagens.
Há muitas outras características relacionadas à narração, como per-
sonagens principais ou secundários e apresentação direta ou indireta
deles, isso você passará a perceber nas próximas narrativas que ler.
Abaixo apresentamos um trecho do livro A paixão segundo G.H.,
de Clarice Lispector. Essa autora, tão presente na história recente
literária do país e do mundo, tem por característica transferir uma
alma poética para sua prosa (sua narrativa), o que faz com que pe-
quenos trechos remetam a diversos sentidos e profundos significa-
dos, o que, também, permite tantos compartilhamentos nas redes
sociais digitais. No caso da obra em questão, a personagem princi-
pal que é o narrador (personagem-narrador) e os dois trechos sele-
cionados, embora estejam distantes dentro da obra (pouco menos
de 100 páginas), se completam:

“Dá-me a tua mão:


Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e se-
creta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a
linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma
nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir – nos interstícios da
matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respi-
ração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.” (LISPECTOR,
1998, p. 98).
[...]
“E agora não estou tomando tua mão para mim. Sou eu quem está te dando a mão. Agora
preciso da tua mão, não mais para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas
medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará
o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor.”
(LISPECTOR, 1998, p.170). 

unidade 3 | 89
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

TIPO TEXTUAL: RELATO


Constantemente contamos algo a alguém: como foi nosso primeiro
dia de aula, nosso dia no trabalho, o filme que assistimos, o encontro
que tivemos com uma pessoa.

“O relato é um texto no qual são apresentadas as in-


formações básicas (os fatos) referentes a um aconte-
cimento específico. O principal objetivo do relato, oral
ou escrito, é informar, reconstruindo para o leitor/ouvin-
te uma sequência de acontecimentos. Por esse moti-
vo, os relatos focalizam as ações.” (ABAURRE, M.R.;
ABAURRE, B M., 2007, p. 46, grifos das autoras).

Sendo assim, dentre tantos outros, podem ser considerados rela-


ATENÇÃO tos os gêneros diário íntimo, notícia, currículo, biografia, carta, bole-
Leia a reportagem da BBC tim de ocorrência, fofoca dos famosos, e-mail, SMS, mensagens via
Brasil, que está como Lei-
tura Complementar desta aplicativos (via smartphone) etc. É interessante notar que, de acordo
unidade, visto que se trata
de um relato da atualidade. com a época, novos gêneros surgem e antigos entram em desuso.
Um exemplo é que há 25 anos não usávamos e-mail para envio de
mensagens pessoais e profissionais. Antes, utilizávamos os gêneros
memorando para comunicações profissionais e carta para comuni-
cações pessoais.
Acerca da estrutura, o relato geralmente deve ser organizado privile-
giando a situação de interlocução, pois instituirá as diferenças entre um
relato oral e escrito, já que em uma situação em que o interlocutor está
presente, além dos recursos extralinguísticos (gestos, por exemplo) ele
poderá questionar o produtor do relato até que não haja mais dúvidas
sobre o assunto. Já em um relato escrito, todas as informações devem
estar claras e completas, para que não haja dúvidas de compreensão.

90 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

TIPO TEXTUAL: DISSERTAÇÃO


É o tipo de texto mais solicitado nas práticas acadêmicas. Trata-se
de  expor uma ideia, um problema ou um questionamento,  desen-
volver um raciocínio com base em argumentos e apresentar  uma
consideração final.

“A dissertação é um texto que se caracteriza por ana-


lisar, explicar, interpretar e avaliar os vários aspectos
associados a uma determinada questão. A finalida-
de da dissertação, portanto, é explicitar um ponto
de vista claro e articulado sobre um tema específico.
Em alguns casos, além da análise cuidadosa e de-
talhada de um tema, espera-se que o texto também
apresente os argumentos para defesa de um ponto
de vista. Quando isso ocorre, tem-se a dissertação-
argumentativa” (ABAURRE, M.R.; ABAURRE, B M.,
2007, p. 277, grifos das autoras).

Assim, do tipo textual dissertação espera-se um texto impessoal,


ou seja, é importante evitar o texto em primeira pessoa.
Dependendo da tarefa a qual está relacionada, a dissertação terá
características mais argumentativas ou mais expositivas. Em caso
de ter o objetivo de apresentar um certo tema, indicando ao leitor
aspectos essenciais a ele relacionados, predominará na disserta-
ção o caráter expositivo. No entanto, se o objetivo principal dessa
dissertação for a análise de um tema sob diferentes perspectivas,
por exemplo, de forma que defenda declaradamente uma tese, esse
dissertar será predominantemente argumentativo (que é o caso das
produções textuais do Enem - Exame Nacional do Ensino Médio - e
Enade - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Para de-
senvolvermos bem qualquer dissertação, precisamos:

unidade 3 | 91
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

ƒƒ conhecer muito bem os nossos interlocutores;


ƒƒ possuir e desenvolver uma capacidade de compreensão do tema
e da proposta a ser elaborada;
ƒƒ saber o que devemos utilizar em cada passo da estrutura disser-
tativa (introdução, desenvolvimento e conclusão);
ƒƒ dominar a linguagem e a norma culta da língua;
ƒƒ desenvolver a habilidade argumentativa.

»» Texto dissertativo-argumentativo
Como dissemos, podem ser chamados de textos argumentativos
os gêneros:

ƒƒ textos publicitários;
ƒƒ textos de opinião;
ƒƒ diálogo argumentativo;
ƒƒ carta de leitor;
ƒƒ carta de reclamação;
ƒƒ carta de solicitação;
ƒƒ debate deliberativo;
ƒƒ debate regrado;
ƒƒ assembleia;
ƒƒ discurso de defesa (advocacia);
ƒƒ discurso de acusação (advocacia);
ƒƒ resenha crítica;
ƒƒ artigos de opinião ou assinados;
ƒƒ editorial;
ƒƒ ensaio;
ƒƒ etc.

A dissertação argumentativa vai além de uma exposição orga-


nizada das informações (que é o caso o texto dissertativo-expo-
sitivo, que falaremos na sequência), visto que o autor deve apre-
sentar uma visão crítica favorável acerca do tema a ser discutido.
Em alguns casos, o autor pode usar a primeira pessoa do singu-
lar (EU), mas são raros os casos, visto que os argumentos, princi-

92 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

palmente no texto acadêmico, devem ser comprovados por meio


de fontes consistentes, e, se for o caso de haver “considerações
finais”, o estudante poderá deixar registrada sua opinião, sempre
com coerência crítica favorável à tese apresentada em sua intro-
dução.
Veja o exemplo de um trecho de dissertação argumentativa utilizado
pelo escritor Antonio Prata (o texto está embasado em um estudo e não
na opinião do autor, que argumenta após a apresentação dos dados).

ARTIGO DE OPINIÃO/ASSINADO
#PRIMEIROASSEDIO
Ninguém sabe ao certo quantas mulheres são estupradas, todos
os  anos, no Brasil. […] O problema é que só uma pequena parce-
la das  vítimas desse crime busca a polícia: estudo do Ipea (goo.gl/
4s4OGB) estima que em 2013 aconteceram, na verdade, 527 mil estu-
pros. Também de acordo com o Ipea, 70% das vítimas são crianças e
Folha de S.Paulo, 1/11/201510

adolescentes. Mais da metade tem menos de 13 anos. Mais de dois ter-


ços dos agressores são familiares, amigos ou conhecidos das vítimas.
Um crime de tal forma disseminado em nossa sociedade não se per-
petuaria impune e silencioso sem o machismo amplo, geral e irrestrito
que reina por estes costados. […]

»» Texto dissertativo-expositivo
Dentre tantos outros, são considerados como gêneros expositivos:
ƒƒ texto expositivo (em livro didático);
ƒƒ exposição oral;
ƒƒ seminário;
ƒƒ conferência;
ƒƒ comunicação oral;
ƒƒ palestra;
ƒƒ entrevista de especialista;
ƒƒ verbete;
ƒƒ artigo enciclopédico;
ƒƒ tomada de notas;
ƒƒ resumo de textos expositivos e explicativos;
ƒƒ relatório científico;
ƒƒ relatório oral de experiência.
8
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2015/11/1701048-pri-
meiroassedio.shtml >. Acesso em: 15 mar. 2018.

unidade 3 | 93
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

Você Sabia?
É preciso ser prudente às Nesse caso não será necessário preocupar-se com
produções textuais soli-
citadas a você! Um pro- argumentos, apenas será preciso apresentar, de for-
fessor, por exemplo, pode ma coesa e coerente, os aspectos relacionados ao
pedir um texto argumenta-
tivo e você apenas expor tema. No caso de haver algum aspecto polêmico no
o assunto, ou o contrário:
o professor solicita, por assunto tratado, será necessário apenas apresentar
exemplo, apenas um re-
sumo (expositivo) e você os lados divergentes, evitando, assim, posicionar-
elabora uma resenha críti-
ca (argumentativa). Fique
se, como geralmente fazem os jornalistas esportivos
atento(a)! acerca do time de futebol pelo qual torcem.

Um exemplo de texto dissertativo-expositivo seria desde a prepara-


ção de uma apresentação de trabalho, geralmente preparada no pro-
grama Power-Point da Microsoft, até exposição oral sobre o assunto.

INSTRUÇÃO
Como utilizar o celular que acabo de adquirir? Quais os passos
devo seguir para elaborar um sumário do Word? O que fazer em
caso de incêndio no prédio em que moro? Apesar das situações
apresentadas acima serem completamente diferentes, certamente
as respostas a elas serão encontradas em textos do tipo instrucional.
TOME NOTA
“Os textos instrucionais se caracterizam pela apresentação de uma
série de procedimentos a serem seguidos em uma determinada cir-
cunstância. Por esse motivo, estabelecem sempre uma interlocução
direta com o leitor. Diferentes gêneros discursivos exemplificam essa
estrutura: receitas, manuais, regra de jogo, guias de uso etc.”

(ABAURRE, M.R.; ABAURRE, B M., 2007, p. 206, grifos das autoras).

Sendo assim, enquadram-se nas características de texto instruci-


onal os gêneros:
ƒƒ instruções de montagem;
ƒƒ receita;

94 | unidade 3
Desenvolvimento da Capacidade Leitora Unidade 3

ƒƒ regulamento;
ƒƒ regras de jogo;
ƒƒ instruções de uso;
ƒƒ comandos diversos;
ƒƒ textos prescritivos
ƒƒ manual de procedimentos operacional de uma empresa;
ƒƒ etc.

Embora o perfil do leitor desse tipo de texto seja bem diversifica-


do, é certo que todos buscam em tais textos informações específi-
cas de como proceder acerca de um objetivo bem específico.
A estrutura de gêneros que exprimem instrução também é varia-
da, no entanto, é importante perceber que 1. todos indicarão passos
necessários para alcançar um objetivo específico, 2. a sequência,
na maioria dos casos, é imprescindível. Respeitá-la certamente faci-
litará a compreensão do processo.
Já a linguagem do texto instrucional é geralmente caracterizada
por verbos flexionados no modo imperativo. Em uma receita culiná-
ria (Separe as claras, Bata as claras, Misture muito bem) essa ca-
racterística fica bem evidente. No entanto, um Regulamento ou um
Manual de Procedimento de uma empresa possuem uma linguagem
diferente, embora suas estruturas sejam sequenciais.
Na próxima unidade apresentaremos de forma mais aprofundada
alguns gêneros textuais específicos para estudantes universitários,
como resenha, apresentação oral, trabalho acadêmico/artigo cien-
tífico, relatório, resumo, resenha, e-mail e currículo.
Até lá!

REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Luiza; ABAURRE, Maria Bernadete Marques. Pro-
dução de texto: interlocução e gêneros. São Paulo: Moderna, 2007.

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do tra-


balho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

unidade 3 | 95
Unidade 3 Leitura e Interpretação de Textos

CAVALCANTE FILHO, Urbano. Estratégias de leitura, análise e inter-


pretação de textos na universidade: da decodificação à leitura críti-
ca. In: CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA,
15., 2011, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos... Cadernos do CNLF,
v. 14, n. 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011. p. 1721-1728. Disponí-
vel em: <http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/144.pdf>. Aces-
so em: 15 mar. 2018.

CEREJA, William Roberto; CLETO, Ciley. Conecte: interpretação de


textos. Volume único. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

FAILLA, Zoara (org.). Retratos da leitura no Brasil. 4. ed. Rio de


Janeiro: Sextante, 2016. 296 p.

FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se com-


pletam. 44. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender:


os sentidos do texto. 3. ed. 12. reimpr. São Paulo: Contexto, 2017.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São


Paulo: Ática, 1993.

LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Roc-


co, 1998.

PESSOA, Fernando. O guardador de rebanhos In: GARCEZ, Maria He-


lena Nery. Poemas completos de Alberto Caeiro: Comentários, Glos-
sário, Estudo Introdutório. São Paulo: Lazuli, 2017, p. 76.

SILVA, Ezequiel T. da. Elementos de pedagogia da leitura. São


Paulo: Martins Fontes, 2005.

YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Cu-


ritiba: Aymará, 2009.

96 | unidade 3

Você também pode gostar