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Unidade I

PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO E
TEORIAS DA APRENDIZAGEM

Profa. Dra. Heloisa Garcia


A disciplina

Conhecer:
 Contribuições da epistemologia e da
psicologia à pedagogia.
Desenvolver:
 Postura reflexiva
reflexiva, crítica
crítica, compreensiva
compreensiva.
 Diálogo com a prática.
Fundamentar:
 Futuras escolhas na atuação
p
pedagógica.
g g
Conteúdo programático

Unidade 1
1. Modelos pedagógicos e epistemológicos
em educação
2. Abordagem tradicional
3 Abordagem comportamental
3.
Unidade 2
1. Abordagem humanista
2. Abordagem psicanalítica
Unidade 3
1. Abordagem construtivista
2. Abordagem das inteligências múltiplas
3. Abordagem da inteligência emocional
Modelos epistemológicos
em educação

O que é epistemologia?
 Episteme  conhecimento
 Logia  estudo
 Epistemologia  é uma parte da filosofia
que estuda o conhecimento organizado,
organizado
racional – “científico”.
 Epistemólogos  filósofos.
 Sujeito epistêmico  sujeito do
conhecimento.
Crítica epistemológica

“A crítica epistemológica é insubstituível


para a superação de práticas pedagógicas
fixistas, reprodutivistas, conservadoras –
sustentadas por epistemologias empiristas
ou aprioristas” (BECKER, 2001, p. 30).
Qual a origem do conhecimento?
 Inatismo.
 Empirismo.
 Interacionismo.
Inatismo

 O conhecimento é inato, endógeno:


determinismo biológico → apriorismo.
 O conhecimento está dentro do aluno
(sujeito): “revelação”.
 SO
 Desenvolvimento/maturação.
 Ditado popular: “Pau que nasce torto
morre torto.”
Sócrates

Atenas, 470 a.C. – 399 a.C.


 Conhecimento: provém da introspecção.
 A instrução não deve ser uma imposição
extrínseca de uma doutrina ao discente: o
mestre deve tirá
tirá-la
la da mente do discípulo,
pela razão imanente e constitutiva do
espírito humano, a qual é um valor
universal.
Empirismo

 O conhecimento é adquirido/transmitido,
exógeno: positivismo lógico.
 O conhecimento está fora do aluno
(sujeito): “descoberta”.
 SO
 Aprendizagem/meio.
 Ditado popular: “Diga-me com quem
andas e te direi quem és.”
Aristóteles

Estagira, 384 a.C. (Macedônia)


Calcis, 322 a.C. (Grécia)
 Conhecimento: provém da dedução
baseada na experiência sensível.
 Impulsionou o desenvolvimento da
ciência.
 Contrário a toda forma de inatismo.
Interacionismo

 O conhecimento depende tanto de


fatores externos como internos
(sujeito + objeto): “construção”.
 SO
 Desenvolvimento  Aprendizagem
 O conhecimento não é predeterminado;
é fruto da interação de cada sujeito
(aluno) com os objetos.
 Música: Metamorfose ambulante
(Raul Seixas)
Seixas).
Kant

 Prússia Oriental, 1724-1804.


Conhecimento:
 Categorias e juízos prévios + categorias
e juízos constituídos pela experiência.
 O conhecimento não é o reflexo do objeto
exterior. É o próprio espírito humano que
constrói – com os dados do conhecimento
sensível – o objeto do seu saber.
Pedagogias diretivas

 O professor fala/ensina → o aluno


escuta/aprende.
 Ensino e aprendizagem como polos
dicotômicos, independentes, não
complementares.
 Transmissão do conhecimento.
 Conhecimento transmitido como forma
e não apenas como conteúdo.
 Ex.: decorar a tabuada, repetição
mecânica exercícios.
mecânica, exercícios
 Valorização maior do ensino.
Desdobramentos sociais:
 Regimes autoritários.
Pedagogias não diretivas

 O professor intervém o mínimo possível:


laissez faire, renuncia à autoridade
explícita, mas pode exercê-la de
modo subliminar e perverso.
 Mais presente nas concepções do que
nas práticas (pode se confundir com
o construtivismo).
 Valorização das ações espontâneas.
 Valorização maior da aprendizagem.
Desdobramentos sociais:
 Ideia de “dom” e “déficit”.
 Teoria da carência cultural.
Pedagogias relacionais

 Atividade e interação entre os alunos.


 O professor problematiza, desequilibra,
desafia o aluno a explorar e a pensar.
 Conhecimento: assimilação e
acomodação; conservação e
transformação.
 Importância dos conhecimentos prévios.
 Sujeito e objeto não existem antes da ação
do sujeito. A consciência é construída.
Desdobramentos sociais:
 Indivíduos críticos e autônomos.
 Não se trata da anomia
(ausência de regras).
Avaliação da inteligência

Inatismo:
 Dom.
 Testes, objetividade, avaliação
diagnóstica.
Empirismo:
 Transmissão.
 Quantidade de informação, avaliação
certificadora.
Interacionismo:
 Processo.
 Qualidade das respostas,
avaliação formativa.
Para refletir: obesidade infantil

Visão inatista:
 O problema é genético → solução =
remédios.
Visão empirista:
 O problema são os hábitos → solução =
controle familiar.
Visão interacionista:
 O problema é uma combinação de
fatores internos e externos → solução =
conscientização do indivíduo;
reeducação de hábitos; remédio.
Interatividade

Fábio tem 6 anos, está no 1º ano do Ensino


Fundamental e tem apresentado dificuldade na
aprendizagem da leitura e escrita. A mãe diz que
o filho não aprende por causa da professora, que
grita em sala de aula, é muito brava, e com isso
ele não consegue
g aprender.
p O pai
p diz que
q o filho
é como ele, que sempre foi mal na escola. Ele
acha que o filho vai ser do mesmo jeito. Em que
modelo epistemológico se baseiam as opiniões
da mãe e do pai de Fábio?
a) Mãe e pai: empirismo.
b) Mãe: empirismo; pai: inatismo.
c) Mãe: inatismo; pai: empirismo.
d) Mãe e pai: inatismo.
e) Mãe e pai: interacionismo.
Modelos pedagógicos em
educação (Becker)

1. Pedagogia diretiva: A  P
 Epistemologia – Empirismo: S  O
Teorias psicológicas
 Abordagem tradicional – Snyders.
 Abordagem comportamental – Skinner.
Modelos pedagógicos em educação

2. Pedagogia não diretiva: A  P


 Epistemologia – Inatismo: S  O
Teorias psicológicas
 Abordagem: Humanismo – Rogers.
 Abordagem: Psicanálise – Freud.
Modelos pedagógicos em educação

3. Pedagogia relacional: A  P
 Epistemologia – Interacionismo: S  O
Teorias psicológicas
 Abordagem: Construtivismo – Piaget.
 Abordagem: Intelig. múltiplas – Gardner.
 Abordagem: Intelig. emocional – Goleman.
Abordagem tradicional

 Baseia-se em diversas tendências,


concepções e práticas educativas
aplicadas em um contexto escolar que
foram transmitidas ao longo do tempo.
 Ensino: conduzir o aluno às grandes
realizações da humanidade, dando
ênfase à transmissão de modelos.
Snyders
 Pedagogia diretiva: A ← P
 Empirismo: S ← O
Eixos centrais

 Educação com ênfase no produto.


 Relação professor-aluno: verbalista e
assimétrica.
O professor

“Dono do saber”
 O ensino volta-se para o que é externo
ao aluno: os conhecimentos instituídos,
as disciplinas, o professor.
 O conhecimento humano é cumulativo
e adquirido por meio da transmissão.
 Ensino intelectualista, verbalista e formal.
 Foco no professor: castigos físicos
e morais.
O aluno

 Tabula rasa = um receptor passivo em


relação a informações já definidas.
 Aluno dependente do professor, com
um papel insignificante na elaboração e
aquisição do saber: autoridade exterior.
 Alunos vistos de forma individualista e
homogênea: a classe.
“Educação bancária” – Paulo Freire:
 “Dar” aula + “tomar” a lição.
Relação professor-aluno

 Ambiente austero, para não distrair


os alunos: foco no professor.
 Classe: justaposição das relações
individuais de cada aluno com o
professor (relações duais).
 Sem interações entre alunos.
 Autoridade.
 Heteronomia.
 Submissão.
 Punição.
Educação

Preocupação com o produto:


 Quantidade de informação armazenada
e não com a formação do pensamento
reflexivo e do potencial criativo.
Avaliação:
 Provas em que o critério é a memorização
e repetição exata e automática das
informações transmitidas.
A relação social:
 Vertical e assimétrica.
Exemplos

 Carteiras dos alunos: alinhadas de


maneira fixa.
 Silêncio e separação total entre alunos.
 Professor sobre o tablado, distante
dos alunos.
 Ausência de trabalhos em grupo.
 Hierarquia e disciplina rígidas: as regras
são preestabelecidas.
 Sugestão de filme: The Wall.
Consequência

 Ênfase na cópia de modelos e na


transmissão padronizada.
 Formação de alunos com reações
estereotipadas e automatizadas,
com pouca criatividade.
 Compreensão parcial dos fenômenos.
 Educação seletiva x educação inclusiva.
Interatividade

Em uma abordagem tradicional de ensino,


como podemos qualificar a relação entre
o professor e o aluno?
a) Relação vertical e simétrica.
b) Relação horizontal e simétrica.
c) Relação vertical e assimétrica.
d) Relação horizontal e assimétrica.
e) Relação vertical e dialógica.
Abordagem comportamental

 O conhecimento é uma cópia da


realidade exterior.
 Sua apropriação se dá a partir da
experimentação planejada e das
contingências reforçadoras do meio.
Skinner
 Empirismo: S ← O
 Pedagogia diretiva: A ← P
Eixos centrais

 Educação como sistema de


condicionamentos.
 Relação professor-aluno: controle e
planejamento.
Burrhus Frederic Skinner
(1904-1990)

Psicologia comportamental ou
behaviorista
 Behavior = comportamento.
Comportamento humano: é
modelado e reforçado a partir da
recompensa:
 Condicionamento reflexo x
condicionamento operante.
 Reforço positivo: aumento da ocorrência
de uma resposta em função do seu efeito.
efeito
 Contra o uso da punição: leva à
paralisação do comportamento e
não à aprendizagem.
Educação

 Controle e planejamento como base


da aprendizagem do aluno.
 Modelagem do comportamento humano
a partir da manipulação das contingências
de reforço, desprezando-se qualquer
fator não observável (interno).
A educação tem como objetivos:
 Controle do comportamento.
 Experimentação.
 Transmissão cultural.
O professor

Engenheiro comportamental
 Papel técnico: elaboração de programas
disciplinares.
 Avaliação baseada em objetivos
definidos de aprendizagem.
 Preocupação com o controle do
comportamento observável, porque
entende o conhecimento como resultado
da experiência.
O aluno

 Papel passivo e respondente ao que é


esperado dele.
 Reforçadores diretos: elogios, graus,
notas, prêmios.
 Reforçadores remotos: diploma,
aprovação, status, ascensão social.
 Aprende com base em feedback.
Relação professor-aluno

 Aprendizagem: uma mudança


relativamente permanente no
comportamento ou na mente do indivíduo,
resultante de uma prática reforçada.
 Controle aversivo do comportamento:
mais fácil de ocorrer, porém não leva
à aprendizagem.
 Ambos como peças numa máquina
planejada e controlada, desempenhando
suas funções de forma eficiente.
Skinner e suas bases educacionais

 Bases da educação: autocontrole e


equilíbrio entre razão e emoção.
 O papel da frustração: aprendizagem
como um sistema de vacinação
(apresentação gradual).
 Liberdade: menos importante do que a
coesão ou a harmonia social.
Instrução programada

 Especificação de objetivos.
 Controle de contingências: feedback
constante quanto ao domínio de
uma determinada habilidade.
 Apresentação do material em
pequenos passos e complexidade
crescente.
 Respeito ao ritmo individual
de cada aluno.
 Envolvimento e autocontrole do aluno.
aluno
 Hoje em dia: softwares educacionais.
A máquina de ensinar

 A máquina propriamente dita não ensina,


ela coloca estudantes em contato com
o professor ou a pessoa que escreve
o programa.
 É semelhante a um professor particular,
no sentido de haver constante
intercâmbio entre o programa e o
estudante.
 A máquina mantém o estudante ativo
e alerta, pois dá feedback constante.
Interatividade

Imagine esta fala: “Este aluno é muito


fraquinho... sua média fica sempre abaixo
de cinco. Ele não aprende mesmo! É muito
lento e distraído e, desse jeito, não vai
passar de ano...”. De acordo com a
abordagem comportamental
comportamental, como deve
agir o professor?
a) Chamar os pais imediatamente.
b) Escutar empaticamente o aluno.
c) Aplicar punições mais efetivas.
d) Aumentar as lições para o aluno.
e) Reforçar o aluno com prêmios.
Skinner

Walden II: uma sociedade do futuro (1948)


 Obra de ficção na qual o autor apresenta
um projeto de sociedade que, mediante
diversos mecanismos de controle,
produziria indivíduos felizes,
produtivos e colaborativos.
 Estímulo maior à igualdade do que à
individualidade (moda gerando
exclusão).
 Valorização dos diferentes tipos de
trabalho (limpeza, intelectual etc.).
Educação em Walden II (1)

 São usados recursos e materiais da vida


cotidiana durante o processo de ensino-
aprendizagem.
 Há experimentação contínua dos
princípios e leis das ciências e de
qualquer área do conhecimento humano.
 Há o controle das adversidades
ambientais visando investir em todos
e evitar competição entre os aprendizes.
 As crianças imitam as crianças
ligeiramente mais velhas, criando
padrões.
Educação em Walden II (2)

 A criança progride na velocidade


individual, por isso não há séries.
 Há a valorização das diferenças
individuais.
 O comportamento de estudar é mantido
por reforçamento intrínseco.
 Há o estímulo contínuo da curiosidade.
 Boa parte da educação se faz em
oficinas, laboratórios, bibliotecas e
campos.
campos
 O ensino é programado continuamente.
Educação em Walden II (3)

 Toma-se uma postura pragmática em


relação ao conhecimento.
 As pessoas são ensinadas
primeiramente a pensar através da
lógica, estatística, método científico,
psicologia e matemática para somente
depois experimentar e colocar em
práticas o que aprendeu.
 Não há tanta valorização das
humanidades e da história por se
acreditar que esses conhecimentos não
são tão importantes quanto as ciências
para a modificação da natureza.
A escola

 Sistema educacional (ou agência


escolar) que tem como objetivo principal
favorecer situações de mudanças
desejáveis e permanentes nos
indivíduos.
Abord. tradicional x abord. comportamental
 Semelhanças: diretivas/individuais/
ênfase no produto.
 Diferença: base científica e experimental
da abordagem comportamental;
defesa x crítica das punições.
A punição e a lei

 A Constituição Federal, o ECA e a LDB


da Educação Nacional não subtraem
dos educadores o exercício da autoridade,
sendo, obviamente, vedado o
autoritarismo típico do regime político
devidamente afastado pela Constituição
Cidadã de 1988. É preciso impor limites a
toda espécie de arbítrio, seja o
proveniente dos alunos, seja aquele
oriundo dos que exercem uma parcela do
poder punitivo, garantindo, sempre, a
permanência do educando na instituição
escolar. É esta, pois, a garantia legal e
expressão de um direito maior –
o direito à educação.
Para refletir

Reflexos possíveis de uma pedagogia


diretiva:
 Reprodução de desigualdades sociais.
 Regimes autoritários.
 Competitividade acentuada
acentuada.
 Pouca habilidade para lidar com
situações novas.
 Dependência de reforço externo.
 Sugestão
g de filme: Laranja
j mecânica.
Desdobramentos: Albert Bandura

 Desenvolveu a “teoria da aprendizagem


social”, que se tornou a “teoria de
aprendizagem cognitiva”,
combinando elementos das teorias
comportamentalistas e cognitivas.
 Ê
Ênfase no conceito de modelagem:
pessoas que podem aprender através
da imitação do comportamento dos
outros indivíduos (modelos vicariantes).
 Sujeito fortemente influenciado pelo
ambiente, mas não é passivo: capaz
de autorregulação e auto-organização.
Autoeficácia

 Conceito ligado ao senso de autoestima


ou valor próprio, ao sentimento de
adequação, eficácia e competência
para enfrentar os problemas.
 Influencia positivamente os resultados
das nossas ações.
 Autoeficácia coletiva: desempenho
de grupos.
Refletir sobre:
 Os efeitos de uma baixa autoeficácia
autoeficácia.
 As influências das expectativas
externas (pais, professores).
Recapitulando a unidade 1

Empirismo e pedagogia diretiva:


 Foco no ensino.
 No ambiente.
 Determinismo social.
Inatismo e pedagogia não diretiva:
 Foco na aprendizagem.
 No indivíduo.
 Determinismo biológico.
I t
Interacionismo
i i e pedagogia
d i relacional:
l i l
 Foco na relação.
 Construção.
Interatividade

Considerando os princípios de uma


educação baseada na abordagem
comportamental, é incorreta a alternativa:
a) Aluno como fonte do conhecimento.
b) Educação focada no produto.
c) Avaliação cumulativa e certificadora.
d) Controle e planejamento pelo professor.
e) Educação como modelagem de
comportamento.
ATÉ A PRÓXIMA!

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