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Centro Universitário
Bacharelado em Psicologia
Paripiranga
2021
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Paripiranga
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2021
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BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
Finalmente, cheguei aqui e quero agradecer a Deus, por ser meu suporte,
refúgio e minha proteção.
Aos meus pais, Menilton Miranda e Eliene Maria, agradeço por todo apoio, por
nunca soltarem a minha mão, por florescer em mim o desejo de sempre melhorar,
suas orações e seus esforços foram fundamentais, mesmo diante dos sacrifícios e
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das renúncias conseguimos vencer e nada disso seria possível, se eu não tivesse
vocês ao meu lado. Vocês são minha fonte de inspiração.
Aos meus irmãos, Ludmila e Gabriel, por todo amor e toda parceria, essa
conquista também é de vocês. À minha tia Edney, por acreditar nesse sonho e me
incentivar, pelo notebook que me deu para que eu pudesse realizar os trabalhos da
faculdade, serei eternamente grata.
A todos os membros da minha família que estiveram ao meu lado, obrigada.
Ao meu primo-irmão, Douglas, sou, extremamente, grata, por todo cuidado e por
sempre me estender a sua mão, amo-te incondicionalmente, Rodrigo, você foi e é
essencial na minha vida. A trajetória foi marcada por viagens incansáveis, renúncias,
dias difíceis, mas de muito aprendizado e conhecimento que foram essenciais para a
minha caminhada.
Quero registrar o carinho por duas grandes amigas e numa frase clichê
afirmar que vocês são os presentes que a faculdade me deu, Diana
Paulo, Leiliane Barros, amizade além da faculdade, nos tornamos amigas, parceiras
e irmãs, dividimos muito mais que problemas acadêmicos, dividimos nossa
intimidade a nossa vida.
Ao meu amigo, Bruno Lobo, por todo apoio e carinho durante esses anos e
por todos os chocolates deixando meus dias mais alegres.
Aos meus professores, o meu muito obrigada, em especial, à minha
orientadora, Prof.ª Carolina, por todo incentivo e toda dedicação.
À Casa Real, minha família de coração, o lugar que sempre me dava ânimo e
forças para continuar após um longo dia de estudo, lembrarei sempre com muito
carinho dos nossos momentos.
E agradeço a mim mesma, por nunca desistir de sonhar, lutar e acreditar, já
dizia Clarice Lispector - já que sou o jeito é ser. E psicóloga também é o que sou.
10
Mario Quintana
11
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
3 MÉTODO 39
3.1 Teste de Apercepção Temática 39
3.2 Participantes 41
3.3 Procedimentos 41
3.4 Análise de Dados 43
3.5 Aspectos Éticos 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 58
REFERÊNCIAS 60
APÊNDICE 66
ANEXOS 68
16
1 INTRODUÇÃO
aquele amor passado nos filmes e nas novelas, ou encontrar um amor tal qual
aqueles dos livros, viver aquela paixão avassaladora que os cantores trazem nas
letras de suas canções, um amor perfeito, que parece que o casal foi criado um para
o outro e, não importa o que aconteça, eles nunca irão se separar, toda a vida e
felicidade do casal estão depositadas no amor que um sente um pelo outro e na
relação perfeita de ambos. Esse tipo de idealização recebe o nome de amor
romântico, a felicidade prometida pelo ideal de amor romântico está no encontro da
sua outra metade e no encanto da paixão; amar preserva a ideia de amor como
sendo o centro da felicidade e mantém o sonho de viver uma relação de completude
e eternidade (TOLEDO, 2013). Porém, com o término da relação, esse ideal é
quebrado, causando sofrimento e angústia, a ideia de felicidade através do amor no
relacionamento influencia diretamente na intensidade da dor na separação.
A crença de que a relação amorosa, amar alguém é o único meio de
realização pessoal e afetiva, e de que é possível uma simbiose total entre dois
indivíduos. Achar a “outra metade” pode ser algo nocivo, Justi et al. (2020) trazem
que o amor cortês, retratado na figura do bom moço, que levava o lenço da mulher
amada, emergido no século XII, foi o impulsor do amor romântico. O amor
romântico, como construção social, é o resultado de inúmeros fatores que
contribuíram para sua concretização, Kestering (2017) cita que os romanos, os
primeiros padres da Igreja, os romances do século XIX e, até mesmo, a ciência,
todos eles contribuíram, de alguma forma, para o imaginário que se tem hoje sobre o
que é esse sentimento. A eclosão do amor romântico teve ligação com o fim do
matrimônio para fins lucrativos e alianças entre famílias, para a ideia de uma maior
liberdade proporcionada pelo casamento pela escolha individual, o amor romântico
possibilitaria a liberdade de escolher a pessoa por quem sentisse atração, desejo ou
semelhança (KESSLER, 2013).
A autora Kessler (2013) ainda estabelece uma relação entre amor romântico e
monogamia, no imaginário atual, uma das principais críticas a essa forma de
relacionamento, é que esse amor tão buscado e desejado é projetivo e irreal, dessa
forma, o amor romântico, inicialmente entendido como uma prática progressista e
libertadora, atualmente, possui características reacionárias, aprisionando os casais a
uma ideia de “completude” que, dificilmente, é encontrada em uma única pessoa. A
tribulação de encontrar, no presente, o chamado “amor romântico” parece ter gerado
uma obsessão constante, pela busca por um amor que não se sabe ao certo o que
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é, para que serve, mas que se deseja, na esperança de acabar com a insatisfação
pessoal e preencher suas carências. Essa busca por um parceiro torna-se algo
constante, em que, logo após o término de um relacionamento, rapidamente, outro é
iniciado (KESSLER, 2013).
Com o término desse tipo de relação fica o ressentimento, a dor e o ódio,
gerado pela constatação de que, ao ir embora, o parceiro frustrou essa expectativa
de complementação, os relacionamentos que envolvem o amor romântico, os
indivíduos projetam sua vida em torno do relacionamento vivido, tornando-se
sujeitos frágeis em caso de rompimento. Toledo (2013) aponta que, quando o sujeito
não consegue se adequar ao modelo de relacionamento apaixonado e feliz,
propagado pelo ideal de amor romântico, como sendo algo ao alcance de todos, ele
passa a ser visto pela sociedade, e também se percebendo, como alguém incapaz e
infeliz, mas nunca como produto de um ideal distante da realidade.
Assim, a idealização do encontro do amor ideal acaba por distanciar a
possibilidade real de encontrar uma relação saudável, pois a realidade nunca irá
corresponder à totalidade das expectativas fantasiadas. O amor fica, cada vez mais
circunscrito numa atmosfera nostálgica, em que se busca uma referência amorosa
que nunca fora vivenciada, e uma vez que esse sujeito consiga a tão sonhada união,
o convívio a dois, que implica tolerância com as imperfeições do outro, tende a não
durar, já que, só o relacionamento não é capaz de cumprir a promessa de felicidade
plena e contínua buscada pelo sujeito (TOLEDO, 2013).
Quando uma relação chega ao fim, não acaba apenas a relação, mas,
também, se encerra um futuro construído a dois, lidar com as lembranças e com a
idealização de um futuro que nunca irá acontecer. Em seu estudo, Lamela;
Figueiredo e Bastos (2010) afirmam que o fim de uma relação amorosa é o segundo
estressor que mais causa desestruturação na vida adulta, seguido pela morte do seu
companheiro. Grande parte dos estudos chegaram à conclusão de que pessoas
divorciadas sentem menor bem-estar psicológico, níveis de felicidade mais baixos e
maiores índices de sintomatologia psicológica, como depressão e ansiedade,
quando comparadas às pessoas que estão em uma relação (LAMELA;
FIGUEIREDO; BASTOS, 2010).
Contudo, esses transtornos e sofrimento podem acontecer, pois, ao decorrer
da construção e do fortalecimento de uma relação, o casal aumenta, às vezes, de
forma gradual, a procura e prestação de cuidados ao outro membro, o que pode se
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de encontrar parceiros, pois as redes sociais têm sido um grande aliado nessas
transformações, os aplicativos de namoro permitem que os sujeitos iniciem e
terminem seus relacionamentos virtualmente de maneira fácil e rápida, a exemplo de
acumular “match”, o que é considerado sinônimo de acumular amor. De acordo com
Bauman e Donskis (2014), a sociedade é líquida e nada foi feito para durar, os
indivíduos estão cada vez mais desapegados aos compromissos, devido à
possibilidade de manter relações sexuais com uma variedade de pessoas do seu
interesse, em consequência da facilidade de encontrar parceiros, possibilitando que
o sujeito escolha aquele que se adeque melhor aos seus ideais e interesses. Os
compromissos fixos não são levados a sério, as promessas tornam-se irrelevantes
(BAUMAN; DONSKIS, 2014). Fundamentado nisso, verifica-se que as pessoas se
tornaram colecionadoras de relacionamentos, da mesma forma que colecionam
medalhas, troféus e certificados, causando fragilidade nas relações, devido ao
impacto da pouca convivência, contribuindo para diversos sentimentos, a exemplo
da solidão, incerteza, tristeza e do desânimo (RAMOS, 2011).
Apesar de todo “acúmulo” de parceiros, os sujeitos sentem-se sozinhos e,
nessa solidão em que o indivíduo se encontra, ele tenta preencher com outras
pessoas para que, assim, se sintam completos. Baseado nesse pensamento de que
é incompleto, busca no outro aquilo que ele o imagina faltar. Seja confiança mútua,
diálogo sincero, respeito, fidelidade, ou apenas beleza física. Na esperança de
encontrar uma pessoa para manter um relacionamento, a qual corresponde
totalmente às suas expectativas, alguém idealizado que proporcione prazer e
felicidade, as vivências amorosas aparentam estar sustentadas na garantia dos
próprios interesses (SMEHA; OLIVEIRA, 2013). E nessa sensação de solidão, o
sujeito inicia um relacionamento sério colocando as suas expectativas, supondo que
essa seja a maneira de lidar com suas dificuldades e que nunca estarão sozinhos. A
procura por uma união e acreditando que esta trará segurança e será garantia de
solução para resolver seus problemas, as pessoas acabam ficando entre o poder
absoluto e a submissão, sufocando o seu companheiro ou si mesmo (BAUMAN;
DONSKIS, 2014).
É constatado um sentimento comum de incompletude entre as pessoas,
provocando discórdias nos vínculos afetivos, a procura por um cônjuge está em
grande maioria associada com necessidade de completude, assim, enxerga-se o
relacionamento como um escape de aflições e fragilidades, e essas expectativas se
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tornam dolorosas, já que não se encontra o abrigo que tanto se anseia (BAUMAN;
DONSKIS, 2014). É válido ressaltar que a incompletude é uma emboscada para
iniciar um relacionamento como garantia de se sentir completo. O sujeito condenado
a viver numa eterna busca de completude e felicidade, ilusoriamente, acredita que o
objeto amado possui o que preenche a sua falta e apazigua momentaneamente o
seu desamparo, sem saber que está muito mal protegido contra o sofrimento,
principalmente, quando ama (BAYDOUN; MEDEIROS, 2012).
Poucos investimentos são depositados nos relacionamentos, superficialidade,
instabilidade e individualidade e um foco maior na vida profissional, tais
características influenciam diretamente na dinâmica das relações (SMEHA;
OLIVEIRA, 2013). Diante dessa falta de investimento, os convívios afetivos chegam
ao fim, pois, para se manter a relação, ambos precisam estar dispostos a solucionar
as complicações que ocorrem nesses elos. As pessoas estão sem capacidade para
resolver as problemáticas encontradas nas vinculações, gerando acomodação,
preguiça e tentativas de agradar o outro ao invés de resolver os problemas, além
disso, as opiniões definidas sobre determinadas coisas, como deveriam ser, como o
outro deveria agir, e quanto mais definidas essas opiniões, maiores a necessidade
de ser compreendido de forma excessiva (BAUMAN; DONSKIS, 2014). Outros
motivos que podem estar associados com a fragilidade dos laços referem-se ao
sexo, nos séculos passados, a prática sexual só poderia ser realizada dentro da
instituição do casamento, porém, ao longo dos anos, essas concepções foram
moldadas, tornando-se normal manter relações sexuais com vários parceiros, sem a
presença de qualquer vínculo emocional ou apego.
Essa facilidade do sexo pode ser explicada pelo acesso dos aplicativos de
namoro, pois encontrar seus parceiros se tornou muito mais fácil. Assim, com o
avanço da tecnologia, mais pessoas ficaram conectadas nas redes sociais e, apesar
dos grandes benefícios dessas conexões, os aplicativos têm sido uma ferramenta
não apenas de entretenimento, mas de conflitos entre os casais.
Existem várias outras questões que perpassam a relação e vão além do amor
romântico, é necessário separar a ficção e a idealização da realidade, é preciso falar
sobre o amor real, aquele que se constrói, nasce, cresce e se nutre com a
convivência diária, e assim como nasce, também morre, e pode ser uma das razões
dos relacionamentos chegarem ao fim, pois ao contrário dos contos de fadas, nem
todo amor é para sempre, com a convivência diária, as mudanças de objetivos de
vida, dentre outros milhares de fatores, o amor pode acabar, ausência do amor pode
estar correlacionado com todos os tópicos apresentados até aqui, muitos se
perguntam o que é o amor, como ele se constrói e como se mantém. Conforme
inquietações suscitadas, “O que é o amor? Como é sentido e expressado? [...]
pode-se afirmar que quando se trata de amor, assim como da complexidade
humana, não há fórmulas” (KESSLER, 2013, p. 364).
E quando chega a noite e eu não consigo dormir
Meu coração acelera e eu sozinha aqui
Eu mudo o lado da cama, eu ligo a televisão
Olhos nos olhos no espelho e o telefone na mão
)A NOITE, TIÊ(
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vida, pois na separação há uma sentença de morte recíproca, onde o “outro não
morre em vida, mas morre dentro de mim... e eu também morro na consciência do
outro” (CARUSO 1989, p. 20).
Quando um rompimento acontece, o humor, capacidade de concentração,
energia, saúde, dentre outras dimensões da vida, tendem a ser profundamente
afetadas, algumas alterações dos estados emotivo e psíquico também se mostram
presentes e constantes. Todos os âmbitos da vida são afetados, causando
dificuldades de concentração, alterações no humor, na saúde, no estado psíquico e
emocional (BRONINI et al., 2010). O que resulta na incapacidade e desânimo para
realizar trabalhos e atividades cotidianas, além da possibilidade do decaimento da
saúde do sujeito, podendo apresentar mudanças no peso, disfunção sexual, insônia,
irritabilidade, episódios depressivos, dentre outros sintomas. Para que o sujeito
recupere o seu equilíbrio emocional e existencial, é necessário um gasto de energia
psíquica, o que, por sua vez, provoca deterioração física e nervosa, como ocorre
durante um luto grave (BRONINI et al., 2010).
Com o fim do relacionamento, é comum que o sujeito revolucione sua vida
emocional, principalmente, quando o término ocorre de forma imprevisível, ou a
decisão por terminar parte do outro, sentimentos como raiva, insegurança, carência,
saudade, dor e desejo de vingança se misturam, durante esse momento, onde as
emoções estão à flor da pele, atitudes extremas são tomadas, alguns sujeitos se
expõem, esperneiam, suplicam pela retomada do vínculo, já outros se recolhem e
não conseguem expressar nenhuma reação diante do seu sofrimento (BRONINI et
al., 2010). Independente da reação, seja raiva, rancor, medo, choro, arrependimento
ou até mesmo o sentimento de liberdade e recomeço, é inevitável não sofrer com o
fim de um relacionamento amoroso, pois a separação não se trata somente do fim
de uma união física e material, mas do rompimento de vínculos emocionais e
afetivos, que foram construídos por momentos de amor, ódio, risos, tristezas, brigas
e reconciliações, quando uma relação amorosa chega ao fim não são apenas dois
corpos que deixam de se encontrar, mas também uma vida a dois que deixa de
existir.
A depender de quem é o responsável pelo final da relação, tipos de dores
diferentes são sentidas, apesar de ser uma situação ruim para ambos, aquele que
abandona tem a possibilidade de amenizar a sua dor por meio do impulso que o
levou a agir e o sentido de renovação. O que predomina, no início, é o alívio e
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euforia, por se ver livre do outro, e essa sensação de alívio acaba por diminuir o
impacto da perda, o sentimento de novidade, a expectativa de mudanças, a
transição de um passado conhecido para um futuro sem previsões é algo
empolgante, afinal, agora ele está livre para viver um mundo de possibilidades
(BRONINI et al., 2010).
Porém, com o passar dos dias, a ausência do outro começa a ser sentida,
sentimento de culpa e tristeza costumam aparecer. Os bons momentos são
recordados, os sonhos desfeitos e a tristeza pelo que poderia ter sido, mas que não
foi possível manter, começa a ser sentida, nesses momentos o ódio e frieza surgem
para suavizar ou neutralizar os sentimentos de pesar e culpa, o sujeito passa a
tentar lembrar apenas dos aspectos ruins da relação, para assim anestesiar a dor de
lamentar o fim (BRONINI et al., 2010).
Costuma ter sofrimento mais intenso aquele que é tido como o abandonado, é
frustrante saber que o outro desistiu da relação, em meio ao ódio, ao ressentimento
e à dor, vem a tendência de difamar e rebaixar o ex-parceiro para se convencer de
que não perdeu grande coisa (BRONINI et al., 2010). Com o passar dos dias e
diante da constatação de que a decisão do outro é irreversível, surge a depressão,
em grande parte dos casos acompanhada pelos sentimentos de autodepreciação,
pena de si mesmo, baixa autoestima, assim como a vontade de querer ferir
emocionalmente, ou até mesmo fisicamente o ex-parceiro.
A depreciação da pessoa amada, segundo Klein (1996), pode ser um
mecanismo útil, de vasta aplicação, que permite ao sujeito suportar decepções, o
término da relação pode causar diversos sofrimentos, o sujeito muitas vezes não
sabe como enfrentar a perda, aceitar o fim é uma tarefa complicada e atacar o ex
com palavras pode ser uma das maneiras que o sujeito encontra para amenizar o
sofrimento. Diante do ódio, dor, ressentimento, o sujeito começa a difamar seu
ex-companheiro, para tentar se convencer de que não perdeu nada, pois com o
pensamento que o outro é insignificante será mais fácil esquecê-lo (MARCONDES;
TRIERWEILER; CRUZ, 2006).
Apesar desses sentimentos e atitudes diante do abandono serem frequentes,
existem aqueles que diante da separação ficam incapazes, temporariamente, de
sentir, outra situação que também pode acontecer é o isolamento como forma de
alcançar a sensação de paz e de alívio, porém, com o passar do tempo as emoções
que mantêm o sujeito impossibilitado de reagir vão sendo reelaboradas e vividas de
39
De modo que, se foi feito algo de errado, logo é possível corrigir. Nesse
processo, vários desejos incidem sobre o sujeito: identificar o problema que
culminou para o término; posteriormente nomear o culpado(a) para que seja
responsabilizado, e, por fim, dedicar-se a corrigir o que julga ter sido o
motivo para ter culminado no término do vínculo, com a esperança que haja
a reconciliação (GOMES, 2020, p. 36).
acompanhar a vida do ex. As pessoas fazem o uso dos aplicativos, podendo ser útil
na sua experiência, porém, em alguns casos, o sujeito usa para se distrair,
preencher o vazio, ou para stalkear seu ex-companheiro, a procura de informações
na tentativa de elaborar o luto do relacionamento, vendo que a outra pessoa está
ativa (GOMES, 2020).
Com isso, é de suma importância enfatizar as contribuições deste capítulo
com o objetivo desse trabalho, que busca identificar padrões semelhantes entre
pessoas após término de relacionamento. Todos esses sentimentos citados são
causados devido ao luto em que a pessoa se encontra, o luto não está relacionado
apenas à morte, perder um relacionamento, uma rotina, planos e sonhos causam
diversos impactos, e lidar com a dor se torna uma tarefa demasiadamente triste e
cansativa. A experiência de um término de relacionamento é, sem dúvidas, uma
vivência devastadora, o que era colorido tornou-se preto e branco. O rompimento da
relação é considerado como um luto, visto que o rompimento desse vínculo causa
um sofrimento devastador, assim, é a experiência do luto, os momentos de alegrias
se ausentam, porém, é necessário vivenciar esse momento. É fundamental que se
viva o luto, e essencial reconhecer a perda do objeto, sentir seu sofrimento, dessa
forma, será possível a elaboração do luto (ROSA; VALENTE; OLIVEIRA, 2013).
Vivenciar a elaboração do luto é angustiante, o sujeito sente-se perdido em
meio à tristeza e incerteza do futuro, uma vez em que os planos foram modificados e
se torna difícil imaginar como será o futuro sem a pessoa amada, já que há
mudança, a passagem de um passado conhecido para um futuro sem previsões
(MARCONDES; TRIERWEILER; CRUZ 2006).
A vida continua, depois de todos acontecimentos considerados difíceis, é
possível mudar, superar e ressignificar. Bronini et al. (2010) afirmam que o término
de um relacionamento amoroso é uma situação vivenciada pela maioria dos
indivíduos na sua vida adulta. Diante do caos em que a vida se encontra, muitos
caminhos não são enxergados, e vários questionamentos surgem em relação ao
futuro, no entanto, tudo passa e se transforma, é claro que não será de um dia para
o outro, não é fácil superar alguém, mas é necessário aceitar a dor e a partida do
outro, esse não é o fim, mesmo que pareça ser. É imprescindível que o sujeito
reconheça a sua perda e sua dor para que, assim, possa elaborar o luto (ROSA;
VALENTE; OLIVEIRA, 2013).
42
3 MÉTODO
de pesquisa, não se pretendendo ter uma leitura do sujeito de forma total, mas sim
observar quais traços são eliciados pelas pranchas, que têm como objetivo evocar
temas relacionados às relações interpessoais. Foram selecionadas 8 pranchas para
pessoas do sexo masculino e 7 pranchas para pessoas do sexo feminino, foram
aplicadas mais pranchas em pessoas do sexo masculino devido às dificuldades que
estes apresentam para se expressar. O sistema de pontuação presente no teste não
é levado em consideração, já que o objetivo da pesquisa não é avaliar os
participantes individualmente.
Para aplicação do teste, o aplicador, apresentou cartões ao sujeito e solicitou
que este lhe contasse histórias, inventadas e sem premeditação, sobre as imagens
presentes nos cartões. A capacidade das histórias revelarem componentes
significativos da personalidade depende do predomínio de duas tendências
psicológicas: a inclinação para interpretar uma situação humana ambígua em
conformidade com as experiências passadas, e a tendência daqueles que contam
histórias para proceder de modo semelhante (MURRAY; BERNSTEIN, 2005).
O teste de apercepção temática (TAT) caracteriza-se como instrumento
utilizados na prática do psicólogo, podendo prover importantes informações para a
elaboração de um diagnóstico quando do processo de avaliação. Para os testes
serem úteis e eficientes, eles devem passar por estudos que comprovem sua
efetividade, ademais, devem atender determinadas especificações que garantam
reconhecimento e credibilidade por parte da comunidade científica e de leigos
(NORONHA; VENDRAMINI, 2003).
O TAT, assim como os demais testes psicológicos, são instrumentos
exclusivos do psicólogo, a psicologia dispõe de um Código de Ética Profissional do
Psicólogo, que orienta o profissional a respeito da amplitude das possibilidades e
das responsabilidades de sua atuação, inclusive no que diz respeito à prática de
avaliação, as pesquisadoras, por ainda não terem concluído a graduação em
psicologia, foram supervisionadas e orientadas durante todo o processo de pesquisa
por uma psicóloga formada e apta para a função. O objetivo da aplicação do TAT no
presente estudo é identificar semelhanças ou diferenças nos resultados obtidos após
a aplicação do teste.
Para ajudar pessoas em fim de relacionamentos, a psicologia decidiu
pesquisar e estudar as reações e efeitos desse fenômeno na vida do ser humano, os
métodos projetivos têm sido de grande valor nesse processo (PINTO, 2014), apesar
44
3.2 Participantes
3.3 Procedimentos
Os testes foram corrigidos de acordo com aquilo que foi preconizado por
Murray, o autor centraliza a interpretação dos testes no herói principal como
catalisador das projeções do sujeito, os traços do herói correspondem à imagem,
real ou ideal, que o sujeito tem ou acredita ter de si. O herói seria o centro das
projeções do sujeito, segundo a linha interpretativa de Murray e Bernstein (2005). A
idade do herói irá informar se o sujeito se percebe como jovem, criança, homem,
maduro ou velho, o sexo diz sobre a identificação do sujeito com o próprio sexo ou
com o sexo oposto. A personalidade do herói, atitudes, sentimentos, conduta, traços,
dentre outras características, traduzem as qualidades que o sujeito possui ou deseja
possuir, já a aparência física se relaciona com os interesses do sujeito, sua imagem
corporal, seu ideal físico, sobretudo, se trata de figuras ambíguas.
Ainda de acordo com aquilo que preconizam Murray e Bernstein (2005), se a
estória possuir uma multiplicidade de heróis pode indicar deslocamento da
identificação do sujeito e revelar importantes fases, aspectos contraditórios, ou uma
48
pessoas testadas são das cidades de Uauá (BA), Euclides da Cunha (BA), Canindé
de São Francisco (SE) e Coronel João Sá (BA).
As entrevistas foram realizadas no período da noite, entre os dias 11/06 e
16/06, tanto as datas quanto os horários foram estabelecidas pelos participantes,
sobre alegação de ser o momento mais calmo do seu dia. As aplicações do
questionário tiveram duração mínima de 12 minutos e máxima de 20 minutos, já a
aplicação do TAT teve duração mínima de 50 minutos e máxima de uma hora e
meia. Foram testados sujeitos de diferentes níveis de escolaridade, desde pessoas
com ensino médio incompleto a pessoas com nível superior, tanto completo quanto
incompleto.
Para aplicação dos testes, as pesquisadoras entraram na plataforma Meet
com antecedência, para testagem da qualidade da conexão e garantia da
visibilidade das pranchas aplicadas, os links das salas on-line foram enviados 5
minutos antes da hora marcada para aplicação do teste. Assim que os entrevistados
adentravam na sala as pesquisadoras se apresentavam, buscando estabelecer uma
relação de confiança com os participantes, logo em seguida, as perguntas presentes
no questionário eram feitas por apenas uma das pesquisadoras, enquanto a outra
anotava as respostas, depois das perguntas feitas, as pesquisadoras explicavam
como funcionaria a aplicação, dando instruções claras a respeito do teste e
esclarecendo possíveis dúvidas dos entrevistados, os testes só foram iniciados
depois que os participantes afirmaram estarem prontos e esclarecidos a respeito do
mesmo.
As entrevistas e as aplicações dos testes foram realizadas através da
plataforma on-line Meet, no geral, não se apresentou grandes problemas ou
dificuldades relacionadas à conexão, no entanto, a terceira entrevista apresentou
dificuldades no áudio, sendo necessário uma breve interrupção durante a aplicação
do questionário, esse foi o único empecilho encontrado, ademais, durante a
aplicação das pranchas nenhum problema foi encontrado, não interferindo nos
resultados. No geral, os sujeitos não apresentaram dificuldades ou inibições para
narrar as histórias ou responder ao questionário, no entanto, alguns se
demonstraram incomodados durante a narração de algumas pranchas, devido às
imagens apresentadas, todas as pranchas foram interpretadas, e apenas um dos
participantes não conseguiu interpretar uma das pranchas, a prancha 5 - Mulher na
51
Passividade
Sexo
PARTICIPANTE 5 Ajuda Afiliação
Desvelo Ajuda
Passividade
Sexo
Tabela 4: Resultados obtidos na quarta prancha.
Fonte: Elaboração da autora (criada em 2021).
FORÇAS DO AMBIENTE DO
MOTIVAÇÕES DO HERÓI
HERÓI
PARTICIPANTE 1 Passividade Afiliação
Conflito
PARTICIPANTE 2 Conflito
Instabilidade emocional
PARTICIPANTE 3 Passividade
PARTICIPANTE 4 Passividade Afiliação
PARTICIPANTE 5 Desvelo Afiliação
Passividade
Instabilidade emocional
Tabela 6: Resultados obtidos na sexta prancha.
Fonte: Elaboração da autora (criada em 2021).
Isso quer dizer que em 52,68% das histórias contadas, o herói da história, ou
seja, o personagem com qual o contador da história se identificou, era caracterizado
como alguém desapontado, desiludido, depressivo, triste, infeliz, desesperado,
melancólico, alguém em sofrimento com narrativas do tipo. Em 39,46% das histórias,
o herói era descrito como alguém em estado de incerteza, cercado de conflitos
morais e inibições paralisantes, apresentando oposição momentânea entre
impulsos, necessidades, desejos e objetivos. Em 36,88% o herói era caracterizado
como alguém cansado, quieto, submetendo-se aos desejos e vontades dos outros
personagens, por apatia ou inércia. Já em 10,57% das histórias narradas o herói
procurava auxilio ou consolo, dependia de alguém para ser estimulado, para ter
clemência, apoio, proteção ou cuidados.
Nas forças presente no ambiente do herói, 63,42% dos conteúdos das
histórias o herói estava ligado a alguém afetuosamente, a um amigo, um parente,
genitor ou parceiro amoroso. Em 18,49% dos conteúdos das histórias os
participantes apresentaram traços de agressão, ou seja, em 18,49% das histórias o
herói era odiado por alguém ou alguém ficava irritado ou furioso com o herói, alguém
o criticava, repreendia, depreciava, ridicularizava, amaldiçoava, ameaçava ou o herói
se envolvia em discussões verbais com outros personagens. 18,49% das histórias
contadas apresentaram traços de ajuda, ou seja, nas histórias criadas pelos
participantes o herói é protegido, estimulado, auxiliado ou consolado por alguém. Em
15,71% dos conteúdos das histórias o herói ficava exposto a imposições, ordens ou
persuasões violentas, alguém tentava forçar o herói a fazer alguma coisa, ou alguém
tentava impedir o herói de fazer algo. Em apenas 7,83% das histórias narradas o
herói perdia algo ou alguém, ou carecia do indispensável para viver.
Observou-se que todos os participantes ao se depararem com as pranchas
acabaram por contar história parecidas evocando traços semelhantes, ou seja,
notamos que de fato existem semelhanças nos resultados obtidos. Nas histórias
contadas por todos os participantes os personagens principais, heróis da história,
eram descritos como pessoas tristes, cercadas de conflitos morais e pessoais,
pessoas cansadas, pessoas que se submetiam às vontades e desejos de outras por
medo ou simplesmente cansaço. Outra característica em comum era que os heróis
dessas histórias estavam sempre ligados a alguém, mesmo quando a imagem
apresentava apenas um sujeito. Esses resultados indicam que existem semelhanças
de sentimento e emoções em pessoas que terminaram os seus relacionamentos
59
Gráfico 1: Traços que mais se repetiram nas histórias narradas: motivações do herói.
Fonte: Elaboração da autora (criado em 2021).
Gráfico 2: Traços que mais se repetiram nas histórias narradas: forças do ambiente do herói.
Fonte: Elaboração da autora (criado em 2021).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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BAUMAN, Z.; DONSKIS, L. Cegueira moral. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
65
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2012. Disponível em: http://www.fepal.org/nuevo/images/168_Baydoun.pdf. Acesso
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propostas. Anais eletrônicos. São Paulo, IPUSP, 2010. Disponível em:
https://www.ip.usp.br/site/wp-content/uploads/2016/12/ANAISDAVIIIJORNADAAPOI
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KLEIN, M.; RIVIÈRE, J. Amor, ódio e reparação. 2. ed. São Paulo: Imago, 1975.
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suporte na projeção identitária do indivíduo pós-moderno. In: XIX Congresso de
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Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2017.
Disponível em:
https://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2017/resumos/R57-0956-1.pdf.
Acesso em: 23 abr. 2020.
APÊNDICE
72
Roteiro de entrevista
1. Idade____ anos.
2. Escolaridade?
( ) Fundamental
( ) Médio
( ) Superior
( ) Pós graduação
3. Gênero?
( ) Homem
( ) Mulher
( ) Não binário
8. Você fez ou deu início em algum processo de terapia nos últimos seis meses?
ANEXOS
75