Resumo
Palavras-chave
Abstract
Keywords
Introdução
Toda revolução tecnológica da humanidade resultou incondicionalmente numa
revolução social, modificando o comportamento de todas as estruturas e instituições. A
descoberta das ferramentas, em sua forma primitiva, possibilitou a nossa espécie o
aprimoramento de suas habilidades de caça, aumentando a disposição de nutrientes,
proteínas, fato que resultou na possibilidade do desenvolvimento de sua consciência e
desencadeou o processo evolutivo que nos colocou no topo da cadeia alimentar do
planeta. Consequentemente, descobriu-se maneiras de cultivar a terra, desenvolveu-se
técnicas para construir abrigos, e assim sucessivamente, até os dias de hoje.[1]
A invenção da prensa, repercutiu numa revolução da informação, da distribuição
do conhecimento. A bíblia, antes artigo de luxo em detrimento da igreja católica, passou
a ser amplamente imprimida, traduzida, isso resultou nas revoluções protestantes que se
institucionalizaram no mundo e dividem espaço na cultura cristã até os dias de hoje.[2]
A revolução industrial, modifica por definitivo a relação do homem com o
planeta, é dado o primeiro tranco para o estado de produção e moldes sociais cujo os
quais o Homem moderno a partir de então se pautou. A definição do trabalho, suas
motivações e necessidades, foram ressignificadas assim como os grandes polos se
efetivaram na razão de sua existência.[3]
A invenção da fotografia, permitiu que arte, que já tinha alcançado o auge da
reprodução realista na renascença, se movesse em outra direção. Os meios artísticos
passaram-se a preocupar-se cada vez mais com causas abstratas, passando o aspecto da
realidade a um plano secundário, na qual esta se deformava e distorcia a partir das
percepções individuais.[4]
O primeiro filme, exibido na frança em 1895, L’Arrivée d’un Train à La Ciotat,
dos Irmãos Lumière, causou rebuliço e desespero aos telespectadores, que viam um
trem chegando em uma estação se aproximar em direção a tela que exibia os
fotogramas. As consequências imediatas foram um enorme assombro, onde os
telespectadores acreditaram que seriam esmagados pelo trem que emergia cada vez mais
próximo em direção ao publico.[5] atemporalmente, nascia a nova modalidade da arte,
assim como eventualmente, essa descoberta acabou por modificar a imprensa, e até
mesmo o comportamento individual a medida que seu advento se tornou cada vez mais
comum.
O rádio, possibilitou a mesma revolução em relação a informação que a prensa
permitiu. Coincidentemente, sua ampliação e consagração coincide com a ascensão dos
governos autoritários e fascistas do século XX.[6] Há também o conhecido caso da
primeira reprodução da novela “Guerra dos Mundos” que causou caos e um delírio
coletivo nos Estados Unidos ao ser exibida e narrar uma invasão alienígena nas cidades
do citado país.[7]
A game de contextos é extrema, relatar cada uma delas seria um trabalho longo,
enfadonho, mas é inequívoca a relação da transformação tecnológica com as
modificações socioculturais por quais a humanidade passa. O modo de vida humano se
modifica em relação ao seu desenvolvimento tecnológico, pautando tais mudanças em
detrimento do conceito de progresso, atribuindo semioticamente a esse conceito uma
noção de aprimoramento da sociedade e do próprio ser humano.
Graças ao pau e a pedra, o Homem não mais teme nenhum animal, e, agora,
inclusive os extingue. Passado o perigo, passa-se preocupar com noções menos criticas
que a fome e a propagação da espécie, e passamos a predar por motivos pouco
essenciais.
Graças a argila, o barro e a madeira, construímos abrigos contra o tempo e
inimigos, e passamos a conglomerar cada vez mais. Hoje, as luzes emitidas em uma
cidade ofuscam o brilho das estrelas no céu, e nossos satélites conseguem fotografar o
brilho dos grandes polos durante a noite.
Não andamos mais na terra como os animais, e os quatro quantos foram
desbravados, conhecidos e modificados. Isso tudo graças ao aparato racionalista do ser
humano e sua incrível capacidade de criar tecnologia, chamamos tais fenômenos de
progresso, mas é evidente a irônica dicotomia de nossa realidade.
A tecnologia nos deveria possibilitar comer mais, viver melhor e trabalhar
menos. Isso, porém, não acontece. Temos capacidade científica para aniquilar a fome
mundial e encontrar outra lamuria para nós debruçarmos. Isso, porém, também não
acontece. Temos conhecimento cientifico e aparato tecnológico para nos precavermos
de uma pandemia ou contê-la com uma incrível minimalidade de danos, e, novamente, é
outra capacidade em nossas mãos que é ignorada, negada e simplesmente descartada.
A energia elétrica finalmente venceu a escuridão noturna, e, em prol dessa
conquista, as jornadas de trabalho se modificaram irreversivelmente. O Homem
moderno se pauta em conceitos de liberdade, progresso e direitos essenciais, mas
trabalha mais que o Homem medieval. A maioria das nações aboliu a escravidão a
quatro séculos atrás, mas hoje há indícios de que o trabalho escravo e infantil é maior
que no tempo do arado e chicote.
O avanço computacional permitiu uma maior integração da sociedade, maior
acesso à informação e ao conhecimento racional. Ainda assim, vemos emergir ao mundo
teorias pré-renascentistas como a da terra plana, ou teorias conspiracionistas e
antivacinadoras, assim como espaços para o livre discurso do ódio e preconceito.[8]
Além de permitimos que jovens morram se submento a cirurgias de alto risco em
detrimento da venda de um perfil estético propagandista.
[1] Oliveira, Márcia Gardênia Monteiro de - Quintaneiro, Tania - Barbosa, Maria Ligia
de Oliveira. UM TOQUE DE CLÁSSICOS, EDITORA UFMG, 2002
[2, 3] BRIGGS, ASSA – BURKER, PETER – UMA HISTORIA SOCIAL DA MÍDIA,
EDITORA ZAHAR, 2006
[4] RAPOSO, MARIA TEREZA RESENDE – O CONCEITO DE IMITAÇÃO NA
PINTURA RENASCENTISTA E IMPRESSIONISTA, (Artigo científico)
[5] TARKOVISKI, ANDREI – ESCULPIR O TEMPO, EDITORA MARTINS
FONTES, 2010
[6] WELCH, DAVID – THE THIRD RECIH: POLITICS AND PROPAGANDA,
ROUTLEDGE, 1993
[7] AFFONSO, VICTOR – COMO FOI A TRANSMISSÃO DE RÁDIO INSPIRADA
EM “GUERRA DOS MUNDOS”, SUPERINTERESSANTE, 2016
[8] LEVITSKY, STEVEN – ZIBLATT, DANIEL – COMO AS DEMOCRACIAS
MORREM, EDITORA ZAHAR, 2018
[9] JUNG, CARL GUSTAV – O ESPIRITO NA ARTE E NA CIÊNCIA – EDITORA
VOZES
[10, 11, 13] JUNG, CARL GUSTAV – O EU E O INCONSCIENTE - EDITORA
VOZES
[12, 14, 15] JUNG, CARL GUSTAV – SÍMBOLOS DA TRANSFORMAÇÃO -
EDITORA VOZES
[16] JUNG, CARL GUSTAV – OS ARQUÉTIPOS E O INCONSCIENTE COLETIVO
- EDITORA VOZES