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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS - ICEB


DEPARTAMENTO DE COMPUTAÇÃO - DECOM

O Paradigma da Influência Tecnológica


nos processos culturais e sociais da
Humanidade no Século XXI
The paradigm of Technological influence in the social and cultural
processes of Humanity in the 21’st century

Bernardo Alexandre Santos Emery

Resumo

Palavras-chave

Abstract

Keywords
Introdução
Toda revolução tecnológica da humanidade resultou incondicionalmente numa
revolução social, modificando o comportamento de todas as estruturas e instituições. A
descoberta das ferramentas, em sua forma primitiva, possibilitou a nossa espécie o
aprimoramento de suas habilidades de caça, aumentando a disposição de nutrientes,
proteínas, fato que resultou na possibilidade do desenvolvimento de sua consciência e
desencadeou o processo evolutivo que nos colocou no topo da cadeia alimentar do
planeta. Consequentemente, descobriu-se maneiras de cultivar a terra, desenvolveu-se
técnicas para construir abrigos, e assim sucessivamente, até os dias de hoje.[1]
A invenção da prensa, repercutiu numa revolução da informação, da distribuição
do conhecimento. A bíblia, antes artigo de luxo em detrimento da igreja católica, passou
a ser amplamente imprimida, traduzida, isso resultou nas revoluções protestantes que se
institucionalizaram no mundo e dividem espaço na cultura cristã até os dias de hoje.[2]
A revolução industrial, modifica por definitivo a relação do homem com o
planeta, é dado o primeiro tranco para o estado de produção e moldes sociais cujo os
quais o Homem moderno a partir de então se pautou. A definição do trabalho, suas
motivações e necessidades, foram ressignificadas assim como os grandes polos se
efetivaram na razão de sua existência.[3]
A invenção da fotografia, permitiu que arte, que já tinha alcançado o auge da
reprodução realista na renascença, se movesse em outra direção. Os meios artísticos
passaram-se a preocupar-se cada vez mais com causas abstratas, passando o aspecto da
realidade a um plano secundário, na qual esta se deformava e distorcia a partir das
percepções individuais.[4]
O primeiro filme, exibido na frança em 1895, L’Arrivée d’un Train à La Ciotat,
dos Irmãos Lumière, causou rebuliço e desespero aos telespectadores, que viam um
trem chegando em uma estação se aproximar em direção a tela que exibia os
fotogramas. As consequências imediatas foram um enorme assombro, onde os
telespectadores acreditaram que seriam esmagados pelo trem que emergia cada vez mais
próximo em direção ao publico.[5] atemporalmente, nascia a nova modalidade da arte,
assim como eventualmente, essa descoberta acabou por modificar a imprensa, e até
mesmo o comportamento individual a medida que seu advento se tornou cada vez mais
comum.
O rádio, possibilitou a mesma revolução em relação a informação que a prensa
permitiu. Coincidentemente, sua ampliação e consagração coincide com a ascensão dos
governos autoritários e fascistas do século XX.[6] Há também o conhecido caso da
primeira reprodução da novela “Guerra dos Mundos” que causou caos e um delírio
coletivo nos Estados Unidos ao ser exibida e narrar uma invasão alienígena nas cidades
do citado país.[7]
A game de contextos é extrema, relatar cada uma delas seria um trabalho longo,
enfadonho, mas é inequívoca a relação da transformação tecnológica com as
modificações socioculturais por quais a humanidade passa. O modo de vida humano se
modifica em relação ao seu desenvolvimento tecnológico, pautando tais mudanças em
detrimento do conceito de progresso, atribuindo semioticamente a esse conceito uma
noção de aprimoramento da sociedade e do próprio ser humano.
Graças ao pau e a pedra, o Homem não mais teme nenhum animal, e, agora,
inclusive os extingue. Passado o perigo, passa-se preocupar com noções menos criticas
que a fome e a propagação da espécie, e passamos a predar por motivos pouco
essenciais.
Graças a argila, o barro e a madeira, construímos abrigos contra o tempo e
inimigos, e passamos a conglomerar cada vez mais. Hoje, as luzes emitidas em uma
cidade ofuscam o brilho das estrelas no céu, e nossos satélites conseguem fotografar o
brilho dos grandes polos durante a noite.
Não andamos mais na terra como os animais, e os quatro quantos foram
desbravados, conhecidos e modificados. Isso tudo graças ao aparato racionalista do ser
humano e sua incrível capacidade de criar tecnologia, chamamos tais fenômenos de
progresso, mas é evidente a irônica dicotomia de nossa realidade.
A tecnologia nos deveria possibilitar comer mais, viver melhor e trabalhar
menos. Isso, porém, não acontece. Temos capacidade científica para aniquilar a fome
mundial e encontrar outra lamuria para nós debruçarmos. Isso, porém, também não
acontece. Temos conhecimento cientifico e aparato tecnológico para nos precavermos
de uma pandemia ou contê-la com uma incrível minimalidade de danos, e, novamente, é
outra capacidade em nossas mãos que é ignorada, negada e simplesmente descartada.
A energia elétrica finalmente venceu a escuridão noturna, e, em prol dessa
conquista, as jornadas de trabalho se modificaram irreversivelmente. O Homem
moderno se pauta em conceitos de liberdade, progresso e direitos essenciais, mas
trabalha mais que o Homem medieval. A maioria das nações aboliu a escravidão a
quatro séculos atrás, mas hoje há indícios de que o trabalho escravo e infantil é maior
que no tempo do arado e chicote.
O avanço computacional permitiu uma maior integração da sociedade, maior
acesso à informação e ao conhecimento racional. Ainda assim, vemos emergir ao mundo
teorias pré-renascentistas como a da terra plana, ou teorias conspiracionistas e
antivacinadoras, assim como espaços para o livre discurso do ódio e preconceito.[8]
Além de permitimos que jovens morram se submento a cirurgias de alto risco em
detrimento da venda de um perfil estético propagandista.

É claro que é notável também a produção de conhecimento voltado a melhoria


da vida, tal fato não pode ser negado, mas, mesmo assim, este está sempre sujeito a
outros interesses. A motivação desse artigo, se constitui em identificar a causa de tal
fenômeno, e propor assim uma solução para tal paradigma.
1.1 Racionalizando o fenômeno
Ainda que infira-se que tais revoluções associem-se com a própria evolução do
ser humano, nenhum desses relatos conjuga que o Homem, a partir dessas
transformações, ampliou a própria consciência, passando a melhor compreender tanto a
si mesmo, quanto ao mundo, apesar de melhor aprender a transformá-lo e
consequentemente, transformar-se. Em tese, ainda usa-se o microscópio como o neófito
usou o porrete.
Isso dá-se pois tais revoluções não são necessariamente conscientes, mas
manifestações espontâneas da vida como um todo.[9] Nossos ancestrais simplesmente
seguiram o caminho que suas observações, necessidades e desejos os levaram a trilhar,
herdando a nós suas descobertas e transformações.
Toda a contextualização oferecida aqui, é baseada, como um leitor mais aguçado
aos campos da sociologia pode notar, no materialismo histórico dialético. Todas as
criticas, fatos e inferimentos abordados se pautam nesse conceito, mas este por si só,
também é incapaz de racionalizar este fenômeno, ainda que o caricature e o
conceitualize muito bem.
Essas revoluções permitiram também a maior propagação do conhecimento, a
descoberta de novos campos científicos; dominar a natureza permitiu o nascimento da
psicologia, e como esta tanto estuda, o Homem nunca dominou a si mesmo.[10]
Como a maioria dos psicólogos canônicos relata em seus estudos, e nesse artigo,
abordar-se-á mais a fundo os estudos de Carl Gustav Jung, a consciência é muito mais
um espelho imperfeito da inconsciência do que a primeira é da segunda.[11]
Não são escolhas racionalistas que levam o Homem a um determinado
comportamento ou modo de vida, ainda que a ciência, eventualmente, preocupe-se em
racionalizar tais escolhas e em determinados momentos, tenham a habilidade de inferi-
las como uma característica natural do ser humano, como assim o fez Jean-Jacques
Rousseau em seu Contrato Social ou como Thomas Hobbes, que incutiu o conceito de
maligno, conceito esse, que é por si só relativo a uma moral social e anacrônica, na
natureza do homem, ao escrever o tão aclamado O Leviatã.
Ainda que esses conceitos sejam concordados, abraçados ou então questionados
e negados, tratam-se de racionalizações subjetivas pré-modernistas, ou seja, o Homem,
naquele momento, ainda que tentasse compreender as coisas, não tinha os aparatos
científicos e conscientes para conhecer a si mesmo.[12]
O antropoformismo era um conceito muito comum, e o ainda o é, assim como
será, a toda consciência que não observa a si mesma. Tal conceito, é exaustivamente
exercido pela arte, e a psicologia o categoriza como um estado diminuto da consciência,
que incapaz de identificar-se, espelha-se nas coisas, nos outros, assim como nas
fantasias.[13]
Ou seja, por mais que naturalizemos uma variedade de conceitos, estados e
modos de vida, estes não são de forma alguma naturais, no sentido etimológico de sua
palavra, mas simplesmente, convenções sociais que todo indivíduo realiza, consciente
ou inconscientemente para se adequar as exigências que a sociedade imprime sob a
realidade num determinado tempo de sua existência.[14] Essas exigências, imprimidas
ao indivíduo de forma inconsciente e naturalizada, são abstraídas da observação
consciente do mesmo, fazendo com que as transformações, revoluções e ‘evoluções’
sigam desenfreada a partir do comportamento orgânico e de certa forma instintivo da
própria sociedade, que ao invés de procurar entender a si mesma, preocupa-se apenas
em justificar suas decisões inconscientes, para então somente as racionalizar como
estados naturais de sua própria existência.
É claro, racionalizar tais fenômenos não tem, de forma alguma, o objetivo de
inferir que estes são positivos ou negativos, mas somente o de defini-los como o que de
fato são e assim si o significam. Como Jung relata, esse é o primeiro passo para a
tomada da consciência, podendo assim, o indivíduo ter maior liberdade, repercutindo a
sua própria individuação.[15]
Não tem-se, como objetivo desse artigo, relativizar quaisquer sejam as
conjunturas sociais na qual o leitor se encontra, para inferir que alguma outra via ou
modo é qualitativamente melhor ou pior. Se aceitarmos os conceitos da psicologia, toda
grande revolução da humanidade foi realizada graças a um grande efeito de massa,
grupo social, que o campo de estudo da psiquê humana categoriza como um estado
diminuto da consciência, animalesco e violento, o que de fato é verdadeiro, se
considerarmos como as revoluções e movimentos sociais de alta comoção geraram, em
seu veicular, consequências sangrentas para a sociedade que as embarcou.[16]
A única via efetiva para a transformação da sociedade é a individual, e isso só
pode ser feito através de uma educação que não se preocupe somente com a formação
de personas sociais, mas de seres conscientes, capazes de identificar as coisas como são,
e não como mero reflexo de seus delírios psicossomáticos associados a uma gigantesca
gama de conceitos abstraídos e naturalizados pelo inconsciente da humanidade.

2. A Computação e os Meios Digitais inseridos ao paradigma


Dado todo o contexto histórico, assim como suas causas e efeitos baseados nas
hipóteses psicológicas vigentes, pode-se definir os fenômenos computacionais, em suas
causas e efeitos, como as mesmas de toda criação inconsciente da humanidade.
Inconsciente no sentido de que sua razão de ser não surgiu de forma consciente,
mas de exigências sociais que tornaram sua existência possível, tanto em termos
materialistas como em termos sensíveis, relativos a necessidade e utilidade. Como todas
as outras transformações tecnológicas, a sociedade não se preocupa em objetificar os
impactos que a mesma abarca na definição e construção do ser humano, assim como as
mudanças que tal tecnologia promove no seu meio de vigência, modificando de maneira
irreversível o comportamento humano a partir do ponto de seu surgimento.
Isso se dá porque a tecnologia é inconscientemente apropriada pela sociedade e
seus interesses. Uma vez que a ferramenta é útil a diversos campos capazes de
satisfazerem as necessidades e desejos do comportamento coletivo do meio a qual se faz
valer, seu advento, após o primeiro momento embrionário de sua criação, logo é
naturalizado, e as consequências de seu uso sem a devida educação de suas causas e
efeitos, são causas que somente se notam a um médio ou longo prazo, quando a ciência
finalmente decide racionalizar tais causas inconscientes, muitas vezes sem a devida
preocupação de defini-la, compreendê-la, e ao mesmo tempo, compreender-se através
de seu objeto de estudo, mas tão somente justificá-la.
Se tivermos como ponto de vista em como a primeira sessão de cinema causou
panico e estranhamento, hoje estamos acostumados a salas de cinema com equipamento
sonoro capaz de provocar efeitos dimensionais na percepção do indivíduo, isso sem
fazer valer as técnicas filmográficas de terceira dimensão ou as ainda embrionarias
tecnologias de realidade virtual.
A consciência é refém de seu próprio tempo, e por mais que nos ensinem que o
homem já viveu nas cavernas ou correu nu pelos prados extinguidos dos dias de hoje,
isso será apenas uma abstração da mente humana, incapaz de compreender toda a
subjetividade daquela realidade que agora é somente memoria ou fantasia. Ou seja, por
mais que abarquemos o conhecimento ancestral, esses tem somente segundo plano a
uma consciência incapaz de distinguir e dissociar a sua realidade do estado natural de
sua existência.
Sob esse ponto de vista, a tecnologia seguirá seu rumo, caótico e indefinível,
vista como mera ferramenta de utilidade social, conquanto seu poder de transformação
da consciência e percepção subjetiva seja completamente ignorado, acobertado pelos
interesses e desejos inconscientes daqueles que se apropriaram de seu uso sem o menor
racionalismo psíquico, ainda que com enorme formação técnica, voltada ao
empreendimento materialista da humanidade.
Mais uma vez, tais fatos não incutam percepções qualitativas a sua razão de ser.
Estas são sempre subjetivas, submetidas pela observação de uma consciência ao analisar
suas considerações.
Por isso se faz necessário a educação e individuação desses fatos, assim como o
de qualquer outro, para que a sociedade, de forma consciente e racional, se aproprie da
ferramenta sabendo de suas causas e efeitos, para assim fomentar, talvez, não um mundo
melhor, mas lucido de suas escolhas e desejos.
2.1 A Computação como meio à educação e individuação do sujeito
REFERENCIAS

[1] Oliveira, Márcia Gardênia Monteiro de - Quintaneiro, Tania - Barbosa, Maria Ligia
de Oliveira. UM TOQUE DE CLÁSSICOS, EDITORA UFMG, 2002
[2, 3] BRIGGS, ASSA – BURKER, PETER – UMA HISTORIA SOCIAL DA MÍDIA,
EDITORA ZAHAR, 2006
[4] RAPOSO, MARIA TEREZA RESENDE – O CONCEITO DE IMITAÇÃO NA
PINTURA RENASCENTISTA E IMPRESSIONISTA, (Artigo científico)
[5] TARKOVISKI, ANDREI – ESCULPIR O TEMPO, EDITORA MARTINS
FONTES, 2010
[6] WELCH, DAVID – THE THIRD RECIH: POLITICS AND PROPAGANDA,
ROUTLEDGE, 1993
[7] AFFONSO, VICTOR – COMO FOI A TRANSMISSÃO DE RÁDIO INSPIRADA
EM “GUERRA DOS MUNDOS”, SUPERINTERESSANTE, 2016
[8] LEVITSKY, STEVEN – ZIBLATT, DANIEL – COMO AS DEMOCRACIAS
MORREM, EDITORA ZAHAR, 2018
[9] JUNG, CARL GUSTAV – O ESPIRITO NA ARTE E NA CIÊNCIA – EDITORA
VOZES
[10, 11, 13] JUNG, CARL GUSTAV – O EU E O INCONSCIENTE - EDITORA
VOZES
[12, 14, 15] JUNG, CARL GUSTAV – SÍMBOLOS DA TRANSFORMAÇÃO -
EDITORA VOZES
[16] JUNG, CARL GUSTAV – OS ARQUÉTIPOS E O INCONSCIENTE COLETIVO
- EDITORA VOZES

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