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Justiça Federal da 3ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

14/11/2019

Número: 5013221-94.2019.4.03.6105
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Órgão julgador: 6ª Vara Federal de Campinas
Última distribuição : 21/10/2019
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Dano Ambiental, Meio Ambiente
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
INSTITUTO SOCIO-CULTURAL VOZ ATIVA (AUTOR) BRUNA CAROLINA SIA GINO (ADVOGADO)
DAIANE MARDEGAN (ADVOGADO)
DEPARTAMENTO DE AGUAS E ENERGIA ELETRICA (RÉU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
22611 30/09/2019 16:31 00 - Petição Inicial_ACP Pedreira Petição inicial - PDF
178
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) FEDERAL ____ª VARA DA
SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CAMPINAS/SP

DISTRIBUIÇÃO COM PEDIDO LIMINAR


AÇÃO CIVIL PÚBLICA

INSTITUTO SÓCIO CULTURAL VOZ ATIVA, associação


sem fins lucrativos, inscrita no CNPJ sob nº 10.916.904/0001-15, com sede na Rua
Paulo Afonso Proença Passarinho, nº 119, Jardim Chapadão, na cidade de
Campinas, Estado de São Paulo, CEP 13.070-165, conforme estatuto social e ata
de eleição da presidência anexos (doc. 01), por intermédio de suas advogadas
que ao final subscrevem, devidamente constituídos pelo incluso instrumento de
mandato (doc. 02), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, nos
termos dos artigos 2º e 5º, inciso V da Lei 7.47/85 e dos artigo 82, inciso IV e artigo
93, inciso I da Lei 8.078/90, combinados com o artigo 52, parágrafo único do
CPC e artigo 109, inciso I da Constituição Federal, propor a presente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS

em face de:

DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DE SÃO PAULO -


DAEE, pessoa jurídica de entidade autárquica, inscrita no CNPJ nº
46.853.800/0020-19, com sede na Rua Boa Vista, 170, Bloco 5, 8º Andar, São
Paulo- SP, CEP 01014-000;

BREVE SÍNTESE DO OBJETO DA PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

Em janeiro de 2019 o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica


do Estado de São Paulo) deu início à construção de um sistema reservatório de
água entre as cidades de Pedreira e Campinas, mais precisamente no rio
Jaguari (rio federal), denominado “Barragem de Pedreira”, que, segundo
alegado, teria como finalidade promover o abastecimento de cidades
localizadas na Região Metropolitana de Campinas - RMC, com a inundação de
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uma área de 202 hectares.

Rua Marciliano, 564, sl. 01 – Centro – Mogi Mirim/SP – CEP 13800-012


Tel: (19) 3552-2253 | e-mail: sgm@sgm.adv.br

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Segundo o DAEE, a barragem seria uma resposta à crise hídrica
vivenciada no Estado de São Paulo nos anos de 2014/2015, embora o estudo
locacional para realização do empreendimento tenha sido elaborado em 2008
objetivando o aumento da disponibilidade hídrica a montante (acima) do
ponto de captação de águas superficiais para a Refinaria de Paulínia – REPLAN
da Petrobrás.

Ocorre que o barramento está localizado a apenas 700m (setecentos


metros) da zona urbana do Município de Pedreira e a cerca de 1500m de bairros
densamente povoados, onde residem famílias inteiras com idosos, crianças,
onde também ficam localizados: comércio local, sedes de órgãos públicos,
muitas creches e escolas. Ou seja, o reservatório será construído a cerca de 2
km do coração da cidade de Pedreira!

Fonte: Google Earth

Além disso, o local onde está sendo construída a barragem é área rica
em fauna e flora (Área de Proteção Ambiental de Campinas), sendo
imensurável o impacto causado ao meio ambiente.

A preocupação decorre, dentre outros motivos, do fato da barragem ter


sido enquadrada na categoria de “DANO POTENCIAL ASSOCIADO ALTO”,
conforme parâmetros estabelecidos pela Resolução nº 143/12 (doc. 12) do
Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH.
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No presente caso a barragem está extremamente próxima a núcleo
urbano. A barragem terá 52 metros de altura, com capacidade para 38 milhões
m³. Portanto, evidente que se houver um acidente ou problemas com
operação, a população não terá tempo para fugir.

Foi assinado abaixo assinado contrário à construção da barragem pela


população, contando com mais de 5.000 (cinco mil) assinaturas (doc. 01). Tal
fato demonstra o forte descontentamento e preocupação das pessoas que
vivem na cidade, as quais temem por suas vidas. O clamor público não pode
ser ignorado!

A presente ação civil pública tem como objetivo precípuo impedir a


construção da barragem para o fim de evitar a ocorrência de uma catástrofe e
neutralizar os riscos sociais e ambientais iminentes, originados da insegurança
e instabilidade da estrutura de alto risco que está sendo edificada. Para tanto,
busca-se paralisar as obras da Barragem Pedreira até decisão final, que espera
venha confirmar a não realização desta obra.

PRELIMINARMENTE

1. DA PREVENÇÃO POR CONEXÃO

Considerando a propositura da Ação Civil Pública nº 5005895-


83.2019.4.03.6105, também referente à Barragem de Pedreira, requer seja a
presente ação distribuída à 6ª Vara Federal de Campinas, diante da
PREVENÇÃO POR CONEXÃO, conforme artigo 2º da Lei 7.347/85.

Tal medida é necessária, pois as duas ações estão relacionadas às obras


da Barragem de Pedreira (mesmo objeto) e objetivam sua paralisação, diante
de irregularidades e ilegalidades constatadas. Contudo, não há litispendência
entre elas, mas conexão, uma vez que possuem causa de pedir diferentes.

2. DA LEGITIMIDADE ATIVA

O INSTITUTO SÓCIO CULTURAL VOZ ATIVA é uma associação sem fins


lucrativos constituída em 26 de março de 2009, conforme se denota do seu
estatuto social anexo. Além disso, suas finalidades são suficientes para abarcar
o conteúdo da presente Ação Civil Pública, que vista justamente discutir obra
de barragem que atinge diretamente direito humano, direito à sadia qualidade
de vida e bem-estar. Portanto, cumprindo-se os requisitos do artigo 5º, inciso V,
‘a’ e ‘b’ da Lei 7347/85.
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DO MÉRITO

1. DA FALTA DE ANÁLISE DE RISCO PARA ALTERNATIVA LOCACIONAL

A Lei 12.334 de 20 de setembro de 20101 ofereceu ao país uma Lei de


Segurança de Barragens, resultado, já naquela época - antes mesmo de
eventos dramáticos como os rompimentos das barragens de Fundão em
Mariana em 2015 e de Brumadinho em 2019 - da preocupação crescente dos
riscos apresentados por empreendimentos que, por suas características,
submetem a vida de pessoas, de infra estruturas, de patrimônios públicos,
privados e ambientais à possibilidade de catástrofes de impacto elevadíssimo.

Referida Lei determina um conjunto de obrigações a partir de seus


objetivos, fundamentos, fiscalização, instrumentos e competências.

A Lei surge a partir de uma nova compreensão sobre os riscos da


exposição a esses empreendimentos e para ordenar não só a necessidade de
adaptação à Lei das barragens então já existentes, mas também para
determinar procedimentos que devem ser observados para a construção de
novas.

Registre-se que mesmo reconhecida como um marco para a sociedade,


há em tramitação no Congresso Nacional diversos projetos que buscam o seu
aperfeiçoamento, verificadas, na prática, lacunas importantes para materializar
sua eficácia, sua eficiência e sua efetividade.

Veja-se por exemplo, o Projeto de Lei nº 550/2019, já aprovado pelo


Senado Federal e aguardando votação pela Câmara dos Deputados. Ele altera
a Lei nº 12.334/2010 (Lei de Segurança das Barragens) e inclui o § 6º ao artigo
16, o qual terá o seguinte teor:

§ 6º Caso a barragem seja classificada na categoria de alto risco, nos termos


do § 1º do art. 7º desta Lei, o empreendedor fica obrigado a remover e a
realocar, às suas expensas, em prazo e condições fixados pelo órgão
fiscalizador, os ocupantes, moradores ou não, das áreas potencialmente
afetadas em situação de emergência, garantindo as condições para a
continuidade das atividades desenvolvidas nos seus locais de origem.

Portanto, já se percebeu que alguns pontos precisam ser aprimorados.

O artigo 4º, da Lei 12.334/2010 determina que a segurança de uma


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barragem deve ser estruturada em suas “fases de PLANEJAMENTO, projeto,


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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12334.htm
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construção, primeiro enchimento e primeiro vertimento, operação, desativação
e de usos futuros...” (inciso I, artigo 4º, g.n)

Ainda amplia significativamente seu conceito, muito além de aspectos de


engenharia, já que determina no inciso V do mesmo artigo acima que “a
segurança de uma barragem influi diretamente na sua sustentabilidade e no
alcance de seus potenciais efeitos sociais e ambientais”. (g.n)

A Barragem de Pedreira (assim como a de Amparo) teve seu processo de


planejamento anterior à Lei de Segurança de Barragens; a opção locacional
por este empreendimento, dentre diversas alternativas apresentadas à época,
ocorreu antes da Lei de Segurança de Barragens e os critérios que ensejaram
sua construção foram de natureza essencialmente econômico-financeira.

O estudo que analisou alternativas para o aumento da disponibilidade


hídrica avaliou unicamente barragens a MONTANTE (ACIMA) da captação da
REPLAN, com possibilidades de 7 eixos, considerados apenas aspectos de
engenharia e ambientais, sendo a barragem de Pedreira (juntamente com a
barragem de Amparo) de destaque para o aumento da disponibilidade hídrica.
Contudo, os estudos não observaram os aspectos relativos à segurança de
barragens, notadamente seus riscos à população a JUSANTE (ABAIXO) do
barramento.

O documento “Relatório 01”, de responsabilidade do DAEE, apresentado


em 2019 (em http://www.daee.sp.gov.br/hd/r01.pdf), oferece um histórico
breve e consistente desse processo:

Em 2006, a Deliberação Conjunta do Comitê PCJ nº 058/06, aprovou o


Parecer Técnico sobre o empreendimento “Modernização da Refinaria de
Paulínia – REPLAN/PETROBRÁS”, onde a empresa Petróleo Brasileiro S/A –
PETROBRÁS solicitou ao Comitê das Bacias PCJ a análise do pedido de
aumento da vazão outorgada do Rio Jaguari – passando de 1.870 m³/h
para 2.400 m³/h. Na referida Deliberação, o Comitê solicitou que fossem
realizados alguns estudos e avaliações mais específicos para que se
verificassem os impactos e ganhos resultantes desta solicitação, podendo-
se destacar a proposta para estudos, projetos e obras para aumento da
disponibilidade hídrica a montante da captação da REPLAN, nas bacias dos
rios Camanducaia e Jaguari (CBH-PCJ, 2006).
Após as solicitações feitas pelo Comitê, a REPLAN/PETROBRÁS apresentou,
em 2008, estudos que contemplavam os Programas de Ações no âmbito do
Comitê das Bacias PCJ que visavam proporcionar melhorias na
disponibilidade hídrica da região. Nos estudos realizados pela REPLAN,
foram evidenciados, novamente, os efeitos da construção de barragens,
com destaque para os barramentos nos rios Camanducaia e Jaguari. A
PETROBRAS contratou o estudo de 7 eixos de modo avaliar a possibilidade
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de comparação entre eles e o estabelecimento dos melhores eixos,


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considerando aspectos de Engenharia e Ambientais. Os barramentos com

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destaque foram Duas Pontes e Pedreira, que permitiriam ganhos na
disponibilidade hídrica entre 7,0 e 8,5 m³/s. O relatório concluía ainda que
“Com a construção dos reservatórios Duas Pontes e Pedreira e as novas
adutoras ocorre um aumento na garantia de atendimento de praticamente
todas as demandas das bacias PCJ, do Túnel 5 e da ETA Guaraú. (g.n)

Este estudo que analisou as opções foi iniciado em 2006, com sua
finalização em 2008, enquanto a Lei de Segurança de Barragens é de 2010 (Lei
n. 12.334/2010). Portanto, a análise não considerou a lei de segurança de
barragens.

Contudo, tal fato não pode ensejar o entendimento de que estaria o


DAEE isento desta análise ou mesmo revisão da alternativa locacional, uma vez
que a Lei é posterior aos estudos. Ao contrário, o encaminhamento do projeto
apenas foi iniciado em 2014. Portanto, houve tempo suficiente para se revisar as
opções apresentadas sob a ótica da Lei de Segurança de Barragens.

A própria declaração de utilidade pública da área ocorreu em 2014


(Decreto Estadual n. 60.141/20142), sendo apenas a partir de então que os
projetos tiveram início, justamente quando se vivenciava a crise de 2014/2015.

A viabilização financeira das obras se deu com a assinatura de um aditivo


de empréstimo tomado pelo Estado de São Paulo junto à CAF – Coorporação
Andina de Fomento (denominação atual: Banco de Desenvolvimento da
América Latina), assinado em 09/06/2017 (doc. 02). O empréstimo inicial seria
para as obras do Programa Sistema de Macrodrenagem do Rio Baquirivu-
Guaçu, mas o Governo do Estado de São Paulo solicitou a modificação do
empréstimo para incluir no escopo as obras das barragens Duas Pontes e
Pedreira.

E a Barragem de Pedreira teve sua construção iniciada apenas em 2019


- quase uma década após a Lei de Segurança de Barragens e 11 anos após a
conclusão dos estudos que a apontaram como uma alternativa - sem que os
órgãos responsáveis pela sua aprovação, em particular o Departamento de
Águas de Energia Elétrica-DAEE, tenham efetuado a necessária revisão e
cotejamento das alternativas para oferta de água com os riscos decorrentes de
sua construção, principalmente à população a jusante (abaixo).

O Projeto Básico de 2012 da Barragem de Pedreira elaborado pela


REPLAN/Petrobrás (doc. 03), não avalia os riscos da população a jusante, mas
tão somente os impactos aos proprietários de áreas que serão inundadas (item
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Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/norma/172354
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9.2.3 - fls. 147/154). Aliás, constata-se o absurdo de a palavra segurança ter sido
encontrada apenas 6 vezes num projeto básico de barragem de 190 páginas.

Portanto, é evidente que se o aspecto “segurança” tivesse sido


considerado, este não seria o local escolhido. Caso haja qualquer problema
com esta Barragem e ela venha a romper, a população não tem chances de
salvamento.

Não há qualquer razão ou justificativa para que não tenha sido feita esta
revisão que claramente levaria ao abandono da opção por Pedreira ou, ao
menos, fosse feita a escolha por outro ponto no mesmo Rio Jaguari que não
estivesse localizado a apenas 700m da cidade!

A Lei de Segurança de Barragens tem seu enfoque totalmente na garantia


de reduzir, mitigar ou eliminar os diversos riscos decorrentes da construção de
um barramento, a ponto de em seu artigo 18 determinar a DESATIVAÇÃO de
barragem que não atender requisitos de segurança, nos termos da lei.

Ora, o que ocorrerá se for verificado depois das obras, já em absoluto


andamento, que a barragem não é segura? De acordo com o artigo 18 da Lei
de Segurança de Barragens, citado acima, pode até mesmo vir a ser
desativada. Ou seja, primeiro se constrói uma barragem que poderia ter sido
revista diante da Lei de Segurança de Barragens, depois se verifica que de fato
ela representa grande risco e desativa? Mais um argumento suficiente para
indicar que esta barragem não pode se manter!!

Portanto, o fator segurança deveria ter sido levado em consideração para


escolha do local, pois houve tempo suficiente para isso desde os estudos iniciais
sobre as alternativas. Não há como dizer que tal situação seria impossível, pois
como se viu o encaminhamento do empreendimento ocorreu muitos anos após
o estudo da alternativa locacional.

Importantíssimo apontar também que, nesse interregno, entrou em vigor a


Lei n. 12.608, de 10 de abril de 20123, instituindo a “Política Nacional de Proteção
e Defesa Civil”, dispondo que todos os entes federados devem adotar medidas
necessárias à redução dos riscos de desastre. De modo que, a incerteza quanto
ao risco de desastre não constituirá óbice para adoção das medidas
preventivas e mitigadoras da situação de risco (artigo 2º, §2º da Lei 12.608/2012,
g.n).
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12608.htm

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Ou seja: mesmo diante do DEVER do Estado em adotar as medidas
necessárias à redução dos riscos de desastre, constrói-se uma barragem sem
que seus estudos de planejamento tivessem considerado a existência de
população a jusante (abaixo) com vistas a garantir sua segurança em caso de
acidente.

Em verdade, no presente caso, justamente cria-se uma situação de risco


para a população de uma cidade inteira.

Assim, o avanço do projeto da Barragem de Pedreira sem que tenham


sido revisados os estudos que definiram a sua localização ferem mortalmente
as disposições das duas Leis Federais de Segurança de Barragem e da Defesa
Civil, que buscam a segurança da população afetada.

Talvez tenham sido precisamente estes os motivos pelo qual este


cotejamento não foi realizado. Se revisados os estudos de planejamento, com
observância das citadas leis esse empreendimento nunca seria viável.

De acordo com o artigo 7º, §2º da Lei de Segurança de Barragens que


determina a necessidade de classificação de risco das barragens, verifica-se a
barragem de Pedreira atingiu o mais elevado nível de risco na sua classificação,
ressaltando-se que referida classificação foi feita ANTES DO INÍCIO DE SUA
CONSTRUÇÃO!

Houve, portanto, todas as condições para uma reanálise da


oportunidade de seguir com a construção desta barragem, com vistas a
garantia da segurança da população a jusante (abaixo) da barragem.

Fica evidente que a recusa sistemática em se adaptar às determinações


legais tem o claro propósito de tornar a construção da barragem de Pedreira
irreversível, propósito este que necessita ser impedido pela intervenção legal
adequada.

2. DA IMPOSSIBILIDADE DE UM PLANO DE EMERGÊNCIA SEGURO e DAS


INADIMPLÊNCIAS DO DAEE NO QUESITO SEGURANÇA.

A Lei de Segurança de Barragens cria a figura do “Plano de Segurança


de Barragem - PSB”, determinando seu conteúdo mínimo. A Lei também aponta
para a necessidade de elaboração de “Plano de Ação de Emergência (PAE),
quando exigido” (artigo 8º, VII da Lei n. 12.334/2010, g.n). O PAE é exigido para
a Barragem de Pedreira, diante de sua classificação como DANO POTENCIAL
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ASSOCIADO ALTO (artigo 11 da Lei n. 12.334/2010).


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Contudo, a Lei de Segurança de Barragens não estipula em que momento
o PAE deve ser elaborado. Esta lacuna, bastante sensível, foi tratada
posteriormente através da Resolução 236/17 (doc. 10)4, da Agência Nacional
de Águas (ANA), pela qual se estabelece que “o PAE deverá ser elaborado,
para barragens novas, antes do início do primeiro enchimento, a partir de
quando deverá estar disponível para utilização” (artigo 23, g.n).

Em que pese o mérito dessa Resolução, há aspectos em que ela acabou


por criar um profundo hiato de informações fundamentais para as pessoas
impactadas pelas novas barragens, que só vão delas [informações] dispor
quando nada mais restar a fazer, adaptando-se ou mudando sua residência da
área passível de impacto.

A ausência destes planos de segurança poderia até mesmo levar a um


grande prejuízo ao erário com o dispêndio de recursos públicos para construção
de um barramento para o qual não seja possível um Plano de Ação de
Emergência minimamente eficaz para garantir a evacuação das áreas
atingidas.

A Resolução 236/17 (doc. 10) 5, da ANA, em seu artigo 2º estabelece zona


de autossalvamento (ZAS), qual seja:

XXIII - Zona de Autossalvamento - ZAS: região do vale a jusante da


barragem em que se considera que os avisos de alerta à população são da
responsabilidade do empreendedor, por não haver tempo suficiente para
uma intervenção das autoridades competentes em situações de
emergência, devendo-se adotar, no mínimo, a menor das seguintes
distâncias para a sua delimitação: a distância que corresponda a um tempo
de chegada da onda de inundação igual a trinta minutos ou 10 km. (g.n)

Isso significa que praticamente toda a área urbana do município está


contida nessa zona de autossalvamento da Barragem de Pedreira! Não é
possível admitir que essa informação, vital para as pessoas só seja obrigatória a
partir do “primeiro enchimento”, havendo aí evidente lapso regulatório.

A barragem terá capacidade para armazenar 38,34 milhões de metros


cúbicos de água e está localizada a apenas 1,5 km dos locais habitados.
Pergunta-se: Quanto tempo levará para a população a jusante ser atingida?
Qual a chance de salvamento?

Basta uma visita à cidade de Pedreira para visualizar nitidamente a


impossibilidade de evacuação da grande quantidade de pessoas que moram
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Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/resolucoes/2017/236-2017.pdf
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Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/resolucoes/2017/236-2017.pdf

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nas regiões que serão atingidas num curto espaço de tempo, estimado em
menos de 3 minutos, para que as águas atinjam os primeiros bairros da cidade.

Neste ponto, a título de exemplo, oportuno mencionar que o Plano de


Ação Emergencial (PAE) do barramento da Pequena Central Hidrelétrica do Rio
Jaguari (doc. 04), que é cerca de 10 (dez) vezes menor em volume de água
que a que está sendo construída e está situada a 12km da zona urbana, prevê
que o tempo para que a cidade seja atingida é de apenas 32 (trinta e dois)
minutos. Ou seja: a água percorre 1km a cada 2min40sgs.

Considerando a localização da Barragem de Pedreira, o tempo para as


pessoas localizadas na zona de autossalvamento se salvarem é muito pequeno.
Utilizando-se como base a estimativa de tempo de deslocamento da água
indicada no PAE da PCH do Jaguari (Doc. 04), no caso de Pedreira é possível
dizer que o tempo para que a água atinja a zona urbana (menos de 2 km da
barragem) é de apenas 5 minutos!!!

Ou seja, um tempo insignificante para se evacuar bairros inteiros, por


PONTES, pois o Rio Jaguari corta a cidade, separando a parte baixa e
densamente ocupada da área com acessos para regiões mais altas!!

É evidente que o empreendimento está colocando em risco a


população de uma cidade inteira, sem o menor compromisso de salvaguardar
as vidas de milhares de pessoas, as quais estarão em situação de risco
permanente e sem condições de fuga em tempo hábil, o que fica evidente pelo
alto volume de armazenamento, como também pela extrema proximidade da
área de alta densidade demográfica, berço da cidade de Pedreira, que se
estende pela principal área de comércio turístico do Município, a qual estará
toda em área de risco, sofrendo severos e incalculáveis impactos.

Um cidadão, carente destas informações, poderia comparecer a uma


audiência pública e votar pela construção da barragem e só depois de pronto
o reservatório tomar conhecimento completo de que tem sua vida e sua
propriedade colocadas em risco de fatalidade!

Segundo o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA (doc. 05 - pág. 77,


item 10), a “obra não afetará a área urbana”, o que, obviamente, não é
verdade. Em razão da classificação de risco do empreendimento, a área a
jusante do barramento (abaixo) será considerada integralmente ÁREA DE
RISCO, sujeita a desastres e isso trará inúmeros e severos prejuízos ao Município,
10

à população e ao comércio local.


Página

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Número do documento: 19093016191335400000020706253
Em seminário realizado na Câmara Municipal de Campinas no dia
08/04/2019, o coordenador da unidade de gerenciamento do programa de
barragens do DAEE, Sr. MAXIMILIANO AGUIAR, confessou expressamente que
NÃO IDENTIFICOU AS ÁREAS A JUSANTE QUE SERÃO AFETADAS EM CASO DE
ROMPIMENTO e, ainda, destacou que REFERIDAS ÁREAS SOFRERÃO LIMITAÇÕES
DECORRENTES DE LEI6.

Portanto, o empreendimento carece de estudo adequado que permita


aferir com exatidão o impacto urbano que será causado pela construção da
barragem.

O DAEE vale-se da lacuna regulatória que permite a elaboração do PAE


no primeiro enchimento para não garantir à população informações cruciais.

Ao menos, pela prudência do gestor da coisa pública, o PAE deveria ser


elaborado antes da construção do empreendimento, para verificar as
condições de viabilidade de eficácia do plano emergencial.

Neste aspecto, a Nota Técnica (doc. 06, p. 2) exarada pela ANA na Ação
Civil Pública, que também discute questões atinentes à Barragem (ACP n.
5005895-83-2019.4.03.6105, 6ª V. Federal de Campinas) reforça esta prudência,
senão vejamos:

Vale indicar que o DAEE se comprometeu publicamente, em encontro


realizado na Câmara dos Vereadores de Campinas, a apresentar relatório de
segurança da Barragem Pedreira até o fim de abril deste ano – 2019 (doc. 07)7.
Entretanto, até o presente este relatório não foi apresentado, como pode se
observar inclusive, pelas respostas de solicitações realizadas perante do SIC
(Serviço de Informação ao Cidadão) (doc. 08).

Aliás, o DAEE é INADIMPLENTE COM TODAS AS BARRAGENS DE USO


MÚLTIPLO SOB SUA RESPONSABILIDADE NO ESTADO DE SÃO PAULO, no que tange
a elaboração do Plano de Segurança de Barragem (PSB) e Plano de Ação
Emergencial (PAE), exigidos pela Lei 12.334/2012 (artigo 19).
11

6Conteúdo disponível em https://www.facebook.com/TVCamaraCampinas/videos/391587978345178/


7 Também disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2019/04/08/daee-preve-
Página

apresentar-relatorio-de-seguranca-da-barragem-de-pedreira-ate-fim-de-abril.ghtml
A fala do Sr. Genivaldo também pode ser obtida diretamente pelo vídeo disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=KtNtbiQK_rU (atenção para os minutos 38 a 39)

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São 76 barragens sob a gestão do DAEE e para NENHUMA o DAEE
apresentou PSB e PAE, mesmo a obrigação de elaboração de tais planos
vigorarem já 9 (nove) anos, conforme tabela de fls. 58 do recém-publicado
Relatório de Barragens no Estado de São Paulo 2019 (doc. 09), de autoria, entre
outros, do próprio DAEE:

FONTE: Relatório de Barragens no Estado de São Paulo 2019 (Doc. 09, p. 58)8

É INACEITÁVEL a TOTAL INADIMPLÊNCIA do DAEE no tocante à segurança


de barragens no Estado de São Paulo quanto ao PLANO DE SEGURANÇA DE
BARRAGENS (documento que contém o PAE). A lista completa dessas barragens
pode ser analisada no Cadastro 1.1, na página 135 e seguintes do referido
relatório.

Para tornar a situação mais grave, a Barragem de Pedreira será a mais


alta de todas elas, já que NENHUMA DAS BARRAGENS SOB RESPONSABILIDADE
DO DAEE TEM A ALTURA DE 52 METROS! CONTUDO, REPITA-SE: TODAS SEM PSB E
PAE!

Nem mesmo a barragem de Jacareí, no sistema Cantareira, com altura


12

de 43 metros e volume total de 1.047,49 milhões de m³ (28 vezes maior (volume)


Página

8
Também disponível em: http://arquivo.ambiente.sp.gov.br/publicacoes/2019/07/barragens-noestadodespaulo2019.pdf
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do que a barragem de Pedreira) possui PNS ou PAE, confirmando a irresponsável
conduta técnica do DAEE no tocante à segurança de Barragens.

Como pode a população da cidade de Pedreira, que será tornada em


área permanente de risco, confiar que o DAEE construirá e administrará a
barragem com observância dos ditames legais vigentes se, para as 76
barragens sob sua responsabilidade, não cumpriu a apresentação do PSB e PAE
mesmo a obrigação estando vigente há 9 (nove) anos???

Observa-se, portanto, que em nenhum momento a SEGURANÇA DO


EMPREENDIMENTO E DA POPULAÇÃO A JUSANTE foi considerada, tanto nas fases
de planejamento quanto nas fases seguintes. E assim continua, já que o DAEE
até o presente momento não disponibilizou o relatório de segurança que ele
próprio havia se comprometido a fazê-lo.

Conforme o artigo 2º da Resolução 236/17 da ANA (doc. 10), a área


situada imediatamente após a barragem, com chegada de inundação em até
30 minutos ou até 10km será caracterizada como área de risco, também nos
termos do previsto no artigo 42-A da Lei Federal 10.257/2001 (Estatuto das
Cidades), incluído pela Lei da Defesa Civil 12.608/2012, senão vejamos:

Art. 42-A. Além do conteúdo previsto no art. 42, o plano diretor dos
Municípios incluídos no cadastro nacional de municípios com áreas
suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações
bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos deverá
conter:
(...)
II - mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos
geológicos ou hidrológicos correlatos; (Incluído pela Lei nº 12.608, de
2012)
III - planejamento de ações de intervenção preventiva e realocação de
população de áreas de risco de desastre; (Incluído pela Lei nº 12.608, de
2012)

Portanto, ESSE É UM RISCO QUE NÃO PODE SER IGNORADO.

Ante à plena vigência da Lei da Defesa Civil nº 12.608/2012 na época da


realização do EIA/RIMA e demais estudos e projetos, era condição
importantíssima que os riscos de desastres tivessem sido ponderados na escolha
do local da construção da barragem.

Por mais que se alegue que as especificações técnicas de engenharia


13

estão sendo seguidas e que ninguém constrói uma barragem para cair ou
mesmo ter problemas de operação, é muito real e constante a ocorrência de
Página

acidentes com barragens, sobretudo no Brasil. E mais, é real o medo que viverá

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esta população, é real a desvalorização dos seus imóveis, dentre muitos outros
prejuízos, mesmo diante da ausência de um rompimento ou falha na operação.

As infelizes tragédias de Mariana (2015), Brumadinho (JAN/2019)


trouxeram os olhos da mídia para esses tipos de desastres, mas muitos outros
acidentes com barragens ocorreram ao longo dos anos sem que tenham sido
noticiados com tamanha repercussão.

Aliás, nem se alegue que as barragens de MARIANA e BRUMADINHO se


tratavam de barragens de rejeitos de mineração, sendo menos seguras que as
barragens de água, razão pela qual não podem ser objeto de comparação.
Tal afirmação por si só não pode ser suficiente para indicar que a Barragem de
Pedreira não representa risco.

Dados mostram que, exclusivamente no Brasil, apenas nos últimos 15


(quinze) anos, ocorreram 5 (cinco) desastres com o rompimento de BARRAGENS
DE ÁGUA:

1 - 17/06/2004 - ALAGOA NOVA/PB – VAZAMENTO DE 17 MILHÕES DE M³ -


BARRAGEM LOCALIZADA A CERCA DE 3KM DA CIDADE.

Construída em 2000, a barragem se rompeu em 2004. O TRF 5 responsabilizou


o Governo do Estado da Paraíba por falta de manutenção.

https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u95952.shtml

https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/5569

http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2016/09/barragem-que-rompeu-
em-2004-e-reinaugurada-no-agreste-da-paraiba.html

http://g1.globo.com/pb/paraiba/jpb-1edicao/videos/t/edicoes/v/apos-
quase-15-anos-moradores-ainda-temem-que-barragem-de-camara-
rompa-novamente/7344618/

2 - 09/01/2008 - VILHENA/RO – CAPACIDADE 114 MIL M³ - BARRAGEM A 51KM


DA CIDADE.

Uma PCH (pequena central hidrelétrica) rompida durante a construção. A


concessionária de energia CEBEl atribui responsabilidade ao consórcio
construtor e este, por sua vez, aponta falhas no projeto da concessionária.

Não houve mortes devido à grande distância entre a barragem e as zonas


povoadas, que permitiram a sua evacuação.
14

http://rondoniaovivo.com/geral/noticia/2008/01/10/barragem-rompe-em-
vilhena.html
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https://www.tudorondonia.com/noticias/rompimento-de-barragem-causa-
danos-ambientais-em-rondonia-,5190.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/07/1653131-apos-7-anos-
rompimento-de-barragem-em-rondonia-segue-sem-punicao.shtml

3 - 27/05/2009 - BARRAGEM DE ALGODÕES EM COCAL DA ESTAÇÃO - PI – 52


MILHÕES DE M³ - BARRAGEM A CERCA DE 10KM DA CIDADE.

Devido às fortes chuvas, a barragem atingiu seu nível máximo (Tal qual
ocorreu em Pedreira em 2011 na PCH Jaguari).

O engenheiro responsável pelo projeto e construção, de renome nacional,


especialista em barragens inspecionou a barragem e atestou sua
segurança.

Horas depois ocorreu o rompimento, causando 10 mortes, dentre as quais


uma criança desaparecida, desabrigou 1200 famílias e arrastou a onda de
devastação por 60km no rio. A tragédia só não foi maior pela retirada de
2500 famílias no início daquele mês pelo “sangramento” da barragem.

https://oglobo.globo.com/brasil/barragem-de-algodoes-se-rompe-agua-
atinge-20-metros-de-altura-em-cidade-do-piaui-3123058

https://cidadeverde.com/colunadozozimo/98530/a-tragedia-de-algodoes-
10-anos-depois

http://g1.globo.com/pi/piaui/clube-rural/videos/t/edicoes/v/rompimento-
da-barragem-algodoes-completa-10-anos/7661512/

https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2019/05/27/apos-10-anos-so-
10percent-dos-atingidos-pelo-rompimento-de-algodoes-retomaram-
atividades.ghtml

https://www.youtube.com/watch?v=T1hm-eOIQEg

4 - 29/03/2014 - LARANJAL DO JARI/AP – ROMPIMENTO DA BRAÇADEIRA DA


BARRAGEM SECUNDÁRIA PARA DESVIO DO RIO. CONSTRUÇÃO INICIADA EM
2011.

4 funcionários morreram durante a construção.

http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2014/03/barragem-de-
hidreletrica-se-rompe-em-laranjal-do-jari-7-desaparecidos.html

https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2014-03-29/amapa-corrige-para-4-o-
numero-de-desaparecidos-apos-rompimento-de-barragem.html
15

5 – 11/07/209 - BARRAGEM DO QUATI - PEDRO ALEXANDRE – BA - E CORONEL


JOÃO DE SÁ, AMBAS NA BAHIA.
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A barragem foi construída em 2000 pelo Governo do Estado da Bahia e
represava água do Rio do Peixe para o período de estiagem. Com as fortes
chuvas, açudes localizadas a montante estouraram causando efeito
dominó. As águas atingiram o município de Coronel João de Sá localizado
a 33km. 14,4 mil pessoas foram afetadas, sendo 470 desabrigadas e 2700
desalojadas de suas casas.

https://www.redebrasilatual.com.br/destaques/2019/07/governo-da-bahia-
confirma-rompimento-da-barragem-de-quati/

https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/07/18/o-que-se-sabe-sobre-a-
inundacao-provocada-pelo-rompimento-da-barragem-do-quati-na-
bahia.ghtml

Nesse levantamento, apenas no período de 15 anos no Brasil houve 1


(um) rompimento a cada 3 (três) anos de BARRAGENS DE ÁGUA. E muitos de
barragens novas, recém construídas ou em construção!!

Além destes, relativos apenas a barragens de água nos últimos 15 anos,


há muitos outros rompimentos no histórico mundial, até mesmo em países muito
desenvolvidos. Segundo Berwig e Engelmann9 “o colapso de barragens em todo
o mundo é o mais frequente e que causou vítimas mais imediatas do que
qualquer outra fonte de geração de energia. As estatísticas mostram que a
frequência de falhas em barragens dependente da localização geográfica, do
tipo e da idade de uma represa”.

E citados autores prosseguem (fls. 628):

Destarte, a sociedade se vê desafiada por riscos que antes eram


desconhecidos, mas que podem ensejar, até mesmo, a autodestruição de
toda a vida do planeta terra. E que sua prevenção e precaução está
condicionada a tomada de decisões pautadas no binômio
probabilidades/magnitude. Mas, que não trazem certezas, mas sim
hipóteses dos possíveis danos irreversíveis e incalculáveis (desastres
ambientais). Outrossim, sob as condições de possibilidade da racionalidade
e principalmente da convicção, o futuro depende das decisões (LUHMANN,
1992, p. 36). Renunciar os riscos significa - sobretudo nas condições atuais -
renunciar a racionalidade (LUHMANN, 1992, p. 59).

Nesse sentido, o DAEE ao realizar o empreendimento de alto risco, sem


no entanto, colocar este quesito como condicionante locacional atua em total
revelia à Lei de Segurança de Barragens e da Lei da Defesa Civil, entre outras
16

9 BERWIG, J. A e Engelmann, W. A Matriz Teórica Jurídica Dos Desastres Ambientais no ciclo e Geração de
Energia na Sociedade Sistêmica. Quaestio Iuris. Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de
Página

Janeiro – UERJ, vol.10, nº. 02, Rio de Janeiro, 2017. pp. 615-634. Disponível em https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/22998/20475. Acesso em 12/09/2019.

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vigentes, parecem não ter consciência da proporção e magnitude do desastre
que pode ocorrer em caso de acidentes com a Barragem de Pedreira.

O grande ponto que deve considerado em relação aos 5 acidentes com


barragens de água ocorridos nos últimos 15 anos no Brasil é que, conforme
aumenta-se a quantidade de água reservada e diminui-se a proximidade de
regiões povoadas, a quantidade de mortes, desaparecidos, desabrigados,
desalojados, afetados e desastres ambientais também aumenta.

Portanto, todo o alegado demonstra que a segurança da população


localizada a jusante da barragem de Pedreira foi TOTALMENTE IGNORADA em
flagrante descumprimento da lei de Segurança de Barragens, o que não
poderia ocorrer, até pela classificação do empreendimento como de ALTO
RISCO pela ANA.

Assim, se existirem alternativas para construção de uma barragem no Rio


Jaguari a montante da REPLAN, como no projeto inicial do DAEE possam ser
construídas, ainda que mediante maior custo de desapropriações ou
realocação de rodovias, deveriam optar por estas últimas, em observância da
SEGURANÇA DA POPULAÇÃO LOCALIZADA A JUSANTE.

3. CRIAÇÃO DE ÁREA DE RISCO – DIREITO À VIDA, À SEGURANÇA E À


PROPRIEDADE DEVEM PREVALECER.

A barragem de Pedreira foi classificada como sendo de “Dano Potencial


Associado Alto”, conforme Resolução 34/2018 da ANA (doc. 11), de acordo
com classificação dada pela Resolução nº 143/12 do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos – CNRH (doc. 12)10.

A classificação da barragem de Pedreira se dá, porque, na hipótese de


rompimento da estrutura, haverá potencial perdas de vidas humanas, impacto
ambiental muito significativo e impacto socioeconômico alto devido à grande
concentração de instalações residenciais, comerciais, agrícolas, industriais,
serviços de lazer e turismo na área afetada pela barragem.

Segundo orientação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, se o


empreendimento obtiver mais de 16 pontos, será considerado de Dano
Potencial Associado Alto. E, no caso da barragem de Pedreira, a pontuação foi
de 27!!!!!!! Ou seja, 11 pontos acima da margem inicial para enquadramento na
categoria de alto risco.
17
Página

10
Também disponível em: http://www.cnrh.gov.br/resolucoes/1922-resolucao-n-143-de-10-de-julho-de-2012/file

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Confira-se abaixo o trecho do Exame Técnico Municipal de Campinas
169/15-II e Parecer Técnico Ambiental nº 087/2015-II (doc. 13) que trata da
classificação e risco:

E não é só. O PRÓPRIO PARECER CONSIGNA QUE A


POPULAÇÃO ESTARÁ EXPOSTA A RISCOS E DEVERÁ SER ALERTADA SOBRE ELES:
18
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A região de risco vai até o centro da cidade, onde está situada a maior
parte do comércio, residências, escolas, creches e sedes de órgãos públicos.
Basta verificar no mapa abaixo toda a área que poderá ser devastada em caso
de rompimento:

Fonte: Google Earth

Não é possível que o DAEE não seja capaz de perceber e reconhecer


que o empreendimento por ele iniciado oferece riscos absolutamente
desproporcionais a qualquer ganho trazido por este empreendimento.

A construção de uma barragem de dano potencial alto, existindo outras


alternativas possíveis, fere de morte os direitos à vida, à segurança e à
propriedade previstos no artigo 5º da Constituição Federal11.

Ora, não se trata de uma barragem de baixo ou médio risco, mas sim de
ALTO risco, e, nesse caso, sendo potenciais os danos causados ao meio
19
Página

11Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]

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ambiente e à sociedade, deve prevalecer os princípios da prevenção e
precaução, a fim de evitar que o dano efetivamente ocorra.

Não bastasse a ofensa a direitos constitucionais, a criação de áreas de


risco é vedada pela Lei Federal nº 12.608/2012 (Lei da Defesa Civil), a qual
determina, em diversos artigos, que os perigos de desastres devem ser mitigados
e as incertezas sobre as suas ocorrências não devem servir de impedimento à
adoção de medidas preventivas e mitigadoras da situação de risco (artigo 2º,
artigo 4º, artigo 5º)

A Lei Federal nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade)12, que regulamenta os


artigos 182 e 183 da Constituição Federal13, prevê em seu artigo 2º que um dos
objetivos da política pública urbana é impedir a exposição da população a
riscos de desastres.

Porém, o DAEE, faz tudo ao contrário! Constrói uma barragem de água


que não teve qualquer análise do ponto de vista de risco à população.

Convém destacar, ainda, que também as disposições constantes dos


artigos 2º, 4º, 6º, 22 e 29 do Código de Defesa se aplicam ao caso e não podem
ser ignoradas, uma vez que os barramentos destinados à captação de água
consistem em um serviço de fornecimento de água e, neste aspecto, a
coletividade potencialmente atingida é considerada consumidor por
equiparação, merecendo a devida proteção, inclusive em caráter preventivo.

Nessa esteira, forçoso reconhecer que o fato da barragem de Pedreira ser


considerada de Dano Potencial Associado Alto já é motivo mais do que
suficiente para impedir a continuidade de sua construção, diante da ausência
de análise do ponto de vista locacional do quesito segurança e, de como visto
acima, a garantia de segurança ser praticamente impossível.

Portanto, devem prevalecer o direito à vida, à segurança e à


propriedade, garantidos constitucionalmente a todos os cidadãos brasileiros,
bem como devendo ser respeitado o disposto nas legislações federais retro, as
quais vedam a criação de áreas de risco e ressaltam a obrigação dos órgãos
públicos de manter a segurança da população.

12Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm


13Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
20

gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem- estar de seus habitantes.
Página

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

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4. APROVEITAMENTO DE PROJETO COM OBJETIVO DIVERSO – FALTA DE
REVISÃO.

Em que pese o DAEE justificar a Barragem de Pedreira para servir ao


abastecimento hídrico da população da Região Metropolitana de Campinas,
constata-se que o empreendimento foi concebido e planejado para outra
finalidade.

Conforme se observa em vários documentos oficiais, os estudos de


viabilidade e escolha dos locais para possível construção de barragens foram
conduzidos sob o objetivo principal de estarem situados a montante (acima) da
captação de água pela REPLAN/PETROBRÁS.

Não foi estudada a eficiência do empreendimento para consumo


populacional.

Corroborando a realização dos estudos para aumento da vazão e


custeados pela REPLAN, temos o Parecer Técnico nº 01/16/IE/ID da CETESB
emitido nos autos do Processo de Impacto 189/2013 em 12/08/2016 (doc. 12),
referente à licença ambiental prévia, que assim relata às fls. 4/174:

3.1. ALTERNATIVAS LOCACIONAIS


Foi desenvolvido inicialmente, pelo DAEE, em 1993, o “Plano Integrado de
Aproveitamento e Controle dos Recursos Hídricos das Bacias do Alto Tietê,
Piracicaba e Baixada Santista” (Plano Hidroplan), no âmbito do Plano
Estadual de Recursos Hídricos – PERH. O plano previa obras e medidas para,
até 2020, atender à demanda hídrica da bacia dos rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí. Nesses já eram previstas barragens no RIO JAGUARI (PANORAMA)
e Camanducaia.

Estes empreendimentos não chegaram a ser implantados, no entanto, mais


tarde, no ano 2006, alguns deles voltaram a ser avaliados dentro do projeto
de “Modernização da Refinaria de Paulínia – REPLAN” – Programa de Ações
no âmbito dos Comitês PCJ. Isto porque a REPLAN, em 2006, por ocasião do
licenciamento do projeto de modernização de suas instalações solicitou, no
âmbito do EIA/Rima do empreendimento, um aumento da vazão
outorgada no rio Jaguari de 1.870m³/h para 2.400m3/h, que é lançado no
rio Atibaia, após o seu uso.

Tal solicitação foi avaliada no âmbito do Comitê de Bacias Hidrográficas dos


rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí- PCJ, tendo sido considerada viável
desde que estivesse condicionada à implantação de um Programa de
Ações no âmbito do referido Comitê. Dentre as ações, foi solicitado que a
REPLAN apresentasse estudos e projetos que permitissem o aumento da
disponibilidade hídrica a montante da captação de água da Refinaria, nas
21

bacias dos rios Camanducaia e Jaguari, reavaliando estudos existentes,


identificando novas opções de mananciais e de alternativas de
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aproveitamento. Os estudos apresentaram as 12 alternativas, sendo 3 eixos


no rio Jaguari (Panorama, Pedreira e Cosmópolis) e cinco eixos no rio

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Camanducaia (Camanducaia, Duas Pontes, Três Pontes, Visconde Sotello e
Rubinho).

Os 12 eixos pré-selecionados foram novamente analisados tendo como


critério de avaliação, basicamente, as interferências ambientais - área
inundada, existência de vegetação nativa, presença de população e
infraestrutura viária, além da capacidade de regularização. Foram então
selecionados 7 eixos (Panorama, Pedreira, Cosmópolis, Camanducaia, Duas
Pontes, Rubinho e Pirapitingui), uma vez que os mesmos apresentam em
geral interferências que podem ser mitigadas e compensadas e que
apresentam boa capacidade de reservação de água.

Os sete eixos selecionados foram reavaliados considerando-se:

• Capacidade de regularização que deveria ser superior a 1,0 m3/s;


• Não ocorrência de impactos significativos, sendo que a inundação da
mata ciliar foi considerada como significativa somente quando sua
remoção interrompesse a continuidade de corredores ecológicos;
• Custos de desapropriação significativos, sendo que o custo foi
considerado significativo no caso de desapropriação de condomínios de
luxo, povoados e regiões com concentração de pequenas propriedades,
principalmente de lazer, nos fundos de vale;
• Relocação de estradas, considerando a extensão atingida e as
características da estrada;
• Possibilidade de usos múltiplos do recurso;
• Qualidade da água.

22

Foi apontado no EIA que qualquer uma das alternativas implicaria em


supressão de vegetação ciliar dos cursos d’água a serem barrados (e sobre
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a fauna associada), a maioria delas degradada em vários locais, mas com
trechos em bom estado de conservação.
Portanto, a seleção definitiva dos eixos contemplou um balanço entre os
impactos positivos decorrentes dos ganhos de oferta de água à bacia do rio
Piracicaba versus perdas de áreas vegetadas na mesma bacia

Foi a própria REPLAN/PETROBRÁS quem custeou a realização tais estudos


locacionais, assim como a confecção do projeto básico da barragem e a
elaboração dos estudos ambientais.

O Ministério Público do Estado de São Paulo, através do Parecer Técnico


emitido CAEx - Centro de Apoio Operacional à Execução nos autos do Inquérito
Civil 14.1097.0000012/2015-4 (doc. 24, p. 11) alertou sobre a motivação do
empreendimento:

Portanto, os estudos do local para a construção da barragem foram


concluídos em 2008, objetivando-se exclusivamente o aumento da
disponibilidade hídrica para a REPLAN/Petrobrás.

Repita-se: Antes da Lei de Segurança de Barragens (2010), Lei da Defesa


Civil (2012) e da Crise Hídrica de 2014/15. E nunca foram atualizados.

Não que isso, por si só, macule a construção da barragem de Pedreira,


mas constata-se que a escolha do local não priorizou o “uso múltiplo das águas”
conforme determina o inciso IV do artigo 1º, da Lei Federal 9.433/97 (Política
Nacional de Recursos Hídricos).
23

Agora, sob a justificativa de reserva de recursos hídricos para


Página

atendimento da população da Região Metropolitana de Campinas, foram


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“aproveitados” os estudos elaborados com vistas ao atendimento do aumento
produtivo da REPLAN.

Esse “aproveitamento” se deu sobretudo em razão de uma necessidade


de resposta rápida para a sociedade frente à crise hídrica de 2014. Mas seria
essa a melhor alternativa, do ponto de vista de reserva hídrica, eficiência para
consumo populacional e DE SEGURANÇA?? Como visto no tópico anterior, NÃO!

O “aproveitamento” desses estudos de 2008 não considerou questões


importantes, como já pontuado no tópico anterior. Ademais, é sabido que todo
projeto construtivo tem um objetivo específico, sendo projetado de modo a
permitir o alcance otimizado das necessidades específicas da finalidade do
empreendimento, em prol da adequação, eficiência e segurança.

Assim, como uma casa não atende as necessidades para abrigar oficina
de automóveis, um prédio condominial não atende nas necessidades de um
cinema, um barramento cujo local foi escolhido para armazenar água para
uma refinaria de petróleo em uma região não serve para abastecimento hídrico
populacional de outra região, senão com grandes alterações inviáveis. E,
especialmente se coloca em risco praticamente toda uma cidade.

Portanto, constata-se que o aproveitamento dos estudos locacionais


planejados para aumento da disponibilidade hídrica da REPLAN/Petrobrás não
atende às necessidades de abastecimento hídrico populacional da RMC como
alegado pelo DAEE, senão com custos altíssimos de construção e operação de
adutoras (como se verá mais adiante), sendo inadequada a escolha do local
para a construção da barragem, cujo objetivo era outro, sobretudo por colocar
a população de uma cidade inteira em constante risco.

5. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA.

A construção da Barragem Pedreira tem como sua principal justificativa


a escassez hídrica que foi vivenciada na região (especialmente entre
2014/2015). Contudo, sua viabilidade não foi cabalmente comprovada, o que
coloca em xeque sua real utilidade pública, requisito absolutamente necessário
para permitir que se estabeleça um empreendimento com tamanho risco à
população associado.

No Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) (Doc. 05), apresentado à


população a ser atingida constam diversas passagens em que se busca reforçar
24

os benefícios com o aumento ao acesso à água e redução dos riscos e prejuízos


diante da escassez hídrica, senão vejamos:
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(...) a construção das barragens torna-se relevante, já que sua principal
função é garantir o abastecimento de água à população, especialmente
no período de estiagem[..] (Doc. 05, p. 4).

Dessa maneira, as barragens irão contribuir para aumentar a


disponibilidade hídrica superficial existente nas UGRHI5, que hoje está
próxima a capacidade de captação, proporcionando maior Segurança
Hídrica dos municípios localizados a jusante e no entorno dos
empreendimentos, dentre eles: Amparo, Cosmópolis, Jaguariúna, Pedreira,
Santo Antonio de Posse, Vargem, Campinas, Paulínia, Americana,
Iracemapolis, Limeira, Piracicaba, Santa Bárbara D’Oeste. (Doc. 05, p. 07,
g.n)

No caso das Barragens Pedreira e Duas Pontes, os reservatórios tem como


objetivo fazer um estoque de água durante a época de chuvas para per
permitir a regularização da vazão do rio Jaguari, importante fonte de
abastecimento dos municípios da região (Doc. 05, p.11, g.n)

Contudo, os benefícios efetivos deste empreendimento não estão


completamente comprovados, dentre outros fatores, porque estão diretamente
CONDICIONADOS à realização de redes adutoras (o que não está comprovado
quanto à sua realização) para que a água chegue até alguns municípios (como
Campinas).

Tal fato consta no sítio eletrônico do DAEE, indicando que “os municípios
situados às margens dos rios Jaguari e Camanducaia, em seus trechos a jusante
das barragens, serão diretamente beneficiados pela mencionada reserva
hídrica, entretanto, para os demais municípios a montante, será necessária a
implantação de um sistema de adutoras para conduzir as águas acumuladas
nas barragens até os mesmos, sistema este denominado Sistema Adutor
Regional PCJ, o SARPCJ”14.

Veja que os estudos destas redes adutoras apenas foram iniciados em


2017, bem após a realização das audiências públicas (2014/2015), ou seja, a
população foi às audiências onde se mencionou as redes adutoras, mas não
havia estudos de viabilidade reais e seus possíveis impactos. Até hoje estas
redes adutoras não foram “assumidas” por nenhum município afetado pela
crise hídrica de 2014. Portanto, não é possível afirmar que haverá algum
interesse em colocá-las em prática, pois nem mesmo há um projeto final que
garanta que irão ocorrer.

Como visto acima, o Parecer Técnico LT 0864-15 do Centro de Apoio


Operacional à Execução (CAEX) (Doc. 24, p. 11) afirma que “não se deve
apontar a construção de tais barramentos como a solução dos problemas de
25
Página

Disponível em: http://www.daee.sp.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2175:sistema-


14

adutor-reginal-pcj--sarpcj&catid=3:newsflash

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abastecimento na região sem a conclusão dos estudos do Sistema Adutor
Regional das Bacias PCJ (SARPCJ)”, pois sem este sistema, pelos dados trazidos,
esta Barragem não soluciona o problema!

Contudo, além de o SARPCJ não ter sido constado no EIA/RIMA,


dificultando o acesso à informação da população, embora sua enorme
importância, os estudos do DAEE não apontam para a viabilidade do SARPCJ.
Há, portanto, uma ação deliberada em construir a Barragem mesmo que não
venha a cumprir as finalidades para as quais foi concebida.

Em 2017 houve revisão da outorga do Sistema Cantareira, que garantiu


maior segurança aos municípios que se valem da sua água. O DAEE fez uma
revisão para o sistema de adutora diante do aumento da outorga do
Cantareira, mas não reavaliou se esta Barragem era realmente imprescindível
diante deste novo cenário (nova outorga com aumento de vazão), apesar de
sua construção ainda não ter se iniciado naquele momento.

Veja-se que a utilidade pública da Barragem não está comprovada, que


o próprio DAEE em audiência judicial acordou que é necessária a revisão da
necessidade / viabilidade e finalidade hídrica da Barragem, conforme pode se
observar pela ata da audiência (Doc. 14) ocorrida nos autos da Ação Civil
Pública 5005895-83.2019.4.03.6105.

Portanto, os interessados na realização da Barragem vêm apontando


que ela soluciona o problema de escassez hídrica, tratando-se esta da utilidade
pública da Barragem que justificaria sua existência, quando isso não está
comprovado e mais, quando a própria operação da Barragem para
atendimento público de cidades como Campinas e TODAS as demais cidades
a montante depende de um sistema de adutora que não se sabe se existirá um
dia.

Fato é que o sistema adutor deveria ter sido incluído no projeto básico de
construção da barragem, mas não o foi, este sistema não foi submetido à
análise dos órgãos competentes e nem obteve as licenças necessárias.

Não há motivos para o fracionamento do projeto, até porque não há


sentido em construir um barramento que envolve tantos impactos ambientais,
sociais e sérios riscos, sem que haja sequer a comprovação da utilidade da
obra, o que só poderia ser aferido com a aprovação conjunta dos sistemas de
adutoras com o projeto principal.
26
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Uma temeridade dessas não pode ser aceita, muito menos quando
praticada por um órgão que deveria zelar pela segurança da população e
que, ao invés de assim agir, fragmenta projetos e exclui a participação popular.

A concepção de empreendimentos de tal porte não poderia ser


analisada separadamente, pois corre-se o risco de escolher o local para
construção da barragem que torne inviável o atendimento da população alvo.

Neste sentido, sob o aspecto dos artigos 8º e 12, da Lei de Licitações (Lei
8.666/93) as obras “barragem” e “sistema adutor” não poderiam ter sido
estudadas e projetadas separadamente, uma vez que a referida lei determina
que a execução das obras e serviços deve ser programada em sua totalidade
inclusive, prevendo seus custos atual e final.

Os estudos e projetos separados de ambos os empreendimentos viola tais


princípios da Lei de Licitações, podendo tornar as obras desnecessárias,
inadequadas, caras, que produzam grandes impactos ambientais e sobretudo’,
INSEGURAS. O desatendimento de tais princípios, como é o caso, implica na
contrariedade do interesse público.

Por último, além dos diversas fatos novos que colocam em xeque a
necessidade de construção da Barragem (falta de análise sob a Lei de
Segurança de Barragens, da Lei da Defesa Civil, projeto anterior à própria crise
hídrica de 2014/2015), há ainda o fato de que em 2017 houve a elaboração de
uma nova outorga pela ANA – Agência Nacional de Águas, para o Sistema
Cantareira (que regulariza o rio Jaguari) com a oferta de mais água para a
bacia do PCJ.

Esse fato foi reconhecido pelo DAE que inclusive, reviu os estudos do
sistema adutor, mas não reviu as consequências dessa nova outorga (2017)
para uma barragem planejada em 2008, e para outra finalidade, conforme a
seguir será argumentado!

Em 2018, o Sistema Cantareira recebeu uma transposição de 5,13m³/s


oriundos da bacia do Paraíba do Sul, aumentando ainda mais sua segurança
hídrica, fato que também não foi, por obvio, considerado no planejamento da
barragem em 2008, mas que poderia ser revisto.

Portanto, além de ser um empreendimento de alto risco, assim


classificado pela Agência Nacional de Águas, para a população de Pedreira,
27

pode-se estar ocorrendo o dispêndio de vultosos recursos públicos


desnecessariamente.
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Na mesma linha, durante a realização da Audiência Pública realizada
em 06/10/2015 em Campinas sobre o EIA/RIMA do empreendimento "Barragens
Pedreira e Duas Pontes” (Doc. 15, p. 4), Michel Almeida, Assistente Técnico do
Ministério Público Estadual do GAEMA, concluiu:

Sob o aspecto da eficiência, sediar a barragem num local onde sejam


necessários recursos construtivos e energéticos para operação de um sistema
adutor, estes contínuos durante toda a vida útil do sistema, pode tornar o
sistema como um todo muito mais dispendioso.

Assim, por mais que existam estudos técnicos individuais para escolha do
local de construção da barragem de Pedreira e, somente agora, um outro para
estudo da viabilidade do sistema adutor, não há estudos conjuntos de ambos
os empreendimentos, demonstrando-se ser a mais funcional, mais econômica
sob o aspecto construtivo e de operação futura, mais eficiente, com menor
impacto ambiental e sobretudo MAIS SEGURA PARA A POPULAÇÃO À JUSANTE!

Vale apontar ainda que a Barragem de Pedreira foi concebida


juntamente com a Barragem Duas Pontes (localizada em Amparo/SP). De
acordo com os estudos do DAEE, as barragens dependem uma da outra. Trata-
se de um empreendimento como um todo. Entretanto, até o presente momento
a barragem Duas Pontes ainda não obteve nem mesmo a outorga da ANA, que
ao contrário foi indeferida pela Resolução n. 935/2016 da ANA (Doc. 16)15.

Portanto, mesmo as alegações de que a Barragem de Pedreira tem


alguma utilidade sem o sistema de adutoras não pode ser comprovado, uma
vez que todas as simulações e estudos foram realizados considerando a
28

existência simultânea das duas Barragens (Pedreira e Duas Pontes). Com isso, é
Página

15 Também disponível em: http://www.agencia.baciaspcj.org.br/docs/resolucoes/resolucao-ana-935-16.pdf

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IMPOSSÍVEL aferir qual o benefício efetivo da Barragem Pedreira com os estudos
já realizados.

Portanto, referido empreendimento não comprova sua utilidade pública


por inúmeras razões, dentre elas porque não atende a população sem as
adutoras e porque não há simulações dos benefícios apenas da Barragem de
Pedreira. Como será se a outorga de Amparo não for concedida? Mais uma
obra (neste caso, que representa alto risco à população) que não atinge os
interesses públicos verdadeiros?

A falta de utilidade pública vem no sentido de reforçar o absurdo que é


manter este empreendimento causador de tanta insegurança e risco à
população a jusante. Questiona-se: como é possível se permitir a continuidade
deste empreendimento se nem mesmo se justifica sua utilidade?

6. DOS RISCOS DECORRENTES DA GEOLOGIA DO LOCAL.

A história tem mostrado que todas as vezes que um critério de segurança


foi ignorado pelo homem, a tragédia instalou-se. Foi assim que aconteceu no
recente caso da barragem de Brumadinho e com diversas outras que se
romperam ou que estão na iminência de se romper. Infelizmente, mesmo com
tantas vidas perdidas, a lição ainda não foi aprendida e os órgãos continuam a
dar andamento a projetos considerados de alto risco.

Com o intuito de facilitar a compreensão, dividir-se-á em tópicos os fortes


riscos ambientais à segurança do empreendimento que foram simplesmente
desconsiderados pelo DAEE:

a) Barragem construída em zona de cisalhamento (rochas porosas e


potencialmente instáveis)

De acordo com o parecer técnico anexo ao ETM (Doc. 13, p. 35), a área
onde estará localizada a Barragem trata-se de Zona de Cisalhamento,
indicando que:
(...) são faixas em que as rochas foram tensionadas, sofrendo
deformação ou ruptura, locais com alto grau de fraturamento. Sendo assim,
para implantação de obras nestes locais, deve-se verificar atentamente
todas as medidas necessárias, a fim de evitar qualquer dano antes, durante
e depois da intervenção.

O resumo executivo do Plano de Manejo16 também reforça que a área


29

da APA possui zona de cisalhamento, tratando-se de “territórios com terrenos


Página

16Plano de Manejo disponível em:


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propensos à recarga hídrica subterrânea em razão do fraturamento e
falhamento das rochas e que prescindem de regramento específico, buscando
minimizar a contaminação do aquífero” (p. 135, g.n). Abaixo a figura que
aponta a área de cisalhamento na APA de Campinas e a sobreposição da
barragem Pedreira sobre esta área.

FONTE: Programas de Gestão - PM (Anexos p. 3717)

A área da barragem está exatamente sobreposta a uma das zonas de


cisalhamento. Apesar disso, o EIA/RIMA não mencionou não trouxe QUALQUER
ESTUDO sobre a Zona de Cisalhamento.

A Barragem está a montante de ocupações humanas, portanto, deixar


de se realizar todos os estudos relacionados à segurança da população é uma
omissão seríssima.

Após muitos questionamentos e solicitações de entidades, o Ministério


Público do Estado de São Paulo elaborou, por meio do seu corpo técnico,
apenas neste ano (2019), o Parecer Técnico nº 0457793 (Doc.17, p. 41 e 42), a
respeito dos aspectos geológicos e geotécnicos da Barragem e onde será
localizada e veja parte das conclusões:

Por outro lado, a caracterização geológica do maciço rochoso


subjacente – em função da complexidade estrutural da rocha (foliação /
variação do grau de fraturamento / Zona de Cisalhamento Valinhos) – ainda
30
Página

17 Disponível em: http://www.campinas.sp.gov.br/arquivos/meio-ambiente/tomo-6-zonemento.pdf

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carece de complementação, que podem ser conduzidas desde já,
incluindo:

• Levantamento detalhado de afloramentos rochosos quanto a


estruturas geológicas, interpretado à luz da análise de fotografias aéreas do
terreno (aerofotogrametria), associando os padrões estruturais medidos em
campo aos lineamentos regionais (falhas e cisalhamentos);
• Interpretação geológica e geotécnica detalhada, expressa em escala
cartográfica adequada, à luz dos dados de sondagem já existentes e em
novas perfurações e ensaios (de permeabilidade)que poderão ser
conduzidos na área, visando validar as cotas de fundação da barragem
(topo da rocha apta a suportar seu peso), bem como as premissas
hidrogeológicas do projeto (estanqueidade do maciço);
• Execução de ensaios complementares in situ e laboratoriais, em amostras
ou locais representativos do maciço rochoso, que podem fornecer subsídios
geotécnicos e hidrogeológicos relevantes ao projeto e à segurança da
barragem.
Na fase de escavação, mapeamentos detalhados do topo da rocha
deverão ser conduzidos, visando eventuais correções do maciço rochoso e
a consequente liberação da fundação.

Portanto, segundo o parecer do CAEX o DAEE deve apresentar


complementação de estudos sobre a zona de cisalhamento. O resultado destes
estudos complementares ainda não foi entregue. De todo modo, a conclusão
acima significa que um estudo de tamanha importância não foi realizado no
início do processo. E mais grave, novamente a população ficou ao longo deste
tempo sem a possibilidade de questionar estes pontos.

Veja-se, não fosse a forte pressão de entidades e da população


preocupadas com o risco e os impactos desta Barragem, esta questão poderia
passar sem ser analisada da forma adequada. Assim, a omissão do DAEE por si
só já demonstra a sua forma de atuar diante da segurança da população,
reforçando os pontos já amplamente explanados nos tópicos anteriores.

Todos os interessados têm o direito de saber dos impactos e riscos de um


empreendimento deste porte! Não se pode admitir que uma característica
como a zona de cisalhamento não esteja contemplada e seja amplamente
discutida! Não é possível se permitir que os estudos sejam apresentados como
uma publicidade do empreendimento, sem, contudo, considerar o alto risco
que representa àqueles que estão ao seu redor.

Todavia, em que pese a latente observação sobre o perigo de uma


construção em zona de cisalhamento, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não
mencionou NADA sobre o assunto. Não há no estudo informação sobre o que
significa uma zona de cisalhamento, nem sobre os riscos que ela pode
31

representar à barragem e à população a jusante.


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b) Risco de erosão reversa (piping).

Segundo o Parecer Técnico Ambiental nº 087/2015-II (Doc. 13, p. 54 e 55)


da Prefeitura Municipal de Campinas é possível que o barramento, durante o
primeiro enchimento, seja afetado por erosões internas devido ao movimento
da água no interior do solo, o que pode ocorrer através do maciço com
surgimento na face de jusante. Nesse viés, foi recomendado uma análise de
estabilidade estrutural do maciço da barragem:

32
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Como pode a população de Pedreira sentir-se minimamente segura
diante desta situação? Novamente, este ponto precisa ser esclarecido e
apontado em documento que aborde a segurança da população a jusante.

c) Risco de rompimento da barragem da PCH Jaguari situada a montante


da Barragem de Pedreira e consequente “efeito dominó”

Ainda no Parecer Técnico Ambiental nº 087/2015-II (Doc. 13, p. 54) da


Prefeitura Municipal de Campinas, foi apontado o risco de rompimento
decorrente do eventual rompimento do barramento a montante (acima), qual
seja a barragem da Usina (PCH) Jaguari:

Do exposto acima, conclui-se que a barragem apresenta risco de


rompimento e este não pode ser ignorado. O Exame Técnico Municipal de
Campinas 169/15-II e Parecer Técnico Ambiental nº 087/2015-II (doc. 13) alertou
inúmeras vezes para eles.

Restam inúmeros questionamentos sem respostas, uma vez que o DAEE


não apresentou o relatório de segurança sobre o qual ele próprio havia se
comprometido. Quais riscos e danos podem ser causados se houver o
rompimento da barragem Jaguari diante da operação da barragem de
Pedreira? Quais riscos e danos podem ser causados por inundações
decorrentes de falhas na operação da Barragem de Pedreira? Quanto todos
este pontos podem representar de risco à população?

Fato é que o monitoramento da barragem por mais eficaz que possa ser
somente servirá para alertar a população acerca do rompimento ou falha em
curso ou, na melhor das hipóteses, na iminência de acontecer. O
monitoramento, por óbvio, não tem o condão de evitar o rompimento ou
inundações decorrentes da má operação.
33

São muitos riscos que vêm sendo preteridos à mercê de uma construção
que ocorre de forma frenética.
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7. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PUBLICIDADE, TRANSPARÊNCIA E DA
PARTICIPAÇÃO POPULAR.

A Constituição Federal e a Lei nº 11.428/2006, conhecida como “Lei da


Mata Atlântica”, prevê a necessidade de elaboração do Estudo de Impacto
Ambiental (EIA), ao qual se dará publicidade.

O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que nada mais é do que um


resumo do EIA, deve ser produzido com informações claras e objetivas
referentes aos impactos do empreendimento, a fim de que a população tenha
acesso e possa efetivamente participar do processo de desenvolvimento do
projeto.

A obrigatoriedade do EIA/RIMA decorre de dois princípios: (i) o da


INFORMAÇÃO, segundo o qual todos têm o direito de ter acesso à informação,
principalmente quando estiverem sujeitos a situações de risco; (ii) o da
PARTICIPAÇÃO, que prevê que a população tem direito de participar do
processo de desenvolvimento de um projeto que lhe causará impactos.

Frise-se, que o princípio da participação popular também consta


estampado nos artigos 191 e 193, da Constituição do Estado de São Paulo18.

Apesar de tudo isso, o EIA/RIMA omitiu da população afetada


informações sobre pontos cruciais, dentre eles: (i) falta de informações sobre a
as características das áreas afetadas - segurança e área de autossalvamento;
(ii) informações inadequadas sobre os benefícios da Barragem de Pedreira, já
que depende do sistema adutor e da barragem Duas Pontes; (iii) falta de
detalhamento do projeto de instalação do sistema adutor; (iii) falta de
informação sobre a construção em zona de cisalhamento e dos demais riscos
envolvidos à geologia da área, (iv) falta de informação sobre a alteração do
projeto básico da barragem e, principalmente; (vi) quais os riscos de acidentes
que a construção de uma barragem tão grande e tão próxima da cidade
trazem à segurança da população.

Nesse sentido, a Resolução CONAMA n. º 009/198719, de seu turno,


estabelece em seu artigo 1º:

Art. 1º - A Audiência Pública referida na RESOLUÇÃO/CONAMA/N.º


001/86, tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do
34

18 Disponível em:
Página

http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b
1c52903256d63004f305a?OpenDocument
19 Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=60

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produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e
recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito.

Ou seja, sempre que houver estudo de impacto ambiental, a população


deve ser informada pelo EIA/RIMA e convocada para audiência pública com
o objetivo de tirar dúvidas, formular críticas e fazer sugestões, na qual deverão
ainda ser informados os riscos de acidentes, consoante dispõe o já citado Art.
193, V da Constituição do Estado de São Paulo. Entretanto, nada disso foi feito
pelo DAEE!

Além disso, não foi ASSEGURADA A EFETIVA PARTICIPAÇÃO POPULAR nas


minguadas audiências públicas realizadas, sendo apenas uma realizada na
cidade de Pedreira (Doc. 18), sobretudo em uma quinta-feira, às 17h, horário
em que muitas pessoas ainda estão no trabalho, com impossibilidade de
participação.

Demais disso, dada a relevância da matéria, acima apontada, evidente


que uma única audiência pública em Pedreira, seria manifestamente
insuficiente para o debate das questões e interesses do Município, sobretudo
diante de tamanha complexidade do empreendimento e impactos que sequer
foram considerados nos estudos elaborados, conforme a seguir demonstrado.
A realização de apenas uma audiência não é suficiente para esclarecer uma
população de aproximadamente 50 mil habitantes como é o caso de Pedreira!!
Especialmente, quando não se trata de fato do risco que o empreendimento
representa para a maioria da população.

Não houve qualquer tipo de comunicação à população leiga, que,


portanto, foi alijada de participar do único encontro acerca do
empreendimento, por não entender as consequências e riscos do
empreendimento.

Ademais, a população deveria ter sido suficientemente esclarecida


sobre os riscos advindos da realização de empreendimento dessa natureza em
região tão próxima da zona urbana.

Uma audiência pública que que omita tal informação é nula.

Demais disso, a audiência pública não assegurou a efetiva participação


popular por convocação exclusiva pelo Diário Oficial, cuja leitura e
acompanhamento é realizado atualmente apenas por órgãos públicos e
operadores de direito, ainda, mediante serviços de recortes eletrônicos.
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Assim, o Diário Oficial NÃO SE TRATA DE ÓRGÃO DE PUBLICIDADE QUE
ATINJA O real OBJETIVO DE SE COMUNICAR COM o público alvo das barragens,
qual seja AS PESSOAS residentes das ÁREAS afetadas DIRETA OU INDIRETAMENTE
pelo empreendimento.

Em suma, a publicação exclusivamente realizada no Diário Oficial, sem


ampla publicidade na localidade onde seria realizada, fere o PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE, EFICIÊNCIA E DA TRANSPARÊNCIA, garantido
pelo artigo 9º, II da Lei de Acesso à Informação – lei 12.527/2001.

Isso, por si só, já seria motivo suficiente para constatar flagrante violação
à participação popular, decorrente de norma Constitucional Federal e Estadual.

Portanto, a audiência pública realizada definitivamente não deveria ser


tida como meio válido para discussão e conclusão sobre este empreendimento.
Até porque, quando realizada parte fundamental das informações não existiam
no EIA/RIMA, que frise-se, algumas delas (como o relatório de segurança) não
existem até hoje.

Não se pode admitir falhas na convocação das audiências públicas,


cuja convocação, ademais, não se pode resumir a mera publicação em Diário
Oficial, sob pena de nulidade.

Anote-se, outrossim, que a própria eleição do Comitê PCJ sofreu


anulação por sentença que reconheceu a reduzida participação popular em
sua composição (Autos da Ação Civil Pública autuada sob n. 1000437-
05.2018.8.26.0451 – 1ª Vara da Fazenda Pública de Piracicaba) (Doc. 19). Assim,
qualquer anuência de tal comitê tenha dado ao empreendimento Barragem
de Pedreira, também deve ser tida por nula!

Apesar da necessidade de importância de tratativas prévias com os


afetados, foi expressamente confessado pelo DAEE em Seminário patrocinado
pela Câmara de Vereadores de Campinas em 8/4/201920 que a população
afetada a jusantes está sendo identificada. O que bem demonstra que não foi
identificada previamente, muito menos comunicada de forma efetiva e
transparente.

Segundo constou do EIA/RIMA, somente a população afetada pelas


desapropriações do barramento foi contatada até o momento, o que, constitui
verdadeiro absurdo, consideradas as consequências para segurança da
36

população a jusante, em área urbana do Município.


Página

20 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KtNtbiQK_rU

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Esse item não pode ser ignorado, subvalorizado, desrespeitado ou
tergiversado, dada sua relevância CONSTITUCIONAL e, especialmente, no caso
concreto em que TODA A CIDADE DE PEDREIRA ESTÁ SOB RISCO EXISTENCIAL.
Essas ilegalidades não podem ser vistas como meros problemas burocráticos,
pois se assim o for, será admitir o desrespeito ao nosso texto constitucional.

A importância da informação e da participação popular é tamanha que


vem expressa em diversos outros textos internacionais dos quais o Brasil é
signatário, quais sejam:

(i) no Princípio 10 da ECO 9221, reforçando a necessidade de assegurar


participação em nível apropriado, de todos os cidadãos interessados;
(ii) na Agenda 2122, que em seu capítulo 10 e seção III destaca a necessidade
de “participação ativa de todos os interessados, especialmente das
comunidades e populações locais”;
(iii) na Carta da Terra23, cuja versão final foi aprovada em 2000, não discrepa,
com princípios que também consagram a necessidade de participação
popular democrática na tomada de decisões:

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e


proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício
do governo, participação inclusiva na tomada de decisões, e acesso
à justiça.
a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber
informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os
planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou
nos quais tenham interesse.
b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a
participação significativa de todos os indivíduos e organizações na
tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de
assembléia pacífica, de associação e de oposição.
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos
administrativos e judiciais independentes, incluindo retificação e
compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.

21 A Organização das Nações Unidas – ONU da qual o Brasil é membro, durante a realização da Conferência
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro de 3 a 14 de Junho de 1992 também
conhecida por ECO-92 (doc. 29), com a participação de 178 Nações, proclamou diversos princípios referentes
à proteção da integridade do meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em:
37

http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/agenda21/Declaracao_Rio_Meio_Ambiente_Desenvolvim
ento.pdf
Página

22 Disponível em:

http://www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/agenda21/Agenda_21_Global_Integra.pdf
23 Disponível em: https://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.pdf

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e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus
próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis
governamentais onde possam ser cumpridas mais
efetivamente.”(g.n)

Estes e outros documentos internacionais, dos quais o Brasil foi signatário,


consolidaram o “Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação
Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no
Caribe” (Doc. 21), que assim dispõe sobre a efetiva garantia de participação
popular na tomada de decisões e acesso à justiça em questões ambientais que
lhes afetem.

O objetivo do acordo é justamente “garantir a implementação plena e


efetiva, na América Latina e no Carina, dos direitos de acesso à informação
ambiental, participação pública nos processos de tomada de decisões
ambientais e acesso à justiça em questões ambientais”

Portanto, não apenas por dispositivos legais pátrios, mas também por
documentos internacionais dos quais o Brasil é signatário, constata-se que por:
a) irregularidade na convocação de audiências públicas; b) realização de
apenas uma audiência pública, “pro forma”, na cidade de Pedreira, mais
afetada pelo empreendimento; c) omissão de dados relativos aos altos riscos
de segurança da barragem de Pedreira de sua população; d) ausência de
consulta popular no processo de tomada de decisões relativas ao meio
ambiente natural e urbano, bem como no aspecto construtivo e de segurança
do empreendimento e) estudos elaborados mediante condição do Comitê PCJ
à REPLAN, em momento que teve seus estatutos declarados nulos justamente
por falta de participação da sociedade civil em sua composição, é
ABSOLUTAMENTE NULO O PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO POPULAR DO EIA/RIMA.

Aceitar todas estas omissões como meros erros materiais passíveis de


correção é ignorar a vontade popular (expressa inclusive no abaixo assinado –
Doc. 01) e seu direito à informação e participação. É afirmar que todos os
brilhantes regramentos que vem sendo criados ao longo da história para permitir
que a população não seja ignorada, são menos importantes.

Nesse sentido, REQUER sejam expressamente apreciados os presentes


argumentos referentes à ausência de efetiva participação popular nas
audiências públicas, declarando-se sua nulidade e dos demais atos sequentes,
bem como a paralisação das obras até que sejam adotadas necessárias
38

providências para permitir-se a participação popular.


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DO PEDIDO LIMINAR
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Da análise de todos os elementos que foram abarcados na presente
ação, resulta indene de dúvidas que a construção da barragem na cidade de
Pedreira se consubstancia em um enorme desatino, que, em homenagem aos
princípios constitucionais e legais que já foram amplamente delineados, deverá
ser veementemente coibido.

O artigo 12 da Lei 7.347/85 estabelece “poderá o juiz conceder mandado


liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”. Por seu
turno, o artigo 300 do Novo Código de Processo Civil estabelece os requisitos
necessários e aptos a viabilizar a concessão da antecipação dos efeitos da
tutela, são eles, destaquem-se:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos


que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo. (g.n)

Consoante já tratado nos tópicos elencados alhures, especialmente


quanto aos itens 1 e 2, que deixam claro que construção da barragem em
Pedreira trará grande risco à população que reside em seu perímetro, bem
como àqueles que moram ou possuem comércios no centro da cidade, local
que sofrerá severos prejuízos em caso de rompimento ou falha na operação.

A probabilidade do direito resulta dos documentos apresentados que


demonstram a pertinência dos argumentos elencados na presente ação,
especialmente no que diz respeito à exposição indevida da população à
situação de risco permanente, em contrariedade ao que prevê a Constituição
Federal e legislações esparsas, bem como no tocante à inutilidade do
empreendimento, que não atingirá o suposto objetivo de distribuir água e evitar
a sua escassez em virtude da não implantação do sistema adutor. O direito à
vida, à segurança, à propriedade e à dignidade da pessoa humana devem
prevalecer.

O próprio DAEE se comprometeu com a apresentação de relatório de


segurança da barragem até abril deste ano (2019). Contudo até o presente
momento nada foi apresentado. Frise-se novamente que o relatório de
barragens do Estado de São Paulo (Doc. 09) demonstra que são 76 barragens
sob a gestão do DAEE e todas sem PSB e PAE, mesmo a obrigação de
elaboração de tais planos vigorarem já 9 (nove) anos.

O perigo de dano e risco ao resultado útil do processo, por sua vez,


39

repousa no fato de que o DAEE continuará dando sequência nos processos de


Página

desapropriação, pagando vultuosas indenizações, e, além disso, se for admitida

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a continuidade da obra, é possível que, até o julgamento final desta ação civil
pública, a construção já esteja tão avançada que o retorno ao status quo ante
se tornará extremamente oneroso aos cofres públicos. Sem contar a
degradação ambiental que já terá sido consumada definitivamente.

As obras seguem em ritmo frenético, conforme demonstra vídeo e fotos


anexas (Doc. 22 e 23)24, mesmo sem ter o DAEE ao menos ter cumprido seu
próprio compromisso de apresentar um relatório de segurança. Repita-se: Se a
liminar não for deferida, as obras, os prejuízos ambientais, o consumo de recursos
públicos e as desapropriações continuarão normalmente. No futuro, o DAEE
certamente se valerá do argumento de que a obra está avançada em tal
estágio que não será viável a discussão.

Assim, a paralização se mostra necessária até que se resolva o mérito da


questão, com o fito de evitar maiores transtornos e prejuízos financeiros que
serão suntuosos, até porque discute-se questões absolutamente controversas
acerca da aprovação e viabilidade do empreendimento.

Vale reforçar que, além do alto potencial de dano que acompanha a


construção, não há sequer um plano emergencial eficaz e, como já reiterado,
o projeto revela-se inútil, ao passo que não prevê a construção das adutoras
que teria a finalidade de transportar a água represada para as cidades da
região. A utilidade pública do projeto não foi demonstrada e cabalmente
comprovada, não há interesse nacional na construção da barragem.

Ademais não foram cumpridos os requisitos legais necessários à garantia


da efetiva participação popular no processo de tomada de decisões para a
construção da barragem nesse local, sendo ainda omitido da população
localizada a jusante o grande risco em que se encontram.

Por fim, é patente a negligência que se vislumbra com a construção da


obra de barragem em Pedreira, estando amplamente caracterizados os
pressupostos legais para a concessão da antecipação de tutela ora pleiteada.

CONCLUSÃO
40
Página

24Veja-se ainda reportagem recente neste sentido:


https://correio.rac.com.br/_conteudo/2019/09/campinas_e_rmc/868606-obras-em-barragem-avancam-
mesmo-sem-o-plano.html

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Ex positis, conclui-se com muita clareza que a construção da barragem
de Pedreira revela-se um sobejo contrassenso, que conspurca de modo
aviltante os princípios constitucionais preconizados pela Carta Magna de 1988,
especialmente o direito à vida, quer seja em decorrência da premente situação
de risco à vida humana e a toda existência patrimonial, econômica, histórica e
ambiental da cidade, ou porque sequer exista uma plano de Ação Emergencial
apto a salvaguardar ou dirimir a vulnerabilidade da população em caso de
rompimento/vazamento da barragem.

A população está diante de uma despicienda ação humana, que,


comprovadamente, possui grandes chances de causar danos sem precedentes
em toda a cidade, uma vez que no caso de rompimento da barragem ou
menos falha operacionais que levem a inundações, a população terá menos
de 5 (cinco) minutos para tentar se livrar do caos, diante da proximidade com
a zona urbana.

Ocorre, no caso em testilha, uma negligência preanunciada pelos


pareceres oficiais; técnicos de engenharia, e pelos munícipes, cujo clamor,
muito embora ecoe pelas ruas da cidade e redes25, urge pelo respaldo
jurisdicional, de forma a restaurar a esperança de vida e futuro próspero para a
população da flor da porcelana.

A barragem que ficará há 1,5 Km de zonas habitadas, apresenta


pontuação 27 numa escala total de 30 pontos, estando 11 pontos acima da
margem inicial para que uma obra seja considerada de “Dano Potencial
Associado ALTO”.

O “Plano de ação emergencial” (PAE) visará tão somente avisar a


população em caso de rompimento da barragem, entretanto, não garante a
vida da população afetada, sobretudo porque não há equipamentos públicos,
rotas de fuga e nem distância suficiente para a tomada de alguma providência
para salvaguarda da própria vida dos moradores de Pedreira.

Assim, tendo como paradigmas outras barragens que se situavam em


distâncias mais longínquas da população e, mesmo assim, quando se
romperam, causaram danos de grande proporção, resta evidente que a obra
em questão é manifestamente inviável sob o ponto de vista da segurança.

Além disso, o empreendimento, por si só, não possui a utilidade que se


imagina, uma vez que se sua construção se efetivar, somente poderá abastecer
41

as cidades vizinhas (a montante) se houver instalação de adutoras para o


Página

25
Movimento na internet: https://www.facebook.com/contrabarragensdepedreiraeamparo/

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transporte da água, cuja providência não consta no projeto básico aprovado.
Além disso, os benefícios desta barragem nem podem ser individualizados, uma
vez que dependem da Barragem Duas Pontes, a qual teve sua outorga
indeferida pela ANA!

Considerando-se o clamor social que se instalou em torno da questão,


restou nítido que a população da cidade rechaça em absoluto o desiderato
protagonizado pelo DAEE e demais autoridades correlatas, ressaltando-se,
neste ponto, o direito do povo ser ouvido sobre o futuro de sua cidade,
garantindo-se o princípio da participação e ainda, da dignidade da pessoa
humana (artigo 1º, CF/88).

Sobreleva, notar, outrossim, o que se vislumbra do mosaico factual sub


examine, é uma afronta às garantias constitucionais vigentes, de sorte que a
construção combatida não deverá prevalecer à luz do que prevê a legislação
brasileira, visto que viola o direito à vida humana e à dignidade dos moradores
que desejam criar seus filhos, cultivar, construir suas casas e frutificar neste solo,
resplandecendo na segurança de que poderão acordar a cada manhã, sem
temer os iminentes riscos de rompimento da barragem.

Por fim, com base nos conceitos supracitados, pugna-se pela imediata
paralização e definitiva interrupção da construção da barragem na cidade de
Pedreira.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, REQUER à Vossa Excelência:

1. Seja deferida a tutela antecipada de urgência inaudita altera pars


para suspender imediatamente a construção da Barragem de
Pedreira até julgamento definitivo da presente ação, diante do
elevado risco de vida e lesão à integridade física e segurança das
famílias residentes a jusante da barragem, conforme demonstram os
fundamentos jurídicos e fatos supra corroborados pelos documentos
anexados ao presente pedido;

2. A citação do requerido para que, querendo, conteste a presente


ação no prazo legal, sob pena de revelia a confissão, bem como
intimação do Ministério Público;
42

3. Intimação da ANA – Agência Nacional de Águas (autarquia sob


Página

regime especial, com autonomia administrativa e financeira, inscrita


no CNPJ nº 04.204.444/0001-08, com endereço na AE SPS AREA 05
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QUADRA 03 BLOCO B, L, M, sem número, Asa Sul, em Brasília/DF – CEP
70610-200) e da CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (sociedade de economia mista, pessoa jurídica de direito
privado, constituída pela lei estadual 118/1973, inscrita no CNPJ sob o
nº 43.776.491/0001-70, com sede situada à Avenida Professor
Frederico Hermann Junior, 345, Alto de Pinheiros, na cidade de São
Paulo, Estado de São Paulo, CEP 05459- 900), para que se manifestem
quanto ao interesse de atuarem como terceiras interessadas, uma vez
que são responsáveis pela emissão da outorga da barragem e
licença ambiental, respectivamente.

4. Seja expressamente apreciado o pedido de nulidade das audiências


públicas realizadas sobre o EIA/RIMA e conforme argumentos
expostos no item 8 da presente, referentes à ausência de efetiva
participação popular, declarando-se a nulidade de referidas
audiências públicas e demais atos sequentes;

5. Ao final, seja a presente ação civil pública julgada TOTALMENTE


PROCEDENTE, para confirmar a tutela antecipada e determinar a
paralisação total das obras da Barragem de Pedreira em definitivo,
fazendo prevalecer o direito à vida, da participação popular, à
propriedade e sobretudo à segurança da população da cidade de
Pedreira, mormente pelo local do empreendimento, situado a
apenas 700 metros da zona urbana de Pedreira, ter sido escolhido
sem considerar o fator de risco à população da cidade, cuja
barragem apresenta 27 pontos numa escala máxima de 30 pontos,
caracterizando-a como de “Dano Potencial Associado ALTO e pela
inexistência de um plano de Ação Emergencial efetivo e
comprovadamente apto a salvaguardar ou dirimir a vulnerabilidade
da população a jusante em caso de rompimento/vazamento da
barragem;

6. Sejam os Requeridos condenados recompor os prejuízos ambientais


que causaram com as obras, restituindo os locais afetados ao status
quo ante ao início das obras;

7. A produção de todas as provas em direito admitidas, notadamente,


documental, perícia de engenharia, geologia entre outras áreas que
se mostrarem necessárias, testemunhal, depoimento pessoal,
requisição de informações com expedição de ofícios a órgãos
43

públicos ou privados, além daquelas outras que se fizerem


pertinentes.
Página

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Requer, ainda, que as futuras publicações sejam efetuadas EXCLUSIVAMENTE
em nome da advogada Bruna Carolina Sia Gino, OAB/SP 275.634, a fim de evitar
nulidade.

Conclui-se atribuindo à presente causa o valor fictício de R$ 1.000,00.

Termos em que, pede deferimento.


Campinas, 30 de setembro de 2019.

DAIANE MARDEGAN BRUNA CAROLINA SIA GINO


OAB/SP 290.757 OAB/SP 275.634

RELAÇÃO DE DOCUMENTOS QUE INSTRUEM A INICIAL:

Doc. 01 - Abaixo Assinado;


Doc. 02 - Aditivo Empréstimo – CAF;
Doc. 03 – Projeto Básico de 2012 da Barragem de Pedreira elaborado pela
REPLAN/Petrobrás;
Doc. 04 - Plano de Ação Emergencial (PAE) do barramento da Pequena Central
Hidrelétrica do Rio Jaguari;
Doc. 05 - Relatório de Impacto Ambiental – RIMA;
Doc. 06 - Nota Técnica da Agência Nacional de Águas;
Doc. 07 – Reportagem compromisso DAEE – relatório de segurança;
Doc. 08 – Informação do SIC: ausência do relatório de segurança;
Doc. 09 - Relatório de Barragens do no Estado de São Paulo – 2019
Doc. 10 – Resolução 236/17 da ANA;
Doc. 11 – Resolução 34/2018 da ANA;
Doc. 12 – Resolução nº 143/12 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos –
CNRH;
Doc. 13 - Exame Técnico Municipal de Campinas 169/15-II e Parecer Técnico
Ambiental nº 087/2015-II;
Doc. 14 – Ata audiência ACP nº 5005895-83.2019.4.03.6105;
44

Doc. 15 – Audiência Pública realizada em 06/10/2015 em Campinas sobre o


EIA/RIMA;
Página

Doc. 16 – Resolução n. 935/2016 da ANA;

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Doc. 17 – Parecer Técnico nº 0457793, do CAEX;
Doc. 18 – Ata Audiência Pública em Pedreira - EIA-RIMA - de 15-10-2015;
Doc. 19 – Sentença da Ação Civil Pública n. 1000437-05.2018.8.26.0451 que
declarou a nulidade da composição do Cômite PCJ por falta de participação
popular;
Doc. 20 – Parecer Técnico nº 468/18/IE da CETESB;
Doc. 21 - Acordo Regional sobre Acesso à Informação Meio Ambiente;
Doc. 22 – Vídeo das obras;
Doc. 23 – Imagens das obras (setembro/2019).
Doc. 24 - Relatório CAEX-MP-SP

45
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