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Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Humanas e Letras


Departamento de Psicologia
Disciplina Psicologia Social II

Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia


 Você tem preconceitos?
• Sim!

• Todos nós possuímos preconceitos, ainda que de forma sutil e


mascarada. Você pode ter preconceitos com uma pessoa ou
grupo que gostam de determinado gênero musical, que se
vestem de determinada maneira, que falam com um sotaque
diferente, etc.

• O preconceito é um problema de e para toda a humanidade,


ninguém escapa totalmente de seus efeitos.
• Assim, o preconceito é algo onipresente e que
afeta a todos nós.

• Pode surgir de grupos majoritários para


grupos minoritários (ex: de católicos em
relação a umbandistas), ou de grupos
minoritários para grupos majoritários (ex: de
ricos em relação a pobres).

• Incontáveis elementos podem gerar


preconceito: nacionalidade, gênero, etnia,
credo, orientação sexual, aparência física,
deficiências, doenças, etc.

• Exemplos de figuras do preconceito que


existem em nossa cultura são da “loira burra”,
do “c.d.f.” e da “mulher no volante”.
• O estudo do preconceito floresceu durante a década de 1940,
quando o facismo causou uma série de danos sociais da
Europa (Myers, 1995).

• Por definição, o preconceito é:


– 1) uma avaliação negativa não válida de um grupo ou de
seus membros (Goldestein, 1983),
– 2) um julgamento precipitado que possui um caráter afetivo
de favorabilidade ou desfavorabilidade a um grupo ou
pessoas (Allport, 1954).

• Jones (1973) sublinha na concepção de Allport que o


preconceito é uma atitude negativa e que diz respeito a uma
situação de desvantagem em que se encontra o objeto do
preconceito.
• O preconceito gera uma série de consequências para o seu
alvo, desde as mais sutis como a diminuição da autoestima e a
exclusão social; até as mais graves como ódio, assassinato e
genocídio.

Exclusão Social

Judeus em um campo de concentração


durante o Nazismo na Alemanha
• Uma vez que preconceito consiste em uma atitude (negativa),
é constituído de três componentes: afetivo, cognitivo e
comportamental.

Afeto

Preconceito
(atitude)

Comporta-
mento
Cognição
• O componente afetivo do preconceito diz respeito às emoções
em relação ao objeto, como raiva, ódio, nojo, desprezo.

• O componente cognitivo, por sua vez, se refere aos


pensamentos ou crenças a respeito do objeto do preconceito,
por exemplo, que os alemães são frios ou os árabes terroristas.
Aqui estão inseridos os estereótipos.

• Finalmente, o componente comportamental consiste nas ações


que são dirigidas ao objeto do preconceito, como exclusão,
evitação e discriminação.
 Estereótipos
• Estão inseridos no componente cognitivo do preconceito.

• São crenças generalizadas de que determinadas características


descrevem um grupo ou seus membros, sem considerar suas
diferenças individuais.

• Uma vez formados, os estereótipos são resistentes à novas


informações sobre tal grupo.
Exemplos
“Judeus só pensam em dinheiro”.
“Alemães são frios”.
“Mulher no volante, perigo constante”.
“Funkeiros são fúteis e depravados”.
• Os estereótipos nem sempre envolvem o fator afetivo ou são
intencionais.

• Cognitivamente, é uma maneira que todos nós temos de simplificar


as informações que temos do mundo.

• Allport (1954) descreve a estereotipagem como a “lei do menor


esforço”. Considera que o mundo é muito complexo para termos
uma atitude isolada para cada coisa, em vez disso, utilizamos atalhos
ou esquemas para economizar tempo e energia cognitivos,
caracterizando os elementos segundo categorias em um processo
chamado de categorização social, daí surgem os estereótipos.
• Os esquemas cognitivos que utilizamos podem ser de
pessoas, grupos, situações e papeis (Michener,
DeLamater & Myers, 2005).

• Os esquemas de pessoas são atalhos cognitivos que


utilizamos para descrever a personalidade de outros
indivíduos e a expectativa do seu comportamento,
seja a respeito de indivíduos específicos (ex: Eduardo
Cunha) ou tipos de indivíduos (ex: políticos).

• Já os esquemas de grupos ou estereótipos


propriamente ditos, dizem respeito às característica
que acreditamos descreverem um grupo específico e
indicarem os atributos e comportamentos de seus
membros.
• Uma vez que temos uma crença estereotipada sobre
certo grupo, tendemos a agir com discriminação em
relação a ele, isto é, tratamos seus membros de
maneira injusta.

• A discriminação, portanto, consiste em uma ação


negativa, injustificada e prejudicial em relação a
membros de um grupo simplesmente porque
pertencem a este grupo.
• Vejamos o vídeo a seguir....

• Dois homens, um branco e um negro, tentam em dois momentos distintos


abrir um carro com a desculpa de terem trancado a chave dentro, sendo o
que comunicam quando alguém se aproxima. Vejamos o tempo que as
pessoas levam para abordar cada ator e suas atitudes a cada um deles.
 O que causa o preconceito?
• O que faz as pessoas serem preconceituosas?

• Psicólogos evolucionistas têm sugerido que os animais têm uma


forte tendência a se sentirem mais favoráveis na presença de outros
geneticamente semelhantes, e a apresentar aversão e medo a animais
de outras espécies, isso sugere uma base natural do preconceito e
discriminação.
• No entanto, devemos considerar que somos diferentes dos demais
animais, com tendência a sermos cordiais e cooperativos, assim o
preconceito não ocorreria por razões naturais, mas seria incentivado
ou não pela cultura, que nos ensinaria a atribuir qualidades
negativas a pessoas diferentes de nós.
• A psicologia social oferece algumas explicações para a
ocorrência do preconceito, como:

 Os processos de cognição social,

 As tendenciosidades atribuicionais,

 Os conflitos grupais.
 A categorização Social

• Não interpretamos cada estímulo do meio como algo novo e completamente


desconhecido.

• Em vez disso, confiamos em nossa percepção de já ter visto estímulos semelhantes no


passado e agrupamos o novo estímulo nesta categoria, nos ajudando a interpretá-lo.

• Igualmente, categorizamos pessoas segundo gênero, etnia, nacionalidade, classe social,


etc.

• Embora útil e necessária, a categorização social é um processo que pode levar ao


preconceito e à discriminação.
• O primeiro passo para o preconceito é a criação de grupos.
Categorizamos as pessoas em grupos de acordo com
características semelhantes às nossas (endogrupo ou
intragrupo) e diferentes das nossas e de outras pessoas
(exogrupo ou extragrupo).

• Tajfel (1982) considera que o favorecimento do endogrupo e a


discriminação aos membros do exogrupo são motivados pela
autoestima.
• As pessoas buscam elevar sua autoestima identificando-se com
grupos sociais que acreditam ser superiores a outros grupos.

• Mesmo que as razões para a diferenciação dos grupos sejam


mínimas e triviais (paradigma dos grupos mínimos), as
pessoas tendem a querer “ganhar” dos membros do exogrupo,
tratando-os de maneira discriminada e desleal, pois assim
aumentam sua própria autoestima.

Membros da Ku Klux Klan,


movimento da supremacia
branca nos EUA.
• Outro elemento importante no processo de categorização
social é a homogeneidade do exogrupo.

• As pessoas que pertencem a um grupo (endogrupo) tendem a


ver as que compõem um grupo diferente (exogrupo) como
sendo mais semelhantes entre si do que realmente são, e
confiam que caso saibam algo sobre um membro do exogrupo,
pensam que sabem algo sobre todos os demais.

• Em outras palavras, generalizam as características de um


membro do grupo para todo o grupo, caso considere este
indivíduo um membro típico do grupo.
• Uma vez estabelecidos o preconceito e o estereótipo, estes
são resistentes a mudanças mesmo que novas informações
sejam dadas.

• Isto ocorre devido aos aspectos afetivo e cognitivo do


preconceito.

• Uma vez condicionada emocionalmente, uma pessoa


preconceituosa não mudará suas atitudes frente a argumentos
lógicos, pois estes não são efetivos em neutralizar emoções.
• Já no aspecto cognitivo, informações mais consistentes com o
atitude do preconceito ou estereótipo receberão mais atenção
que aquelas que são inconsistentes.

• Assim, se o membro de um grupo com o qual se tem


preconceito se comporta de maneira coerente com esse
preconceito, o que é esperado pela pessoa preconceituosa, isso
receberá mais atenção e fará com que o estereótipo seja
fortalecido.
 Ativação dos Estereótipos
• Os estereótipos refletem crenças culturais que ainda que não
concordemos com eles poderemos facilmente identificá-los como
sendo crenças comuns dos outros.

• Pesquisas (Greenberg & Pyszczynski, 1985; Henderson-King & Nisbett, 1997) mostram que
mesmo que não tenhamos preconceito sobre determinado grupo, o
simples fato de conhecer um estereótipo pode afetar nosso
pensamento sobre seus membros.

• Devine (1989) mostrou como as crenças estereotipadas e


preconceituosas podem afetar nosso processamento cognitivo,
estabelecendo diferença entre os processamentos automático e
controlado da informação.
• No processamento automático, os estereótipos aparecem sem
serem convidados, pois não é possível controlar o que pensamos.

• Entretanto, em pessoas que não são profundamente preconceituosas,


os processos cognitivos que são controlados podem suprimir tais
estereótipos.

Processamento
Objeto automático Estereótipo

Processamento
• Assim, o modelo de Patricia Devine sugere que

controlado
o processamento automático traz a informação
(o estereótipo) à tona, mas o processamento
cognitivo controlado ou consciente pode
desconsiderá-lo.
 Correlação ilusória
• Outra maneira pela qual o processamento cognitivo da
informação fortalece o pensamento estereotipado é pelo
fenômeno da correlação ilusória.

• Ocorre 1) quando acreditamos que duas coisas estão


relacionadas mesmo que não haja relação entre elas e 2) mais
facilmente quando os acontecimentos ou pessoas não nos são
comuns.
• Por exemplo, suponha que você não
tenha contato com judeus, mas
conhece um judeu que é banqueiro, e
posteriormente um judeu economista,
isso fará com que você relacione os
judeus ao dinheiro, reforçando o
estereótipo de que são materialistas.

• Essas correlações podem ser formadas


mais passivamente, sem a necessidade
de contato direto com os membros de
determinado grupo, podendo ser
Silvio Santos, famoso empresário e
banqueiro brasileiro – judeu. formadas por meios como a televisão
e jornais.
Tendenciosidades atribuicionais
• As pessoas não nos fornecem de imediato informações sobre sua
personalidade e comportamentos.

• Sendo assim, utilizamos processos de atribuição para determinar porque as


pessoas ou grupos se comportam de determinada maneira.

• Os estereótipos são persistente porque temos uma tendência a fazer


atribuições disposicionais, isto é, concluir que o comportamento de uma
pessoa é devido a aspectos de sua personalidade.

• Entretanto, muito do comportamento humano é devido a aspectos da


situação em que está inserido.

• Este é o erro fundamental da atribuição, que pode nos levar a cometer


enganos em relação a uma pessoa, sendo ainda mais grave quando o
cometemos em relação a um grupo inteiro – o exogrupo.
• Em outras palavras, quando as pessoas se comportam de
maneira consistente com nossos estereótipos, ignoramos
informações que possam explicar as razões de seu
comportamento e acreditamos que este é devido a aspectos de
sua personalidade e não a circunstâncias da situação vivida.

• Realizamos atribuições disposicionais e não situacionais para o


comportamento alheio.
 A crença no mundo justo
• Ainda dentro dos processos
atribuicionais, uma vez que não
temos empatia pelos membros de
um grupo, podemos vir a culpá-
los por sua situação.

• Por exemplo, uma mulher que foi


estuprada pode ser culpada pelo
fato de usar roupas curtas. Ou
uma pessoa que foi assaltada
pode ser culpada por estar
falando com o celular na rua à
noite.
• Essa tendência a culpar a vítima é motivada pelo desejo de ver o
mundo como sendo um lugar justo, onde as pessoas recebem o que
merecem e merecem o que recebem – a crença no mundo justo
(Lerner, 1980, 1991).

• Assim, para apoiar a crença de que o mundo é justo, novamente


fazemos atribuições disposicionais – culpamos a vítima – e não
situacionais – o incidente se deve à situação, podendo ocorrer a
qualquer um, a qualquer tempo.
Profecias auto-realizadoras
• Uma vez que que temos um estereótipo formado, passamos a
agir em relação às pessoas estereotipadas de maneira que as
façam se comportarem de modo a reforçar nosso estereótipo.

• Por exemplo, se temos o estereótipo da “loira burra”, podemos


agir de maneira limitada a uma colega loira, não estabelecendo
com ela uma conversa inteligente. Esta colega poderá se sentir
constrangida e desmerecedora de atenção, ficando calada e não
falando coisas inteligentes conosco, reforçando nosso
estereótipo e completando a profecia auto-realizadora.
 A teoria realista do conflito
• Sustenta que recursos limitados levam a conflito entre grupos,
gerando preconceito e discriminação entre eles.

• Assim, os preconceitos tendem a aumentar em situações


difíceis e de crise financeira, pois os membros de um grupo se
sentirão ameaçados pelos do exogrupo, demonstrando
discriminação, hostilidade e até violência em relação aos
membros deste.
• Esta é, por exemplo, uma possível explicação para o
preconceito em relação a nordestinos no sudeste e sul do
Brasil.
• Em algumas situações de crise, nem sempre existe um
competidor lógico de recursos.

• Quando isso ocorre, as pessoas tendem a buscar um bode


expiatório, isto é, deslocam sua agressão para grupos que não
gostam, que são visivelmente mais fracos, discriminando-os e
os culpando pela situação difícil. – É o caso dos judeus na
Alemanha nazista que entrou em crise após os destroços da
Primeira Guerra Mundial.
 As regras normativas

• Uma outra explicação para as causas do preconceito é a


conformidade com as normas da sociedade.

• Uma norma é uma crença mantida pela sociedade sobre o que


é correto, aceitável e permissível, e varia de uma cultura para
outra ou de uma região para outra.
• Em uma sociedade que predominam os estereótipos e a
discriminação é uma regra, a maioria tende a desenvolver
atitudes preconceituosas e comportamentos discriminatórios.

• Nisso consiste o racismo/sexismo institucionalizado.

• O preconceito normativo ocorre pela forte tendência em


acompanhar o grupo, para satisfazer suas expectativas e obter
aceitação.
 O preconceito moderno
• Muitas sociedades caminham para modificar suas normas em
desfavor do preconceito.

• Entretanto, o preconceito não foi erradicado, mas assumiu formas


mais sutis.

• As pessoas passaram a ser mais cautelosas quando a norma tornou-


se a tolerância com o exogrupo, comportando-se como se não
tivessem preconceitos, mas mantendo internamente suas crenças
estereotipadas.

• Assim, o preconceito em geral, o racismo ou sexismo, tornaram-se


sutis, pois as pessoas intencionam escondê-los para não receberem
os rótulos de racistas ou sexistas.
• Esse processo é explicado pela Teoria do Manejo da
Impressão (Morales & Moya, 1996):

 O preconceito real e profundo perdura e não tem mudado, mas


uma vez que não é socialmente desejável mostrar-se
preconceituoso em público como alguém racista, sexista,
homofóbico, etc., as pessoas tentem a inibir e disfarçar suas
atitudes preconceituosas.

“Não sou racista/homofóbico,


até tenho amigos negros/gays”
 Preconceitos Flagrante e Sutil
• Pettigrew e Meertens (1995) distinguem duas formas de
preconceito, o flagrante e o sutil.

• O preconceito flagrante (blatant prejudice) caracteriza-se


por ser explícito e direto, sendo tradicionalmente mais
estudado na literatura.

• Já o preconceito sutil (subtle prejudice) é uma manifestação


fria, distante e indireta de julgar membros de grupos
minoritários, sendo uma forma moderna do preconceito.
• Com as novas formas que o preconceito tem assumido, como o
preconceito sutil, a psicologia social passou a se interessar em
estudá-las.

• Instrumentos foram desenvolvidos na tentativa de permitir


avaliar preconceitos sutis ou modernos, como a Escala de
Racismo Moderno (McConahay & cols., 1981), adaptado para
o Brasil por Santos, Gouveia, Navas, Pimentel e Gusmão
(2006).
 Como reduzir o preconceito?
• Uma vez que os estereótipos e o preconceito consistem em
informações equivocadas sobre pessoas e grupos distintos,
acreditou-se por certo tempo que apenas fornecer informações
corretas poderiam reduzir as crenças estereotipadas e as atitudes
preconceituosas.

• Contudo, esta perspectiva mostrou-se uma ingenuidade infrutífera.

• Tais atitudes não mudam com novas informações devido sobretudo a


seus aspectos emocionais e cognitivos, como vimos.
• Por outro lado, o contato constante com membros do exogrupo pode
ser efetivo para reduzir o preconceito, mas não o simples contato
apenas, senão um tipo especial de contato.

• Gordon Allport (1954) na que é considerada sua obra-prima, The


Nature of Prejudice, formulou a hipótese do contato para a redução
do preconceito defendendo que o contato deve ser:

 Entre pessoas de igual status,


 Que buscam um objetivo em
comum,
 Mais efetivo se apoiado
institucionalmente por leis e
costumes.
• Sherif (1961) também mostrou alguns aspectos especiais do contato
para que possa auxiliar na redução do preconceito:

 Os membros dos endo e exogrupo precisam ser interdependentes,


 Precisam ser de igual status,
 O contato deve ocorrer em um ambiente amistoso e informal em que
os grupos interajam face a face,
 Os membros do exogrupo precisam ser vistos como indivíduos
típicos daquele grupo, do contrário serão interpretados como
exceções à regra, e o preconceito será mantido.
 O contato será mais eficiente em reduzir o preconceito caso as
normas sociais sustentme a igualdade entre os grupos.
Aspectos essenciais do contato para reduzir o preconceito
Interdependência mútua
Objetivo em comum
Status igual
Contato informal e interpessoal
Contato múltiplo
Normas sociais de igualdade
Aronson, Wilson e Akert (2002)

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