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Áreas de

Trabalho
6-12
As Áreas de trabalho em Primária

Os materiais e a forma como se trabalham são parte fundamental da pedagogia Montessori,


pois correspondem às necessidades e aos interesses das crianças, considerando a etapa de
desenvolvimento em que se encontram. A organização dos conteúdos e as lições para as
crianças entre os 6 e os 12 anos organizam-se por áreas, que explicamos seguidamente:

Linguagem

A linguagem é uma manifestação humana que surge como resposta à necessidade de


comunicação. A criança que chega ao ambiente de primária já alcançou uma das maiores
conquistas relativamente à linguagem: aprendeu a falar, adquiriu a língua materna que lhe
permite a comunicação com todos os que o rodeiam. É, precisamente, esta função primordial,
a de se comunicar, o que sustenta o trabalho nesta área, que contempla 4 aspectos
fundamentais: escutar, falar, ler e escrever, a linguagem oral converte-se numa poderosa
ferramenta ao serviço da aprendizagem e ao desenvolvimento social, tão importante no
segundo plano de desenvolvimento. Ao chegar ao ambiente de primária, a escrita e a leitura
estão em processo, paulatinamente a criança irá adquirindo as habilidades e os conhecimentos
que lhe permitem explorar e manifestar-se por meio desta “nova” linguagem: a escrita.
Os aspectos que mencionámos não apenas pressupõem a área correspondente, mas são
contemplados de forma transversal, envolvendo as outras áreas de estudo.

Num ambiente Montessori é necessário gerar confiança e autoexpressão, assim como


fomentar o enriquecimento do vocabulário da criança e ajudá-la a desenvolver a sua
linguagem oral. Isto surge no dia-a-dia, na comunicação com os adultos, na linguagem que se
utiliza ao dar as apresentações e na utilização das nomenclaturas que abordam diferentes
temas. O ambiente oferece também um espaço que fomenta também naturalmente o
desenvolvimento das competências necessárias para ler.

Desde a sua passagem pela Casa das Crianças, existem materiais e exercícios que possibilitam a
preparação da mão para a escrita. Em Primária, estes materiais como os encaixes metálicos,
lousas pequenas e o alfabeto móvel oferecem à criança os elementos necessários para o
desenvolvimento da lecto-escrita.

Chegado o segundo período do desenvolvimento da linguagem, já passou o momento da


“explosão da linguagem”, como o descreveu Montessori. Agora as crianças interessam-se pela
cultura, e então podemos falar-lhes sobre a origem das palavras, a origem dos idiomas, a
invenção da imprensa ou qualquer outro tema que semeie nelas a curiosidade para
continuarem a investigar.

Iniciar-se-á também o estudo da Gramática, que nunca será uma tarefa isolada: material e
apresentações mostram-se sempre com um sentido comunicativo dentro de um contexto que
permite entender a função gramatical que as palavras possuem. É necessário permitir à criança
manipular, organizar e classificar as palavras de forma concreta, o que lhe irá proporcionar
ferramentas de organização do pensamento. Os materiais possuem o necessário para que
essas possibilidades existam no ambiente. Relacionam-se funções gramaticais com símbolos
para ajudar a ter uma primeira noção, mais concreta; da mesma forma, a análise sintática é
realizada com símbolos. A par da utilização do material deve permitir-se a livre exploração da
leitura oferecendo textos variados, assim como a expressão oral e escrita.

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Matemáticas

Tal como em Linguagem, as Matemáticas surgem a partir da necessidade de contar. Desde


elementos concretos que se encontram no contexto, como pessoas, alimentos, animais, frutas,
até aspetos mais complexos como medir a passagem do tempo ou registar alterações num
habitat.

Os primeiros registos de marcas em covas ou rochas que se julga estarem ligados às primeiras
contagens remontam há aproximadamente 7000 anos. Paulatinamente foi-se desenvolvendo
um conceito de número, coo um atributo de algo concreto. Com o passar do tempo e a
chegada do sedentarismo estabeleceram-se as primeiras comunidades e os problemas a
resolver tornaram-se mais complexos. Novas necessidades propiciaram o desenvolvimento de
nomes e de símbolos numéricos. Os textos matemáticos mais antigos datam de 1800 a.C.
(aproximadamente) e em vários destes textos menciona-se já o teorema de Pitágoras. Desde o
renascimento, no séc. XV, os novos avanços matemáticos foram-se entrelaçando com
descobertas científicas contemporâneas e cresceram exponencialmente até aos dias de hoje.

Matemáticas num ambiente Montessori

A forma como as crianças acedem a conhecimentos aritméticos dentro de um ambiente


Montessori permite que a aprendizagem se consolide mediante a compreensão e a repetição,
este processo inicia-se desde tenra idade. Um bebé que vive um dia-a-dia marcado por rotinas
estabelecidas experimenta a ordem; mais adiante, experimentará com o seu corpo,
movimentando-se no espaço; a criança pequena manipula objetos, explora qualidades como:
peso, superfície, volume, forma, tamanho, cor, e mais adiante poderá classificar, discriminar e
ordenar de acordo com estas qualidades. Todos estes são exemplos da preparação prévia.

Em Casa das Crianças existem diversos materiais que permitem à criança construir a base dos
conhecimentos que adquirirá quando chegar ao segundo plano. Estes materiais não são
apenas os da área de Matemáticas, mas também a área Sensorial oferece aprendizagens
indispensáveis sobre Aritmética.

Existem princípios fundamentais que regem a criação dos materiais e o procedimento das
apresentações:

• Isolamento da dificuldade. A criança enfrenta um desafio de cada vez;


• Ao introduzir-se um conceito novo, parte-se sempre da base sensorial;
• A repetição é um elemento primordial, mas promove-se também a variedade;
• As crianças contam com uma visão da “totalidade”

O cuidado com o material é fundamental em todas as áreas de trabalho, em particular nas


Matemáticas é indispensável supervisionar que esteja ordenado sequencialmente, que nada
falte e que as crianças arrumem o material no seu local correto e que façam um bom uso dele.
Se se apresentarem inconvenientes com material aquando da apresentação às crianças, que
trabalham em grupo, a compreensão será dificultada.

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O material disponibilizado às crianças no segundo plano também é sensorial. As crianças
podem e devem manipulá-lo. No entanto, não se trata apenas da atividade da mão, tão
importante no primeiro plano; agora também intervém a atividade da MENTE. O material
facilita a exploração e permite-lhes abstrair os conceitos.

No segundo plano de desenvolvimento as crianças estão preparadas para enfrentar desafios


que põem à prova a sua destreza mental, interessam-se por realizar grandes cálculos e medir
diferentes aspectos do ambiente que as rodeia. Depois de cada apresentação as crianças são
guiadas para um trabalho de seguimento, que proporciona a repetição necessária para a
aquisição da informação ou da habilidade implicada.

É importante que as crianças possam explorar a sua capacidade de raciocínio e que descubram
que este conhecimento que estão a explorar é uma linguagem, uma ferramenta para
continuarem a desenvolver a sua capacidade de resolver situações, a sua imaginação e
criatividade. A conquista da compreensão e o uso das matemáticas proporciona um avanço no
caminho da independência, a confiança em si mesmo e o autoconhecimento.

Geometria

A Geometria surgiu da tendência humana para a orientação, a exploração e a exatidão. Faz


parte da vida quotidiana do ser humano, ao observar as relações entre as coisas. É uma ciência
das Matemáticas que trata da extensão da análise dos distintos elementos de cada figura e da
sua construção técnica e precisa, isto é, que transporta para um plano superior e abstrato a
atividade das crianças. Para apreciar tudo o que a Humanidade realizou, devemos aceitar a
Geometria desde um ponto de vista psicológico. Devemos acreditar que a realidade é
geométrica e que a geometria é baseada na realidade. Isto ajudar-nos-á a não a olhar como
uma matéria árida desligada da vida prática. Geralmente nos programas educativos a
Geometria é considerada como uma abstração e então esta matéria foi transferida para os
graus de ensino superiores. Maria Montessori considera esta matéria como parte da
humanidade, da sua história e da realidade em que vivemos.

Nas escolas Montessori, ainda que não faça parte do currículo oficial, devemos apresentar a
Geometria para ajudar a criança na sua formação integral. As crianças interessam-se pela
forma como ela é apresentada pois é um material que dá oportunidade à criatividade.
Oferecemos às crianças as lições com os materiais desenhados cientificamente para
demonstrar e revelar as relações existentes e evidentes das figuras.

Muitas vezes nas escolas, o professor faz a Mente trabalhar independentemente das coisas à
sua volta. Utiliza a memória, a compreensão e o raciocínio acreditando que desta forma a
criança chega à abstração dos conceitos. O guia foca-se em preparar as condições exteriores,
para preparar um ambiente que esteja em contacto com a periferia (os sentidos, o
movimento) e a individualidade ativa. Em vez de recorrer ao poder do raciocínio e aos
mecanismos mentais para transmitir um conceito, nós expomos a periferia da criança, que está
em contacto com o ambiente. “a mão toca a evidência e a mente descobre o segredo” Maria
Montessori.

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Educação Cósmica

O conceito de Educação Cósmica é a base fundamental do trabalho da criança no segundo


plano de desenvolvimento. Nesta etapa a criança conta com duas características que lhe
permitem aceder ao conhecimento desta perspectiva: a mente racional e a imaginação. As
crianças nesta etapa perguntam-se constantemente acerca de tudo o que observam ao seu
redor. As características antes mencionadas e o ambiente preparado impulsioná-las-ão na
busca de respostas.
Para fina educativos, consideramos como parte da Educação Cósmica as áreas de: História,
Geografia e Biologia, apesar de termos já estabelecido esta visão, que marca todo o trabalho
em Primária Montessori.

“No cosmos existe harmonia, tudo o que nele existe, elementos animados e inanimados
colaboraram na criação do nosso mundo, colaborando nele através da realização da sua
própria tarefa.” M. Montessori

A apresentação desta harmonia do cosmos, as suas interrelações e interdependências são o


que constitui a Educação Cósmica, sendo este o plano da Dra. Montessori para as crianças
entre os 6 e os 12 anos.

História

Esta área é o fio condutor da Educação Cósmica em Primária. Partimos, como sempre o
fazemos nesta metodologia, do geral para o particular. Começamos por contar a história do
Universo, contamos a história da criação da terra e como evoluiu a vida. Acompanhamos a
criança percorrendo um caminho de assombro, descoberta, investigação e reflexão, servindo-
nos sempre da imaginação. À medida em que aprofunda os estudos acerca do passado, a
criança deve ter a oportunidade de conhecer qual foi o trabalho dos seres humanos na história
e como é que himens e mulheres transformaram a natureza, permitindo-nos viver nas várias
regiões do mundo.

É necessário que a forma como apresentamos os feitos transmita às crianças o sentimento de


agradecimento para com todas as pessoas, famosas ou não, que nos precederam, a quem
devemos as comodidades e avanços tecnológicos de que desfrutamos hoje. É importante
considerar que o trabalho dentro do ambiente deverá incluir, a determinado momento, a
história do país da criança, o que favorecerá o seu sentido de pertença; de igual modo,
conhecerá acerca de outras cultural e valorizará a diversidade.

O nosso trabalho no ambiente deve mostrar a relação que existe entre todas as áreas de
conhecimento. Conversando sobre a história da Humanidade, por exemplo, remetemos para
lugares, condições do clima, contagem do tempo, interação entre diferentes formas de vida e
sem dúvida encontramos relações entre todas essas áreas.

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Geografia

As lições correspondentes a esta área não se limitam a conhecer o espaço onde vivemos, em
relação à sua organização social e contexto físico. Também permitem à criança observar e
refletir acerca das leis que regem o universo, leis que estão presentes desde há milhões de
anos e que continuam a funcionar, repetindo-se uma e outra vez, mantendo o equilíbrio
necessário para preservar a vida.

Esta é uma área na qual as crianças experimentam observam, levantam hipóteses e retiram
conclusões. O trabalho que se realiza nesta área dá à criança a oportunidade de explorar de
forma concreta, mas também lhe permite indagar através da sua imaginação aspetos e
sucessos do universo, que pode explorar indiretamente em diversas fontes de informação,
para depois encontrar alguma evidência do que aprendeu numa experiência quotidiana.
Dentro do ambiente deve oferecer-se à criança a oportunidade de aprender a partir das suas
experiências, e por isso esta área compreende uma série de experiências que acompanham
as aprendizagens. Estas são consideradas uma peça fundamental do material.

Com elementos simples, que não impliquem um risco para as crianças ou para o meio
ambiente, realizam-se atividades que favorecem a análise, o levantamento de hipóteses e o
surgimento de novas interrogações que dão alento à investigação, tudo a partir de uma
observação concreta.

Biologia

Nesta área as apresentações dão à criança a oportunidade de conhecer as manifestações de


vida do nosso planeta. Desejamos despertar o interesse e o respeito pelo trabalho que cada
espécie realizou para conseguir sobreviver. Desejamos despertar o interesse e o respeito pelo
trabalho de cada espécie para a sua sobrevivência. A interdependência que existe entre todas
as formas de vida, inclusivamente o papel que desempenharam as espécies extintas,
promovem na criança o apreço por todos os seres vivos.

Mostramos aspectos gerais de zoologia e botânica, aspetos que entusiasmam as crianças e que
catapultam o trabalho que surge a partir do interesse e da necessidade de exploração. Nesta
área incluímos o estudo do nosso próprio corpo, o que permite apreciar o maravilhoso
trabalho que se leva a cabo todos os dias e em todos os momentos, e de como isso demonstra
que fazemos parte do universo, que somos regidos pelas mesmas leis que regem todos os
seres vivos. Por esse motivo, o cuidado dos seres vivos que existam no ambiente e no contexto
deve ser partilhado com as crianças. Isto permite desenvolver empatia, consciência ecológica e
respeito profundo por tudo o que nos rodeia. Também desta área es experiências fazem parte
das apresentações que oferecemos às crianças. Da mesma forma que dispomos os materiais
das diversas áreas no ambiente de forma ordenada e esteticamente agradável, devemos
destinar um espaço adequado aos materiais dedicados à realização de experiências, que estão
ao alcance das crianças. Neste espaço devem existir instruções para a realização de
experiências simples (que já foram demonstradas pelo adulto) e o equipamento de proteção
necessário: avental, luvas, óculos de segurança. Além do desenvolvimento de experiências
vinculadas ao processo de aprendizagem ligado aos conteúdos, estas oferecem às crianças
outras vantagens como: a paciência para esperar (quando o resultado demora alguns dias),
aprender com o erro, o trabalho colaborativo e a criatividade

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Expressão Artística

É desejável que quando se trabalha com crianças o adulto tenha conhecimento sobre as
diferentes expressões da arte e das obras mais importantes da História. Também será útil ter
conhecimento sobre técnicas e materiais para sugerir à criança diversas atividades. No
entanto, o que é verdadeiramente importante num ambiente de primária Montessori é
permitir à criança expressar-se. Como em outros aspetos, oferecer liberdade não faria sentido
se esta não fosse acompanhada de ferramentas que permitam a expressão de tudo o que a
criança imagina, o que cria na sua mente, o que sente, em resumo: a manifestação de si
mesma. Assim, a importância de fomentar a vivência de distintas expressões artísticas e de
oferecer materiais para poder experimentar as diferentes formas de expressão.
É habitual existir um local no ambiente com alguns materiais preparados com os quais se
apresentam à criança diferentes técnicas; estes materiais permitem a sua livre expressão. O
mais importante é que posteriormente os utilizem para registar as suas apresentações. Todos
os materiais fornecidos são usados livremente e durante o tempo que as crianças pretendam
(tintas variadas, lápis, ceras, argila, papel colorido, marcadores, aguarelas etc.)

Cuidado do ambiente

O ambiente de primária deve contar com o material necessário para que as crianças possam
resolver situações quotidianas de limpeza e cuidado do ambiente. Recordemos que neste
período as crianças podem e devem colaborar ativamente para a ordem e a preservação da
harmonia e da beleza do ambiente do qual desfrutam diariamente. A separação dos resíduos é
também uma importante forma não apenas de cuidar do ambiente, mas também de semear a
consciência da importância de cuidar do planeta. Outra atividade que as crianças apreciam é a
culinária. Além de envolver uma série de tarefas benéficas como o trabalho em equipa,
cálculos matemáticos e o seguimento de instruções, é uma atividade que ajuda a fortalecer o
sentido de comunidade. Cozinhar é um ato de amor e promove também o agradecimento.

Liliana Contreras Dávila

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