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GEOPROCESSAMENTO

E TOPOGRAFIA APLICADOS
AULA 1

Prof. Francisco Jablinski Castelhano


CONVERSA INICIAL

Nesta primeira aula procuraremos abordar algumas questões


introdutórias acerca de cartografia e topografia. Esses conceitos serão a base
para desenvolver o curso e as aulas restantes.
A aula foi dividida em cinco temas. Iniciamos com alguns aspectos básicos
de cartografia e de representação do plano terrestre nos temas 1 e 2. Os temas
3 a 5 abordarão especificamente a topografia, trazendo um breve histórico e
alguns conceitos básicos, como os de topometria e topologia; terminaremos com
algumas aplicações da topografia à área de saneamento ambiental.

TEMA 1 – NOÇÕES BÁSICAS DE CARTOGRAFIA

De uma forma sucinta, entendemos a cartografia como a ciência que


estuda as representações físicas da superfície terrestre, tendo o mapa como o
mais famoso de seus produtos. No âmbito das questões ambientais, as
representações cartográficas surgem como grandes ferramentas para auxiliar na
espacialização e localização de fenômenos espaciais como um todo. Muito mais
do que apenas representação, a cartografia abarca também questões ligadas à
análise e comunicação das formas.
A questão da comunicação nem sempre é lembrada, mas é o propósito
da ciência cartográfica, dado seu papel de transmissora de conhecimento. A
transmissão do conhecimento das formas e da superfície terrestre se dá por uma
linguagem muito específica, que contém seus próprios símbolos e traduções, a
chamada linguagem cartográfica.

1.1 Linguagem cartográfica básica

A linguagem cartográfica diferencia o que seria um simples desenho de


um mapa ou de uma representação cartográfica. Alguns dos elementos
componentes dessa linguagem cartográfica, primordiais em qualquer
representação, são:

• Seta indicando Norte;


• Escala;
• Coordenadas do espaço representado;
• Sistema de coordenadas.

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A seta Norte, ou “Rosa dos Ventos”, auxilia a percepção do leitor ante a
orientação do local analisado, sendo normalmente representada por uma
pequena seta ou rosa dos ventos alinhada com a orientação da representação
(Figura 1a).

Figura 1 – a. Exemplo de seta Norte; b. Escala gráfica

(a) (b)
Fonte: Fafostock/Shutterstock; Mstudiovector/Shutterstock.

A escala, por sua vez, orienta o leitor sobre o real tamanho de sua
representação; ela compara o tamanho da região do mapa com o seu tamanho
real, fornecendo ferramentas para facilitar a apreensão e a magnitude dos
fenômenos analisados.
A representação cartográfica da escala pode se dar de três formas:
expressa, gráfica e numérica. A escala expressa é considerada a menos
sofisticada, pois indica de maneira mais direta a relação entre as grandezas
trabalhadas de forma verbal. Ex.: 1 cm representa 100 m. A escala numérica
indica a relação entre uma distância do mapa e a distância real por meio de
frações. Ela não indica diretamente uma medida específica, mas a relação entre
grandezas. Ex.: 1:10.000 indica que uma parte do mapa equivale a 10.000 partes
reais. Por fim, a escala gráfica trata de um segmento de reta graduado que indica
o valor das distâncias reais correspondentes no mapa. Na Figura 1b vemos
exemplos de escalas gráficas. Diferentemente da numérica, a escala gráfica
deve indicar a medida real comparada, ou seja, se são quilômetros, metros etc.
As coordenadas do espaço representado servem para localizar o leitor no
que tange às coordenadas geográficas, muitas vezes representadas por linhas
que cortam o mapa horizontal e verticalmente, contendo indicações de suas

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respectivas coordenadas. Essas coordenadas devem ser devidamente
informadas de forma escrita, o que discutiremos de forma mais específica no
próximo tema desta aula.

TEMA 2 – REPRESENTANDO O PLANETA TERRA

A representação da Terra em uma superfície plana – como uma folha de


papel ou a tela de um computador – é chamada de projeção cartográfica. O fato
de a Terra possuir um formato que se assemelha a uma esfera (trata-se de um
Geoide, especificamente) torna impossível a sua projeção em uma superfície
plana sem que existam distorções.
Para localizar algum ponto em uma projeção cartográfica ou em um mapa,
faz-se necessária a utilização dos chamados Sistemas de Coordenadas: um par
de coordenadas que indicará a localização do seu ponto em um eixo cartesiano,
contendo, portanto, coordenadas X e Y.
A seguir, apresentaremos os sistemas de coordenadas mais usuais: o
Sistema de Coordenadas Geográficas e o Sistema Universo Transverso de
Mercator (UTM).

2.1 Sistema de coordenadas geográficas

Esse sistema de coordenadas geoidal, também conhecido como latitude


e longitude, baseia a localização de qualquer ponto na superfície terrestre na
intersecção de duas linhas imaginárias chamadas de meridianos e paralelos. O
globo terrestre é dividido em 360 graus a partir de seu eixo de rotação.
As linhas chamadas paralelos (Figura 2a) mensuram as coordenadas
respectivas à latitude, iniciando-se no paralelo do Equador (0º) e estendendo-se
até os polos Norte (90º Norte) e Sul (90º Sul).

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Figura 2 – a. Representação dos paralelos no globo terrestre; b. Representação
dos meridianos no globo terrestre

(a) (b)

Fonte: Soleil Nordic/Shutterstock.

As linhas chamadas meridianos (Figura 2b) indicam os valores de


longitude da representação. Elas se iniciam no Marco de Greenwich, no Reino
Unido (0º), e se estendem a 180º Leste e 180º Oeste.

2.2 Universo Transverso de Mercator

O sistema de projeções Universo Tranverso de Mercator, também


conhecido como UTM, é um dos mais utilizados hoje em dia em termos de
representações cartográficas. Diferentemente do Sistema de Coordenadas
Geográficas, a UTM é uma projeção cilíndrica transversa, ou seja, projeta-se o
globo terrestre para um cilindro, de modo a facilitar sua representação em um
plano (Figura 3a). Esse cilindro é transversal ao eixo de rotação da Terra.

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Figura 3 – a. Cilindro Transverso de Mercator; b. Fuso: região secante ao cilindro
de projeção

(a)

(b)

Fonte: Adaptado de Anderson, 1982.

Em uma projeção assim, a porção terrestre representada com menos


distorções é aquela secante ao cilindro, portanto, divide-se a Terra em 60 partes
iguais, chamadas fusos. Para representar o Estado do Paraná, por exemplo, o
cartógrafo opta pela projeção junto ao Fuso 22, correspondente ao local no qual
a porção do Estado paranaense cortaria o cilindro.
Por ser uma projeção cilíndrica, a projeção UTM baseia-se na divisão de
cada fuso em quadrículas de 100 km por 100 km. Cada coordenada diz respeito
à sua posição em metros – e não em graus, como na latitude e na longitude. No
caso do Hemisfério Sul, temos, como valores de referência, a Linha do Equador,
com valor 10.000.000 m como coordenada norte, decrescendo rumo ao Sul, e o
valor 500.000 no Meridiano Central, crescendo para Leste e diminuindo rumo a
Oeste.

TEMA 3 – O QUE É TOPOGRAFIA?

Neste tema, vamos conhecer uma breve definição de topografia, que será
utilizada até o final do curso. A palavra topografia vem do grego: topos significa

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“lugar” e, graphen, “descrição”. Assim, de maneira geral, topografia seria a
ciência que descreve lugares.
Dada a amplitude de seu significado, utilizemos o que Domingues (1979)
define como topografia. Para o autor, a topografia é a ciência que tem como
finalidade determinar contorno, dimensão e posição relativa de uma dada porção
da superfície terrestre desconsiderando a curvatura da Terra, permitindo um
detalhado conhecimento do terreno analisado e possibilitando a incursão de
diversas obras e serviços.
Analisando a história da humanidade, percebemos que os estudos
topográficos não são recentes, afinal, de alguma forma deve-se ter realizado
estudos topográficos, por mais primitivos que fossem, para erguer monumentos
históricos, como o Coliseu de Roma ou as cidades Incas no Peru. De fato,
existem registros de babilônios e egípcios utilizando cordas como ferramentas
para mensurar terrenos há cerca de 5 mil anos.
Fazendo uso de muitos conhecimentos oriundos dos babilônios, os
gregos passaram a desenvolver cada vez mais essa ciência, em paralelo com o
desenvolvimento da astronomia, da geografia e da cartografia. Um dos primeiros
instrumentos tidos como topográficos foi criado pelos próprios gregos por volta
do século III a.C: a dioptra, que mensurava o ângulo de superfícies. Instrumentos
parecidos com a dioptra, mas mais rudimentares, já haviam sido utilizados por
egípcios. Ainda na Grécia Antiga, o astrônomo Hiparco criou o astrolábio,
equipamento utilizado na navegação, mas também para mensurar obstáculos do
relevo.
Depois do período clássico, passamos por poucas mudanças; tivemos
avanços substanciais na Astronomia, e muita influência árabe, mas poucos
avanços técnicos, até que, em 1571, o matemático inglês Leonard Digges
construiu o que seria o primeiro teodolito, instrumento crucial para estudos
topográficos, pois é capaz de mensurar ângulos horizontais e verticais.
A partir do século XIX temos um constante desenvolvimento dos
equipamentos, com níveis de precisão cada vez maiores e com maior acurácia
de detalhes, chegando até os anos atuais, nos quais já é imprescindível a
utilização de softwares, satélites e outras ferramentas na elaboração de estudos
topográficos.

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TEMA 4 – CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER A TOPOGRAFIA

Com base na definição que vimos no último tema, podemos dividir as


ações de topografia em dois grandes eixos: a topometria e a topologia, ambas
complementares para um estudo topográfico.

4.1 Topometria

Chamamos de topometria o conjunto de medidas, distâncias e diferenças


de nível mensuradas no campo ou terreno de estudo. Essa seria a parte mais
prática e, portanto, a que utiliza equipamentos em campo, de observação e
analise do terreno.
A topometria também é dividida em duas ações diferentes: a planimetria
ocupa-se da determinação de medidas, feições e ângulos sobre o plano
horizontal, tomadas pelas coordenadas X e Y; a Altimetria se encarrega das
medidas, distâncias e feições no eixo vertical, por meio de uma representação
tridimensional pelos eixos X, Y e Z.

4.2 Topologia

Realizado o estudo topométrico, passa-se à etapa da topologia, que seria


a transmissão do conhecimento adquirido em campo pelos instrumentos e
medições para uma planta ou representação gráfica.
As representações topológicas normalmente utilizam-se de curvas de
nível para identificar as feições de relevo no plano, mas podem utilizar também
efeitos de rugosidade por meio de luz e sombra para melhor indicar os dados
obtidos pelo estudo topométrico (Figura 4).

Figura 4 – Representação topológica de estudo topométrico: a. Altimetria; b.


Planimetria

(a)

(b)

Fonte: Adaptado de Anderson, 1982.

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TEMA 5 – TOPOGRAFIA E SANEAMENTO

Como a ciência que estuda as representações físicas da superfície


terrestre, a Topografia surge como ferramenta-chave para uma extensa gama
de outras áreas do conhecimento, entre elas o Saneamento Ambiental.
Toda e qualquer ação de saneamento que envolva transporte de fluidos
por meio de encanamentos faz-se apenas por meio de estudos topográficos, que
definem, por exemplo, melhor localização, profundidade e angulação das
tubulações, de modo a permitir que o fluxo de material não pare. Não é possível
imaginar, por exemplo, a construção de redes de drenagem ou de coleta de
esgoto sem levar em conta os aspectos do relevo envolvido.
Dentre as ações de saneamento que partem de um estudo topográfico
como base, podemos citar abastecimento de água; coleta, tratamento e
disposição final de esgotos; drenagem pluvial e fluvial; coleta, tratamento e
disposição final de resíduos sólidos e efluentes líquidos industriais;
macrodrenagem.

NA PRÁTICA

Neste primeiro momento, procuramos estabelecer alguns conceitos


básicos de cartografia e de topografia que utilizaremos até o final do curso. Os
conhecimentos de ambas essas áreas são de extrema utilidade e praticidade.
Procure observar com que frequência você utiliza ferramentas de GPS
para se localizar. Perceba a importância dos elementos da linguagem
cartográfica que comentamos. Identifique no GPS que você utiliza a escala e a
seta Norte.

Saiba mais
Acesse <http://mapfrappe.com>, desenhe um polígono no extremo norte
do globo e o arraste para próximo do Equador. Observe a distorção em seu
tamanho.

FINALIZANDO

Nesta primeira aula pudemos revisar questões básicas de cartografia que


servirão como base para, no futuro, discutirmos questões acerca de

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geoprocessamento. Aspectos básicos da linguagem cartográfica foram
revisados, como utilização de escalas, seta de orientação Norte e coordenadas.
As coordenadas foram explicadas com maiores detalhes no Tema 2, no
qual pudemos compreender sua função e origem nas representações do Planeta
Terra.
Apresentamos o conceito de topografia, e elencamos um pouco de suas
funções e de sua história, que se inicia com as construções civis. Na sequência,
apresentamos conceitos básicos dentro da topografia, como topometria e
topologia, além de observarmos seu papel-chave e suas aplicações no âmbito
do saneamento ambiental.

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REFERÊNCIAS

DOMINGUES, F. A. R., Topografia e astronomia de posição. Porto Alegre:


Mc. Graw-Hill do Brasil, 1979.

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