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EMPREENDEDORISMO

Ligia Maria
Fonseca Affonso
O empreendedorismo
e a mentalidade
empreendedora
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar o conceito de empreendedorismo.


 Explicar o processo de ação empreendedora
 Definir os estágios de uma ação empreendedora.

Introdução
As mudanças políticas, sociais, econômicas e tecnológicas que o
mundo vem sofrendo ao longo dos últimos anos geram na sociedade
grande insegurança e preocupação em relação a que caminho seguir.
Apesar desse cenário repleto de incerteza, o empreendedorismo vem
crescendo no Brasil.
Em uma recente pesquisa, verificou que cerca de 50 milhões de
brasileiros com idade entre 18 a 64 anos eram donos de seu próprio
negócio, ou estavam envolvidos na criação de um, ou seja,
envolvidos em uma ação empreendedora, o que demonstra o
grande potencial do país para criar um ambiente favorável para
fomentar negócios. Neste capítulo, você vai vivenciar o conceito de
empreendedorismo, assim como ocorrem o processo e os estágios
da ação empreendedora.

Empreendedorismo
Apesar de não possuir uma definição única, o empreendedorismo é considerado
como um processo de criação de algo novo ou diferente, que agrega valor, que
exige dedicação e esforço, e que incorre em riscos financeiros, psicológicos e
sociais, cujo retorno, na maioria das vezes, é a satisfação econômica e pessoal. É
um termo então, relacionado à inovação, ao risco, à criatividade, à organização
e à riqueza (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).
2 O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora

O empreendedorismo vem se fortalecendo no Brasil e no mundo como


um aspecto significativo e de grande importância para o desenvolvimento
econômico e social, principalmente no que se refere à geração de emprego
e renda. A atividade empreendedora contribui para o desenvolvimento de
um país, uma vez que gera riqueza por meio da inovação e do aumento da
produtividade (DORNELAS, 2013).

No Brasil o empreendedorismo começou a alavancar a partir dos anos 1990, com a


abertura da economia e também pela grande instabilidade dos vínculos empregatícios
gerada pela crise econômica do final do século (BRITO; PEREIRA; LINARD, 2013).

Cabe destacar que todas as empresas, sejam elas grandes, micro, pequenas
ou médias, são importantes para o desenvolvimento econômico de um país.
Em alguns países, as microempresas individuais ou familiares chegam a
representar 50% de seu Produto Interno Bruto (PIB) (DOLABELA, 2012).

O PIB representa a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país ao longo


de um ano. Trata-se de um dos principais indicadores econômicos de um país, criado
pelo economista Richard Stone. No Brasil, o PIB é calculado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) e seus resultados permitem que o governo, por
meio de políticas públicas, se mobilize para promover um crescimento maior do país
(TREMEA, 2011).

Aqui no Brasil a criação de empresas duradouras e a diminuição de sua


taxa de mortalidade são fatores importantes para o desenvolvimento do em-
preendedorismo. Para estimular esse desenvolvimento é necessário diminuir
a burocracia dos processos de abertura das empresas; criar linhas de crédito
mais acessíveis e com menores taxas de juros aos empresários; tornar a le-
gislação brasileira menos complexa e ampliar a disseminação da educação
empreendedora, em todos os níveis de ensino. Essas são algumas medidas
O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora 3

que podem facilitar a vida dos empreendedores, pois, quanto menor o tempo
perdido com processos burocráticos e, maior o crédito concedido, mais tempo
e recursos o empreendedor terá para se dedicar ao negócio, gerando benefícios
à sociedade (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, [2016?]; 2017).
É importante destacar que a qualidade do empreendedorismo no Bra-
sil teve um salto significativo nos últimos anos. Isso se deve, dentre outros
motivos, à ampliação do acesso à informação sobre negócios, à atuação das
organizações que apoiam a capacitação dos empreendedores e às políticas
públicas implementadas e aperfeiçoadas, como o Simples e a criação do
Microempreendedor Individual (MEI). Dentre as principais vantagens do
empreendedorismo podemos destacar (BRITO, 2013):

 Geração de emprego e renda.


 Aumento do crescimento econômico.
 Estímulo à competição saudável, gerando produtos e serviços de maior
qualidade.
 Estímulo ao desenvolvimento de novos mercados.
 Estímulo ao uso da tecnologia em pequena escala.
 Estímulo às pesquisas e ao desenvolvimento de máquinas e equipa-
mentos modernos para uso doméstico.
 Estímulo ao surgimento de novos empreendedores, ao desenvolvimento
de qualidades e atitudes empreendedoras.
 Redução da economia informal e menor dependência do emprego formal.
 Possibilidade de grande retorno financeiro, caso o empreendedor esteja
preparado e consciente de suas limitações e potencial.

Dentre as principais desvantagens ou dificuldades relacionadas ao empre-


endedorismo podemos destacar a necessidade de maior dedicação e esforço
mental, emocional e, algumas vezes, físico, bem como muitas horas de tra-
balho. Também deve ser mencionada a preocupação e a tensão em dirigir e
fazer dar certo um negócio próprio e, por isso, uma maior responsabilidade
com os processos de trabalho, além da constante ameaça da concorrência, da
possibilidade de insucesso e a convivência contínua com os riscos inerentes
a qualquer negócio (BRITO, 2013).
Apesar de todas as dificuldades que você acabou de conhecer e que se im-
põem à abertura de novos negócios no país, a taxa total de empreendedorismo
no Brasil, em 2017, foi de 36,4%, o que significa que entre 100 brasileiros,
36 estavam ou criando e aprimorando um negócio novo, ou trabalhando na
manutenção de um negócio já existente. Você sabe o que isso significa? Quase
4 O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora

50 milhões de brasileiros já possuíam seu negócio ou estavam trabalhando na


criação de um novo negócio em um futuro próximo (GLOBAL ENTREPRE-
NEURSHIP MONITOR, [2018?]).
Veja, na Figura 1, as etapas do processo empreendedor, que tem início com
a intenção das pessoas em iniciar um negócio e passam pelas etapas de criação,
fases iniciais de desenvolvimento (nascentes e novos) até o estabelecimento do
empreendimento (GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR, [2016?]).

Contexto empreendedor
Características Postura da Ambiente
do indivíduo sociedade institucional

Estabelecidos

Novos

Nascentes

Intenções

Fases do
Descontinuidade
empreendimento
Potencial empreendedor
• Vê oportunidades
• Tem conhecimento e habilidades
• Não tem medo de fracasso
• Atitude positiva

Figura 1. Processo empreendedor.


Fonte: Adaptada de GEM ([2016?], p. 22).

A seguir, você conhecerá os principais elementos que constituem o


processo da ação empreendedora, momento em que se problematizará a
importância de articular as características do indivíduo empreendedor, com o
ambiente social e institucional para o desenvolvimento do
empreendedorismo

Processos de ação empreendedora


Você já sabe que o empreendedorismo possui papel importante na economia e
contribui para o desenvolvimento, crescimento e sustentabilidade de uma nação,
por meio da criação de novas empresas no mercado e da inovação apresentada
por elas. O empreendedorismo é o motor da economia e o desenvolvimento
da economia depende de empreendedores, de crédito e de novas combinações
de produtos (SCHUMPETER, 1982; ENDEAVOR, 2014).
Você sabia que ser dono do próprio negócio é o quarto principal sonho dos
brasileiros? Isso mesmo, esse sonho perde apenas para o desejo de possuir
a casa própria, de viajar pelo Brasil e de comprar um automóvel (GLOBAL
ENTREPRENEURSHIP MONITOR, [2016?]). Mas, qual é o momento de
empreender? Na verdade, não há um momento certo para isso. São muitos os
motivos que disparam essa iniciativa, como o momento econômico favorável
O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora 5

ou não, a simples vontade de ter um negócio, ou ainda por circunstâncias


alheias à vontade do indivíduo (DORNELAS, 2013).
Cabe destacar que essa iniciativa pode ser provocada por um conjunto de
fatores ou por apenas um, alguns claros e facilmente definidos e outros, nem
tanto. Prova disso é que algumas pessoas se lembram do momento em que
decidiram empreender e outras não conseguem se lembrar. O fato é que o
empreendedorismo pode ser motivado por oportunidade ou por necessidade.
Veja, na Figura 2, alguns dos fatores que motivam o empreendedorismo por
necessidade e por oportunidade.

Não tem acesso a Decisão


Convite Ganha recurso inesperado
oportunidade de deliberada
Carece de
trabalho formal e/ou planejada Recebe herança/patrimônio,
conhecimento
explícito Ideia/descoberta Desejo de participa de sucessão de
inovaçao autonomia empresa familiar
Necessita de
dinheiro para Demissão/ Missão de
sobreviver desemprego Busca sistemática Pós-carreira vida/quer
(quer ganhar dinheiro, aposentadoria deixar legado
realização)

Empreendedor Empreendedor
de necessidade de oportunidade

Foco: sobrevivência/renda mínima Foco: realizar sonho

Figura 2. Modos de empreender.


Fonte: Adaptada de Dornelas (2013).

O empreendedorismo por necessidade é aquele no qual as pessoas acabam


sendo levadas a empreender para a sua sobrevivência e de sua família. Essa
necessidade ocorre, por exemplo, pela falta de emprego formal, seja por falta
de preparo, de formação ou de capacitação do indivíduo; seja por um momento
desfavorável na economia de um país, gerando um cenário de desemprego, ou
ainda, pela perda do emprego formal. Nesse contexto, o trabalho informal se
torna uma rotina no dia a dia do empreendedor de necessidade, que precisa
prover o mínimo de recursos para sua sobrevivência e, nesses casos, empreender
torna-se inevitável. Cabe destacar que, para alguns, o empreendedorismo por
necessidade também pode representar o primeiro passo para o empreendedo-
rismo de oportunidade (DORNELAS, 2013).
O empreendedorismo por oportunidade, assim como o empreendedorismo
por necessidade, pode ser motivado por diversos fatores. Alguns desses mo-
tivos podem ser: o desejo ou sonho de ter um negócio próprio e perceber as
vantagens para a sua realização; um convite recebido de amigos para formar
6 O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora

uma sociedade; uma sucessão familiar; a disponibilidade de recursos para


aplicação, proveniente de demissão, aposentadoria, loteria ou herança; a
vontade de oferecer soluções para os problemas das pessoas ou para seus
próprios problemas, criando um produto ou serviço inovador; a vontade de
alcançar independência financeira, autonomia e realização profissional; entre
outros (DORNELAS, 2013).
Assim, independente da motivação, pode-se dizer que o empreendedo-
rismo exige uma ação empreendedora. O fato é que a ação empreendedora
tem início com o surgimento de uma oportunidade, e sem oportunidade não
existe empreendedorismo.

A ação empreendedora ocorre por meio da criação de novos produtos e processos


e/ou da entrada em novos mercados por empresas recém-criadas ou por empresas
já estabelecidas (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).

Dessa forma, o processo da ação empreendedora é composto pelo reco-


nhecimento ou criação de uma oportunidade, seguido por avaliação, seleção e
exploração de uma oportunidade, por meio do desenvolvimento de um produto
ou serviço, ou ainda da combinação dos dois, que pode acontecer em uma
empresa já existente ou com a criação de uma. A ação empreendedora passa
então pela geração da ideia; pela criação de valor, isto é, pelo desenvolvimento
de um produto ou serviço; pela criação de uma empresa; pela captura de
valor com a comercialização da inovação e pelo compartilhamento do valor
capturado com fornecedores e/ou outros atores (SALERNO; GOMES, 2018).

Oportunidades empreendedoras são aquelas pelas quais produtos, serviços, recursos


materiais e métodos organizacionais podem ser inseridos no mercado e gerar valor
financeiro para o empreendedor (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).
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Estágios da ação empreendedora


Você viu anteriormente que sem oportunidade não existe empreendedorismo,
Mas o que é uma oportunidade? Na verdade, não existe uma definição única
sobre o que seja uma oportunidade. Veja, no Quadro 1, algumas definições de
oportunidade identificadas por Hansen, Shrader e Monllor (2011).

Quadro 1. Entendimentos sobre oportunidades

Visão 1: uma oportunidade é a possibilidade de introduzir um


novo produto no mercado, com o intuito de obter lucro.

Visão 2: uma oportunidade é uma situação na qual os empreendedores


visualizam ou criam novos frameworks do tipo meios–fins.

Visão 3: uma oportunidade é uma ideia que deve ser


desenvolvida na forma de um negócio.

Visão 4: uma oportunidade é a percepção de um empreendedor


de meios viáveis para obter e atingir benefícios.

Visão 5: uma oportunidade é a habilidade de um empreendedor


em criar uma solução para um problema.

Visão 6: uma oportunidade é a possibilidade de servir


os consumidores diferentemente e melhor.

Fonte: Adaptado de Hansen, Shrader e Monllor (2011).

Veja que as visões apresentadas, apesar de diferentes, possuem em comum


a oportunidade como um problema de mercado ou uma necessidade dos
consumidores e como a necessidade de mobilizar e combinar recursos para o
desenvolvimento de um produto ou serviço.
É importante destacar que, diante das potenciais oportunidades, os em-
preendedores devem ter discernimento para decidir se essas valem a pena
ou não. Cabe destacar que a dúvida pode interferir na ação empreendedora.
Dessa forma, avaliar o nível de incerteza de uma oportunidade é fundamental
para o sucesso da ação empreendedora, bem como conhecer a disposição
do empreendedor em enfrentá-la. Nesse sentido, o conhecimento prévio do
empreendedor também pode reduzir o nível de incerteza em sua decisão e sua
motivação representa sua disposição para enfrentá-la (HISRICH; PETERS;
SHEPHERD, 2014).
8 O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora

Para reconhecer uma oportunidade e decidir explorá-la, os empreendedo-


res precisam combinar seus conhecimentos e motivações com informações
complementares, uma vez que possuir informações prévias e capacidade
cognitiva necessária para avaliar as oportunidades contribui para o sucesso
da escolha (SHANE; VENKATARAMAN, 2000; AUTIO; DAHLANDER;
FREDERIKSEN, 2013). O processo de reconhecimento de uma oportunidade
envolve duas etapas: a de identificação, em que um conjunto de problemas e
um conjunto de informações são apresentados aos empreendedores ao mesmo
tempo, permitindo que eles imaginem possíveis soluções aos problemas e
então possam identificar as oportunidades; e a etapa de avaliação, em que os
empreendedores se imaginam em ação e, dessa forma, decidem se a oportu-
nidade é viável ou não (MCMULLEN; SHEPHERD, 2006).
O modelo teórico desenvolvido por McMullen e Shepherd (2006) explica
como o conhecimento e a motivação atuam nos dois estágios da ação empre-
endedora: o estágio de atenção e o estágio de evolução.

 Estágio de atenção: tem o conhecimento prévio como fonte de infor-


mação e as estratégias pessoais como fatores motivacionais. Nessa fase
as incertezas são muitas devido à ignorância do empreendedor, que
resulta em uma oportunidade para uma terceira pessoa. O resultado
aqui é a percepção do empreendedor de que há uma oportunidade a
ser aproveitada por alguém.
 Estágio de evolução: o empreendedor é levado a esse estágio quando
reconhece a oportunidade. O conhecimento é gerado a partir da avalia-
ção da viabilidade e a motivação, a partir da avaliação de conveniência.
Essa combinação leva o empreendedor a identificar oportunidades para
si próprio e as incertezas, se são pontuais e se podem ser superadas por
ele, dotado de conhecimento e motivação, por meio da ação
empreendedora. Aqui o empreendedor decide se a oportunidade é
viável para ele.
Dessa forma, entendemos que aqueles que possuem conhecimento sobre
o mercado e as tecnologias, são capazes de identificar mudanças no ambiente
externo, principalmente se estiverem motivados para processar essas informa-
ções, tendo maiores chances de identificar uma oportunidade para explorar
ou não. Empreender significa, então, agir diante de uma oportunidade que
vale a pena ser aproveitada.
É importante entendermos que, além de pensarem de forma diferente
dos outros, os empreendedores possuem um raciocínio diferente para cada
situação, não sendo raro tomarem decisões em ambientes altamente inseguros,
O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora 9

com altos níveis de risco e pressão. É normal que, em ambientes com essas
características, nossas decisões em relação a problemas sejam diferentes
daquelas que normalmente tomaríamos em uma situação normal, na qual se
tem tempo e conhecimento para solucioná-los. Dependendo do ambiente de
tomada de decisões em que o empreendedor se encontra ele pode (HISRICH;
PETERS; SHEPHERD, 2014):

 Pensar estruturalmente: a ação do empreendedor parte de seu conhe-


cimento prévio sobre mercados existentes para a inserção de produtos/
serviços com nova tecnologia, capazes de satisfazer as necessidades
desse mercado ou do conhecimento sobre uma tecnologia em um novo
mercado que se beneficiaria de sua introdução. A conexão entre um
novo produto ou serviço e seu mercado alvo pode ser apoiada pelas
chamadas semelhanças superficiais e estruturais entre a fonte (mercado)
e o destino (tecnologia). O conhecimento sobre um mercado ou uma
tecnologia pode facilitar a capacidade de reconhecer as oportunidades
empreendedoras.

Semelhanças superficiais: acontecem quando os elementos básicos (fáceis de observar)


da tecnologia se assemelham aos elementos básicos do mercado.
Semelhanças estruturais: acontecem quando os mecanismos fundamentais da tecno-
logia se assemelham ou correspondem aos mecanismos fundamentais do mercado
(HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).

 Adotar a bricolagem: refere-se a combinar recursos disponíveis para


aplicar a novos problemas e oportunidades. Em outras palavras: experi-
mentar, remendar, reembalar e/ou reenquadrar os recursos disponíveis
para que possam ser utilizados de um modo para o qual não foram
projetados ou concebidos inicialmente. Isso quer dizer que os empre-
endedores conseguem improvisar para criar oportunidades.
 Efetuar: significa utilizar todas as informações que possui para imaginar
diversos cenários para a empresa e, então, decidir, sem necessaria-
mente precisar optar pela ideia inicial de negócio. A efetuação ajuda
os empreendedores a raciocinarem em um ambiente altamente incerto,
10 O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora

algo comum nos dias atuais, uma vez que as organizações atuam em
ambientes complexos e dinâmicos, cada vez mais caracterizados por
mudanças rápidas, substanciais e descontínuas, o que exige dos empre-
endedores uma mentalidade empreendedora para que consigam adaptar
suas empresas a esse contexto.

Mentalidade empreendedora: capacidade que o empreendedor possui para detectar e


agir rapidamente, principalmente em condições incertas (HISRICH; PETERS; SHEPHERD,
2014).

 Adaptar-se de modo cognitivo: significa refletir, entender e controlar


o pensamento e a aprendizagem sobre as atividades, situações e seus
ambientes, para poder decidir sobre as oportunidades. Os empreende-
dores precisam ser dinâmicos, flexíveis, autorreguladores e engajados
em seu processo de decisão, identificando e processando as mudanças
em seus ambientes, que irão guiá-lo depois de sua ocorrência. Quanto
maior a adaptabilidade cognitiva, maior a possibilidade de adaptação
a novas situações, e maior a criatividade e o raciocínio.

Pensamento empreendedor: processo mental que ajuda o empreendedor a superar


sua ignorância para decidir sobre uma oportunidade para alguém e/ou para reduzir
suas dúvidas quanto a essa oportunidade (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).

É importante destacar também que toda ação empreendedora é intencional.


Empreendedores buscam determinadas oportunidades e entrar em novos
mercados, além de oferecer novos produtos e serviços, de forma intencional.
Quanto mais forte for a intenção de se empenhar em um comportamento,
maior será a probabilidade colocá-lo em prática.
O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora 11

Intenções empreendedoras: fatores motivantes que influenciam as pessoas a buscar


resultados empreendedores (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).

Como você viu, na maioria das vezes as pessoas se tornam empreendedoras


porque têm essa vontade e, quanto mais forte for a vontade de empreender,
maior será a probabilidade de que isso aconteça. Quando as pessoas enxergam
que empreender é viável, suas intenções se fortalecem. Cabe destacar que
essa vontade é influenciada pela experiência e pelas características de cada
um, como valores, crenças, experiências pessoais e profissionais. A ação
empreendedora pode gerar ganhos econômicos para o empreendedor, sua
família e para a sociedade em geral.

Você sabia que a paranoia, no ambiente de negócios é importante? Para Andrew S.


Grove, presidente e CEO da Intel Corp., em Santa Clara, Califórnia, ser paranoico consiste
em não descansar sobre as vitórias passadas e ser detalhista em relação aos aspectos
mais importantes do negócio (HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014).

AUTIO, E.; DAHLANDER, L.; FREDERIKSEN, L. Information exposure, opportunity evalua-


tion and entrepreneurial action: an empirical investigation of an online user community.
Academy of Management Journal, v. 56, n. 5, p. 1348–1371, jan. 2013.
BRITO, A. M.; PEREIRA, P. S.; LINARD, A. P. Empreendedorismo. Juazeiro do Norte: Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, 2013.
DOLABELA, F. O Segredo de Luísa. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.
DORNELAS, J. Empreendedorismo para visionários: desenvolvendo negócios inovadores
para um mundo em transformação. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
12 O empreendedorismo e a mentalidade empreendedora

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HISRICH, R. D.; PETERS, M. P.; SHEPHERD, A. D. Empreendedorismo. 9. ed. Porto Alegre:
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SCHUMPETER, J. A. A teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova Cultural,
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SHANE, S.; VENKATARAMAN, S. The promise of entrepreneurship as a field of research.
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Leitura recomendada
DEGEN, R. J. O empreendedor: empreender como opção de carreira. São Paulo: Prentice-
-Hall do Brasil, 2009.
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