Quando falamos em Direito das Sucessões, é importante fazer uma contextualização, começando
desde logo, por definir o que se entende por sucessão. O art.2024.º do Código Civil, na esteira da
noção apresentada por Pires de Lima e Antunes Varela, define sucessão como “o chamamento de
uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a
consequente devolução dos bens que a esta pertenciam”.
À definição legal tipificada opõe-se Galvão Telles 1 para quem “quando alguém falece, todos os
seus direitos e obrigações, que não sejam intransmissíveis por morte, se transferem a uma ou
mais pessoas (…) é o que se chama sucessão”. A palavra sucessão tem diferentes aceções em
Direito, destacando-se um sentido amplo e outro estrito. Na sucessão latu sensu há uma total
sobreposição com o termo transmissão, independentemente da sua modalidade. Stictu sensu,
sucessão identifica a transmissão mortis causa. Galvão Telles escreve que “cientificamente as
palavras sucessão e transmissão podem e devem tomar-se como sinónimas1.
E como tal emprega “indiferentemente uma e outra” ainda que “quando falamos de sinonímia
entende-se que nos referimos ao sentido amplo (…) juridicamente, dá-se sucessão ou
transmissão quando uma pessoa fica investida num direito ou numa obrigação ou num conjunto
de direitos e obrigações que antes pertenciam a outra pessoa, sendo os direitos e obrigações do
novo sujeito considerados os mesmos do sujeito anterior e tratados como tais”. Importa, ainda,
delimitar o seu objeto. Assim, constitui objeto fundamental deste ramo de Direito o destino dos
bens de uma pessoa que morreu. Esta ideia, que se infere da noção de sucessão constante no
art.2024.º, pode ser desenvolvida à luz deste mesmo preceito. Trata-se de apurar quem vai ser
chamado para lhe serem atribuídos (devolvidos na letra da lei) os bens que pertenciam ao
falecido.
1
1. A MORTE PRESSUMIDA CAPACIDADE E INCAPACIDADE S UCESSORIA
Designacao sucessoria
A designação consiste na operação feita em vida do de cujus mediante a qual se indicam as pessoas que
podem vir a suceder-lhe, por morte dele – ocorre antes da abertura da sucessão.
As pessoas designadas são os sucessíveis – beneficiários de um facto constitutivo, que ainda não foram
chamados à sucessão, ou que, já tendo sido chamados, ainda não a aceitaram. Sucessor é a pessoa que foi
chamada à sucessão e aceitou.
Note-se, que é aceitável um legado (deixa de um legatário) sem especificação, conforme resulta do artigo
2253º: poderá ter como objeto bens meramente determináveis, através do critério género (o que importa é
que sejam determináveis no momento da sucessão). Na sequência do que foi já enunciado, a classificação
resulta da lei e não é atribuível ou determinável pelo autor 2.
A doutrina clássica tendia a entender que só o herdeiro era um verdadeiro sucessor (um sucessor pessoal
do de cujus), enquanto o legatário é um mero beneficiário de uma atribuição patrimonial; no entanto, a lei
parece estabelecer uma equiparação entre as duas figuras – o regime de aceitação e repúdio é igual.
Ainda assim, existem diferenças de regime:
2
a. Exceção:
b. Responsabilidade dos legatários quando a herança é totalmente repartida por legados
(artigo 2277º), exatamente pela falta de herdeiros.
c. Quando a herança é insuficiente para o cumprimento dos legados.
d. O legado do usufrutuário (artigo 2071º).
e. Quando o testador assim o exija (artigos 2072º e 2073º).
3. Direito de acrescer: assiste unicamente aos herdeiros (artigo 2137º, 2301º a 2307º, 2058º)
4. Sujeição a termo: é possível sujeitar a termo a nomeação do legatário, mas não a nomeação do
herdeiro (2243º).
5. Direito de preferência na venda ou dação em cumprimento do quinhão hereditário e
providências preventivas ou atenuantes da ofensa à memória do familiar falecido: apenas os
herdeiros dispõem destes direitos. (2130º e 71º e ss.).
6. Sucessão na posse – artigo 1255º: de acordo com a interpretação da maioria da doutrina, só
abrange herdeiros.
a. Regência: abrange herdeiros e legatários, pelo que não se afigura como uma diferença de regime.
7. Estatuto de cabeça de casal: não poderá ser atribuído aos legatários, exceto se a herança por toda
atribuída em legados.
8. Transmissão do direito de suceder: apenas atribuível a herdeiros.
9. Sanções por sonegação da herança: apenas aplicável a herdeiros (2096º).
10. Redução por inoficiosidade: as liberalidades testamentarias que foram feitas aos herdeiros são
reduzidas antes das baixas testamentárias a título de legado (2171º).
Quanto à posição da regência a propósito da distinção entre herdeiros e legatários: a
distinção entre herdeiro e legatário existe apenas no regime, ambos são verdadeiros sucessores do
de cujus.
_________________________________
1
. AMARAL, Jorge Augusto Pais de Oliveira, Direito da Família e das Sucessões, Almedina, 2014
3
2
. COSTA, Mário Júlio de Almeida, A liberdade de testar e a quota legitimária no direito português (em especial o
confronto do regime do Código de 1987 com a evolução subsequente), Coimbra, Coimbra Editora, 1997
Para além do referido, poderá ocorrer concorrência de factos designativos, pelo que impera hierarquizá-
los:
1. Sucessão legitimária: não poderá nunca ser afastada pelo autor da sucessão.
2. Sucessão contratual: prevalece sobre a testamentária, porque os pactos sucessórios são
irrevogáveis e, nos termos do artigo 1700, apenas permitidos na convenção antenupcial.
3. Sucessão testamentária: pode, a qualquer momento, ser revogada (artigo 2179º).
4. Sucessão legítima: atua apenas quando não haja mani34efestação da vontade do autor.
2. A A BERTURA DA SUCESSÃO
A abertura da sucessão é o momento inicial do fenómeno jurídico sucessório – inicia-se, assim, o
processo que permite atribuir as situações jurídicas às pessoas determinadas como sucessíveis,
terminando o processo com a aceitação por parte destas. Nos termos do artigo 2031º, abre-se no
momento da morte do seu autor e no lugar do seu último domicílio.
A morte é um pressuposto natural que desencadeia abertura da sucessão. Em termos gerais, é um facto
jurídico stricto sensu, extingue a personalidade jurídica (artigo 68º/1) e, consequentemente, a
4
possibilidade de ser titular de situações jurídicas. A morte não é inferida pela lei, antes carece de ser
reconhecida3.
Para além deste conceito de morte natural, há que considerar, igualmente, o caso da morte presumida.
Neste caso – artigo 68º/3 - verificados certos factos, poderá ser declarada a morte presumida do ausente,
sem que se tenha a certeza absoluta de que este faleceu. Nos termos dos artigos 115º e 116º, a morte
presumida tem os mesmos efeitos da morte natural: mormente, a abertura do processo sucessório.
Ora, note-se que a morte carece de ser registada: nos termos do artigo 1º do CRC – só podendo ser
invocada depois de registada (artigo 2º e 3º CRC).
Ainda a respeito da morte, há a referir que: no caso de desconhecimento em relação a quem morreu
primeiro, para efeitos de sucessão, deve entender-se – artigo 68º/2 – morreram ao mesmo tempo
(presunção de comoriência).
3. Capacidade: idoneidade para se ser chamado a suceder como herdeiro ou legatário de toda e
qualquer pessoa e para se ser chamado a se suceder como herdeiro ou legatário de certa pessoa.
5
A vocação originária é a que se verifica na data da morte do de cuius, artigo 2031º/1. Já a vocação
subsequente é a que se concretiza num momento posterior à morte do de cuius. Podemos distinguir alguns
casos de sucessão subsequente4:
1. O sucessível não prioritário, que é chamado quando os primeiros sucessíveis não poderem ou não
quiserem aceitar a herança/legado (2032º/1). Retroage ao momento da abertura da sucessão.
5. Vocação pura: é a regra geral, não estando sujeita a nenhuma causa – a sucessão legal é pura.
8. Vocação modal: típica da sucessão voluntária; está sujeita a um modo (uma obrigação, pessoal
ou patrimonial, que recai sobre o beneficiário da liberalidade.
9. Vocação una: o sucessível é chamado a suceder com base num único título sucessório e numa
única qualidade sucessória.
b. O sucessível não pode aceitar em parte ou repudiar em parte a herança ou o legado – não poderá ser
aceite mediante condição ou termo.
6
___________________________________
3.
ASCENSÃO, José de Oliveira, Direito Civil- Sucessões, 5ª ed. Revista, Coimbra, Coimbra Editora
4.
COELHO, F. M. Pereira, Direito das Sucessões, Coimbra, 1992
Vocação múltipla: o sucessível é chamado a suceder em mais do que um título de vocação – na dupla
qualidade de herdeiro e de legatário.
1. Sucessão Legal
2. Sucessão Contratual
a. Resulta de um contrato em vida que, pela sua natureza bilateral, já pressupôs a aceitação da outra
parte – a atribuição processa-se ope iuris, pelo que o problema da divisibilidade não se coloca.
3. Sucessão Testamentária
a. Quando se desconhece a existência do testamento e a pessoa repudia a sucessão legal, ainda poderá,
eventualmente, aceitar a sucessão testamentária.
2. Vocação indirecta: quando resulta de uma relação entre o sucessível e o de cuius – os sujeitos
ocupam uma posição porque outros sucessores não podem ou não queriam aceitar a herança
7
4. Comum: originária, pura, direta e originária.
Nos termos do artigo 2058º, a transmissão do direito de suceder ocorre quando o sucessível chamado à
herança falece sem que a haja aceitado ou repudiado – transmite-se, o direito de suceder aos seus
herdeiros (aquele a quem é transmitido o direito de suceder tem o poder de aceitar ou repudiar a herança).
Aplica-se a heranças, mas também a legados (2249º).
O pressuposto essencial deste tipo de vocação é que o sucessível tenha sobrevivido ao autor da sucessão,
no entanto, não chegou a aceitar nem a repudiar a herança.
Nos termos do artigo 2039º, a representação sucessória ocorre quando a lei chama os descendentes de um
herdeiro ou legatário (os representantes) a ocupar a posição daquele que não pôde ou não quis aceitar a
herança ou o legado. O representante é chamado à sucessão em função da sua ligação familiar com o
sucessível. De acordo com a regência, é apenas um fenómeno sucessório5.
8
2. Filho ou irmão do falecido tenha deixado descendentes ou adotados plenamente (um dos casos em
que se estabelece uma primazia dos descendentes em relação ao cônjuge – não é contemplado no
direito de representação).
A sucessão contratual encontra-se prevista no artigo 1703º/2: doação por morte feita por terceiro em
favor de qualquer dos esposados, havendo predecesso do donatário – esta doação não caduca quando
sobrevivam descendentes legítimos. Este artigo coloca um possível problema constitucional: a CRP
proíbe preceitos discriminatórios (artigo 36º/4). De acordo com a regência, não parece haver
discriminação, uma vez que o objetivo é garantir o casamento, daí que o direito de representação apenas
funcione em relação aos filhos do casamento – daquele casamento em particular. Se outra houver sido a
estipulação das partes, não funciona o direito de representação.
Em termos gerais, o direito de representação, afasta três regras (verifica-se desigualdades de graus
sucessórios, com igualdade de estirpes – 2045º + 2138º):
Em termos de funcionamento: o direito de representação funciona por estirpes - cada estirpe corresponde
ao grupo de descendentes do representado -, sendo que, em cada estirpe, cabe aquilo em que sucederia o
ascendente respetivo (2044º). A estirpe, por conseguinte, divide-se, de forma igual, pelos descendentes.
O direito de acrescer implica a designação de vários sucessíveis para sucederem em conjunto num mesmo
objeto e a atribuição a pelo menos um deles do direito de suceder relativo à parte que outro não pôde ou
9
não quis aceitar. Em termos gerais, verifica-se na sucessão legal hereditária (artigos 2137º e 2157º) e na
sucessão testamentária (artigo 2301º a 2307º). Excecionalmente, é admitido na sucessão contratual.
A regra base é a da igualdade de atribuições: entre legatários e entre herdeiros (2302º), não podendo
ocorrer de herdeiros para legatários e de legatários para herdeiros.
O direito de acrescer, em sentido amplo, subdivide-se em direito de não decrescer (quando a porção
que irá acrescer não está onerada com um encargo especial – 2306º, por força da lei, sem necessidade de
aceitação) e direito de acrescer em sentido estrito (quando a porção acrescida está onerada com um
encargo especial – a aquisição dependerá de aceitação, que poderá repudiar ou aceitar, 2306º).
2. A pré-morte não determina o acrescer – o pré-morto não chega a ser chamado à sucessão.
4. Quando haja concurso entre cônjuges e ascendentes, fica 2/3 para o cônjuge e 1/3 para os
ascendentes. Se um dos ascendentes repudiar e funcionar o direito de acrescer, a parte repudiada
acresce aos ascendentes e não ao cônjuge.
5. Quando haja concurso entre cônjuge e descendentes e nenhum destes aceitar ou puder aceitar, o
cônjuge recebe a totalidade que lhes caberia, por via do direito de acrescer (2141º).
A substituição fideicomissária, nos termos do artigo 2286º, é a disposição pela qual o testador impõe ao
herdeiro instituído (o fiduciário) o encargo de conservar a herança, para que ela reverta, por sua morte, a
10
favor de outrem (o fideicomissário). Não se aplica somente a herdeiros, mas também a legados (2296º) e
poderá ser feita num pacto sucessório (1700º/2).
______________________________
5
. COELHO, F. M. Pereira, Direito das Sucessões, Coimbra, 1992
6.
FERNANDES, Luís A. Carvalho, Direito das Sucessões, Almedina, 2012
A substituição direta, nos termos do artigo 2281º/1, ocorre quando o testador substitui outra pessoa ao
herdeiro instituído para o caso de este não poder (faltando capacidade ou em caso de pré-morte) ou não
querer (repudio da herança) aceitar a herança. Nos termos do artigo 2285º, aplica-se tanto a legados como
a heranças.
Pergunta-se, poderá ocorrer na sucessão legal? A sucessão legal abrange a sucessão legitimária e a
sucessão legítima: a primeira não poderá ser afastada pelo autor da sucessão, pelo que não há lugar a
substituição direta; a segunda poderá ser afastada pelo autor da sucessão, no entanto, ao ser afastada, já
não se está no campo da sucessão legitima, mas no campo da sucessão unilateral ou bilateral
(voluntária). Assim, não há substituição direta na sucessão legal.
Em termos de modalidades: poderá ser singular ou plural (2382º), poderá ser reciproca ou não
recíproca (2283º), poderá operar em mais de um 1 grau (se x não quer aceitar, fica para y; se y não quiser
aceitar, fica para w; se w não quer aceitar, fica para z – não há qualquer limitação legal à realização, daí
que se entenda que seja permitido fazê-lo; quando o legislador quis limitar graus fê-lo – é o caso da
substituição fideicomissária). A substituição fideicomissária, contrapondo com a substituição direta,
admite apenas um grau, pela própria natureza e funcionamento da figura. De notar, por fim, que pode dar-
se uma conversão legal de uma substituição fideicomissária numa substituição direta – é o caso do artigo
2293º.
Tipos de Sucessão
11
3. A SUCESSÃO LEGÍTIMA
A sucessão legitima, nos termos do artigo 2131º, é uma modalidade de sucessão lega, supletiva, que se
verifica quando o falecido não tiver disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte, do património
que podia dispor para depois da sua morte. O principal objetivo deste tipo de sucessão é evitar o
abandono das situações jurídicas patrimoniais de que era titular o de cuius.
Pode funcionar em conjugação com a sucessão testamentária e, na falta de testamento, pode concorrer
com outras modalidades de sucessão. No fundo, há lugar à sucessão legítima no espaço não ocupado pela
sucessão legitimária e pela sucessão voluntária.
A sucessão anómala tem por objeto um legado e não uma herança: podemos distinguir a sucessão
transmissiva e a sucessão constitutiva ou económica.
Sucessão anómala transmissiva: indemnização pelos danos não patrimoniais sofridos pela
vitima (496º/4) – de acordo com o Prof JDP é um legado;
Sucessão anómala constitutiva: atribuição de direitos reais sobre a casa de morada de família ao
convivente em economia comum (LEC – artigo 5º), atribuições preferenciais ao cônjuge
sobrevivo do direito de habitação da casa de morada de família e do direito de uso do respetivo
recheio (2103º-A e 2103º-B).
4. A SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
A sucessão testamentária constitui um facto designativo negocial – nos termos do artigo 2179º/1, o
testamento é um ato unilateral e revogável pelo qual uma pessoa dispõe, para depois da parte, de todos os
seus bens ou de parte deles7. O testamento, normalmente, é revogável – no entanto, poderá não ser, nos
termos do artigo 1858º (exclui a revogabilidade da perfilhação feita em testamento).
Podemos qualificar o testamento, ainda, como: gratuito, solene (não é permitido o testamento hológrafo
2204º e ss.) e livremente revogável (2179º e 2311º). Para além disto, tem natureza pessoal (2182º), que
comporta exceções – é o caso da substituição quase pupilar, a substituição pupilar, os casos previstos no
artigo 2182º/2, e o caso previsto no artigo 946º/2; acresça-se que se proíbe o testamento de mão comum.
Quanto ao conteúdo do testamento, este não tem única e exclusivamente natureza patrimonial: pode
conter uma perfilhação (1853º/b), uma declaração de maternidade (114º/1 CRC) ou designação de tutor
(1928º/1)8. Quanto à forma do testamento: fundamental ter em conta que o testamento é um negócio
formal, que tem de se pautar por uma das formas previstas na lei. No caso de não respeitar a forma legal,
é nulo – pelo que se deduz que os testamentos oral e ológrafo não são admissíveis em Portugal (220º). As
12
formas comuns do testamento encontram-se previstas nos artigos 2204º a 2209º; já as formas especiais
encontram-se previstas nos artigos 2210º e ss.
__________________________________
7.
GONZÁLEZ, José Alberto, Código Civil Antotado, vol. VI, Direito das Sucessões
8.
FERNANDES, Luís A. Carvalho, Direito das Sucessões, Almedina, 2012
5. CONCLUSÃO
Após esta abordagem ao tema das Incapacidades na Sucessão, acabamos por nos aperceber da sua grande
amplitude, da sua evolução, da controvérsia que o tema gera, acalentando viva e acesa discussão, cuja
chama continuará ateada por muito tempo, sem que se anteveja, a breve trecho, a ideal solução definitiva.
Assim, prevê-se que continuará esta interessante discussão, não só em Portugal, como em outros países
onde a solução não parece ainda estar à vista. São cada vez mais os defensores de uma reforma e
atualização do Direito Sucessório em geral, mas mais especificamente no que diz respeito à quota
indisponível e ao respeito pela vontade do autor da sucessão.
Tivemos ainda a oportunidade de constatar que a doutrina não é unânime em relação a muitos pontos
destas matérias, entrando muita vezes em choque com aquilo que foi estabelecido pelo próprio legislador,
nomeadamente no que diz respeito à classificação das incapacidades (ilegitimidades) sucessórias, à
necessidade de declaração judicial de indignidade, à aplicação da indignidade e da deserdação a todas as
formas de sucessão e até relativamente aos valores axiológicos e até mesmo constitucionais que devem
prevalecer. Se a lei civil pretende ser o reflexo de uma sociedade moderna e pretende conseguir dar
resposta à evolução dessa mesma sociedade, tem que procurar adaptar-se ao seu modo de estar, de sentir e
perceber que esta sociedade coloca novos problemas e que para isso necessita de novas soluções que se
adequem à sua realidade. Aquilo que seria impensável em tempos passados ocorre nos dias de hoje, e é
isso que o legislador tem que perceber. Não pode manterse acorrentado ao passado e a ideias
ultrapassadas ou pouco apropriadas.
13
6. BIBLIOGRAFIA
GONZÁLEZ, José Alberto, Código Civil Antotado, vol. VI, Direito das Sucessões
ASCENSÃO, José de Oliveira, Direito Civil- Sucessões, 5ª ed. Revista, Coimbra, Coimbra
Editora
AMARAL, Jorge Augusto Pais de Oliveira, Direito da Família e das Sucessões, Almedina, 2014
COSTA, Mário Júlio de Almeida, A liberdade de testar e a quota legitimária no direito português
(em especial o confronto do regime do Código de 1987 com a evolução subsequente), Coimbra,
Coimbra Editora, 1997
14