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LEGITIMA DEFESA COMO CAUSA EXCLUDENTE DE ILICITUDE NA

RESPONSABILIDADE CIVIL

Andréia Fernanda Lemes Rojas1

Mirela Damacena2

EXCLUDENTES DE ILICITUDE E EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE

Para o direito civil, os atos ilícios praticados geram o dever de indenizar.


Nos moldes do art. 186 do Código Civil, aquele que culposamente cometer ato
ilícito deverá repará-lo, devidamente reafirmado no art. 927, onde “aquele que,
por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo”. Assim, os ilícitos civis que causem danos, obrigam o autor a reparar o dano
sofrido pela vítima (FARIAS, ROSENVALD e NETTO, 2017).

As causas excludentes da responsabilidade civil constituem matéria de


vultuosa importância na prática jurídica, pois, é arguida como matéria de
defesa pelo indivíduo causador do dano em ação de cunho indenizatório
proposta pela vítima (GAGLIANO e FILHO, 2017).

Conforme descrito por Farias, Rosenvald e Netto (2019, p. 179):

“Trata-se de atos danosos da pessoa ou de bens alheios praticados


em circunstâncias em que seria inexigível outro comportamento,
assim ficando excluída a ilicitude. Os atos justificados são atos lesivos
lícitos, pois mesmo existindo violação deliberada de direitos alheios -
a conduta do agente muitas vezes seria tipificada como criminosa - a
causa legitimadora torna lícita a ofensa ao direito alheio”.

O Código Civil de 2002 contemplou em seu art. 188 as excludentes de


ilicitude, quais sejam a legítima defesa, o exercício regular de direito estado de
necessidade, e as excludentes de responsabilidade, sendo elas o caso fortuito,
a força e a culpa exclusiva da vítima. Tais excludentes afastam a
contrariedade, mas não excluem o dever de indenizar (PINTO, 2016).

1
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato Grosso.
2
Acadêmica do curso de Direito da Faculdade Católica Rainha da Paz (FCARP), Araputanga, Mato Grosso.
LEGITIMA DEFESA COMO CAUSA EXCLUDENTE DE ILICITUDE NA
RESPONSABILIDADE CIVIL

O art. 188, inciso I, do Código Civil dispõe que não constituem atos
ilícitos aqueles praticados em legítima defesa. Nas palavras de Tartuce (2017,
p. 390) “trata-se de importante excludente do dever de indenizar, da ilicitude,
com relevância prática indiscutível”.

O Código Penal trás a definição de legítima defesa em seu art. 25, in


verbis: “entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
de outrem”. O conceito é o mesmo para o Direito Civil. O Direito Brasileiro não
admite o exercício arbitrário das próprias razões, entretanto, o indivíduo pode
se valer de meios necessários para repelir agressão injusta, atual ou eminente,
contra si ou contra terceiros e bens. Dessa forma, quem pratica a legítima
defesa, amparado pelo art. 188, inciso I, não comete ato ilícito, sendo assim,
não gera dever de indenizar (VENOSA, 2017).

Em âmbito jurisprudencial, colhe-se idêntico entendimento:

RESPONSABILIDADE CIVIL. AGRESSÃO. LEGÍTIMA DEFESA DE


TERCEIRO. ROMPIMENTO DO NEXO CAUSAL. 1- O ordenamento
positivo vigente atribui responsabilidade aquele que por ação ou
omissão, negligência ou imperícia, causar dano a outrem. 2 –
Contudo, o mesmo diploma legal dispõe que não constituem atos
ilícitos aqueles praticados em legítima defesa ou no exercício de um
dinheiro reconhecido. 3 – Nesse contexto, diante da comprovação
de que a parte agiu em legítima defesa de terceiro, inexiste o
dever de indenizar eventuais prejuízos sofridos pelo agressor.
(grifo nosso)
(TJ-RJ – APL: 00657572320068190002 Rio de Janeiro, Niterói, 10ª
Vara Cível, Relator: Milton Fernandes de Souza, Data de julgamento:
27/01/2009, 5ª Câmara Cível, Data de publicação: 16/02/2009).

Entretanto, se o indivíduo ao reagir a injusta agressão causar danos a


terceiros alheios aos fatos, embora preencha os requisitos que configuram a
legítima defesa, responderá perante a vítima, mas lhe é assegurado o direito
de regresso (arts. 929 e 930 do Código Civil), estamos diante da legítima
defesa com aberratio ictus. Quando o agente pratica a legítima defesa
excedendo seus limites legais, responderá proporcionalmente ao que excedeu.
É o que explica Nader (2016, p. 192) ao dizer que “a conduta será lícita quanto
à repulsa da agressão injusta e ilícita relativamente à demasia cometida”
(p.192).

Na mesma vertente, o agente que pratica a legítima defesa putativa, ou


seja, o agente está convencido, mediante a um conjunto de fatores, que sofrerá
agressão verdadeira, está obrigado a indenizar, pois essa espécie de legítima
defesa não afasta o caráter ilícito do fato (GAGLIANO e FILHO, 2017).

A doutrina moderna aponta para a possibilidade de uma legítima defesa


recíproca, exequível diante dos fatos posteriores à legítima defesa putativa.
Neste tipo de legítima defesa, ocorre uma agressão recíproca. Assim ocorre
quando Mévio, acreditando que está sendo atacado, fere o suposto agressor
Tício, que, em decorrência da agressão, revida ferindo Mévio. Como inexiste a
legítima defesa da legítima defesa, no caso em tela, ocorreria a absolvição de
ambos. Nader (2016, p.193) citando Damásio E. de Jesus, afirma que “não
pode haver ação civil de reparação de dano, quando o fato é praticado em
legítima defesa, contra o autor da agressão”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson; NETTO, Felipe Peixoto


Braga. Manual de Direito Civil: volume único. 4ª ed. Salvador: Editora
JusPodivm, 2017.
GAGLIANO, Paulo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil:
volume único. São Paulo: Saraiva, 2017.
NADER, PAULO. Curso de Direito Civil: Responsabilidade Civil. vol.7. 6ª
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito Civil Sistematizado. 7ª ed. Salvador:
Editora JusPodivm, 2016.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil.
17ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.

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