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Meritíssimo Juiz
Tribunal Judicial de
E.R.D.
A Advogada,
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Venerandos Juízes Desembargadores
Tribunal da Relação de
ALEGAÇÕES
I. Objeto
II. Motivação
O recurso foi admitido por despacho de fls. 65 e designou-se dia para a audiência de
julgamento. No entanto, três dias antes da data designada, “o tribunal decide não
admitir o recurso, porquanto a sua admissão e posterior apreciação constitui ato
inexistente que a lei não admite, e que pode pois ser conhecido oficiosamente, tudo
nos termos e para os efeitos do disposto nos artigos 51º e 59º do Regime Geral das
Contraordenações e Coimas, e artigo 118º do Código de Processo Penal, ex vi artigo
41º, n.º1 do Regime Geral das Contraordenações e Coimas.”
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Ora, o Meritíssimo Juiz limitou-se a fazer uma interpretação literal do disposto no n.º1
do artigo 59º do Regime Geral das Contraordenações e Coimas que dispõe que “A
decisão da autoridade administrativa que aplica uma coima é suscetível de
impugnação judicial. Tendo sido aplicada no caso uma admoestação e não uma
coima, a conclusão foi a de que não era admissível a impugnação judicial.
Nos termos do artigo 9º do Código Civil, a interpretação não devia ter-se cingido à
letra da lei, sob pena de ter posto em causa garantias constitucionalmente
consagradas, nomeadamente o direito ao recurso.
Não obstante ter sido aplicada uma admoestação e não uma coima, o certo que este
tipo de sanção pressupõe um juízo negativo acerca da conduta do arguido e, portanto,
deverá considerar-se impugnável.
Ambas as sanções são medidas sancionatórias de caráter não penal; enquanto uma
tem natureza pecuniária - a coima, a outra - a admoestação não o tem, mas esta
pequena diferença não lhes retira a mesma importância.
Com efeito, quer se aplique uma coima ou uma admoestação, há sempre uma
condenação e o registo da sanção pela autoridade administrativa que a aplicou!
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verdade, esta sanção nada tem de acessória no caso concreto, porquanto é de longe
mais gravosa do que a sanção dita principal – a admoestação.
Além disso, a mesma interpretação literal feita pelo Meritíssimo Juiz a quo do n.º1 do
artigo 59º do Regime Geral das Contraordenações e Coimas, deveria ter sido efetuada
relativamente à aplicação pela autoridade administrativa da referida sanção acessória.
Pois, nos termos do n.º1 do artigo 21º do RGCO “A lei pode, simultaneamente com a
coima, determinar as seguintes sanções acessórias, em função da gravidade da
infração e da culpa do agente” (sublinhado nosso). Também de acordo com o disposto
no n.º4 do artigo 9º do DL 156/2005, de 15.09, com a redação dada pelo DL 371/2007,
de 06.11, “a violação do disposto nas alíneas a) e b) do n.º1 do artigo 3º dá lugar, para
além da aplicação da respetiva coima, à publicidade da condenação por
contraordenação num jornal de expansão local ou nacional, a expensas do infrator.”
(sublinhado nosso)
As sanções acessórias configuram uma censura adicional em função da gravidade da
infração e da culpa do agente, pelo que se revelam totalmente inaplicáveis em casos
de admoestação, uma vez que esta pressupõe uma reduzida gravidade e culpa.
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Assim, é inadmissível a aplicação de uma sanção acessória quando apenas houver
condenação em admoestação, como foi o caso.
A conclusão terá que ser a mesma feita pelo Meritíssimo Juiz quanto à admissão do
recurso: a aplicação de sanção acessória em caso de condenação em admoestação
“constitui ato inexistente que a lei não admite e pode pois ser conhecido
oficiosamente”.
c) Como tal, a decisão que a aplica deve ser suscetível de impugnação judicial, sob
pena de se violarem preceitos legais e constitucionais relativos às garantias do
processo penal, aplicáveis ao direito contraordenacional por força do disposto no
artigo 41° do Regime Geral das Contraordenações e Coimas.
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g) A impossibilidade de impugnação judicial no caso concreto põe em causa a
defesa dos direitos e interesses dos administrados, constitucionalmente
garantida pelo artigo 268º, n.º4 da CRP.
h) Além disso, nos termos do n.º1 do artigo 21º do RGCO e do n.º4 do artigo 9º do
DL 156/2005, de 15.09, com a redação dada pelo DL 371/2007, de 06.11, a
aplicação de sanções acessórias só é admissível quando haja uma decisão
administrativa que aplique uma coima, o que não foi o caso.
i) Pelo que, a aplicação de sanção acessória neste caso constitui ato inexistente
que a lei não admite e que o Meritíssimo Juiz a quo poderia ter conhecido
oficiosamente.