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Recurso de Contra Ordenação n.

Meritíssimo Juiz
Tribunal Judicial de

………, notificadas da decisão de rejeição da impugnação judicial e com ela não


concordando, vêm dela interpor recurso para o Tribunal da Relação de ……., o qual
sobe imediatamente, nos próprios autos e com efeito devolutivo.

E.R.D.

Junta: Motivação de Recurso e duplicados legais.

A Advogada,

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Venerandos Juízes Desembargadores
Tribunal da Relação de

As Recorrentes ……….vêm apresentar as suas

ALEGAÇÕES

O que fazem nos termos e com os seguintes fundamentos:

I. Objeto

A douta decisão do Tribunal “a quo” que rejeitou a impugnação judicial das


Recorrentes da decisão administrativa que lhes aplicou uma admoestação e a sanção
acessória de publicação num jornal, acrescida das respetivas custas legais.

II. Motivação

Em ….., as Recorrentes impugnaram judicialmente a decisão administrativa da


Inspeção Regional das Atividades Económicas que lhes aplicou uma sanção de
admoestação e a sanção acessória de publicação num jornal de expansão local,
acrescida das respetivas custas legais, pela prática da infração p. e p. na alínea b) do
n.º1 do artigo 3º e na alínea a) do n.º1 do artigo 9º do DL 156/2005, de 15.09, com a
redação dada pelo DL 371/2007, de 06.11.

O recurso foi admitido por despacho de fls. 65 e designou-se dia para a audiência de
julgamento. No entanto, três dias antes da data designada, “o tribunal decide não
admitir o recurso, porquanto a sua admissão e posterior apreciação constitui ato
inexistente que a lei não admite, e que pode pois ser conhecido oficiosamente, tudo
nos termos e para os efeitos do disposto nos artigos 51º e 59º do Regime Geral das
Contraordenações e Coimas, e artigo 118º do Código de Processo Penal, ex vi artigo
41º, n.º1 do Regime Geral das Contraordenações e Coimas.”

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Ora, o Meritíssimo Juiz limitou-se a fazer uma interpretação literal do disposto no n.º1
do artigo 59º do Regime Geral das Contraordenações e Coimas que dispõe que “A
decisão da autoridade administrativa que aplica uma coima é suscetível de
impugnação judicial. Tendo sido aplicada no caso uma admoestação e não uma
coima, a conclusão foi a de que não era admissível a impugnação judicial.

Nos termos do artigo 9º do Código Civil, a interpretação não devia ter-se cingido à
letra da lei, sob pena de ter posto em causa garantias constitucionalmente
consagradas, nomeadamente o direito ao recurso.

Não obstante ter sido aplicada uma admoestação e não uma coima, o certo que este
tipo de sanção pressupõe um juízo negativo acerca da conduta do arguido e, portanto,
deverá considerar-se impugnável.

Ambas as sanções são medidas sancionatórias de caráter não penal; enquanto uma
tem natureza pecuniária - a coima, a outra - a admoestação não o tem, mas esta
pequena diferença não lhes retira a mesma importância.

Com efeito, quer se aplique uma coima ou uma admoestação, há sempre uma
condenação e o registo da sanção pela autoridade administrativa que a aplicou!

E a condenação em admoestação tem particular relevância na medida em que, se


quem foi condenado voltar a praticar a mesma infração, deixa de ser considerado
primário e, consequentemente, numa segunda condenação em contraordenação igual
ou da mesma natureza já não lhes será aplicada a mesma pena por não se verificarem
os pressupostos de aplicação.

A injustiça da não possibilidade de impugnação judicial é ainda mais ofensiva no caso


em apreço, pois além de as Recorrentes terem sido condenadas numa admoestação,
também o foram na sanção acessória de publicação da condenação num jornal de
expansão regional.

A sanção acessória de publicidade da condenação, por dar a conhecer à comunidade


a contraordenação praticada, reveste a natureza de uma verdadeira pena. Na

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verdade, esta sanção nada tem de acessória no caso concreto, porquanto é de longe
mais gravosa do que a sanção dita principal – a admoestação.

Senão vejamos, a admoestação é proferida por escrito e dela apenas tem


conhecimento quem é condenado, enquanto que a publicidade da condenação implica
o conhecimento por toda uma comunidade, com os prejuízos evidentes que daí
decorrem para a reputação e atividade das Recorrentes, tanto mais num meio
pequeno como é o ..

A impossibilidade de impugnação judicial desta decisão administrativa com


consequências tão graves para as Recorrentes põe em causa a defesa dos direitos e
interesses dos administrados, constitucionalmente garantida pelo artigo 268º, n.º4 da
CRP.

A decisão administrativa que condenou em admoestação, juntamente com a sanção


acessória de publicidade, configura uma verdadeira decisão condenatória (artigo 58.º
do RGCO), que se projeta, de forma bastante mais gravosa até do que uma coima,
nos interesses das Recorrentes e que, por isso, deve ser passível de impugnação
judicial.

Além disso, a mesma interpretação literal feita pelo Meritíssimo Juiz a quo do n.º1 do
artigo 59º do Regime Geral das Contraordenações e Coimas, deveria ter sido efetuada
relativamente à aplicação pela autoridade administrativa da referida sanção acessória.
Pois, nos termos do n.º1 do artigo 21º do RGCO “A lei pode, simultaneamente com a
coima, determinar as seguintes sanções acessórias, em função da gravidade da
infração e da culpa do agente” (sublinhado nosso). Também de acordo com o disposto
no n.º4 do artigo 9º do DL 156/2005, de 15.09, com a redação dada pelo DL 371/2007,
de 06.11, “a violação do disposto nas alíneas a) e b) do n.º1 do artigo 3º dá lugar, para
além da aplicação da respetiva coima, à publicidade da condenação por
contraordenação num jornal de expansão local ou nacional, a expensas do infrator.”
(sublinhado nosso)
As sanções acessórias configuram uma censura adicional em função da gravidade da
infração e da culpa do agente, pelo que se revelam totalmente inaplicáveis em casos
de admoestação, uma vez que esta pressupõe uma reduzida gravidade e culpa.

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Assim, é inadmissível a aplicação de uma sanção acessória quando apenas houver
condenação em admoestação, como foi o caso.

A conclusão terá que ser a mesma feita pelo Meritíssimo Juiz quanto à admissão do
recurso: a aplicação de sanção acessória em caso de condenação em admoestação
“constitui ato inexistente que a lei não admite e pode pois ser conhecido
oficiosamente”.

III. DAS CONCLUSÕES

a) A interpretação do disposto no n.º1 do artigo 59º do Regime Geral das


Contraordenações e Coimas - “A decisão da autoridade administrativa que aplica
uma coima é suscetível de impugnação judicial” não pode se pode cingir à letra
da lei, sob pena de se pôr em causa o direito ao recurso.

b) A admoestação é uma sanção contraordenacional, que pressupõe um juízo


negativo acerca da conduta do arguido e que consubstancia uma verdadeira
condenação e, consequentemente, o registo da sanção pela autoridade
administrativa.

c) Como tal, a decisão que a aplica deve ser suscetível de impugnação judicial, sob
pena de se violarem preceitos legais e constitucionais relativos às garantias do
processo penal, aplicáveis ao direito contraordenacional por força do disposto no
artigo 41° do Regime Geral das Contraordenações e Coimas.

d) A injustiça da não possibilidade de impugnação judicial é ainda mais ofensiva


por ter havido também condenação na sanção acessória de publicação da
condenação num jornal de expansão local.

e) A sanção acessória de publicidade da condenação reveste a natureza de uma


verdadeira pena e é de longe mais gravosa do que a admoestação, e até mais
do que uma coima!

f) A publicidade da condenação implica o conhecimento por toda a comunidade,


com os prejuízos evidentes que daí decorrem para a reputação e atividade das
Recorrentes, ainda por cima num meio pequeno.

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g) A impossibilidade de impugnação judicial no caso concreto põe em causa a
defesa dos direitos e interesses dos administrados, constitucionalmente
garantida pelo artigo 268º, n.º4 da CRP.

h) Além disso, nos termos do n.º1 do artigo 21º do RGCO e do n.º4 do artigo 9º do
DL 156/2005, de 15.09, com a redação dada pelo DL 371/2007, de 06.11, a
aplicação de sanções acessórias só é admissível quando haja uma decisão
administrativa que aplique uma coima, o que não foi o caso.

i) Pelo que, a aplicação de sanção acessória neste caso constitui ato inexistente
que a lei não admite e que o Meritíssimo Juiz a quo poderia ter conhecido
oficiosamente.

j) Deve, assim, ser considerado procedente o presente recurso, sendo revogada a


decisão recorrida.

Nestes termos e nos mais de direito, com o douto


suprimento desse Tribunal, deve o presente recurso ser
julgado procedente, por fundado, revogando-se a decisão
que rejeitou a impugnação das oras Recorrentes,
fazendo-se JUSTIÇA!

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