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ALFABETIZAÇÃO

E LETRAMENTO

Virna Mac-Cord Catão


O contexto histórico
da alfabetização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar como o processo de alfabetização surgiu na Antiguidade.


 Reconhecer a importância do surgimento das cartilhas para o processo
de alfabetização.
 Descrever o processo de alfabetização nos dias atuais.

Introdução
A escrita tem origem na evolução da comunicação, iniciada com dese-
nhos e, posteriormente, composta pela representação grafema-fonema,
conhecida como alfabeto. Com o passar dos tempos, sua função inicial
foi caracterizada de acordo com as necessidades e condições de cada
era. A dimensão do contexto histórico que envolve a escrita vai desde sua
invenção até a escolarização, culminando no uso de cartilhas baseadas
nos métodos de alfabetização e em reflexões atuais sobre o letramento.
Neste capítulo, você vai ver como o processo de alfabetização surgiu
na Antiguidade. Também vai compreender, por meio da contextuali-
zação histórica, a importância do surgimento das cartilhas para o pro-
cesso alfabetizador. Por fim, você vai estudar o processo alfabetizador
contemporâneo.

O processo de constituição da alfabetização


na Antiguidade
A escrita tem origem no mundo antigo, num momento histórico marcado
pelo desenvolvimento da civilização, das artes, do governo, do comércio,
da agricultura, da manufatura e dos transportes. De acordo com Barbosa
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(2013), a escrita é considerada um marco da passagem da pré-história para a


história. Ao analisar o desenvolvimento da escrita, é fundamental conhecer
suas condições de realização.
A escrita foi inventada na Antiguidade pela necessidade de se fazer um
registro da própria história da humanidade, pois, até então, o que predominava
eram os relatos orais. Então, o homem criou um código, ou seja, a escrita
passou a ser um código utilizado para registrar e comunicar essa história.
Esses primeiros registros eram rústicos e evoluíram com o passar dos tem-
pos, até chegar à criação do alfabeto. Essa evolução partiu dos desenhos,
organizou-se em hieróglifos (Figura 1), até chegar ao código alfabético que
você conhece.

Figura 1. Exemplo de hieróglifo.


Fonte: Fernandes ([2018]).

Essa condição inicial da escrita, também chamada de “pictórica”, mostra


como a representação das ideias se deu, historicamente, de um registro menos
elaborado para um mais elaborado. Tal condição demonstra a capacidade,
já naquela época, de o homem evoluir, gradativamente, nas relações insti-
tuídas com os símbolos. Da mesma forma, hoje, a partir de alguns estudos
acerca da construção da língua escrita, se entende que a aprendizagem da
escrita se dá, processualmente, do simples ao complexo. Isso significa que é
extremamente relevante a ideia de evolução assinalada no ensino da escrita
na educação escolar.
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Como a escrita era originada de registros pictóricos, escrever era comparado


ao ato de desenhar; assim, a escrita era considerada uma arte. Naquela época,
não existiam livros impressos. Os materiais utilizados para a escrita eram
de difícil manuseio. No começo, eram feitas marcações com instrumentos
pontiagudos em pedras, argila, couro, evoluindo para o uso do papiro e do
pergaminho (Figura 2), usando uma pena. Quantas habilidades eram neces-
sárias para o uso desses instrumentos, não é?

Figura 2. Pergaminho.
Fonte: Andrey_Kuzmin/Shutterstock.com.

A caligrafia era totalmente desenvolvida em movimentos diferenciados,


como se de fato fosse uma grande obra de arte. A arte de escrever era
dominada por poucos. Você pode perceber, assim, que a escrita sempre
teve relação com o poder, pois estava restrita a poucos. Os escribas eram
representantes dos reis que, por meio da escrita, registravam as leis. Para
reforçar essa restrição, a arte passava de pai para filho, ou seja, esse conhe-
cimento não era para todos.
Naquela época, grandes bibliotecas foram organizadas, registrando os
saberes construídos pela humanidade até então. Não existia a imprensa, não
existiam o papel e a caneta e os livros eram manuscritos, o que dificultava
mais ainda a democratização desse saber. As tecnologias da escrita vieram
se modificando a partir dos tempos e, consequentemente, o acesso também.
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O processo de escolarização da escrita


e o surgimento das cartilhas
Com as mudanças de paradigmas, e, consequentemente, o advento de novas
tecnologias, Barbosa (2013) afirma que a escrita na sociedade foi assumindo
novas proposições e usos, o que vai do uso pela Igreja até a sua entrada na
instituição chamada escola, durante a Modernidade. Quando a escrita entra na
escola, ler e escrever passam a ser objetivos de ensino. Era necessário, portanto,
pensar em metodologias que traduzissem e alcançassem esse objetivo. Mais
tarde, as cartilhas serão ferramentas importantes na escolarização da escrita,
como você vai ver a seguir.
Os tempos históricos são marcados por mudanças paradigmáticas. Na Idade
Média, ocorreu uma mudança que conduziu todos os princípios da humanidade
à condição teocentrista de existência. Ou seja, o poder e o pensamento da
Igreja predominavam na sociedade.
Na Idade Média, muitos documentos escritos foram destruídos para que
se utilizassem os papiros em que estavam grafados os registros. Naquela
época, os documentos eram copiados para serem preservados. Alguns autores
apontam que as transcrições eram até modificadas para manter a Igreja no
poder. Os copistas faziam transcrições, que eram guardadas em grandes
bibliotecas, sob o domínio da Igreja. Nessas bibliotecas, era impedido o
acesso aos escritos considerados hereges, ou seja, aqueles que iam contra o
poder hegemônico da Igreja.
Dessa forma, mais uma vez a escrita estava atrelada às relações de poder
instituídas na sociedade. Ainda assim, a Igreja teve grande importância na
reprodução e na preservação de documentos. Surgem então as primeiras car-
tilhas, como a Cartilha Civile Honesteté des enfants (Figura 3), que defendia
a ideia de ensinar quatro letras por dia. Nesse período, os locais de ensino
eram as próprias igrejas.
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Figura 3. Cartilha Civile Honesteté des enfants.


Fonte: Granjon (2009).

Mas o que realmente influenciou o aparecimento das cartilhas foi a invenção


da imprensa (Figura 4), por Gutemberg, durante o Renascimento, séculos XV
e XVI. A criação da imprensa foi de grande valia para a difusão da escrita,
pois assim o acesso estava mais disponível. As primeiras obras passaram a
circular e a escrita ganhou espaço no cenário mundial.

Figura 4. Imprensa.
Fonte: Gutemberg (2015).
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Naquele tempo, a princípio, aprendia-a a ler e a escrever em casa mesmo,


decorando letras e repetindo e copiando as famílias silábicas. Era um pro-
cesso mecânico, baseado na memorização. Nesse contexto, as cartilhas são
elaboradas como livros didáticos que objetivam sistematizar, metodologi-
camente, o ensino da língua escrita. As cartilhas geralmente eram (e ainda
são) acompanhadas do manual do professor, o que, de certa forma, legitima
a condição tecnicista que perdurou por séculos e séculos na alfabetização
nas instituições escolares.

No dicionário Houaiss (CARTILHA, 2001), você pode encontrar a etimologia da palavra


“cartilha”, que tem origem na junção de dois prefixos, a saber: carta + ilha. Na época, a
cartilha era um pequeno caderno ou livro com os primeiros movimentos para se apren-
der o ABC. As cartilhas também ficaram conhecidas como “cartas de ABC” (Figura 5).

Figura 5. Exemplo de cartas de ABC, primeiras cartilhas.


Fonte: Ernesto Filho (2008).

Essas cartilhas estavam pautadas em métodos, mais conhecidos como sintéticos e


analíticos, cuja base organizacional estava na memorização, em exercícios repetitivos,
na união e na separação das partes que constituem as letras, sílabas, palavras e textos.
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O papel da escola perante a sociedade só ganhou força com a Revolução


Francesa. “Escolarizar para alfabetizar” era o sonho republicano. Com a
escola republicana, as crianças foram transformadas em alunos e, a partir
daí, a escrita se tornou importante para essa instituição. A escola iniciou um
processo de universalização da educação formal sob o controle do Estado. É
o mito da alfabetização: saber ler e escrever para ascender socialmente. Nesse
contexto, instrumentos diferenciados são utilizados para atender à grande
massa: os “romances” são reproduzidos, o quadro de giz é criado e surgem
outros instrumentos.
A partir do momento em que a escola representa o “saber”, a generali-
zação da alfabetização abre uma nova era na história da humanidade. As
sociedades ocidentais iniciam um período caracterizado pela revolução
permanente, que ressoa nos planos político, econômico, social e cultural.
Essa época foi marcada pela emergência das nações democráticas, pelo
avanço da industrialização, pelo crescimento das cidades e pela erupção do
individualismo, bem como pela supremacia da cultura visual.
Esse período também se caracteriza predominantemente pela metodização,
ou seja, pela preocupação com o “como se ensina” em detrimento do “como
se aprende”. Os primeiros métodos foram os sintéticos, como o alfabético
(ou soletração), o fônico e o silábico. Eram métodos em que a marcha da
alfabetização partia das menores porções da língua. Em contrapartida, havia
os métodos analíticos, em que a marcha ocorria de forma contrária, ou seja,
partia do todo para as partes.

A alfabetização nos dias atuais


Aqui, você vai ver a transição da alfabetização enraizada em metodologias e
seus instrumentos correspondentes, as cartilhas, para uma concepção mais
cognitivista e sociointeracionista. Essa transição traz a ideia de que a leitura
e a escrita são construções e processos ativos e reflexivos.
A partir do momento em que a alfabetização passa a ser o sonho republi-
cano no Brasil, ela ganha impulso com o movimento escolanovista dos anos
1930, que preconizava uma escola pública, gratuita, obrigatória e laica, de
acordo com os estudos de Mortatti (2000; 2009). Nesse cenário, Lourenço
Filho (2008) lança os testes ABC, que se sustentavam em exercícios de
prontidão para a alfabetização (Figura 6). Esses exercícios, por incrível que
pareça, são vinculados à prática docente até hoje, limitando a alfabetização
à mecanização da escrita.
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Figura 6. Exemplo de um exercício de prontidão.


Fonte: Lourenço Filho (2008).

Por muito tempo, as escolas brasileiras alfabetizaram seus alunos por meio
de métodos e cartilhas, com ênfase em exercícios mecânicos (CARVALHO,
2007). Mais tarde, como afirma Moll (1996), há uma modificação na centra-
lidade da alfabetização, relacionada aos estudos piagetianos. Assim, ganha
destaca o “como se aprende” em detrimento do “como se ensina”, até então
onipotente na produção escolar.
A perspectiva piagetiana considera que as crianças, em suas relações
com o mundo, têm ideias próprias sobre a escrita e constroem significados
a partir do contato simbólico. Nessa direção, Carvalho (2007) sinaliza que
ganha força a pesquisa realizada por Emilia Ferreiro intitulada Psicogênese
da Língua Escrita. Essa pesquisa demonstra que a construção da escrita se dá
por meio de um processo gradual e contínuo, ou seja, do conhecimento menos
elaborado, mais rústico da escrita, para um conhecimento mais elaborado,
uma escrita mais alfabética.
Emilia Ferreiro resgata os pressupostos epistemológicos da teoria de Piaget
para aplicá-los na análise do aprendizado da língua escrita. No entanto, o
objetivo de suas investigações não é a prescrição de novos métodos para o
ensino da leitura e da escrita, muito menos a proposta de novas formas de
classificar as dificuldades de aprendizagem. Os estudos de Emilia Ferreiro
desvendam a “caixa-preta” dessa aprendizagem, demonstrando como são os
processos existentes nos sujeitos na aquisição da língua escrita.
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Leia mais sobre o trabalho de Emilia Ferreiro no texto


disponível no link ou código a seguir.

https://goo.gl/cdEpDj

No Brasil, até os anos 1980, a aprendizagem da escrita era considerada


apenas uma técnica dependente das cartilhas e de seus métodos de ensino, sus-
tentada nas teorias psicológicas vinculadas ao empirismo (estímulo-resposta).
De tal compreensão surgiram questionamentos que se consolidaram em uma
proposta de desmetodização da alfabetização.

Entende-se por desmetodização o momento pedagógico em que se desloca o eixo


do “como se ensina” (método) para o “como se aprende” (processo de construção do
conhecimento). Essa concepção surge a partir dos estudos construtivistas, acompa-
nhada do abandono das teorias tradicionais e do questionamento do uso das cartilhas.

Você pode perceber, então, que o construtivismo deslocou o eixo de dis-


cussão do “como se ensina” para o “como se aprende”. Logo, as teorias e
práticas tradicionais foram abandonadas e as cartilhas, criticadas. Passou-se
a entender que para se alfabetizar era necessário haver trocas entre o aluno e
a língua escrita, mediadas pelo professor e pelo próprio grupo.
No paradigma construtivista, a aprendizagem do educando é objeto de
observação, entendimento e intervenção, de modo que se refutam os métodos e
procedimentos de ensino tradicionais. Cabe ressaltar que nessa reinvenção da
alfabetização alguns se aventuraram no repúdio aos métodos, porém outros,
com medo do novo, preferiram permanecer no mecanicismo imposto pelos
métodos e suas fiéis escudeiras, as cartilhas. No entanto, o problema persis-
tia, pois aqueles que priorizavam o “como se ensina” ignoravam o “como se
aprende”, e outros que defendiam a reinvenção da alfabetização pautada no
“como se aprende” repudiavam o “como se ensina”.
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Atualmente, sabe-se que, embora seja necessário, o conhecimento das


letras não é suficiente para alguém ser competente no uso da língua escrita. A
língua não é um mero código para comunicação. A linguagem é um fenômeno
social, estruturado de forma dinâmica e coletiva. Portanto, a escrita também
deve ser vista do ponto de vista cultural e social.
Nessa direção, Magda Soares (2000) produz uma discussão sobre o termo
“letramento” no Brasil. Para a autora, que difundiu os estudos acerca do tema,
letramento e alfabetização têm especificidades próprias, cada processo com
suas facetas. Assim:

Letramento [...] — imersão das crianças na cultura escrita, participação em


experiências variadas com a leitura e a escrita, conhecimento e interação com
diferentes tipos e gêneros de material escrito — [...] alfabetização [...] — cons-
ciência fonológica e fonêmica, identificação das relações fonema–grafema,
habilidades de codificação e decodificação da língua escrita, conhecimento
e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para a
forma gráfica da escrita (SOARES, 2000, p. 15).

Ao afirmar que letramento e alfabetização têm suas facetas próprias,


Magda Soares (2000) os coloca, cada um, em uma face. O que significa
isso? As faces se unem nos vértices, mas são elementos distintos que, ao se
unirem, completam uma forma. Ou seja, para a pesquisadora, são processos
diferentes, mas inseparáveis.
Que mudanças aconteceram nos últimos tempos com relação à alfabetiza-
ção? Pelo menos no campo teórico, muitas mudanças ocorreram. A principal
é o diálogo entre o “como se ensina” e o “como se aprende”. Nessa relação, o
aluno não é mais visto como passivo perante a alfabetização, e sim como um
elemento que se relaciona com o mundo, a escola, as linguagens, a leitura e a
escrita. Cabe a você, como professor, articular, portanto, a teoria com a prática.

BARBOSA, J. J. Alfabetização e leitura. São Paulo: Cortez, 2013.


CARTILHA. In: HOUAISS, A. Enciclopédia e dicionário. Rio de Janeiro: Moderna, 2001.
CARVALHO, M. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópolis:
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O contexto histórico da alfabetização 11

ERNESTO FILHO, P. Ainda tenho guardada minha carta de abc. 2008. Disponível
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FERNANDES, C. Hieróglifos egípcios. [2018]. Disponível em: <https://brasilescola.uol.
com.br/historiag/hieroglifos-egipcios.htm>. Acesso em: 7 jun. 2018.
GRANJON, R. Civilité. 2009. Disponível em: <https://coopertypography.wordpress.
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GUTEMBERG: o criador da imprensa. 2015. Disponível em: <http://gcn.net.br/no-
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LOURENÇO FILHO, M. B. Testes ABC: para a verificação da maturidade necessária
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MORTATTI, M. R. L. Os sentidos da alfabetização. São Paulo: UNESP, 2000.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2000.

Leituras recomendadas
FERRARI, M. Emilia Ferreiro, a estudiosa que revolucionou a alfabetização. Nova Escola,
out. 2008. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/338/emilia-ferreiro-
-estudiosa-que-revolucionou-alfabetizacao>. Acesso em: 7 jun. 2018.
SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

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