GOIÂNIA
2001
Ilustrações : Maria Terezinha T. Auad
Flavia Maria Cruvinel
Samyr Auad
Bibliografia: f. 234-235.
CDU: 787.61.021-053.2
FLAVIA MARIA CRUVINEL
Orientador:
Prof Dr3 Eliane Leão Figueiredo
EMAC - Escola de Música e Artes Cênicas
À Samyr Auad.
IV
Agradecimentos:
SUMARIO
RESUMO vii
ABSTRACT viii
1. INTRODUÇÃO 01
4.2. EXCERTOS 29
ANEXO 154
RESUMO
ABSTRACT
The present study resulted from a longitudinal research of experimenting a creative music
teaching methodology for the elementary guitar. The methodology was described, analyzed,
observed and later, after the results were discussed, suggested as an altemative for musical
pedagogy. The experience with creativity was discussed as a primary technique for the
promoting of leaming, variety for young leavers. The cognitive development and the musical
cognitive development, used as the prime foundation for the appropriate comprehension
to practices of a musical leaming process, is also probe and analyze in this work. Ali the
facts and data were collected from classroom works done with students from private music
schools. Interviews with music educators and guitar teachers also contributed to support
the thesis and to shape new approaches, ideas and solutions for an altemative methodology
(the groups education), guiding to the final conclusions.
1. INTRODUÇÃO
08 anos, ainda se constitui em um grande desafio para os professores que lecionam para esta
(1999), que expressa o mesmo pensamento em relação ao ensino do instrumento para a faixa
etária inicial (crianças de 05 a 12 anos). Para ele, as dificuldades são grandes, pois não há no
"Infelizmente ainda não possuímos infra-estmtura para o aprendizado deste instrumento tão
da vihuela. Somente a partir do final do séc. XIX é que passou a ter o formato do violão
moderno, ou seja, há pouco mais de 100 anos. No Brasil, neste mesmo período, popularizou-
de ma. Era o instrumento preferido da boêmia, porém, ignorado pelos músicos de formação
Na Europa, o violão também foi ligado às classes populares devido ao fato de ser
um instrumento harmônico de fácil transporte e aquisição. Com isso, as classes mais altas e a
nobreza não permitiam a entrada do violão nas salas de concerto, pois isso significaria uma
já existindo excelentes instrumentistas. Porém, apesar disso, poucos dos grandes compositores
instrumento na Itália foi na obra para alaúde de Melchior de Barberius, ópera intitulada
"Contina", de 1549. Nesta obra, foram encontradas quatro fantasias para guitarra (violão) de
sete cordas, não se tratando ainda, do atual violão de seis cordas simples, construído por volta
sério a partir de esforços individuais de apaixonados pelo violão no início do século, como é o
público no país . Cita também, outro precursor do violão moderno no país, Joaquim Santos
(1873-1935), também conhecido como Quincas Laranjeira, que fundou a revista "O Violão"
pai do violão moderno). Além dele, o autor também cita a violonista Josefina Robledo, além
de virtuose no instrumento, possuía vários discípulos. Ensinava o violão aplicando também,
Outra referência que se tem sobre os primeiros violonistas no país é revelada por
TINHORÃO (1999). Segundo ele, Eduardo das Neves, Campos e Mário Pinheiro, eram uma
século XX (Pág.103). Alexandre Gonçalves Pinto, vulgo "Animal", foi outro violonista que
tocava música popular, principalmente Choro. Sua importância se deve ao feto de ter escrito
no final do século XIX, o livro : "O Choro : Reminiscências dos chorões antigos" , que se
constitui no único relato do ambiente musical popular da época. Tivemos ainda Sátiro Bilhar
violonista uruguaio Isaías Sávio (1900-1977) para o Brasil, que fundou a primeira cadeira de
São Paulo. Através dos seus ensinamentos e esforços, vários dos grandes violonistas foram
no país. Segundo ele, em um programa de recital datado de 1961, realizado na cidade de São
Paulo, referia-se ao mestre da seguinte maneira : "Em 1947, instituída a cátedra de violão no
Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, foi o primeiro titular, exercendo até a
presente data. Colaborou com a oficialização dos programas de violão no Estado de São
quase que obrigatório para todos os que se dedicam seriamente ao estudo do violão. Depois
Gismonti, entre outros. Eles são exemplos de alguns dos grandes compositores brasileiros que
A partir deste quadro, pode-se notar que vários fatores contribuíram e contribuem
para que o ensino do violão não esteja devidamente organizado e desenvolvido em nosso país.
Por ser um instrumento sempre ligado ao popular, foi excluído por várias décadas das escolas
especializadas e das salas de concerto como já foi exposto. Com isso, o violão era aprendido e
sem um embasamento técnico-musical mais sistematizado. Vale ressaltar que apesar deste
obtiveram resultados bastante positivos. Porém, várias gerações não conseguiram ir adiante
pela feita de uma orientação adequada. Outro aspecto, seria o feto do violão ser um
coletivo, para a feixa etária 05 a 08 anos, especificamente para a criança brasileira, com
embasamento nas observações das práticas em sala de aula, onde a exploração da criatividade,
prática de atividades criativas e/ou lúdicas, totalizaram um pacote de dados que foi objeto de
análises finais. Esta metodologia propôs como princípios básicos, a inovação do estudo da
música, que aconteceu a partir da prática do instrumento. Visou-se daí, a exploração sonora
instrumento.
Esperou-se portanto, que a pesquisa proposta fosse de grande valia como subsídio
fosse adequada para a feixa etária proposta, comparando metodologias, investigando aspectos
A ação criativa deve estar sempre na vida da pessoa. O quê significa criar algo ou
alguma coisa? Segundo o dicionário Aurélio (1988), a palavra criar significa : "1. Dar
existência a; tirar do nada. 2. Dar origem a; gerar, forma. 3. Dar princípio a; produzir,
(1983) ensinam que a palavra criar vem da palavra latina "creare" e significa 'fazer uma
coisa que nunca foi feita anteriormente". E complementam que, baseado nessa origem, a
palavra criativo é usada pela sociedade contemporânea para se referir ao poder de criar,
novo que é ao mesmo tempo integrado em um contexto global" (Pág.4). Para a autora, o ato
seja, a criação interfere na realidade, e esta se renova, em um processo intrínseco : "Por esta
razão, o processo de criar significa um processo vivencial que abrange uma ampliação da
consciência; tanto enriquece espiritualmente o indivíduo que cria, como também o indivíduo
que recebe a criação e recria para si. No ato criador, ambos se renovam de alguma maneira
necessidades de vida" (Pág. 188), sendo que o processo criativo se desenvolve quando se é
capaz de criar ou recriar uma situação na qual o ser humano se depara no seu cotidiano.
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que a criatividade como um processo, uma descoberta, sendo que a mesma, aparece na vida
do ser humano como uma solução nova e inesperada. A mesma autora, afirma que as
afirmando que "a criatividade aumenta com a prática" (Pág. 4). Para a autora, a criatividade
deve ser exercitada, e cita os exercícios de Michel Fustier : "O objetivo dos exercícios de
criatividade é o de incitar a prática imediata e geral da ação criadora. E só pela prática e não
pela teoria que o espírito humano pode progressivamente alcançar a plena possessão de seu
A partir dos pensamentos citados acima, pode-se afirmar que o ato de criação não
está relacionado apenas às atividades artísticas, mas também, ao bem-estar do ser humano. O
sendo que através da exploração criativa, uma criança terá mais chances de se tornar um
adulto criativo, produtivo e com muito sucesso, independente de qual carreira seguir : "In
recent years, we have come to learn that no matter what your chikTs interests or future career
choices are, creativity is extremely important. For example, we know that creative children
are more likely to become creative, productive, and successful adults" (Pág.4).
infantil, que acredita que a criatividade é uma necessidade de todos os dias, sendo importante
para todas as crianças, independente de suas aspirações futuras : "Creativity is necessary in ali
professions, ali walks of life : As child development expert Cynthia Mac Gregor put it :
'Creativity is a everyday necessity... it's important no matter what your aspirations for your
child are, no matter what his interests or eventual career choices may be'" (pág.7).
Em educação musical, criar significa o ato de produzir sons musicais" (Pág. 188).
(1995) com uma experiência estimulante e recompensadora para os estudantes, que através da
criação, estão expressando seus sentimentos e idéias pessoais. Sendo que o processo criativo
autores, entendem que com crianças mais novas, o "algo novo" poderá ser alguma coisa
antiga ou familiar aos adultos, mas será mais do que uma cópia para crianças. Para eles,
quando as crianças criam, os objetos inventados são baseadosem suas experiências anteriores,
simbólicos (Pág.5).
desenvolvidos por GUILFORD (1957) e JACKSON & MESSICK (1965), para a verificação
Ainda, para os autores, toda criança possui um potencial criativo. Para eles, as
fazem algo novo a partir de coisas e/ou idéias velhas ou familiares; 5 - usam a repetição como
uma oportunidade de aprendizagem e não como algo que venha se tornar cansativo (Pág. 15).
crianças da feixa etária inicial. É muito comum nas crianças, confundir a realidade e a
fantasia. Isso se deve ao processo de criação através da imaginação, por parte das crianças,
que criam e recriam situações, coisas, pessoas etc, de maneira tão rápida e inventiva, que a
definida como uma a habilidade de formar, através da mente, imagens ricas e variadas, ou
conceitos sobre pessoas, lugares, coisas e situações que não estão presentes. A fantasia é vista
pelos autores como uma sub-categoria da imaginação, e ocorre quando a pessoa usa a
imaginação para criar uma vivida imagem mental, particular, ou conceitos que possuam um
desenvolvida é o centro da criatividade infantil. Para ele, a criança sem a habilidade de criar
novas imagens, sonhar com novas possibilidades de mundo e pensar algo novo, jamais
experimentará todo seu potencial criativo. Sugere, como estratégia, o uso de jogos para
bastante enriquecedora e proveitosa para a criança, por se tratar de uma ferramenta muito
utilizada no seu dia a dia. O que acontece em sala de aula, naquele momento específico, é
apenas um deslocamento da prática inventiva e natural das crianças, para um outro ambiente,
onde a mesma será conduzida por alguém (o professor), visando que os sujeitos imaginativos
(alunos) aprendam algo (conteúdo proposto). A partir dessa prática, ou seja, a forma como o
conteúdo está sendo passado, a criança sentirá a mesma sensação de prazer e alegria do
processo de imaginação espontânea (de quando ela cria algo ou seu mundo particular), sendo
para ela, igualmente interessante, por se tratar de uma prática natural, trazendo a ambientação
expressar com liberdade, despertando seu interesse pelo instrumento, o violão, bem como, seu
dando à criança "meios de se expressar, ser criativa e, ter liberdade de viver e fezer música,
nas mais simples formas e manifestações" (Pág.47). Aqui é permitido fezer novamente uma
O professor precisa criar um ambiente que lhe feça vivenciar e conhecer, mas que
também lhe faça sonhar, criar, inventar, imaginar, ou seja, deixar com que pensamento
criativo flua. E o meio ambiente não deve ser entendido apenas como a referência espacial, o
lugar, propriamente dito; mas o ambiente lúdico e encorajador criado pelo professor para que
o aluno se expresse de maneira livre e natural. A partir dessa confiança mútua, o canal da
percepção e do conhecimento estará aberto para receber vários e diferentes estímulos, fazendo
novos, tem um papel decisivo de como será a relação entre eles. Se algo não agrada à primeira
vista, ou desperta pouco interesse, deve estar relacionado às razões que levaram a criança a se
ocorre o contrário : a criança tem interesse e motivação para desenvolver um trabalho criativo
em música, mas é tolhido pelo mal profissional, que não sabe o que fazer com todo esse
interesse, podendo deixar seqüelas e traumas na criança para o resto de sua vida. Daí a
GAINZA (1964) descreve o professor ideal como aquele tem o dom natural de
trecho abaixo: "Maestro es aquella persona que siente ei deseo y, ai mismo tiempo, posee Ia
isso, o "perfil" de cada aluno é traçado, ajudando o professor a detectar as principais virtudes
e as dificuldades da criança; a partir daí, possuirá melhores condições para lhes oferecer todas
estratégia funcionou com um aluno X, pode ser que com o aluno Y não funcione, apesar de
ambos serem da mesma feixa etária e de possuírem o mesmo tempo de estudo. Por isso, cabe
ao professor ser mais do que uma pessoaatenta e conhecedor do conteúdo trabalhado, além de
ser um investigador consciente de seu papel, que procura conhecer a criança, a música e
sobretudo a si mesmo. Com isso, o professor/pesquisador terá que ter além do conhecimento
suficiente, a sensibilidade para fezer escolhas : Qual metodologia deve utilizar para a criança
várias correntes de pensamento, além de questões como gosto pessoal, modismos, parece-nos
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ser muito difícil e arriscado fazer um diagnóstico exato sobre a aptidão ou qualidades inatas
vai influenciar no produto final do mesmo, ou seja, a música em si. No caso específico
estudado, o resultado foi observar como cada aluno se expressava através da execução
musical, sua performance ao violão. Daí, citando mais uma vez GAINZA (1964), que acredita
necessidade que este tem de entender todo o universo infantil, conhecendo o comportamento,
Para o Prof João Luís Batista Neto, entrevistado pela autora do presente estudo
(vide pág.45), a criatividade deve ser usada de várias formas, inventando e improvisando
músicas emsala de aula com os alunos : "É, eu acho que você temque usar a suacriatividade,
total, e inventar músicas com eles, assim, sabe? Inventar mesmo e colocar uma letra, eu acho,
Vários fetores influenciam a criança para que ela escolha um instrumento musical.
Em grande parte das vezes, o instrumento é sugestionado pelos pais, que querem ver seus
desejos acatados. Ás vezes, a criança não sente interesse pelo instrumento como foi relatado
anteriormente, fazendo com que o professor se depare com algumas questões : Como
despertar o interesse da criança pelo violão? Como fezê-la acreditar que pode se expressar,
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criança tem muito interesse pelo violão e o professor tem que estar atento e se questionar :
Como não matar o sonho dessa criança que pretende estudar o violão?
despertar o interesse da criança pelo ato criativo, desenvolvendo a sua potencialidade e/ou
capacidade de criação, como forma de expressão, não só musical, mas em todos os segmentos
de sua vida, formando portanto, um ser humano mais criativo e conseqüentemente, mais
sensível e interessante.
Pelo que foi exposto até aqui, hipotetiza-se que a melhor maneira de iniciar
sociais, entre outras. Neste capítulo, tratar-se-á deste tema, discutindo-se a teoria de Piaget e
conhecimento.
de maneira regular. Primeiramente, observou que as crianças passavam pelo mesmo tipo de
descobrindo as mesmas soluções. E por que as crianças cometiam os mesmos erros? Como se
Biologia. BALDWIN (1973), possui a mesma visão quando afirma que, "a maneira como
Segundo BEE (1996), o termo esquema é freqüentemente usado por Piaget como
Piaget acreditava que o conhecimento era mais do que categorias mentais passivas,
mas sim, ações - mentais ou físicas, e cada uma destas, significava um esquema. Ainda
citando BEE (1996), pode-se afirmar que um esquema não é uma categoria, mas sim, a ação
são consideradas esquemas da mesma forma. Quando, por exemplo, uma criança olha um
boneco, ela esta utilizando o "esquema de olhar". Ou ainda, quando uma criança apanha um
brinquedo, ela está utilizando o seu "esquema de apanhar" e assim por diante. Piaget concluiu
que os bebês começam a vida com um pequeno repertório de esquemas sensoriais e motores,
mais simples, como olhar, provar, ouvir, tocar, entre outros (Pág. 195).
Nesta fase, o objeto para o bebê é uma coisa que possui um determinado gosto,
textura e uma cor particular. Com o passar do tempo, a criança desenvolve certos esquemas
esquemas mentais mais complexos, como a análise dedutiva ou o raciocínio sistemático. Para
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Piaget, a mudança de esquemas mentais mais simples para esquemas mentais complexos se dá
experiência em algum esquema. Por exemplo, quando o bebê olha algum objeto e estende a
sua mão para ele, segundo Piaget, a criança assimilou o objeto através dos esquemas de olhar
e alcançar.
próxima vez que o fizer, a sua mão estará melhor colocada para agarrá-lo de maneira mais
eficaz. Segundo BEE (1996), "na teoria de Piaget, o processo de acomodação é a chave para a
adaptação a criança está sempre tentando equilibrar-se, a partir da busca da coerência. Piaget
acreditava que as crianças criavam modelos e teorias coerentes e com certa consistência
interna. Porém, o repertório de esquemas dos bebês é muito limitado, por isso, as primeiras
teorias ou estruturas que as crianças criam, não se sustentam pela fragilidade das mesmas.
Para sustentar suas teorias, descobertas e estruturas, as crianças passam por uma série de
Piaget viu 3 (três) pontos de equilibração, sendo que cada um introduziu um novo
quando a criança passa a utilizar, além dos esquemas sensórios e motores simples, os
anos, quando a criança já é capaz de acrescentar uma série de novos esquemas, chamados por
Piaget, de operações. Estas operações são ações mentais mais abstratas e gerais do que as do
lógico. A partir destas 3 (três) fases de equilibração, Piaget criou o que considera, estágios de
desenvolvimento.
formal.
seus 2 (dois) anos de vida. Piaget acredita que neste período, a criança adquire a habilidade e
características : "(1) responde ao mundo quase que inteiramente através dos esquemas
não planeja nem intenciona, e (4) não tem nenhuma representação interna de objetos -
ou 7 (sete) anos de idade da criança. Neste período, o quadro cognitivo interno que a criança
possui do mundo externo, cresce gradualmente, com leis e relações variadas. Este estágio,
operações concretas apresenta um novo equilíbrio, de ordem mais elevada, por isso, pode-se
197).
Neste estágio, o uso de símbolos por parte da criança, aparece com mais evidência.
Nesta idade, é muito comum, crianças brincarem de faz-de-conta, criando para si, um mundo
imaginário. Piaget, além de observar a capacidade das crianças em utilizar símbolos, também
Segundo BEE (1996), Piaget descreveu a criança neste período, como um ser que
enxerga as coisas unicamente de sua própria perspectiva, tendo como referência, a sua
autora, a criança neste período não é egoísta, "ela simplesmente pensa (supõe) que todos
vêem o mundo como ela vê" (pág. 197). Outra limitação da criança desta fase, se refere ao
que Piaget denominou "problema de conservação". Para ilustrar essa deficiência, Piaget
utilizou o exemplo dos copos, de vários tamanhos e quantidades. Esse talvez, seja um dos
exemplos mais famosos dado pelo mestre. Quando uma criança compreender que em copos
de formas e tamanhos diferentes, possuem a mesma quantidade de líquido, ela neste momento
estará observando que a quantidade do suco é "conservada", apesar das variações na forma e
no tamanho dos recipientes. Ou seja, a criança neste estágio, ainda é incapaz de compreender
que existem aspectos abstratos que permanecem constantes como a massa, volume ou peso.
Outra limitação na criança neste período, refere-se à sua capacidade de classificar. Em suas
observações, Piaget acreditava que somente aos 4 (quatro) anos de idade a criança consegue
(seis) ou 7 (sete) anos aos 12 (doze) anos. Aos 7 (sete) anos, os processos de pensamento
formal da criança estão mais estáveis e razoáveis. Neste estágio, a criança pode organizar
comprimento do caminho entre eles, já adquiriu uma noção simples sobre o tempo, espaço,
número e lógica, concepções estas, que ajudam a criança a ordenar a sua compreensão de
produto da densidade e da quantidade, ainda são muito difíceis para a sua compreensão.
mundo, através de operações concretas. Segundo BEE (1996), o termo operação: "se refere
em algo a mais.
maneira lógica indutiva, ou seja, ela consegue partir da própria experiência e chegar a um
princípio geral. Mas ainda não consegue ter um raciocínio lógico dedutivo, ou seja, começar
desenvolvimento cognitivo segundo Piaget, inicia-se por volta dos 12 (doze) anos de idade.
Neste período, a criançajá possui a compreensão dos princípios básicos do pensamento causai
de maneira correta, em alguns casos. Apesar de ainda ter que amadurecer emocional e
mais complexas, não só em relação há objetos ou experiências, mas também no âmbito das
invés de somente pensar em coisas e acontecimentos reais, ele começa a pensar em coisas e
pesquisas têm sido feitas, com a finalidade de conhecer como acontece o desenvolvimento
cognitivo musical na criança. Segundo SCOTT (1989), alguns estudos recentes mostram que
(1983), que descobriu a partir de estudos, que as crianças começam a pensar musicalmente, na
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mais tenra idade. Gardner acredita que as crianças possuem uma excepcional habilidade para
Em seu livro "Frames of Mind", afirma que de todos os dons que a pessoa pode receber,
nenhum aparece tão cedo quanto o talento musical : "Of ali the gifts with which individuais
desenvolvimento musical está na primeira infância (Pág. 28). Cita os estudos de Jack Heller e
Warren Campbell que teorizam que o percentual sensitivo da criança após os 6 (seis) anos
para a música pode diminuir, e observam que é esse o período que, tradicionalmente, as
crianças iniciamos estudos musicais, podendo ser tarde demais (Pag. 29).
Com base nestas afirmações, pode-se afirmar que o papel dos pais e o ambiente
criança. Os pais devem estimular e criar uma ambiente favorável para que a criança receba, de
partir de experiências com bebês, onde é provado que os mesmos podem exercitar a sua
percepção musical de várias maneiras. Para confirmar esse pensamento, cita William H.
Bridger, que afirma que a discriminação da altura dos sons pelos bebês ocorre ainda no útero
materno. Cita também Saundra E. Trehub, que afirma que bebês, de 7 (sete) a 9 (nove) meses,
semitom.
A partir deste pensamento, SCOTT relata que vários educadores musicais, nos
Estados Unidos, estão planejando os currículos musicais para que as crianças iniciem os
estudos em música aos 2 (dois) e 3 (três) anos de idade. E ainda, que os professores
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universitários estão treinando os professores da pré-escola para usarem música com crianças
relacionado ao meio-ambiente que se constrói para o seu aprendizado. Segundo SIMS (1990),
que estimule a criança a desenvolver todo o seu potencial, não a frustrando, pedindo que feça
algo além do seu grau de desenvolvimento: "One of the goals of early childhood music
fullest potential, yet not frustrated by being asked to perform tasks beyond their levei of
development" (Pág.79).
development", aborda o tema, afirmando que há vários anos se discutem quais são os tipos de
meio-ambiente que enriquecem o aprendizado musical. Cita que Gardner em 1983 e Bruner
invés de simplesmente promover a resistência como a apresentada por Piaget. Também cita
que em 1964, Montessori acreditava que as crianças aprendem através das pessoas que estão
(Pág.29). fàndft no mesmo artigo, HAIR destaca os recentes estudos sobre o desenvolvimento
pré-natal do bebê. Lembra que em 1996, Fassebender afirmava que no útero materno, as
1994, Hodges acreditava que o recém nascido podia aprender várias coisas sobre o mundo
exterior através dos sons, porém, não podia fezer o mesmo com os outros sentidos; em 1990,
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isto é, as vozes humanas dos outros sons, e afirmavam que os recém nascidos preferem a voz
materna que outras vozes; em 1976, Moog notou que ocorre um período de transição no bebê,
entre os 4 (quatro) e 6 (seis) meses, passando da passiva recepção à ativa percepção musical,
onde a criança consegue captar a origem sonora; em 1977, Chang e Trehub descobriram que a
pulsação dos bebês através do balançar da cabeça se modifica quando uma música femiliar é
tocada ou cantada; em 1990, Trehub, Endman e Thorpe concluíram que bebês podem detectar
dias (para ele, o cantar dos bebês é caracterizado pela espontaneidade na maneira de vocalizar
vozes).
Com base nestes dados, pode-se afirmar que o quanto antes a criança tiver contato
com a música, sendo estimulada a perceber as mais diversas sonoridades e ritmos, de maneira
adequada e natural, mais chances ela terá de desenvolver plenamente o seu potencial musical.
musical. Para isso, é preciso que tenham conhecimentos sólidos, não só musicais, mas na área
estudo do violão, acredita-se que a idade ideal para iniciar os estudos no violão, a partir de
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favorável deste estágio, refere-se à coordenação motora da criança. Nesta fase, a criança já
possui uma melhor coordenação motora, podendo manipular de maneira mais adequada o
violão. Deve-se levar em conta que o tamanho do violão deve ser apropriado para criança, ou
seja, menor, bem como, todos os aspectos e princípios técnicos dos instrumentos devem ser
técnico-musical do futuro violonista. Pensa-se que neste estágio, a criança está mais apta para
assimilar novos conteúdos e ter novas experiências (musicais); principalmente porque neste
entrevistas com 10 (dez) professores de violão. O critério para a escolha dos entrevistados foi
anexo do presente estudo (vide pág. 154) e organizadas pela ordem cronológica das
Vasconcelos Furtado, Rogério Bicalho, Clévio José Vieira, Judson D'Castro, João Luís
Batista Neto, Maria das Graças Almeida, Maria Aparecida Souza, José Eurípedes Roberto,
(Figura 1), onde a intenção era deixar os entrevistados bem à vontade para responder como
quisessem, de maneira coloquial. O roteiro serviu como modelo, porém cada entrevista tomou
uma forma bem livre. Os materiais utilizados nas entrevistas foram 1 (um) gravador, pilhas e
fitas cassetes.
tirados os excertos (trechos das partes entendidas como mais interessantes) para uma análise
posterior.
1. Como foi o seu primeiro contato com a música e/ou com o instrumento?
2. Qual é a sua formação musical ? Quando e como iniciou seus estudos em
música?
3. Quando e de que maneira você iniciou o seu trabalho como professor de
violão?
4. Você trabalha a partirde qual faixa etária?
5. Qual (is) o(s) método(s) ou metodologia(s) que você utiliza mais comumente?
6. Você acredita que os livros didáticos e métodos específicos para crianças
encontrados no mercado são adequados?
7. Em relação aos instrumentos musicai disponíveis no mercado, eles são ideais
para a faixa etária inicial?
8. Quais são as dificuldades que você encontra mais comumente em sala de
aula?
9. Você acredita que é necessário o estudo individual em casa quando o aluno
está iniciando os seus estudos?
10. Qual é a influência dos pais em relação ao desenvolvimento do aluno? Você
acredita que é importante esse envolvimento dos pais?
11. Como você divide a aula do aluno em termos de conteúdo ou atividades?
12. Qual é a carga horária semanal do aluno quando é criança? E como você a
distribui?
13. Você tem alguma experiência em ensinar o instrumento a partir do ensino
coletivo? Como foi o processo?
14. Qual(is) o(s) professores) na área que lecionam o violão para crianças, você
destacaria?
15. Você acredita que há uma grande lacuna de pesquisas na área do ensino de
violão para crianças, que auxiliem os professore que estão iniciando na
profissão ou mesmo quem já atua?
16. Você tem alguma sugestão para o aprimoramento do ensino do violão em
Goiás?
17. Como você descreveria a sua experiência em lecionar para crianças? Ou em
relação à profissão de professor de violão?
4.2. EXCERTOS
1) Fernanda V. Furtado
"meu primeiro contato com o instrumento foi quando eu o ganhei aos 15 anos. Minha mãe
perguntou se eu queria fazer alguma festa ou se queria o instrumento e eu optei pelo
instrumento"
Fatos Históricos:
"E eu tive aula com Zé Eurípedes, Eurípedes Machado. Também tivemos um rendimento
muito grande. Estudávamos muita musica brasileira, muitos compositores brasileiros para
violão e ele fazia também arranjos pra 6 e 8 violões. Então, em todas as programações nós
tocávamos muito. Depois fui ter aula com o Prof Eurípedes Fontenelle um tempo e depois
começou o Henrique Pinto na escola Mvsika - Centro de Estvdos, mais ou menos na década
de 78, final da década de 70. Ele trouxe muitas inovações e vinha uma vez por mês pelo
Mvsika - Centro de Estvdos dar aula para uma equipe de professores que também eram
alunos de lá. Aí, passamos a desenvolver o violão, não com mais ou menos seriedade, porque
existia seriedade, mas havia uma abertura diferente, ele apresentou, assim, um mundo
violonístico a nível de Brasil e seguidamente a nível internacional também, né? Mas de nós
saímos, que eu ,e lembre, porque eram vários alunos, mas eu por exemplo fui para Seminários
Internacionais de Violão. E aí ficou sempre este contato Goiânia-São Paulo, né. Ficou muito
intenso este contato pelo próprio trajeto que ele fazia. E São Paulo sempre foi um paraíso no
estudo de música e de violonistalá, é super cheio".
%..) Essa constante reciclagem... Professores aqui, entre colegas e então com vários cursos
que o Mvsika dava, na área de formação musical em geral, foi abrindo muito o campo para a
formação musical em geral e a adaptação para o violão. Dessa maneira nova de ver a musica,
de trabalhar o instrumento em várias proporções, não ficar não só em um método ou outro né.
Estava sempre renovando as nossas atividades".
"O Henrique Pinto trouxe todos os, praticamente, os grandes alunos dele vieram pra cá. Aí,
veio uma aplicação muito grande na área do instrumento".
Métodos:
"(...) era o método do Isaías Sávio, todos aqueles cadernos de estudos, era o método do São
Marcos e era o método também, logo alguns anos depois, era o método do Henrique Pinto. E
isto trouxe muito crescimento, uma leitura muito ampla. Isaías Sávio, todo mundo gostava
muito dele, principalmente pelo método de Iniciação, era uma leitura facílima. O São Marcos
era gostoso de fazer também, os exercícios práticos de se executar e aí foi se dando".
"Eu trabalho com muitos. Eu trabalho com Thomás Camacho, eu trabalho com Reginaldo
Smith Blinder , eu trabalho com..., trabalho Abel Carlevaro, trabalho com Violeta Gainza que
você trabalha demais".
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Dificuldades:
"O que é mais dificuldade, você sabe o quê eu achava? Era encontrar material para passar
para as pessoas. Porque até hoje eu encontro essa dificuldade. E outra coisa : se você não
encontra o material, é muito pouco o crédito que se dá para os seus trabalhos manuais. Então é
a preguiça, a grafia das pessoas, às vezes, não está de contento com o aluno que quer ler.
Você passa (...) . Eu ainda acho difícil pela carência de material e pela pouca aceitação, do
comodismo do alunado e eu como sou aluna, também entro nessa história, mas é difícil,
nestas proporções. E também, se me permite, é uma dificuldade que eu também acho, é a
concepção em relação ao instrumento de acompanhamento de pequeno porte para se levar
para todos para todos lugares e utilizar de maneira que convier aquele determinado momento.
Ele não, um instrumento que é visto como instrumento independente, um instrumento
harmônico, um instrumento capaz de harmonia mas é capaz de melodias, de solos, então isso
dificulta muito, porque as pessoas, não é só por parte do aluno e da família do aluno que
influência muito, é por parte da própria estrutura de ensino. Atualmente isso já está mudando,
mas normalmente quando se vai estudar um instrumento, todos querem pensar no
instrumento de uma forma mais cômoda e passageira como um complemento, não para um
fim. Talvez possa ter sido às disciplinas que eu tenha pego o violão. Eu já trabalhei em várias
áreas, não em um só local, mas em vários locais e a dificuldade é a mesma".
"Se você for agradar a todos os gostos, todos deveriam então passar por uma parte de
iniciação, sem pelo menos por um tempo, querer tanta coisa. E querer do instrumento a
primeira alfabetização. Ele tem que pegar para ele escrever o nome dele, ele não tem que
aprender o alfabeto, as vogais, as consoantes e depois um livro. Para aprender um instrumento
é a mesma coisa. A dificuldade na realidade não existe. Mas o processo imitativo, a onda, o
quê está em voga, as coisas que aparecem mais, o violão tem este modismo mais acentuado,
mal modismo. É um modismo de que secarrega o instrumento está tudo bem".
"Então ele não entende que a obrigaçãozinha dele é estudar aquilo ali até está bem feito,
entendeu? Mas ele erra na escola e a professora manda fazer cópia e ele copia, e se ele errou
ele faz uma, duas, três cópias, ele sabe fazer. Mas ele esquece que no violão ele vai fazer
cópia quantas vezes necessitar até que ele a exibição da mão direita correta, os dedos da mão
direita e pressão que você pode iniciar da mão esquerda também plena, para que ele possa
começar a analisar a sonoridade. Aí depois vai implicar no quê? Na mudança de som, vai
implicar na duração, no ritmo... e essas coisas se ele for trazendo uma dependência das
anteriores, ele não cresce, ele vai ficar parado"
Ensino Coletivo:
"Eu trabalho tem 14 anos de experiência contínua, fora outras experiências nestas oficinas, de
6 a 10 alunos. Tenho e eu acho muito gratifícante, mas ainda continuo (...) aula conjunta 4
por parte do aluno, a dificuldade, é que ele é muito comparativo, ele sempre fica olhando o
quê você está fazendo, o quê ele está fazendo, o quê os outros estão fazendo e ele se esquece
de aperceber de o quê ele tem fazer, o quê ele é com o instrumento dele".
32
"E muito válido. Eu acho que todo violonista deveria ter uma educação em conjunto, todo
instrumentista, por quê? Porqueaquiloali traz disciplina"
"(...) ouve em conjunto, mas tem muitas coisas que são preliminares, você entendeu? Ah, é
um cuidado muito importante do primeiro toque que ele dá! Mas uma aula em conjunto não
vai atrapalhar toque de ninguém, não vai atrapalhar a formação de ninguém Com uma aula
conjunta ou com uma aula individual, ele só expande, expande, expande o seu crescimento.
Então isso não... eu até agora não acho que isso seja mal".
"Mas a indisciplina e a falta de infra-estrutura do sistema, que muitas vezes eles caem por
terra, isso conta muito, isso conta muito, porque muitas vezes eles trazem aquela quantidade
de iniciantes, que não tem formação nenhuma, e eles começam estudar, e o quê você tem que
fazer? Você tem a fazer uma formação musical aplicada ao instrumento para que ele comece a
se aperceber o quê é que você está falando. Agora se você já vai trabalhar com um aluno que
já tem uma formação musical é fácil porque eles entendem tudo. A única coisa que eles não
entendem é porque eles têm tanta preguiça".
Número de Aulas:
"(...) na fase de alfabetização de uma pessoa, ela tem aulas todos os dias né. Quando você
começa a estudar, você tem aulas todos os dias de matemática, de português, de ciências, de
História, de Geografia. Você vai para um longo período diariamente. Com aulas às vezes,
muito maior do que no instrumento. Se querer do instrumento frente à criança, que ele
responda com uma aula semanal por exemplo, uma hora de aula semanal, é querer demais que
ele aprenda sozinho na casa dele, que ele tenha responsabilidade para aquilo, não é não?'
Metodologia/Iniciação:
"Eu gosto muito de dar aulas, escrevendo, fazendo montagem, trabalho de recorte, trabalho de
colagem, sabe? Eu faço tudo dentro da aula de violão. Gosto de folhas brancas, para ele poder
ter oportunidade vivenciar a atividadesdele. Depois eles utilizam pautas, cadernos pautados".
"(...) Mas eu ainda acho que com toda literatura que existe, o melhor início é o seu, com o seu
aluno. Você tem que ter um padrão musical para trabalhar e não é que ele tem que ser uma
coisa totalmente personalizada, mas você tem que ter o seu próprio início, o seu próprio
começo, para que ele possa compreender, conhecer, o que é música. Como é que ele vai ler, o
quê que é violão para ele. Porque violão está em tudo, mas você tem que auxilia-lo a extrair
de tudo o violão que lhe permite".
boa postura, sabendo sentar... Porque o dilema de todo o início é : você senta o aluno aí ele
vai tocar uma nota, aí elejanão está pensando na nota porque o violão começou a escorregar,
aí ele já não está pensando na nota porque ele não acertou com a banqueta, já não está
pensando na nota porque o banquinho para ele sentar está alto. Então estas inconveniências
todas, tira a atenção e a concentração dele né? Então, a partir do momento que ele se adapta
com o instrumento, ele tem que iniciar a leitura e a leitura vai ser gradativa conforme a
disponibilidade dele".
"Agora uma coisa que é interessante : você ter sempre os momentos em que ele possa
escrever, ele tem que escrever. Você tem um determinado exercício que você começa e ele
tem que terminar, ele tem que terminar as notas, ele tem que criar uma linha melódica, ele tem
que digitar e depois tocar... paraelesentir o porquê queaquela partitura estána frente dele"
"(...) Agora, no mercado, não, o mercado é fraco, o mercado é fraco e o guia de fabricação
anda cada vez pior."
"Mas acontece o seguinte também... que você como professor, como instrumentista, você já
tem uma outra observação da sonoridade, você tem uma outra realidade, coisa que criança não
entende..."
Estrutura da Aula:
"Bom, eu normalmente venho para uma sala de aula, procuro fazer uma atividade de
aquecimento, uma atividade técnica plausível, aquele exercício, uma atividade nova,criando a
escala ou criando um recurso no instrumento e a música, para que ele possa executar com
mais facilidade. Dentro da música, marcar toda fraseologia, toda morfologia da obra né?,
apresentar para o aluno a parte harmônica, aonde estão as curiosidades harmônicas sempre,
porque ele sempre vai buscar. Desenvolver uma atividade comum a ele, desenvolver
atividades de acompanhamento, extras às atividades que ele está desenvolvendo. Uma linha
melódica passa a ser um duo, uma linha melódica passa a ser um trio, e aí por diante, para que
ele possa discorrer melhor, as curiosidades musicais dele e um interesse maior no estudo".
Pesquisa:
"Mas no meio profissional existem estes relatos como você fala, verbais e não escritos, mas
constantes (...)"
"(...) mas eu acho um trabalho muito compensador, gosto de trabalhar com crianças,
principalmente crianças que gostam de estudaro instrumento, sabe?"
"mas deveria ter um programa para essa diversidade. Então, com isso deveria que ser um
projeto mensal, projeto ou uma vontade de desenvolver o instrumento coletivamente. Você
apresentar seus trabalhos para mim, eu apresentar os meus pra você, depois apresentar para
fulano, para beltrano, para ciclano".
"É realmente uma falta de reciclagem da gente. Se nós tocássemos mais entre nós mesmos
talvez surtisse o interesse de um crescimento comum em relação ao violão. Não que nós
precisássemos ter a mesma visão do instrumento,né?".
2) Rogério Bicalho :
Metodologia :
"Deixa eu explicar aqui a minha metodologia. Então, é, primeiramente, o aluno ele não tem
muito contato com música e chega sem saber bem o quê ele quer. Então, primeira coisa, você
já deixa claro pra ele, o quê que é o violão solo, o dito violão clássico, o quê é o violão
acompanhamento"
"(...) eu trabalho muito percepção musical, eu trabalho muito, trabalho muito com o ouvido,
né,não só com a leitura, mas trabalho muito com, o ouvido e então, fica fácil pra mim fazer
35
uma avaliação do aluno, nessa parte de percepção musical. Porque muita gente chega às
vezes, querendo o aconpanhamento, querendo cantar e de repente não tem condições
nenhuma de cantar porque não tem um ouvido afinado, né"
"Sempre eu priorizo pra que toque, em relação ao violão, a técnica da escola moderna do
violão, isso pra mim é fundamental, pra mais tarde o aluno nãoter limitações né".
"A parte técnica eu começo sempre com exercícios progressivos, né, de coordenação motora,
não é, arpejos de mão direita, né, digitações é, com mão direita, esquerda,escalas cromáticas,
??? e sempre é, buscando a qualidade do som, né, sempre deixando, passando gravações,
dando referências prós alunos, pra ele ter noção de como deve ser o som e eu to falando
assim, sempre direcionando né> pro clássico ou pro popular, mas esse trabalho é, de técnica é
em comum Tanto pro clássico ou pro popular, que vai ser trabalhado anteriormente, pra ter o
repertório, né"
Métodos:
"Henrique Pinto, né, pro violão clássico, "Iniciação ao Violão" , vol 1 e 2, "Curso
Progressivo", algumas coisas do, do Othon Gomes, aqueles, aquela coletânea, iniciação 2o
volume, tem muita coisa interessante lá, bem progressivo e, é, também tento muito, que eu
procuro fazer sempre, é despertar o interesse do aluno."
Estratégias:
"Com o repertório que ele goste, que o aluno tem interesse. Por exemplo, uma música
popular, eu pego a linha melódica simples, pra me dar espaço ali pra eu, por exemplo, com a
tonalidade que a gente sempre deve trabalhar, conforme, que são mais simples que é o Lá
Maior, que eu tenho ali a Tônica, o A, a corda Ré que é a subdominante, e a Mi que é a
dominante, então eu tenho os baixos, né, então você pode fazer uma linha melódica, e separa
os baixos né, e fazer um solo com, com baixos, é, de uma música por exemplo, com letra, que
ele goste, né, coisas que são simples de, de fácil resolução técnica, né e musical".
"Tem que manter o entusiasmo, como eu falei que o entusiasmo é importante. Eu, pelo ao
menos, quando eu fico entusiasmado com alguma coisa, eu fico horas e horas".
%..)o exercício, eles são arpejados?, o som mais encorpado, né, a gente vai aumentando a
velocidade^ié de grau em grau e a gente vai também é, cada vez, sofisticando mais os
exercícios, né, é, dificultando, aumentando o grau de dificuldade, ?? e sempre uma parte da
aula eu acrescento uns exercícios ou uma teoria, ou mesmo um repertório".
interessante, né. É mais, no nosso mercado hoje, a gente ta tendo muita opção, né, de
instrumentos".
"é, quando a estatura da criança é assim, menor, eu uso violões Di Giorgio, aquele n° 16,
aquele que tem o bojo um pouco menor, né, e às vezes eu peço até pra passar no marceneiro e
dirninuir um pouco o braço, lixar um pouco o braço, pra ficar mais fino um pouquinho. E eu
tenho até um marceneiro que faz, que trabalha com isso, né, e porque infelizmente, pelo
menos aqui em Goiânia, é difícil, ter acesso a um violão sete, né, que??, então esses violões
da Di Giorgio, eles não são muito afinados não, mas não são os mais desafinados também".
Dificuldades:
"A coisa mais difícil que tem Flavia, na minha opinião, é a gente conseguir sempre manter o
aluno entusiasmado. Isto é um desafio, porque se aluno, se a gente consegue manter o aluno
entusiasmado, a gente pode, pode trabalhar assim, pode construir um palácio, né, com uma
base bem sólida. Então, se a gente começa a perder o interesse do aluno, além de logo perder
o aluno, ele vai de repente procurar um outro instrumento, né, ele vai fala : "Ah, eu não levo
jeito para música mesmo". A gente é responsável pelo, pelo aluno".
"Bom, é, primeira coisa, eu acho, eu acho que tem uma grande deficiência de métodos, né, de
violão. É veja bem, hoje, bom pelo menos 90% da procura, né, hoje em termos de música que
seria pra aula de violão é em cima do violão acompanhamento, do popular. E, isso eu não sei
se é a crise da música erudita,né, no violão, ou..."
Estrutura da aula:
"a minha aula, a minha aula, ela é sempre dividida em : revisão, né e informação. Primeira
coisa, quando o aluno chega a gente faz o que eu chamo de parte técnica, eu vou revisar
aqueles, aqueles exercícios né, sempre anotado, commetrônomo, sempre progressivo, né."
Ensino Coletivo:
"Trabalho com aulas coletivas. Com relação a isso é, a gente, agente sempre observa, a gente
conhece o aluno que trabalha em casa e aquele aluno que trabalha em classe,né".
"Agora, aula coletiva já é diferente. A gente tem lá na, eu dou aula lá na Oficina de Música da
UFG, e lá eu tenho turmas de, eu to com nove turmas, né, de cada nove turmas de níveis
diferentes, e mesmo, turmas de mesmo nível tem alunos bons né, assim alunos bons que são
aqueles que estudam, que tem mais interesse né. Então, eu procuro, é, fazer uma, selecionar,
deixar aqueles alunos que tem mais ou menos o mesmo ritmo, juntos né, pra um não
atrapalhar o outro, pra gente poder levar".
"Lá ta, embora eu seja contra, né, porque isso ta atrapalhando né, de 6 a 8 alunos. Eu acho
que 6 seria o máximo, mas por razõeseconômicas, a gentetrabalha com 8 alunos".
37
Crianças:
"(...) eu tenho medo dedar aula pracriança, euconheço poucas crianças'
Referência de trabalhos com crianças:
"vocêé umareferência pra mim, (...) eu conheço seusalunos, né".
Importância da pesquisa:
"Porque não tem nenhum material como você disse, pelo menos que eu conheça, né, em
português, pelo menoseu acho que não tem nada".
"Como eu te falei, eu não conheço nada, né. E estou até esperando aí, de repente, esse, essa
pesquisa sua aí,né, que vai trazer alguma coisa já que vocêé uma pessoa séria, não é, e está aí
pesquisando com certezavai ter algumacoisa, e eu vou até ter acessoa isso, né".
"Não é isso?! Talvez alguma coisa nesse sentido até vá, vá, vá ter um resultado assim
significativo. Coisa que eu não tenho assim,eh, no atual momento conhecimento nenhum
Entãoeu sempre dispenso o alunocommenos de 11 anos né, e sempre dispenso (...)"
Sugestões:
"eu acho que devia ter, deveria ser elaborado, sei lá, alguém poderia pensar num trabalho de,
em cima da música popular, solada até né. Métodos com coisas mais conhecidas, né. sem,
com o mesmo, com o mesmo contexto técnico e nível musical que tem essas músicas do Sor,
do Carcassi. Poxa, o Sor e o Carcassi nessa época, a música deles era o que rolava na época
"Pessoas pegarem solos de, de músicas populares, de música mais, que pelo menos o aluno já
ouviu, com grau de dificuldade é, similar aos métodos que a gente tem hoje, de violão
clássico, né. Sempre colocando de um jeito progressivo como o Henrique Pinto, tem esse
cuidado né? Sempre ele faz o método pra você passar por aquele método, no próximo método
você já vai ter uma base, né. Acho que devia ser feito isso, com temas de músicas novas, né".
Violão Clássico:
'Então, eu acho que pra, pro violão clássico ter um (...) ter uma vida maior, ter mais, um
público maior, ninguém começa pelo mais difícil, todo mundo começa escutando música,
música popular, todo mundo começa com a coisa mais fácil de ouvir, e na medida que você
vai entendendo aquilo, você vai buscando coisas mais complexas, né, e outra coisa no violão,
todo mundo quer conhecer o violão acompanhamento, quer, quer cantar e depois que supera
aquela fase e começa ter acesso a músicas instrumentais e começa achar bonito e de repente
acha que ele quer violão clássico e não o violão popular".
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'O Flavia, era uma coisa assim, muito á vontade porque eu comecd a lecionar pra amigos,
pra parentes, então uma coisa assim, muito natural né, então,ao mesmo tempo que eu tinha
dificuldadeeu fui aprendendo na própria dificuldade".
Métodos/Metodologia:
"Ô Flavia, a gente tem um método, tem um método que eu to, ta em fase de adaptação ainda,
de experiência, que o método é nosso mesmo, né, é3 o princípio básico do estudo violonístico,
né. Mas, é uma escola, vamos dizer assim, uma coletânea mesmo, uma coisa sem
compromisso, um estudo livre mesmo, um curso livre do violão".
Dificuldades:
"Porque eu, eu acho difícil, é seguir pra diversos alunos, cada aluno vem, tem uma
mentalidade, tem uma metodologia seguindo do começo ao fim. Então, isso aí, vai muito do
aluno, o quê o aluno quer, né, se ele quer, se ele pensa em ser um profissional, se de pensa em
melhorar técnica, talvez até pro violão acompanhamento. Isso aí é um pouco relativo, né".
"é um pouco complicado, porque veja só : o quê que o aluno, muitos alunos chegam na
gente, "eu quero fazer o violão erudito, o violão clássico", aí de repente você dá um Carulli,
dá um Aguado, dá um Sor né, que é o quê acontece, né. Bom, mas a música clássica que ele
conhece não é aquela. O violão, geralmente, né... Então, eu tô com uma experiência nova aí,
uma aula só de peças, peças é ... instrumental, só instrumental, e,e transcrevendo pro violão.
São peças que, que o aluno já ouviu em casamento, já ouviu no rádio, em cinema, em filme
né, música que, que toca toda hora né, como "Carruagens de Fogo", que todo mundo toca".
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Estratégias:
"O, Flavia, eu gosto muito, mas muito mesmo de tocar para os meus alunos. Eu acho que isso
é como se diz:"a propaganda é a alma do negócio". Então é pautando, é mostrando que a
pessoa, quem ainda não tem entusiasmo com certeza ao conhecer, né, ou às vezes eu gravo
fitas, né, peço fitas tem uma coletânea de peças grande até, euto gravando".
"E totalmente diferente, né, Flavia, é complicado né. Normalmente a criança, normalmente
não, quase sempre não sabe o que quer. Então é uma coisa muito delicada, complicada a
criança. Eu lembro que eu primeiro entrava no mundo delas, pra depois né, então às vezes
brincava com piadinhas, esse tipo de coisas, pega, criança gosta, adora pega, ficar fazendo
peguinhas, agora estudar, agora olha essa notinha aqui, vamos tocar e poraf'.
"Eu não chegud a esses jogos específicos pra, né. Eu nunca ... tudo geralmente eu criava no
momento ali, qualquer brincadeira assim e ia trazendo".
Faixa Etária:
"Já tive vários alunos de uns 7 anos de idade, outros até mais novos".
Estudo em casa:
"Eu acho que o aluno, a criança, ele deve conhecer o instrumento, ter o instrumento como
alguma coisa , vamos dizer, não um objeto de tortura, de obrigação, de ter que fazer assim, né.
Eu acho que é melhor ele brincar com o instrumento, conhecer, apanhar amor pelo
instrumento, né do que um professor dizer tem que fazer assim, assim, assim. Eu não vejo por
aí, isso é complicado, né. È relativo".
"É errado, os pais perguntarem: 'Você já estudou?'. Ele deve fazer: 'Que lindo! Você tocou
ontem. Tava lindo'. Entendeu, tipo, né, nunca cobrar e sim, incentivar o pouco sem se sentir
cobrado (...) É incentivando ao estudo".
Ensino Coletivo:
"Ô Flavia, foi uma experiência de um ano mais ou menos, oito meses, descontando as férias
ddes. Eu não vi grandes resultados não. Não me adaptd muito não, logo um ano em seguida,
eu voltei pras aulas individuais".
"Não, comigo não funcionou. Mas eu creio que existe a possibilidade, né. Isso foi, a época
que não foi, não tava muito favorável. O ambiente que eu onde estava fazendo essas aulas, por
exemplo, era perto de outros instrumentos, aí já complica demais. Dois violões, três violões,
no caso eram três violões, um instrumento de lado, né. Eu crdo que é preciso, não tem muita
experiênciaprópria para amadurecer, né".
Pesquisa:
"Eu sempre, sempre senti essa, realmente essa falta de contato, né".
"Eu gosto né, e tenho procurado cada vez né, aprimorar e crescer mais, mais, mesmo com,
com estudo, com, com transcrições, eu gosto muito de fazer transcrições, arranjos né, e vamos
ver até aonde que vai né".
4) Judson d'Castro:
Formação no instrumento:
"Academicamente, aulas mesmo eu fui ter por volta, eu comecei estudar música mesmo, por
volta dos 18 anos de idade. Com, com, eu comecd a estudar com o professor, com o Marcus
Fontenelle, que é irmão do Eurípedes, estudando guitarra, estudei acho, uns 2, 3 anos com
ele. E aí comecd a mexer com a parte prática mesmo, tocar em bandas, chegud a gravar
41
disco, na época eu tinha uma banda de rock. Deu bem, deu o quê tinha que dar. Deu frutos
bem interessantes pra época né. E a partir de 92, eu comecei a me dedicar ao violão erudito,
violão clássico, estudando inicialmente com o Eduardo Fleury, que atualmente é do
Quartenáglia, depois entrando pra universidade, fazendo o curso com o Eduardo Meirinhos,
né".
<JNão tinha nenhum aluno, e entrei nessa, nessa loucura já com 20 anos, 22 anos, 21 anos já
tava dando aula para meus primeiros alunos. E uma, uma preocupação muito séria já com a
Didática. Mas ainda, muito, muito na base da, da, o quê é muito comum no nosso meio que é
a coisa da intuição, então, do empírico. Você experimenta, vê, se der certo você continua, se
não deu certo, já não fez mais. Mais isso. Mas essa foi uma trajetória da, foi com 2, 3 anos de
aula par encarar essa coisa de ser professor".
Ensino de Crianças:
"Numa criança, o rendimento dela é bem diferente, o ritmo com que ela aprende é bem
diferente que o ritmo de um adulto, né. Então, ela não tem a mesma disciplina, ela não tem
idéia do quê que é estudar violão, assim, aquela, aquela coisa de você ter que repetir várias
vezes. Os meus alunos, por exemplo, quando são crianças, se você feia pra ele que ele tem
que tocar a música 5 vezes, no mesmo dia, ele leva o maior susto. Ele acha que, que tocou
uma vez ta bom demais da conta né".
"E o segundo passo é você ter empatia, você, é preciso que a criança confie em você do
contrário ela vai ter, ela vai se perder, ela vai, ela vai ou ela não vai acreditar no quê você ta
dizendo, então, esse, esse processo de empatia é uma coisa que você tem que aprender a
desenvolver, né. Agora, nem sempre você consegue com todas as crianças".
"Agora, nem sempre você consegue com todas as crianças, né. Então, e aí você tem que ter
exatamente uma metodologia que seja, que siga o ritmo da criança, né, e que fele a linguagem
da criança, né. O processo de aprendizado de uma criança e de um adulto, pra mim é mais ou
menos a mesma coisa. A diferença é a velocidade. E principalmente a forma que você feia
com essa criança. Porque o adulto, eleja tem uma facilidade"
"Então, ospais precisam compreender a situação, isso é importante, porque se ospais tiverem
paciência, né. Porque a tendência dos pais é essa : eles querem que a criança entre hoje na
aula e daí três meses ela tá fazendo recital e daqui seis meses ela tá ganhando dinheiro no
Faustão. Então isso, se você conseguir resolver esse problema inicial, já,já ta com o primeiro
passo garantido".
"(...) porque a criança ainda não tem disciplina, muitas vezes, pra ta fazendo isso, esse é um
ponto. Então, o pai, porque eu sempre peço a todos os pais nesse sentido, é de que por
exemplo, criar um horário de estudo pra violão".
"Outra coisa que é muito, o professor tem que identificar, aí o professor tem ter, que serfirme
pra perceber isso, se a criança ta afim, porque quer estudar ou o pai ta empurrando, né. Nesse
caso, você tem que tomar muito cuidado, né. Nos dois casos. Se a criança vem, geralmente ela
já é mais tranqüila, mas se o pai que ta empurrando, então, aí você tem que ver como, um
trabalho pra, talvez até pra desestimular esse pai a colocar essa criança".
"E no caso dos pais, eles têm uma influência muito grande no sentido de fornecer também
estruturas. Por exemplo: eu incentivo a, uma dica que eu dou prós pais, observe qual a música
que seu filho gosta, corra na loja e compre o CD. Compre um sompara o filho, o som que ele
vai ter no quarto dele, aquele aparelho é dele, ele vai ouvir música na hora que ele quiser.
Então, quer dizer, você dando estrutura, você incentiva essa criança a ouvir música, ela a
criança a um concerto, esse tipo de coisa vai formar esse, essa criança muito mais pra o meio
musical. Isso é fundamental".
"Eu lido muito com, numa primeira fese,eu trabalho com, muito de ouvido. Então, por
exemplo, eu gravo, eu tenho uma fita só com melodias de violão, em que eu tô trabalhando
esse aluno de ouvido. Então, todo aluno me traz uma fita e eu gravo essas, essas musiquinhas
que são simples, que são curtas, pra esse aluno ouvir e aprender, né. Então, eu, por exemplo,
com cinco notas, eu já toco três, quatro músicas, né, de ouvido, então eles aprendem aquilo.
Então, é, é uma coisa que a gente aprende na metodologia, não só da criança, mas do adulto
também, você, você procura que o estudo seja agradável. Então, pra isso é o objetivo"
Métodos:
"eu não conheço um método que seja totalmente, é, que eu não defeitos graves no método.
Então, eu trabalho com vários, né. Eu tenho, digamos que eu feça uma coletânea desses
métodos, e organizo. Eu acho que o fundamental de um método, de maior problemas de todos
que tem, como eles são organizados, a ordem que você vai aplicar com eles, né. Então, em
geral essa ordem pra mim, ela não ta muito, muito, muito interessante. Eu mudo a ordem(...)"
Instrumentos Adequados:
"Olha existem , existem. É difícil encontrar, mas existem instrumentos assim. Bom, uma
pessoa que tá começando, eu tenho a seguinte idéia : quem ta começando muitas vezes não
tem, a maioria das vezes, não tem idéia do quê que é um processo de estudo"
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"Então, nesse sentido eu venho com ?? que compre um instrumento barato no primeiro
momento, né. E instrumento barato significa instrumento de má qualidade se comparado com
os instrumentos artesanais, enfim. Então, esses instrumentos baratos existem pra crianças que
estão aprendendo, existem porque são bem interessantes pra essas 7?/ A Giamiini, por
exemplo, fez um instrumento pra criança que é uma gracinha, parece um cavaquinho. É um
instrumento barato, não é um instrumento bom, ????, não tem som, mas pra começar é aquilo
ali mesmo. E se de repente esse aluno desistir de estudar, o investimento foi pequeno, isso é
uma preocupação ..."
Aulas Coletivas:
"O quê que acontece no caso das aulas coletivas, é que primeiro, você precisa ter uma
metodologia muito mais apurada. E eu tenho visto alguns desastres por aí, algumas, algumas
pessoas que vão trabalhar numa aula coletiva e não tem experiência, não prepara as aulas. E
isto é extremamente prejudicial, porque você não consegue atender o aluno naquilo que seria
possível numa aula coletiva, né. A aula coletiva, eu acho que a única vantagem é, é
exatamente o preço".
"Eu acho que depende muito de cada aluno. A experiência que eu tenho é o seguinte: quando
o aluno tem um objetivo específico, né, esse aluno não vai se dar bem em aula coletiva. Eu
acho que cada caso tem que ser, tem que ser visto separadamente. Se é um aluno que ta meio
perdido, ele não sabe exatamente o quê ele quer, então a aula coletiva pode ser uma coisa
muito interessante. Mas se o aluno já tem um objetivo específico, de tocar determinados
estilos musicais, a aula coletiva, na maioria das vezes não vai atender aquilo direito. Então, aí
é que tem que partir para uma aula individual. Pra o iniciante, quer dizer, em situação de aula
coletiva é melhor, exatamente no início. Eu acho que é o melhor momento pra, pra você ter
uma aula coletiva, é exatamente no início. Mas, tem esse, esse inconveniente de não atender
as particulariedades de cada aluno. Você numa aula coletiva tem que aprender o coletivo, né,
e precisa ter um método muito mais específico".
N° de aulas:
"O recomendável é, meia hora, duas aulas de meia hora. Mas, quando o horário permite".
Sugestão:
"Eu gostaria muito que fosse,e aí é uma sugestão, eu não tenho muito tempo, nem sei se isso
vai ser possível realizar, mas a gente não tem um método, eu não digo nem método, mas a
gente não tem assim, repertório de músicas escritas para iniciantes. E o quê que é isso? È
melodia conhecida, somente melodia conhecida né, de músicas conhecidas né. A gente não
tem esse tipo de coisa. Então, eu sinto feita".
44
"E, aí o violão ficou de lado, ficou jogado lámuito tempo né. Quando nós viemos pra cáque,
pra Goiânia né? Ai, o único que resolveu, assim, interessou mesmo da turma lá de casa, foi
eu. Aí,mas foi uma coisa assim, meio de ver e ouvir o pessoaltocar né?"
Estudo do violão:
"Aí foi muito tempo depois. Aí depois dessa fase, aí eu conheci o Wesdarley. Então, ele
morava no mesmo bairro e tal. Eu já fazia alguns acordes e tal, aquela coisa. Aí, ele, ele, eu
paguei duas aulas pra ele ou alguma coisa assim na época. Aí, fui duas vezes só e não tinha
como né, continuar. Aí, ele, a gente ficou amigo,tal, aquela coisa toda. Ele feria aquelas
reuniões na casa dele, o pessoal cantava e pernoitava às vezes. Aí, ele começou a me dar
aula".
"Criança de repente você ta falando alguma coisa, ás vezes, ela dispersa. Foi difícil."
Dificuldades:
"Primeiro porque a falta de experiência, a feita de material também e na época, por exemplo,
você escreve alguma coisa. Então, na época que eu comecei mesmo, eu só tinha, o quê eu
passava era o quê tinha já... Que eu pesquisava, pegava, tirava uma cópia (...)"
"È, não tinha, era uma coisa assim que não eratão... não tinha aquele jogo de cintura de você
criar, fazer alguma coisa dentro de aula, sabe? Conforme o aluno você acrescenta".
45
"Pode serque o repertório que se utiliza não seja muito chamativo praeles, pode serisso..."
Métodos são adequados:
'São. Mas eu acho que ... É, eu acho que a pessoa sempre tem que estar inserindo outras
coisas".
Instrumentos adequados:
"Geralmente começa com um violão né, pequeno tal direitinho. Mas, quando você vai, no
decorrer do tempo, vai ter que haver uma troca, né. Aí, a gente tem que saber o momento
certo de fazer essa troca. De pegar um violão, tamanho (...) Aí, algumas crianças eu acho que
em pouco tempo já, no meu ponto de vista, já podem mudar de violão, querer um violão
maior, né? Aí, é complicado né? De repente também, o pessoal compra um violão para
criança, e fala : 'Não, você vai ter que usar até...' (...) Não é. Então, esquecem que o menino
ta crescendo e tudo... e não dá o violão maior para o aluno".
"Melodias, e coloca o nome, inventa um nomezinho pr'àquele teminha ali e tal e cria uma
letra em cima, com poucas notinhas, você cria. Eu feço muito isso. Criar alguma coisa em
cima, e vai cantando, igual o 'Onda vai, onda vem' né."
"E, eu acho que você tem que usar a sua criatividade, total, e inventar músicas com eles,
assim, sabe? Inventar mesmo e colocar uma letra, eu acho, dentro da realidade do quê ele ta
no momento. Porque se você pega alguma coisa que ta pronto já, você tem que ....né. Eu acho
que é muito mais complicado você passar o quê ta pronto do que fezer ele na hora".
Ensino Coletivo:
"Iniciação, assim, pra criança, nesse estágio não. Acho que tem que ser... Talvez dois, três,
mas... Quando eles estão tocando alguma coisa, igual por exemplo, a turma né, que você está
aquele ensaio, já é, eu acho que é muito interessante. Mas, a, o problema da postura, aquilo lá,
é tudo muito complicado, e se coloca dois, três, aí vira aquela...".
Métodos:
"Não, o "Ciranda", tem o "Ciranda", assim, uma pesquisa mesmo. Tem muitos métodos
antigos, você acha uma música ou outra e tira. Mas, é mais dentro daquilo que eu te falei
mesmo, escrever mesmo"
Sugestões:
"Eu acho que a gente tem que fazer uma troca de experiência mesmo, assim, aqui dentro, ou
pesquisar com outros, igual você ta fazendo esse trabalho né, pesquisar com outros
professores,né, tem inúmeros".
Fatos históricos:
"e quando eu já morava em Goiânia, sempre tive muita vontade de estudar o instrumento e já
procurando, foi quando eu conheci um rapaz, que eu acho que você vai entrevista-lo também,
o Paulo Sérgio, que aí ele comentou sobre o Henrique em São Paulo. E nessa época nós
fizemos um grupo, e trazíamos esse pessoal para dar aulas aqui e a gente revezava, trazia e ia
para fezer aulas, né? Depois eu formei em Música e depois, tive, mantive o contato com
seminários e festivais o tempo inteiro, numa reciclagem constante até os contatos com
concursos, este tipo de situação".
"Porque na época que eu vim para Goiânia, quem estava atuando, era o pessoal da família
Fontenelle, os irmãos Fontenelle, tinha o professor José Eurípedes também. Mas era todos de
uma escola anterior, né? De uma primeira escola de violão em Goiás, muito sérios, muito
bom, pessoas boníssimase abertas pra, mas não eram que eu intimamente procurava, né?".
"E nessa época, eu me lembro demais, que o Prof José Eurípedes foi um incentivador muito
grande. Porque mesmo ele fazendo parte de uma escola anterior, de uma época anterior, ele
foi sempre uma pessoa muito sensível. Então ele conversava muito, ele procurava muito
assim, ver o quê que se fazia, o quê que eu fazia para ele poder atender e sempre muito me
incentivando a buscar, sabe, esse contato. E como essa necessidade da pedagogia foi muito
forte por esse motivo, ele também, por coincidência, a prof Glacy Antunes, que na época tava
inaugurando o Mvsika, começando o Mvsika, e que era uma pessoa bastante vanguardisda,
sempre foi, né? E acreditou na proposta e na situação e resolveu junto comigo, endossar essa
escola nova. Tanto é que o Mvsika por muitos anos, assumiu trazer esses profissionais para
cá, e fezer cursos de reciclagem com os professores, e aceitar uma pedagogia que até então
não existia para crianças e para adolescentes ou adultos que estavam iniciando".
"Nós convivemos com problemas assim : meninas não podiam se sentar como meninos, isso
foi uma coisa que nós presenciamos o tempo inteiro, né? É até engraçado ver não é? Então
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essa era a situação. Então, ás vezes, tivemos problemas assim, de pais conversarem conosco :
Por que a meiüninha sentar daquele jeito? Né? Então, até a gente conseguir implantar uma
situação que hoje é totalmente diferente, né?"
"Então, foi muito pelaminha busca de como eu gostaria que fosse um professor pra mim".
"Então, foi uma época enriquecedora porque o material prá violão editado era pobre demais,
né? ainda não tinha o que temos hoje disponível nas lojas, nem material importado, a
importação não era como hoje, né? Mas por outro lado, esta parte de trabalhar com a
Educação Musical e com as aptidões é que me levou a buscar uma pesquisa e procurei muito
nos outros instrumentos, instrumentos de corda, instrumentos de sopro, pra orquestra, no
próprio piano, que era muito, sempre forte em Goiânia, uma escola muito forte. E foi fazendo
essas adequações e esses estudos que nasceu um trabalho específico com crianças,
independente de métodos específicos prá violão. O que se aproveitava pra criança na época,
específico o que já tinha era muito, algumas coisas assim, ligados a postura, ligado a
qualidade de som, ligado a unha, ligado a aspectos técnicos e mecânicos, que seria para
qualquer idade só que nós adaptávamos né? Agora tudo que era musical e tudo que era de
repertório era muito dentro dos cursos de Educação Musical tá? e muita pesquisa com outros
instrumentos. E como tinha muito, reunião de professores instrumentos diferentes, a gente
discutia muito a questão do desenvolvimento de cada aluno. Então, era uma troca muito
grande de professor prá professor, de experiência pra experiência e era a partir desses
resultados, com esse trabalho que a gente ia procurando outro tipo de material já específico,
mas muito difícil de encontrar. Então, nós mesmos é que fazíamos essa, esse repertório, tá?"
Métodos:
"Eu nunca usei um método só. Nem com criança, nem com adolescente e nem com adulto.
Nunca consegui usar só um autor. É, sempre procurei fazer assim : adequar o que eu
acreditava a nível técnico-musical com os métodos que se tinha à disposição, tá? E recorrer
também a arranjos ou possibilidades de improvisação, que sempre foi uma, uma tônica né? a
improvisação, a criação, sempre nós buscamos muito esse lado".
Metodologias:
'Eu pegava então, a Escola de Tárrega e Carlevaro, e fazia o quê que eram elementos que
criança podia, elementos técnicos e mecanismos, que criança podia fezer e deveria se
conhecer. E eu separava esse mecanismo e adequava a um repertório. E esse repertório, eu
sempre fiz questão que o repertório sempre fosse da identificação dela, trouxesse épocas
diferentes como também trouxesse uma identificação dela, o quê que ela gostaria de tocar,
porque sempre trabalhei muito com o ouvir trazia muita coisa para se ouvir, né?".
Instrumentos adequados:
"Olha, a condição do instrumento é muito delicada em qualquer das faixas etárias, porque
envolve problema financeiro, né? como envolve também cultura, porque é muito difícil para
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uma família querer o instrumento para o filho, mas não querer investir em um instrumento
adequado, então, temos aí, uma complicação, né?"
"Mas, primeiro, não esquecendo que a criança, ou qualquer iniciante tem que ter um primeiro
tempo de liberdade com o instrumento. Essa liberdade mesmo do aprender a carregar, do
aprender a limpar, sabe, ela precisa de uma certa, é como se fosse ainda um brinquedo ainda,
e não um instrumento como a gente olha, sabe? Sempre me preocupei muito assim, porque de
repente você põe um instrumento na mão de uma criança, e quer que ela trate aquele
instrumento como um músico. E ela não é um músico, ela é uma criança, né? Então, tem uma
fase que ela tem que ter liberdade pra deixar cair, pra pegar com a mãozinha suja de pipoca,
temque ter uma fase lúdica com ele, e essa fase lúdica a gente não pode ter muitas exigências
com a qualidade do instrumento (...)"
"Agora, claro, em nenhum momento a gente também, deve, deixar de perceber que um
instrumento não está adequado a uma iniciação, porque geralmente são instrumentos muito
grandes, como são instrumentos que geralmente não afinam, como são instrumentos que não
tem adequação nenhuma pro trabalho. Mas ao mesmo tempo, se ganha muita coisa na
Educação Musical, e essa ponte, esse tempo, a gente consegue fezer um trabalho
diferenciado".
"Acho que o violão adequado é o violão artesanal mesmo, e agora, acho também, que o
professor deve colocar para a família, no caso quando é criança, todas as possibilidades que se
tem, os luthiers que se tem e os instrumentos que se tem, e entrar em uma conversa direta,
entre o cliente que vai comprar e o próprio luthier, para que exista , para que ele saiba que
exista, existe possibilidades e existem neste mesmo luthier, instrumentos diferentes".
"Mas, dentro de um violão, fazer o menor possível, né? Porque já teve alguns instrumentos é,
da Giannini, bem pequenininhos, né? mas tinham problemas seríssimos de qualidade sonora e
afinação, né? Então, sempre, ou se tinha um problema de afinação e som, ou se tinha um
problema de tamanho. Então, sempre trabalhamos com essa margem de situação, agora,
acredito para qualquer iniciante, em qualquer faixa etária, o importante é se ter um violão
artesanal e que se construa com esse aluno, ele mesmo entender por quê se ter um instrumento
desse, sabe?"
Dificuldades:
"O quê eu, o quê eu encontro é, nesse nível que você está colocando, é muito a situação de
material adequado prá criança. Material tanto pedagógico a nível musical ligado diretamente
ao instrumento sabe? Eu acho que o meu maior problema em toda a minha época de trabalho,
sempre foi relacionado a material disponível no mercado do que com a própria criança.
Porque com a criança, esses elementos que você tá levantando, quanto à concentração ou
quanto a forma de se relacionar, esse eu nunca convivi com ele".
"O problema maior que eu sempre senti foi muito de não ter um material adequado pra
criança, ligado ao instrumento. Por exemplo, enquanto você tem uma Violeta Gainza que tem
um trabalho musical fantástico, inclusive tem trabalho dela ligado ao instrumento, mas não é
um trabalho tecnicamente a nível do instrumento, legal, né? É um trabalho musical fantástico,
mas tecnicamente no instrumento não é".
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Pesquisa:
"eu acho que o quê tá faltando, a nível de, a nível da criança, é pesquisa e dentro deste
trabalho, adequando os mecanismos, os fetores técnicos do instrumento, a uma formação
musical adequada, sabe?"
"E o quê está nascendo hoje de pesquisa, que já se tem, por exemplo, se eu conversasse com
você anos atrás, em pesquisas de instrumento, aí não teríamos teses, como já temos de
Edelton, né, daquele menino do Paraná, que escreveu sobre a História do Violão, e está
editado, da Graça, aquela pessoa do Rio, né? Então, existem ene trabalhos, hoje já publicados,
mas todos com uma preocupação ou performática ou então, histórica, né? Agora nada se
dedicado a criança, ou a iniciação instrumental, seja em qualquer feka etária, né? Nada
relacionado a pedagogia do instrumento, o que eu conheço das pesquisas existentes nas
universidades é muito ligado a performance ou a histórico, e também quanto a construção do
instrumento, mas não vejo nadaa nível de pedagogia".
Ensino do Violão:
"O que eu vejo é uma série de fetores, por exemplo assim, eu vejo a escola do violão muito
recente nas próprias universidades, vejo também, a preocupação dos instrumentos de uma
geral, não só com o violão, ligado a performance, ta? Então, por exemplo, se eu for ser
músico, eu, a tendência das universidades é só pensar na performance, né? Eu não vejo
nenhum incentivo as Licenciaturas, eu não vejo nenhum incentivo a parte pedagógica, então,
por exemplo, os cursos de violão que foram montados e que estão em vigor, estão muito
ligados à performance, não tem uma licenciatura e se tem, são licenciaturas novas, como hoje
se propõe, parece que este ano a universidade daqui se propôs a fezer um programa adequado
ao pensamento que pudesse ser desenvolvido o lado pedagógico do instrumento, né?"
"Eu trabalho muito com recital aqui, mas, e meu trabalho de sala de aula, aonde em que ele
veicula? Então, ele veicula só na sala porque o meu aluno vai tocar. Então de certa forma, ele
veicula só na performance e veicula pouco na troca, pouco na divulgação, pouco na edição,
sabe? Eu acredito muito isso, e acredito que exista muito outra coisa, existe uma barreira
muito grande entre os performances e os professores. Geralmente, não se buscam um ponto-
de-equilíbrio entre o performance e o professor. Ou ele é um performance e está dando aula
por necessidades financeiras, que a performance ainda não superou ou vice-versa, né? Mas eu
acho que não se busca uma adequação. Então eu tenho alunos é, de nível universitário, tendo
aulas com que não sabe e não quer dar aula, ta? tenho alunos fora da universidade, que tá
tendo aula com quem não tem adequação pra dar aula ou porque está dando aula porque
precisa de dinheiro".
Sugestões:
"Assim propostas aonde estes profissionais possam se encontrar pra discutir ou pra mostras de
trabalho ou para troca de idéias como festivais ou seminários, seja lá o nome que for mais
adequado, né? E principalmente, buscar uma iniciativa aonde pudesse ser editado estes
trabalhos, sabe? Alem de se ter uma conversa regular entre estes profissionais pra que exista
uma identificação de problemas, né? Quais são os problemas mais emergentes ou mais, que
estão dando as diretrizes desse caminho, eu acho que é sempre um ponto de diálogo muito, eu
acredito muito nessa situação. E acredito muito em edições, sabe? Deixar registrados esses
trabalhos e procurar, é procurar nesses diálogos, procurar um maior equilíbrio entre o
professor e o performance, sabe? Procurar minimizar a distância entre esses dois
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profissionais, sabe? Agora, pra mim, o caminho mais adequado, é realmente o diálogo, seja
em seminários, seja em congressos, seja o nome que se der, sabe? Mais a busca é nesse
sentido".
Ensino Coletivo:
"Eu sou muito partidária ao ensino coletivo, em qualquer faixa etária ta? Agora,
principalmente, com a criança. É preciso que não se perca com a criança o lúdico, sabe? É
preciso que não se queira com a criança que ela seja um performance, é preciso, é preciso que
se queira que ela tenha a música muito prazer, e que essencialmente ela possa usufruir da
música espontaneamente."
"Agora a experiência de grupos é sempre muito relativa no montante assim : é necessário que
esteja sempre adequado a feka etária como ao desenvolvimento. Eu acredito muito na
necessidade de ser muito dinâmico, né? Se eu tenho um grupo com cinco crianças, esse grupo,
cada criança vai ter um nível de desenvolvimento. Então eu sempre tenho que estar pronto a
dar a mover esse grupo, de forma que os cinco continuem sempre mais equilibrados em
conteúdo e em idade, sabe?"
"Então se você esperar por um tempo cronológico, eu acho que você corre sérios riscos.
Existe uma facilidade de organização, mas existe uma dificuldade pedagógica, que é a
necessidade de este grupo estar sempre equilibrado no aspecto da idade e no aspecto do
conteúdo. Acredito desta forma e acredito que devam se grupos pequenos né? de no máximo
de dez crianças ou adultos, aí a feka etária não é o caso, mas acredito muito no dinamismo da
proposta".
"E eu penso que deva ter uma preocupação muito grande da parte musical em atendimento, a
nunca se tocar uma voz só, o tempo inteiro, que se feça uma peça, ótimo, de se ter objetivos
lá, de, ás vezes você quer cumprir um objetivo de ter um som mais isso ou mais aquilo, aí
você usa o recurso de uma melodia única, ótimo, né? Mas sempre, eu acho, que tem que ser
um trabalho é, com muito critério musical, para que desenvolva nestas crianças, o aspecto
melódico e o aspecto harmônico sabe? E o interesse de tocar junto. Porque ela não tem, não
traz interesse nenhum tocar igual pra ela, mas traz interesse muito grande na hora que ela
escuta outras vozes, né?"
Música de Câmera:
"Então, eu acredito que nessa feka, é muito importante que ele toque com muitos
instrumentos, sabe, que ele busque uma flauta, o canto, que busque, sabe, situações que
favoreça o convívio musical com outros instrumentos (...)".
Perfil do professor:
"(...) vejo tanto o professor dentro da aula individual quanto na aula coletiva, eu vejo muito a
necessidade dele ser melhor músico, ta. Porque nós temos, você vai conviver muito, fazendo
essa pesquisa, com essa realidade (...)".
"E eu sempre acreditei no seguinte, o professor tem ser acima de tudo, músico, né? Ele tem
que ter noções de composição, ele tem noções de arranjo, porque é necessário que ele busque
muito esse lado, para conseguir fazer um trabalho bom. Aonde ele possa orientar um trabalho
de improvisação, invenção, aonde ele possa buscar arranjos próprios de melodias que a
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criança curta né? E ele adeque uma qualidade musical melhor e principalmente quando se feia
em conjunto, esta necessidade pra mim, cresce"
"Eu acredito que o professor, tanto pra dar aula coletiva quanto pra individual, que ele tenha
noções da teoria da música no sentido composicional, muito mais embasada, sabe, pra dar pra
ele uma liberdade dele usar esse material e outra coisa que me chama muita atenção na aula
coletiva, é a capacidade que o professor vai ter de organizar, vozes diferentes, ele não pode
estar dando uma aula emgrupo, querendo que as crianças toquem a mesma coisa. Ele estaria
trabalhando ao contrário, ele não estaria trabalhando o ouvido musical. Porque se você
trabalhar com um repertório de orquestra, eles estão tocando a mesma música, só que eles
estão tocando vozes diferentes. Então está tendo assim, um enriquecimento melódico e
harmônico, então na hora que eles estão tocando junto, eles têm toda uma vivência melódica e
toda uma vivência harmônicaadequada".
Estrutura da aula:
"Eu sempre tive muita preocupação de trabalhar na criança, o relaxamento, respiração, porque
sem que ela tenha uma respiração equilibradae um relaxamento (...)"
"Mesmo porque, se ela não trabalhar a respiração, ela não toca, né? Ela não tem noção
fraseológica, porque pro instrumentista de sopro, ou pro cantor, isso já é intrínseco, se ele não
respirar, ele não canta e ele não toca. Agora, para os instrumentistas de cordas, e no caso pro
violonista, pro pianista, ele tem que trabalhar essa noção de respiração, porque senão ele não
tem noção de fraseologia, né? Então, eu tenho um tempo com a criança e é um tempo muito
interessante, de muita descoberta sobre o mecanismo dela. Tem um outro tempo com a
criança, muito de improvisação, muito dela brincar com o instrumento, dentro de elementos
que eu possa dar a ela, ou de elementos que ela possa trazer pra mim. E tem também um
tempo de repertório específico e um momento de técnica pra que eu consiga determinados,
por exemplo, determinada colocação na mãozinha esquerda, determinado som, é sempre
dentro da criação, é sempre dentro da improvisação, nunca como um fetor técnico isolado".
N° de Aulas:
"Meia e meia hora ou quarenta e quarenta minutos, a mais do que isso nessa feka etária ou ás
vezes até menos. Por exemplo, eu já tive experiências interessantíssimas, feitas com vinte
minutos cada dia, quinze minutos cada dia, só pra a criança ter o contato comigo o tempo
inteiro. E os resultados são bem diferentes de crianças de meia e meia, ou crianças de uma
hora, sabe, o resultado é bem diferente. Então, se, pela minha experiência, se a gente tivesse a
possibilidade, eu digo a gente no sentido assim, escola e família, né? Se a gente conseguisse
adequar que a criança fosse à escola, quinze minutos, todos os dias, fezer aula de violão, seria
assim, fantástico porque ela aprenderia sem nenhum, sem nenhum, sem nenhuma necessidade
de colocar um tempo pra ela estudar violão, sabe? E este estudo vinha muito pelo interesse e
pela convivência".
realidade é muito interessante. Porque na hora que os pais percebe as dificuldades eminentes
de pegar um instrumento e fazer um som, ele procura, ele começa a ver a criança de uma
outra forma".
"(...) o pai não quer sair da posição dele de autoridade, né? Alguns momentos ele se coloca
com a criança concorrendo com ela, em alguns momentos ele coloca dando as rédias pra ela,
em alguns momentos ele se coloca enciumado de a criança ter uma relação com o professor,
em outros momentos ele se coloca afável, mas alheio aquele processo. Então, é muito
delicado a situação do pai e ao mesmo tempo que é muito delicado, sem o pai, o trabalho
também não acontece. Porque quem convive com a criança é o pai, né? ".
"Agora, é muito difícil se conseguir isso porque o pai ao tratar do seu filho, ele quer tratar
como autoridade de pai, ele não quer perceber o desenvolvimento da criança, né? Ele quer ver
assim, é o filho dele é assim que ele vai educar, é assim que ele está fazendo, ele tem que
estudar, ele tem que isso, mas, ele não deka o filho acontecer, sabe?".
Estudo em casa:
"Porque a tarefe na minha cabeça, no meu pensamento, é muito mais uma oportunidade pra
criança estar em contato com o instrumento de uma forma, com a presença do professor na
tarefe do que uma obrigação a se cumprir, sabe?".
"Sabe aquela coisa que o pai deveria dekar o violão dele sem estar trancado no armário, ali
pertinho da caminha dele (...) como um brinquedo dele, que ele pudesse passar lá e de repente
pegar e tocar uma coisinha e pronto, e guardar. Porque não existe uma criança, e ás vezes tem
o equívoco do professor e do pai, não existe pra criança estudos de uma hora em casa,
estudos de meia, quanto muito dez, quinze minutos e assim mesmo se existisse esses
momentos livres, seria muito mais interessante pra relação dela com o instrumento, né? E não
fosse uma relação obrigatoriedade. E eu acho que nesse aspecto a gente perde,né? Perdendo
com isso, porque fica uma coisa muito impositiva".
"Ele surgiu quando eu tinha catorze anos de idade né? E foi meu namorado, que hoje é meu
marido me deu um violão, me presenteou com um violão. E eu comecei a fezer aulas com o
Prof Wesdarley Adorno na época".
Ensino Coletivo:
"Bom, o procedimento com elas era dentro da sala de aula, música em conjunto, né? Era um
grupo de mais ou menos 12 (doze) a 15 (quinze) crianças e era um trabalho assim mesmo,
música de câmara. Eles descobrindo os sons do instrumento, pesquisa, muita pesquisa né?
sonora, era assim, um trabalho auditivo, corporal, um trabalho mesmo instrumental. Mas esse
instrumental ele vinha bem depois né? Então, a criança ela ia descobrindo os sons, ela ia
descobrindo o som alheios né? Então, a gente foi juntando todo esse trabalho, e faziam uma
espécie de improvisação no instrumento, ele não tinha nota musical, não tinha nada, então, era
o trabalho realmente de pesquisa. E dava um resultado assim fantástico, a gente colocava
outros instrumentos (...)"
"Muito válido eu acho principalmente pra criança né? Ela precisa sociabilizar mais, dividir
mais, porque a criança quando ela tá em sala de aula, ela acha que o professor é dela. Então,
ela tem uma individualidade muito grande, ela cria um vínculo muito grande com o professor.
E é principalmente essa feka etária de 7 anos, ela é muito exclusiva. Então, quando você
passa, se você passou dentro de sala de aula, você passa pra uma, trabalhar a música em
conjunto, essa criança tem às vezes até ciúme de você porque você está dando atenção pra
outra. Às vezes até chora, né?"
"Então, esse trabalho ele é muito, assim, importante na vida do indivíduo porque né, porque
ele aprende a se sociabilizar".
Metodologia:
"Bom, a metodologia assim, eu sempre começo com, a gente faz um trabalho de postura,
trabalhamos a postura, ela em várias formas até chegar na postura correta, pra ele sentir a
estabilidade né, do instrumento com o corpo. Faço um trabalho, pesquisa as partes do
instrumento, o quê quem tem, quais são os nomes, a nomenclatura do instrumento. Depois nós
fazemos um trabalho, em uma outra pasta né, fazemos um trabalho das mãos né, fazendo um
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trabalho das mãos : mão direita, mão esquerda, digitação, o quê uma mão faz, a outra fez, a
independência das mãos, sons aleatórios, ele vai descobrir qual, oquê o instrumento dele pode
oferecer, né, inclusive sons musicais, percutidos, então tem uma série de coisas que ele pode
pesquisar, e fazer primeiramente um som Porque a criança primeiro ela tem que descobrir o
quê que o instrumento dela vai oferecer pra ela né? Então, assim, ela tem que descobrir o som
de tudo, porque só aí, vai nascer o interesse dela de realmente tocar esse instrumento".
"Depois, a gente vai fezer um trabalho né, que é a digitação da mão direita né, que a gente vai
procurar assim, um toque mais firme, um toque correto, que ele tenha massa, volume,
qualidade né? Ele, pra que ele possa fazer um trabalho mais consistente".
"E depois a gente, eu assim, eu começo bem pela primeira posição, eu não passo, eu não dou,
ele conhece o instrumento a princípio né? livre, aí depois eu vou trabalhar só a primeira
posição. Eu começo a partir da terceira corda, eu não começo pelas cordas soltas. Eu vou,
começo pelaterceira nota, terceira corda que é a nota sol, comtodo essetrabalho de toque, de
peso, massa, qualidade né, já começa trabalhando assim. Ele vai fazendo a seqüência das
notas, da escala de Sol Maior das cordas primas. Primeiro trabalha as cordas primas que é de
sol a sol na primeira posição. Depois que ele trabalhou, a gente cria uma musiquinha com
essas notas, ele fez umas improvisações, né, rítmicas, cantada, solfejada, aí, depois desse
trabalho de tranqüilidade nas primas, nós vamos prós bordões, nós trabalhamos a outra oitava
de Sol Maior. Então, aí ele já tem uma escala de Sol Maior com duas oitavas na primeira
posição. A partir do momento que ele conheceu todas as notas na primeira posição, aí, a gente
vai andando. De primeira pra quinta, pra segunda, usando as mesmas notas, aí ele vai
descobrindo aonde encontrar essas notas em outra posição. Então, ele já tem um trabalho de
base na primeira e ele vai mudando pra, pra chegar na escala toda do violão. Então, tem esse
trabalho de base e depois nós vamos trabalhar com a improvisação né? Nós trabalhamos... A
improvisação está presente todo o momento, ele fica livre pra criar, em todo o momento, ele
não vai ficar, assim, fazendo aquele trabalho que só técnico, né? Porque inclusive, este
trabalho é muito condenado, de você não despertar a musicalidade da criança, de você não
dar, assim, subsídios pra criança pra que ela possa fazer música, não fezer uma coisa
mecânica, né?".
Estudo em casa:
"E trabalho muito também, com o estudo individual, acho que ele é de fundamental
importância porque não adianta nada o aluno chegar só com o estudo da sala de aula, ele não
vai progredir, não vai ver resultados, a família muito menos. Então, eu trabalho em conjunto
com a criança e com a família, eu acho que eu tenho um apoio melhor. Então, se o aluno, eu
mostro muito pra ele, se ele estudar, se ele tiver um, um, cinco minutos, dez minutos por dia,
fazendo alguma coisa, ele vai ter um rendimento muito grande, vai ter um prazer maior de
realizar, né?"
"não é que eu vou colocar ele pra estudar uma hora, duas horas, não, quinze minutos pra uma
criança de dez anos já é o suficiente, aí, vai aumentando esse tempo com o passar do tempo,
ele vai aumentando esse tempo de estudo".
"Isso, a importância dele, né, do estudo individual, e ... Porque ele ajuda muito a criança na
questão, na questão do aluno ter essa consciência do estudo e depois também, para quando ele
poder vir a mostrar esse trabalho, né?Porque se você, se o aluno tem a consciência do estudo,
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e se você coloca o aluno por exemplo pra tocar em público, ele não é um aluno estudioso, ele
vai subir nesse palco pra fezer uma coisa de qualquer forma e vai ser um trabalho muito
perigoso pra ele como performance, né? Ele vai ser uma pessoa insegura pro resto da vida
dele, então, vai ser um trauma que ele vai ter. Então, se ele estudo individual, ele vai ter uma
consciência de que realmente é diferente, de que realmente ele cumpriu o quê tinha que fazer.
Então, quer dizer, que o palco pra ele, não vai ser aquela coisa tão temerosa, né?"
Influência dos pais:
"E assim, de grande importância né? Se a gente não tiver trabalhando junto com o pai, né?
Com o responsável, às vezes o aluno fica muito solto".
"Então, o quê eu feço? Eu, quando o aluno não está estudando, eu toda aula faço um trabalho
de anotação no caderno, ele tem que mostrar prós pais, quando eu tenho uma, assim, uma
observação mais, assim, necessária, o pai assina, né? Então, com esse acompanhamento,
assim eu, assim, essa conversa no papel, entre eu e o responsável, ela assim, ela tem me
ajudado muito. Porque o aluno, ele não tem a consciência, assim, que ele tem que chegar, 'eu
tenho que estudar'"
"Porque o pai, cobra muito, desde que ele coloca a criança na escola, o filho na escola,
principalmente de música, ele quer resultados imediatos, então, com ele participando sempre
com o processo de estudo, ele vai estar sabendo o quê está acontecendo".
Método:
" (...) tem vários métodos que eu uso. Eu não uso assim, eu não pego só um método e trabalho
só com ele."
Instrumentos Adequados:
"Não. Assim, quando existia aquela linha do Gianinni Cl, C2, né, C3, então, quando tinha
essa linha da Gianinni, ele assim, às vezes ate dava pra gente ir adequando, né, até ele atingir
um certo nível pra adquirir um instrumento melhor. E quem que tem, quem que teria poder
aquisitivo para adquirir né? Agora, hoje ta muito a desejar os instrumentos, então, ta muito a
desejar esses instrumentos e (...) Esses instrumentos hoje eles não tão tendo qualidade, eles
não assim, a qualidade do instrumento em questão, a sonoridade, afinação..."
"(...) porque não é todo mundo que pode adquirir um instrumento artesanal, né? quando o
aluno tem essa condição financeira, ele já entra com um instrumento bom. Mas, quando não
tem, ele tem que entrar com essas qualidades que realmente a gente ta encontrando por af.
Estrutura da aula:
'Agora, eu trabalho sempre, eu nunca deko de trabalhar, desde os sete anos, uma escala pra
ele conhecer, porque a escala ela dá agilidade, conhecimento da escala, ela dá qualidade no
toque, né? É uma série de coisas assim que a gente não pode dekar de fezer nessa aula,
mesmo com uma criança de sete anos. Então eu divido, ele trabalha duas peças pra mim, fez
uma leitura a primeira vista, toda aula eu acho que é necessário uma leitura a primeira vista.
Você pensar numa improvisação, nem que seje curta, né. E também uma escala e um arpejo.
Então, a aula dividida, mesmo pra uma criança de sete anos, desde os sete anos, deste forma.
Agora, cada idade, né, de uma forma diferente. Mas, usando todos esses, essa seqüência" .
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N° de aulas:
"Aqui em casa, quando eu dou aula particular, eu trabalho com uma aula seguida, uma vez
por semana, quando, isso pra adulto. Quando é a criança eu divido 45 a 45 minutos, duas
vezes na semana".
Estratégias:
"(...) eu trabalho muito com música folclórica, trabalho muito com música popular, então aí,
ele vai despertar o prazer, o gosto pela música, não fazer coisa séria demais. Então, a
princípio, ele tá trabalhando ali, só com a linha melódica, e o professor sempre
acompanhando, ele nunca está sozinho".
"E você começar com coisas bem simples pra ele ir tendo o prazer da evolução do que ele ta
fazendo, né? Então, eu acho que não tem nada difícil".
Dificuldades:
"lá são só 45 minutos por semana. Eu acho muito pouco. Então quando você, a gente dá aula
de instrumento, tem que afinar, você tem que lkar a unha do aluno pra ele ter um toque legal,
pra ele ter uma consciência que ele tem que ter a unha na mão direita. Então, até você fezer o
trabalho de lkar a unha, ensinar ele a cuidar do instrumento, porque ele tem que ter o carinho
com o instrumento, afinar o instrumento até que ele se coloca, não dá pra gente fezer muita
coisa. Então, é tudo muito corrido, você fica assim muito agitado né, com o pouco tempo que
tem. Então, assim, eu, uma hora eu acho, assim, fundamental".
"Olha eu acho que música, assim, crianças, pra crianças, pra qualquer indivíduo, ela não tem
nada difícil pra ninguém. Principalmente pra criança. Então, é a forma como você se coloca,
como você coloca isso pra ele, pro indivíduo né?"
Pesquisa:
"(...) principalmente na nossa área do violão, que você sempre, você ta procurando alguma
coisa, você sente assim, quando você tem um bom livro de Educação Musical, você pega
algumas coisas de cada, de cada um Você nunca encontra num só lugar, você tem que ir
fazendo estas pesquisas. E aqui, principalmente dando aula aqui em Goiás, é muito escasso.
Então, quando eu quero um material, se eu quero trabalhar com música de câmara, eu tenho
que ir pra fora, eu tenho que ligar pra São Paulo, perguntar se alguém pode mandar pra aqui
né?'
"E o material, ele é muito difícil, muito difícil, você não tem acesso ao material, então você se
sente perdido, muitas vezes você fica desestimulado, porque quando você sai da faculdade,
você está assim com mil planos, né, a maioria dos estudantes formam com mil planos,os
formandos... Então assim, quando você sai, você está sem, sem nada de apoio e quando você
vai paraprocurar tem essa lacuna. Então se você não tiver pessoas que vão te apoiando, vão te
cedendo material ou que você possa pedirpra fora que tenha alguém que possa mandar, aí fica
muito complicado".
Sugestões:
"Bom, eu acho que oquê feita muito entre nós, né, éessa, essa... esse envolvimento, sabe? É
o envolvimento do fazer, de arregaçar as mangas e falar : "Vamos fazer!" . Porque aqui é
assim : ta cada um no seu mundo, cada um no seu caminho e quando você realiza, você tem
que suar muito pra você levar esse profissional pra assistir";
Experiência pessoal sobre a profissão:
"Bom, eu descreveria assim : tudo que eu faço, eu faço com muito amor, com muita vontade
de estar sempre acertando, com muita busca nos acertos né? Eu, assim, sinto uma necessidade
do aprendizado sempre. Eu não, assim, acho que eu sei tudo, eu tenho que estar sempre atrás.
Eu sempre, eu tô aprendendo. Os meus, os alunos, os meus alunos mesmo, eles me ensinam
muito, eles me fazem ao mesmo tempo que eu to ensinando, eu estou aprendendo. Então,
quando muitas vezes eu tenho as minhas dúvidas, eu tenho que ir atrás. Eu não, eu não
estacionei. Então tudo que eu feço, eu feço com muita vontade, com muita vontade de acertar
porque afinal de contas, né, a gente ta educando né? É uma vida dedicada a isso. E não é só o
aluno que ta ali comigo, ele não é só o meu aluno. Ele o é meu aluno, ele é meu amigo, sabe?
Eu não envolvo, assim, confidencias, particularidades, porque eu acho que isso também pode
vir a prejudicar muito seu trabalho mesmo, porque aí ele passa a confundir muito as coisas,
mas você tem que dar uma abertura pro aluno ou pra você mesmo. Ter assim, sabe, um elo,
uma ligação maior. Não só, eu sou o professor ele é o meu aluno,né? Então, eu feço com
muito amor, com muito prazer".
'Então, a primeira vez que eu peguei no violão, coma terceira vez que eu vi o rapaz afinar, eu
consegui afinar o violão. Que é muito difícil, é a coisa mais complexa, então eu já afinava
violão. Tanto é que nós como professor, a gente não ensina no princípio a pessoa a afinar o
violão. Então, o meu primeiro contato foi esse. E mais tarde, já com, nessa época eu devia ter
meus onze a doze anos, né, e a escola era retirada, sobre mim em Uberlândia, a escola era
retirada do estado, umas duas, uns dois quilômetros mais ou menos. Então, é com uns, eu
jogava futebol, mas ia treinar na cidade. E um dia passando, eu passando na porta de um
gabinete de dentista, eu ouvi um violão tão bonito, tocando "Ave Maria" de Gounoud,
fazendo o trêmulo, que dizer, o trêmulo entre os bakos e a melodia nos, nos dedos anular,
médio e indicador, né? Aquilo pra mim foi o fimdo mundo. Aí, eu conheci um novo violão".
Fatos Históricos:
58
"Naquela época agente não, não era igual hoje, hoje você pega um aluno, de cara você já põe
um violão na mão dele, né, pra ele fazer os primeiros exercícios, senão você fica, senão o
aluno não estuda. Hoje opessoal já quer tocar de cara. Então, agente da oviolão passa alguns
exercícios, é o contato dele com um violão de verdade. Mas antigamente, não. Era seis
meses, teoria, muito bom porque na época a gente estudava o Bonna, aquele método de
divisão né, até ficar craque. Aí, o professor depois de um longo curso de teoria, é que ia
passar a, a trabalharcom o instrumento, com o violão".
"Vim pra Goiânia em 61, aqui eu vim pra cursar ou terminar o ginásio né, e aqui eu procurei
uma escola de violão, a qual eu não encontrei. Quem dava aula aqui, se não me engano
naquela época tinha um tal de Pepe, esse Pepe estudou com Isaías Sávio, descendente de
espanhol. E eu, então, procurei aqui algum professor através da Casa do Povo, uma casa de
instrumentos, hoje é, atualmente é Musical Goiânia né?"
"Era nos bailes, nos butecos mesmo, não é? Mas era uma coisa séria, o pessoal que gostava da
música erudita, com as biritas e tudo, né, mas gostava da música erudita. Tanto é que se
chegasse alguém, com cavaquinho ou pandeiro, era, saía na hora. Não deixava porque aquela
noitada ali... e enchia. E aí eu participava né. Villa-Lobos acompanhado pelos seresteiros né e
eu participava daquilo e enquanto isso, ia aprendendo. Aí eu comecei a trazer partitura de
Uberlândia pra Goiânia né. Como você queria saber um pouquinho da origem da música aqui.
Eu acho que eu me orgulho de ter sido um dos precursor da coisa aqui em Goiânia".
"A didática nessa época pra violão era terrível né? (risos) Mas como a gente, tem aquele dom,
aquela energia que você já vem com ela, aquela vontade, aquela afeição pelo instrumento, fez
com que, com poucas aulas que eu tive com ele, eu, ajuntado com a teoria que eu já tinha
acumulado mentalmente, aí eu dei um avanço, um avanço muito grande num prazo de um
mês, eu tava tocando até um'Astúrias' né? (risos). "
"Como ouvinte, pra ouvir, nós ouvíamos o Dilermando, certo? E mais tarde, ou melhor, já
nesta época aí, eu fiquei sabendo, através de um concurso, o Turíbio santos, que ele venceu na
Europa, e ele foi aluno de um sei que láRabelo, Rabelo né, e foi aluno de Villa-Lobos, não sei
se foi aluno do Villa-Lobos, eu acho que Villa-Lobos não tocava nada, apenas compôs né? O
toque dele muito curto?, mas o Turíbio deve ter alguma coisa dele, interpretação e como tocar
as músicas dele. Então, o Turíbio foi o primeiro a gravar as peças de Villa-Lobos né? Mas,
quanto a Isaías Sávio, eu fiquei sabendo que, como referência pra música mesmo, ele foi o
primeiro que trouxe a Escola de Música, o violão por, vamos dizer, pormúsica".
"(...) na década de 30 por aí, me parece que foi isso, que ele pra São Paulo e lá ele fez uma
cadeira na, pra lecionar, na escola???, mas então, a música, o violão por música foi trazido
para o Brasil através de Isaías Sávio, então, nós temos ele, como referência, como, nessa parte
aí, né. Agora, a gente conhecia outros métodos, é a Escola de Carcassi, um meio complexado
demais, lá em Uberlândia, todo mundo estudava a Escola de Carcassi. Ele, um método até
bom Teórico e ??? a partir de músicas, né. Cada, cada som, ele fazia umas escalas, uns
exercícios, arpejos, né? Mudança de posição, e cada posição fazia um trabalho, certo? Então
Isaías Sávio, foi aquele trouxe violão por música no Brasil e isso a gente ficou sabendo".
Dificuldades:
"Foi mais na frente eu comecei a sentir dificuldade devido a essa, que eu num referiu, né, a
Escola de Tárrega, e nós, todos professores, acho que o Henrique Pinto também passou por
isso né, antes da Escola Carlevariana, todos nós professores antigos, tivemos uma pulsação
assim, grande, porque a gente estava sempre buscando uma coisa melhor, uma forma melhor
de trabalhar. Então, eu passei uma pulsação muito grande, uma, na década de 70, porque
parece que a coisa para mim paralisou. A gente num, num subia nem descia, tanto pra lecionar
como pra tocar, certo? Então, eu tava encontrando dificuldade em fezer aqueles alunos
desenvolver, certo? Mas é devido à própria escola, dificultava a gente. Uma complexidade
técnica fora do comum, ne, e a gente estudava noite e dia, pra nada, só fazia cansar".
"eu tive contato com o Henrique Pinto, algumas aulas com ele, né, que abriu bastante o meu
horizonte e me ensinou também. E também através das leituras, eu fui,do Carlevaro, é como
lecionar né? Aí, eu vi que a coisa era diferente, bem mais fácil. Então, veio à escola e abriu, aí
eu me descontrai mais pra lecionar. Então, não encontrei mais dificuldade, entendeu, de
trabalhar com o aluno"
Metodologias:
É. O Carcassi mesmo eu estudei. Eu trabalhei mais com Tárrega e depois, tinha uma escola
muito boa também, o método era em 7 volumes, é, é, não sei , é Mário Rodrigues Galeno
também, do Isaías Sávio, do Isaías Sávio tem 7, também tem 7 volumes, encadernado
também, bem condensado, coisa muito boa, certo? Bom, só que os métodos eram bons, eram
métodos bons, agora mesmo, a gente não sabia que era uma forma técnica mais racional,
certo, era (...) sem saber. Surgiu somente depois do Carlevaro pra cá, ta. Aí, até esses métodos
que eram arcaicos, era ruim, então hoje, a gente faz com que se torne uma criança pra você
trabalhar com ele, né. Porque você pode mudar alguma coisa, tem condição de mudar, certo?
Então, eu, eu eu acredito que o violão começou a serestudado mesmo da década de 80 pracá,
ou melhor, de 75 parece, que Carlevaro levava o curso, o seminário de verão no Rio Grande
do Sul, né? 76, 78 por aí. Então, ficou a escola lá do sul com a paulista, que era mais
freqüentada, então, trouxerampra Goiás".
toque de, sem apoio, porque ela não tem força. Eu acostumava dar de cara o toque apoiado e
forte pra ela ouvir, então não escuta nada, né. Aí, mais na frente, eu ia tirando o excesso de
apoio,né? Epra criança então, e nisso, toque bom com, é apoiado. Agente toca dos oito até os
doze anos, deixa tocar. Então, eu játrabalhei com criança sim, não em grande número..."
Referências de trabalho com crianças:
"Aqui, foi até uma aluna minha, Rosimeire (...) Ela tem uma experiência muito grande com
criança, porque nacasa dela, o quê ela tinha era pra criança, pracriança".
Sugestões:
"Bom, eu gostaria que esse movimento tornasse igualjá foi em épocas passadas, certo?"
9) Danilo Verano:
"Não tenho conhecimento de outros não, eu realmente, porque esse negócio muito de, de
arranjar música".
Escassez de Pesquisas:
"Eu sinto feita, mas isso tem um aspecto muito interessante, que é que cada um vai se virar
pra exercer essa coisa. Nesse sentido, o trabalho que você ta fazendo agora, de entrevistar o
pessoal, pesquisar, é importantíssimo, por isso né, porque vai economizar um, um, vai assim,
tirar uma noção do que o povo ta fazendo, né. Eu acho muito legal".
"Muito, muito. Na internet tem muita coisa, eu tava até vendo esses dias lá, e achei umas
coisas muito quadradas, o pessoal num, num preocupou muito com a questão de sentir a
música, né, que eu acho que é o principal né".
Intercâmbio:
"(...) eu acho que em questão de como trabalhar com criança, eu acho que vai muito da, de
como a pessoa vê, a música, né? E ser uma pessoa muito aberta pra, pra discutir até com
alunos e colegas, assim, questões de música né. Pessoal sempre chega pra perguntar as coisas
mais variadas possíveis e eu sempre respondo com toda atenção, todo carinho, porque eu acho
que assim é que tem ser, né".
Instrumentos adequados:
'Ta longe de ser o ideal, né. Tem violões muito grandes, muito, muito".
'Porque o tamanho é muito grande, não tem como, a gente vaiadaptando, a gente vai, porque
não tem como cê, cê trabalhar sem instrumento também, né? Ainda mais com criança. A
gente vai adaptando, mas as dificuldades são muitas mesmo, não tem instrumento adequado,
tamanho certo, isso aí, é um problema sim".
Aulas Coletivas:
"A primeira vez foi no Mvsika, né, aquela vez que a gente trabalhou junto lá, né. E eu achei,
tive dificuldade assim, muito grande porque eles que eram muito pequinininhos, e foi o meu
primeiro contato com esse tipo de trabalho. Mas depois eu fui, eu fui trabalhar com isso em
62
outras escolas, e fui me adaptando também. Mas eles são muito inquietos, assim, muito
impacientes, querem tocar logo, bem como a gente mesmo, né. E assim, é, é muito
interessante porque eles se interessam mesmo, se envolvem no trabalho né, então, a coisa
rende bastante. Mas tem que ter pulso firme né, porque eles são inquietos, querem sempre
bagunçar, querem sempre fazer coisa que não tão no programa".
Metodologia (Iniciação):
"E, eu acho importante partir da questão de como sentar, e aonde sentar".
"Esse início eu passo o repertório do livro dele mesmo, mesclando com outras músicas
também Se tiver assim, num estágio de trabalhar mais técnica, eu passo aquele livro do Isaías
Sávio e outros também, e eu até invento, eu gosto muito de inventar coisas, eu sou dessa
escola também de, de inventar e improvisar e tudo. É, mas cada caso, vai de cada caso
também, não sei. De repente tem alunos que você até...tão prontosjá né, é só você orientar pro
caminho certo, que eles vão embora, nem precisa falar muita coisa às vezes, né"
"Eu costumo mais fezer mesclado a música também. Porque assim, eu parto do seguinte
princípio : o principal que a gente ta buscando é fazer música, não é? Então vamos fezer
música. Porque eu acho um saco tocar escala, por tocar escala. Você pode fezer uma escala,
por exemplo, com dinâmica, com recursos de, de rubato, de flutuações agógicas e tudo né.
Que é uma coisa que eu costumo fazer também, né. Trabalhar o quê é chato, como escalas,
arpejos, de uma forma que o aluno se interesse mais porque ele feia assim, "tô custando a
fezer isso por que isso é um saco ficar do, re, mi, fá, feito bobo né?". Cê não tem um motivo
pelo qual você ta fezendo aquilo né, você sabe que tem que fazer, mas não sabe o porquê, né?
Então, eu acho que tem que criar um interesse maior, fezendo isso, mesclando com dinâmica,
com elementos assim, né".
Dificuldades:
"A gente por não ter muito material, até que você falou, dificuldade variada, assim, eu acho
que é um problema né, que a gente sempre tem, fez a coisa de uma forma muito empírica
assim, né. Então, acho que a gente, a genteainda ta tateando nessaárea. Acho que a gente tem
que, que, volto a ressaltar que esse trabalho seu é muito importante também emfunção disso,
né. A gente ter um ponto de partida pra gente estar pesquisando mais isso, ta levando mais
nessa área".
Sugestão:
"Eu acho importante, ce ter um objetivo pra cada aluno, e traçar um plano pra cada um deles,
é, sempre envolvendo também, a questão de escutar coisas diferentes, contrastantes, é postura
uma coisa que eu acho fundamental, que eu sempre trabalho muito no começo, passo
praticamente duas aulas ou três mexendo só com isso, tocando também, mas cordas soltas e
tal, né."
"Significa, significa ter tesão na, na vida mesmo. Tudo que eu feço é com muito prazer, com
muito amor e, eu acho até na luta, a gente tem que fezer tudo na vida. Primeira coisa, fezer
tudo com amor, e, e ter muita paciência com as pessoas porque é um trabalho que às vezes
você fica com dificuldades, com problemas e procurar entender cada universo, se cada,
porque cada um dos alunos é um universo que tem que ser explorado né. então, eu procuro
muito puxar de cada um deles, esse, essa coisa do tocar, do prazer de tocar".
"(...) também é importante você ter um conhecimento, cê se reciclar, participar de curso, né,
cê pesquisar, estar sempre na internet, ali e tudo, ler muito. È um trabalho que envolve
basicamente contato humano, é trabalho de comunicação".
Fato histórico/Formação:
"Depois tive contato com, com o Marcus Fontenelle, o Marcão que foi, eu peguei mais coisa
pro lado clássico, mais clássico. O Zé Eurípedes e Eurípedes Fontenelle, aí eu passei a estudar
com o Henrique Pinto, fiz curso em São Paulo com ele, ele veio aqui também, isso dando,
Fernanda Furtado, isso dando métodos também, Tárrega e auto-didata também porque não
tive como. Não tinha um curso assim, especial pro violão clássico".
Faixa Etária:
"A partir de 5 anos. Raras as crianças de 4 anos, que sabiam ler, escrever, né. A criança sabia
já, já era alfabetizada, já pegava. E sempre o violão clássico e pra quebrar a monotonia, eu
dava um pouquinho de acompanhamento, eh solo, pra criançada. Então, foi essa a minha feka
etária, de 5 , de 4 até 12 anos".
Metodologia:
"É orientação, eu ia para os métodos, eu comprava, comecei com o Cunha misturando o Isaías
Sávio como Tárrega, e eu coloquei os meus próprios exercícios para facilitar paraas crianças.
Mas eu trabalhei muito com aquele método do Othon da Rocha Filho, eh eu comecei a usar
aquele 1 e 2, a foi praturminha, o número 1 para a turma menor e o número 2 já era, tava pré-
adolescente, né. E então, o pessoal gostou muito, foiaonde eu adoteiatravés de exercícios que
eu pegava o Isaías Sávio misturava com o Tárrega, eu fiz uma salada".
Dificuldades:
"Por aí ,e eu tive dificuldades porque eu não tinha aonde me orientar, né , assim com quem
me orientar, eh onde eu até tinha livros e tudo".
Instrumentos adequados:
"(...) não sei bem como está atualmente, mas no meu tempo era uma loucura. Aparecia
aqueles violões trovadores, os violões menores eram uns violõezinhos que realmente não
dava pra dá violão clássico com uma coisa dessa. Aí a gente colocava o Di Giorgio, o
Giannini, tamanho 16 mas o som não era bom, o som era triste. Eu tinha que fezer milagres,
trocar o acordoamento e, mas o violão agora atualmente eu não sei mas no meu tempo era
terrível"
"Os braços do violão muito largo, largo demais e as crianças as mãozinhas não davam. Então
as crianças faziam um exercício pra valer mesmo, ginástica..."
"Conduzia, nem sempre conduzia a aula. Mas quando a criança é mais novinha, ele desvia a
atenção, chega um certo ponto ele desvia a atenção. Então, você já toca um pouco de outra
coisa, naquele exercício".
'"Vamos fazer tal exercício?' , 'Que tal aquele exercício de tempo? Vamos bater as
mãozinhas?', 'E os pés, como a gente bate o tempo?', aí a criança ligava no tempo, aí a gente
ia pro violão novamente. Eu, eu sempre, eu nunca dekei a aulaficar monótona".
"Aí foi quando eu formei a banda, pra sair do trivial. Eu peguei uma turma que tava com uma
base, assim, mais ou menos igual, né, e formei uma banda de 25 violões. Foi muito bonito".
Ensino Coletivo:
"Não, não é que eu não me adaptei. Eu dei muito tempo de aula assim. Eu iniciei. Ateoria até
que você consegue. O quadro negro, o desenho, mas a parte teórica, a parte prática, se tem, eu
gosto muito de dedicar ao aluno. Se você colocar 2, 3 alunos, você já começa a perder, sabe,
se perde, "Tia olha como é quê é?\ "Tia não é assim", você fica, você sente que o aluno não
ta tendo aquele, ele não ta ganhando aquele tempo, ele ta perdendo, entende? Então, eu fiz, na
teoria até que eupodia fezer isso, pôr né, mais cadeiras??? mas naprática nunca".
Pesquisas:
"Olha Flavia, eu acho que tem, tem muito pouca coisa. Eu estava pesquisando em um livro a
pouco tempo atrás, e um livro de artes, né, e livros novos até, num colégio que eu tava dando
aula de artes, e procurando, pesquisando, coisas de música, é muito pouco e quando tem, é só
música de roda. Assim, eles tratam a criança só aquilo ali, só música de roda, e não tem mais
nada pra... a criança é muito rica, e tem muito potencial pratrabalhar, tem muito potencial pra
ser trabalhado. Então, eu, eu, eu acho que ta assim, ta muito assim, precisa de mais pessoas só
criança, trabalhar nessa área".
Sugestão:
"Olha, acho que deveria ter mais profissionais nesta área, pessoa dedicada fazendo curso,
assim. O governo mesmo podia, podia ajudar, né, professores a fazer cursos fora, porque aqui
em Goiânia já que eu saiba, não tem tanto assim, dedicação, mandar pessoas que se
interessem pra lhe dar com criança nesta área, olha uma bolsa de estudo".
Preconceito:
"Do violão, que eu tô dizendo é pro violão, porque piano tem demais, onde você vai, você
toca piano, piano, flauta transversal, violino, mas o violão, o pessoal eu pensa ainda que ele é
de botiquim. Creio que, eu me lembro que quando eu estava fazendo aula, menina né, uma
amiga da minha mãe felou : 'Poxa, a minha filha faz piano', a minha mãe falou : 'A minha faz
violão', 'Violão?' Isso me guardou, ficou com isso na minha cabeça. Eu era pequena, devia
ter uns 8 anos. "Violão?". E hoje eu fico analisando : "Violão?'. Violão é lindo! Violão é
muito bonito, violão é maravilhoso! Não é instrumento de botiquim".
professores que lecionam para esta feka etária, devido à escassez de metodologias
específicas e insuficientes materiais didáticos adequados, voltados para a criança brasileira.
NOGUEIRA (1999), confirma esse pensamento pois entende que as dificuldades são grandes
e que no país não há infra-estrutura, material didático e instrumentos adequados, e conclui que
é pequena a quantidade professores especializados nesta área. Por isso, teve-se o cuidado de
significativos reconhecidos pela comunidade, visando buscar suporte teórico que justificasse
violão, início da atuação como professor, faixa etária trabalhada, métodos e a adequação
dos mesmos, adequação dos instrumentos, número deaulas recomendadas, estrutura daaula,
de atuação, ensino coletivo, quem é quem no ensino do violão para crianças (referência de
primeiro contato com o violão entre 14 e 18 anos de idade e sendo que a outra metade, esse
contato se deu entre os 6 e 7 anos. Interessante destacar o fato que dos 10 (dez) entrevistados,
3 (três) optaram pelo violão após de ter estudado outro instrumento (dois estudaram violino e
um estudou guitarra anteriormente). Outro feto interessante é que dos 5 (cinco) entrevistados
que declaram ter tido o primeiro contato com o instrumento na infância, 3 (três) começaram a
1Entende-se porexcertos os recortes feitos as entrevistas quecontém aspectos de interesse paraa presente
análise.
61
apenas retornando aos 16 anos e o último relatou que só se interessou realmente pelo
instrumento a partir dos 12, já que estudava um outro instrumento. Como se vê, o ensino do
violão para crianças era por muitas vezes desconhecido ou inacessível, sendo um dos motivos
entre 2 a 5 anos de estudo em média. Tivemos alguns relatos interessantíssimos sobre como se
deu o início de carreira. A grande maioria aprendeu a dar aulas a partir da prática e da própria
conhecimento empírico : "Começou pelo que eu sentia. Como eu sentia uma vontade muito
grande de estudar e não tinha com quem estudar, então, começou muito com esta vontade
assim: como eu gostaria que fosse um professor, que pudesse me dar aulas e que pudesse
suprir essa necessidade" (Prof Maria das Graças Almeida). "Na realidade, eu fiquei com
medo na hora de começar a dar aula. Eu gostava muito de tocar, então eu era acostumada
ser aluna e a tocar muito, né. Naquela época era mais ativo, não sei porque. Então eu
comecei a dar aulas, mas no começo eu pensei, sentia dificuldades, mas logo em seguida fui
(Prof. Fernanda Vasconcelos Furtado). "(...) Olha, na realidade eu entrei assim, realmente
foi uma coisa assim muito súbita, né? Porque eu comecei afazer música, então eu não tinha
pretensão nenhuma assim ainda, de dar aula e não me sentia preparada, euqueria fazer uma
coisa assim mais estruturada (...). Eu comecei assim, com a cara e com a coragem, né?
Então, eu não sabia nem por onde começar né? Realidade. Porque nesta época não tinha
68
uma estrutura, assim, de uma didática. Então, assim, eu fiquei assim, me senti um pouco
perdida" (Prof. Maria Aparecida de Souza). "Eu ensinava aquilo que eu aprendi. Com o meu
linguajar daquela época, né?" (Prof. José Eurípedes Roberto). "Demorou muito, assim, prá
descobrir assim o caminho né. Quer dizer, estou descobrindo até agora, até hoje (...) Eu
trabalhava em cima do quê ele me passou (...) A minha referência era ele2. Mas assim, eu
sempre tentando mudar alguma coisa" (Prof. João Luís Batista Neto). "Mas aí, meio assim,
sem saber mesmo (...) Mas, as dificuldades são muitas hoje mesmo, assim, por ignorância, a
gente começa assim, meio sem saber mesmo. Eu tive dificuldades, assim, muita, e até hoje
tenho algumas né, a gente sempre tem muita dúvida né." (Prof. Danilo Verano), "Foi um
começo bem espinhoso, porque as crianças começavam e euficava perdida não tinha aonde
me apegar". (Prof. Rosi-Meire Fátima da Silva Borges). "Ô Flavia, era uma coisa assim,
muito á vontade porque eu comecei a lecionar pra amigos, pra parentes, então uma coisa
assim, muito natural né, então,ao mesmo tempo que eu tinha dificuldade eu fui aprendendo
na própria dificuldade. " (Prof. Clévio José Vieira). "(...) muito na base da, da, o quê é muito
comum no nosso meio que é a coisa da intuição, então, do empírico. Você experimenta, vê, se
der certo você continua, se não deu certo, já não faz mais. Mais isso. Mas essa foi uma
trajetória da, foi com 2, 3 anos de aula par encarar essa coisa de ser professor. " (Prof.
Judson de Castro). Como pôde ser observado, todos os entrevistados (com exceção do Prof.
Rogério Bicalho que não relatou especificamente como foi o início da sua atuação como
sem alguma preparação anterior, sendo que muitas vezes o (melhor) professor, o modelo.
Com isso, o quê se pode notar é que adjetivos como "espinhoso", "difícil" foram usados para
O seu professor.
69
descrever o sentimento de como foi o início destes profissionais, que destacaram a feita de
estrutura de ensino, que lhes trouxe insegurança e até medo de atuar como profissional.
Outro ponto a ser destacado é em relação à feka etária trabalhada por esses
de 05 anos. Somente o Prof. Rogério Bicalho, que dekou de lecionar para crianças menores
de 12 anos. Em seu depoimento, relata, com muita honestidade, que dispensa crianças de
feixa etária menor encaminhando para outras escolas, por não ter conhecimento pra tal
atividade : "(...) eu tenho medo de dar aula prá criança, eu conheço poucas crianças".
foram verificados durante as entrevistas. Os métodos mais citados para a iniciação foram:
"Ciranda das 6 cordas", "Iniciação ao violão" vols. 1 e 2, todos de Henrique Pinto. Ainda
foram citados os seguintes autores : Isaías Sávio, São Marcos, Thomas Camacho, Reginaldo
Smith-Brindler, Abel Calevaro, Violeta Gainza, Othon Gomes da Rocha Filho. A grande
maioria acredita que os métodos são apenas um referencial para o trabalho, não sendo
portanto, seguidos do começo ao fim. O quê a maioria destacou é que se fez é uma espécie de
coletânea dos principais aspectos de cada método. Ainda, todos acreditam que é necessário
um trabalho direcionado à realidade de sala de aula, sendo que a grande maioria utiliza-se de
entrevistas. A grande maioria expôs que os instrumentos existentes no mercado são escassos,
apesar de alguns modelos adequados. Ressaltou-se que o ideal seria trabalhar com
Tanto o estado de Goiás quanto a região Centro-Oeste possui lutheria de reconhecido valor,
artesanais têm um valor comercial bem mais elevado. Alguns professores sugeriram que deve
acarretaria em maiores gastos, ocorrendo o mesmo na hora da troca por um outro maior
(muitos pais compram um pequeno e não querem trocar na hora que a troca é solicitada ou
ainda o quê é mais comum, compram um instrumento de tamanho grande que servirá para um
período maior). Outros entendem que os violões mais baratos, geralmente trazendo problemas
entre outros, fazem parte da iniciação do aluno, pois quando o mesmo iniciaseus estudos, não
tem certeza se levará os estudos a diante, não sendo portanto, válido que o professor exija um
professora Maria das Graças Almeida é importante que a qualidade do violão deve ser a
melhor possível, sendo indicado o violão artesanal, porém o contato inicial que a criança tem
esquecendo que a criança, ouqualquer iniciante tem que ter um primeiro tempo de liberdade
sabe, ela precisa de uma certa, é como se fosse ainda um brinquedo ainda, e não um
instrumento como a gente olha, sabe? Sempre me preocupei muito assim, porque de repente
você põe um instrumento na mão de uma criança, e quer que ela trate aquele instrumento
como um músico. E ela não é um músico, ela é uma criança, né? Então, tem umafase que ela
tem que ter liberdade pra deixar cair, prapegar com a mãozinha suja depipoca, tem que ter
uma fase lúdica com ele, e essa fase lúdica a gente não pode ter muitas exigências com a
71
Furtado, que expõe que o mercado é fraco, sendo grande a carência de bons instrumentos,
sua vivência musical, sendo o seu referencial mais apurado e exigente : "Mas acontece o
seguinte também... que você como professor, como instrumentista, você já tem uma outra
observação da sonoridade, você tem uma outra realidade, coisa que criança não entende... ".
Para finalizar, dois professores entendem que a questão é polêmica e ainda deve mais
discutida.
Outro ponto discutido foi o número de aulas que os alunos possuem durante a
semana e o quê seria o ideal para um melhor rendimento. 6 (seis) professores entrevistados
discorreram sobre o assunto e todos entendem que o ideal para uma criança iniciante é no
mínimo duas aulas por semana : "É. Mais, menor tempo e mais dias. Meia hora, duas vezes
por semana ou até mais(...) Mais contato, né. Isso é o idear (Prof. Clévio José Vieira). "'Meia
e meia hora ou quarenta e quarenta minutos, a mais do que isso nessa faixa etária ou ás
vezes até menos. Por exemplo, eu já tive experiências interessantíssimas, feitas com vinte
minutos cada dia, quinze minutos cada dia, só pra a criança ter o contato comigo o tempo
inteiro. E os resultados são bem diferentes de crianças de meia e meia, ou crianças de uma
hora, sabe, o resultado é bem diferente. Então, se, pela minha experiência, se a gente tivesse
apossibilidade, eu digo a gente no sentido assim, escola efamília, né? Se a gente conseguisse
adequar que a criança fosse à escola, quinze minutos, todos os dias, fazer aula de violão,
seria assim, fantástico porque ela aprenderia sem nenhum, sem nenhum, sem nenhuma
necessidade de colocar um tempo pra ela estudar violão, sabe? E este estudo vinha muito
pelo interesse epela convivência" (Prof. Maria das Graças Almeida). "Aqui em casa, quando
eu dou aula particular, eu trabalho com uma aula seguida, uma vez por semana, quando, isso
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pra adulto. Quando é a criança eu divido 45 a 45 minutos, duas vezes na semana" (Maria
Aparecida Souza). "(...) nafase de alfabetização de uma pessoa, ela tem aulas todos os dias
né. Quando você começa a estudar, você tem aulas todos os dias de Matemática, de
instrumento frente à criança, que ele responda com uma aula semanal por exemplo, uma
hora de aula semanal, é querer demais que ele aprenda sozinho na casa dele, que ele tenha
responsabilidade para aquilo, não é não?" (Prof. Fernanda V. Furtado). "Lembro, eu dividia,
porque era duas vezespor semana, duas horas de aula por semana. Então, eu dava no mesmo
horário, no mesmo dia da semana, eram aulas, era a metade teórica, né, mas com
pra criança não ficar cansada. Essa faixa etária, tem que saber trabalhar e inventar coisas
Ainda foi perguntado sobre a estrutura das aulas, ou seja, como que o conteúdo é
divido em cada a aula : "Bom, eu normalmente venho para uma sala de aula, procuro fazer
uma atividade de aquecimento, uma atividade técnica plausível, aquele exercício, uma
ele possa executar com mais facilidade. Dentro da música, marcar toda fraseologia, toda
morfologia da obra né?, apresentar para o aluno a parte harmônica, aonde estão as
curiosidades harmônicas sempre, porque ele sempre vai buscar. Desenvolver uma atividade
comum a ele, desenvolver atividades de acompanhamento, extras às atividades que ele está
desenvolvendo. Uma linha melódica passa a ser um duo, uma linha melódica passa a ser um
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trio, e aí por diante, para que ele possa discorrer melhor, as curiosidades musicais dele e um
mecanismo dela. Tem um outro tempo com a criança, muito de improvisação, muito dela
brincar com o instrumento, dentro de elementos que eu possa dar a ela, ou de elementos que
ela possa trazer pra mim. E tem também um tempo de repertório específico e um momento de
técnica pra que eu consiga determinados, por exemplo, determinada colocação na mãozinha
nunca como um fator técnico isolado". (Prof Maria das Graças de Almeida). "(...) a minha
aula, a minha aula, ela é sempre dividida em : revisão, né e informação. Primeira coisa,
quando o aluno chega a gente faz o que eu chamo de parte técnica, eu vou revisar aqueles,
aqueles exercícios né, sempre anotado, com metrônomo, sempre progressivo, né" 3 (Prof
Rogério Bicalho). "Então eu divido, ele trabalha duas peças pra mim, faz uma leitura a
primeira vista, toda aula eu acho que é necessário uma leitura a primeira vista. Você pensar
numa improvisação, nem que seje curta, né. E também uma escala e um arpejo. Então, a aula
dividida, mesmo pra uma criança de sete anos, desde os sete anos, deste forma. Agora, cada
idade, né, de uma forma diferente. Mas, usando todos esses, essa seqüência" (Prof Maria
Aparecida de Souza).
contatos que o aluno tem com o violão em seu(s) primeiro(s) ano(s) de estudo(s) foi também
O Prof Rogério Bicalho não trabalha com alunos da feixa etária inicial.
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partir daí, ele tendo uma boa postura, sabendo sentar... Porque o dilema de todo o início é :
você senta o aluno aí ele vai tocar uma nota, aí elejá não estápensando na nota porque o
violão começou a escorregar, aí ele já não está pensando na nota porque ele não acertou
com a banqueta, já não está pensando na nota porque o banquinho para ele sentar está alto.
Então estas inconveniências todas, tira a atenção e a concentração dele né? Então, a partir
do momento que ele se adapta com o instrumento, ele tem que iniciar a leitura e a leitura vai
ser gradativa conforme a disponibilidade dele "(Prof Fernanda Vasconcelos Furtado). "Bom,
trabalhamos a postura, ela em várias formas até chegar na postura correta, pra ele sentir a
instrumento, o quê quem tem, quais são os nomes, a nomenclatura do instrumento" (Prof
Maria Aparecida Souza). "É, eu acho importante partir da questão de como sentar, e aonde
sentar" (Prof Danilo Verano). Ainda foi detectada a importância do trabalhado ser lúdico,
improvisação com o aluno : "Ai, nesse caso aí, por exemplo, igual a Canção da Baleia, a
Canção da Baleia, As formigas, você cria (...) É, eu acho que você tem que usar a sua
criatividade, total, e inventar músicas com eles, assim, sabe? Inventar mesmo e colocar uma
letra, eu acho, dentro da realidade do quê ele ta no momento" (Prof João Luis Batista Neto).
"A improvisação está presente todo o momento, elefica livre pra criar, em todo o momento,
ele não vaificar, assim, fazendo aquele trabalho que só técnico, né? Porque inclusive, este
trabalho é muito condenado, de você não despertar a musicalidade da criança, de você não
dar, assim, subsídios pra criança pra que ela possa fazer música, não fazer uma coisa
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mecânica, né?" (Prof Maria Aparecida Souza). "(...) tudo geralmente eu criava no momento
ali, qualquer brincadeira assim e ia trazendo" (Prof Clévio José Vieira). O Trabalho de
trabalho muito com o ouvido, né, não só com a leitura, mas trabalho muito com, o ouvido e
então, fica fácil pra mimfazer uma avaliação do aluno, nessa parte de percepção musicai
(Prof Rogério Bicalho). "Eu lido muito com, numa primeirafase, eu trabalho com, muito de
ouvido. Então, por exemplo, eu gravo, eu tenho uma fita só com melodias de violão, em que
eu tô trabalhando esse aluno de ouvido. Então, todo aluno me traz umafita e eu gravo essas,
essas musiquinhas que são simples, que são curtas, pra esse aluno ouvir e aprender, né"
(Prof Judson D'Castro). A questão do relaxamento foi destacada pela Prof Maria das Graças
respiração, porque sem que ela tenha uma respiração equilibrada e um relaxamento (...) ".
Outro tema que foi levantado nas entrevistas, está relacionado com as estratégias
para um melhor rendimento da aula, proporcionando que o aluno assimile o maior número de
sedimentando o conteúdo dado, foi destacada pela Prof Fernanda Vasconcelos Furtado : "Eu
gosto muito de dar aulas, escrevendo, fazendo montagem, trabalho de recorte, trabalho de
colagem, sabe? Eu faço tudo dentro da aula de violão. Gosto de folhas brancas, para ele
poder ter oportunidade vivenciar a atividades dele. Depois eles utilizam pautas, cadernos
pautados". Um outro aspecto relevante está relacionado à escolha do repertório que o aluno
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se identifique mais : "(...) eu trabalho muito com música folclórica, trabalho muito com
música popular, então aí, ele vai despertar o prazer, o gosto pela música, não fazer coisa
séria demais" (Prof Maria Aparecida Souza). "Eu acho que o melhor é não enrolar. É dois
anos só no Ciranda, é Ciranda, Cirandinha, é Parabéns pra você, e ta tudo bem, certo?
Então, tem que deixar ele à vontade, né? Porque não pode exigir demais. Mas sempre
arrumando alguma coisa, inventando uma musiquinha, que dá, que incentiva ele" (Prof José
Eurípedes Roberto). "Com o repertório que ele goste, que o aluno tem interesse. Por
exemplo, uma música popular, eu pego a linha melódica simples (...)Tem que manter o
entusiasmo, como eufalei que o entusiasmo é importante. Eu, pelo ao menos, quando eufico
entusiasmado com alguma coisa, eu fico horas e horas". (Prof Rogério Bicalho). "(...)
muitas coisas que eu faço, muitos arranjos de músicafolclórica, coisas assim, bem simples
pra eles tocarem, assim, mais pra iniciante mesmo. Pra tocar sozinho, pra tocar em grupo,
vai variando muito né. Mas, eu sempre parto daí,mesmo" (Prof Danilo Verano). Atividades
em grupo, premiações, tocar para os alunos, ouvir gravações de músicos profissionais entre
outros foram também comentados : "incentivo até prêmios, com bandas, formando bandas
pras crianças estudarem e exercícios em casa e fitas gravadas, era um método que eu usava
muito" (Prof Rosi-Meire Fátima da Silva Borges). "Ô, Flavia, eu gosto muito, mas muito
mesmo de tocarpara os meus alunos. Eu acho que isso é como se diz: "a propaganda é a
alma do negócio". Então é pautando, é mostrando que a pessoa, quem ainda não tem
entusiasmo com certeza ao conhecer, né, ou às vezes eu gravo fitas, né, peço fitas tem uma
coletânea de peças grande até, eu to gravando " (Prof Clévio José Vieira). E ainda a Prof
Rosi-Meire Fátima da Silva Borges ressalta uma interessante estratégia. Para ela e necessária
a mudança de atividades, ou seja, em uma mesma aula a criança deve trabalhar de várias
formas o mesmo conteúdo para que a aula não fique monótona, se necessário saindo inclusive
do instrumento : "'Vamosfazer tal exercício?', 'Que tal aquele exercício de tempo? Vamos
bater as mãozinhas?', 'E os pés, como a gente bate o tempo?', aí a criança ligava no tempo,
aí a gente ia pro violão novamente. Eu, eu sempre, eu nunca deixei a aulaficar monótona".
estudo do filho deve ser entendida, para muitos professores, como um estímulo e não como
uma cobrança que leve ao aluno o sentimento de estar fazendo um sacrifício : "É errado, os
pais perguntarem: 'Vocêjá estudou?'. Ele deve fazer: 'Que lindo! Você tocou ontem. Tava
lindo'. Entendeu, tipo, né, nunca cobrar e sim, incentivar o pouco sem se sentir cobrado (...)
É incentivando ao estudo" ( Prof Clévio José Vieira). "Porque opai, cobra muito, desde que
ele coloca a criança na escola, o filho na escola, principalmente de música, ele quer
resultados imediatos, então, com ele participando sempre com o processo de estudo, ele vai
estar sabendo o quê está acontecendo" (Prof Maria Aparecida Souza). "Então, os pais
precisam compreender a situação, isso é importante, porque se os pais tiverem paciência, né.
Porque a tendência dos pais é essa: eles querem que a criança entre hoje na aula e daí três
meses ela táfazendo recital e daqui seis meses ela tá ganhando dinheiro no Faustão. Então
isso, se você conseguir resolver esse problema inicial, já, já ta com o primeiro passo
garantido" (Prof Judson D'Castro). Analisando estes depoimentos pode-se observar que
muitas vezes os pais se excedem nas cobranças, sendo portanto, um empecilho para o
professor. O quê deve ser feito é um acompanhamento por parte dos pais do trabalho que está
sendo feito com o filho está no sentido de acompanhar todo o processo, não somente de busca
tarefa na minha cabeça, no meu pensamento, é muito mais uma oportunidade pra criança
que uma obrigação a se cumprir, sabe?". (Prof Maria das Graças Almeida). O estudo da
criança é entendido como um reforço do conteúdo dado em aula, porém mesmo em casa deve
ter o caráter lúdico e de espontaneidade em relação ao instrumento, sendo o ideal que este
contato do aluno com o violão deve ser o máximo de vezes possível, com uma duração não
muito longa : "Sabe aquela coisa que o pai deveria deixar o violão dele sem estar trancado
no armário, ali pertinho da caminha dele (...) como um brinquedo dele, que ele pudesse
passar lá e de repente pegar e tocar uma coisinha e pronto, e guardar. Porque não existe
uma criança, e ás vezes tem o equívoco do professor e do pai, não existe pra criança estudos
de uma hora em casa, estudos de meia, quanto muito dez, quinze minutos e assim mesmo se
existisse esses momentos livres, seria muito mais interessante pra relação dela com o
instrumento, né? E não fosse uma relação obrigatoriedade. E eu acho que nesse aspecto a
gente perde,né? Perdendo com isso, porque fica uma coisa muito impositiva" (Prof Maria
das Graças Almeida). "(...) não é que eu vou colocar ele pra estudar uma hora, duas horas,
não, quinze minutospra uma criança de dez anos já é o suficiente, aí, vai aumentando esse
tempo com o passar do tempo, ele vai aumentando esse tempo de estudo" (Prof Maria
entre pais e professores, trazendo benefício ao trabalho que está sendo feito com o aluno, pois
excessiva : "eu semprefaço um a entrevista, com qualquer aluno que eu tenha, seja criança
ou não. Com a criança, a diferença é que nessa entrevista, você tem que botar os pais pra
dentro pra fazer essa entrevista também, pra que ele entendam o processo" (Prof Judson
D'Castro). "Então, o quê eufaço? Eu, quando o aluno não está estudando, eu toda aulafaço
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um trabalho de anotação no caderno, ele tem que mostrar prós pais, quando eu tenho uma,
assim, uma observação mais, assim, necessária, o pai assina, né? Então, com esse
acompanhamento, assim eu, assim, essa conversa no papel, entre eu e o responsável, ela
assim, ela tem me ajudado muito. Porque o aluno, ele não tem a consciência, assim, que ele
tem que chegar, 'eu tenho que estudar'" (Prof Maria Aparecida Souza). E por último foi
destacada a influência dos pais no que se refere ao fornecimento de estruturas necessárias para
despertar o interesse do aluno pela música e conseqüentemente para o estudo : "Eno caso dos
pais, eles têm uma influência muito grande no sentido de fornecer também estruturas. Por
exemplo: eu incentivo a, uma dica que eu douprós pais, observe qual a música que seufilho
gosta, corra na loja e compre o CD. Compre um som para o filho, o som que ele vai ter no
quarto dele, aquele aparelho é dele, ele vai ouvirmúsica na hora que ele quiser. Então, quer
dizer, você dando estrutura, você incentiva essa criança a ouvir música, ela a criança a um
concerto, esse tipo de coisa vaiformar esse, essa criança muito maispra o meio musical. Isso
As dificuldades para uma boa atuação profissional foi outro tópico levantado
materiais específicos para o violão principalmente no que se refere às crianças : "Oquê eu, o
quê eu encontro é, nesse nível que você está colocando, é muito a situação de material
adequado prá criança. Material tanto pedagógico a nível musical ligado diretamente ao
instrumento sabe?" (Prof Maria das Graças Almeida). "A gente por não ter muito material,
até que vocêfalou, dificuldade variada, assim, eu acho que é um problema né, que a gente
sempre tem, faz a coisa de umaforma muito empírica assim, né. Então, acho que a gente, a
gente ainda ta tateando nessa área (...)" (Prof Danilo Verano). "O que é mais dificuldade,
você sabe o quê eu achava? Era encontrar material para passar para as pessoas. Porque até
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hoje eu encontro essa dificuldade " (Prof Fernanda Vasconcelos Furtado). "Primeiro porque
a falta de experiência, a falta de material também e na época, por exemplo, você escreve
alguma coisa. Então, na época que eu comecei mesmo, eu só tinha, o quê eupassava era o
quê tinha já... Que eu pesquisava, pegava, tirava uma cópia (...)" (Prof João Luís Batista
é sem dúvida, uma dificuldade que atrapalha o trabalho do professor, levando-o a aprender
preparo para atuar no mercado de trabalho é um outro problema levantado : "(...) e eu tive
dificuldades porque eu não tinha aonde me orientar, né , assim com quem me orientar, é,
onde eu até tinha livros e tudo" (Prof Rosi-Meire Fátima da Silva Borges).
controvérsias. Para alguns, para a iniciação instrumental de uma criança, o ensino coletivo só
vem acrescentar ao aluno, sendo uma metodologia de ensino bastante rica : "Eu sou muito
partidária ao ensino coletivo, em qualquer faixa etária ta? Agora, principalmente, com a
criança. Épreciso que não se perca com a criança o lúdico, sabe? "(Prof Maria das Graças
Almeida). "Eu trabalho tem 14 anos de experiência contínua, fora outras experiências nestas
apesar de todo o ambiente estar voltado para o coletivo, cada indivíduo é elemento
importantíssimo dentro do grupo. Em seu depoimento a Prof Maria Aparecida Souza destaca
essa característica do ensino coletivo : "Muito válido eu acho principalmente pra criança
né? Ela precisa sociabilizar mais, dividir mais, porque a criança quando ela tá em sala de
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aula, ela acha que o professor é dela. Então, ela tem uma individualidade muito grande, ela
cria um vínculo muito grande com o professor (...) Então, esse trabalho ele é muito, assim,
importante na vida do indivíduo porque né, porque ele aprende a se sociabilizar". Foi
conjunto, porém, não só uma linha melódica deve ser trabalhada (a não ser que o objetivo
naquele momento seja trabalhar outros aspectos como técnica, leitura entre outros). O
trabalho com várias vozes desenvolve o ouvido harmônico da criança, sendo mais criativo e
musicalmente mais rico, despertando um maior interesse na criança: "E eu penso que deva
ter uma preocupação muito grande da parte musical em atendimento, a nunca se tocar uma
voz só, o tempo inteiro, que se faça uma peça, ótimo, de se ter objetivos lá, de, ás vezes você
quer cumprir um objetivo de ter um som mais isso ou mais aquilo, aí você usa o recurso de
uma melodia única, ótimo, né? Mas sempre, eu acho, que tem que ser um trabalho é, com
muito critério musical, para que desenvolva nestas crianças, o aspecto melódico e o aspecto
harmônico sabe? E o interesse de tocar junto. Porque ela não tem, não traz interesse nenhum
tocar igual pra ela, mas traz interesse muito grande na hora que ela escuta outras vozes,
né?" (Prof Maria das Graças Almeida). Portanto, essa atividade em grupo é bastante
importante para a criança e qualquer aluno iniciante, por tudo o quê já foi exposto, inclusive
não trazendo prejuízos técnicos algum : "(...) ouve em conjunto, mas tem muitas coisas que
são preliminares, você entendeu? Ah, é um cuidado muito importante do primeiro toque que
ele dá! Mas uma aula em conjunto não vai atrapalhar toque de ninguém, não vai atrapalhar
a formação de ninguém. Com uma aula conjunta ou com uma aula individual, ele só
expande, expande, expande o seu crescimento. Então isso não... eu até agora não acho que
isso seja mal" (Prof Fernanda Vasconcelos Furtado). Porém o perfil do professor que
trabalha dentro do ensino coletivo, a sua postura e dinâmica em sala de aula difere bastante do
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perfil do professor de instrumento individual : "O quê que acontece no caso das aulas
coletivas, é que primeiro, você precisa ter uma metodologia muito mais apurada. E eu tenho
visto alguns desastres por aí, algumas, algumas pessoas que vão trabalhar numa aula
coletiva e não tem experiência, não prepara as aulas. E isto é extremamente prejudicial,
porque você não consegue atender o aluno naquilo que seria possível numa aula coletiva,
né" (Prof Judson D'Castro). Outro ponto revelado foi à questão da organização dos grupos
aspectos. A maior flexibilidade das turmas para possíveis remanejamentos durante o ano
letivo foi recomendada, devido ao desenvolvimento desigual de cada aluno visando a melhor
grupos é sempre muito relativa no montante assim : é necessário que esteja sempre adequado
dinâmico, né? Se eu tenho um grupo com cinco crianças, esse grupo, cada criança vai ter um
nível de desenvolvimento. Então eu sempre tenho que estarpronto a dar a mover esse grupo,
deforma que os cinco continuem sempre mais equilibrados em conteúdo e em idade, sabe?"
(Prof Maria das Graças Almeida). "Então, eu procuro, é, fazer uma, selecionar, deixar
aqueles alunos que tem mais ou menos o mesmo ritmo, juntos né, pra um não atrapalhar o
outro, pra gente poder levar".(Prof Rogério Bicalho). Outra situação foi colocada em
seja, turmas de leigos em música são formadas, onde o professor trabalha o instrumento e a
teoria musical aplicada à prática. Ainda foi destacado o fetor da indisciplina por parte dos
alunos, que também é um ponto que dificulta o trabalho: "Mas a indisciplina e a falta de
infra-estrutura do sistema, que muitas vezes eles caem por terra, isso conta muito, isso conta
muito, porque muitas vezes eles trazem aquela quantidade de iniciantes, que não tem
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formação nenhuma, e eles começam estudar, e o quê você tem quefazer? Você tem afazer
uma formação musical aplicada ao instrumento para que ele comece a se aperceber o quê é
que você está falando. Agora se você já vai trabalhar com um aluno que já tem uma
formação musical é fácil porque eles entendem tudo" (Prof Fernada Vasconcelos Furtado).
"Mas eles são muito inquietos, assim, muito impacientes, querem tocar logo, bem como a
gente mesmo, né. E assim, é, é muito interessante porque eles se interessam mesmo, se
envolvem no trabalho né, então, a coisa rende bastante. Mas tem que ter pulso firme né,
porque eles são inquietos, querem sempre bagunçar, querem sempre fazer coisa que não tão
no programa" (Prof Danilo Verano). Porém, outros professores não se adaptaram ao método
de ensino coletivo : ''Não, não é que eu não me adaptei. Eu dei muito tempo de aula assim. Eu
iniciei. A teoria até que você consegue. O quadro negro, o desenho, mas a parte teórica, a
parte prática, se tem, eu gosto muito de dedicar ao aluno. Se você colocar 2, 3 alunos, você já
começa a perder, sabe, se perde, "Tia olha como é quê é?', "Tia não é assim", você fica, você
sente que o aluno não ta tendo aquele, ele não ta ganhando aquele tempo, ele ta perdendo,
entende? Então, eu fiz, na teoria até que eu podia fazer isso, pôr né, mais cadeiras??? mas na
prática nunca"(Prof Rosi-Meire Fátima da Silva Borges). "Não, comigo nãofuncionou. Mas
eu creio que existe a possibilidade, né. Isso foi, a época que não foi, não tava muito
favorável. O ambiente que eu onde estava fazendo essas aulas, por exemplo, era perto de
outros instrumentos, aí já complica demais. Dois violões, três violões, no caso eram três
violões, um instrumento de lado, né. Eu creio que é preciso, não tem muita experiência
própria para amadurecer, né" (Prof Clévio José Vieira). Pode ser observado no relato
acima, que outro fetor importante é o ambiente. O ambiente em sala de aula tem que ser
favorável para que o método obtenha sucesso almejado, não só o ambiente físico, com
condições espaciais e de acústica ideais para tal, como o professor tem que saber conduzir a
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aula, e deixar os alunos o mais confortável possível, inclusive não colaborando com as
disputas e o espírito competitivo dos alunos. O professor deve estar atento e buscar a união e
o fortalecimento do grupo. Outros acreditam que a única vantagem do ensino coletivo seria a
questão financeira : "A aula coletiva, eu acho que a única vantagem é, é exatamente o preço"
Outro ponto que foi perguntado aos professores diz respeito aos trabalhos que são
referências para eles, no tocante ao ensino do violão para crianças. A questão foi motivada
pela intenção de se saber quem está fazendo, ou já fez, trabalhos expressivos nesta área. O quê
foi levantado é que poucos nomes foram citados, sendo sempre os mesmos. Foram citados os
seguintes professores : Prof Maria das Graças Almeida, Prof Maria Aparecida Castro, Prof
Ártemis Camelo, Prof Rosi-Meire Fátima da Silva Borges, Prof Clévio José Vieira, Prof
Judson D'Castro, Prof Willian Arantes (que atualmente é professor da Escola de Música de
Uberlândia) e a autora deste estudo. Como pode ser notado, são poucos os nomescitados para
uma cidade do porte de Goiânia, sendo poucos os profissionais reconhecidos pela comunidade
musical.
A questão da escassez de pesquisas na área foi outro ponto levantado . Não foi
"Mas no meio profissional existem estes relatos como vocêfala, verbais e não escritos, mas
constantes(...)" (Prof Fernanda Vasconcelos Furtado). "Porque não tem nenhum material
como você disse, pelo menos que eu conheça, né, em português, pelo menos eu acho que não
tem nada (...) Como eu te falei, eu não conheço nada, né. E estou até esperando aí, de
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repente, esse, essa pesquisa sua aí,nê, que vai trazer alguma coisa já que você é uma pessoa
séria, não é, e está aí pesquisando com certeza vai ter algumacoisa, e eu vou até ter acesso a
isso, né". (Prof Rogério Bicalho). "Eu sempre, sempre senti essa, realmente essa falta de
contato, né". (Prof Clévio José Vieira), "eu acho que o quê táfaltando, a nível de, a nívelda
instrumento, a uma formação musical adequada, sabe(...) Então, existem ene trabalhos, hoje
já publicados, mas todos com uma preocupação ou performática ou então, histórica, né?
etária, né? Nada relacionado a pedagogia do instrumento, o que eu conheço das pesquisas
construção do instrumento, mas não vejo nada a nível de pedagogia". (Prof Maria das
Graças Almeida). "E o material, ele é muito difícil, muito difícil, você não tem acesso ao
material, então você se sente perdido, muitas vezes você fica desestimulado, porque quando
você sai da faculdade, você está assim com milplanos, né, a maioria dos estudantes formam
com mil planos (...)" (Prof Maria Aparecida Castro). "Eu sinto falta, mas isso tem um
aspecto muito interessante, que é que cada um vai se virar pra exercer essa coisa. Nesse
importantíssimo, por isso né, porque vai economizar um,um , vai assim, tirar uma noção do
que o povo ta fazendo, né. Eu acho muito legal" (Prof Danilo Verano).
significa para si próprio foi questionado. Todos responderam de forma positiva o quê
significa no âmbito pessoal, ser professor de violão : "Eu acho maravilhoso. Eu não sei como
poderia descrever não (...) mas eu acho um trabalho muito compensador, gosto de trabalhar
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com crianças, principalmente crianças que gostam de estudar o instrumento, sabe?" (Prof
Fernanda Vasconcelos Furtado). "Bom, primeira coisa, assim, eu tenho orgulho de ser
professor de violão e tenho sempre interesse de, sempre aprendendo pra, prós meus alunos
terem acesso sempre a informações mais interessantes, né. " (Prof Rogério Bicalho). "Bom,
eu gosto muito do que eufaço" (Prof Clévio José Vieira). "Eu não sei, eu sou meio, eu não
sou muito modesto não, eu tenho uma característica como ser humano, que eu acho muito
importante, que é o acúmulo de experiências. Então, eu tento não cometer os mesmos erros,
né, uma vez cometidos, né. Então, isso é uma coisa muito boa" (Prof Judson D'Castro). "De
muita paixão, sabe. Pelo que eufaço, de muito respeito pelo meu aluno. Nesse aspecto, assim,
nunca me preocupei em ser ou não reconhecido ou ser ou não valorizado. Mas sempre me
preocupei muito que eu gosto e que estoufazendo bem (...) Agora, a descrição que eufaço
desse lado, como você me pergunta, é de muito amor, de muita tranqüilidade pela definição
profissional e muito respeito pelo aluno" (Prof Maria das Graças Almeida). "Bom, eu
descreveria assim : tudo que eufaço, eufaço com muito amor, com muita vontade de estar
sempre acertando, com muita busca nos acertos né? Eu, assim, sinto uma necessidade do
aprendizado sempre (...) Então, eufaço com muito amor, com muito prazer" (Prof Maria
Aparecida Souza). "(...) eu tenho o violão com, é a minha profissão, é o meu ganha pão, é o
trabalho que eu gosto defazer, não é? Então, com o violão, não construíbens materiais não"
(Prof José Eurípedes Roberto). "Significa, significa ter tesão na, na vida mesmo. Tudo que
eufaço é com muito prazer, com muito amor e, eu acho até na luta, a gente tem que fazer
tudo na vida" (Prof Danilo Verano). "O violão pra mim é uma coisa que não tem
próprio movimento violonístico em Goiânia. Parte dos entrevistados acredita que feita um
maior intercâmbio por parte dos violonistas e professores, seminários, encontros, recitais,
cursos de reciclagem foram bastante sugeridos : "(...)mas deveria ter um programapara essa
diversidade. Então, com isso deveria que ser um projeto mensal, projeto ou uma vontade de
apresentar os meus pra você, depois apresentarpara fulano, para beltrano, para ciclano (...)
É realmente uma falta de reciclagem da gente. Se nós tocássemos mais entre nós mesmos
talvez surtisse o interesse de um crescimento comum em relação ao violão. " (Prof Fernanda
Vasconcelos Furtado). "Eu acho que a gente tem quefazer uma troca de experiência mesmo,
assim, aqui dentro, ou pesquisar com outros, igual você ta fazendo esse trabalho né,
pesquisar com outros professores,né, tem inúmeros" (Prof João Luís Batista Neto). "Assim
propostas aonde estes profissionais possam se encontrar pra discutir ou pra mostras de
trabalho ou para troca de idéias comofestivais ou seminários, seja lá o nome que for mais
adequado, né? E principalmente, buscar uma iniciativa aonde pudesse ser editado estes
trabalhos, sabe? Além de se ter uma conversaregular entre estes profissionais pra que exista
uma identificação de problemas, né? Quais são os problemas mais emergentes ou mais, que
estão dando as diretrizes desse caminho, eu acho que é sempre um ponto de diálogo muito, eu
acredito muito nessa situação. E acredito muito em edições, sabe? Deixar registrados esses
profissionais, sabe? Agora, pra mim, o caminho mais adequado, é realmente o diálogo, seja
em seminários, seja em congressos, seja o nome que se der, sabe? Mais a busca é nesse
sentido" (Prof Maria das Graças Almeida). Outras sugestões são referentes à confecção de
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métodos ou coletânea com peças e arranjos mais simples voltados para o iniciante e para a
criança, com músicas mais conhecidas, como por exemplo músicas populares : "eu acho que
devia ter, deveria ser elaborado, sei lá, alguémpoderia pensar num trabalho de, em cima da
música popular, solada até né. Métodos com coisas mais conhecidas, né. sem, com o mesmo,
com o mesmo contexto técnico e nível musical que tem essas músicas do Sor, do Carcassi.
Poxa, o Sor e o Carcassi nessa época, a música deles era o que rolava na época (...)" (Prof
Rogério Bicalho). "Eu gostaria muito que fosse,e aí é uma sugestão, eu não tenho muito
tempo, nem sei se isso vai ser possível realizar, mas a gente não tem um método, eu não digo
nem método, mas a gente não tem assim, repertório de músicas escritas para iniciantes. E o
quê que é isso? È melodia conhecida, somente melodia conhecida né, de músicas conhecidas
né. A gente não tem esse tipo de coisa. Então, eu sintofalta" (Prof Judson D'Castro).
Vasconcelos Furtado e Maria das Graças Almeida deram seus depoimentos. A importância
da vinda do Prof Isaías Sávio para o Brasil, criando a primeira cadeira de violão em ensino
superior em São Paulo foi relatada pelo professor José Eurípedes Roberto, que é um dos
precursores do violão em Goiás : "(...) o violão por música foi trazido para o Brasil através
de Isaías Sávio, então, nós temos ele como referência, como, nessa parte aí (...) Então Isaías
Sávio, foi aquele trouxe violão por música no Brasil e isso a gente ficou sabendo". Ainda o
mesmo professor relatou que quando chegou a Goiânia em 1961, não encontrou nenhuma
escola que ensinasse violão: "Vim pra Goiânia em 61, aqui eu vim pra cursar ou terminar o
ginásio né, e aqui eu procurei uma escola de violão, a qual eu não encontrei. Quem dava
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aula aqui, se não me engano naquela época tinha um tal de Pepe, esse Pepe estudou com
Isaías Sávio, descendente de espanhol. E eu, então, procurei aqui algum professor através da
Casa do Povo, uma casa de instrumentos, hoje é, atualmente é Musical Goiânia né? ". Porém
José Eurípedes Roberto não se adaptou ao professor, por ele citado, levantando um problema
que ainda está presente na atualidade, a feita de didática para o ensino do violão : "A didática
nessa época pra violão era terrível né? Mas como a gente, tem aquele dom, aquela energia
que você já vem com ela, aquela vontade, aquela afeição pelo instrumento, fez com que, com
poucas aulas que eu tive com ele, eu, ajuntado com a teoria que eu já tinha acumulado
mentalmente, aí eu dei um avanço, um avanço muito grande num prazo de um mês, eu tava
tocando até um 'Astúrias' (..)". Ainda o mesmo professor, relatou as referências musicais
relacionadas ao violão naquele tempo : "Como ouvinte, pra ouvir, nós ouvíamos o
Dilermando, certo? E mais tarde, ou melhor, já nesta época aí, eufiquei sabendo, através de
um concurso, o Turíbio Santos, que ele venceu na Europa, e ele foi aluno de um sei que lá
Rabelo (...) Então, o Turíbio foi o primeiro a gravar as peças de Villa-Lobos né? Mas, quanto
a Isaías Sávio, eufiquei sabendo que, como referência pra música mesmo, ele foi o primeiro
que trouxe a Escola de Música, o violão por, vamos dizer, por música". Também nos rela
bailes, nos butecos mesmo, não é? Mas era uma coisa séria, o pessoal que gostava da música
erudita, com as biritas e tudo, né, mas gostava da música erudita. Tanto é que se chegasse
alguém, com cavaquinho oupandeiro, era, saía na hora. Não deixava porque aquela noitada
Uberlândia pra Goiânia né. Como você queria saber um pouquinho da origem da música
aqui. Eu acho que eu me orgulho de ter sido um dos precursor da coisa aqui em Goiânia".
90
No relato acima podemos observar que existiam grupos diferentes, a dos seresteiros que
músicos que possuíam uma vertente mais popular. Outro fator seria a escassez de material
para a leitura, que era trazido, como relata o professor, de outras cidades. O início do
movimento violonístico mais atuante em Goiás é retratado a partir da vinda do Prof Henrique
Pinto : "(...) e depois começou o Henrique Pinto na escola Mvsika - Centro de Estvdos, mais
ou menos na década de 78, final da década de 70. Ele trouxe muitas inovações e vinha uma
vez por mês pelo Mvsika - Centro de Estvdos dar aulapara uma equipe de professores que
também eram alunos de lá. Aí, passamos a desenvolver o violão, não com mais ou menos
seriedade, porque existia seriedade, mas havia uma abertura diferente, ele apresentou, assim,
Mas de nós saímos, que eu ,e lembre, porque eram vários alunos, mas eu por exemplo fui
para Seminários Internacionais de Violão. E aíficou sempre este contato Goiânia-São Paulo,
né. Ficou muito intenso este contato pelo próprio trajeto que elefazia. E São Paulo sempre
foi um paraíso no estudo de música e de violonista lá, é super cheio" (Prof Fernanda
Vasconcelos Furtado). "(...) e quando eujá morava em Goiânia, sempre tive muita vontade
de estudar o instrumento ejá procurando, foi quando eu conheci um rapaz, que eu acho que
você vai entrevista-lo também, o Paulo Sérgio, que aí ele comentou sobre o Henrique em São
Paulo. E nessa época nósfizemos um grupo, e trazíamos esse pessoalparadar aulas aqui e a
gente revezava, trazia e ia parafazer aulas, né? Depois euformei em Música e depois, tive,
mantive o contato com seminários efestivais o tempo inteiro, numa reciclagem constante até
os contatos com concursos, este tipo de situação" (Prof Maria das Graças Almeida). "(...) eu
tive contafo com o Henrique Pinto, algumas aulas com ele, né, que abriu bastante o meu
horizonte e me ensinou também. E também através das leituras, eufui,do Carlevaro, é como
91
lecionar né? Aí, eu vi que a coisa era diferente, bem maisfácil. Então, veio à escola e abriu,
trabalhar com o aluno " (Prof José Eurípedes Roberto). O Período de transição entre a escola
antiga e a escola nova também foi retratado : "Porque na época que eu vim para Goiânia,
quem estava atuando, era o pessoal da família Fontenelle, os irmãos Fontenelle, tinha o
professor José Eurípedes também. Mas era todos de uma escola anterior, né? De uma
primeira escola de violão em Goiás, muito sérios, muito bom, pessoas boníssimas e abertas
pra, mas não eram que eu intimamente procurava, né?" (Prof Maria das Graças Almeida).
"Foi mais nafrente eu comecei a sentir dificuldade devido a essa, que eu num referiu, né, a
Escola de Tárrega, e nós, todos professores, acho que o Henrique Pinto também passou por
isso né, antes da Escola Carlevariana, todos nósprofessores antigos, tivemos uma pulsação
assim, grande, porque a gente estava sempre buscando uma coisa melhor, umaforma melhor
de trabalhar. Então, eu passei uma pulsação muito grande, uma, na década de 70, porque
parece que a coisa para mim paralisou. A gente num, num subia nem descia, tanto pra
lecionar como pra tocar, certo? Então, eu tava encontrando dificuldade em fazer aqueles
alunos desenvolver, certo? Mas é devido à própria escola, dificultava a gente. Uma
complexidade técnica fora do comum, ne , e a gente estudava noite e dia, pra nada, sófazia
cansar" (Prof José Eurípedes Roberto). "E nessa época, eu me lembro demais, que o Prof
José Eurípedes foi um incentivador muito grande. Porque mesmo ele fezendo parte de uma
escola anterior, de uma época anterior, ele foi sempre uma pessoa muito sensível" (Prof
Maria das Graças Almeida).0 desenvolvimento na área também foi relatado : "(...) Essa
constante reciclagem... Professores aqui, entre colegas e então com vários cursos que o
Mvsika dava, na área de formação musical em geral, foi abrindo muito o campo para a
formação musical em geral e a adaptação para o violão. Dessa maneira nova de ver a
92
outro né. Estava sempre renovando as nossas atividades (...) O Henrique Pinto trouxe todos
os, praticamente, os grandes alunos dele vieram pra cá. Aí, veio uma aplicação muito grande
na área do instrumento" (Prof Fernanda Vasconcelos Furtado). Para finalizar, ainda existia o
"boêmio" e até mesmo no que dizia respeito à postura de como sentar-se : "Nós convivemos
com problemas assim : meninas nãopodiam se sentar como meninos, issofoi uma coisa que
nós presenciamos o tempo inteiro, né? E até engraçado ver não é? Então essa era a situação.
Então, ás vezes, tivemos problemas assim, de pais conversarem conosco : Por que a
menininha sentar daquele jeito? Né? Então, até a gente conseguir implantar uma situação
que hoje é totalmente diferente, né?"(Profl Maria das Graças Almeida). "Creio que, eu me
lembro que quando eu estava fazendo aula, menina né, uma amiga da minha mãe falou :
'Poxa, a minhafilha faz piano', a minha mãefalou : 'A minhafaz violão', 'Violão?' Isso me
guardou, ficou com isso na minha cabeça. Eu erapequena, devia ter uns 8 anos. 'Violão?' e
hoje eu fico analisando : 'Violão?'. Violão é lindo! Violão é muito bonito, violão é
maravilhoso. Não é instrumento de botiquim " (Prof. Rosi-Meire Fátima da Silva Borges).
etária inicial (crianças de 5 a 8 anos), tanto em Goiás como no Brasil, ainda tem como base o
5.1. INTRODUÇÃO
exclusivo das classes média e alta. A democratização do ensino no país, constitui-se em uma
difícil tarefa para a sociedade. De um lado estão os interesses de grupos econômicos que
insistem na não formação acadêmica do cidadão, optando pelo uso de mão-de-obra barata,
desqualificada. De outro lado, estão aqueles que entendem que só através da educação é que
não consegue alcançar um maior número de pessoas, por algumas razões que devem ser
discutidas : as escolas particulares que atuam no ensino específico de música são elitistas, por
serem inacessíveis economicamente para grande parte da população brasileira; por outro lado,
a realidade das escolas públicas é a que se segue : os recursos são insuficientes para se ter as
sempre maior do que a oferta, já que o quadro docente, geralmente, não suporta a demanda.
transformação, não só do indivíduo, mas do ser humano social que pertence a um grupo. Com
cidadão comum não só os novos conhecimentos na área musical, mas também, nas áreas
prestigiaria os mesmos, que trariam uma música mais elaborada do que as que estão sendo
veiculadas nos meios de comunicação da atualidade. Como oferecer o ensino musical para um
modificado", entende que o ensino musical na sociedade moderna deve ter um caráter
funcional:
neste processo. Pensa-se que o estudo da música, através do ensino coletivo, veio
democratizar o acesso do cidadão a formação musical. GALINDO (1998), disse que "o
grupo : uma introdução", que há algumas décadas, o ensino instrumental em grupo tem sido
praticado e avaliado em países como a Inglaterra e os Estados Unidos, onde os objetivos dos
professores não são mais a comprovação da eficiência do mesmo, mas a sua sistematização
através de metodologias e materiais didáticos específicos. Para ele, "a motivação e a interação
95
social são elementos como os grandes responsáveis pelo incremento do aprendizado musical".
modelo de aula individual, passa para o papel de consultor, facilitador e líder democrático,
nos moldes da aula coletiva. O aluno passa da postura passiva da aula individual (que poderá
Mvsika - Centro de Estvdos, escola sediada em Goiânia, Estado de Goiás, fundada em 1973.
A escola tem como filosofia integrar as artes, propiciando ao aluno uma vivência mais ampla
no campo artístico, onde o aluno em uma primeira fase, é introduzido às artes plásticas, dança,
teatro/dramatização e música.
musicais antes de decidir qual iria estudar. A partir da escolha pelo instrumento violão,
iniciou a fese de pré-alfabetizaçâo no violão, que é uma fase anterior à introdução da leitura
ilimitado, sendo que a aula teve como objetivo principal que o aluno experimentasse o
instrumento através da exploração da percepção auditiva, táctil e até mesmo visual, onde o
que se buscava era um vínculo afetivo do aluno com o violão através do contato direto. Após
96
a escolha, o número de alunos foi reduzido a 2 (dois) ou 3 (três) alunos, sendo considerado
preferível o trabalho em forma de "dupla", onde comumente dois alunos trabalharam juntos
na mesma aula.
O ensino coletivo, através do trabalho com duplas, foi realizado com crianças que
estavam na mesma feixa etária e que tinham o mesmo nível de conhecimento do instrumento,
tendo este trabalho como objetivo iniciar a criança no estudo do violão. Nesta etapa, os
(três) anos.
improvisar são próprios da criança, e ela o fez, de maneira natural e espontânea5. Quem já
5MAHLE, Maria Aparecida (1969) :"Improvisar épróprio da criança. Inventar brinquedos, estórias, melodias,
faz parte de seu mundo" (Pág.89).
97
não ouviu estórias fantásticas contadas por crianças? Quem já não se deliciou em brincar de
e criativa?
melhor formação musical da criança. Pode-se afirmar que os atos de criação e improvisação
são próprios da criança, onde o lúdico está presente de forma marcante. Acredita-se, portanto,
a criação. Para que esses processos ocorram, é necessário que o ambiente em sala de aula seja
favorável , como se verá no decorrer da presente exposição, bem como, a forma de como
Quando a criança teve o seu primeiro contato com o violão, foi necessário que o
violão fosse apresentado a ela de uma forma interessante e lúdica. O objetivo desta atividade
foi fezer com que os alunos captassem o máximo de conhecimentos possíveis, tendo a
6 ARONOFF (1974), entende que para que a improvisação e a composição sejam trabalhadas de maneira
concentrada, o ambiente pode necessitar de um ordenamento especial: "The environment for the concentrated
work of improvising and composing may requirespecial planning" (Pág.56).
98
oportunidade de saber, com segurança, quais são os nomes das principais partes do
instrumento.
que o número ideal seja o grupo de até 10 alunos. A atividade de apresentação do violão, até
mesmo por uma questão de ordem, foi feita antes que o aluno entre em contato com o
instrumento individualmente, para iniciar o fazer musical. Enquanto o violão foi apresentado
ambiente fevorável para que o objetivo proposto fosse concretizado com sucesso. Para que a
atividade transcorresse de maneira confortável foi proposto que todos se sentassem no chão
perguntou-se : "O violão é um instrumento feito de quê material? Plástico? Vidro? Metal?".
A partir do estímulo causado pela pergunta, todas crianças responderam: "Não, madeira!".
Uma segunda pergunta foi feita : "O violão é um instrumento de sopro? De percussão?"
Baseando-se nas experiências em sala de aula, a resposta para quem já teve contato com a
música e com instrumentos foi : "Não, de cordas" . Algumas vezes, os alunos não tinham
idéia do que estava sendo tratado. Nestes casos, os alunos foram ajudados através de mímica
e/ou gestos. O importante, nesta atividade, foi fezer com que os alunos se envolvessem e
ocorrem quando os mesmos se sentem à vontade para expressar suas idéias e sentimentos, se
seguinte forma: "Com o quê se toca o violão? Com a boca? Com o arco?" . E todos
responderam com segurança : "Não, com os dedos!", sendo que alguns responderam : "Com
as mãos!".
As perguntas foram feitas como recurso didático para que o conteúdo fosse
todos. Esta foi uma boa maneira de despertar o interesse dos alunos, através da interação, do
seu envolvimento, com questões que lhes causassem o interesse de saber a resposta. A
resposta certa para as questões, foi de alguma forma, induzida, onde foram esgotadas todas
opções. Quando se perguntou : "O violão efeito de quê material?", se não fosse dada à elas,
opções erradas e às vezes, absurdas, talvez não tivessem acertado tão fecilmente, perdendo a
chance de ver despertado, o seu interesse e a sua curiosidade. Se a estratégia fosse apenas
expositiva e/ou teórica, o aluno desta feixa etária, não captaria com tanto sucesso o conteúdo
proposto, com base no que já fora observado. Além disso, utilizando esta estratégia, pensa-se
que o professor poderia iniciar uma relação de maior proximidade com o aluno. Através das
aluno novos conhecimentos, despertando nele o interesse em saber mais sobre o instrumento.
A estratégia foi adaptada de acordo com a feka etária, onde, dependendo do clima,
dos gestos e da voz, levam à imaginação de personagens infantis, ou algo que é familiar ao
universo infantil, trazendo-as para mais próximo do professor, criando um ambiente fevorável
Após esta atividade, foram dadas aos alunos, folhas contendo o desenho do violão,
com os nomes de suas partes escritas. Quando a turma já é alfabetizada, a própria criança
escreve os nomes.
Outra atividade proposta aos alunos, foi fazer um violão, de material isopor (pode-
se fezer o mesmo com cartolina ou de um outro material), de tamanho grande, onde os alunos
puderam visualizar, sem dificuldades, as partes do violão, onde todos se ajudaram colando
seguinte forma : o violão possui três partes principais, o corpo (caixa de ressonância), o
Corpo
7Essa parte do violão étambém chamada de cabeça. Oprofessor deverá optar sobre a nomenclatura deverá que
ser utilizadapara a parte superior do instrumento. Seoptar por cabeça, o professor poderádizerque as tarraxas
são as "orelhinhas" do violão e que servem para afinar o instrumento.
101
Antes de se ter felado sobre a boca, uma estratégia interessante usada foi fazer
com que os alunos sentissem a vibração dos sons, colocando as mãozinhas abertas sobre o
tampo. Com isso, o interesse e a curiosidade dos mesmos foram despertados acerca do por
onde sai o som do violão?", todos responderam : "Por esse buraco!" . O professor
prosseguiu : "Adivinha como é que chama esse buraco? ". Algumas vezes, ocorreu a situação
de todos os alunos ficarem mudos ou parados com olhar estupefato, sem reação. Quando isso
ocorreu, perguntou-se: "Por onde sai o som de suas vozes? " . E todos responderam : "Pela
boca!" . Portanto, a partir do pensamento lógico, induzido para que se chegasse a este
resultado, a maioria, para não dizer todos os alunos, respondeu que o nome daquele buraco
era boca. E se em um segundo momento, insistiu-se em saber o por quê de existir aquele
buraco no meio do corpo do violão, e a maioria, da mesma forma, respondeu : "Porque com a
boca fechada não tem jeito de sair o som!!". Notou-se que, a partir desta prática, os alunos
conteúdo proposto : se o violão não tivesse a boca (um buraco aberto em sua caixa de
Além da boca, outras partes foram expostas. As tarraxas foram apresentadas como
os "dedinhos" do instrumento, por onde o mesmo é afinado. Ainda, deverão constar nesta
relação : o cavalete, as casas, os trastes e a boca do violão. A partir daí, o violão foi
Tarraxas
Pestana
Traste
Corpo
Figura.3 - O Violão como corpo(caixade ressonância, boca, cavalete), braço(escala, trastes, pestanae casas) e
mão (tarraxas). Pode-se colocar o mosaico ou roseta nesta lista.
Como se vê, o professor em uma simples atividade como esta, estará criando um
lógico. Assim, o professor não transmitirá apenas o conhecimento, mas levará o aluno, a
Não se pode esquecer que em todas as aulas o aluno deve ter o contato físico com
o instrumento : tocá-lo, manuseá-lo, explorar seus múltiplos sons de maneira lúdica, criativa e
inventiva.
103
Outra atividade bastante interessante, que pode ser feita na mesma aula ou em uma
nomenclatura das mãos e seus respectivos dedos. Primeiramente, trabalhou-se sobre a noção
de direito e esquerdo. Perguntou-se, por exemplo, quem escrevia com a mão direita, e quem
escrevia com a esquerda. Outras atividades que resgataram, de maneira instantânea, a noção
de direito/esquerdo foram feitas. Após esta atividade, distribuiu-se folhas em branco, onde foi
pedido para que cada aluno colocasse as duas mãos sobre a folha (os alunos estavam sentados
no chão, neste momento, de maneira bem livre e à vontade). Com a utilização de lápis
coloridos (pode-se ser usado giz de cera ou canetas, da mesma forma), riscaram em volta de
suas mãos, fazendo os contornos. Terminada esta etapa, foi pedido a eles que escrevessem os
nomes dos dedos de cada mão. Há casos em que alguns alunos não sendo alfabetizados,
nomenclatura : Mão Direita e Mão Esquerda. Pode-se já passar para os alunos a abreviação
referente a cada mão, para que ele já se femiliarize com a linguagem que é mais comumente
usada, colocando entre parênteses M.D e M.E (Mão Direita e Mão Esquerda). Depois de
respectivas abreviaturas : o polegar direito é representado pela letra "p" ; o dedo indicador é
representado pela letra "i"; o dedo médio é representado pela letra "m" e finalmente o anular,
que é representado pela letra "a". "£ o mindinho? " Quando se perguntou pelo dedo mínimo,
104
a explicação dada foi a de que o mesmo naquela aula não iria trabalhar, pois "ele" estaria
Para esta feixa etária, visando obter-se melhores resultados, é importante dar
informações corretas de maneira objetiva e direta, sem espaço para os detalhes e divagações.
apresentar o dedo indicador, pôde-se reforçar que o referido dedo possuía esse nome por ser
Uma boa estratégia utilizada, antes de se ter dito o nome do dedo, foi perguntar
para os alunos onde estava algum objeto em sala de aula, de preferência um bem visível,
como por exemplo : "Onde está o quadro negro?" . E os alunos de maneira automática
responderam: "Ali!" , indicando o quadro negro com o dedo indicador. Este foi um
momento oportuno para iniciar a atividade, onde foi dito : "Como é que se chama esse dedo
que vocês apontaram para o quadro negro?" . Quando os alunos não sabiam a resposta
correta, o silêncio imperava. Crianças muito novas não conheciam a nomenclatura correta dos
dedos, nem mesmo alguns adultos o fazem (SIC!). Então, em momentos como este, pôde-se
responder : "O nome deste dedo é indicador, porque as pessoas sempre 'indicam' ou
Depois, a estratégia foi repetida com os outros dedos. Foi dito que o dedo médio é
o maior e está no meio de todos; e ainda, que o anular é aquele do "anel de noiva". Com essa
atividade, foi pretendido que o aluno memorizasse o conteúdo, sem maiores dificuldades, de
8Não éaconselhável que oprofessor utilize nomenclatura leiga, tais como: dedos fura-bolo (indicador), maior de
todos (médio), mindinho (mínimo) e mata piolho (polegar). Este critério é adotado para que a criança desde a
105
Após o trabalho com a mão direita, foi iniciado o trabalho com a mão esquerda. A
chamado de dedo 1; o dedo médio esquerdo, de dedo 2; o dedo anular esquerdo, de dedo 3 e o
dedo mínimo esquerdo, de dedo 4. E o polegar? Não foi preciso que se fizesse referência
sobre o polegar, naquele momento. Se algum aluno perguntasse sobre o polegar, poder-se-ia
dizer que ele estava descansando atrás do braço do violão. Foi preferível demonstrar à posição
da mão esquerda no instrumento, explicando que o polegar esquerdo ficava atrás do braço,
escondido, e por isso, não teria nomenclatura especifica, por não haver necessidade. Portanto,
o desenho das mãose seusrespectivos dedos, deveria ficar como está ilustrado na Figura 4 :
mais tenra idade aprenda a nomenclatura correta 0á que a leiga ela aprenderáem outros ambientes). Ainda,
devido à observação de que alguns alunos considerados de nível avançado e alguns profissionais que atuam na
área não utilizam a nomenclatura científica, por motivos como: desconhecimento de tal nomenclatura ou ainda a
falta rigor de professores em transmitir conhecimentos corretos para o aluno iniciante, por considerar que os
mesmosaprenderãoem um outro momento. Mas pergunta-se: Por que não aprender o corretodesdeo início dos
estudos violonísticos? Esta é uma preocupaçãoque todos professores devem ter : transmitir conhecimentos de
maneira correta e eficaz.
106
A postura dos alunos, desde o início do estudo do violão, foi bastante observada. A
colocação e o posicionamento do violão, junto ao corpo, teve como base ser o mais natural
possívelpara que, a partir desse posicionamento, o aluno se sentisse a vontade para o imcio da
preferência, no lado direito. Os assentos possuíam forma plana e uma consistência mais
dura , sendo que sua altura estava de acordo com a estatura da criança. O que se buscou, foi,
uma maior estabilidade ao se sentar11. O professor deve estar muito atento a esta questão. O
violão deve ser bem acomodado junto ao corpo da criança desde o imcio dos seus estudos,
buscando esta estabilidade. O mau posicionamento do violão pode causar danos para o melhor
desenvolvimento do aluno, dificultando a ação dos braços e dedos, podendo causar as mais
criança, de forma livre e natural, sendo que a estabilidade do corpo não deve ser nunca
9Desde oprimeiro contato dacriança com oviolão, deve ser ressaltado que ela já está fazendo música.
10
O assento ideal não pode ser curvo, nem fofo.
11 Segundo PUJOL (1965), o violonista deve locar sentado em um banco forte, sem mover os braços, sendo a
altura proporcional a sua estatura, sobre o qual o seu corpo possater uma estabilidade perfeita- "El guitarrista
debe tocar sentado emsillafuerte, sin muelles ni brazos, de altura proporcional a su lestaturaysobre Iacual
puedatener eicuerpo, umaestabilidadperfecta"(Pág.77).
12 CARLEVARO (1979) também entende que o problema básico que é apresentado ao violonista que está
iniciando é a estabilidade do instrumento junto ao corpo. Para ele, a acomodação do violão deve manter a
estabilidade sem prejudicar o livre movimento do braço esquerdo e do corpodeve ser o ponto de partida para a
ordenação posterior de uma escola violonística e adverte que a má posição do violão junto ao corpopode trazer
como conseqüência imediata, a dificuldade de ação dos dedos e conseqüentemente, dificultarátoda a evolução
livree soltada mecânica, trazendoao mesmo tempo, sensação de dor de diversas formas (Pág.9).
107
posição estável13.
opção, para que uma criança de menor faixa etária (até mesmo para um iniciante) inicie seus
Constatou-se que as crianças muito novas ainda não têm uma boa noção de como
fixar o apoio sobre a perna e de qual é a altura correta do mesmo em relação à sua altura. Na
atualidade, alguns professores utilizam o apoio por acharem que é mais adequado para o
estudo do violão, por permitir que o violonista coloque os dois pés apoiados no chão, evitando
forçar em demasia a coluna vertebral. Porém, a partir da experiência descrita, o uso do apoio
não foi aconselhável para crianças menores pelos motivos mencionados. Portanto,
base nesse dado, é recomendável que uma criança utilize um banquinho no pé esquerdo, que
já foi descrito, e outro no pé direito, mais baixo, seguindo os mesmos princípios14. Cabe ao
13 CARLEVARO (1979) \"La Guitarra debe almodarse ai cuerpo y no ei cuerpo a Ia guitarra Esta debe
permanecer quieta yjirme, peropermitiendo ai cuerpo moverse cuando asi Io requiera cualquier acción dei
brazo Ia mano. Los movimientospodrán entonces realizarse sin qfectar nunca Ia estabilidaddeiinstrumento"
(Pág.9)
14 Segundo PINTO (1978), "A altura do banquinho évariável, conforme acompleiçãofísica do executante, para
que hajaum equilíbrio exato entre tronco, membros e instrumento" (Pág.9).
108
professor, ter bom senso em adaptar cada aluno a uma posição personalizada, de acordo com
as regras descritas para obter-se uma postura adequada, como é demonstrada pela figura 5 :
Desde o princípio das atividades, aos alunos foram passados os princípios básicos
sentindo uma sensação de "naturalidade" ao tocar o violão, sem forçar a coluna vertebral. A
postura anti-natural poderá trazer dores e uma sensação de incômodo. Uma boa e confortável
aluno no violão, sendo um ponto fundamental para sua carreira de instrumentista : como
15 QUINE (1990): "A Comfortably balanced sittingposture isoffundamental importance to the development of
a sound technique; arms, hands, andfingers canonlywork efficientlyfrom a stablebase, which a sittingposition
freefrom unnecessary tensionprovides" (Pág.6).
109
desde o início dos estudos. Para atingir este grau de naturalidade e relaxamento, vários
pontos de apoio do instrumento junto ao corpo: perna esquerda, perna direita, braço direito e
posicionamento do violão. Para que o aluno possa enxergar melhor a escala do instrumento, o
Segundo CALERVARO (1979), existem cinco pontos de contato entre o violão e o corpo: "Por orden de
importância son: 1) Pierna izquerda, 2) Pierna direita, 3) Brazoderecho, 4) Mano izquierda, 5) Lado derecho
dei cuerpo (Nunca ei izquierdo) (Pág.13)". Ainda, segundo o mesmo autor, os 4 (quatro) primeiros são
considerados pontos de apoio ativos, por onde o violão é fixado. O quinto é um ponto de contato passivo,
neutro, não podendo ser considerado, por isso, ponto de apoio.
110
violão deve estar ligeiramente virado, no sentido oposto ao corpo (violão virado para fora).
violonista), que deve estar ligeiramente inclinado para cima, para que o violão fique mais
Para que os alunos fixassem melhor estes princípios, foi preciso chamar-lhes a
fómentou-se que os alunos produzissem sons variados no violão, de forma livre e espontânea.
A esse primeiro processo, denominou-se de exploração sonora do violão, que será tratado a
seguir.
sonora do violão, o aluno iniciar os seus primeiros contatos com o instrumento, buscando de
forma aleatória e espontânea, produzir sons diversos ao violão, esgotando toda a sua
dos sons e timbres descobertos, com o intuito de despertar no aluno, a noção de forma
musical, onde cada processo teria começo, meio e fim, mantendo a prática do imaginário. O
objetivo desta atividade era despertar, desde o primeiro contato do aluno com o violão, o fazer
relação de afetividade da criança com o instrumento e com a música, entre outros. Portanto, o
fazer musical esteve presente nas atividades dos alunos, desde o seu primeiro dia de aula.
anos, buscou-se desde o início das atividades, o fezer musical constante, a experimentação17.
Essa atividade foi bem coordenada, no sentido de ser dinâmica e criativa, para que alcançasse
Sempre no início de cada atividade, fazia-se feita uma breve exposição sobre como
sentar-se (vide pág.106-10), em forma de lembrete, para que ele pudesse iniciar esta atividade
de maneira correta. Como já foi dito, a princípio, deixou-se os alunos livres para a exploração
sonora do instrumento. Porém, a atividade foi sempre orientada no sentido de esclarecer aos
alunos que desde o momento que entravam em sala de aula, já estavam fezendo música. A
observação se deveu ao fato de que, apesar do lado criativo/lúdico ter sido trabalhado em
atividades, de maneira constante, trazendo aos alunos prazer e satisfação, não poderíamos
abrir mão da importância de cada atividade. Para que isso ocorresse, os objetivos pretendidos
por aquela atividade sempre eram esclarecidos, logicamente de maneira simples, nunca
científico-pedagógicamente.
perguntava-se para os alunos, com o que se parecia aquele som criado, naquele momento. A
partir dessa situação, foi chamada a atenção dos mesmos, para as semelhanças dos sons
17 Quando a criança inicia seus estudos em algum instrumento, oquê ela quer primeiramente, é fazer "música".
18 Mostrou-se aos alunos que a atividade não era apenas uma brincadeira e que deveria ser alcançados alguns
objetivos através dela.
112
foram usados. Nesta atividade, antes de começarem a contar uma estória, os alunos foram
animais, de alguns personagens. De acordo com o que os alunos percebiam sobre as relações
sonoras, usada à imaginação, determinava-se qual era o tema da estória, naquele dia. Por
geral ou outros aspectos que remetem a vida urbana), a estória era passada em uma cidade.
Após o estabelecimento de quais os elementos que apareceriam nesta estória, a narração era
iniciada. Se o tema escolhido fosse desenvolvido em uma floresta, cada vez que aparecesse
exploração sonora do instrumento, nas primeiras aulas. Nesta fase, os alunos ainda estavam
aleatório. Cada som produzido, ou seja, cada sonoridade descoberta, foi catalogada a partir de
um nome, dado por algum aluno (geralmente o que "descobriu" essa sonoridade) ou mesmo
ajudado pelo pesquisador. As nomenclaturas foram escolhidas a partir dos sons que foram
produzidos. A cada sonoridade nova que surgia, um nome era dado, sendo o mesmo mantido
para os outros alunos. Esta opção ocorreu a partir da necessidade de escrever as sonoridades
com símbolos, no momento em que era introduzida a leitura musical. Ao introduzir a leitura
113
musical, o aluno não só identificava na pauta a escrita do som de uma nota produzida, mas
•Toe (percussão com mão fechada, geralmente na parte superior do tampo, próximo ao
braço);
•Tec (bater nas cordas, próximo ao cavalete, com a mão aberta, abafando);
•Pum (bater nas cordas com a mão aberta, sem abafar, soltando logo depois);
•Prueum (passar o indicador em todas as cordas de babco para cima, ou seja, a partir da Ia
corda);
indicador, friecionando);
fe=t-^É ff
£ =2.
i
Após a criança ter assimilado como se sentar corretamente para tocar o violão e já
ter iniciado a exploração sonora do instrumento, o trabalho com braço direito e com a mão
direita foi enfocado de maneira isolada. Neste momento, a atenção do aluno deveria estar
concentrada somente para a sua parte direita, com isso, a mão esquerda ficava em repouso (de
preferência sob a parte inferior da caixa de ressonância, para que a coluna vertebral, assim
como os ombros, ficassem em estado relaxado), mantendo a postura correta. Esse processo foi
A cada novo conteúdo inserido, a atenção maior foi voltada para o mesmo. Após assimilado o
posicionamento da mão direita. O braço direito, não deveria estar em contato com o corpo,
sendo que o antebraço deveria ter como ponto de contato, a faixa lateral e o tampo, no lado
19 PUJOL (1956): "El brazo derecho seseparará suficientemente deicuerpo para que ei ante-brazo pueda
apoyarse sobre Iacurvamásanchadei arosuperior (...)El apoyodei ante-brazo constituye unode lospuntosde
sujeción dei instrumento"(Pág.77).
115
posicionamento do braço direito, era comum que se elevasse o ombro, com isso, não estaria
havendo o relaxamento desejado. Esta má postura, como foi exposto, poderia trazer sérios
danos, não só musicais, mas físicos para o aluno. Portanto, a postura ideal do braço direito
seria aquela em que o braço está amoldado sobre a superfície descrita, de maneira natural e
relaxada, sendo que em conseqüência deste posicionamento, a mão cairia sobre as cordas de
maneira que o pulso estaria relaxado, tendo um formato encurvado ou arqueado20, como sevê
na Figura 9 :
Uma estratégia sempre eficaz foi relacionar uma palavra ou frase para que a idéia
fosse assimilada. O posicionamento correto do pulso, por exemplo, foi destacado para os
alunos desde o início dos seus estudos, constantemente, de modo que assimilassem a idéia de
uma postura ideal, imediatamente após ter sido mencionada uma palavra ou frase, remeteu-os
desejado do pulso direito, relacionando-o a uma imagem ou alguma palavra/idéia, como uma
"curva" (que é a forma do ângulo do próprio pulso em estado relaxado) ou com uma
onde o topo dessa montanha é exatamente o pulso em estado relaxado). Dessa maneira os
maneira que o mesmo fique "chapado" ou "reto" prejudicando o toque e trazendo cansaço e
dores. Então, quando o aluno saía da posição adotada, era pronunciado um simples: "Olha a
curva!" ou "Olha a montanha!" fezendo com que o mesmo retornasse à postura ideal, sem a
necessidade portanto, de divagações teóricas, que não é próprio nem para adultos iniciantes,
117
muito menos para crianças! Como já foi destacado, é necessário que se passe a informação
correta, sendo que a idéia deve ser assimilada na prática, sem oportunizar, portanto,
aprofundamentos teóricos.
outros, que o violonista produz21. Além disso, outro fetor importante está relacionado com a
maior facilidade e destreza motora que o violonista conseguirá empreender a partir do ângulo
cordas, já assimilados pelos alunos, iniciou-se o trabalho do toque. Este foi um momento
postura e a maneira como o aluno estava se comportando diante dessas informações. Como já
foi feita a partir do uso da Ia felange. Sabe-se que cada dedo possui 3 (três) felanges, e cada
falange possui igualmente, 3 (três) partes, a base, corpo e cabeça. A Ia falange, também
mão; a 2a falange, média ou falangina, começa no meio dos dedos e a 3a falange, distai ou
falangeta, inicia no último nó do dedo e tennina em sua ponta, como demonstra a Figura. 10 :
PUJOL(1956): "De Iacolocación deIamano derecha dependen además deIacalidad, volumeny variedadde
lossonidos, lafacilidad enlos movimientos de los dedos, ydesu acción, ei ritmo, Ia expresión, losmatices, y
toda Iagama de sonoridades queexige una ejecuciôn esmerada" (Pág. 79).
118
1" Falang
2aFalange—
3aFalange—
A tendência da maioria dos alunos foi iniciar com o toque a partir da 2a falange.
Porém, após algumas aulas, preferiu-se trabalhar com o toque a partir da Ia felange, que foi
semapoio (após de ferir a corda, o dedo não encostará ou repousará em nenhuma outra).
trabalhou-se cada dedo isoladamente. Pediu-se para que a criança tocasse com o dedo
indicador a Ia corda, depois a 2a, até que se chegue à 6a. Repetiu-se o mesmo trabalho, com o
dedo médio e o anular. Após essa atividade, delimitou-se o número de toques em cada corda,
onde se buscou que os alunos os executassem, dentro de uma pulsação homogênea. Depois
desse primeiro contato, foi iniciado o trabalho com os dedos indicador e médio, sendo que a
Uma estratégia excelente, que deu bons resultados, foi levar a criança a imaginar
que existia um "homenzinho" ou uma "personagem" , em sua mão direita. Os dedos eram as
22 Nomenclatura criada em sala de aula para que os alunos compreendessem melhor oque estava sendo pedido.
119
cada aluno. A cada um era perguntado, qual a personagem, ou melhor, qual "amiguinho (a)"
que gostaria de ter, ali, naquele momento. Geralmente, na primeira aula, os alunos ainda não
sabiam o que seria a "brincadeira". A reação mais comum, é a surpresa ou a não compreensão
universo. Personagens futuristas, Ets (os de um olho só fezem muito sucesso!), Super-Heróis
entre outros, eram sempre bem aceitos, por se tratar da realidade que era passada para eles
120
através de desenhos, jogos eletrônicos da atualidade. Para as meninas, geralmente mais doces
e meigas, as personagens de conto de fedas como as princesas, as fedas, as bruxas são bem
aceitas, bem como, para os meninos de personalidade mais "romântica" os príncipes, ainda
são bem-vindos.
o trabalho com os dedos indicador e médio. O que se buscou com esta atividade, foi que o
aluno, desde o imcio do seu estudo, desenvolvesse o toque a partir da Ia falange (toque de
maneira : "Vamos ver se essa 'fada' consegue dar 4passos na Iacorda?" . E a maioria das
menininhas respondia entusiasmada : "Claro que dá!!". E o "passeio" era iniciado de maneira
correta, assim como, seus estudos, com muito prazer. Depois, era pedido para que se
passassem para a 2a corda e desse mais quatro passos e assim por diante até que se percorresse
todas as cordas. Neste momento a pulsação era livre. Já em um segundo momento, a pulsação
"passeio" ser iniciado. Se fossem pedidos 4 (quatro) passos, contar-se-ia 1 (um) tempo para
cada passo, ou seja, semínimas no compasso quaternário. Depois eram pedidos 3 (três) passos,
dedos, foram trabalhadas questões musicais, tais como : manter a pulsação uniforme, uma
noção de compasso e a distinção entre o som agudo, o som médio e o som grave. Já em um
121
outro momento, pôde-se trabalhar pausas (como por exemplo, entre uma corda e outra,
andamento (rápido/lento).
Uma boa estratégia para que a mão direita mantivesse de forma curva e relaxada
foi felar que a mão devia estar como se segurando um copo23 . Então, quando o aluno
que os alunos já estavam cansados ou com a mão direita cansada, foi dizer : "Vamos beber
água? " , e todos feriam gestos/mímica de como se estivessem bebendo água e segurando o
copo (na posição correta) e depois relaxassem, deixando a mão e braço soltos, para babco.
(geralmente o indicador), podia-se felar: "Não quero saber de saci-pererê!", "Cadê a outra
lembrando aos alunos que as personagens andavam com "duas pernas" e não com uma,
Outra questão interessante foi a referente ao toque de gancho. Como já foi dito,
era comum que as crianças iniciassem o toque a partir da 2a falange do dedo. Com este toque,
23 GALINDO (1998) utiliza a mesma nomenclatura para instrumentos de cordas friccionadas (ovioloncelo e o
contrabaixo), porém, a utiliza para referir-se sobre a mão esquerda : "Arredondar a mão esquerda como se
estivesse segurando um copo. A isso seguiremos chamando de 'Posição de Copo' "(Pág. 16).
24 PUJOL (1956) : "Como principio fundamental, um dedo no debe pulsar nunca dos notas consecutivas. Lo
contrario, seria si ai andar, diéramos dospasos seguidos con unmismo pie "(Pág.84).
122
a criança mantinha os dedos dobrados, não mais fezendo mais o "toque de gancho" a partir da
Ia felange, mas sim, um toque que foi denominado toque de gatinho , a partir da 2a felange,
partir da 2a felange, trazia uma mápostura de mão, fazendo com que o ângulo/curva existente
Para que os alunos compreendessem melhor, o que estava sendo pedido (o toque
de gancho, a partir da Ia felange), fez-se uma analogia à maneira como andam os seres
humanos. Foi pedindo aos alunos que andassem corretamente e observassem a maneira como
o faziam. Durante o caminhar, foi chamada a atenção dos alunos para como desenvolviam o
momento, foi pedido para que os mesmos andassem com os joelhos frouxos, ou melhor,
flexionados. Logo após esta atividade foi perguntado : "Qual é a melhor maneira de andar?"
maneira mais natural?" . E a maioria respondeu: "A primeira!" . Após essa atividade,
retornou-se ao violão, onde foi pedido para que os alunos executassem o toque de gancho, a
partir da Ia felange (que seria a partir da virilha da personagem), e depois o toque de gatinho,
a partir da 2a felange (que seria a partir dos joelhos da personagem). Após esse momento,
perguntou-se : "Qual é a melhor maneira de se tocar? " e "Qual é a maneira mais natural e
cômoda dese tocar? ". A maioria dos alunos respondeu às duas questões : "A primeira!".
Com essa atividade prática, relacionou-se o que era certo e errado; o que é natural
e antinatural; fezendo com que o aluno compreendesse melhor o quê estava sendo pedido a
de maneira lúdica, mostrando ter entendido de maneira prática a tarefa : sabendo como, para
com o polegar. Foi preciso trabalhar uma novidade de cada vez, onde apresentássemos aos
Quando o anular foi apresentado, repetiu-se o mesmo trabalho feito com o médio
e indicador, porém, nesse momento, já não foi necessário o recurso de personagens (os alunos
solicitasse uma nova personagem, uma nova era criada, de acordo com a criatividade da
círculo25 . A melhor forma ter iniciado este trabalho foi a partir dos bordões, tendo o dedo
indicador, o médio e o anular, levemente pousados nas cordas primas. Este apoio foi sugerido
para dar mais firmeza aos alunos iniciantes, para que os mesmos pudessem concentrar-se de
O cuidado com as unhas foi tratado somente após o amadurecimento dos alunos no
instrumento. Nesta primeira fese de iniciação (aproximadamente dois anos), não se trabalhou
o toque com unha. Primeiramente, quando se iniciou o estudo no violão, os alunos ainda não
possuíam vivência suficiente para entender como funcionava o mecanismo do toque com
toque). E ainda, não possuíam maturidade para cuidar e conservar as unhas. Muitos pais não
permitem ou não estimulam seu filho a ter unhas um pouco maiores na mão direita,
principalmente quando se refere aos meninos. Portanto, quando se introduziu o uso do toque
com unha, recomendou-se que tivessem uma conversa com os pais, para que esclarecessemos
alunos sobre como se dava a organização dos sons e timbres descobertos. Neste momento, os
alunos já foram despertados para perceber que cada seqüência, ou seja, cada processo teria
começo, meio e fim. O que se buscou desde o início do processo de criação, foi dar uma aos
25 CARLEVARO (1979): "Em su trajetória de ataque a lãs cuerdas eipulgar describe um sector de circulo
imaginário cuyocentro estariaemei nascimento dei dedo (em su articulación con Iamufieca). "(Pág.44).
125
Exercício N°l
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Exercício N°2
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mudou nestes exemplos, foi apenas o efeito sonoro explorado, bem como, a sua execução. O
que se buscou com esses exercícios, foi fezer com que os alunos percorressem todas as cordas
126
Exercício N° 3
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Exercício N°4
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Blan Blan Blan Blan Toe Tpc Toe Toe
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anteriores, porém, acrescentando os dois elementos de efeito sonoro, ora em seqüência, ora
ao primeiro efeito sonoro Blan), com isso, o que se buscou foi trabalhar a memorização de
Nesta fase, deve ser ressaltado que, ainda, não foi inserida a leitura musical. A
preocupação que se teve foi deixar o aluno à vontade, porém mantendo sempre os princípios
alternância dos dedos da mão direita. Nessa fese de exploração sonora do instrumento, além
128
Pode-se afirmar que, desde o início deste processo, quando se trabalhou vários
elementos com o aluno, onde o mesmo teve que experimentar através do praticar, ou seja, do
contato direto com o instrumento na produção sonora, o aluno já estava desenvolvendo uma
técnica específica para tal. No decorrer desse processo, observou-se que os alunos que
tecnicamente a desenvolver repertório próprio para o violão, quando foi introduzida a leitura
quatro vezes cada corda do violão, procurando manter a alternância dos dedos indicador e
relaxamento, no momento em que o aluno fazia quatro Blans. Ao reproduzir esta sonoridade,
aconteceu através do movimento do pulso, quando o polegar percorreu todas as cordas para
depois voltar à posição original de ataque. Com o movimento descrito, toda a tensão foi
eliminada, já que o pulso após do movimento, sempre voltou à posição de relaxamento (como
parte de improvisação e criação no violão, mas também questões técnicas pertinentes para os
alunos iniciantes.
Em outra fase, foi dada aos alunos, a oportunidade de criação, que foi feita
fevereiro de 2000 a março de 2001. Foram usados os dados mais recentes, devido ao maior
rigor científico na coleta dos mesmos, e a oportunidade de se ter análises mais atualizadas, por
Após a criação, sempre foi pedido para que os alunos tocassem algumas vezes a pequena
peça criada, para que fosse possível a anotação da mesma. A atividade de improvisação e
criação, geralmente, foi feita após se ter trabalhado o relaxamento, as cordas soltas e os
foi escolhida por ser um modelo típico de composição de alunos que estão iniciando os seus
Blan Toe
AJA.F. 1
(8/7 anos)
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A amostra acima foi composta por dois alunos, A (8 anos) e A.F (7 anos). Esses
alunos estudavam na mesma sala, a partir do esquema de duplas e estavam no estágio inicial,
adaptado, através da imitação. Observou-se durante o processo que não só os alunos acima
citados, mas grande parte dos alunos, iniciou o trabalho de criação nessa Ia fese, usando o
recurso da imitação.
A imitação ocorre porque o aluno precisa entender por completo o processo que
possibilita a atividade de criação autêntica. Com isso, pode-se concluir que é próprio do ser
humano, criar (aprender) através da imitação de um modelo que lhe agrade ou que lhe pareça
(que são as cordas soltas do violão e os efeitos sonoros produzidos na fese de exploração
131
sonora do instrumento), a mão esquerda foi introduzida e novos sons foram utilizados pela
O trabalho com o braço e a mão esquerda foi realizado após os alunos terem
posicionamento do braço esquerdo teve que seguir os mesmos critérios expostos para o
direito, ou seja, braço esquerdo não teria ponto de contato com o corpo e o ombro esquerdo
braço, mais aberto e nunca fechado, para baixo. A mão esquerda teria forma côncava e o
Figura 13 :
dos quatro dedos da mão esquerda foi relembrada : dedo 1 (indicador), dedo 2 (médio), dedo
3 (anular) e dedo 4 (nránimo). Para que o aluno visualizasse o posicionamento desejado, foi
pedido aos alunos que colocassem os quatro dedos sobre a escala, em casas diferentes,
tentando uma maior abertura entre os dedos. Para que a mão e os dedos tivessem uma melhor
estabilidade, o polegar (que fica detrás do braço) deveria estar posicionado no meio dos
quatro dedos, mais comumente entre os dedos 2 e 3, e "em pé" , dando um maior
dedos. Outro ponto importante foi que o polegar não deveria ser posicionado muito ao alto,
mas sim, mais ao centro do braço, para que a mão permanecesse côncava e o pulso arqueado,
Uma boa estratégia utilizada foi, mais uma vez, ter relacionado essa postura a uma
idéia ou imagem. Em sala de aula, as nomenclaturas mais comumente utilizadas foram : Mão
de ovo ou Mão de Bola de Gude, ou seja, a mão esquerda deve ter a forma de como se
estivesse equilibrado na palma da mão, uma bola de gude ou um "ovinho minúsculo", como
um ovo de Codorna. A segunda idéia fez mais sucesso entre os alunos: quando a mão saía do
posicionamento desejado, felou-se : "Nossa como a sua mão está suja! O ovo quebrou!". E o
aluno retornava à posição ideal. Ou ainda, apenas felando "Mão de Ovo" ou "Bola de Gude",
era suficiente para que os alunos relembrassem do posicionamento correto, fezendo com que
retornassem à posição ideal.
Quando os quatro dedos estavam colocados sobre a escala, cada um em uma casa
diferente, notou-se que a pressão da ponta dos dedos sobre a escala ocorria em pontos
diferentes, emcada dedo. Nos dedos 1 e 4, a pressão ocorreu de maneira mais lateral, na parte
de "fora" do dedo; nos dedos 2 e 3, ocorre de maneira mais frontal, na "cabeça" do dedo.
133
trabalho de leitura musical . Portanto, os exercícios mais específicos para a mão esquerda
foram propostos através da leitura musical, tornando o estudo mais interessante neste
momento.
(corda solta), fè (Ia casa) e sol (3a casa), sem leitura musical, introduziu-se a leitura.
Primeiramente, fez-se um trabalho isolado com cada nota, ou seja, trabalhou-se exercícios
com apenas a notamie outros, com a nota fó; porém, variando a seqüência rítmica. As figuras
musicais, semibreve, mínima e semínima foram introduzidas ao mesmo tempo. Após de se ter
trabalhado cada nota de maneira isolada em seqüências rítmicas diversas, trabalhou-se as duas
notas (mi e fó) em um mesmo exercício. Depois dessa atividade, acrescentou-se uma terceira
conseguindo reproduzir seqüências com as três notas mencionadas, foi variado. Geralmente,
para se ter um bom resultado, trabalhou-se somente a Ia corda por aproximadamente 6 aulas
(cada aula de meia hora), já que nesta fese, não se trabalhou apenas a leitura, dando
134
Várias estratégias foram usadas para que o aluno assimilasse a leitura como parte
do processo criativo em que estava inserido. Uma boa estratégia, antes da execução de cada
exercício, foi imaginar que uma das personagens criadas estava andando fora do instrumento,
enquanto isso, o aluno solfejava o exercício. Com essa estratégia, o aluno trabalhou as
toque e alternância dos dedos, além de ter trabalhado a leitura e o solfejo. Outra estratégia foi
pedir que o aluno tocasse a percussão, através do efeito sonoro Toe, batendo o ritmo da peça.
Essas são algumas das estratégias que se buscou para trabalhar questões relacionadas à
disso, atividades como estas, promoveram uma aula mais ágil e dinâmica, levando o aluno a
posição de regente, ficando em pé, à frente dos alunos, fezendo a regência. Nesta atividade
procurou-se valorizar o trabalho dos alunos (geralmente, a maioria das crianças fica muito
feliz e empolgada com esta atividade), além de ser trabalhada a execução musical
propriamente dita (neste momento, tem que se ter bastante concentração e um silêncio
absoluto no ambiente). Ainda, na posição de regente, o professor iniciou atividades como, por
exemplo, a leitura alternada de compassos e frases, onde cada aluno tocou um compasso ou
frase musical, levando à pulsação que deveria ser mantida de forma homogênea e constante.
uma estratégia bastante positiva e imprescindível para o bom desenvolvimento dos alunos.
Para alunos iniciantes, recomenda-se que o professor inicie o acompanhamento, depois que os
135
mesmos já tenham assimilado o exercício ou a peça. Essa atividade teve como principal
musical, onde apareceram os novos elementos transmitidos aos alunos, como se verá a
seguir:
Blan Toe Mi Fa
L.H7M.
(8/5 anos)
Toe Toe Toe Toe Blan BlanBlanBlan foc Toe Toe T<
relOCTOClOC Blan Blan Blan Bbn
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Na peça "Blan Toe Mi Fa", composta por L.H (8 anos) e por M (5 anos), pode-se
notar que a nota nova, o fó, foi introduzida. Porém, apesar do novo elemento ter aparecido, as
seqüências dos exercícios (vide págs. 125/27) comumente trabalhados em sala de aula, foi
mantida. Ou seja, o processo de criação ainda não se mostrou original, e ainda tinha como
base a imitação.
136
Blan
A.
(8 anos)
Blan Blan Blan Blan Blan Blan Blan Blan
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DIOU 131011 Dlttll omi Blan Blan Blan Blan
r r r r n ) m MM
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Já na composição "Blan", feita pelo aluno A (8 anos), a nota sol apareceu. Porém,
como no exemplo anterior, a seqüência trabalhada em sala de aula foi mantida. Neste
elementos já conhecidos.
MI Fa Sol e Blan
B.
(7 anos)
r-=:
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Blaaaiu Blan ^ ^ ^
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ni n
Na peça "Mi, Fá, Sol e Blan", composta por B. (7 anos) no seu primeiro mês de
aula, nota-se que a seqüência é original. No inicio foram expostas às cordas soltas do violão
(6 compassos), depois foi exposto o efeito sonoro Blan e uma pequena melodia com os
elementos novos, notas fó e sol (3 compassos) e no final, a peça terminou com a notami, que
137
iniciou a música. Pode-se notar, que o aluno já está praticando uma forma musical. Observa-
^m
Na peça "Plin Toe Blan", de M. (5 anos), o aluno já introduziu as notas da 2a corda
(si, do e ré) que já tinham sido trabalhadas com as notas da Ia corda(mi e fó). Em relação aos
efeitos sonoros, o aluno apresentou um efeito sonoro pouco explorado pelos outros alunos, o
Plim.
Nos quatro exemplos expostos acima, pode-se notar que os alunos nesta Ia fase (os
dois primeiros meses de aula), ainda estavam muito ligados em trabalhar os efeitos sonoros.
Nota-se que o Blan e o Toe são os exemplos sonoros mais utilizados no início, por serem
mais sonoros e de fócil execução. Em relação aos títulos das peças, em todos eles aparecem os
princípios dos exemplos demonstrados, durante 2(dois) ou 3 (três) meses, mesmo quando uma
nova nota era aprendida. Isso se deveu, ao processo de aprendizagem de cada, porque eram
A.F (8 anos) e L.H (8 anos) que estudavam o instrumento juntos, neste momento do processo
de criação, foram separados em salas diferentes, nos 10 (dez) últimos minutos de aula (a
mesma possui 30 minutos), para que pudessem compor individualmente. Os alunos foram
deixados a sós, aproximadamente por 3 (três) minutos, para que pudessem desenvolver essa
atividade sem mterferência alguma. Após o tempo transcorrido foram coletadas as seguintes
peças:
A Nossa Banda
A.F
(8 anos)
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È
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w—f-
§
f—W
Nos exemplos acima, nota-se que os alunos nessa fase, já inovam formas musicais
notas; a colcheia aparece como um novo elemento rítmico; e ainda, o compasso binário foi
escolhido por ambos. Na peça "A Nossa Banda" de A F (8 anos), nota-se uma
139
satisfatório até o compasso 7, porém, o final poderia ter sido melhor trabalhado. Necessário se
fez tecer um comentário sobre o título da peça - "A Nossa Banda" , que em uma visão
equilibrada, possuindo um começo, meio e fim, de maneira natural, sem sobressaltos. Nota-se
que um elemento de repetição, muito usado pelos grandes compositores para dar ênfase a uma
idéia musical, foi utilizado pelo aluno nos compassos 3 e 4, de maneira bastante adequada. O
título refere-se ao elemento novo que estava sendo trabalhado, a colcheia; portanto houve
Minha Melodia
L.
(8 anos)
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Meu Violão
L.
(8 anos)
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contínuos com a autora do estudo (estudou no 2o ano com outro professor na mesma escola,
interrompendo portanto, o processo de criação nos moldes que está se expondo). Atualmente,
a aluna estuda o violão individualmente, por já ter passado pela fase de iniciação e, no
peças, "Minha Melodia" e "Meu Violão", a autora do presente estudo, não se ausentou da
sala, auxiliando no início o processo de criação. Já na peça "Meu Melhor Amigo :Violão" , a
autora ausentou-se nos primeiros minutos para deixar que a aluna trabalhasse individualmente
o processo de criação.
141
possui regularidade rítmica, forma e melodia coerentes. Na peça "Meu Violão", a aluna já
desenvolve mais sua idéia musical, utilizando um elemento rítmico novo, as colcheias, além
do recurso da repetição nos compassos 9, 10 e 11, como o aluno L.H. Já na peça "Meu
Melhor Amigo : Violão" , a aluna inicia bem os três primeiros compassos, passando direto
para a parte final (compassos 4 e 5). Este exemplo é extremamente interessante. A aluna
iniciou a sua criação, porém, já havia excedido o horário de sua aula, então, a aluno
inconscientemente, não desenvolveu a peça, e saltou para o final da peça, que é coerente com
o imcio. Ao analisar as peças, pode-se afirmar que a aluna aprendeu como se trabalha a forma
na criação musical. Os títulos "Minha Melodia", Meu Violão" e "Meu Melhor Amigo :
Violão", em uma visão pessoal, demonstra que a aluna possui um alto grau de afetividade
análise acima ser criteriosa, os exemplos estudados são considerados acima da média (até
então) se comparados com crianças da mesma faixa etária, com o mesmo tempo de estudo que
Maior, ou seja, as notas de dó a sol, iniciou-se o trabalho com músicas folclóricas. Entende-se
que, a princípio, este é o melhor caminho a ser seguido, já que as músicas folclóricas são de
142
fácil execução e aceitação por parte das crianças, por remeterem não só ao universo infantil,
mas também, a elementos da cultura nacional. Portanto, a identificação dos alunos com as
canções folclóricas foi completa, devido o significado que possuemao imaginário coletivo.
popular, pensando em de incrementar a educação musical dos alunos. E por fim quando os
alunos já dominavam a primeira posição do instrumento (em todas as cordas), o trabalho com
autores do período clássico e romântico, por se tratarem de peças originais para o instrumento.
Iniciou-se o trabalho com compositores como : Ferdinando Carulli, Antônio Cano, Napoleon
uma significação para as crianças, como valsas, marchas, que fossem de fócil compreensão
musical. Com o passar do tempo, o nível das peças, assim como o nível de exigência, cresceu
elementos já sabidos, para que os alunos tivessem uma melhor compreensão das peças. O
canto e o solfejo, foram trabalhados, como elementos bastante positivos para o entendimento
por vezes, solicitado a cada aluno para que tocasse uma nota alternada da melodia, onde os
alunos tocariam a peça inteira, num processo de alternância quando o instrumentista tocava
143
cada nota. Este exercício só é aconselhável quando o aluno já domina os dois exemplos
Outro recurso, foi trabalhar a melodia principal com outras vozes. O professor
momento, os alunos podem executar vozes diferentes, já fazendo portanto, música de câmera.
144
maioria destes profissionais, aprendeu a dar aulas a partir de experiências práticas, ou seja,
de materiais adequados, foi sem dúvida, uma dificuldade que atrapalhou o trabalho de cada de
um, levando-os a aprender com a prática. Alertam ainda, que os profissionais da atualidade
vivenciam esta mesma dificuldade. O objetivo da presente pesquisa foi sistematizar uma
metodologia de ensino do violão para crianças, da faixa etária de 05 (cinco) a 8 (oito) anos,
com base na observação prática em sala de aula, visando dar uma contribuição às lacunas
o ensino do violão e que o ensino coletivo, como técnica traria sugestões para a mudança do
Como já foi descrito, usar a criatividade deve ser uma prática constante na vida de
todos, sendo que a mesma, pode transformar a realidade do ser humano e da sociedade.
criança, independente dos interesses ou futuras carreiras. Através da exploração criativa, uma
criança terá mais chances de se tornar um adulto criativo, produtivo e com muito sucesso,
145
ser incentivadas, desenvolvidas e treinadas, sendo que as mesmas, aumentam com a prática; e
com crianças, da faixa etária referida, que estudaram em escola particular especializada no
que as estratégias criativas, auxiliariam a prática pedagógica, sendo que o uso da imaginação,
criatividade como suporte de atividades técnicas e musicais, despertam o interesse dos alunos
fazendo com que o ambiente se tornasse mais favorável para o ensino/aprendizagem. Pode-se
mundo, o fez de modo gradativo, mantidas os estágios que possibilitam a aprendizagem. Estes
experimento. Sabe-se que o ensino coletivo, proposto neste trabalho, é uma importante
bastante significativa neste processo. Pensa-se que o estudo da música, através do ensino
agora relatado nesta parte da pesquisa. Com base nestes pressupostos, a verificação da
validade metodológica foi feita a partir das análises de programas e repertório desenvolvidos
S.L L.H e A.L iniciaram seus estudos no violão de maneira coletiva, em fevereiro
de 2000, aos 6 anos. A carga horária semanal dos alunos era 1 (uma) hora, dividida em 2
sonora do violão, a improvisação e a criação (vide exemplos nas pág. 138). Foi introduzida
a leitura musical no mesmo mês. Até o final do ano já haviam tocado várias peças que
trabalharam o seguinte repertório : "Onda vai, Onda vem", "Bambalalão", "A Barquinha",
"Ciranda, Cirandinha", "Eu sou pobre", "Dorme Nenê", "Mucama Bonita" (músicas
"Novo Companheiro" e "Canção com o Lá" (todas extraídas do livro "Ciranda Das 6 Cordas",
de Henrique Pinto). Como pode ser notado, os exercícios de exploração sonora do violão,
puderam desenvolver o programa acima descrito com desenvoltura, sem grandes dificuldades.
Mais uma vez reafirma-se, que o procedimento metodológico não teve como justificativa
Os alunos L.F (8 anos), L.A (8 anos) e K.L (9 anos) tiveram uma trajetória bem
diferente e interessante. L.F iniciou seus estudos com 6 anos, L.A com 7 anos e K.L com 9
anos, sendo que os três desenvolveram um programa similar. K.L (9 anos), devido seu grau de
mesmo programa que L.A e L.F fizeram durante o ano, apesar de ter iniciado seus estudos
em violão mais de 1 (um) ano após os alunos citados. K.L iniciou o primeiro semestre
estudando sozinha devido à sua idade avançada (9 anos). Desenvolveu-se tão bem, que em 3
(três) meses alcançou o programa realizado por L.A (que tinha iniciado seus estudos um ano
antes). No 2o semestre, passaram a estudar juntos para que pudessem trabalhar atividades de
invenção e criação, bem como, música de câmara, entre outros. Os alunos desenvolveram o
seguinte programa : "Eu já sei tocar" - Folclore Alemão; "Valsa em Lá" - Henrique Pinto;
"Atirei o pau no gato" - Folclore Brasileiro (na V posição); "Marcha Soldado" - Folclore
"Passeando com os dedo" - Henrique Pinto; "Brincando de Roda" - Henrique Pinto; "Dorme
Violões).
L.F de 8 anos, por ter iniciado seus estudos com 6 (seis) anos, e já ter passado pelo
"Caminhando para trás" - Henrique Pinto; "Peça acrescentando o Ré" - Henrique Pinto;
"Saindo do Casulo"- Henrique Pinto; "O homem feliz" - M.Bay; "Aura Lee"- Folclore Norte-
"Porque te quero"- Henrique Pinto; "Canção para Érika" - Henrique Pinto; "Valseando"-
Henrique Pinto; "A Barquinha"- Folclore Brasileiro; "O que é da margarida" - Folclore
Brasileiro; "O Rio"- J. Castle; "Voltando do Passeio" - Henrique Pinto; "Valsa em Lá"-
Henrique Pinto; "Danza" - Folclore de Israel; além de trabalhar exercícios técnicos como
trabalhando os acordes de A, D e E.
Por fim, M.A e L.C , ambas com 8 anos, iniciaram os estudos do violão com 6
feka etária. No ano de 2000, as alunas L.C e M.A trabalharam o seguinte programa :
Henrique Pinto; "O Rio" - J. Castle; "Andante Religioso"- M. Carcassi; "Estudo n° 1" - F.
(op.44,2)- F.Sor. Também foi trabalhado um ciclo de canções folclóricas nasV e VII posições
: "Atirei o pau no gato", "Ciranda, Cirandinha", "Cai, Cai Balão", "O Cravo brigou com a
da leitura de cifras : "Asa Branca" (Acordes A, D e E), "Bambalalão" (C, F e G). "Tema da 9a
(Orquestra de Violões)
(dois) com outros instrumentos e 2 (dois) específicos de violão, tocando ora de maneira
violão, foi gravado pela Rádio Universitária e transformado em programa de rádio. Nestes 2
recitais específicos, cada aluno tocou no mínimo, uma peça individual e duas peças em
conjuntos. Alunos como L.C e M.A, tocaram 2 (duas) peças solos e 8 (oito) peças em
MVSIkA! MVSIkA!
CENTRO DE ESTUDOS
CENTRO DE ESTUDOS
•s* i
também trabalhar, com compositores como : Noel Rosa, Pbdnguinha, Ary Barroso, Luís
Gonzaga, Tom Jobim, Milton Nascimento, Chico Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil, Djavan,
151
entre outros, que representam uma música popular de alta qualidade, refletindo o espírito e a
alma do povo brasileiro. Recomenda-se ainda, trabalhar os gêneros musicais brasileiros como:
outros.
repertório mais desenvolvido, as influências da primeira fese se fizeram notar, como foi
Por que e para que aprender a tocar um instrumento? O aluno deve ter sempre
consciência, que ao tocar uma peça, está se comunicando com o mundo. Eventos como
performance devem ser tratados com muita responsabilidade por parte dos alunos e
professores. A criança, deve ser incentivada pelo professor a tocar sempre, para que este ato
se torne natural e espontâneo. Logicamente, que o aluno deve estar ciente do seu
compromisso com o estudo e dedicação para executar tal tarefe. Porém, cabe ao professor não
152
zelo pelo ato de tocar, leva à insegurança e o conseqüente "nervosismo" por parte do aluno. O
professor deve acima de tudo, incentivar o aluno à performance como uma prática natural (já
que o aluno estuda o instrumento) e prazerosa, devendo saber o que é possível exigir de uma
diferente daquele que uma criança é capaz de perceber e executar. Não se pode exigir que um
filhos, também é um fetor muito importante. Quando se trabalha com a feixa etária inicial
(crianças de 05 a 08 anos), o professor deve estar em contato direto com os pais. Este contato
mais coerente. É bastante comum que pais ausentes cobrem em excesso, tanto dos filhos
quanto da escola e/ou professor. Isto acontece por não haver compreensão por parte destes
pais, de quais sejam todas as etapas de desenvolvimento vivenciadas pelo filho, o que
que valorizam cada etapa do progresso do filho, mesmo que este seja quase que imperceptível
maneira mais direta, pedindo para qúe ele toque o que está aprendendo, incentivando (ou
lembrando) o estudo, indo aos recitais e apresentações em geral. Estas ações estavam
153
incentivando o filho, sem exercitar a ansiedade provocada pelas pressões de querer ver o
produto final de todo este processo precipitadamente.
instrumento e de materiais de uso pessoal como os livros, cadernos, o banquinho para os pés,
a estante de música, que são imprescindíveis para que o aluno estude e se desenvolva de
maneira adequada. Há muitos casos em que os pais não adquirem instrumentos de melhor
qualidade, pelo motivo óbvio de serem mais caros. Porém, nota-se, é que famílias, da classe
média alta e alta, preferem não comprar instrumentos adequados, não por uma questão
econômica, mas sim cultural, por não acharem importante a atividade musical do seu filho.
Portanto, é necessário que os professores, através do diálogo, expliquem para os pais a razão
psicologia infantil, devendo estar sempre atento aos estágios de desenvolvimento de cada
aluno; e ainda, que mantenha contato direto com os pais e/ou responsáveis, para que o
trabalho alcance os objetivos desejados, com o esperado sucesso. Além disso, recomenda-se
uma maior prática do ensino coletivo, visando através de métodos criativos, a motivação do
ENTREVISTAS
Fernanda Vasconcelos Furtado, Rogério Bicalho, Clévio José Vieira, Judson D'Castro, João
Luís Batista Neto, Maria das Graças Almeida, Maria Aparecida Souza, José Eurípedes
F: Fernanda, qual é a sua formação musical? Quando e como você iniciou seus estudos
em música?
FF:Bem, minha formação musical... eu tenho Licenciatura em Música, superior, Licenciatura
em Música e Bacharelado em Violão, pós-graduação em Planejamento Educacional,
especialização em Produção Musical nos meios de rádiofusão.
F: E quando você iniciou seus estudos e seu primeiro contato com o instrumento?
FF: Eh, meu primeiro contato com o instrumento foi quando eu o ganhei aos 15 anos. Minha
mãe perguntou se eu queria fezer alguma festa ou se queria o instrumento e eu optei pelo
instrumento. E aí, quando eu acordei encontrei ele na minha cama. Mas eu já apreciava muito.
Ia às programações do Instituto de Artes, do Conservatório de Música naquela época, na rua
20 e no Setor Universitário. E era fa do Darci Villa-Verde, Duo Assad e todos os violonistas
que vinham para aqui pela Escola de Música, atual escola de Música.
F: E nesta época existia esse intercâmbio? Vinham muitos violonistas?
FF: (Interrompendo) Vinha não tanto violonistas, mas muitos músicos de fora. O
conservatório tinha os Festivais, naquela época já existiam. E sempre tinham programações
durante as semanas. Sempre tinha programações. De violonistas não era muito intenso né.
Intensiva as programações, mas eu aprendi a apreciar foi nestas salas.
F: E como você iniciou o trabalho como professora de violão? Quando e como foi o seu
primeiro contato nesta área?
FF: Bem, eu comeceu estudando em casa o violão. Logo em seguida passei para o Mvsika -
Centro de Estvdos, que tinha como proprietários Estércio Mello Cunha, Marquez Cunha,
depois Delmari Britto e Glacy Antunes. Isso lá por volta de 73, eu acho. Aí eu fui estudar.
Depois...
F: Quem era o seu professor de violão na época?
FF: Lá na Escola de Música foi o José Eurípedes Roberto. Em casa foi o professor São
Marcos e o Io professor de violão, eu tenho o caderno que ele fez, mas não me lembro o nome
dele. Ficou anônimo. Agora lá no Mvsika comecei com o Prof José Eurípedes Roberto. E aí
155
estudei com ele um bom tempo. Aprendi 4 anos seguidos e comecei a dar aula no próprio
Mvsika - Centro de Estvdos. E daí, eu passei a estudar algum tempo como ouvinte na Unb;
com o Prof* Eurípedes Fontenelle também. No conservatório e depois entrei no curso de
Licenciatura, mas diante, passei a ter aula com o Prof Henrique Pinto que veio para Goiânia
em 1978 e trouxe muita técnica nova, muita escola nova, formou uma boa geração de
violonistas aqui, né, que já eram todos iniciados. Mas antes disso, desculpe, eu tive aula com
Eurípedes Machado, o professor José Eurípedes Roberto saiu e depois dele ... Entrou um
período de recesso, saiu. E eu tive aula com Zé Eurípedes, Eurípedes Machado. Também
tivemos um rendimento muito grande. Estudávamos muita música brasileira, muitos
compositores brasileiros para violão e ele fazia também arranjos pra 6 e 8 violões. Então, em
todas as programações nós tocávamos muito. Depois fui ter aula com o Prof Eurípedes
Fontenelle um tempo e depois começou o Henrique Pinto na escola Mvsika - Centro de
Estvdos, mais ou menos na década de 78, final da década de 70. Ele trouxe muitas inovações
e vinha uma vez por mês pelo Mvsika - Centro de Estvdos dar aula para uma equipe de
professores que também eram alunos de lá. Aí, passamos a desenvolver o violão, não com
mais ou menos seriedade, porque existia seriedade, mas havia uma abertura diferente, ele
apresentou, assim, um mundo violonístico a nível de Brasil e seguidamente a nível
internacional também, né? Mas de nós saímos, que eu ,e lembre, porque eram vários alunos,
mas eu por exemplo fui para Seminários Internacionais de Violão. E aí ficou sempre este
contato Goiânia-São Paulo, né. Ficou muito intenso este contato pelo próprio trajeto que ele
fazia. E São Paulo sempre foi um paraíso no estudo de música e de violonista lá, é super
cheio.
F: E assim, no início, quando você começou a atuar como professora, você sentia muitas
dificuldades? Assim, na didática, como dar aula, como é que foi? Assim, o seu início né?
Você foi pela intuição, o quê você seguia, você se recorda?
FF: Recordo, recordo sim. Comecei a dar aula no próprio Mvsika - Centro de Estvdos. Eu
estudei. Eu comecei a dar aula. Na realidade, eu fiquei com medo na hora de começar a dar
aula. Eu gostava muito de tocar, então eu era acostumada ser aluna e a tocar muito, né.
Naquela época era mais ativo, não sei porque. Então eu comecei a dar aulas, mas no começo
eu pensei, sentia dificuldades, mas logo em seguida fui me adaptando, adaptando com os
próprios métodos que os professores davam, né, que era o método do Isaías Sávio, todos
aqueles cadernos de estudos, era o método do São Marcos e era o método também, logo
alguns anos depois, era o método do Henrique Pinto. E isto trouxe muito crescimento, uma
leitura muito ampla. Isaías Sávio, todo mundo gostava muito dele, principalmente pelo
método de Iniciação, era uma leitura facílima. O São Marcos era gostoso de fezer também, os
exercícios práticos de se executar e aí foi se dando. Vários livros de iniciação foram surgindo
né. Essa constante reciclagem... Professores aqui, entre colegas e então com vários cursos que
o Mvsika dava, na área de formação musical em geral, foi abrindo muito o campo para a
formação musical em geral e a adaptação para o violão. Dessa maneira nova de ver a música,
de trabalhar o instrumento em várias proporções, não ficar não só em um método ou outro né.
Estava sempre renovando as nossas atividades. Até que eu fUi desenvolvendo meu curso
superior e no meio disso, participei como diretora e proprietária de uma escola que na época
chamava "Criatividade". Nesta época foram feitas, como que diz, vários testes, várias
maneiras de aplicação de aulas, foram muito renovadora. Inclusive, até hoje tenho as
atividades que nós desenvolvíamos lá e as atividades, assim, está muito em prática hoje em
dia. Então, é uma maneira de se ver o violão diferente. Nessa época também, nós
trabalhamos, eu feio nós por que eu era proprietária com mais duas, que eram Maria das
Graças de Almeida, que também é violonista e a Eliane Almeida que é artista plástica. Então,
156
nós trouxemos dois encontros nacionais de violão pra cá. Com isso, vieram muitos
violonistas. O Henrique Pinto trouxe todos os, praticamente, os grandes alunos dele vieram
pra cá. Aí, veio uma aplicação muito grande na área do instrumento. O que é mais
dificuldade, você sabe o quê eu achava? Era encontrar material para passar para as pessoas.
Porque até hoje eu encontro essa dificuldade. E outra coisa : se você não encontra o material,
é muito pouco o crédito que se dá para os seus trabalhos manuais. Então é a preguiça, a grafia
das pessoas, às vezes, não está de contento com o aluno que quer ler. Você passa (...) . Eu
ainda acho difícil pela carência de material e pela pouca aceitação, do comodismo do alunado
e eu como sou aluna, também entro nessa história, mas é difícil, nestas proporções. E também,
se me permite, é uma dificuldade que eu também acho, é a concepção em relação ao
instrumento de acompanhamento de pequeno porte para se levar para todos para todos lugares
e utilizar de maneira que convier àquele detenninado momento. Ele não, um instrumento que
é visto como instrumento independente, um instrumento harmônico, um instrumento capaz de
harmonia mas é capaz de melodias, de solos, então isso dificulta muito, porque as pessoas,
não é só por parte do aluno e da família do aluno que influência muito, é por parte da própria
estrutura de ensino. Atualmente isso já está mudando, mas normalmente quando se vai estudar
um instrumento, todos querem pensar no instrumento de uma forma mais cômoda e
passageira como um complemento, não para um fim. Talvez possa ter sido às disciplinas que
eu tenha pego o violão. Eu já trabalhei em várias áreas, não em um só local, mas em vários
locais e a dificuldade é a mesma.
F: Fernanda, eu sinto também que existe um certo preconceito por parte das
instituições, das Universidades, vamos dizer, da Academia, em relação ao violão. Talvez
pelo fato histórico de ter sido ligado ao povo, às peças populares, então, ele esteve até o
início do século XX, longe das salas de concerto. Mas hoje mesmo, uma mãe me ligou
antes de eu vir para cá dizendo que achava que o filho dela não estava desenvolvendo e
muito pelo contrário, ele está se desenvolvendo bastante. Você acha que as
características do violão, no início desestimula o aluno iniciante quq quer tocar? Como
por exemplo, o piano, o teclado, a questão da sonoridade...
FF: (Interrompendo) A questão da sonoridade eu acho que é uma coisa que pode vir a
influenciar porque o violão é difícil obter uma boa sonoridade. E a maneira que nós sentamos,
a maneira que se trabalha a mão esquerda e a mão direita, ela foge do padrão de comollismo e
de postura usual. Talvez a do piano é a postura que se aproxima às regras de etiqueta, como ^se
sentar na casa e de estética. Mas, eu creio que não é isso não. O violão, ele... Porque o
pianista ele começa com uma nota, duas notas, três notas. Eu acho o quê é difícil é as pessoas
observem aquilo com naturalidade. Se hoje você produz uma nota, em dez minutos você pode
produzir dez notas, como pode continuarproduzindo uma nota. Depende da concentração e do
ambiente que você quer propor naquele momento. Se você quer despertar o interesse para
aquele som e produzi-lo direito. Então por exemplo : "fulano está dando muita matéria, o
fulano não me dá esta música, ah ciclano..." . Se você for agradar a todos os gostos, todos
deveriam então passar por uma parte de iniciação, sem pelo menos por um tempo, querer tanta
coisa. E querer do instrumento a primeira alfabetização. Ele tem que pegar para ele escrever o
nome dele, ele não tem que aprender o alfabeto, as vogais, as consoantes e depois um livro.
Para aprender um instrumento é a mesma coisa. A dificuldade na realidade não existe. Mas o
processo imitativo, a onda, o quê está em voga, as coisas que aparecem mais, o violão tem
este modismo mais acentuado, mal modismo. É um modismo de que se carrega o instrumento
está tudo bem. Outro problema é o conhecimento na área harmônica, na área de arranjo, né,
de harmonização e arranjo, mesmo de composição. Hoje em dia, aqui em Goiânia, as coisas,
as atividades são mais fáceis de ser voltadas a isso. Isso em se tratando aos músicos que já
157
sabem ler, já são músicos. Porque aqueles que não são, muitos são por intuição, que é uma
preciosidade, não se deve tirar grande valor que existe, mas é diferente, a concepção deles é
diferente, o trabalho com eles é diferente. Eles mesmos se colocam na posição de estudar,
porque eles querem estudar. Mas não é o quê acontece com a maioria. Em relação ao
instrumento é isso : é a feita de responsabilidade e credibilidade que as pessoas dão ao sentar
para estudar o instrumento. Agora tem muita pessoa que se emprega e em um minuto ele
encontra suas asas para voar sozinha, ou então já sabe dos seus primeiros passos e tem uma
trajetória satisfatória, sem desvios, sem perdas, sempre crescendo.
F: No caso das crianças, você acha que não cabe ao professor conscientiza-los que é
preciso estudar? E principalmente os pais né? Porque a criança vê um adulto tocando,
ela acha que naturalmente com o tempo, ela vai tocar daquele jeito, sem precisar de
estudar todos os dias. Então, você acha que o trabalho do professor na conscientização
da criança e dos pais é importante?
FF: Olha Flavia, eu acho que talvez seja, mas deixa eu felar uma coisa pra você : na fese de
alfabetização de uma pessoa, ela tem aulas todos os dias né. Quando você começa a estudar,
você tem aulas todos os dias de matemática, de português, de ciências, de História, de
Geografia. Você vai para um longo período diariamente. Com aulas às vezes, muito maior do
que no instrumento. Se querer do instrumento frente à criança, que ele responda com uma aula
semanal por exemplo, uma hora de aula semanal, é querer demais que ele aprenda sozinho na
casa dele, que ele tenha responsabilidade para aquilo, não é não? (toca o telefone)
F: Fernanda, a partir de qual faixa etária você trabalha?
FF: Bem eu comecei em casa com 16 a 17 anos, e comecei a trabalhar no Mvsika com 18
anos.
mais ... e tudo quanto é método de Iniciação que tem eu vou utilizar e mais uma série de
métodos que os alunos trazem, eu vou aprendendo a olhar...
F: E para crianças na faixa etária inicial de 5, 6 e7 anos, você acredita que tirando o
"Iniciação ao Violão" que tem aqueles desenhos, a parte lúdica (né?) do método, você
acha que há uma carência de outros métodos que estimule mais, de repente, visualmente
a criança? Adequados à criança...
FF: (Interrompendo) Olha, eu vou felar uma coisa (...)
F: Que eles podem desenhar, a parte interativa né?
FF: Eu sempre que olho, vejo uma coisa ... a escrita da Ricordi Brasileira, que são das edições
do Henrique Pinto, elas são muito bem feitas, em questão de grafia, de tamanho de letra,
inclusive elas são bem medidas, começa com letras grandes e vai diminuindo até o seu
discernimento completo, em que você pode discorrer uma leitura fluente em qualquer
tamanho de letra. Até o tamanho inicial fica desagradável quando a gente se apercebe. E isto o
Henrique Pinto soube fazer... Mas todos os métodos você tem que ler este material. Literatura,
quanto mais literatura você tem melhor é. Você chega na Ricordi Italiana, a quantidade de
métodos você vê ali: Carcassi, Aguado, Carulli, Giuliani e vai compositor do mundo inteiro :
Napoleon Coste, Fernando Sor, Tárrega, Milan, Leopold Weiss, Narvaes, você encontra o
paraíso ali dentro. Então, aquilo ali é o quê? É bom para você. Aquele paraíso que a gente vê
aqui, quando vem distribuidores de determinadas editoras, que eles tem licença de
distribuição, você não acha aquilo um verdadeiro paraíso ? É, um verdadeiro paraíso... Mas eu
ainda acho que com toda literatura que existe, o melhor imcio é o seu, com o seu aluno. Você
tem que ter um padrão musical para trabalhar e não é que ele tem que ser uma coisa
totalmente personalizada, mas você tem que ter o seu próprio início, o seu próprio começo,
para que ele possa compreender, conhecer, o que é música. Como é que ele vai ler, o quê que
é violão para ele. Porque violão está em tudo, mas você tem que auxilia-lo a extrair de tudo o
violão que lhe permite.
F: Eu tenho iniciado os meus alunos de 5 e 6 anos, sem a pauta musical, sem leitura,
mais ou menos no primeiro mês, oito aulas porque eu divido em 30 minutos cada aula,
uma hora semana (né?), dividida em duas. Então eu tenho notado que a partir do
momento qando introduzo a leitura, os alunos já assimilaram a postura do violão : como
sentar, como trabalhar os dedinhos da mão direita, principalmente porque eu trabalho
muita corda solta e a exploração sonora do instrumento.Eu sinto que a afetividade com
o instrumento, o envolvimento com o instrumento tem sido melhor, a receptividade tem
sido melhor. Você já logo de cara você introduz... como é que é esta introdução, você já
introduz a leitura ou você faz um começo de improvisação, de invenção...
FF: (Interrompendo) Bom atualmente eu tenho por base o quê? O reconhecimento do próprio
corpo, o reconhecimento espacial, e o quê é o instrumento, a adaptação do corpo ao
instrumento, este é um ponto fundamental. A partir daí, ele tendo uma boa postura, sabendo
sentar... Porque o dilema de todo o início é : você senta o aluno aí ele vai tocar uma nota, aí
ele já não está pensando na nota porque o violão começou a escorregar, aí ele já não está
pensando na nota porque ele não acertou coma banqueta, já não está pensando na nota porque
o banquinho para ele sentar está alto. Então estas incoveniências todas tira a atenção e a
concentração dele né? Então, a partir do momento que ele se adapta com o instrumento, ele
tem que iniciar a leitura e a leitura vai ser gradativa conforme a disponibilidade dele. Agora
isto requer uma observação : se você está em um sistema de ensino, e você tem um currículo
para trabalhar, como você vê seu aluno, com cinco, com dez, com quinze, com vinte, com
qualquer faixa etária, se você tem um programa para seguir? Então é aí que entra a condição
de que na música, no nosso instrumento, na nossa região, ainda é um sistema muito moroso,
159
de pouca credibilidade. Então ele não entende que a obrigaçãozinha dele é estudar aquilo ali
até está bem feito, entendeu? Mas ele erra na escola e a professora manda fazer cópia e ele
copia, e se ele errou ele fez uma, duas, três cópias, ele sabe fazer. Mas ele esquece que no
violão ele vai fezer cópia quantas vezes necessitar até que ele a exibição da mão direita
correta, os dedos da mão direita e pressão que você pode iniciar da mão esquerda também
plena, para que ele possa começar a analisar a sonoridade. Aí depois vai implicar no quê? Na
mudança de som, vai implicar na duração, no ritmo... e essas coisas se ele for trazendo uma
dependência das anteriores, ele não cresce, ele vai ficar parado.
F: Eu tenho notado que os alunos acham que tarefa é escrita. Então, talvez porque a
música está muito ligada ao prazer, eles não tem o compromisso, eles não acham que
tocar é uma tarefa... eles acham que tocar é só na aula. Então eu acho que esse é o...
FF: (Interrompendo) Mas isto é um grande problema e ocorre com a maioria das pessoas.
Agora uma coisa que é interessante : você ter sempre os momentos em que ele possa escrever,
ele tem que escrever. Você tem um determinado exercício que você começa e ele tem que
terminar, ele tem que tenriinar as notas, ele tem que criar uma linha melódica, ele tem que
digitar e depois tocar... para ele sentir o por quê que aquela partitura está na frente dele. Se
aquela partitura que está na frente dele é só para ele interpretar, só para ele reproduz, se tem
um significado, como é que ele vai ler, qual a intenção de letra, para que serve aquela notação,
é a oportunidade dele criar refletindo o quê ele vai produzir e o convencional que existe,
porque a cabeça da criança é um processo criador constante e muitas vezes ela não pára para
concentrar num determinado tempo que você gostaria que ela concentrasse, né? Então, o
reflexo dela tanto pode ser super rápido que você não se apercebeu que ela já passou por ali e
ela já está fezendo outras atividades, que são crianças hiper-ativas,né? e superativas. E as
atividades de crianças que são um pouco mais lentas para raciocinar : até que a sua explicação
passe por aquele ouvidinho e chegue na cabeça para ele raciocinar, já está no final dos 30
minutos da aula. Não interessa a fase, mas a questão de idade, seja 5, seja 4, seja 30, seja 60, a
pessoa que não concentra ela vai ter o problema, o mesmo, independente de feixa etária.
F: E você acredita que os instrumentos musicais para a primeira faixa inicial, são
adequados?
FF: Bom, a nossa carência aqui é muito grande no sentido que não existe lutheria. Para não
dizer que não existe, uma ou outra lutheria, raríssimo de se encontrar uma lutheria para
violão, isso mesmo em linhas muito iniciantes né? São os primeiros instrumentos,
instrumentos para ser confeccionados na nossa região... essa feita de lutheria em nosso redor é
uma coisa que implica muito, por quê? Porque toda lutheria que você vai buscar em qualquer
lugar, mesmo os artesanais, nós temos problemas aqui por causa da região extremamente
seca, sem nenhuma umidade, extremamente quente. Então isso, instrumento ressente muito, o
timbre do instrumento muda muito, o quê você toca aqui, na terra natal dele é diferente.
Então, normalmente, os luthiers têm o cuidado de dizer : aonde você ta? Ah ta, então a sua
região é assim, de umidade é assim, de temperatura x, aí, você vai contar como é que é a sua
região... Mas isto para os instrumentistas como você está falando, que tem oportunidade de ir
atrás, e adquirir uma coisa para ele pessoal né?, personalmente. Agora, no mercado, não, o
mercado é fraco, o mercado é fraco e o guia de fabricação anda cada vez pior...
F: Inclusive eu acho uma dificuldade nas medidas... eu achei um violão que se chama
"Kashima" n° 10, que é feito na China. O braço é ótimo, mas a sonoridade é péssima. O
braço, as crianças conseguem com mais facilidade trabalhar, mas aí tem a questão
sonora que não ajuda...
FF: Mas acontece o seguinte também... que você como professor, como instrumentista, você
já tem uma outra observação da sonoridade, você tem uma outra realidade, coisa que criança
160
não entende... Então, muitas vezes, não resta a menor dúvida que o professor que consegue
uma pequena orquestra, toda de violões artesanais, ele pode não fezer nada, que ele já está
fazendo tudo... Mas é importante também que você compreenda que a criança precisa
entender o quê é o instrumento também. E normalmente, nem todas as famílias, conforme
meio que você vai dar aula, nem todas famílias podem utilizar um instrumento de primeira
mão, comprar um instrumento artesanal. Então, você tem que fezer a opção né? aqueles ... A
leitura deve ser aplicada igual o caderno, o professor passa o caderno, quando você vai na
loja, quando não é uniformizado o caderno, quando você vai na loja, você compra o caderno
que você quer, quando você chega se não põe ali... nossa olha a capa daquele, olha que
sofisticada... puxa que caderno lindo! Com o violão é a mesma coisa né? É uma pena que o
violão disfere na nossa região, é uma pobreza... não é a mesma coisa que a gente vê fora,
mesmo nas grandes capitais, no nosso Brasil, é difícil você encontrar um violão de série de
nível e aqui na região Centro-Oeste, mais ainda...
F: E quais são as dificuldades que você encontra mais comumente em sala de aula? Com
os seus alunos ? A gente já falou um pouco sobre elas...
FF: E...Mas as que eu mais encontro... Eu já tenho muita sorte ultimamente, porque o aluno
ele até... já entra, eleja sabe o quê ele quer. Mesmo se ele não sabe... Não sei se é porque eu
trabalho muito com oficina, porque fica na minha sala quem quer estudar, quem quer ler,
quem não quer estudar e não quer ler já sabe que vai para outra sala, que vai para outra oficina
por quê? Porque ele mesmo escolhe o trabalho deste jeito há muitos anos, né? Agora o quê é
pior em sala de aula, é a feita de responsabilidade, é o descaso, é a obrigação de ele estar lá
fazendo e ele não quer fezer.Esse sim, é o pior problema que tem.
F: E Fernanda, você tem... eu lembro que a gente sempre formava quartetos, quintetos e
sempre atividades em grupo enriquecendo muito a nossa atividade, um contato muito
bom, muito gostoso...Você já trabalha ou trabalhou, com o ensino, com a iniciação
instrumental através do ensino coletivo? Iniciar dois alunos ao mesmo tempo...
FF: Já, dentro de um mesmo instrumento sim... o violão. Aplico de até 10 alunos dentro de
sala... (acabou a fita).
F: Então você tem alguma experiência, você está contando que você trabalha...
FF: (Interrompendo) Eu trabalho tem 14 anos de experiência contínua, fora outras
experiências nestas oficinas, de 6 a 10 alunos. Tenho e eu acho muito gratificante, mas ainda
continuo... aula conjunta é, por parte do aluno, a dificuldade, é que ele é muito comparativo,
ele sempre fica olhando o quê você está fezendo, o quê ele está fazendo, o quê os outros estão
fazendo e ele se esquece de aperceber de o quê ele tem fazer, o quê ele é com o instrumento
dele. Então essa é a maior dificuldade em turmas de oficinas, quando consideradas livres. Em
turmas de escola formal, é que eles sempre são os "coitadinhos". Coitadinhos tem coisa
demais para fezer! E eles, coitadinhos, esqueceram que o violão é a mesma seriedade de
qualquer outra disciplina.E esse é o problema. E outra coisa, só vai para frente realmente,
infelizmente parece que eu estou neste período, ele tem que ter demais a confiança dos alunos
e o aluno tem que ter confiança nele e eles, ambos, tem que entender da seriedade do trabalho
deles. O professor tem um projeto a percorrer, o aluno vai ter um projeto a percorrer, mas
enquanto ele é aluno, ele tem certas obrigações que são independentes da vontade dele. Ele
tem que fezer, dependendo da vontade de um sistema, e professor está ali para equilibrar o
sistema com o aluno ou o aluno dentro do sistema. Então o professor tem que ser entendido
dentro do sistema e o professor tem que ser entendido principalmente por seus alunos. Isso aí
é uma questão que você não pode viver sem ela. E a credibilidade, eu acho que ela fomenta a
curiosidade, a pesquisa, a busca, o respeito, a seriedade, o aluno vai se aperceber que o estudo
do instrumento, mesmo que ele queira para um detenninado fim, ele tem que saber que o
161
instrumento escreve violão, escreve com V I O L Ã O. E como ele aprendeu isso ? Aí nós
voltamos lá no período de alfabetização. Então ele está sendo alfabetizado, se eleja é iniciante
ou iniciado, ele tem que se aperceber que quando você limita um território dentro do
instrumento, ele tem que aprender argumentar fluentemente dentro de uma primeira posição,
nas quatro primeiras cordas, se você vai para a quinta posição, aonde sua mão foi ?Qual a
digitação que você vai utilizar? Quais são os recursos? O quê você vai desenvolver ali?
Aonde o instrumento possui uma escala para desenvolver toda extensão e tessitura dele?
Aonde no instrumento tem os sons de repetição? Então essas atenções é que são, é que tem
valor e a seriedade do aluno, sempre integração com o professor são as coisas mais
importantes. Mas tem casos terríveis de desenvolvimento e belíssimos de resultados. Mas a
indisciplina e a falta de infra-estrutura do sistema, que muitas vezes eles caem por terra, isso
conta muito, isso conta muito, porque muitas vezes eles trazem aquela quantidade de
iniciantes, que não tem formação nenhuma, e eles começam estudar, e o quê você tem que
fazer? Você tem a fezer uma formação musical aplicada ao instrumento para que ele comece a
se aperceber o quê é que você está falando. Agora se você já vai trabalhar com um aluno que
já tem uma formação musical é fócil porque eles entendem tudo. A única coisa que eles não
entendem é porque eles têm tanta preguiça. E ninguém entende... porque eles não dão atenção,
no imcio eles não se despertam, se vai trabalhar o corpo eles esquecem, mal vêem o corpo em
sala de aula, quanto mais, não sei se estudam em casa, não estudam... então, estas são as
dificuldades máximas. Mas o nível que você consegue é um nível bom, sabe?
F: É válido,
FF: E muito válido. Eu acho que todo violonista deveria ter uma educação em conjunto, todo
instrumentista, por quê? Porque aquilo ali traz disciplina,
F: ouve em conjunto...
FF: ouve em conjunto, mas tem muitas coisas que são preliminares, você entendeu? Ah, é um
cuidado muito importante do primeiro toque que ele dá! Mas uma aula em conjunto não vai
atrapalhar toque de ninguém, não vai atrapalhar a formação de ninguém. Com uma aula
conjunta ou com uma aula individual, ele só expande, expande, expande o seu crescimento.
Então isso não... eu até agora não acho que isso seja mal.
F: E sobre o quê a gente estava já falou, sobre o ensino individual em casa... Porque tem
certos professores como o João Maurício Galindo, do projeto Guri, ele acredita que nos
primeiros três meses os alunos iniciantes não devem estudar em casa, porque eles não
têm consciência da postura, não tem consciência de como vai estar em casa, então ele
acredita que depois de três meses de contato com o instrumento ele vai ter mais
maturidade ao iniciar seu estudo. Então ele prega que no início não é necessário o estudo
em casa. Então eu queria saber se você acha válida esta idéia?
FF: Eu falo muita coisa. Toda vez que eu aplico pestana, que chego lá na décima casa em
diante, prá frente, eu falo, por favor, ou mesmo na primeira casa, não estudem em casa.
Porque se vocês levam uma posição errada para casa, vocês vão ter problemas de abertura de
punho, voes vão ter problemas de distenção muscular, são candidatos a ter tendinite. Então,
quem vai fazendo os exercícios dentro de sala de aula com plenitude, esses vão levando pra
casa.Os que na sala de aula não forem realizando com plenitude é melhor não treinar, por
quê? Porque pode trazer danos. Agora nesta fese de iniciação é uma questão acho que um ano,
até um ano, a busca do aluno independente é normal. Ele busca ou não busca se ele quer. Mas
quando se trata de iniciantes, mesmo, 5 anos, 6 anos, ou então, adultos que não estão dentro
de um sistema formal de ensino. Porque se ele estão em um nível superior, se eles estão em
nível de 2o grau ou se eles tem um curso para percorrer de quatro anos, por exemplo, tem
começo, meio e fim, não dá certo. Por quê? Porque aí ele vai entrar já para uma habilitação,
162
ele não vai entrar para estudar, se apegar a um instrumento, aprender a manipular um
instrumento, ele vai ali já para a formação de uma etapa né?, aí é diferente. Então para esses
iniciantes que querem ter o instrumento como uma futura habilitação, eu acho que não precisa
nem estipular meses... pode deixar, que ele vem estudando de acordo com a necessidade, à
vontade dele. E o quê ele vai compreender não tem limite, realmente, se é um mês, se são dois
meses não tem limite, a princípio é mais uma proposta...
F: Fernanda, a aula para os iniciantes da faixa etária inicial de 5 a 8, ou de 5 até 10,11
anos, como você divide a aula? Você dá uma hora direta e como você divide em termos
assim : toda aula você trabalha um estudo técnico, o repertório, uma escala, um arpejo,
sempre um conteúdo técnico e o repertório, como que você...
FF: (Interrompendo) Bom, eu normalmente venho para uma sala de aula, procuro fezer uma
atividade de aquecimento, uma atividade técnica plausível, aquele exercício, uma atividade
nova,criando a escala ou criando um recurso no instrumento e a música, para que ele possa
executar com mais facilidade. Dentro da música, marcar toda fraseologia, toda morfologia da
obra né?, apresentar para o aluno a parte harmônica, aonde estão as curiosidades harmônicas
sempre, porque ele sempre vai buscar. Desenvolver uma atividade comum a ele, desenvolver
atividades de acompanhamento, extras às atividades que ele está desenvolvendo. Uma linha
melódica passa a ser um duo, uma linha melódica passa a ser um trio, e aí por diante, para que
ele possa discorrer melhor, as curiosidades musicais dele e um interesse maior no estudo.
F: Eu queria saber quais são os profissionais da área do ensino do violão, que você
destacaria o trabalho com crianças, aqui em Goiás ou no Brasil? Que você acha
interessante o trabalho com crianças?
FF: Qual a escola que eu poderia...
F: Não, um profissional... o trabalho de fulano é interessante...
FF: Olha, eu na realidade,na formação infantil, eu não posso falar assim... porque eu não
conheço. Aqui em Goiânia eu sei de vários professores, você mesmo trabalha com crianças e
têm excelentes resultados, têm a Graça que já trabalhou com crianças e eu acho que hoje nem
trabalha mais, a Cida que foi aluna dela com a Ártemis, trabalhavam com crianças e tinham
excelentes resultados. Normalmente estes trabalhos foram feitos por estas pessoas. Tem
professores que não gostam de dar aula para iniciantes, de uma maneira geraLE tem
professores que não se habilitam para dar aulas para crianças e nem se especializam na área
infantil. Por quê? Só entra uma criança nas mãos dele quando ele já é um músico,né?Então,
ele tem um desenvolvimento muito pleno. Eu não posso apontar um trabalho dentro do Brasil,
que possa se destacar. Tem o Henrique Pinto, o Isaías Sávio, não é que eles vem se
destacando em linhas de faixa etária, eles vieram se destacando no desenvolvimento
violonístico em uma concepção geral, ampliando o número de pessoas interessadas na
formação do instrumento, ampliando as pessoas interessadas em ouvir o instrumento, em
tocar o instrumento bem. Mas não assim, exclusivamente infantil, eu não conheço o trabalho
assim.
F: E, então a próxima pergunta é em relação a isso mesmo, porque agora que eu estou
fazendo esta pesquisa, eu tenho tido muita dificuldade em achar pesquisas na área de
violão (né?) nas universidades e pesquisas na área de violão envolvendo crianças (né?).
Então, você acredita que há uma grande lacuna nas pesquisas envolvendo o violão e a
sua importância, porque eu acredito que as pesquisas vão surgindo quando a gente
começar a relatar nossas experiências pessoais, refletir... As pessoas só fazem na prática
e não deixam o legado escrito. Então fica um hiato, fica uma lacuna porque ás vezes você
está fazendo um trabalho aqui, e tem outra pessoa que faz o mesmo trabalho e você não
tem o conhecimento (né?) do que aquilo que você está fazendo é válido e que o outro...
163
FF: (Interrompendo) Bom eu acho o seguinte : eu realmente não vejo metodologias, com
exceção do Henrique Pinto, São Marcos, Oswaldo Soares, que já é um passo bem mais
adiantado, vamos citar o método Iniciação : Isaías Sávio, Henrique Pinto, Maria Lívia São
Marcos no país, que lançaram métodos mesmo de formação e Gruguer (?) , eu esqueci o
primeiro nome dele, que também tem um estudo de violão iniciação. Os outros por exemplo,
são, a nível nacional, a nível de edição de método mesmo, eu não tenho noção.
F: Eu digo pesquisa de professor para o professor né? Relatando as experiências, por
exemplo o quê você acabou de me falar, devia publicar tudo, entendeu?
FF: Ah, em questão de publicação...
F: De publicações dos professores, de pesquisa com os seus alunos, né?
FF: Bom, esta questão é sempre relevante em seminários, em palestras, em workshops, em
festivais, essa questão sempre é relevante, mas mesmo assim, as questões relevantes nunca
ficam, com exceção de Porto Alegre em nível internacional que eu fiz, é que se trabalhavam
mais com iniciantes e esses iniciantes poderiam ser crianças, mas que eu me lembre, eram
crianças de 10 anos para cima que faziam estes cursos e nós dávamos aulas. Inclusive o aluno
auxiliava o professor dando aulas para adultos para aprender trabalhar os iniciantes né? Mas
essa aplicação, mas essa troca de informação sim, existia...
F: Mas existe muito mais oral, e não escrita...
FF: Não escrita...
F: Então isso é uma grande... porque se perde... com o tempo as coisas vão se perdendo,
quem não viveu uma época não é, de repente acha que está fazendo algo novo, mas está
reiventando a roda porque...
FF: Mas não é, por exemplo, eu fiz um trabalho de cadernos de estudo para iniciação para o
Mvsika - Centro de Estvdos, você mesmo participou, ali foi uma coletânea, inclusive foi
escrito no caderno que aquilo ali iria ser feito de acordo com a realidade e o crescimento da
própria escola. Olha passou o João, passou o Zé Eurípedes, passou Jonathas, passou
Wesdarley, passou Maria das Graças, passou Oscar Wilde, passou eu, passou uma série de
gente, Paulo Sérgio...
F: Cida, a Ártemis...
FF: A Cida e a Ártemis, eu não trabalhei com a Cida e a Ártemis, mas comtodos os outros eu
trabalhei. Trabalhei com você, trabalhei com várias outras pessoas que agora não podem ter
vindo o nome. O Clévio trabalhou lá a vida toda, mas eu nunca trabalhei com ele né? É outro
também que editou métodos né? Eu fiz estes cadernos de estudos lá, são cadernos de estudos
para a iniciação, toda base de iniciação... tem vários mas, não nacionais. O Reginaldo Smith
Blinder, tem o Thomás Camacho, tem a Violeta Gainza, tem, nossa tem muita gente, tem
muito nome de iniciação, tem os nossos trabalhos, tem trabalhos de experimentação, dentro
dos trabalhos que você aprendeu antes de ir para a faculdade, trabalho dentro da faculdade,
trabalho depois da faculdade, então aquilo foi uma experiência de eu relembrar os tempos que
eu vivi no meu meio profissional. Mas no meio profissional existem estes relatos como você
feia, verbais e não escritos, mas constantes, porque uma pessoa não trabalha só e ele vai saber
das condições dos alunos dele, ele percorre todos os corredores de formação musical, para que
ele saiba, toda a dificuldade no instrumento, se ele tem uma dificuldade em ritmo você vai
conversar com o professor de ritmo para saber como ele é ali dentro, se ele tem uma
dificuldade de harmonia você corre para saber que é, como ele está sentado ali dentro, para
saber se a dificuldade é em relação ao instrumento, é em relação ao professor, ou em relação
àquela disciplina, que quando chega na hora do instrumento , na aplicação do instrumento, ele
não se dar por conta. Então esses relatos existem muito mais verbais ou então para interesses
164
de desenvolvimento de um aluno, dentro do ambiente escolar, mas fora isso, são poucos, tem
em nível de formação musical.
F: E Fernanda, como você relata...essa aí é uma coisa assim, mais solta... Como você
descreveria sua experiência em lecionar para crianças, o seu papel?
FF: Eu acho maravilhoso. Eu não sei como poderia descrever não. Foi muito agradável ter
feito estes cadernos de estudos para o Mvsika, foi muito agradável eu fazer um caderno
individual para cada aluno meu, eu sempre fiz, principalmente meus alunos particulares, eles
tinham um cademinho, digitava a máquina lá, batia a máquina o quê era para escrever, para
não escrever muito a mão, porque muitas vezes ele não entendia a letra, mas achava muito
interessante porque cada um se apercebia de uma coisa, cada um tinha um caminho, um
recurso, até hoje eu trabalho de forma global e personalizado. Porque se eu for trabalhar só de
forma globalpara um instrumento é ruim porque ele não entende um total e entende o quê ele
quer também, né? Tento chegar próximo a isso, mas eu acho um trabalho muito compensador,
gosto de trabalhar com crianças, principalmente crianças que gostam de estudar o
instrumento, sabe? A turma que eu trabalhei com você, a sua turma lá no Mvsika, era uma
turma linda, crianças superdisciplinadas , disciplinadas mesmo, uma disciplina que nem os
adultos têm... mas é muito gostoso. Por exemplo, comecei dar aula como professora substituta
na Universidade, é um trabalho superinteressante. È um desafio. Tem até turmas de 10 alunos,
alunos de nível superior que sabem música, mas que ainda são analfabetos no instrumento,né?
Então, um toca bateria, cada um tem uma concepção : ah isso ta rápido, isso tá muita matéria,
isso eu não sei, e querem que as coisas caem beijadas nos dedos deles, e que eles já saibam
tudo. O professor não pode ser...
F: Ele não pode se ro tutor...
FF: Ele não pode fezer milagre,né? Mas eu acho fantástico, para cada lugar que você vai, é
tipo de experiência. A única coisa que eu acho prejudicial ainda, é o quê nós falamos no
imcio, a pouca credibilidade do aluno que senta para estudar,né? Porque o instrumento você
não aprende de um dia para o outro. Falam do violão, porque o violão ainda não é, até hoje
não se incorporou dentro meio acadêmico, da forma que deveria ser absolvido. Você pode
observar : você vai estudar piano - Ah! Quero estudar piano. Qualquer coisinha você está
tocando do jeitinho que mando o figurino, por quê? Porque eles já determinaram e já
padronizaram o quê é aquele sistema de formação é aquilo ali. Mas existem os pianos que não
são de formação de bacharel, são de formação mais superficiais, mas os princípios ... são os
mesmos. Você não vai chegar lá com um dedo e vai tocar o quê você quer. Então, eu acho que
as pessoas deveriam compreender primeiro,o aluno sentou ali, ele tem que ter : postura para
saber o quê ele tem que fazer; segundo, o sistema tem que felar, você tem que conhecer
bastante o sistema para saber como trabalhar...
F: Fernanda, e você tem alguma sugestão para o aprimoramento do ensino do violão em
Goiás? Você já tem um papel muito importante,você sempre, as atividades que a gente
falou aqui, você sempre está trazendo pessoas através do "Encontro de Violão e
VioIonistas",né? Sempre tentando aglutinar mais gente em volta do instrumento...
FF: Qual o trabalho do violão e violonistas? Você felou em iniciação, outra pessoa que
também faz um trabalho de iniciação bonito é o Rogério Bicalho. Ele trabalha com crianças,
especialista em crianças e o Judson de Castro, sempre levaram trabalhos belíssimos, também
infantil. Bem, voltando a sua pergunta...
F: Você tem alguma sugestão para aprimoramento do ensino? Porque alguns
professores acreditam que apesar de ter o encontro, apesar de ter ... ainda falta um
movimento forte, em relação aos professores do instrumento em Goiás, em termos de
intercâmbio, de encontrar, talvez por falta de tempo...
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FF: (Interrompendo) Olha, eu acho o quê? Por exemplo, teve vários encontros, movimentos,
quinze anos que eu coordeno esse Programa "Violão e Violonistas Goianos" , já fiz dois
movimentos nacionais de violão, já participei de várias outras atividades, mas tinha outro
movimento, era o CEPET, CEPEC...
F: É o do Wesdarley
FF: Do Wesdarley, que também era uma proposta muito boa aqui dentro da cidade, mas você
sabe o quê que é? Todo mundo aqui é muito ocupado. Parece que encontrar uma pessoa aqui
dentro é mais difícil que convidar uma pessoa para vim aqui. E depois, as pessoas na hora que
nós vamos nos unindo, os ideais são...
F: Diversos
FF: Eles são diversos, mas deveria ter um programa para essa diversidade. Então, com isso
deveria que ser um projeto mensal, projeto ou uma vontade de desenvolver o instrumento
coletivamente. Você apresentar seus trabalhos para mim, eu apresentar os meus pra você,
depois apresentar para fulano, para beltrano, para ciclano. Por exemplo, o programa na rádio
universitária, que foi apoiado desde o início pelo atual diretor da rádio que é o Pedro Paulo
das Chagas, é o programa fica lá, o convite é aberto, é semanal, e passou para duas horas de
programa tem dois anos, o programa tem quatro anos. Então, mas é um programa de pouca
freqüência, se você não vai atrás, você não consegue. Então o quê que quer dizer isso? É
realmente uma falta de reciclagem da gente. Se nós tocássemos mais entre nós mesmos talvez
surtisse o interesse de um crescimento comum em relação ao violão. Não que nós
precissássemos ter a mesma visão do instrumento,né? Talvez seja isso. Agora, que a região é
pobre, é, em grandes instrumentistas, de muitos grandes instrumentistas. Tem grandes nomes
no violão, mas já são nomes assim, que vão formando, como é que se feia? Um nome a muito
longo prazo, né? São dois que passam... um que vem lá de vinte anos atrás, né? Mas vamos
ver, se já conseguiu o nível superior aqui dentro do estado, já puseram na universidade...
Infelizmente, o quê dificulta também é o não reconhecimento de escolas de l°e 2°grau na área
de Música, isso também dispersa. Porque se você não tem formações de nível desde o nível
primário até o superior, o quê que é que o nível superior vai começar , e querer que ele
comece já com uma visão e de capacidade a nível superior. Ele não vai ter. Então, todo nível
superior, não do bacharel, mas de curso normal, como é o caso do que eu dou aulas para o
curso como disciplina complementar, eles vão sair como uma formação de Io e 2o grau,
né?Isso mesmo se eles quiserem trabalhar, se eles quiserem...
F: Fernanda, agora para finalizar você acredita que este quadro, vamos voltar naquele
ponto, se deva ao violão por ser um instrumento recente, que muito tempo foi
marginalizado, a maioria dos professores no início do século trabalhava de maneira
autodidática,né? Então, a escola do violão, ainda é muito, vamos dizer assim, em relação
a outros instrumentos, muito frágil,né? algumas pessoas tem um conhecimento teórico e
técnico...
FF: (Interrompendo) A Literatura do instrumento é fraca.
F: Mas por exemplo, eu quero chegar no ponto seguinte, por exemplo : tem vários
professores que falam : Eu sou professor de violão popular. E ele aprendeu sozinho o
instrumento, como você mesmo diz, a técnica, tem alunos meus que querem aprender
violão popular. Então você fala : vem cá, vamos aprender leitura, vamos aprender
técnica do instrumento que é a mesma, e depois vaio fazer este trabalho de
acompanhamento, de cantar ,né? quê eles querem fazer, mas muitos professores, pelo
violão ser um instrumento popular, eles tocam violão bem e já sai dando aula, propondo
para crianças de cinco anos, ou seis, sete anos, fazer acordes, fazer né?, sem postura, sem
nada. Então, isso acaba que o violão de concerto, eu acredito, não é conhecido na
166
sociedade, a sociedade não sabe... Muitos alunos meus : professora, toca uma música, eu
não sei, como é que é o violão clássico, violão erudito tal, porque não tem
conhecimento...
FF: Bom eu acho o seguinte Flavia, essa questão de escola, eu aprendi uma vez com um
violonista famoso, escola é uma coisa assim, não que eu não considere, não acredite na escola.
Porque a escola é um global. A literatura de um instrumento é uma literatura mais fraca em
relação a outros instrumentos como o piano, o violino, mas é uma literatura mais acessível
para outros instrumentos, voltada a outros instrumentos, né? que poderia se equiparar. Outra
coisa é o seguinte, eu acho que todo mundo tem sua oportunidade de ensinar, acho que todo
mundo tem essa oportunidade de passar o quê sabe. Agora dizer se é erudito, se é popular, se
é clássico, quê que ele é, se é culto, se não é. Ele deve é passar, se aperceber das coisas vitais
para o desenvolvimento de uma boa de uma boa execução. É ele estar consciente e pleno que
o instrumento, ele não é pra ser visto como um instrumento singular,e sim como plural. Ele
não é para um instrumento só melódico, é para um instrumento harmônico, ele é um
instrumento para arranjo, ele é um instrumento que ele tem uma série de regras para se tocar e
para facilitar a execução, não quer dizer que você tem que seguir todas essas regras, mas se
você tem cinco dedos, quantos mais você puder utilizar, melhor. Se você tem seis cordas,
quanto mais você puder utiliza-las, melhor. Agora o ruim é o "quem-quer-pão" na nossa vida
e acabou, todo mundo ? e se nós não desenvolvermos o estudo, e os nossos interesses
também, vierem à tona, não vai crescer nunca, não vai crescer nunca. Então, não interessa se é
erudito, o quê que é o erudito, o quê que é o clássico, se for analisar pelo clássico você só vai
tocar quem ? Carcassi, Carulli, Sor, vopcê vai tocar esse pessoal, então, se fala assim, Luiz de
Narvaes, já é uma transcrição, você feia Tárrega, já estou no Modernismo, já estou passando
para o Contemporâneo, se feia que vai tocar Villa-Lobos, já estou saindo do Modernismo, já
estou no período contemporâneo, você vai tocar Abel Carlevaro, se vai tocar Ahrio Diaz, se
vai tocar Antônio Lauro, se você vai tocar Britten, se vai tocar Leo Brouwer, se você vai tocar
uma série de compositores que vieram fezendo a música do século XX. Então o quê que é
isso? Isso vai ser gosto. Se não está no meio acadêmico vai ser gosto, não vai ser obrigação. E
isso ele vai ter que ouvir muito, todo músico feia isso para outro músico, principalmente para
iniciante, se ele não ouve ele não sabe o quê vai fezer,e se lê não toca ele não pode dizer de
fato se ele gosta ou não gosta. Porque ele não sabe por onde o dedo dele vai passar. Ás vezes
ele ouve a música : nossa a música muito chatinha! Quando você vai tocar ela é tão bem
digitada e cai tão bem, foi tão bem escrita para o instrumento, que ela passa, não é que ela
deixe de ser chata, mas ela passa ser agradável percorrer por ela, né? Então eu acho que nós
devemos ler quanto mais, estudar quanto mais, apreciar o caminho que os nossos dedos
possam percorrer dentro do instrumento e seguir pra frente né?
F:Então tá Fernanda, eu agradeço muito esta entrevista, muito obrigada!
FF: Muito obrigada você pela atenção e por ter me escolhido também.
F: Obrigada!
F: Primeiramente eu queria de saber qual que é, qual que é a sua formação, qual que foi
o seu primeiro contato com o instrumento? Como se deu esse primeiro contato?
167
R: É, eu conheci a, o meu primeiro contato foi em 1990, foi o meu primeiro contato com
música né. Em 1990, eu estudei, eu comecei estudando com o Prof José Eurípedes. E estudei
com ele um ano, mais ou menos, e eu, o meu interesse maior, estudando com José Eurípedes é
violão clássico,né, mas o meu interesse maior nesse período era, era violão acompanhamento.
Eu queria cantar e me acompanhar. Aí logo depois eu procurei um especialista nisso, né, que
foi o Prof Barroco. E estudei, mais ou menos com o Prof Barroco uns dois anos, e,
acompanhamento, arranjo e tal. E a partir daí eu estudei sozinho até mais ou menos 1994,
quando eu conheci a Fernanda Furtado, no Gustav Ritter, ela me incentivou pra fezer o curso
superior de violão clássico, ela me incentivou e me preparou pra isso. Ai em 1994, eu entrei
pra, pro curso, formei em 98, né, fiz o curso superior de violão, na classe do Prof Eduardo
Meirinhos, e nesse período eu tive contato com, com grandes do violão erudito, tive contato
com o Henrique Pinto, com o Paulo Bellinatti, com o Paulo Porto Alegre, com o Edelton
Gloêden, Everton Gloêden e outros. E, agora, fora o violão, eu tive contato também nesse
período, com a Prof Denise Felipe, técnica de canto lírico, e com o Prof Faustine, também
técnicas de canto lírico. É, com o Prof Estércio Cunha, eu tive, eu estudei harmonia e
composição, harmonia funcional com professor.
F: E Rogério, como é que você, como você iniciou o trabalho como professor de violão?
R: Como professor eu iniciei, um pouco antes de entrar pra universidade, eu comecei a dar
aulas pra alunos, um pouco antes de entrar pra universidade. E de lá pra eu não parei mais.
F: E a faixa etária que você mais trabalha é a partir de qual, qual é o seu público maior?
R: Eu trabalho, não sei se por coincidência ou o quê que acontece, mais a, a grande procura,
assim, são adolescentes, né, de 12 anos pra, pra cima e adultos. Eu tive poucas experiências
com crianças.
F: E você acredita que com o passar dos tempos, das informações, a maneira de você dar
aula, trabalhar com o aluno modificou?
R: Ah, com certeza, com o passar do tempo você está sempre, sempre mudando, aprimorando,
né, eu procuro estar sempre melhorando, né. E...
F: Como quê você assim, o público que você dá aula de violão clássico, né, violão
tradicional e também da aula de harmonia e acompanhamento, né. Então, como você
divide a sua aula? Trabalha exercícios técnicos comuns...
R: Deixa eu explicar aqui a minha metodologia. Então, é, primeiramente, o aluno ele não tem
muito contato com música e chega sem saber bem o quê ele quer. Então, primeira coisa, você
já deixa claro pra ele, o quê que é o violão solo, o dito violão clássico, o quê é o violão
acompanhamento. E como eu tive algumas aulas de técnica de canto, então eu tenho uma
noção desta parte, né, e tenho uma percepção musical também, é, eu trabalho muito percepção
musical, eu trabalho muito, trabalho muito com o ouvido, né,não só com a leitura, mas
trabalho muito com, o ouvido e então, fica fácil pra mim fazer uma avaliação do aluno, nessa
parte de percepção musical. Porque muita gente chega às vezes, querendo o acompanhamento,
querendo cantar e de repente não tem condições nenhuma de cantar porque não tem um
ouvido afinado, né. O canto e o violino são, são, é, partes que você tem que ter um ouvido.
Tem que ter, não basta só treino, né, como é feito com o violão, ou piano, não é só
mecanismo, tem que ter uma coisa a mais. Então, eu já avalio e já encaminho o aluno de
acordo com interesse dele, já deixando ele bem consciente, né, e fezendo um trabalho de base.
E ele escolhe se ele quer fezer o acompanhamento, se ele quer cantar e se acompanhar, eu já
começo encaminhar o trabalho pra esse lado né. Sempre eu priorizo pra que toque, em relação
ao violão, a técnica da escola moderna do violão, isso pra mim é fundamental, pra mais tarde
o aluno não ter limitações né. Tem alguns compositores que eu vejo, por exemplo, o João
Bosco, o Toquinho, o Geraldo Azevedo. E tenho o violão mais elaborado, que se o aluno não
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tiver um contato com o violão clássico, dificilmente ele vai conseguir executar as músicas
com os arranjos originais. Então, eu já deixo isso claro.
F: Você falou que você então segue a escola moderna de violão, né? Então, quais são as
metodologias que você utiliza, que você se baseia no seu trabalho?
R: Certo. A parte técnica eu começo sempre com exercícios progressivos, né, de coordenação
motora, não é, arpejos de mão direita, né, digitações é, com mão direita, esquerda, escalas
cromáticas (...) e sempre é, buscando a qualidade do som, né, sempre deixando, passando
gravações, dando referências prós alunos, pra ele ter noção de como deve ser o som e eu to
falando assim, sempre direcionando né, pro clássico ou pro popular, mas esse trabalho é, de
técnica é em comum. Tanto pro clássico ou pro popular, que vai ser trabalhado anteriormente,
pra ter o repertório, né.
F: E, e os métodos que você utiliza?
R: É, eu utilizo geralmente, tem esse método do Henrique Pinto, né, pro violão clássico,
"Iniciação ao violão" , vol 1 e 2, "Curso Progressivo", algumas coisas do, do Othon Gomes,
aqueles, aquela coletânea, iniciação 2o volume, tem muita coisa interessante lá, bem
progressivo e, é, também tento muito, que eu procuro fezer sempre, é despertar o interesse do
aluno. E por mais que a gente seja, se o aluno não está gostando do que ele toca, dificilmente
ele vai continuar né. Eu posso até traumatiza-lo possivelmente. Então, tenho muito cuidado
com isso, eu tento mostrar coisas boas, pra que ele (...) e tento sempre trabalhar também de
acordo com os interesses deles.
F: E ainda nessa área dos métodos, você acha que eles são adequados? Que no caso a
nossa pesquisa é pra crianças, né, mas pro aluno iniciante você acha que, já pra faixa
etária que você falou de 12 anos em diante, você acha que os métodos são adequados ?
R: Eu acho que a gente sempre tem que fezer um complemento nisso, né. A gente tem sempre
que fazer isso porque às vezes até um aluno que vai se interessar pelo violão clássico
posteriormente, como no meu caso, é,se a gente já começa com, com aqueles métodos, como
eu citei, o "Iniciação ao Violão" do Henrique Pinto, ou coisas assim, você impõe músicas que
não são muito conhecidas, a gente corre o risco de além de não despertar o interesse do aluno
pela música, de repente eu possa até traumatiza-lo né?
F: Mas criar um público pelo menos, né?
R: E deixar ele assim : "Ah, eu não quero nem saber de violão clássico". Então, eu já, eu
começo é (...) Com o repertório que ele goste, que o aluno tem interesse. Por exemplo, uma
música popular, eu pego a linha melódica simples, pra me dar espaço ali pra eu, por exemplo,
com a tonalidade que a gente sempre deve trabalhar, conforme, que são mais simples que é o
Lá Maior, que eu tenho ali a Tônica, o A, a corda Ré que é a subdominante, e a Mi que é a
dominante, então eu tenho os bancos, né, então você pode fezer uma linha melódica, e separa
os baixos né, e fezer um solo com, com baixos, é, de uma música por exemplo, com letra, que
ele goste, né, coisas que são simples de, de fácil resolução técnica, né e musical.
F: E os instrumentos, em relação aos instrumentos musicais, você acha que prós alunos
que não tem um poder aquisitivo, que está iniciando e não sabe se vai seguir, você os
instrumentos disponíveis no mercado são adequados?
R: Veja bem, isso aí é uma questão bastante polêmica, mas eu acho que no meu caso, por
exemplo, eu trabalhei no violão 5 anos até entrar no, até o primeiro ano da, da, do curso
superior e mesmo com um violão simples, sem muitas condições, eu consegui tirar dele o
máximo que ele podia, né. Aí, quando ele dekou, quando ele começou a me limitar, aí, eu já
tive, já percebi claramente que eu precisava de um instrumento melhor. Então, eu acho que
esse processo ele é idêntico a qualquer outra, né, qualquer um vai passar por isso. Não adianta
também o aluno já começar com um violão excelente, começar com um violão caro e não
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conseguir tirar um som interessante, né. É mais, no nosso mercado hoje, a gente ta tendo
muita opção, né, de instrumentos. A gente tem violões aí de, na feixa de, a partir de duzentos
reais, duzentos e cinqüenta reais e dá pra fazer umtrabalho em dois anos tranqüilamente.
F: E pras crianças? Você acha que é preciso? Porque pra criança, o pequenininho não é
tão bom...
R: é, quando a estatura da criança é assim, menor, eu uso violões Di Giorgio, aquele n° 16,
aquele que tem o bojo um pouco menor, né, e às vezes eu peço até pra passar no marceneiro e
diminuir um pouco o braço, lixar um pouco o braço, pra ficar mais fino um pouquinho. E eu
tenho até um marceneiro que faz, que trabalha com isso, né, e porque infelizmente, pelo
menos aqui em Goiânia, é difícil, ter acesso a um violão sete, né, que (...), então esses violões
da Di Giorgio, eles não são muito afinados não, mas não são os mais desafinados também.
F: E, há uma lacuna né, infelizmente aqui em Goiânia, que supra esta falha, né?
R: Mesmo se tivesse, eu acho que dificilmente um aluno poderia lhe compensar
financeiramente...
F: E quais são as dificuldades que você mais encontra comumente em sala de aula com
alunos iniciantes? Quais são as dificuldades que você acha? O aluno não estuda, não se
dedica, o quê que você acha?
R: A coisa mais difícil que tem Flavia, na minha opinião, é a gente conseguir sempre manter o
aluno entusiasmado. Isto é um desafio, porque se aluno, se a gente consegue manter o aluno
entusiasmado, a gente pode, pode trabalhar assim, pode construir um palácio, né, com uma
base bem sólida. Então, se a gente começa a perder o interesse do aluno, além de logo perder
o aluno, ele vai de repente procurar um outro instrumento, né, ele vai feia : "Ah, eu não levo
jeito para música mesmo" . A gente é responsável pelo, pelo aluno.
F: Em relação ao estudo você acredita que a pessoa, o aluno não estudou então a culpa é
do aluno. Mas, a gente vê que modernamente no nosso mundo de hoje, os alunos tem
muitas atividades, então, você acredita que às vezes, com você mesmo disse trabalhar o
entusiasmo do indivíduo, conseguir trabalhar na aula algum conteúdo? O quê ele não
trabalhar em casa, talvez...
R: Com certeza, a minha aula, a minha aula, ela é sempre dividida em : revisão, né e
informação. Primeira coisa, quando o aluno chega a gente fez o que eu chamo de parte
técnica, eu vou revisar aqueles, aqueles exercícios né, sempre anotado, com metrônomo,
sempre progressivo, né. Eu feço e coloco pro aluno a visualização cromática da primeira...
deixa eu pegar o violão aqui pra mostrar pra você.
F:Tá.
R: Por exemplo uma digitação cromática, um exercício de coordenação, né, usando o
indicador e médio da mão direita, né. (Demonstrando) Agora eu começo na primeira casa,
sempre mantendo o pulso regular ou uniforme, e a medida que ele vai progredindo é, e
resolver esse, o exercício, eles são arpejados?, o som mais encorpado, né, a gente vai
aumentando a velocidade,né de grau em grau e a gente vai também é, cada vez, sofisticando
mais os exercícios, né, é, dificultando, aumentando o grau de dificuldade, (...) e sempre uma
parte da aula eu acrescento uns exercícios ou uma teoria, ou mesmo um repertório.
F: E Rogério, então, só voltar nisso, você acredita então, eu tive um professor o João
Maurício Galindo, que é responsável pelo método daquela orquestra né, que eu estou
trabalhando na UFG, de estudo coletivo, é iniciação instrumental coletiva. A primeira
pergunta, então, você acredita que no início o aluno, não é tão necessário estudar em
casa, mas aprender de maneira correta os ensinamentos pra depois, né. Através desse
método ele acredita que o aluno em alguns meses ele não precisa estudar em casa, indo
as aulas corretamente, mas aprendendo a postura, como sentar, como funciona o
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instrumento pra não estudar errado, não ter problemas. Então, eu queria saber a sua
opinião sobre isso, se você acha interessante ou não, e se você já trabalhou com aulas
coletivas, se trabalha ou trabalhou?
R: Trabalho com aulas coletivas. Com relação a isso é, a gente, agente sempre observa, a
gente conhece o aluno que trabalha em casae aquele aluno que trabalha em classe, né. Então,
eu acho que simplesmente, ter um padrão de ensino porque cada aluno, eu estou falando no
caso de aulas individuais, é difícil a gente ter um padrão. Tem um aluno que de repente fez o
dever de casa direitinho e tem aquele aluno que não fez o dever de casa, você não pode
chamar atenção dele, você tem que ter cuidado, né, pra até não, sei lá, criar um clima de
antipatia, né. Então esse aluno você trabalha o quê você acha mais interessante com ele e
praquele que faz o dever de casa, claro vai ter um desenvolvimento melhor. Porque eu
acredito que só em classe, não dá. Uma aula por semana, não sei, só se ele tivesse três, quatro
aulas por semana, aí sim, poderia estudar só em classe, entendeu? A minha recomendação pra
iniciante é pelo menos meia hora, uma hora por dia, fezendo os exercícios que eu passo, com
disciplina, com princípios de disciplina, eu acredito que aí, desenvolva.
F: E as aulas coletivas?
R: Agora, aula coletiva já é diferente. A gente tem lá na, eu dou aula lá na Oficina de Música
da UFG, e lá eu tenho turmas de, eu to com nove turmas, né, de cada nove turmas de níveis
diferentes, e mesmo, turmas de mesmo nível tem alunos bons né, assim alunos bons que são
aqueles que estudam, que tem mais interesse né. Então, eu procuro, é, fazer uma, selecionar,
deixar aqueles alunos que tem mais ou menos o mesmo ritmo, juntos né, pra um não
atrapalhar o outro, pra gente poder levar.
F: E você, qual é o número de aluno por turma?
R: Lá ta, embora eu seja contra, né, porque isso ta atrapalhando né, de 6 a 8 alunos. Eu acho
que 6 seria o máximo, mas por razões econômicas, a gente trabalha com 8 alunos.
F: E, você distribui também de acordo com a faixa etária?
R: No caso, do lá na UFG, a gente tem um programa né, o curso é dividido em 4 anos né, são
8 níveis, 2 níveis por ano. Então, a gente tem um programa que a gente tem que cumprir, né.
Aí no caso, essa aula como não é individual, ela é aula coletiva, eu passo notas, começo com
notas na pauta, (...), seguindo mais ou menos o método do Henrique, né, Henrique Pinto que
já forma o violão, seguindo aquele critério. Quer dizer que (...) repertório a gente começa a
partir do número 2, né, com esse, então ele trabalha por semestre só essa parte e sempre
consciente que a partir do livro 2, a gente vai começar, se não tiver essa base não tem como
tocar, né. Então eu já deixo isso claro, quem procura continua, né, com noções esperando pra
compreender esse sacrifício, mas, né, aí termina quando chega lá começa a perceber que
funciona, que é interessante,né.
F: Engraçado, você falou sobre esse sacrifício,que eu, uma das perguntas seria essa:
"como fazer, como você faz o estudo de técnica sem um sacrifício, sem um martírio, né?
Por que com os alunos (...) sempre alego prós meus alunos que é necessário, quer dizer o
arroz-feijão. Você como arroz-feijão todo dia, então a técnica seria o arroz-feijão,
porque gradativamente vai ocupar o menor espaço na vida do aluno mas sempre
mantendo aqueles exercícios diários, né"
R: (interrompendo) Justamente. E eu tenho feito e eu vou sempre (...) também, né,
manipulando os alunos. Eu sempre toco alguma coisa, (...)
F: (interrompendo) é o modelo, né?
R: É. Euvou sempre deixando eles, assim,curiosos com isso
F: (interrompendo) entusiasmados...
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R: (...) Talvez alguma coisa nesse sentido até vá, vá, vá ter um resultado assim significativo.
Coisa que eu não tenho assim,eh, no atual momento conhecimento nenhum. Então eu sempre
dispenso o aluno com menos de 11 anos né, e sempre dispenso, eu recomendo né, eu
recomendava a (...), eu sei que você tem um trabalho assim, a Lílian que parece que também
tem um trabalho assim. Mas eu mesmo sempre, e a minha opinião, por enquanto, ainda é que
o aluno deve começar a estudar a partir do momento que ele já está alfabetizado, né, pelo
menos já tem uma estatura, já tem um pingo de força, um pouco de força para poder oferecer
um resultado. De forma que ao estudar tenha um resultado significativo, né.
F: Rogério, e você acredita que há um preconceito, sentiu na faculdade. Porque assim, o
que eu sinto é que a nossa escola violonística ainda está aquém das outras em termos de
homogeneidade, cada um dá aula de um , aqui não, aqui em Goiânia até que os
professores são, tem já feito cursos, seminários e tal, mas o violão sempre foi feito muito
posto pra fora da universidade, né. Ele entrou na Faculdade no Brasil em 1940 com o
Isaías Sávio na
R: (interrompendo) Eu sei.
F: Então por ser um instrumento recente ainda falta uma, uma base sólida né, e uma
aceitação por parte até mesmo dos outros profissionais da música em transcreverem
para o violão, né. Então o que você acha que isso influencia no ensino, porque a maioria
dos alunos que procuram a gente, eles não, às vezes, os meus , meu caso, os que não
começam criança, eles não conhecem o repertório do violão clássico, eles não conhecem,
nunca, às vezes, nem viram um recital de violão clássico, a referência é o violão popular,
um violão de acompanhamento de canto,né.
R: É hoje em dia né, o violão é um instrumento de fácil aquisição, né, e relativamente barato,
então isso, com certeza, gera uma grande procura e além da influência de estar na elite da
música popular, da elite do pop.
F: (interrompendo) do pop do (...) que tocam né
R: do pop do (..) que tocam né. Você vê isso até na música comercial, você vê isso numshow
do Chitãozinho e Xororó, sempre eles tocam um violão, ou sei lá, alguémtoca com eles (...)
F: (interrompendo) O violão é realmente o instrumento mais popular no Brasil...
R: Uma música que fez mais sucesso tem um violão, então todo mundo, a MTV sempre tem
um violão. Então a grande procura (...) para o público do violão está sempre no interesse do
aluno: "Ah, eu quero ser um artista! Eu quero tocar no Araguaia, eu quero tocar nas festinhas,
né"
F: Então é por aí né?
R: Eu acho que é por aí
F: Rogério, pra finalizar, como você descreve sua experiência de dar aula, né. Se é uma
coisa que, o que você acha do seu papel, né, como professor assim com seus alunos e qual
seria a sugestão que você acha pra aprimorar, pra melhor o ensino do violão em Brasil e
em Goiás, especificamente.
R: Bom, primeira coisa, assim, eu tenho orgulho de ser professor de violão e tenho sempre
interesses de, sempre aprendendo pra, prós meus alunos terem acesso sempre a informações
mais interessantes, né. Fora.... a segunda pergunta seria?
F: A segunda pergunta seria o quê que você acha que, eu acho, eu comecei a estudar
violão em 83, criança ainda, com a Fernanda Furtado né, com o Clévio, com esse
pessoal, do Centro Livre de Artes e eu tenho notado que da década de 90 pra cá, com os
encontros Violões e Violonistas, com a vinda do Eduardo e com esse processo, tem tido
um resultado muito bom. Os professores estão mais engajados estão sempre buscando,
173
fazendo cursos, procurando saber o trabalho de outros professores. Então o que quê
você achaque seria necessário para aprimorar ainda mais, na sua opinião ?
R: Bom, é, primeira coisa, eu acho, eu acho que tem uma grande deficiência de métodos, né,
de violão. E veja bem, hoje, bom pelo menos 90% da procura, né, hoje em termos de música
que seria pra aula de violão é em cima do violão acompanhamento, do popular. E, isso eu não
sei se é a crise da música erudita,né, no violão, ou...
F: ou se as pessoas também devem ser...
R: (Interrompendo) É, isso também está ligado a naquilo que eu te falei do sonho, né, sei lá,
do brasileiro de ser um artista, né.
F: o quê ta na vida dele, o quê ta na vida dele. A música clássica, infelizmente, não ta na
vida dele.
R: É, agora, eu acho que devia ter, deveria ser elaborado, sei lá, alguém poderia pensar num
trabalho de, em cima da música popular, solada até né. Métodos com coisas mais conhecidas,
né. sem, com o mesmo, com o mesmo contexto técnico e nível musical que tem essas músicas
do Sor, do Carcassi. Poxa, o Sor e o Carcassi nessa época, a música deles era o que rolava na
época...
F: (interrompendo) era popular né?
R: Era música popular, né. Hoje acabou. Assim, hoje a gente tem tanto acesso a gravações,
hoje é tão mais fácil de divulgar os trabalhos, mas parece que não tem ninguém assim, eh,
fazendo alguma coisa, se tem não consegue divulgar né. Então, eu acho que pra, pro violão
clássico ter um (...)ter uma vida maior, ter mais, um público maior, ninguém começa pelo
mais difícil, todo mundo começa escutando música, música popular, todo mundo começa com
a coisa mais fácil de ouvir, e na medida que você vai entendendo aquilo, você vai buscando
coisas mais complexas, né, e outra coisa no violão, todo mundo quer conhecer o violão
acompanhamento, quer, quer cantar e depois que supera aquela fese e começa ter acesso a
músicas instrumentais e começa achar bonito e de repente acha que ele quer violão clássico e
não o violão popular.
F: Ô Rogério, então, eu também, geralmente eu falo, eu não falo mais violão clássico e
violão popular, eu falo violão acompanhamento, né, ou violão solo, eu não sei se solo
seria...
R: Eu acho que solo é o mais interessante.
F: Porque o quê eu acho que tem acontecido, e deve se conscientizar mesmo, os
professores, que o instrumento é o mesmo é o violão.
R:È.
F: E que os alunos de violão se quiserem estudar violão popular, clássico, porque não
passa, olha, eu faço em cima da partitura uma análise com o aluno colocando as cifras
lá, na música do Cano, ou do Carcassi. Eu coloco, "Olha isso aqui é Sol, é o G, olha esse
acorde aqui é o C, é o DO", né. Então, eu acho que falta também, por parte dos
professores, esclarecer que o violão é um só, a técnica, que a gente chegou a conclusão do
quê que eu acho, é uma só.
R: Claro.
F: O quê modifica é o repertório, né.
R: Isso mesmo.
F: Tanto é que a harmonia, a gente faz acordes nas Pavanas, os acordes em bloco, então,
o quê é diferente é a linguagem no instrumento e a técnica...
R: (Interrompendo) Eu acho que uma coisa mais ou menos assim, né, quando o aluno ouve:
(Toca um trecho de "Andante", Henrique Pinto), geralmente são alunos, então, tecnicamente é
igual: (Toca um trecho de Asa Branca, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), né?
174
F:E
R: Ta entendendo. Eu acho que falta isso.
F: Relacionar.
R: Relacionar. Pessoas pegarem solos de, de músicas populares, de música mais, que pelo
menos o aluno já ouviu, com grau de dificuldade é, similar aos métodos que a gente tem hoje,
de violão clássico, né. Sempre colocando de umjeito progressivo como o Henrique Pinto, tem
esse cuidado né? Sempre ele faz o método pra você passar por aquele método, no próximo
método você já vai ter uma base, né. Acho que devia ser feito isso, com temas de músicas
novas, né.
F: Que está mais na realidade do aluno.
R: E a nossa cultura musical é muito interessante. Tem muita coisa boa.
F: Então Rogério, você quer deixar algum recado. Alguma mensagem, alguma coisa?
R: Bom, eu acho, eu quero te parabenizar, né, eu acho que é muito importante esse trabalho
que você está fazendo né, e a seriedade que você ta tendo né, e eu espero ansioso pelos
resultados, né, assim que você terminar a sua monografia né, na especialização, eu espero que
você consiga publicar isso, e vai ser, vai ser de grande importância para os professores de
violão, com certeza.
F: Então ta Rogério, muito obrigada!
F: Olá Clévio, boa tarde! Eu queria saber, primeiramente, qual que foi o seu primeiro
contato com o violão e com a música em geral?
C: Bom, a coisa é meio, meio complicada Flavia e fácil ao mesmo tempo. Porque eu nasci no
meio de música, o meu pai era instrumentista, era maestro de bandané, então, o meu primeiro
contato foi em casa, talvez quando tinha 2, 3,4 anos, né.
F: É, desde criança, desdebebê.
C: Desde bebê. Mas eu comecei a pegar entusiasmo, gostar da, logo cedo. Eu creio que com 7
anos, eu, eu já me interessava, não aula mesmo. O meu primeiro professor foi o meu pai, e
que eu comecei termo, que eu interessei mesmo eu devia já ter uns 12 anos, né. Mas já tocava
acompanhamento, eu fazia sozinho, fazia sozinho. Antes disso, eu tive o violino, comecei a
estudar violino, também com papai, e depois, violino e violão, violino e violão até mais ou
menos 15 anos, 16,17 anos, aí...
F: Decidiu pelo...
C: Decidi o violão, queria o violão. Até hoje...
F: Já, já, tem uma estrada. E como você iniciou o trabalho como professor de violão?
Foi cedo também? Como é que foi?
C: Foi, eu era de menor ainda, tinha uns 17 anos. Pessoal do interior, eu morava nessa época
em Morrinhos, onde eu nasci, o pessoaljá procurava, interessava em aprender qualquer coisa,
aí eu comecei a minha primeira aula.
F: É,as primeiras aulas, e...
C: As primeiras aulas, geralmente foi violão acompanhamento.
175
F: E como é que foi assim, quais foram as suas dificuldades?Ou se você teve dificuldades
no início pra dar aulas? Se foi orientado por um método ou se você foi orientado pelo
método que seu pai te passou, como foi isso, no início, você se recorda?
C: O Flavia, era uma coisa assim,muito á vontade porque eu comecei a lecionar pra amigos,
pra parentes, então uma coisa assim, muito natural né, então,ao mesmo tempo que eu tinha
dificuldade eu fui aprendendo naprópria dificuldade.
F: Na própria prática que você foi, né, sabendo o quê que dava certo, o quê que não
dava, né...
C: E lógico, à medida que, quando eu vim aqui pra Goiânia, que eu conheci violonistas já, eh,
há muito tempo aqui em Goiânia, o Zé Eurípedes, o Fontenelle e tudo, e cada vez mais eu fui
procurando, eu era bem mais novo que eles...
F: Você já chegou a ter aulas com algum deles?
C: Não, não.
F: Só o contato mesmo de colega, profissional ?
C:È.
F: E, e agora, você acredita que, logicamente com o decorrer do tempo, ouve uma certa
diferenciação de maneira como você da aula hoje né?
C: Não resta a menor dúvida.
F: Lógico e qual metodologia que você utiliza, quais métodos, o quê que você... como
você trabalha seus alunos?
C: O Flavia, a gente tem um método, tem um método que eu to, ta em fase de adaptação
ainda, de experiência, que o método é nosso mesmo, né, é3 o princípio básico do estudo
violonístico, né. Mas, é uma escola, vamos dizer assim, uma coletânea mesmo, uma coisa sem
compromisso, um estudo livre mesmo, um curso livre do violão. Porque eu, eu acho difícil, é
seguir pra diversos alunos, cada aluno vem, tem uma mentalidade, tem uma metodologia
seguindo do começo ao fim. Então, isso aí, vai muito do aluno, o quê o aluno quer, né, se ele
quer, se ele pensa em ser um profissional, se ele pensa em melhorar técnica, talvez até pro
violão acompanhamento. Isso aí é um pouco relativo, né.
F: E essa dificuldade, se acredita que hoje em dia é mais difícil? Que você trabalha com,
tanto o violão, vamos dizer clássico, né, o violão tradicional, o violão de concerto, e você
trabalha também com o violão de acompanhamento, ou como é que é?
C: Não, não, eu trabalho só com o violão solo, né. Ele vai pra onde ela quiser, mas é violão
instrumental, solo.
F: E você vê, enxerga dificuldade assim em relação do aluno se adaptar ao violão
clássico, principalmente as crianças? Você trabalha, você falou que atualmente não ta
trabalhando tanto com crianças menores, mas você encontra essa dificuldade? "Ah, não
professor, eu não quero, eu quero cantar?" Ou você desenvolve o trabalho naturalmente
sem muita dificuldade?
C: Ô, Flavia, eu gosto muito, mas muito mesmo de tocar para os meus alunos. Eu acho que
isso é como se diz: "a propaganda é a alma do negócio". Então é pautando, é mostrando que a
pessoa, quem ainda não tem entusiasmo com certeza ao conhecer, né, ou às vezes eu gravo
fitas, né, peço fitas tem uma coletânea de peças grande até, eu to gravando.
F: E em termos de técnicas, você utiliza algum método específico ou uma escola Tárrega,
Carlevaro?
C: Um pouquinho de tudo, como eu já disse depende muito do aluno, do momento, da
necessidade do aluno, eu não pego um livro de técnica, por exemplo, A Técnica da Mão
Direita e enfoco com um aluno que está iniciando, uma que ele não vai usar aquilo agora,
vamos resolver primeiro ele aprender tirar som do violão, pra depois ele preocupar com
176
técnica, primeiro a minha preocupação é o aluno tirar um som perfeito, depois a gente pensa
em um exercício de técnica, mas essejá é umestágio mais adiantado.
F: E pra criança?Você já deu aula pra criança a partir de qual idade?
C: Ah, 7 anos eu creio. Já tive vários alunos de uns 7 anos de idade, outros até mais novos.
F: Você se recorda como é que foi o trabalho? Como é que você....
C: (interrompendo) E totalmente diferente, né, Flavia, é complicado né. Normalmente a
criança, normalmente não, quase sempre não sabe o que quer. Então é uma coisa muito
delicada, complicada a criança. Eu lembro que eu primeiro entrava no mundo delas, pra
depois né, então às vezes brincava com piadinhas, esse tipo de coisas, pega, criança gosta,
adora pega, ficar fezendo peguinhas, agora estudar, agora olha essa notinha aqui, vamos tocar
e por aí.
F: Tem essa parte de jogos né?
C: Eu não cheguei a esses jogos específicos pra, né. Eu nunca ... tudo geralmente eu criava no
momento ali, qualquer brincadeira assim e ia trazendo.
F: E você acredita que os instrumentos musicais e os métodos, também, específicos pra
crianças iniciantes - criança que eu falo da faixa etária a partir dos 5 até os 10 - você
acredita que são adequados, os métodos e os instrumentos musicais?
C: Bom, eu acho que eu pessoalmente acredito que método nenhum foi feito pra ser seguido
só por ele senão não teria necessidade do professor. Eu acho que todos os métodos são bons,
depende lógico do professor, de como o professor lhe dá, o instrumento, eu não sei como eu
disse tem tempo que eu não trabalho com criança, quando eu trabalhava era com o Bontempo,
Pinóquio, né, que era próprio pra criança, eu usava muito isso né.
F: (Interrompendo) Era o Giannini n° 10?
C: Eu não lembro, era da Giannini, mas não me lembro o número, né. Então, inclusive, existe
aí uma teoria que a criança deve adaptar o instrumento, pra criança e tudo. Eu ,sinceramente,
não tive uma opinião formada nisso aí, se bem que experimentei, tentava e tal, muito relativo
isso aí.
F: E Clévio, você acredita que, no início, é necessário o estudo individual em casa por
parte do aluno?
C: Ah, não resta duvida...
F: Você acredita? Porque tem professores em São Paulo que acreditam que, e em outros
estados também como o professor José Maurício Galindo, que ele acredita que a criança
se ela começar estudar em casa e estudar de maneira errada, ela vai piorar de situação.
Então assim, ele acredita que no início a aula deve ser como um estudo dirigido, né, o
professor estudar com o aluno em sala, até que ele tenha maturidade suficiente para
estudar. Como que você vê isso? Você...
C: Bom, eu acredito, Flavia, que eu já sou meio radical. Eu penso totalmente de maneira
diferente. Eu acho que o aluno, a criança, ele deve conhecer o instrumento, ter o instrumento
como alguma coisa , vamos dizer, não um objeto de tortura, de obrigação, de ter que fezer
assim, né. Eu acho que é melhor ele brincar com o instrumento, conhecer, apanhar amor pelo
instrumento, né do que um professor dizer tem que fezer assim, assim, assim. Eu não vejo por
aí, isso é complicado, né. È relativo.
F: O professor tem que conscientizar o aluno que ele tem que estudar. Não é isso?
C: Estudar e incentivar ele a estudar corretamente, né. Não vejo porque que a criança, né,
criança vaiestudar errado em casa. Não. Se fez certo, se teve umasaudável, eu não vejo.
F: E Clévio, você acredita que o envolvimento dos pais, em relação aos alunos, nos
termos de estar acompanhando o desenvolvimento do aluno, no caso pra crianças que eu
estou falando na minha área, você acredita que é irrelevante, que, assim, é importante os
177
C: Tem o trabalho da Cida, eu conheço e gosto muito. A Maria das Graças, ela trabalha muito
com crianças também, você.
F: E no Brasil, você conhece o trabalho de alguém, ou fora de Goiânia que é
especializado em ensino do violão pra criança?
C: Pra criança? Não, eu conheci, mas eu não, não... Conheci a pessoa, mas o trabalho eu não...
F: Você não conhece, né? O Clévio, você acredita que existe uma lacuna, assim, existe
uma, um espaço vazio à discussões de metodologias por parte dos professores, e
pesquisas nas universidades? Você sente assim, uma falta de ver o trabalho de outras
pessoas publicados, publicar o seu, para ter uma, um maior intercâmbio por parte dos
professores em termos de técnicas de metodologias de ensino?
C: Seria, deixa eu ver se eu entendi a sua pergunta : uma troca de conhecimento?
F: É. Assim, se você acha que existe uma lacuna? Por exemplo, não há quase nada
publicado de professor pra professor. Tem muitas coisas do Isaías Sávio, tem algumas
coisas do Henrique, mas é já voltada para a aplicação do aluno, para o aluno, mais
assim, relatos de experiências, relatos de pesquisas mesmo na área de como melhorar o
ensino do violão. Você não acredita que o ensino do violão é um pouco isolado, assim, a
escola do violão? A gente conhece alguns determinados trabalhos de professores, mas
não há um verdadeiro intercâmbio de idéias, principalmente...
C: (Interrompendo) Espera só um pouco Flavia. Eu sempre, sempre senti essa, realmente essa
feita de contato, né. E eu uma vez no evento violonista, "Violões e Violonistas Goianos" , eu
até já, já...
F: Levantou essa questão?
C: E já. E sempre, passou, passou, mas realmente existe, eu acho que existe.
F: E, o quê que você poderia incrementar, o quê que você acha que poderia melhorar o
ensino do violão? Ou você acredita que já está melhor do que era? Você que atua há
anos... o quê que você acha, como que está o violão hoje em Goiás do que era
antigamente?
C: Ô Flavia, eu tô, não sei se você já percebeu, eu já disse isso??/, então é, é um pouco
complicado, porque veja só : o quê que o aluno, muitos alunos chegam na gente, "eu quero
fezer o violão erudito, o violão clássico", aí de repente você dá um CaruUi, dá um Aguado, dá
um Sor né, que é o quê acontece, né. Bom, mas a música clássica que ele conhece não é
aquela. O violão, geralmente, né... Então, eu tô com uma experiência nova aí, uma aula só de
peças, peças é ... instrumental, só instrumental, e,e transcrevendo pro violão. São peças que,
que o aluno já ouviu em casamento, já ouviu no rádio, em cinema, em filme né, música que,
que toca toda hora né, como "Carruagens de Fogo", que todo mundo toca.
F: Aí ele tem realmente uma, uma vivência...
C: Prá tocar...
F: Fazer parte do mundo dele, né?
C: É, prá tocar o quê ele acha que é música clássica, tá entendendo?
F: Até você chegar no repertório violonístico?
C: Até chegar no repertório violonístico. São peças bem simples, né, bem pra alunos
iniciantes, masjá é umacoletânea, já de 22 músicas neste estilo.
F: E você acredita que... como está a escola violonísticano Brasil e em Goiás? Porque eu
sinto que pelo instrumento ser instrumento mais novo, mais recente que o piano, mais
recente que o violino, que já têm uma escola, uma tradição maior, como você acha que o
violão está se encaixando agora? Você acha que melhorou da época que você começou a
lecionar e a estudar, ou você acha que... como que tá o ensino do violão e a própria
produção violonística?
179
C: Olha, não resta dúvidas, ta, quando... o próprio instrumento em si. Quando eu comecei só
tinham acho que dois ou três luthiers bons no Brasil. Pra começar já isso. Hoje já tem uns
quinze por aí a fora. Professores bons e cada vez o quadro aumenta. No meu tempo tinha o
Henrique, hoje já é quantos professores bons aí ,de fama internacional né. E métodos, mesmo
com, com a iternet veio aí ora ajudar demais divulgar, não sei se você já teve a oportunidade
de ver várias coisas, novidades, métodos, a todo momento, inclusive com crianças. Então, isso
tudo aí, não resta dúvidas assim...
F: Que a coisa desenvolveu.
C: Desenvolveu demais.
F: E pra finalizar, o quê que você, como você descreve a sua experiência como
professor? O que quê você acha? Você acha que vale a pena? O quê que, como você
descreveria a sua profissão, a sua função?
C: Bom, eu gosto muito do que eu feço, né. E... (risos)
F: E, você acredita que você... o seu trabalho, com certeza, já ta, você já tem alguns
alunos que já formaram na universidade, né, você já tem... o seu trabalho já está dando
vários frutos, né, já tem uma outra geração que já tá atuando profissionalmente.
C: Eu gosto né, e tenho procurado cada vez né, aprimorar e crescer mais, mais, mesmo com,
com estudo, com, com transcrições, eu gosto muito de fazer transcrições, arranjos né, e vamos
ver até aonde que vai né.
F: Então tá Clévio, muito obrigada por esta entrevista!
C: De nada.
F: Bom Judson, a primeira pergunta é : como quê foi o seu primeiro contato com a
música? Como você iniciou seus estudos musicais e como que foi o seu primeiro contato
com o instrumento?
J: Bom, a minha, a minha família tem hábito né de ouvir música constantemente, né. Eu
costumo brincar e dizer que minha mãe quando ela chega em casa, se ela tivesse um controle
remoto ela ligaria o som antes de entrar na casa. Ela não consegue, o som,o som na minha
casa é ligado direto. Então, tem músicas que às vezes eu lembro, eu, eu vou lembrando a
melodia, mas eu nunca parei pra ouvir, pra pensar sobre aquilo, no entanto, eu conheço a
música, né, porque eu já ouvi muito aquilo ali, então, eu ouço música direto.
Academicamente, aulas mesmo eu fui ter por volta, eu comecei estudar música mesmo, por
volta dos 18 anos de idade. Com, com, eu comecei a estudar com o professor, com o Marcus
Fontenelle, que é irmão do Eurípedes, estudando guitarra, estudei acho, uns 2, 3 anos com
ele. E aí comecei a mexer com a parte prática mesmo, tocar em bandas, cheguei a gravar
disco, na época eu tinha uma banda de rock. Deu bem, deu o quê tinha que dar. Deu frutos
bem interessantes pra época né. E a partir de 92, eu comecei a me dedicar ao violão erudito,
violão clássico, estudando inicialmente com o Eduardo Fleury, que atualmente é do
Quartenáglia, depois entrando pra universidade, fazendo o curso com o Eduardo Meirinhos,
né. Agora nesse período agora de 92 até 2000, eu feito todos os cursos que são possíveis, com
todos os professores possíveis. Com Henrique Pinto, com Paulo Porto Alegre, com uma série
180
de pessoas que já passaram aqui pela cidade, e também alguns cursos fora de Goiânia. Estaé a
formação básica que eu teria.
F: E quando e como você começou a dar aulas? Pode ser de guitarra ou violão.
J: Certo. Esta história é até um pouco interessante porque eu comecei a trabalhar com uns, por
volta dos 16, 17 anos de idade. Era muito difícil estudar (...) E eu trabalhava num banco. E eu
via no banco, as várias etapas da carreira bancária né, e a minha carreira no banco era uma
carreira promissora. Mas eu via então, essas pessoas ali, pessoas já se aposentando, pessoas
com uma carreira já segura, outras pessoas com carreira, digamos, de médio porte, então, eu
vi tudo naquele bando e decidi que não era aquilo que eu queria. Então, a partir disso aí, com
16, 17 anos eu tava no banco, já com 18 eu comecei a estudar com o Marcus, com 2 anos de
aula, eu já comecei a dar aula e foi uma loucura porque eu, eu pedi demissão do banco, sem
ter nenhum aluno. Aí eu falei: "Bom, agora eu já tenho condição de dar aula". Então, assinei
a minha, a minha carteira de demissão e saí sem, a maior loucura, sem nada, absolutamente
nada, sem nenhuma segurança, sem nenhuma, né. Não tinha nenhum aluno, e entrei nessa,
nessa loucura já com 20 anos, 22 anos, 21 anos já tava dando aula para meus primeiros
alunos. E uma, uma preocupação muito séria já com a Didática. Mas ainda, muito, muito na
base da, da, o quê é muito comum no nosso meio que é a coisa da intuição, então, do
empírico. Você experimenta, vê, se der certo você continua, se não deu certo, já não fez mais.
Mais isso. Mas essa foi uma trajetória da, foi com 2, 3 anos de aula par encarar essa coisa de
ser professor.
F: E também essa, essa iniciação você acaba pegando um pouco de cada professor, de
que você vê né fazer...
J: Eu até hoje, eu não assisto nenhuma aula só como aluno. Eu, eu vejo sempre o conteúdo e a
forma. E importante isso, você observar não só o quê o professor está fazendo, mas como ele
está fazendo, Então, isso é, isso é determinante.
F: E, e, ô Judson, e como é, e você já começou a trabalhar com crianças? Como é que
você, por quê que você acha que é mais difícil trabalhar com crianças? (a entrevista foi
interrompida devido ao grande barulho, mudando de ambiente)
Então Judson, como foi o seu primeiro, como quê é a sua experiência em trabalhar com
crianças? O quê que você acha que é difícil, o quê é fácil, como que você descreveria sua
experiência em trabalhar com crianças?
J: Ah, tem uma série de aspectos, né. O aspecto externo seria o quê... eu sempre feço um a
entrevista, com qualquer aluno que eu tenha, seja criança ou não. Com a criança, a diferença é
que nessa entrevista, você tem que botar os pais pra dentro pra fezer essa entrevista também,
pra que ele entendam o processo. Numa criança, o rendimento dela é bem diferente, o ritmo
com que ela aprende é bem diferente que o ritmo de um adulto, né. Então, ela não tem a
mesma disciplina, ela não tem idéia do quê que é estudar violão, assim, aquela, aquela coisa
de você ter que repetir várias vezes. Os meus alunos, por exemplo, quando são crianças, se
você fala pra ele que ele tem que tocar a música 5 vezes, no mesmo dia, ele leva o maior
susto. Ele acha que, que tocou uma vez ta bom demais da conta né. Então, os pais precisam
compreender a situação, isso é importante, porque se os pais tiverem paciência, né. Porque a
tendência dos pais é essa : eles querem que a criança entre hoje na aula e daí três meses ela tá
fezendo recital e daqui seis meses ela tá ganhando dinheiro no Faustão. Então isso, se você
conseguir resolver esse problema inicial, já, já ta com o primeiro passo garantido.E o segundo
passo é você ter empatia, você, é preciso que a criança confie em você do contrário ela vai ter,
ela vai se perder, ela vai, ela vai ou ela não vai acreditar no quê você ta dizendo, então, esse,
esse processo de empatia é uma coisa que você tem que aprender a desenvolver, né. Agora,
nem sempre você consegue com todas as crianças, né. Então, e aí você tem que ter exatamente
181
uma metodologia que seja, que siga o ritmo da criança, né, e que fale a linguagem da criança,
né. O processo de aprendizado de uma criança e de um adulto, pra mim é mais ou menos a
mesma coisa. A diferença é a velocidade. E principalmente a forma que você feia com essa
criança. Porque o adulto, ele já tem uma facilidade de abstração muito grande, então você
pode usar isso. A criança não tem, né. Ah, e a criança também, você tem muito aquela coisa
assim : feça isso. Não há a necessidade de você ficar divagando, enfiando uma série de coisas,
de justificativas teóricas, justificativas didáticas ou mesmo, é de você ficar viajando. A
criança, é importante você pedir pra ela : "Coloque o dedo aqui. Faça isso". E ela vai
executar. Então, é uma coisa mais...
F: Objetiva.
J: Objetiva e uma coisa muito mais de experiência, de viver a experiência. Já o adulto, você já
pode é, trabalhar um pouco mais, de maneira mais abstrata. Acho que essa é a diferença.
F: Judson, então, você já quase respondeu uma pergunta que seria, eu faria, que é : você
acha que a influência dos pais no aprendizado da criança é fundamental? O
acompanhamento, a...
J: Sem dúvida, sem dúvida, sem dúvida. Porque como eu felei, porque a criança ainda não
tem disciplina, muitas vezes, pra ta fezendo isso, esse é um ponto. Então, o pai, porque eu
sempre peço a todos os pais nesse sentido, é de que por exemplo, criar um horário de estudo
pra violão (a fita acabou).
F: Então Judson, você acha que é importante o acompanhamento dos pais em relação
aos alunos?
J: Sem dúvida. Essa questão da disciplina, é o quê, por exemplo, estabelecer um horário de
estudo. Outra coisa que é muito, o professor tem que identificar, aí o professor tem ter, que ser
firme pra perceber isso, se a criança ta afim, porque quer estudar ou o pai ta empurrando, né.
Nesse caso, você tem que tomar muito cuidado, né. Nos dois casos. Se a criança vem,
geralmente ela já é mais tranqüila, mas se o pai que ta empurrando, então, aí você tem que ver
como, um trabalho pra, talvez até pra desestimular esse pai a colocar essa criança. Porque a
criança pode ter um trauma de música, alguma coisa assim, ficar com raiva, aí nunca mais
estudar instrumento nenhum, né. Então, escolhas que você tem que ter muito cuidado, eu acho
que qualquer que seja a área, você tem que usar muita psicologia humana, se você não
conhecer o ser humano, você vai esbarrar, vai cometer uma série de erros, nesse ponto assim.
E no caso dos pais, eles têm uma influência muito grande no sentido de fornecer também
estruturas. Por exemplo: eu incentivo a, uma dica que eu dou prós pais, observe qual a música
que seu filho gosta, corra na loja e compre o CD. Compre um som para o filho, o som que ele
vai ter no quarto dele, aquele aparelho é dele, ele vai ouvir música na hora que ele quiser.
Então, quer dizer, você dando estrutura, você incentiva essa criança a ouvir música, ela a
criança a um concerto, esse tipo de coisa vai formar esse, essa criança muito mais pra o meio
musical. Isso é fundamental.
F: E qual, qual metodologia, qual escola violonística você adota ou você segue método
próprio? Como é que você faz?
J: Eu feço, no caso de crianças?
F: É de crianças.
J: De crianças eu tenho método próprio que eu fui desenvolvendo ao longo dos anos. E que
assim, eu comecei inicialmente a trabalhar inicialmente com a "Ciranda das 6 cordas" do
Henrique. Mas na época eu trabalhava na Lílian, e a Lílian me deu, a Lílian que é uma pessoa
que saca muito de metodologia, ela me deu um toque e me felou : "Olha, não é bem por aí, o
caminho não é bem esse", então eu mudei um pouco a estrutura. Eu lido muito com, numa
primeira fese,eu trabalho com, muito de ouvido. Então, por exemplo, eu gravo, eu tenho uma
182
fita só com melodias de violão, em que eu tô trabalhando esse aluno de ouvido. Então, todo
aluno me traz uma fita e eu gravo essas, essas musiquinhas que são simples, que são curtas,
pra esse aluno ouvir e aprender, né. Então, eu, por exemplo, com cinco notas, eu já toco três,
quatro músicas, né, de ouvido, então eles aprendem aquilo. Então, é, é uma coisa que a gente
aprende na metodologia, não só da criança, mas do adulto também, você, você procura que o
estudo seja agradável. Então, pra isso é o objetivo. A criança, ela, ela, neste caso, ela vai estar
lendo alguma coisa na partitura mas ela ta trabalhando de ouvido, pelo menos numa primeira
fese. Que é uma fese que ela vai incorporando o instrumento, se ela está incorporando
posturas, e se você trabalha muito academicamente com teoria, com um monte de coisa na
cabeça, fica uma coisa meio, meio pesada. Então, eu prefiro trabalhar um pouco de ouvido na
primeira fese, né, até a criança ter já mais destreza com o instrumento, aí depois você vai
acrescentando elementos teóricos e elementos mais aprofundados do que do aprendizado
anteriormente (...)
F: E você acredita que os métodos específicos pras crianças, ou pra, vamos abranger
mais, os iniciantes, você acha que são adequados?
J: Olha, eu não conheço um método que seja totalmente, é, que eu não defeitos graves no
método. Então, eu trabalho com vários, né. Eu tenho, digamos que eu feça uma coletânea
desses métodos, e organizo. Eu acho que o fundamental de um método, de maior problemas
de todos que tem, como eles são organizados, a ordem que você vai aplicar com eles, né.
Então, em geral essa ordem pra mim, ela não ta muito, muito, muito interessante. Eu mudo a
ordem, e uma coisa importante : no violão, quem faz o violão que é chamado violão clássico,
a gente não tem um repertório de músicas conhecidas, né. Nós temos o Clévio que ta fezendo
um método, que não é bem pra iniciante, que é muito interessante, mas que não é muito pra
iniciante, né. Ele até considera pra iniciante, mas eu não acho, eu já acho que é um nível
médio, né, que é muito bom, mas pra nível médio. Então, eu incluo algum? Comento músicas
conhecidas, que são pra iniciantes mesmo, é, que aquela, que só melodia, sem harmonia, só
pro aluno, isso vai, é, eu vou acrescentando estas melodias a alguns métodos que eu
considero interessante. E os métodos geralmente feitos de maneira picada, sem, eu não pego o
método do início ao fim. Eu não conheço, como (...) considero fundamentais no aprendizado,
de maneira agradável. Então, nesse sentido não tem um método, eu tenho alguns pra, pra citar
(...)
F: E, e você acredita que os instrumentos musicais no mercado são adequados pras
crianças iniciarem?
J: Olha existem , existem. É difícil encontrar, mas existem instrumentos assim . Bom, uma
pessoa que tá começando, eu tenho a seguinte idéia : quem ta começando muitas vezes não
tem, a maioria das vezes, não tem idéia do quê que é um processo de estudo. Meu tio, eu
tenho uma, uma experiência própria que eu achava que pra tocar violão você não precisava de
apertar a corda, você só encostava o dedo na corda e o som já saía. Então, muito comum você
começar a estudar um instrumento e você se decepcionar com o processo de estudo, você se
surpreender com o processo. Às vezes até você considera que fosse mais fácil do que você
imaginava. Na maioria das vezes, a gente tende a achar que é mais difícil do que parece, né.
Então, nesse sentido eu venho com (...) que compre um instrumento barato no primeiro
momento, né. E instrumento barato significa instrumento de má qualidade se comparado com
os instrumentos artesanais, enfim. Então, esses instrumentos baratos existem pra crianças que
estão aprendendo, existem porque são bem interessantes pra essas (...) A Giannini, por
exemplo, fez um instrumento pra criança que é uma gracinha, parece um cavaquinho. É um
instrumento barato, não é um instrumento bom (...), não tem som, mas pra começar é aquilo
183
ali mesmo. E se de repente esse aluno desistir de estudar, o investimento foi pequeno, isso é
uma preocupação ...
F: O Judson, você já experiência em trabalhar com ensino coletivo?
J:Já.
F: E o quê que você acha desse método? Você acha que é válido? Além da questão
financeira né, porque realmente o acesso à educação em música é difícil pelo, pelas
mensalidades que são mais altas, e o instrumento individual, ou seja, é uma coisa bem
individualizada, então o preço é mais alto. Mas, além dessa vantagem, você acredita que
o método traz vantagens pedagógicas porque trabalha outras coisas que você não
trabalha...
J: (Interrompendo) O quê que acontece no caso das aulas coletivas, é que primeiro, você
precisa ter uma metodologia muito mais apurada. E eu tenho visto alguns desastres por aí,
algumas, algumas pessoas que vão trabalhar numa aula coletiva e não tem experiência, não
prepara as aulas. E isto é extremamente prejudicial, porque você não consegue atender o
aluno naquilo que seria possível numa aula coletiva, né. A aula coletiva, eu acho que a única
vantagem é, é exatamente o preço. Porque o quê acontece é que na aula coletiva você tem um
programa, né, que tem que ser seguido de maneira coletiva. Então, você, o aluno, ele perde
tempo da individualidade dele. Eu acho. E nesse sentido, quero dizer, se eu tenho um aluno
que anda mais rápido, eu não vou poder correr com ele, eu preciso esperar a turma, né, então,
o quê que acontece, funciona muito bem se o aluno vier mais vezes. Mas funciona muito bem.
F: E pra faixa etária inicial, por exemplo, eu tenho alunos de 5, 6 anos que funcionam
bem. É melhor nessa parte da brincadeira, porque eu acredito, na minha opinião, o
ensino coletivo serve até certo tempo, até adquirir certo conhecimento, e aí vai ter que
ser realmente indicado para uma aula individual, né?
J: Eu acho que depende muito de cada aluno. A experiência que eu tenho é o seguinte: quando
o aluno tem um objetivo específico, né, esse aluno não vai se dar bem em aula coletiva. Eu
acho que cada caso tem que ser, tem que ser visto separadamente. Se é um aluno que ta meio
perdido, ele não sabe exatamente o quê ele quer, então a aula coletiva pode ser uma coisa
muito interessante. Mas se o aluno já tem um objetivo específico, de tocar determinados
estilos musicais, a aula coletiva, na maioria das vezes não vai atender aquilo direito. Então, aí
é que tem que partir para uma aula individual. Pra o iniciante, quer dizer, em situação de aula
coletiva é melhor, exatamente no imcio. Eu acho que é o melhor momento pra, pra você ter
uma aula coletiva, é exatamente no imcio. Mas, tem esse, esse inconveniente de não atender
as particulariedades de cada aluno. Você numa aula coletiva tem que aprender o coletivo, né,
e precisa ter um método muito mais específico...
F: O professor precisa ser especializado em aulas coletivas, né?
J: Exatamente, ou pelo menos, ele tem que ter uma, uma, uma intuição, ou mesmo um
trabalho muito, muito ele tem que ter uma didática, uma dinâmica muito, muito...
F: Muito própria, muito diferente.
J: Muito diferente. Porque é totalmente diferente da aula...
F: A postura do professor é diferente?
J: Sem dúvida, muda tudo, né. E uma dinâmica de aula, senão você fica maluco e não fez
nada e (...)
F: O Judson, e como você divide a aula do iniciante? No caso das crianças, o quê que
você acha que é mais interessante em termos de hora, você prefere dar uma aula
semanal, ou dividir essa aula em duas? E em termos de técnica, se você já, qual é o tipo
de exercício que se faz no instrumento? O quê que você faz em termos mais objetivos?
184
J: Bom, em relação ao horário pra criança, uma hora é pesado, né. Então, é claro que se a
criança tem uma disciplina pra fezer aquele horário, você, não tem problema. Agora, a gente
vive uma situação que é muito complicada, no sentido de deslocamento. Uma criança pra ir
em uma aula duas vezes por semana e só meia hora de aula, ela vai chiar, principalmente a
"mãetorista" vai reclamar bastante, né. Então o quê eu tento fazer é conciliar as duas coisas,
de maneira seguinte, eu dou uma hora de aula, porém com um intervalo. Então, nesse
intervalo, esse intervalo a criança nem precisa saber que tá no intervalo, então você, é muito
comum na criança ela ter histórias pra contar. É um tio que caiu, cachorro dela fez isso aqui,
então, você tem que num determinado momento da aula que a criança já fez algumas tarefes,
e ela vai te contar uma estória, você deixa ela contar. Então, eu uso essa, essa metodologia e
deixo a criança felar um certo tempo, deixo ela tomar água nesse período, né, então, ela faz
um negócio em 5, 10 minutos, ela já recobra a concentração, e é capaz de ficar mais meio
hora, 40 minutos estudando algum, alguma coisa. Exatamente pra evitar a coisa de vir duas
vezes. A não ser que essa criança não tem essa disciplina e você tenha horários que permita
isso. O recomendável é, meia hora, duas aulas de meia hora. Mas, quando o horário permite
(...)A outra questão é em relação à técnica, eu, eu sou meio avesso à técnica. Eu acho que a
técnica deve ser usada quando necessário, né. Então, por exemplo, eu não trabalho nenhum
um exercício de escala, a não ser que ele precise. Se ele apresenta um som muito (...) se no
trecho de uma música que a escala dele não está saindo do jeito que eu acho que deve, aí nós
vamos fezer um exercício. Do contrário, eu sou, eu não feço exercício. Nem eu feço, nem,
nem recomendo pro meus alunos. A não ser, veja bem, eu tenho alguns exercícios técnicos
que eu passo, mas assim, são técnicas extraídas de livros. Aí sim. Mas por exemplo, estudar
uma escala que nunca vai aparecer dentro de música, eu não sei se fez sentido. Que são
métodos, métodos, métodos de escalas. Os métodos de arpejos. Então tudo bem, você quer
fezer um arpejo, então, vamos pegar uma música que tenha arpejo e vamos tocar aquele
arpejo específico que vai servir praquela música, do contrário, ficar fazendo arpejos, é, que
não estereotipa. Isso é uma coisa bem polêmica, poucos, poucas pessoas vão. Mas assim, eu
gosto de extrair trechos da música e transformar em técnica né, exercícios técnicos. Por
exemplo, fezendo exercícios correlatos com aquele trecho, se vai pulando de casa em casa e
vai até, mas são trechos de uma música, que você vai fazer praquela música que ta ali. E pra
criança, eu uso a mesma coisa, o mesmo tipo de idéia, né, com a, com a diferença em que a
criança eu busco a, com o iniciante, eu costumo usar a escala da região que ele está tocando.
Então, se eu to com um repertório que tem uma escala, um repertório já de uma oitava eu vou
fazendo aquela escala dentro daquela oitava, e daquelas notas ele vai extrair as notas pra tocar
a música do repertório dele, entendeu? Então, eu procuro fazer uma coisa que tem, uma coisa
amarra a outra. Senão fez, técnica pela técnica pra mim não faz sentido, né.
F: E Judson em relação ao trabalho com criança, você destacaria algum, algum trabalho
de algum professor ou no Brasil ou aqui em Goiânia que você acha bacana ou você
acredita?
J: Eu conheço, eu conheço muito pouco. O quê eu tenho visto são algumas apresentações
públicas de alguns alunos que eu sei foram orientados. O resultado é interessante, eu não sei...
F: O processo.
J: O processo. E eu não sei quanto tempo se levou pra chegar aquele resultado, né. O
resultado que eu considero, desses que eu já vi por aqui, o seu trabalho sem dúvida, pra mim é
uma referência de trabalho coletivo com criança, né. Tem visto o trabalho, tenho
acompanhado o trabalho da Graça, há muito tempo. Então, me parece que é uma pessoa que
tem uma metodologia muito interessante, não só ela mais as outras, a Cida e a Ártemis
também (...) O quê eu não sei é o processo.
185
devia fazer, tornar o estudo mais agradável e isso, sem dúvida, vai acontecer se você tiver um
repertório que seja do conhecimento do aluno.
F: E pra finalizar Judson, você, além do violão solo, violão de concerto ou violão erudito
como se chama, você também dá aula de violão popular? Como é que é esse trabalho?
J: Trabalho também. E, eu não sou professor de canto. Isso eu deixo claro desde a primeira
aula do aluno, né. Oquê eu ensino pro aluno é que ele toque o ritmo, e cante no ritmo que ele
tá tocando. Pode ata cantar desafinado, eu não tô preocupado com isso, a minha preocupação
é que ele consiga executar o instrumento no ritmo que ele tá cantando, se acompanhar
inicialmente. Então, a ,a e trabalhando muito, aí nesse caso trabalhando praticamente de
ouvido, certo? E uma coisa que eu considero um diferencial aí, e que depois de um
determinado momento, esse aluno tenha, ele compreenda o quê que ele tá fazendo. Por
exemplo, se ele fez umacorde, então eu quero que ele saiba toda a formação desse acorde, né.
E mais adiante fazer com que ele saiba fezer uma modulação do tom a outro. Então, que o
aluno vá compreendendo isso. E aí ele, eu brinco muito com isso, eu feio prós meus alunos
que o melhor momento, quer dizer, eu vou trabalhar pra que o aluno não precise mais de mim.
Então, esse é o limite. Quando o aluno não precisa mais do professor então aí chegou no
ponto. Esse é o um objetivo né, de não segurar o aluno, né. Porque, e fazendo isso eu vou ter,
o aluno que gosta do seu trabalho e mesmo que interrompa as suas aulas, vai ser um
divulgador do seu trabalho o resto da vida. Quer dizer, ele vai estar trabalhando pra você
constantemente. Pra mim, principalmente, eu fico satisfeito nesse sentido. De tá aprendendo a
(...) mais aprofundado possível.
F: E nesse trabalho com violão popular , violão acompanhamento você não trabalha
leitura, né? Mas você interfere, dá algumas noçõesteóricas pra ele ou não?
J: Noções teóricas no sentido de compreensão do que ele está fezendo no instrumento, mas
não por pura (...). A não ser que ele queira. Porque em geral, o aluno que vem pra esse, pro
violão popular, ele já vem com preconceitos muito grande de teoria né, da parte de leitura de
partitura. Então, mas se ele tiver alguma abertura esse sentido, a gente trabalha, né. Agora, se
não, é possível perfeitamente você fazer por exemplo, o conhecimento de toda a escala do
instrumento, de construção de acordes com tensões, né, com sétimas, nonas, décimas terceiras
sem, sem., agora é lógico, eu deixo claro pro aluno que ele vai estar limitado na linguagem,
que ele vai pegar os métodos e não vai entender nada, que é uma deficiência que ele tem
Agora,eu, como a gente lida muito com alunos particulares...
F: Que vai especificamente...
J: Que vai específico para um tipo de coisa, ele tá pagando você pra fezer aquilo, tudo bem.
Eu Tô aí, eu sou funcionário dele.
F: Então tá Judson, foi um prazer, muito obrigada!
J: Obrigado, precisando..
F: Às ordens né.
J: (risos)
F: João, eu queria primeiramente saber como é que foi o seu primeiro contato com
música? Como você se interessou em tocar o violão? Como foi o seu primeiro contato, se
você teve aula? Ou se já, o quê que aconteceu?
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JL: Foi, é, não, não teve aula. Não tinha aula.E é a cidade aonde eu morava né, próxima aqui,
à Goiânia, então, tinha uma professora de violão, mas só algumas pessoas tinham acesso e aí,
o pessoal de casa tocava violão, meu pai e todo mundo querendo aprender mas...
F: Ter aula?Só assim...
JL: E, aí o violão ficou de lado, ficou jogado lá muito tempo né. Quando nós viemos pra cá
que, pra Goiânia né? Ai, o único que resolveu, assim, interessou mesmo da turma lá de casa,
foi eu. Aí,mas foi uma coisa assim, meio de ver e ouvir o pessoaltocar né?
F: E fazer, repetir e criar...
JL: É, aprender um acorde tal e tocar assim de uma forma bem tranqüila, sem...
F: Bem espontânea,né...
JL: Isso.
F: Sem se preocupar dessa vez com técnica, com alguma coisa assim...
E, e mais ou menos qual idade que você tinha? Era garoto?
JL: Garoto. Depois, aí, depois teve um contato muito bom que foi com um cara, Sérgio,
Sérgio Brasil. Um cara que morou aqui na cidade, né? Nós trabalhávamos juntos, na oficina
de lapidação de pedras e ele tocava bastante, sabe? Cara bom. Então, nos intervalos assim de
trabalho, ele tocava. Era canhoto, o cara era canhoto, né.
F: Ele tocava com as cordas trocadas?
JL: É. Ele também eraassim, um cara sem técnica, sem...
F: Ele trocava as cordas ou não? Ele tocava os baixos em baixo?
JL: Ele trocava as cordas, mas, ele fazia por exemplo, esses acordes ele fazia assim...
(demonstra). Mas era um cara impressionante... O som que ele tirava, sabe... criava uns sons
bonitos. Tocava, por exemplo, tocava músicas como... ele gostava muito da Joyce. Aquelas
harmonias e tal. Joyce, Ednardo. Foi um contato legal.
F: Bom, e aí, quando, quando você iniciou a dar aula de violão, a lecionar e tal?
Trabalhar como professor de violão?
JL: Aí foi muito tempo depois. Aí depois dessa fese, aí eu conheci o Wesdarley. Então, ele
morava no mesmo bairro e tal. Eu já fazia alguns acordes e tal, aquela coisa. Aí, ele, ele, eu
paguei duas aulas pra ele ou alguma coisa assim na época. Aí, fui duas vezes só e não tinha
como né, continuar. Aí, ele, a gente ficou amigo,tal, aquela coisa toda. Ele fazia aquelas
reuniões na casa dele, o pessoal cantava e pernoitava às vezes. Aí, ele começou a me dar aula.
F: Aí você começou a trabalhar com partitura, com leitura, com escalas...
JL: E. Eu tocava tudo com o polegar. Tudo que eu fezia, qualquer escala ou arpejo. Tudo com
polegar. Não sabia usar, né,assim. Aí, ele me deu aula, assim, na marra também porque não
era fácil não, eu era muito rebelde.
F: È, porque você já tinha uma concepção do seu instrumento, né?
JL: É. È. Aí, foi um ano, assim, ele olhando. Ele ia na minha casa. Depois a gente fez um
trabalho, um duo. Aí, depois dessa fase que... Aí, eu abandonei a lapidação de pedras, os
garimpos aqui mudaram muito. Os garimpos, eu levava sempre um...
F: Violão...
JL: Violãozinho tal. Aí, eu parti pro lado de aulas, né? Aí você vai conhecendo mais gente,
vai...
F: Vai sempre trocando informações, né.
JL:É.
F: E aí, começou. Então, qual foi a primeira dificuldade, assim, que você sentiu na hora
de dar aula? Por exemplo, em termos de como dar aula? Você teve alguma dificuldade
nesse sentido?
189
JL: Senti, senti. Demorou muito, assim, pra descobrir assim o caminho né. Quer dizer, estou
descobrindo até agora, até hoje.
F: É a gente sempre está...
JÇ: (Interrompendo) Eu trabalhavaem cima do quê ele me passou.
F: Primeiro, você tinha um modelo, que era ele.
JL: É . A minha referência era ele. Mas assim, eu sempre tentando, eh, mudar alguma coisa,
porque o lado dele era o violão mais ...
F: Clássico.
JL: Mais clássico, erudito. Então, as pessoas que eu trabalhava, eram pessoas que queriam
aprender música popular...
F: (Interrompendo) acompanhamento pra cantar...
JL: Aí, você tem que ir descobrindo uma forma de, de passar...
F: É diferente...
JL: É um pouco diferente...
F: Mas mesmo assim, você passava algumas coisas técnicas? Como é que era?
JL: Passava sempre.
F: Alguns exercícios para preparar a musculatura, a mão da pessoa né?
JL: É. Claro, sempre.
F: E como você começou a dar aulas para criança?
JL: (Silêncio)
F: Faz tempo ou é uma coisa recente?
JL: Não. Não. Pra criança... Eu trabalhava mais com adultos, né, mas crianças...foi é assim, no
princípio muito difícil, porque eu não sabia...
F: Como lhe dar com ela, né...
JL: É. Criança de repente você ta falando alguma coisa, ás vezes, ela dispersa. Foi difícil
(riso) esse contato assim, de dar aula pra criança. Primeiro porque a falta de experiência, a
falta de material também e na época, por exemplo, você escreve alguma coisa. Então, na
época que eu comecei mesmo, eu só tinha, o quê eu passava era o quê tinha já... Que eu
pesquisava, pegava, tirava uma cópia, uma coisa bem... né... ainda, não tinha tanta...
F: Tanto material?
JL: È, não tinha, era uma coisa assim que não era tão... não tinha aquele jogo de cintura de
você criar, fazer alguma coisa dentro de aula, sabe? Conforme o aluno você acrescenta...
F: Ter uma estratégia, ter uma coisa pra chamar a atenção, né...
JL: Isso.
F: E você, dentro dos materiais didáticos pras crianças, você acha que eles são
suficientes e adequados? Você acha que deveria ter outras coisas assim, a mais. Porque
você trabalha com "Ciranda das 6 Cordas" também não é?
JL:É.
F: E com peças folclóricas, essas pesquisas que você faz, adaptações.
JL: É, é.
F: Mas você acha que, assim, pra criança especificamente, você pensa que esses métodos
são adequados?
JL: São. Mas eu acho que ... E, eu acho que a pessoa sempre tem que estar inserindo outras
coisas.0 "Ciranda' é bom, mas eu acho muito... tem muitos exercícios que eles cansam de ler,
estudar. Eles não conseguem. Quando você abre em uma página tal assim, ele : "Não, esse
não. Eu não quero tocar isso".
F: Falta uma coisa mais musical também, né, uma coisa de fazer música, né. Porque
apesar da criança, a gente fala, "Olha, essas notinhas, duas notinhas. Já é música, né" já
190
é uma música . Mas de repente o instrumento é mais complicado né. até ele fazer uma
música conhecida, né, uma coisa assim.
E os violões, você acredita que eles são adequados?
JL: Ah, isso é um outro detalhe. Geralmente começa com um violão né, pequeno tal
direitinho. Mas, quando você vai, no decorrer do tempo, vai ter que haver uma troca, né. Aí, a
gente tem que saber o momento certo de fezer essa troca. De pegar um violão, tamanho...
F: Tamanho adequado...
JL: Aí, algumas crianças eu acho que em pouco tempo já, no meu ponto de vista, já podem
mudar de violão, querer um violão maior, né? Aí, é complicado né?
F: E. Porque é de acordo com a maturidade de cada um.
JL: De repente também, o pessoal compra um violão para criança, e feia : "Não, você vai ter
que usar até..."
F:É.
JL: Não é. Então, esquecem que o menino ta crescendo e tudo... e não dá o violão maior para
o aluno.
F: E. E você acredita, então, que esse acompanhamento dos pais, em termos, pra
criança, é fundamental? Está assim, em cobrar e também não é só cobrar em casa não,
o sentido de cobrança, não é cobrança, é despertar o interesse no filho : "E aí, o quê você
aprendeu hoje? Vamos tocar?" Então, você acredita que esse envolvimento, vamos
dizer assim, não é cobrança, por parte dos pais...
JL: (Interrompendo) É importante, é importante. Não pode ser uma coisa muito...
F: De cobrança, né?
JL: É, senão ele vai pensar também que está...
F: Que isso não é prazer, certo?
JL: É. Que a pessoa ta impondo que ele feça,aí já é muito complicado. Eu acho assim, eu
tenho, eu tenho experiência de aluno que em casa ele não estuda nada, absolutamente nada,
ele toca legal na aula, consegue tocar. Aí quando eu pergunto pro pessoal: "E aí, ele toca em
casa?" "Não, muito raro" . Assim, eu não sei se ele toca na casa da vó, pode ser também isso,
né. De repente, o ambiente de casa não é um ambiente propício pra, pra ele estudar. Aí, você
diz: "Pó, como é que esse cara chega aqui e ta tocando". Ele deve ter algum canto que ele
acha pra tocar, às vezes na casa da vó, da tia,né. Em casa, às vezes, ele fica meio, alguém fez
um comentário : "Ah, poxa vida, eu não consigo...eu quero assistir televisão e você fica...",
né? Algum irmão maior, acho que isso atrapalha. Se ele não tiver um espaço que ele possa
tocar, do jeito que ele tá aprendendo, acho que ele vai sentir meio fora, igual um peixe fora
d'água, né? Também um fetor é esse de, de ele poder crescer no violão.
F: E,e assim, você acredita que o quê, qual que é a maior dificuldade que você acredita
que você acha tem na hora de dar aula? Ou com a criança mesmo, por exemplo,
algumas não continuam, ou não estudam? Quais são as dificuldades que você acha? A
falta de material que você falou, né?
JL: É, geralmente é. Pode ser que o repertório que se utiliza não seja muito chamativo pra
eles, pode ser isso...
F: E é aí por isso que o violão chamado popular, ou de acompanhamento, faz tanto
sucesso. Você acredita por que ele tá mais inserido no mundo dele, né? Ele toca o quê ele
ouve no rádio, que ele...
JL: (Interrompendo) E, mas, funciona assim também. Mas, por exemplo, quando você fala
música popular, você pode pegar a música de dez anos atrás, não é?
F:É.
191
JL: De repente ele não escutou aquela música, né? Ou pode pegar uma música que ta aí na
mídia e tal e trabalhar uma música dessa. Mas às vezes, você trabalhar com que ele não
conhece, que ele nunca ouviu, é mais interessante, eu acho. Aí, eu vou buscando músicas.
F: Que desenvolvendo a característica própria dele.
JL:É.
F: Mas é porque talvez é, então, o quê você acredita que tenha mais dificuldade é a
questão do repertório ser chamativo né? Assim, até eles poderem tocar uma música
folclórica, que tenha cinco notinhas,né, seis notinhas, né, leva um tempo né. Não é na
Iniciação toda, eu to falando bem na iniciaçãozinha né?
JL: Aí, nesse caso aí, por exemplo, igual a Canção da Baleia, a Canção da Baleia, As
formigas, você cria...
F: Você acaba criando
JL: Melodias, e coloca o nome, inventa um nomezinho pr'aquele teminha ali e tal e cria uma
letra em cima, com poucas notinhas, você cria. Eu feço muito isso. Criar alguma coisa em
cima, e vai cantando, igual o "Onda vai, onda vem" né.
F: Então, você acredita que existe uma falha no método pra criança mais nova, a criança
que está iniciando mais. Porque, por exemplo, apesar do "Ciranda" ser muito bom no
começo, ele dá um salto, né, o "Onda vai" já é uma coisa difícil né, aí já parte para o
Parabéns. E às vezes a criança é muito novinha, ela não consegue acompanhar. Aí fica
uma coisa repetitiva, mas você tem que estar sempre complementando né? Porque o
melhor método, na minha opinião, não é um, são vários, mas acontece que pra criança
realmente existem poucos. Tem do Isaías Sávio, existem outros, internacionais, dos
Estados Unidos principalmente, ou o da Gainza, que eu utilizo, mas não tem assim, é
muito da pessoa, você tem que criar mais...
JL: É, eu acho que você tem que usar a sua criatividade, total, e inventar músicas com eles,
assim, sabe? Inventar mesmo e colocar uma letra, eu acho, dentro da realidade do que ele ta
no momento. Porque se você pega alguma coisa que ta pronto já, você tem que ....né. Eu acho
que é muito mais complicado você passar o quê ta pronto do que fezer ele na hora...
F: (Interrompendo) E, e você vai....
JL: É, porque você vai, aí, você ta dentro do processo da criança, né, você sabe até o ponto
que vai fruir aquela idéia e tal, eu acho que funciona.
F: Você já teve experiência com o ensino coletivo? Dar aula pra mais de um aluno em
sala de aula?
JL: Já, mas assim...
F: Pra criança não?
JL: Iniciação, assim, pra criança, nesse estágio não. Acho que tem que ser... Talvez dois, três,
mas... Quando eles estão tocando alguma coisa, igual por exemplo, a turma né, que você está
aquele ensaio, já é, eu acho que é muito interessante. Mas, a, o problema da postura, aquilo lá,
é tudo muito complicado, e se coloca dois, três, aí vira aquela..., certo.
F: Aí, você tem que saber ter uma metodologia específica pra a aula coletiva, né. E, João,
então, quais sãos os métodos que você mais usa, mais utiliza? Assim, pra dar aula. Eu sei
que você cria muita coisa, busca muita coisa, mas...
JL: Não, o "Ciranda", tem o "Ciranda", assim, uma pesquisa mesmo. Tem muitos métodos
antigos, você acha uma música ou outra e tira. Mas, é mais dentro daquilo que eu te falei
mesmo, escrever mesmo.
F: E Adultos, trabalha com o "Iniciação" , trabalha com... como é que é?
JL: Alguns....
F: Outros, você cria exercícios?
192
um trabalho sério pra quem ta de fora acha que é uma brincadeira, mas não é. É uma
coisa séria, mas que tem que ter um estudo mais...
JL: Ah, é claro! Uma troca de experiência. Tem que haver.
F: Isso. Você acredita que há uma falha, há uma lacuna?
JL: Há. E muito corrido o tempo, então, às vezes... Por exemplo, seria interessante eu assistir
uma aula sua, né. Você trabalhando e tal, seria muito bom isso, né. Talvez um jeito. Eu já
tentei. Eu fico observando aqui mesmo na escola, às vezes tem um ensaio lá em cima e tal
F: É sempre interessante né?
JL: Pra sentir no geral como funciona. Da melhor forma,né, porque são muitos anos de
experiência. Eu to assim, eu tenho um aluno particular, o Caio e a Pérola. O Caio é meninão
de tudo né, eles pegam aulas no mesmo horário, uma aula assim, chega a ser uma aula em
grupo, né? Aí, nessa semana né, na segunda, ontem, a Pérola tinha prova, aí teve que separar,
cada um fazia num horário, sabe? Eu acho que ele desenvolveu melhor, não é?
F: Do que quando juntos. Você coloca eles na mesma sala?
JL: Não é junto. É na varanda dacasa...
F: Mas é na mesma sala?
JL: Mesma sala.
F: Aí, como é que você trabalha o repertório? Você trabalha os mesmos exercícios?
JL: A gente ta na "Ciranda", a Pérola já ta um pouco mais adiantada porque é um pouco
maior. Mas, ela ainda pega a Ciranda, a gente fez, ela lê um compasso, ele lê outro, aquela
adedonha, então, ela fez adedonha. Igual o Rodolfo, pra tocar tem que fezer adedonha.
F: Aí, vai ver que ele toca primeiro...
JL: Aí, eu acho que o Caio sozinho ...
F: Ele rendeu mais
JL: Rendeu bem, ficou ótimo, ficou ótimo... né. Mas, aí a Angela não quer que você pára,
quer que você...é complicado
F: Mas a noção é trabalhar em conjunto, eu acredito, o mesmo conteúdo, lógico um vai
mais do que o outro, aí, nessa hora que é a hora complicada, né. Porque é a hora da
decisão do professor ou tentar fazer com que o outro mais atrasado pegue o pique e
alcance, ou então a solução é realmente...
JL: É. Algumas, por exemplo, a mãe dessas crianças, ela, ela disse: "eu acho que eu vou
entrar também na aula pra incentivar"
F: Pra aprender...
JL: Pra incentivar né O Caio, porque ele fica um pouco atrás e tal. Também é uma forma de
O-),
F: É uma forma dos pais entenderem né, do mecanismo. E na verdade, o quê eu acho
também muito difícil é que há uma cobrança muito grande dos pais em tempo : "Quanto
tempo o meu filho vai tocar violão?" Isso, essa ansiedade dos pais, eu acho que prejudica
muito os filhos né? Essa coisa de querer um resultado muito imediato né?
É, isso mesmo.
E em relação ao estudo em casa? Você disse que tem certos alunos que não estudam mas
você acha que rendem na aula. Então, você acredita que a aula tem que ser realmente
uma aula também de estudo dirigido, ou seja, o professor estudando com o aluno e nessa
aula, ele conscientiza o aluno de como estudar e como é importante estudar, né? Porque
tem muitos professores que não falam prós seus alunos que é importante estudar, né.
Mas sem aquela coisa de ser um terrorismo, mais de realmente conscientização, né?
JL: É, isso mesmo.
194
F: E João, pra terminar, você tem alguma sugestão, alguma coisa, alguma declaração
final a fazer? (risos)
JL: Não, é isso. Eu acho que a gente tem que fezer uma troca de experiência mesmo, assim,
aqui dentro, ou pesquisar com outros, igual você ta fazendo esse trabalho né, pesquisar com
outros professores,né, tem inúmeros. O Wesdarley, por exemplo, ele deu aulaprós três filhos
dele né. Ele tem uma experiência nesse aspecto. Por quê que a Juliana parou? Depois voltou
né. A Maíra parou e ta assim, vai não vai. O Plínio continuou. Por quê que houve esse
bloqueio, assim, certo? Foi a forma de, de ensinar? Ficou uma coisa : "Eu quero que você
feça" e talvez, eu não estou dizendo que seja isso, mas...
F: E, mas a criança tinha uma certa (...)
JL: Eu gostaria de saber porque.
F: Em saber certas coisas né, em ver. Realmente é interessante...
bJL:^ Ele tem uma experiência só de Mvsika. Daqui foram dez anos.
F: É, é. Então, e como eu ia te falar agora. E o trabalho com aulas coletivas? Eu quero
falar assim, em termos de duos, trios, como é que é esse trabalho que você faz? De... Não
de aula coletiva, mas de como você acha que é o rendimento do aluno numa aula em
grupo, mas não sempre, numa aula específica em grupo?
JL: Ah, é muito importante porque aí o aluno fica se auto-analisando. De repente ele está
estudando há seis mesese outro entrou faz dois meses, e está fezendo um exercício que ...
F: É interessante
JL: De repente com três meses alguém fez outra coisa que o outro não fez, né. Então, ele vai
olhar aquilo e "poxa vida, será que eu tô dedicando o suficiente", acho que pode estimular,
essa aula pode estimular o aluno.
F: E a relação assim, de palco? Você acha que é importante todos tocarem? Mesmo se
não tiver pronto, assim, não tiver "perfeito", você acredita, como você encara isso com o
aluno? Você fala que é uma coisa normal?
JL: Eu acho mais válido por exemplo, de tempo em tempo, você fezer uma aula em conjunto
onde todos vão tocar, só os alunos. Sem...
F: Sem ser recital.
JL: É. Mas que seja assim, uma coisa periódica até que eles se sintam mais à vontade. Eu acho
mais fócil assim. Uma roda, seria uma roda, todo mundo toca, mas...
F: Na verdade eu acredito que o mais é o processo. Porque o recital é uma demonstração
de um trabalho,né. Mas, eh, você não pode viver em função desse recital né. O quê é
mais interessante, o quê é mais importante é todo o processo, o quê ele apresenta
durante o ano. Ele não vai ficar o ano inteiro estudando uma música pro recital. Ele vai
trabalhar o ano e fazer às apresentações né, de acordo com o desenvolvimento dele, ele
vai aprimorando, né?
Então tá João
JL: Tá legal
F: Então muito obrigada, até mais!
F: Primeiramente, eu queria saber qual foi seu primeiro contanto com a música, com o
instrumento?
G: Bom, a música foi desde criança, desde 6 (seis) anos, 5 (cinco) para 6 (seis) anos e foi um
contato muito experimental, muito de pegar no instrumento e tocar. E interessante que esse
fazer musical, me trouxe muito o instrumento para próximo de mim e uma vontade de
conhece-lo melhor. E quando eu já morava em Goiânia, porque nesta fase que eu estou te
falando, de criança, eu morava no interior, e quando eu já morava em Goiânia, sempre tive
muita vontade de estudar o instrumento e já procurando, foi quando eu conheci um rapaz, que
eu acho que você vai entrevista-lo também, o Paulo Sérgio, que aí ele comentou sobre o
Henrique em São Paulo. E nessa época nós fizemos um grupo, e trazíamos esse pessoal para
dar aulas aqui e a gente revezava, trazia e ia para fezer aulas, né? Depois eu formei em
Música e depois, tive, mantive o contato com seminários e festivais o tempo inteiro, numa
reciclagem constante até os contatos com concursos, este tipo de situação.
F: E como foi o seu começo na área de pedagogia, na área de lecionar o instrumento?
Como é que começou ? Como é que foi isso?
G: Começou pelo que eu sentia. Como eu sentia uma vontade muito grande de estudar e não
tinha com quem estudar, então, começou muito com esta vontade assim : como eu gostaria
que fosse um professor , que pudesse me dar aulas e que pudesse suprir essa necessidade.
Porque na época que eu vim para Goiânia, quem estava atuando, era o pessoal da família
Fontenelle, os irmãos Fontenelle, tinha o professor José Eurípedes também. Mas era todos de
uma escola anterior, né? De uma primeira escola de violão em Goiás, muito sérios, muito
bom, pessoas boníssimas e abertas pra, mas não eram que eu intimamente procurava, né?.
Porque de repente eu tinha contato com músicas muito difíceis e sem conteúdo, sem
sedimentação técnica musical pra tocar, ou vice-versa, fraco demais para um conteúdo que eu
já tinha armazenado. Então, a coisa era bastante desequilibrada. Então, foi muito pela minha
busca de como eu gostaria que fosse um professor pra mim.E nessa época, eu me lembro
demais, que o Prof José Eurípedes foi um incentivador muito grande. Porque mesmo ele
fazendo parte de uma escola anterior, de uma época anterior, ele foi sempre uma pessoa muito
sensível. Então ele conversava muito, ele procurava muito assim, ver o quê que se fazia, o quê
que eu fazia para ele poder atender e sempre muito me incentivando a buscar, sabe, esse
contato. E como essa necessidade da pedagogia foi muito forte por esse motivo, ele também,
por coincidência, a prof Glacy Antunes, que na época tava inaugurando o Mvsika,
começando o Mvsika, e que era uma pessoa bastante vanguardisda, sempre foi, né? E
acreditou na proposta e na situação e resolveu junto comigo, endossar essa escola nova. Tanto
é que o Mvsika por muitos anos, assumiu trazer esses profissionais para cá, e fezer cursos de
reciclagem com os professores, e aceitar uma pedagogia que até então não existia para
crianças e para adolescentes ou adultos que estavam iniciando. Porque era uma situação
bastante diferenciada de hoje, sabe? Nós convivemos com problemas assim : meninas não
Dodiam se sentar como meninos, isso foi uma coisa que nós presenciamos o tempo inteiro, né?
É até engraçado ver não é? (...)Então essa era a situação. Então, ás vezes, tivemos problemas
assim, de pais conversarem conosco : Por que a menininha sentar daquele jeito? Né? Então,
até a gente conseguir implantar uma situação que hoje é totalmente diferente, né?
F: E essa época foi uma coisa muito intensa né? Essa época desse intercâmbio, porque eu
já conversei com outras pessoas e parece que marcaram ?
G: Todas elas.
F: (...) essas pessoas, essa época que o Henrique vinha, os alunos dele, parece que
vinham dar Master Classes e Concertos?
196
G: É, porque era assim : tanto era intenso as pessoas que se reuniram em volta do instrumento
pra trazer, e o músico que fez um papel muito importante como entidade que resolveu
encampar essa proposta, como também a situação de professores, como eu disse pra você da
escola antiga, quererem, como foi o caso do Prof José Eurípedes, já teve uma certa
resistência com o Prof Fontenelle, né? Que por mais que gostassem, gostassem do que a
gente fizesse, e sempre uma pessoa também muito incentivadora, ele se manteve mais a
margem da situação, mas os outros professores não, tanto é que quando trazíamos ou recitais
ou cursos, ou qualquer situação, era muito bem aceito. Tanto pela equipe que, de estudantes
que queriam, como outros estudantes que foram encorporando, alunos destes estudantes ou
ex-professores, sabe? Este tipo de situação. Agora, tivemos várias situações, essa foi uma
primeira, depois tivemos a situação de mesmo estando trazendo, as pessoas iam buscar
também, com aulas semanais, inclusive, muito difícil esta época, e, como tínhamos também,
muitos movimentos grandes nacionais em Goiás, né? Tipo, é, movimentos onde nós
trouxemos alaúde com cravo, alaúde sozinho, violão e cravo com o Edelton e a com a Regina
Schilohauer, então foi assim : a gente trouxe cravo de Brasília, nem tinha cravo em Goiânia
na época, então coisas assim, muito significativas. E eu lembro nesta época dos movimentos
nacionais, nós fizemos pedidos muito, vários pedidos formais a Universidade para que o curso
superior de Violão, pudesse vir para cá (O telefone toca, interrompendo...).
G: Onde nós paramos mesmo? (Risos)
F: Graça, agora eu queria saber sobre o trabalho com crianças, como você começou esse
trabalho com crianças e como que foi, onde você pegou a metodologia, ou se foi uma
criação sua, uma observação, como é que foi esse trabalho?
G: Eu tive bastante, bastante incentivo, e vou chamar de sorte, mas o vocabulário certo nem
seria sorte, foi uma adequação de épocas, né? Na época eu trabalhava no Mvsika e o Mvsika
sempre foi uma escola de muita vanguarda, né? Ele foi uma escola de muita pesquisa e de
muito estudo e de muita reciclagem. E como tinha um curso para crianças de 5 (cinco) até 7
(sete) anos e era um curso que se chamava na época "Som e Movimento" e depois ele mudou
o nome prá "Centro de Criatividade" e era um curso que propunha um diagnóstico de aptidões
em várias áreas e em música, e em música fezia-se aptidões para instrumentos, além dele
fezer aptidões em áreas fazia aptidões específicas dentro da própria área, certo? Então, foi
uma época enriquecedora porque o material prá violão editado era pobre demais, né? ainda
não tinha o que temos hoje disponível nas lojas, nem material importado, a importação não
era como hoje, né? Mas por outro lado, esta parte de trabalhar com a Educação Musical e com
as aptidões é que me levou a buscar uma pesquisa e procurei muito nos outros instrumentos,
instrumentos de corda, instrumentos de sopro, pra orquestra, no próprio piano, que era muito,
sempre forte em Goiânia, uma escola muito forte. E foi fazendo essas adequações e esses
estudos que nasceu um trabalho específico com crianças, independente de métodos
específicos prá violão. O que se aproveitava pra criança na época, específico o que já tinha era
muito, algumas coisas assim, ligados a postura, ligado a qualidade de som, ligado a unha,
ligado a aspectos técnicos e mecânicos, que seria para qualquer idade só que nós adaptávamos
né? Agora tudo que era musical e tudo que era de repertório era muito dentro dos cursos de
Educação Musical tá? e muita pesquisa com outros instrumentos. E como tinha muito, reunião
de professores instrumentos diferentes, a gente discutia muito a questão do desenvolvimento
de cada aluno. Então, era uma troca muito grande de professor prá professor, de experiência
pra experiência e era a partir desses resultados, com esse trabalho que a gente ia procurando
outro tipo de material já específico, mas muito difícil de encontrar. Então, nós mesmos é que
fazíamos essa, esse repertório, tá?
197
F: E os métodos hoje? Você acredita que os que estão disponíveis no mercado pra
crianças, eles são adequados? Como é que você trabalha isso? Você segue um método ou
você mistura vários, ou cria um próprio né? Como e que é?
G: Eu nunca usei um método só. Nem com criança, nem com adolescente e nem com adulto.
Nunca consegui usar só um autor. É, sempre procurei fazer assim : adequar o que eu
acreditava a nível técnico-musical com os métodos que se tinha à disposição, tá? E recorrer
também a arranjos ou possibilidades de improvisação, que sempre foi uma, uma tônica né? a
improvisação, a criação, sempre nós buscamos muito esse lado. Mas hoje, voltando a sua
pergunta, hoje o que existe no mercado, existe muito material importado que traz
contribuições boas, depois eu posso te dar os nomes pra você, pra você colocar, pra você
estudar, ler, ás vezes coisas que você já conhece também, e, sempre fui assim, tem os métodos
disponíveis mas sempre eu buscava de acordo com cada aluno que eu tinha, de acordo com
cada aluno que eu vou trabalhar. Ás vezes se é aluno prá concurso, se não é prá concurso, se é
pra recital, qual é o programa adequado. Então, eu nunca me prendi a um método. E nunca me
prendi a um repertório. Eu sempre busquei assim, muito, o que era tecnicamente viável, né, o
que deveria se conhecer tecnicamente do instrumento, e o repertório era montado muito de
acordo com o aluno, tá? Por exemplo assim, os métodos que existem no mercado não felam
de técnica, né? não felam de mecanismo, não feia nada a esse respeito. Têm-se uma coletânea
de repertório, ou então de estudos ou alguma indicação de um elemento, mas não se tem uma
preocupação, porque um método pressupõe-se né? elementos do mecanismo do instrumento, e
isso não existe, nem, principalmente pra criança, não é? Então, o que é? Eu pegava então, a
Escola de Tárrega e Carlevaro, e fazia o quê que eram elementos que criança podia, elementos
técnicos e mecanismos, que criança podia fazer e deveria se conhecer. E eu separava esse
mecanismo e adequava a um repertório. E esse repertório, eu sempre fiz questão que o
repertório sempre fosse da identificação dela, trouxesse épocas diferentes como também
trouxesse uma identificação dela, o quê que ela gostaria de tocar, porque sempre trabalhei
muito com o ouvir trazia muita coisa para se ouvir, né? Agora nunca me prendi a um método
específico não e nem a um autor específico não, eu sempre procurei perceber a, o pensamento
de vários professores diferentes. Por exemplo, o Sávio tem muita coisa editada, mas nada
específico prá criança, mas uma pessoa com muita pesquisa, né? como o Henrique também,
que tem muita coisa editada, mas que também não é, específico pra criança. Então, eu sempre
procurei me adequar desta forma, agora, não, nunca me prendi a um autor só, nem no
pensamento, nem na filosofia, nem na proposta técnica dele, eu procurava mesmo fezer uma,
que se identificasse com a minha clientela que eu tinha, que eu tenho.
F: Graça, em relação aos instrumentos musicais, aos violões disponíveis no mercado prá
crianças, o quê que você acha? Eles são adequados para a iniciação? A questão de
tamanho, da sonoridade, o quê você acredita que seja o ideal para uma criança de
5(cinco) e 6(seis) anos iniciar, uma criança mais nova e uma criança também já com seus
8(oito), 9(nove) anos?
G: Olha, a condição do instrumento é muito delicada em qualquer das feixas etárias, porque
envolve problema financeiro, né? como envolve também cultura, porque é muito difícil para
uma família querer o instrumento para o filho, mas não querer investir em um instrumento
adequado, então, temos aí, uma complicação, né? Que é : eu quero que meu filho estuda, mas
eu não posso investir mil e duzentos reais num instrumento né? que fosse adequado. Então, o
trabalho é feito, o trabalho é feito muito de base. Primeiro, com uma conscientização da
própria família, né? Mas, primeiro, não esquecendo que a criança, ou qualquer iniciante tem
que ter um primeiro tempo de liberdade com o instrumento. Essa liberdade mesmo do
aprender a carregar, do aprender a limpar, sabe, ela precisa de uma certa, é como se fosse
199
Porque com a criança, esses elementos que você tá levantando, quanto à concentração ou
quanto a forma de se relacionar, esse eu nunca convivi com ele. Eu sempre tive muito apoio
dos educadores musicais, dos métodos de educação musical, seja Orff, seja Kodály, então isso
não, a minha, a minha experiência com educação musical com a criança não me trouxe este
tipo de problema. O problema maior que eu sempre senti foi muito de não ter um material
adequado pra criança, ligado ao instrumento. Por exemplo, enquanto você tem uma Violeta
Gainza que tem um trabalho musical fantástico, inclusive tem trabalho dela ligado ao
instrumento, mas não é um trabalho tecnicamente a nível do instrumento, legal, né? É um
trabalho musical fantástico, mas tecnicamente no instrumento não é.
F: Então, falta pesquisa na área, não só no Brasil, mas no Mundo?
G: E. Eu sinto falta deste tipo de material, porque, como este que eu estou te falando da
Violeta, que ela tem acho que são quatro volumes e um de repertório não é? Então, ela
trabalha com o instrumento, e são canções belíssimas, é um trabalho muito bonito, mas você
percebe a feita de adequação técnica ao mecanismo do instrumento prá criança, ta? Mas, ao
lado musical, não vejo problemas, muito pelo contrário. Então, eu acho que o quê tá faltando,
a nível de, a nível da criança, é pesquisa e dentro deste trabalho, adequando os mecanismos,
os fetores técnicos do instrumento, a uma formação musical adequada, sabe? Porque, por
exemplo assim, voltando a esse trabalho específico da Violeta Gainza, você percebe toda a
evolução musical que ela propõe no livro e que é fantástico, que o resultado é belíssimo, ta,
mas você não percebe o desenvolvimento técnico do instrumento. Então, pra você conseguir
trabalhar, você tem que trabalhar o quê é musical e trabalhando, buscando o quê você acha
que é técnico para aquela idade, sabe? Então, assim, o maior problema que eu vejo pra
trabalhar hoje com a criança, é muito mais uma pesquisa, muito mais essa falta do que
qualquer outro, qualquer outra vertente.
F: E em termos de pessoas que trabalham no Brasil ou aqui em Goiás, qual o trabalho
que você destacaria? Você conhece algum trabalho de pesquisa neste sentido já aqui no
Brasil? Porque eu tenho procurado via internet, ligando, eu não tenho achado muito,
muita coisa. Você destacaria um nome ?
G: Não vejo ninguém que tenha esse trabalho com crianças. Não vejo.
F: Que existem, existem vários, mas não existe nada publicado, nada nas universidades,
então, o nosso instrumento no geral, em termos de pesquisa, ainda esta bem a margem...
G: E o quê está nascendo hoje de pesquisa, que já se tem, por exemplo, se eu conversasse com
você anos atrás, em pesquisas de instrumento, aí não teríamos teses, como já temos de
Edelton, né, daquele menino do Paraná, que escreveu sobre a História do Violão, e está
editado, da Graça, aquela pessoa do Rio, né? Então, existem ene trabalhos, hojejá publicados,
mas todos com uma preocupação ou performática ou então, histórica, né? Agora nada se
dedicado a criança, ou a iniciação instrumental, seja em qualquer feixa etária, né? Nada
relacionado a pedagogia do instrumento, o que eu conheço das pesquisas existentes nas
universidades é muito ligado a performance ou a histórico, e também quanto a construção do
instrumento, mas não vejo nada a nível de pedagogia.
F: O que você atribui a essa falta, esse distanciamento, essa falta de tradição?
Primeiramente o nosso instrumento é um instrumento muito novo né, e foi ligado ao
povo, o que eu acredito isso não seja nada negativo muito pelo contrário, mas a partir de
ser um instrumento popular, todo mundo começou a aprende-lo de maneira auto-
didática. Então, falta um pouco dessa escola surgir com mais força e uma coisa mais
uniforme,né? Não há essa tradição. Você ainda sente hoje, uma certa, o violão a margem
de certas coisas, a margem primeiro das salas de concerto, e segundo, em termos, nas
universidades, o violão ainda fica um pouco a margem. Você vê isso, ou não?
200
G: O que eu vejo é uma série de fetores, por exemplo assim, eu vejo a escola do violão muito
recente nas próprias universidades, vejo também, a preocupação dos instrumentos de uma
geral, não só com o violão, ligado a performance, ta? Então, por exemplo, se eu for ser
músico, eu, a tendência das universidades é só pensar na performance, né? Eu não vejo
nenhum incentivo as Licenciaturas, eu não vejo nenhum incentivo a parte pedagógica, então,
por exemplo, os cursos de violão que foram montados e que estão em vigor, estão muito
ligados à performance, não tem uma licenciatura e se tem, são licenciaturas novas, como hoje
se propõe, parece que este ano a universidade daqui se propôs a fezer um programa adequado
ao pensamento que pudesse ser desenvolvido o lado pedagógico do instrumento, né? De certa
forma, eu acredito nos instrumentos todos ta, de uma certa forma, a visão que as
universidades passam, é uma visão performance, ta? A visão que os concursos passam é uma
visão também de performance, então, tudo está ligado a visão de tocar, se você não tocar, não
existe a Flavia professora, existe só a Flavia que é um performance,né? Então, tudo que gira
no mercado é pra ela tocar, mas eu não sei se a Flavia pode tocar, né, eu to pegando um
exemplo, né. Então, o quê que acontece, a própria universidade também, não te dá subsídios
para você ser um bom professor, né. Não te dá subsídio para você fezer uma pesquisa em
pedagogia, e não te dá um subsídio para você desenvolver uma pedagogia e um trabalho de
universidade para esse lado, ele puxa muito assim, concertos de formatura, concursos, mas
tudo dentro de uma área performática,né. Eu sinto muito isso, de uma forma geral, com todos
os instrumentos, tanto é que é assim : ou você é bom ou você ta fora, que é a realidade da
performance, ou você toca ou você ta fora. E o professor, geralmente, muito marginalizado,
muito marginalizado, principalmente o professor que não é professor universitário, né. Porque
o professor universitário ainda tem uma instituição toda e tal. Então, por exemplo, se pegar
um professor de bairro, né, que está com a clientela na mão, ele não é valorizado. Como é que
ele vai passar um trabalho, uma estruturação. O que quê nós temos a nível de população
carente para música, nada. Então, por exemplo, nós estamos, praticamente, eu acredito, nas
nossas profissões, praticamente, nós estamos fechando as nossas possibilidades, em vez de
abrir, nós estamos fechando. Porque de dez crianças que estudam música, uma eventualmente
possa vir a ser um performance como o mercado exige. Mas, por exemplo, dessas dez
crianças, dez podem ser excelentes músicos,né. Excelentes professores, excelentes músicos no
sentido de terem a música como parte de suas vidas, parte de sua formação. Então, eu me
preocupo mais nesse sentido, e acredito que, essa, não poderíamos chamar de discriminação,
mas acredito que esse enfoque com a performance seja vinda muito do romântico, aquela
coisa bem performática mesmo, e acredito que a visão da universidade é essa, né. Então, eu
batalho muito para você me ver tocando, mas eu batalho pouco pra você ver meu trabalho
pedagógico,né. Eu trabalho muito com recital aqui, mas, e meu trabalho de sala de aula, aonde
em que ele veicula? Então, ele veicula só na sala porque o meu aluno vai tocar. Então de certa
forma, ele veicula só na performance e veicula pouco na troca, pouco na divulgação, pouco na
edição, sabe? Eu acredito muito isso, e acredito que exista muito outra coisa, existe uma
barreira muito grande entre os performances e os professores. Geralmente, não se buscam um
ponto-de-equilíbrio entre o performance e o professor. Ou ele é um performance e está dando
aula por necessidades financeiras, que a performance ainda não superou ou vice-versa, né?
Mas eu acho que não se busca uma adequação. Então eu tenho alunos é, de nível universitário,
tendo aulas com que não sabe e não quer dar aula, ta? tenho alunos fora da universidade, que
tá tendo aula com quem não tem adequação pra dar aula ou porque está dando aula porque
precisa de dinheiro. Então, eu acho que a coisa é muito complexa, sabe. Eu acho que a gente
deveria buscar as universidades, as escolas, deveríamos buscar o equilíbrio entre a
performance e o educador, sabe? E menos, como é que eu diria? Menos preconceito um com
201
o outro. Um, por o outro não tocar, a nível de performance e o outro, por não saber dar aulae
estar ocupando uma cadeira.
F: Porque ninguém é obrigado a ter o perfil de concertista, ás vezes você é camerista ou
tem outras aptidões que não são performáticas, você não precisa ser um concertista e
ainda, como você falou, está-se muito ligado ao solista, a estrela...
Graça, e em relação, ou melhor, você acredita então que ainda falta um pouco de o
professor ocupar o seu espaço? Em termos assim, de se organizar? Porque nas
entrevistas que eu tenho feito, muitos sentem a falta de exatamente, ver o processo.
Porque o trabalho do professor, ele mostra no palco, os alunos tocando e tal. Mas de
repente, o mais interessante é o processo que o professor desenvolveu para levar o aluno
até o palco. Só o professor sabe como ele pegou esse aluno e o quê ele fez com ele.
(Acabou a fita). Então, o quê você acha que é importante, como seria, como a gente
encrementaria esse lado, da Licenciatura, da profissão de professor, e no nosso caso
específico, de violão?
G: acho que o caminho mais viável é o diálogo. Sabe? Assim propostas aonde estes
profissionais possam se encontrar pra discutir ou pra mostras de trabalho ou para troca de
idéias como festivais ou seminários, seja lá o nome que for mais adequado, né? E
principalmente, buscar uma iniciativa aonde pudesse ser editado estes trabalhos, sabe? Alem
de se ter uma conversa regular entre estes profissionais pra que exista uma identificação de
problemas, né? Quais são os problemas mais emergentes ou mais, que estão dando as
diretrizes desse caminho, eu acho que é sempre um ponto de diálogo muito, eu acredito muito
nessa situação. E acredito muito em edições, sabe? Deixar registrados esses trabalhos e
procurar, é procurar nesses diálogos, procurar um maior equilíbrio entre o professor e o
performance, sabe? Procurar rninimizar a distância entre esses dois profissionais, sabe?
Agora, pra mim, o caminho mais adequado, é realmente o diálogo, seja em seminários, seja
em congressos, seja o nome que se der, sabe? Mais a busca é nesse sentido.
F: Graça você já teve alguma experiência em ensino coletivo? E se teve como é que foi?
O quê você acha? Você acha que é válido? Em termos de ensinar, iniciação instrumental
a partir do método coletivo, colocando duas ou três pessoas mas, ao mesmo tempo?
G: Eu sou muito partidária ao ensino coletivo, em qualquer feixa etária ta? Agora,
principalmente, com a criança. É preciso que não se perca com a criança o lúdico, sabe? É
preciso que não se queira com a criançaque ela seja um performance, é preciso, é preciso que
se queira que ela tenha a música, muito prazer, e que essencialmente ela possa usufruir da
música espontaneamente. Enquanto você tem uma concorrência com músicas de mercado pra
elas, e que elas estão sufocadas e que você tem que ter uma contrapartida. Agora a
experiência de grupos é sempre muito relativa no montante assim: é necessário que esteja
sempre adequado a feixa etária como ao desenvolvimento. Eu acredito muito na necessidade
de ser muito dinâmico, né? Se eu tenho um grupo com cinco crianças, esse grupo, cada
criança vai ter um nível de desenvolvimento. Então eu sempre tenho que estar pronto a dar a
mover esse grupo, de forma que os cinco continuem sempre mais equilibrados em conteúdo e
em idade, sabe? Nunca pensar por exemplo : eu tenho uma criança de cinco e vou ficar um
semestre com esses cinco, eu acho que isso não funciona. Eles tem, esses grupos têm que ser
mais dinâmicos, porque o desenvolvimento é muito dinâmico, né? Então se você esperar por
um tempo cronológico, eu acho que você corre sérios riscos. Existe uma facilidade de
organização, mas existe uma dificuldade pedagógica, que é a necessidade de este grupo estar
sempre equilibrado no aspecto da idade e no aspecto do conteúdo. Acredito desta forma e
acredito que devam se grupos pequenos né? de no máximo de dez crianças ou adultos, aí a
feixa etária não é o caso, mas acredito muito no dinamismo da proposta. Agora existe também
202
uma outra situação, esse a nível de aprendizado, agora a nível da prática de música de
conjunto, que é outra situação, eu acho que deve ser o mais abrangente possível. Por exemplo,
se é tocando com flauta, se tocando com piano, se é tocando com violões, dois violões, três,
eu acredito que a necessidade de se fezer música de conjunto é desde o primeiro momento,
né? Porque nós temos duas coisas : uma, que é o ensino do violão em conjunto, que é uma
situação determinada e a outra que é a prática da música em conjunto, que eu acredito que
deva ser o mais variado possível, que o professor deva propor pro aluno, seja com
instrumentos de sopro, ou instrumentos de cordas, ou, e sempre fugindo do violão e violão,
sabe? Porque existe já pro mercado maior facilidade para duos, trios e quartetos, e
conseqüentemente, dobrando esses quartetos, e fezendo octetos e tal, então, isso é cômodo.
Então, eu acredito que nessa feixa, é muito importante que ele toque com muitos
instrumentos, sabe, que ele busque uma flauta, o canto, que busque, sabe, situações que
favoreça o convívio musical com outros instrumentos, aí já é outro departamento. Agora,
então eu vejo essas duas...
F: E nessas aulas coletivas, não nas aulas, nas orquestras ou na música de câmara, mas
assim, na aula coletiva específica para iniciação instrumental, o professor, você acredita,
que tenha que ter um outro tipo de postura em relação à aula individual. Você já pensou
sobre isso?
G: Sim, assim, vejo tanto o professor dentro da aula individual quanto na aula coletiva, eu
vejo muito a necessidade dele ser melhor músico, ta. Porque nós temos, você vai conviver
muito, fezendo essa pesquisa, com essa realidade. Por exemplo, nós temos professores de
violão, ta? E que de repente com a música, a desejar, né? Então, o quê que acontece com isso,
acontece que eu tenho um método único, eu tenho aquele repertório que eu não saio dele, eu
tenho um, trabalho que não tenha margens criativas, ta? E eu sempre acreditei no seguinte, o
professor tem ser acima de tudo, músico, né? Ele tem que ter noções de composição, ele tem
noções de arranjo, porque é necessário que ele busque muito esse lado, para conseguir fezer
um trabalho bom. Aonde ele possa orientar um trabalho de improvisação, invenção, aonde ele
possa buscar arranjos próprios de melodias que a criança curta né? E ele adeque uma
qualidade musical melhor e principalmente quando se fala em conjunto, esta necessidade pra
mim, cresce. Porque, na hora que você ta lhe dando, vamos supor, com cinco elementos e que
estão desenvolvendo cada um à seu tempo próprio, né? que aí, você já tem uma dificuldade
enorme né? à seu tempo próprio, você tem que ter um recurso musical muito grande, né? Por
quê? Você não pode estar preso a posições, a um método único, você não pode não, porque
senão você está limitando cinco cabeças, né? Eu acredito que o professor, tanto pra dar aula
coletiva quanto pra individual, que ele tenha noções da teoria da música no sentido
composicional, muito mais embasada, sabe, pra dar pra ele uma liberdade dele usar esse
material e outra coisa que me chama muita atenção na aula coletiva, é a capacidade que o
professor vai ter de organizar, vozes diferentes, ele não pode estar dando uma aula em grupo,
querendo que as crianças toquem a mesma coisa. Ele estaria trabalhando ao contrário, ele não
estaria trabalhando o ouvido musical. Porque se você trabalhar com um repertório de
orquestra, eles estão tocando a mesma música, só que eles estão tocando vozes diferentes.
Então está tendo assim, um enriquecimento melódico e harmônico, então na hora que eles
estão tocando junto, eles têm toda uma vivência melódica e toda uma vivência harmônica
adequada. O quê eu já vi muito em aulas em grupo, que é muito complicado, é essa coisa de
aprender uma coisa só, né? E eu penso que deva ter uma preocupação muito grande da parte
musical em atendimento, a nunca se tocar uma voz só, o tempo inteiro, que se feça uma peça,
ótimo, de se ter objetivos lá, de, ás vezes você quer cumprir um objetivo de ter um som mais
isso ou mais aquilo, aí você usa o recurso de uma melodia única, ótimo, né? Mas sempre, eu
203
acho, que tem que ser um trabalho é, com muito critério musical, para que desenvolva nestas
crianças, o aspecto melódico e o aspecto harmônico sabe? E o interesse de tocar junto. Porque
ela não tem, não traz interesse nenhum tocar igual pra ela, mas traz interesse muito grande na
hora que ela escuta outras vozes, né?
F: E na aula individual, Graça, como você divide o tempo? Como você trabalha com a
criança menor, de cinco, seis, sete anos, você divide a aula? Como é que é a aula? Até
assim, gostaria de saber, da aula, da estrutura da aula, você já no início, já coloca algum
exercício técnico aliado ao repertório, como é que você faz, mais improvisação e
invenção, como é que é essa iniciação?
G: Eu sempre tive muita preocupação de trabalhar na criança, o relaxamento, respiração,
porque sem que ela tenha uma respiração equilibrada e um relaxamento, porque às vezes ela,
nós temos ene realidades. Ás vezes eu tenho crianças que já vem de aula de natação, aula de
não sei quê, aula de não sei quê, e eu sou a quinta aula dela, por exemplo. Então, eu tenho um
universo totalmente diferente da criança que vem logo, que a primeira atividade dela seria a
aula de violão. Então, a gente tem que prever essas situações, né? Então, a vida da criança
hoje tá muito complicada, tá muito cheia de atividades, né? Muito controlada em horários,
então ela é uma realidade... Existem várias pesquisas nesse sentido, é uma realidade muito
estressante pra ela, então, por isso, eu tenho muita preocupação e feço trabalho de
relaxamento e respiração. Mesmo porque, se ela não trabalhar a respiração, ela não toca, né?
Ela não tem noção fraseológica, porque pro instrumentista de sopro, ou pro cantor, isso já é
mtrínseco, se ele não respirar, ele não canta e ele não toca. Agora, para os instrumentistas de
cordas, e no caso pro violonista, pro pianista, ele tem que trabalhar essa noção de respiração,
porque senão ele não tem noção de fraseologia, né? Então, eu tenho um tempo com a criança
e é um tempo muito interessante, de muita descoberta sobre o mecanismo dela. Tem um outro
tempo com a criança, muito de improvisação, muito dela brincar com o instrumento, dentro de
elementos que eu possa dar a ela, ou de elementos que ela possa trazer pra mim. E tem
também um tempo de repertório específico e um momento de técnica pra que eu consiga
detenninados, por exemplo, determinada colocação na mãozinha esquerda, determinado som,
é sempre dentro da criação, é sempre dentro da improvisação, nunca como um fetor técnico
isolado. A não ser que seja um caso bastante específico e bastante sério, que merecesse assim,
um tipo de atitude dessa natureza. Mas fora isso, todos elementos técnicos são muito dirigidos
dentro do aspecto de improvisação, de criação, sabe, muito nesse sentido. E ás vezes colocado
para ela como uma necessidade de uma solução : Olha, eu preciso que seu dedinho fique
assim, então vamos criar alguma situação que o seu dedinho vai ficar assim. Então, ela vai
inventar alguma coisa que seu dedo... mais nesse sentido. Mas nunca técnica pura, sabe?
F: E a aula você divide? Ou você sempre dá um tempo a mais que uma hora, ou você
dividir em meia e meia hora? Como é que é?
G: Meia e meia hora ou quarenta e quarenta minutos, a mais do que isso nessa faixa etária ou
ás vezes até menos. Por exemplo, eu já tive experiências interessantíssimas, feitas com vinte
minutos cada dia, quinze minutos cada dia, só pra a criança ter o contato comigo o tempo
inteiro. E os resultados são bem diferentes de crianças de meia e meia, ou crianças de uma
hora, sabe, o resultado é bem diferente. Então, se, pela minha experiência, se a gente tivesse a
possibilidade, eu digo a gente no sentido assim, escola e família, né? Se a gente conseguisse
adequar que a criança fosse à escola, quinze minutos, todos os dias, fezer aula de violão, seria
assim, fantástico porque ela aprenderia sem nenhum, sem nenhum, sem nenhuma necessidade
de colocar um tempo pra ela estudar violão, sabe? E este estudo vinha muito pelo interesse e
pela convivência.
204
obrigatoriedade. E eu acho que nesse aspecto a gente perde,né? Perdendo com isso, porque
fica uma coisa muito impositiva.
F:Graça, agora as perguntas finais. Você trabalha com o violão de acompanhamento ou
o chamado violão popular? Você trabalha com esse tipo de aula ou não?
G: Nunca fiz assim, só no começo da minha carreira que eu tive muitos problemas com o
chamado acompanhamento, chamado porque até o termo é errado né? Então, agora, não tem
mais, quando, a minha proposta é que o aluno tenha condição técnica e musical de tocar o que
ele quiser tocar, né? Oriento muito a forma de ouvir, por exemplo, se ele quer trabalhar a
música popular, eu oriento ele a ouvir se o compasso é binário, ternário ou quaternário, se é
ternário ou quaternário, como é o ritmo na mão direita, se é maior, se é menor, se é maior
quais são as possibilidades dele. Então, o meu trabalho com eles é tanto, dentro da música,
que se ele chegar a querer tocar e cantar, que deve ser uma possibilidade pra ele, ele já sabe
fezer isso neste aspecto. E principalmente, por exemplo, ás vezes com crianças, de oito anos,
de sete, na hora que começa trabalhar com elas, eles percebem tudo. Eles percebem
compasso, eles percebem, muitas diferenças. Ás vezes, com alunos mais adiantados, o
problema que se tem é que nem sempre, as gravações em música popular são boas. Então,
você está ensinando afinação e convivendo com um cantor bom, pela mídia, bom e sem
afinação.
(Interrupção) Com alunos mais adiantados, assim, você está trabalhando afinação,
desenvolvimento do solfejo dele e tal, e hora que você vai mostrar a música pra ele, você tem,
uma realidade de um profissional que está vendendo muitos discos, desafinado, né? Ou então,
você tá lendo, o compasso é tal e o arranjo que tá gravado não bate, né? Então, fica aquela
inadequação e aí, você, o problema maior que euencontro é nesse sentido,sabe? É de adequar
essas duas realidades, mas hoje, já se tem coisa melhor no mercado, né?
F: E Graça, pra finalizar, como você descreveria seu papel, a sua experiência como
professora?
G: Em que sentido?
F: Como você descreveria assim... É uma pergunta mais livre em termos assim : o seu
papel em relação aos alunos, se é prazerosa... porque a gente tem relatos de coisas assim,
não estou gostando da profissão, eu não sou reconhecida, não sou isso. Então, como você
descreveria esse seu, sua atuação como professora?
G: De muita paixão, sabe. Pelo que eu feço, de muito respeito pelo meu aluno. Nesse aspecto,
assim, nunca me preocupei em ser ou não reconhecido ou ser ou não valorizado. Mas sempre
me preocupei muito que eu gosto e que estou fezendo bem. À crítica eu me preocupo. E a
uma outra vertente que me chama muito a atenção, é quando eu sempre me senti muito como
um bandeirante. Sabe quando você tem que estar num momento aonde você precisa buscar
ferramentas de trabalho que você não sabe onde buscar. Então, você começa uma pesquisa, e
vai daqui e tal. E que eu te felei, no começo da minha profissão, o que mais, foi subsídio
interessante prá mim foi o trabalhar feto de trabalhar com a Educação Musical. Porque a
Educação Musical me trouxe o embasamento suficiente pra eu segurar essa defesagem, né?
agora, a descrição que eu feço desse lado, como você me pergunta, é de muito amor, de muita
tranqüilidade pela definição profissional e muito respeito pelo aluno.
(O telefone toca)
F: Graça, muito obrigada.
G: Ta (atendendo o telefone).
206
F: Cida, Bom dia ! Como foi o seu primeiro contato com a música?
C: Ele surgiu quando eu tinha catorze anos de idade né? E foi meu namorado, que hoje é meu
marido me deu um violão, me presenteou com um violão. E eu comecei a fezer aulas com o
Prof Wesdarley Adorno na época. E a minha vontade mesmo na época era tocar, cantar, né?
Era assim, uma coisa assim mais natural né? Só que eu era um pouco desafinada e eu tinha
vergonha e tal. Então, foi aí que eu conheci o Prof Wesdarley , e a gente começou assim,
mais um trabalho, eh, tendo a linha clássica, né? E eu comecei a gostar e tudo, foi aí que eu
me interessei.
F: E qual é a sua formação musical? Você fez...
C: Eu fiz, eu sou licenciada emMúsica pelaUFG e bacharel em Violão também pelaUFG.
F: E como começou esse primeiro contato como professora? Como você iniciou o
trabalho como professora?
C: Bom eu iniciei, quando eu... Esse trabalho que eu fazia, realizava como Prof Wesdarley, a
gente começou a trabalhar Música de Câmara e eu trabalhava como aluna dele também.
Então, nós fomos participar de um concurso né? A gente tocava sempre, aonde era convidado
e tudo. Aí, um dia o professor resolveu que nós íamos, que a gente ia tocar no Mvsika, né?
Que era o concurso que ia ter. E nós fomos né? Tocar em duo e nós ficamos em 2o lugar. E lá,
a diretora que é a Glacy, gostou muito do trabalho e me convidou a dar aula e foi aí que eu
comecei com a profissão de professora.
F: E qual a faixa etária? Você trabalha com crianças né? Então, qual é a faixa etária, a
partir de quantos anos você começou trabalhar com as crianças?
C: Olha assim, quando ela já saía do Centrinho de Criatividade, ela já estava com sete
anos,né? Então, geralmente, a criança em sala de aula era a partir dos sete. Ela já estava
musicalizada, né? Mas teve uma experiência também, com crianças com cinco anos, que era
um trabalho de música em conjunto. Então, era um trabalho desenvolvido com elas ainda
trabalhando dentro do Centro de Criatividade. Que era a feixa de cinco anos.
F: E como é que é, como é que foi o seu trabalho com essa faixa etária? Como foi o
desenvolvimento e o procedimento que você utilizava com essas crianças?
C: Bom, o procedimento com elas era dentro da sala de aula, música em conjunto, né? Era um
grupo de mais ou menos 12 (doze) a 15 (quinze) crianças e era um trabalho assim mesmo,
música de câmara. Eles descobrindo os sons do instrumento, pesquisa, muita pesquisa né?
sonora, era assim, um trabalho auditivo, corporal, um trabalho mesmo instrumental. Mas esse
instrumental ele vinha bem depois né? Então, a criança ela ia descobrindo os sons, ela ia
descobrindo o som alheios né? Então, a gente foi juntando todo esse trabalho, e faziam uma
espécie de improvisação no instrumento, ele não tinha nota musical, não tinha nada, então, era
o trabalho realmente de pesquisa. E dava um resultado assim fantástico, a gente colocava
outros instrumentos que era flauta, percussão, violoncelo, então, eles criavam, faziam a
improvisação, e a gente colocava a seqüência e eles faziam com todo o processo de
musicalidade, que era : o crescendo, o piano, o fortíssimo, então, esse trabalho era feito sem a
partitura. Era um trabalho muito gratificante.
F: Então esse trabalho você começou o trabalho de iniciação instrumental coletivo num
primeiro momento, né?
C: Não, esse não. Esse foi assim, já foi um trabalho depois né? Assim, eu comecei realmente
em sala de aula né e esse trabalho surgiu bem depois.
207
independência das mãos, sons aleatórios, ele vai descobrir qual, o quê o instrumento dele pode
oferecer, né, inclusive sons musicais, percutidos, então tem uma série de coisas que ele pode
pesquisar, e fezer primeiramente um som. Porque a criança primeiro ela tem que descobrir o
quê que o instrumento dela vai oferecer pra ela né? Então, assim, ela tem que descobrir o som
de tudo, porque só aí, vai nascer o interesse dela de realmente tocar esse instrumento. Que
muitas vezes ela feia : "Ah eu quero o violão!" . Mas não é o violão, ela vai descobrir outra
coisa. Então, com isso, a gente tem que deixar ela bem livre, sabe? Pra ela ir fezendo essas
descobertas com o instrumento. Depois, a gente vai fezer um trabalho né, que é a digitação da
mão direita né, que a gente vai procurar assim, um toque mais firme, um toque correto, que
ele tenha massa, volume, qualidade né? Ele, pra que ele possa fezer um trabalho mais
consistente, mas que ele não feça assim, mais mecânico, felar assim : "Faz assim", não, ele
tem que ter a consciência de todo esse toque, o quê ele quer? O quê que ele quer? Aonde ele
quer chegar com tudo isso, né? E depois a gente, eu assim, eu começo bem pela primeira
posição, eu não passo, eu não dou, ele conhece o instrumento a princípio né? livre, aí depois
eu vou trabalhar só a primeira posição. Eu começo a partir da terceira corda, eu não começo
pelas cordas soltas. Eu vou, começo pela terceira nota, terceira corda que é a nota sol, com
todo esse trabalho de toque, de peso, massa, qualidade né, já começa trabalhando assim. Ele
vai fazendo a seqüência das notas, da escala de Sol Maior das cordas primas. Primeiro
trabalha as cordas primas que é de sol a sol na primeira posição. Depois que ele trabalhou, a
gente cria uma musiquinha com essas notas, ele fez umas improvisações, né, rítmicas,
cantada, solfejada, aí, depois desse trabalho de tranqüilidade nas primas, nós vamos prós
bordões, nós trabalhamos a outra oitava de Sol Maior. Então, aí ele já tem uma escala de Sol
Maior com duas oitavas na primeira posição. A partir do momento que ele conheceu todas as
notas na primeira posição, aí, a gente vai andando. De primeira pra quinta, pra segunda,
usando as mesmas notas, aí ele vai descobrindo aonde encontrar essas notas em outra posição.
Então, ele já tem um trabalho de base na primeira e ele vai mudando pra, pra chegar na escala
toda do violão. Então, tem esse trabalho de base e depois nós vamos trabalhar com a
improvisação né? Nós trabalhamos... A improvisação está presente todo o momento, ele fica
livre pra criar, em todo o momento, ele não vai ficar, assim, fezendo aquele trabalho que só
técnico, né? Porque inclusive, este trabalho é muito condenado, de você não despertar a
musicalidade da criança, de você não dar, assim, subsídios pra criança pra que ela possa fezer
música, não fezer uma coisa mecânica, né? E também trabalho muito, assim de imcio, eu não
uso só notas, aquela coisa dura, eu trabalho muito com música folclórica, trabalho muito com
música popular, então aí, ele vai despertar o prazer, o gosto pela música, não fazer coisa séria
demais. Então, a princípio, ele tá trabalhando ali, só com a linha melódica, e o professor
sempre acompanhando, ele nunca está sozinho. Porque quando ele sente... Quando ele toca
uma nota, se o professor está dando um peso pra ele, tá dando um apoio pra ele, ele acha que
ele tá fazendo muito. Então, ele pode tá só na 3a corda fezendo sol quantas vezes necessário,
se o professor criar em cima daquilo, ele vai achar que está tocando demais. Ele vai dar
importância pra uma nota que ele está fezendo. Então, tem sempre que estar trabalhando com
o aluno, acompanhando ele a princípio, pra ele sentir que o quê realmente ele tá fezendo tem
uma importância muito grande. E ele pra se sentir seguro também, né? E trabalho muito
também, com o estudo individual, acho que ele é de fundamental importância porque não
adianta nada o aluno chegar só com o estudo da sala de aula, ele não vai progredir, não vaiver
resultados, a família muito menos. Então, eu trabalho em conjunto com a criança e com a
família, eu acho que eu tenho um apoio melhor. Então, se o aluno, eu mostro muito pra ele, se
ele estudar, se ele tiver um, um, cinco minutos, dez minutos por dia, fezendo alguma coisa,
ele vai ter um rendimento muito grande, vai ter um prazer maior de realizar, né?
209
F: E Cida, você acredita que a influência dos pais... como você vê assim, como é seu
trabalho de conscientização dos pais de acompanhamento desse filho no estudo do
violão? Você acredita que é importante o pai está sempre acompanhando e como, a
maneira que ele faz isso?
C: É assim, de grande importância né? Se a gente não tiver trabalhando junto com o pai, né?
Com o responsável, às vezes o aluno fica muito solto. Porque criança, como eu trabalho com
criança muito e adolescente, ele tem que ter uma consciência, ele tem que ter uma estrutura,
ele tem que ter assim sabe, um trabalho assim, mais assíduo pra ele realmente se envolver
com o quê ele está fezendo. Porque ele se chegar só na minha aula pra desenvolver esse
trabalho, ele não vai ver isso, ele vai desestimular muito cedo. Então, o quê eu feço? Eu,
quando o aluno não está estudando, eu toda aula feço um trabalho de anotação no caderno, ele
tem que mostrar prós pais, quando eu tenho uma, assim, uma observação mais, assim,
necessária, o pai assina, né? Então, com esse acompanhamento, assim eu, assim, essa
conversa no papel, entre eu e o responsável, ela assim, ela tem me ajudado muito. Porque o
aluno, ele não tem a consciência, assim, que ele tem que chegar, "eu tenho que estudar",
porque até pra escola, eles tem tantas atividades que impedem eles assim, de ter aquela assim,
aquele... aquela coisa assim, natural dele : "Eu vou fezer isso", sabe? Então, assim, ele tem
que ter o horário dele certinho né? Terminou a tarefa... não é que eu vou colocar ele pra
estudar uma hora, duas horas, não, quinze minutos pra uma criança de dez anos já é o
suficiente, aí, vai aumentando esse tempo com o passar do tempo, ele vai aumentando esse
tempo de estudo. Se os pais, se você vai fechando prós pais, os pais sempre presente na vida
da criança, dentro do instrumento, o pai também vai sentir até o prazer, vai começar a
entender melhor. Porque o pai, cobra muito, desde que ele coloca a criança na escola, o filho
na escola, principalmente de música, ele quer resultados imediatos, então, com ele
participando sempre com o processo de estudo, ele vai estar sabendo o quê está acontecendo.
Porque muitos pais chegam pra você e fala : "Ah, meu filho só ta tocando uma nota, uma
notinha aqui e outra ali" , ele tem que saber a importância de... do que tá acontecendo. Porque
não é fócil pra você sentar e ter uma postura, pra criança sentar e ter uma postura, ler uma
partitura, pensar no corpo ao mesmo tempo, que a mão direita fez um processo, a mão direita
realiza outro, né? É muita coisa pra cabeça da criança, né? Então, desde que os pais estão
participando de tudo isso, eles tão entendendo, assim, eles estão tendo um entendimento das
etapas do estudo do filho. Então, se lê tem esse apoio dos pais em casa, ele vai ter um
interesse melhor. Não é o pai ficar cobrando : "Ah, você já estudou isso hoje?", "Você já fez
isso?', "Ah, vai estudar!". Não, não é desta forma. Eles têm que saber conduzir o filho, de
fezer de uma forma mais prazeirosa. (Interrupção). Aonde eu tava?
F:Cida você estava continuando o seu procedimento com o aluno, você estava falando da
importância do estudo individual, né?
C: (Interrompendo) Isso, a importância dele, né, do estudo individual, e ... Porque ele ajuda
muito a criança na questão, na questão do aluno ter essa consciência do estudo e depois
também, para quando ele poder vir a mostrar esse trabalho, né? Porque se você, se o aluno
tem a consciência do estudo, e se você coloca o aluno por exemplo pra tocar em público, ele
não é um aluno estudioso, ele vai subir nesse palco pra fezer uma coisa de qualquer forma e
vai ser um trabalho muito perigoso pra ele como performance, né? Ele vai ser uma pessoa
insegura pro resto da vida dele, então, vai ser um trauma que ele vai ter. Então, se ele estudo
individual, ele vai ter uma consciência de que realmente é diferente, de que realmente ele
cumpriu o quê tinha que fezer. Então, quer dizer, que o palco pra ele, não vai ser aquela coisa
tão temerosa, né? Porque nesse processo também de trabalho, eu trabalho muito com o aluno
a performance dele em palco, com o público mesmo, a relação dele com o público dele
210
porque é muito importante você direcionar o trabalho. O estudo tem que ter um por quê, né?
Então, se você feia : "Ah, você vai tocar em tal lugar" e ele muda totalmente a forma dele de
estudo. Ele passa a estudar mais, ele passa a se preocupar mais. Então, essa preocupação, ela
tem que ter um fundamento, ela tem que ter uma base. Então, assim, muitas vezes eu feço essa
performance de palco com o aluno, mesmo que ele não vá tocar tão assim, não é, tão perto,
mas ele já vem com um trabalho de base quando ele chegar a tocar, ele já tem uma relação
com o público, né? Não é que ele vai deixar de ter aquele medo, porque aquele frio na barriga,
eu acho que a gente sente a vida inteira, mas ele tem uma certa tranqüilidade de encarar o
público dele mesmo, sabe? De chegar lá, subir e falar : "Bom, eu fiz a minha parte", né? "Eu
estudei, eu fui sério", né? Então, agora é só deixar ver o quê que vai acontecer. Ele tem um
respeito com o público dele,né? Ele tem que ter um respeito, ele tem que ter a forma de
agradecer, né? De receber mesmo, o público dele. E também tem assim, nesta seqüência do
trabalho né?, o aluno também, fez uma pesquisa de acordo com o nível que ele vai chegando,
vai adquirindo, ele vai fezendo uma pesquisa, ele começa a pesquisar sobre a forma de
interpretação, o autor da peça que ele vai executar né? Que época que é, ele vai, ele tem uma
pesquisa do que ele vai realizar. Então, quer dizer, ele vai subir, ele vai chegar a tocar se o
aluno toca, se vai tocar no público, ele sabe totalmente o quê que ele ta fazendo, ele não ta
perdido, ele não ta sabendo : "Ah, que período eu estou?", "Como que eu vou fezer?", "Como
que eu vou interpretar?" . Então, tem todo um trabalho de pesquisa, quando ele pratica em um
certo nível.
F: E quais métodos você mais comumente utiliza? Métodos específicos pra crianças ou
até mesmo iniciantes?
C: Bom, pra criança, pra iniciante, eu uso como eu já felei, eu uso muita música folclórica,
né? Uso muito música popular, a linha melódica da linha popular, eu feço o acompanhamento,
ou o grupo né? A gente fez um trabalho, faz é, assim, um fica com a linha melódica, o outro
fez um outro apoio, pede um acompanhamento, então, cada um ta fezendo uma coisa quando
está em grupo. Aí, a gente divide essas vozes e ...
F: Os métodos? Você trabalha com o "Ciranda"...
C: É, então eu trabalho assim : eu tenho um método que é o, chama-se "Basics" do Jerry
Sniders, ele é americano. E um método muito interessante porque todo o som? ele trabalha
sempre as notas separadas né? e vai juntando essas notas e vem com o acompanhamento pra,
pro professor né? ou quem for acompanhar. Então, fica muito prazeroso desta forma. Aí,
depois eu entro, pego algumas coisas do "Ciranda das 6 Cordas", eh, tem Henrique Pinto
"Iniciação". O "Iniciação" é bem a frente. Eu deixo o "Iniciação" bem... quando ele já tiver
com uma base pronta mesmo né. E tem vários métodos que eu uso. Faço muito aspectos
assim: uso muito escalas, escalas maiores e menores, uso não assim aquela coisa séria, a gente
trabalha muito, brinca muito com as escalas, né, não trabalha, assim, aquela coisa dura; com
arpejos. Então, tem assim o trabalho técnico, ele ta sempre, aproveita muito assim, às vezes, a
peça que ele está tocando, não fica aquele trabalho assim : é técnica, sabe? Ele vai pegar a
música, dentro da música ele vai aproveitar e fezer a técnica, aproveitando o quê ele está
fezendo. Então, e método, tem vários métodos que eu uso. Eu não uso assim, eu não pego só
um método e trabalho só com ele. Então, por exemplo, do Henrique Pinto "Iniciação ao
Violão", eu trabalho por exemplo, uma peça ali, e já passo por outros, outras coisas, então,
tem, tem muita, uma infinidade de, um material muito grande. Agora assim, eu sinto muito
feita de métodos pra iniciantes. Porque eu acho que o "Iniciação ao Violão" do Henrique
Pinto, eu acho ele muito pesado como iniciação a "Ciranda das 6 cordas" eu aproveito poucas
coisas dele, eu não feço ele todo né, então, eu aproveito pouca coisa. Então, pro aluno que
está iniciando, então, o quê que acontece, a gente tem que socorrer com músicas folclóricas,
211
peças, músicas populares, né? que é o que a criança gosta, quando ela está assim, vendo que
ela ta tocando alguma coisa que ela conhece, empolga bastante. Então, eu assim, eu uso
bastante esses métodos assim, porque essas músicas à parte porque assim, eu sinto uma
escassez muito grande...
F: Pro iniciante?
C: Pro iniciante.
F: Você acaba fezendo um método próprio né? Você acaba criando pra cada aluno, de acordo
com a necessidade dele, um método próprio.
C: Um método diferente.
F: Um método diferente, né?
E em relação aos instrumentos musicais, Cida? Você, pras crianças principalmente, você
acredita que eles são adequados?
C: Não. Assim, quando existia aquela linha do Gianinni Cl, C2, né, C3, então, quando tinha
essa linha da Gianinni, ele assim, às vezes ate dava pra gente ir adequando, né, até ele atingir
um certo nível pra adquirir um instrumento melhor. E quem que tem, quem que teria poder
aquisitivo para adquirir né? Agora, hoje ta muito a desejar os instrumentos, então, ta muito a
desejar esses instrumentos e ... (Interrupção).Esses instrumentos hoje eles não tão tendo
qualidade, eles não assim, a qualidade do instrumento em questão, a sonoridade, afinação...
F: Até mesmo o tamanho...
C: Tamanho...
F: O tamanho influencia?
C: E, influencia muito, né. Então assim, eu assim, eu particularmente, eu não... por exemplo,
quando a criança é muito pequenininha, eu não peço um violão pequeno pra idade dele não,
porque ele vai crescer tão rápido que eu peço, realmente o violão com tamanho normal, né,
que é o 18, que é o tamanho 18 porque depois esse outro violão ele vai ficar encostado. Então,
mesmo quando é a criança, ela vai, ela desenvolve muito rápido, né? Agora, o que eu tenho,
os instrumentos que eu tenho usado, assim, que eu tenho pedido é o Eagle, né? Que é o, que é
aquele japonês, é o que ta assim, mais ou menos, porque não é todo mundo que pode adquirir
um instrumento artesanal, né? quando o aluno tem essa condição financeira, ele já entra com
um instrumento bom. Mas, quando não tem, ele tem que entrar com essas qualidades que
realmente a gente ta encontrando por aí.
F: E um aluno assim, um aluno mais, um aluno com sete, oito anos, como você divide a
aula dele, em termos assim : você trabalha repertório aliado à técnica, como é que... ou é
parecido com essa faixa etária inicial que você falou?
C: Não. Quando a criança, a criança de sete anos e quando um adolescente ou um adulto,
assim, a gente separa bem, né, a forma de conduzir esse material. Agora, eu trabalho sempre,
eu nunca deixo de trabalhar, desde os sete anos, uma escala pra ele conhecer, porque a escala
ela dá agilidade, conhecimento da escala, ela dá qualidade no toque, né? É uma série de coisas
assim que a gente não pode deixar de fezer nessa aula, mesmo com uma criança de sete anos.
Então eu divido, ele trabalha duas peças pra mim, fez uma leitura a primeira vista, toda aula
eu acho que é necessário uma leitura a primeira vista. Você pensar numa improvisação, nem
que seje curta, né. E também uma escala e um arpejo. Então, a aula dividida, mesmo pra uma
criança de sete anos, desde os sete anos, deste forma. Agora, cada idade, né, de uma forma
diferente. Mas, usando todos esses, essa seqüência.
F: E as aulas você divide? Ou às vezes você dá uma aula inteira pro aluno, como é que é
isso? Você divide duas vezes semanais em um período mais curto? Como é que você
gosta de trabalhar?
212
C: Aqui em casa, quando eu dou aula particular, eu trabalho com uma aula seguida, uma vez
por semana, quando, isso pra adulto. Quando é a criança eu divido 45 a 45 minutos, duas
vezes na semana. Agora, meu trabalho no Centro Livre de Artes, lá são só 45 minutos por
semana. Eu acho muito pouco. Então quando você, a gente dá aula de instrumento, tem que
afinar, você tem que lixar a unha do aluno pra ele ter um toque legal, pra ele ter uma
consciência que ele tem que ter a unha na mão direita. Então, até você fazer o trabalho de
lixar a unha, ensinar ele a cuidar do instrumento, porque ele tem que ter o carinho com o
instrumento, afinar o instrumento até que ele se coloca, não dá pra gente fazer muita coisa.
Então, é tudo muito corrido, você fica assim muito agitado né, com o pouco tempo que tem.
Então, assim, eu, uma hora eu acho, assim, fundamental.
F: E. Porque a gente esbarra nos problemas de instituições, né? Por exemplo, a
instituição, ela define seu horário, o problema dos pais, porque às vezes os pais não
querem separar a aula. Então, você enfrenta problemas, vamos dizer assim, externos,
que você não, não, você não escolhe. Você tem que lhe dar né?
C: Realmente.
F: E Cida, em relação ao trabalho com criança. Você vê alguma dificuldade, assim,
empecilho, alguma, o quê que mais te chama em termos assim, do que seria uma
dificuldade, uma...
C: (Interrompendo) Olha eu acho que música, assim, crianças, pra crianças, pra qualquer
indivíduo, ela não tem nada difícil pra ninguém Principalmente pra criança. Então, é a forma
como você se coloca, como você coloca isso pra ele, pro indivíduo né? Então, assim, quando
você esbarra em um problema sério, por exemplo : você tem algum probleminha nas
articulações, ou vice-versa, eu acho que tudo tem solução. Então, é você ter a consciência, é
você estar pesquisando sempre, você estar lendo sempre, né, principalmente o professor, ele
tem que ta sempre tendo uma boa discoteca, uma boa discografia, né...
F: Uma boa biblioteca...
C: Uma boa biblioteca, né? Então, você tem que ta sempre atento né, principalmente...porque,
não é só você sentar e dar aula, pegar um instrumento e fala: "Toca". Não, você tem que ver a
estrutura física do aluno, você tem que ver se ele está com alguma tensão. Ás vezes, uma
dificuldade dele é uma tensão que ele ta tendo a mais. Então, é você trabalhar um todo, o
aluno como um todo, você tem que ta sempre observando né, a forma como ele está sentando,
como está sendo... o toque, tem nada difícil. E você começar com coisas bem simples pra ele
ir tendo o prazer da evolução do que ele ta fazendo, né? Então, eu acho que não tem nada
difícil.
F: Cida, você sente que existe uma lacuna, existe falta de pesquisas na área, que relatem
o dia-dia de um professor do instrumento, do nosso instrumento pra crianças? Você
sente falta de materiais assim, mais profundos na área que pesquisem mais a fundo a
problemática ou não só a problemática, o trabalho com as crianças especificamente?
C: É, bastante. Porque toda, assim, principalmente na nossa área do violão, que você sempre,
você ta procurando alguma coisa, você sente assim, quando você tem um bom livro de
Educação Musical, você pega algumas coisas de cada, de cada um. Você nunca encontra num
só lugar, você tem que ir fazendo estas pesquisas. E aqui, principalmente dando aula aqui em
Goiás, é muito escasso. Então, quando eu quero um material, se eu quero trabalhar com
música de câmara, eu tenho que ir pra fora, eu tenho que ligar pra São Paulo, perguntar se
alguém pode mandar pra aqui né? Então, aqui é muito difícil, você chega numa loja, numa
loja de música... (o lado da fita terminou...).
F: Então, Cida, você acha que há uma lacuna realmente nas pesquisas, né, nos materiais
específicos, pras as crianças, é, é bastante escasso, não é?
213
C: Muito escasso, e a gente, quando a gente, é, quando você faz um curso, por exemplo né,
por exemplo, fez um curso superior, que você faz, você fez com sede de fezer, de realizar, né,
de... E o material, ele é muito difícil, muito difícil, você não tem acesso ao material, então
você se sente perdido, muitas vezes você fica desestimulado, porque quando você sai da
faculdade, você está assim com mil planos, né, a maioria dos estudantes formam com mil
planos,os formandos... Então assim, quando você sai , você está sem, sem nada de apoio e
quando você vai para procurar tem essa lacuna. Então se você não tiver pessoas que vão te
apoiando, vão te cedendo material ou que você possa pedir pra fora que tenha alguém que
possa mandar, aí fica muito complicado.
F: E Cida, você conhece o trabalho de alguém no Brasil ou em Goiânia, que gostam
muito de um trabalho com crianças, que seriam um ponto de referência pra você? Tem
um profissional, professor e tal...
C: Bom, o ponto de referência que eu sempre tive na minha vida, e que eu continuo tendo, que
é uma pessoa que tem uma consciência muito grande,uma forma muito, assim, clara pra
passar as informações, que tem um prazer, ela, assim, se dedica completamente ao que ela
fez, né, que é com amor, com carinho, com dedicação, é a minha professora, né , que foi a
minha professora Maria das Graças, eu acho que, aqui em Goiás, ela é a pessoa mais completa
nessa área.
F: E Cida, pra finalizar, você acredita que... Como a gente poderia incrementar essa
questão de, do ensino do violão no Brasil? O quê que você acha que falta? Seminário? O
quê que você acha, qual seria a solução para ficar uma coisa mais dinâmica, né , assim
essas trocas de informações. O quê que você, qual sugestão você daria pra uma, um
maior intercâmbio por parte dos professores, uma maior pesquisa, né?
C: Bom, eu acho que o quê feita muito entre nós, né, é essa, essa... esse envolvimento, sabe?
É o envolvimento do fazer, de arregaçar as mangas e felar : "Vamos fezer!" . Porque aqui é
assim : ta cada um no seu mundo, cada um no seu cantinho e quando você realiza, você tem
que suar muito pra você levar esse profissional pra assistir. Assim, por exemplo, quando você
vai trazer um profissional, você vai fazer assim, um movimento, você tem que suar muito pra
trazer essa pessoa, esse profissional pra ver o seu trabalho, né? Então, assim, muitos
reclamam e não fazem nada , né? Então por exemplo eles felam: "Ah, aqui ta faltando um
movimento de violão, a gente fazer tipo sarau, se encontrar mais, ou isso, aquilo". Mas, eles
só felam não tem ação, não tem atitude nenhuma, então, ta assim : cada um pra si. Nós não
conseguimos, não vamos conseguir chegar a lugar nenhum senão existir assim, todo mundo
uma aliança, se dar as mãos. Porque todo mundo feia : "Ah, quando é, quando trazem de fora
um piano, um flauti... um pianista, um flautista, ou outro instrumento, o movimento é outro.
Quando trazem um violão, tudo, ninguém tem um interesse. Tem alguma coisa errada. O quê
que ta feltando? É todo mundo se dar as mãos. Todo mundo trabalhar pela mesma causa
porque se nós não fizermos isso, nós não vamos ter público não, né? Quer dizer, a gente vai
fezer, as salas vão estar sempre vazias, porque a música clássica, principalmente, o violão, né,
que é um violão muito popular né, ele foi muito popularizado, então, hoje, ele tá assim, tendo
uma consciência maior da parte dele como instrumental. Então, assim, as pessoas estão
começando a valorizar mais, as salas, quando as pessoas vão assistir, elas ficam muito felizes
com o quê elas ouviram. Quer dizer, essas pessoas são muito seletivas né? Elas não são assim,
em grande número, então, eu acho se fizer um movimento maior por parte dos profissionais, a
gente vai conseguir muita coisa boa pra Goiás, mas enquanto isso, vai continuar nesse
marasmo.
F: E você que foi uma das pessoas que lutaram pra, pra implantar né, o curso superior
de Violão aqui, em Goiânia, que é recente né, na Universidade Federal de Goiás, de 94
214
pra cá né que foi implantado o curso. Você ainda vê um pouco de... o violão
marginalizado na universidade, nas universidades, assim em termos de... não sei como
eu devo te falar... nos recitais, na música de câmara. Como é quê você vê isso? Até
mesmo o público, você vê que os recitas de violão são menores, são assim, o público é
menor, né? Ás vezes, os colegas não estão muito interessados... você acha, o que você
atribui a isso? A falta de tradição? A falta de conhecimento do público geral conhecer
mais o repertório...
C: Eu acho que falta muito, porque o violão é um instrumento assim : se você não tiver num
ambiente propício pra ele, ele assim, ele não vai, você não vai ter o resultado merecido né? o
seu esforço, de tudo mais. Então, assim, você primeiro, você tem que ter um bom lugar pra
você mostrar esse tipo de trabalho. Agora, o motivo assim, por exemplo, eu na universidade,
quando eu ia assistir algum recital, de piano ou outro instrumento qualquer, canto, as salas
estavam sempre cheias. No meu, no meu, na minha formatura mesmo, de bacharel em Violão,
eu fiz muita propaganda, eu fiz muitos convites, o auditório tava muito vazio. Então, eu não
conseguia levar público, eu não conseguia levar os estudantes da própria universidade pra ver
o violão. Eu acho que é uma falta de valorização, realmente, sabe? A pessoa assim... eu por
exemplo, eu prestigio tudo que, tudo que eu pude sugar ali da universidade, eu, eu fui atrás,
sabe? Eu participei, né? Eu tava sempre ali. Agora assim, eu acho que feita muito
companheirismo, muito coleguismo da área das artes mesmo. Né, de prestígio.
F: E Cida, pra finalizar agora, como você ... essa é uma pergunta mais aberta,né? Eu
queria saber, como que você descreveria a sua função, sua profissão de professora? A
sua atuação de professora, como você descreveria? È uma coisa livre né? Você pode dar
o tom que você quiser...
C: Bom, eu descreveria assim : tudo que eu feço, eu feço com muito amor, com muita vontade
de estar sempre acertando, com muita busca nos acertos né? Eu, assim, sinto uma necessidade
do aprendizado sempre. Eu não, assim, acho que eu sei tudo, eu tenho que estar sempre atrás.
Eu sempre, eu tô aprendendo. Os meus, os alunos, os meus alunos mesmo, eles me ensinam
muito, eles me fezem ao mesmo tempo que eu to ensinando, eu estou aprendendo. Então,
quando muitas vezes eu tenho as minhas dúvidas, eu tenho que ir atrás. Eu não, eu não
estacionei. Então tudo que eu faço, eu faço com muita vontade, com muita vontade de acertar
porque afinal de contas, né, a gente ta educando né? E uma vida dedicada a isso. E não é só o
aluno que ta ali comigo, ele não é só o meu aluno. Ele o é meu aluno, ele é meu amigo, sabe?
Eu não envolvo, assim, confidencias, particularidades, porque eu acho que isso também pode
vir a prejudicar muito seu trabalho mesmo, porque aí ele passa a confundir muito as coisas,
mas você tem que dar uma abertura pro aluno ou pra você mesmo. Ter assim, sabe, um elo,
uma ligação maior. Não só, eu sou o professor ele é o meu aluno,né? Então, eu feço com
muito amor, com muito prazer.
F: Então ta Cida, Muito obrigada!
C: Obrigada você.
F: Professor, Bom Dia! Como foi o seu primeiro contato com a música? Como você
despertou o interesse pela música?
215
JE: Bom, geralmente, a maioria de nós, violonistas, músicos mais antigos, vamos dizer assim :
eu já com meus 50 anos e tantos anos (risos). Nós iniciamos, eu principalmente, iniciei, eu era
internado, interno né? na escola agrícola. E lá eu senti o primeiro contato através de um
menino que foi interno. Ele tocando violão, eu achei aquela coisa tão bonita né, que até aí, a
gente não tinha instrumento nenhum lá na escola né. E a primeira vez que eu vi ele tocar, eu
também tentei fezer alguma coisa e consegui. Então, o meu primeiro contato com o violão foi
através dessa criança que foi interna. E eu acho que essa, essa vocação vem dos antepassados,
dos meus filhos, pais, meu avô tocava viola né. Meus filhos tocaram pagodeiro (risos). E
também, então, essa energia foi passada pra mim. E como essa energia é passada, você se
desperta fecilmente né. Então, a primeira vez que eu peguei no violão, com a terceira vez que
eu vi o rapaz afinar, eu consegui afinar o violão. Que é muito difícil, é a coisa mais complexa,
então eu já afinava violão. Tanto é que nós como professor, a gente não ensina no princípio a
pessoa a afinar o violão. Então, o meu primeiro contato foi esse. E mais tarde, já com, nessa
época eu devia ter meus onze a doze anos, né, e a escola era retirada, sobre mim em
Uberlândia, a escola era retirada do estado, umas duas, uns dois quilômetros mais ou menos.
Então, é com uns, eu jogava futebol, mas ia treinar na cidade. E um dia passando, eu passando
na porta de um gabinete de dentista, eu ouvi um violão tão bonito, tocando "Ave Maria" de
Gounoud, fazendo o trêmulo, que dizer, o trêmulo entre os baixos e a melodia nos, nos dedos
anular, médio e indicador, né? Aquilo pra mim foi o fim do mundo. Aí, eu conheci um novo
violão (risos), certo? Então, primeiro eu tive que pensar : Olha, o quê eu tenho que fezer pra
chegar a isso, né. No momento eu não podia porque eu tinha que esperar meu tempo. Meu
tempo, meu primário lá na escola, e depois, a sair. Então, a minha intenção era estudar violão,
após sair do patronato, do patronado né. Em 1959, é, meados de 59 foi quando eu sai. Em
Uberlândia tinha um professor de renome é, chamado Temi Couto. Temi era um dos melhor
professor da época, de violão. Fez cursos em Monte Carmelo me parece, professor e
violonista no Rio de Janeiro, na época Dilermando Reis, fez um programa na Rádio Nacional
e também tinha uma cultura muito grande, musical mesmo, né? Então, ele dava aula em
Uberlândia por qual eu passei pegar as minhas primeiras lições de violão com ele. Naquela
época a gente não, não era igual hoje, hoje você pega um aluno, de cara você já põe um violão
na mão dele, né, pra ele fazer os primeiros exercícios, senão você fica, senão o aluno não
estuda. Hoje o pessoal já quer tocar de cara. Então, a gente da o violão passa alguns
exercícios, é o contato dele com um violão de verdade. Mas antigamente, não. Era seis
meses, teoria, muito bom porque na época a gente estudava o Bonna, aquele método de
divisão né? (Risos) até ficar craque. Aí, o professor depois de um longo curso de teoria, é que
ia passar a, a trabalhar com o instrumento, com o violão. Mas, aquilo pra nós era tão difícil. A
maioria dos estudantes vibravam com isso. Fazia teoria e pegava o violão escondido deles, né.
Ninguém tinha condição de levar aquele tanto de teoria, pra depois estudar o violão. Poderia
até causar resistência, poder, no meu caso, não é? Mas, foi o professor que me deu as
primeiras instruções, eu passei por isso aí. Estudei teoria, estudei o violão também escondido
com ele. Em 61, eu mudei pra Goiânia. Então, na época que eu estudava inglês lá, com o
professor foi um seis a sete meses, que eu fiquei estudando com ele. Mas, foi mais teórico,
violão, ele não me deu instrução nenhuma no violão. Mas foi muito bom a teoria que eu
peguei, tive com ele. Tive contato lá em Uberlândia com outros instrumen..., outros
violonistas também. Como eu ainda, rapazinho tinha aquela timidez de aproximar dele, eu
deixei pra lá. Vim pra Goiânia em 61, aqui eu vim pra cursar ou terminar o ginásio né, e aqui
eu procurei uma escola de violão, a qual eu não encontrei. Quem dava aula aqui, se não me
engano naquela época tinha um tal de Pepe, esse Pepe estudou com Isaías Sávio, descendente
de espanhol. E eu, então, procurei aqui algum professor através da Casa do Povo, uma casa de
216
instrumentos, hoje é, atualmente é Musical Goiânia né? Antigamente chamava Casa do Povo,
depois foi Casa Evangélica, agora atual é, ou melhor, Casa Betânia, e atualmente é Musical
Goiânia. E lá, eu procurando os funcionários, ele falou não, "Tem um Pepe aí, ele toca violão
muito bem, você procura ele, ele pode te ensinar" . Eu procurei o Pepe e o Pepe me deu
poucas instruções também porque ele não tinha uma didática pra lecionar na época. A didática
nessa época pra violão era terrível né? (risos) Mas como a gente, tem aquele dom, aquela
energia que você já vem com ela, aquela vontade, aquela afeição pelo instrumento, fez com
que, com poucas aulas que eu tive com ele, eu, ajuntado com a teoria que eu já tinha
acumulado mentalmente, aí eu dei um avanço, um avanço muito grande num prazo de um
mês, eu tava tocando até um "Astúrias" né? (risos). Eu me lembro um caso interessante, esse
"Astúrias" eu ouvi em Uberlândia, e fiquei com essa música. Eu tocava num desfile, assim, o
outro tocava uns trechozinhos espanholados, aquilo pra mim, eu , eu achava muito bonito. Eu
tenho muita afeição com a música espanhola. Então, o Pepe me emprestou, aliás, não me
emprestou a partitura da "Astúrias", felou : "Não isso aqui é muito pesado pra estudar agora".
E quando ele deu uma saidinha, eu coloquei a partitura debaixo do braço, sai e então até a
próxima, e voltei tocando "Astúrias". Aí, só que (...) eu fiquei sem o professor. Ele felou :
"Nossa, você ta bom demais. Vamos tocar por af'. Então, eu fiquei sem, né. Eu continuei,
vamos dizer assim como autodidata, estudando sozinho, mas deputando (...) Uberlândia, não
com o professor antigo, mas com os amigos lá, naquela época, encontravam nos bares, e ali
como eles felam, ou fazia só que não era enredo deles (risos). Era nos bailes, nos butecos
mesmo, não é? Mas era uma coisa séria, o pessoal que gostava da música erudita, com as
biritas e tudo, né, mas gostava da música erudita. Tanto é que se chegasse alguém, com
cavaquinho ou pandeiro, era, saía na hora. Não deixava porque aquela noitada ali... e enchia.
E aí eu participava né. Villa-Lobos acompanhado pelos seresteiros né e eu participava daquilo
e enquanto isso, ia aprendendo. Aí eu comecei a trazer partitura de Uberlândia pra Goiânia né.
Como você queria saber um pouquinho da origem da música aqui. Eu acho que eu me orgulho
de ter sido um dos precursor da coisa aqui em Goiânia. Porque eu comecei em Uberlândia,
ouvia Bach, eu gosto muito de Bach, tocava, aí alguns aqui veio estudar, e começou também a
afeiçoar com a música de Bach,né. Apresentei em televisão tocando também, "Sevilha",
"Astúrias" . Eu tinha uma habilidade para tocar, que hoje eu não tenho ela. Hoje eu tenho
aquela coisa mais diferente, mais devagar (risos), eu era meio atrevido né. Então, mas a minha
teoria ainda tava bem fraca, eu, eh, tanto é que eu em 67, eu dei um recital, o primeiro recital,
eh, no Conservatório, cuja a presença estava Dona Belkiss né, e ela vendo a minha
capacidade, a minha vontade de aprender, ela me ofereceu um curso de teoria como ouvinte
durante dois anos, do qual eu participei. No meio daquela criançada, eu solfejando com a voz
mais grossa, era até engraçado né, mas aquela vontade da gente de aprender, eu, eu fiquei lá.
E tinha, então, a meninada, mas eu conclui, aprendi muitas coisas ali, né. Agora, aí, no violão,
não tinha uma, um estudo certo, igual um estudo de piano, já tinha piano há muitos anos.
Piano é uma escola completa, tem aquelas coisas certas.
F: A referência de vocês naquela época era o Isaías Sávio de São Paulo?
JE: Boa Pergunta. A nossa referência, todos nós era (...) . Como ouvinte, pra ouvir, nós
ouvíamos o Dilermando, certo? E mais tarde, ou melhor, já nesta época aí, eu fiquei sabendo,
através de um concurso, o Turíbio santos, que ele venceu na Europa, e ele foi aluno de um sei
que lá Rabelo, Rabelo né, e foi aluno de Villa-Lobos, não sei se foi aluno do Villa-Lobos, eu
acho que Villa-Lobos não tocava nada, apenas compôs né? O toque dele muito curto?, mas o
Turíbio deve ter alguma coisa dele, interpretação e como tocar as músicas dele. Então, o
Turíbio foi o primeiro a gravar as peças de Villa-Lobos né? Mas, quanto a Isaías Sávio, eu
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fiquei sabendo que, como referência pra música mesmo, ele foi o primeiro que trouxe a
Escola de Música, o violão por, vamos dizer, por música, ele é argentino, né?
F: Uruguaio.
JE: Uruguaio, exatamente, ele, na década de 30 por aí, me parece que foi isso, que ele pra São
Paulo e lá ele fez uma cadeira na, pra lecionar, na escola, mas então, a música, o violão por
música foi trazido para o Brasil através de Isaías Sávio, então, nós temos ele, como referência,
como, nessa parte aí, né. Agora, a gente conhecia outros métodos, é a Escola de Carcassi, um
meio complexado demais, lá em Uberlândia, todo mundo estudava a Escola de Carcassi. Ele,
um método até bom. Teórico e (...) a partir de músicas, né. Cada, cada som, ele fazia umas
escalas, uns exercícios, arpejos, né? Mudança de posição, e cada posição fazia um trabalho,
certo? Então Isaías Sávio, foi aquele trouxe violão por música no Brasil e isso a gente ficou
sabendo.
F: E como é que o senhor iniciou as aulas como professor? O trabalho como professor?
JE: Certo. Bom, toda aula sempre começa com alguém que tem escola, ele, alguém que tem
escola e alguém que quer aprender o instrumento e ás vezes vê você tocando, acha que você já
tem uma capacidade de lecionar, né. Hoje até exagerado, mas na sua época, no meu tempo,na
cidade, não era assim, então, tinha que ter um gabarito pra ser professor. Existia aqui, a
Academia Mascarenhas de Acordeon, como eu já tinha apresentado em televisão, já tinha
dado meus recitais, já tinha saído pela, pelas noitadas, então, eu consegui é, é através da
professora, até chamada, chama Prof Maria Angélica, a gente chamava ela de (...), então,
veio e me ouviu, e me contratou para lecionar na Academia Mascarenhas, que eu fiquei sete
anos. Quando eu aprendi muito, aí, eu tive que ter contato com outros professores. Eu era
muito tenso, muito introvertido não é? Sério, sério demais né? (risos) Mas aquilo era feita de
cultura mesmo, então, eu ficava deprimido lá no canto. Um dia ela me chamou pra dar um:
"Vamos estudar um pouquinho mais teoria? Sua caligrafia precisa melhorar, tem que estudar
coisas novas e tal (...), mas a sua aula como professor, a sua didática pra lecionar ta muito
boa, todo mundo ta tocando". Então, eu comecei já na, na escola, certo?, com algumas aulas
particulares. E o quê que eu ensinava? Eu ensinava aquilo que eu aprendi. Com o meu
linguajar daquela época, né? Mas dava pra pessoa entender, o problema era o violão,
valorizava mais o quê eu tocava, porque recital era... certo?
F: E essas dificuldades? Você já teve alguma dificuldade em termos assim, "o quê eu
passo pro aluno" ? Como passar?
JE: (risos) Não.O quê passar pro aluno eu nunca tive, assim, dificuldade não, certo ? Eu
passava,a gente mais tocava, passava para o aluno, tocando né, ele afeiçoava com a música, aí
era fácil você transmitir a partitura pra ele. Não era assim de colocar pra ele a partitura e "fez
uma leitura aí, à primeira vista". Não. Eu pegava a peça, tocava pra ele, não é. Algum, alguns
alunos afeiçoavam com a música, outros não, então, eu escolhia outras músicas, e assim por
diante. Você perguntou foi?
F: È sobre dar aula né? Se você sente dificuldades, como lecionar né?
JE: (interrompendo) As dificuldades, bom, dificuldades eu tenho sempre, quase sempre.
Então, nessa época de (...), eu dei aula muito bem. Foi mais na frente eu comecei a sentir
dificuldade devido a essa, que eu num referiu, né, a Escola de Tárrega, e nós, todos
professores, acho que o Henrique Pinto também passou por isso né, antes da Escola
Carlevariana, todos nós professores antigos, tivemos uma pulsação assim, grande, porque a
gente estava sempre buscando uma coisa melhor, uma forma melhor de trabalhar. Então, eu
passei uma pulsação muito grande, uma, na década de 70, porque parece que a coisa para mim
paralizou. A gente num, num subia nem descia, tanto pra lecionar como pra tocar, certo?
Então, eu tava encontrando dificuldade em fezer aqueles alunos desenvolver, certo? Mas é
218
devido à própria escola, dificultava a gente. Uma complexidade técnica fora do comum, ne , e
a gente estudava noite e dia, pra nada, só fazia cansar. Depois desse, aí com o movimento
Carlevariano pra cá, que nós, os professores, aqueles que vem do (...), uma coisa mais real,
que dá um resultado melhor, propuseram a mudar e também a participar, é, assistir os
seminários com o Prof Henrique Pinto, eu não tive oportunidade de conhecer o Carlevaro,
aliás, até tive, quando o Henrique Pinto começou com ele, eu tive uma bolsa que o meu (...)
me ofereceu. Mas na escola onde eu lecionava, segundo a professora, era muito carente, se eu
saísse ela ia ficar sem aluno, então, me complicou. Eu fiquei frustrado com aquilo. Mas, não
teve problema porque mais tarde eu, eu tive contato com o Henrique Pinto, algumas aulas
com ele, né, que abriu bastante o meu horizonte e me ensinou também. E também através das
leituras, eu fui,do Carlevaro, é como lecionar né? Aí, eu vi que a coisa era diferente, bem mais
fócil. Então, veio à escola e abriu, aí eu me descontrai mais pra lecionar. Então, não encontrei
mais dificuldade, entendeu, de trabalhar com o aluno.
F: Então, quando você começou, você trabalhava mais com a Escola de Carcassi, depois
Tárrega e depois Carlevaro né?
JE: É. O Carcassi mesmo eu estudei. Eu trabalhei mais com Tárrega e depois, tinha uma
escola muito boa também, o método era em 7 volumes, é, é, não sei , é Mário Rodrigues
Galeno também, do Isaías Sávio, do Isaías Sávio tem 7, também tem 7 volumes, encadernado
também, bem condensado, coisa muito boa, certo? Bom, só que os métodos eram bons, eram
métodos bons, agora mesmo, a gente não sabia que era uma forma técnica mais racional,
certo, era (...) sem saber. Surgiu somente depois do Carlevaro pra cá, ta. Aí, até esses métodos
que eram arcaicos, era ruim, então hoje, a gente fez com que se torne uma criança pra você
trabalhar com ele, né. Porque você pode mudar alguma coisa, tem condição de mudar, certo?
Então, eu, eu eu acredito que o violão começou a ser estudado mesmo da década de 80 pra cá,
ou melhor, de 75 parece, que Carlevaro levava o curso, o seminário de verão no Rio Grande
do Sul, né? 76, 78 por aí. Então, ficou a escola lá do sul com a paulista, que era mais
freqüentada, então, trouxeram pra Goiás. Até isso é um feto interessante. Eu tinha um aluno
chamado Paulo Sérgio, conhece? Paulo Sérgio fez aula comigo né, muito estudioso, muito
metódico, minuncioso com os detalhes. Ele foi estudar em São Paulo. Ele procurou mesmo.
Foi pra São Paulo, começou com Isaías Sávio e já pegou o Isaías decadente, né? Mas foi
alguma coisa. Isaías, com o falecimento de Isaías Sávio, ele procurou o Henrique Pinto, certo?
Então, através do Henrique Pinto, ele começou uma, uma ressonância melhor, e fez com que
esse pro, o Henrique Pinto viesse a Goiânia dar o curso, o primeiro contato do pessoál^daqui.
Contratado pelo Mvsika, pela Glacy, eu, ele até se surpreendeu quando chegou aqui. Ele já
encontrou alguns alunos e alunas tocando alguma coisa e com o violão já colocado de uma
forma, colocação correta, né. Era a Maria das Graças, Fernanda de mulher e mais algumas ,
essas estudavam comigo naquela época, e eles já encontraram colocando o violão numa
postura correta, que era dificilmente... (risos) . Porque aqui em Goiás, quem leciona, eu me
orgulho de falar que estudavam comigo, né. E era, se projetaram bastante. Então, eu fico
satisfeito com isso. Então, quando ele chegou aqui, ele já encontrou já uma coisa mais ou
menos, é, encaminhada, que facilitou o trabalho dele aqui e só fez bem pra Goiás. Os
primeiros métodos dedicados a nós, né. E então, através daí, do primeiro contato com ele,
aulas com ele, que eu até praticamente, eu comecei tudo de novo. A minha primeira aula com
ele, eu não toquei violão (risos). O primeiro exercício que a gente fez hoje, é o que toca com
sonoros, o som. Ele era muito ligado aos detalhes da mão, (...), o som, som mesmo. A
qualidade de som, que a gente não saberia ter. Que qualidade de som? Como tirar som? Então,
eu quero tirar forte tocava forte, não é? Nada disso. Era a qualidade sonora. Mais redondo, aí,
várias formas de toque. Ou, era chamado de som mais aveludado, ou som mais metálico, né?
219
Então, eu aprendi com ele, essa, essa coisa variada aí. E hoje eu feço, de lá pra cá, os alunos
que passaram por mim, já, eu vejo que, o trabalho que eu fiz com eles, dessa época pra cá, é
bem melhor, o resultado foi bem melhor do que os anteriores, né. E prova disso eu tenho que,
de vez em quando, eu encontro com alguns alunos do anterior e outros posteriormente. Eu
tenho alguns alunos em São Paulo, né, que estudaram comigo, que é o Godoy, e dois, o Edson
que hoje não fez mais parte desse trem de..., como professor, mas foi um dos melhores
professores de música, também estudou comigo, foi, depois passou pelo Henrique Pinto e
vários outros professores, né. E o Edson, também ainda era da escola meio antiga, mas era
uma idéia melhor. E vejo, os alunos de hoje né, já tocando com a dinâmica, com a sonoridade,
então, eu passava em cima de tirar som, essa "coisaiada" aí. Que o mais bonito do violão, é o
toque né, da mão direita, tem que cuidar bem.
F: E professor, então, hoje em dia... só porque eu tenho que perguntar certas coisas né?
JE: Fica a vontade.
F: O senhor usa, mais ou menos, quais métodos? Ou você tem, você segue uma escola ou
você escolhe o repertório e dá pra o aluno?
JE: Eu acho que em questão de método, eu mais uma vez eu cito o Prof Henrique Pinto,
porque ele já fez uma encadernação muito boa. Se você quer resumir toda aquela
complexidade que está gravada pelos métodos e técnicas, eu recomendo pouca coisa. Então,
eu trabalho mais com o trabalho dele. Nós temos o "Iniciação", as cirandas, no Brasil que vai
trabalhar com crianças é aquele "Ciranda das 6 cordas" né? Então, temos o "Iniciação" , Io e
2o, "Iniciação" Io e 2o . O 2o, ele tocou em Novembro, esse ano, (...)
F: Pra leitura.
JE: Pra leitura né? Achei muito interessante porque desenvolve. A leitura é muito importante
porque até então, a gente fazia a leitura usando a, voltando ao Carcassi, não a forma que ele
tocava, mas os estudos dele é muito importante, né? Tem uma... os "25 estudos" de Carcassi.
A leitura aí já é uma coisa já mais elevada né? Mais profundo como leitura. Então, com esse
"Iniciação" segundo, veio completar o primeiro, dar uma possibilidade de (...), ele vai
desenvolvendo. Não só técnica, mais na parte de dinâmica também né? Só que eu trabalho
com, mais com o esse material do Henrique Pinto. Agora, além do Henrique Pinto, é, a gente,
começa com a formação da gente também. O conhecimento que começa sair de dentro de
você. Você mesmo, às vezes, fez os próprios arranjos. Eu gosto de fazer arranjo. Geralmente
eu faço né? E de por uns acordes, explorando mais a melodia, da parte, das duas vozes do, a
outra voz no baixo né. Então, essas músicas folclóricas, eu fazia alguns arranjos. Até uma
música popular que seja boa, eu feço também, já que infelizmente a maioria dos alunos
gostam de tocar (risos).
F: E você acredita que os instrumentos musicais pra iniciantes, como é que está a
qualidade? Eles são adequados para o pessoal que está começando? Como é que você vê
isso ?
JE: Bom. É aconselhável o violão Giannini, né? Mas tem uns violões também coreanos, que
parecem que estão saindo agora... Que o Di Giorgio pelo amor de Deus, não tem som, não
tem recurso para um aluno fezer um trabalho dinâmico com um Di Giorgio. Então, o
Giannini, eu dou mais preferência. Desde que a pessoa tenha condição de comprar um
Giannini Cl, por exemplo. Mas de cara ele não vai ter um Cl, então, vão dizer, um violão
qualquer de imcio. Daí, depois do primeiro contato com o violão, depois a gente pode ir
aconselhando ele comum violão melhor, certo? Atéchegar num "Abreu", né?(risos).
F: È o "Abreu" é uma boa.
JE: Mas o problema de pagar, mas vaiaí ficando comigo, a pessoa não tem pressanão.
F: Professor, e você já trabalhou com aulas coletivas? De dar aulas...
220
JE: Bom, é a minha vida (risos) Eu sempre dei aula. Não sei fazer outra coisa (o lado da fita
acaba)
F: Bom professor, o quê é pra você dar aula de violão? O quê representa pra sua vida?
JE: Então, eu tenho o violão com, é a minha profissão, é o meu ganha pão, é o trabalho que eu
gosto de fazer, não é? Então, com o violão, não construí bens materiais não. Mas eu tenho o
meu casamento, bem sucedido, tenho algumas coisas materiais e eu gosto de lecionar. Apesar
da gente, no Brasil todo, com essa crise, essa inflação, tudo caiu. Mas, nem por isso, sempre
tem aquele grupo, alguém que queira estudar violão clássico. Agora, o ponto que mais eu
atraio o aluno, é através do meu trabalho. Referência de um aluno pra outro. Alguém vai na
escola tal. Agora, propaganda, propaganda, que eu fiz, não resolve nada. O que manda é o
indicamento através de um aluno, aliás, o profissional, o bom profissional de hoje em dia ta
sendo assim. Não há aquela explosão hoje de propaganda, então, aquele grupo de gente né?
Toda área hoje é parecido.
F: Professor, só pra finalizar, o perfil do aluno hoje como é que é? Qual, o aluno que te
procura quer o quê com o violão?
JE: Bom, geralmente, quem me procura, quando não é indicado eu, procuro saber o quê que
ele quer estudar. Se é para violão popular, eu não leciono violão popular. Alguns
acompanhamentos, serestas antigas, às vezes eu ainda trabalho com a pessoa. O quê eles
procuram, quando ele vem pra aqui, eles já vem sabendo o quê ele vai estudar. Como eu te
disse, através de um aluno meu que está fazendo um trabalho, "não, eu quero estudar isso",
violão por música. Vamos ver , "eu quero aprender a tocar música" . Querem tocar "Abismo
de Rosas", "Sons de Carrilhões" etc, não é? Então é isso, quando ele chega até a mim, ele já
vem com a, a informação né? E isso que eu feço.
F: E agora pra finalizar mesmo, o quê que o senhor, qual a sugestão que o senhor daria
pra essas gerações, pras próximas pra manter viva, essa, esse movimento do violão. O
quê você acha que deveria ser feito pra...
JE: Bom, eu gostaria que esse movimento tornasse igual já foi em épocas passadas, certo?
Igual? Aos incentivos que nós tivemos das emissoras. É tão chato felar de governo, mais é a
realidade, né? Antes nós tínhamos aqueles seminários em Goiânia diretos, o pessoal de São
Paulo né, dava aqui, as emissoras tinha um programa cultural na televisão né? Então, era mais
fócil de fezer uma, fezer com que a pessoa, o pessoal estudasse violão. Agora o que eu peço
para as pessoas é que estude um instrumento, não visando a riqueza, ou coisas, vai ganhar isso
ou aquilo, mas pessoal, pra sua, pra seu melhor contato com as pessoas, né? Porque quem
estuda um instrumento hoje, além dele ter uma energia melhor, ele tem, ele é uma pessoa mais
compenetrada no seu lar, com sua família, porque isso é, está estudando uma coisa boa,
estudando música boa, não é? Então, é, finalizando, eu digo a você que, acho que a pessoa,
mesmo com carência e tudo, deve procurar boas escolas, né? Fazer uma pesquisa, né, não vai
entrando em qualquer escoa, porque dali pode parar, pode continuar tocando ou não. Pode
tomar até raiva do violão e de quem da aula. Então, procurar boas escolas, e aqui se ele
procurar, ele acha. Fazer uma pesquisa, não de preço, né? Mas de qualidade de aula porque
não adianta ele ir numa escola, aí, que eles cobram X, e no primeiro mês, ele ainda não sabe
pra onde vai, ou como é que fica (risos), como é que ficou e vai, abandonou o semestre. Ele
tem que ir numa escola que ele vai ter a aula e vai satisfazer dessa aula e vai estudar, né?
Então eu aconselho, e a coisa ta ruim mas não é tão difícil. O quê está complicado são estas
"escolaiadas" que estão mal informadas por aí. Porque tem muita gente bem intencionada a
estudar.
F: Então ta professor. Muito obrigada!
222
JE: Eu que agradeço e espero que cê aproveita alguma coisa das minhas palavras, que é meio
confusa né?
F: Não.
JE: Mas você fez a sua análise aí, direitinho e eu que agradeço.
F: Muito Obrigada!
F: Danilo, eh, eu queria saber primeiro, como começou o seu contato com música?
D: É, no dia que eu nasci. Aliás, até um pouco antes porque a minha mãe sempre foi musical,
sempre deu aquele incentivo, né, você conhece ela, sabe o trabalho dela como é que é. Então,
eu já nasci nesse, nesse meio musical mesmo, assim, eu fui gradualmente levado a trabalhar
com música e desde muito jovem, é, minha mãe até conta uma, uma imagem que ta aqui na
cabeça de que eu com um ano de idade assim, até um pouco menos, balançando assim na, no
bercinho né, no ritmo da música, né. E sempre ouvindo muita coisa diferente, muitas coisas de
estilo contrastante assim. Mais ou menos por aí.
F: E como você começou a estudar ? Você começou a estudar violão ou outro
instrumento?
D: Comecei tocando violino. Engraçado, comecei tocando violino em 78, eu tinha 7 anos.
Comecei no Mvsika, com, com o Prof Sérgio Leão, irmão do Ricardo Leão, que eu nem sei
mais cadê ele, eu acho que nem toca mais. E toquei violino até 85, aí, mudei pro violão, e não
parei mais, de lá pra cá, né.
F: E você, qual que é a sua formação? Você fez Faculdade de Educação Musical, não foi
isso?
D: Educação Artística, habilitação Música.
F: Isso.
D: E sempre feço curso por aí, assim, no Brasil inteiro, sempre que eu posso, eu to fezendo.
F: E como você começou a dar aula? Como que foi? Você já tinha quanto tempo de
estudo e como foi a sua experiência de quando começou?
D: Foi em 90, né. Comecei a dar aula em 90, é, eu não lembro quando começou, lembro foi
assim, eu comecei anunciar aula de violão e foi pintando aluno.
F: E você lembra se você teve alguma dificuldade no começo assim, pra, didaticamente?
D: Muita,muita.
F: Como é que você fez? Você imitava o seu professor?
D: A gente tinha assim, eu fiquei muito tempo sem ter professor de, sem ter uma orientação
mais específica com relação ao violão, né. Eu estudei com o Oscar, com o Fontenelle, mas
isso foi algum tempo depois. Mas aí, meio assim, sem saber mesmo. Dava assim, dava assim,
acordes maiores, acordes menores, não tinha assim, uma forma de explicar como é que forma
o acorde, que é como hoje eu feço né. Mas, as dificuldades são muitas hoje mesmo, assim, por
ignorância, a gente começa assim, meio sem saber mesmo. Eu tive dificuldades, assim, muita,
e até hoje tenho algumas né, a gente sempre tem muita dúvida né.
F: E Danilo, como é que é a sua experiência com a criança?
D: É maravilhoso, é maravilhoso
F: Você já teve muitos alunos né, muitas crianças. Como é que é o seu trabalho com
criança? Como é que você age?
223
D: Bom, primeiro, é, tem que gostar muito de criança, né. Eu acho que é fundam,então, partir
da afinidade com o aluno. Procurar sempre ta muito próximo dele, manter um contato bem
estreito, né, trabalhar bem a questão dá postura do violão né, que eu acho que é, é onde tudo
começa né. é uma coisa que mês por mês (...), eu to repensando isso. E curioso, Flavia, é que,
é que as crianças são muito receptivas a isso, elas sempre se, se abrem muito fecilmente pra
você trabalhar mão esquerda, mão direita, né. Claro que de uma idade assim, de 7 anos, 6
anos em diante né. Pra bem menorzinhos é mais complicado porque são muito quietos e tudo
né. Agora, eu sempre achei muito fácil trabalhar com criança, muito fócil. Primeiro, porque eu
sempre tinha muita afinidade, sempre adorei muito criança, tenho 4 irmãos, sempre tem muita
gente em casa, depois que foi quando eu morei sozinho também, sempre tive alunos crianças.
Então, to sempre nesse meio e sempre adorei assim, trabalhar com criança.
F: E qual escola você segue, em termos de técnica ou metodologia, assim, pra criança?
D: Olha, isso é complicado.
F:É.
D: Você sabe da complicação que é isso. Tem os livros do Henrique né, tem o "Ciranda das 6
cordas" que eu adoto sempre, e muitas coisas que eu feço, muitos arranjos de música
folclórica, coisas assim, bem simples pra eles tocarem, assim, mais pra iniciante mesmo. Pra
tocai sozinho, pra tocar em grupo, vai variando muito né. Mas, eu sempre parto daí,mesmo.
F: E você sente a escassez de metodologias, você sente falta?
D: Claro, claro, claro
F: Do método e de uma metodologia, de uma, pesquisas na área de Educação, da
pedagogia do violão pra crianças especificamente?
D: Eu sinto falta, mas isso tem um aspecto muito interessante, que é que cada um vai se virar
pra exercer essa coisa. Nesse sentido, o trabalho que você ta fezendo agora, de entrevistar o
pessoal, pesquisar, é importantíssimo, por isso né, porque vai economizar um,um , vai assim,
tirar uma noção do que o povo ta fezendo, né. Eu acho muito legal.
F: É, porque essa troca de experiência sempre enriquece, né?
D: É. E com certeza também, euacho que em questão de como trabalhar com criança, euacho
que vaio muito da, de como a pessoa vê, a música, né? E ser uma pessoa muito aberta pra,
pra discutir até com alunos e colegas, assim, questões de música né. Pessoal sempre chega pra
perguntar as coisas mais variadas possíveis e eu sempre respondo com toda atenção, todo
carinho, porque eu acho que assim é que tem ser, né.
F: E você acredita que, que os instrumentos musicais pras crianças iniciarem, os que
estão disponíveis no mercado, são ideais?
D: Tá longe de ser o ideal, né. Tem violões muito grandes, muito, muito... O Arnaldo Freire
comprou pro, pro filho dele um violãozinho pequenininho assim, acho que é adequado
mesmo, Giannini. Ele achou isso na Casa Maestro muito tempo atrás mas é exceção, é
exceção. Porque o tamanho é muito grande, não tem como, a gente vai adaptando, a gente vai,
porque não tem como cê, cê trabalhar sem instrumento também, né? Ainda mais com criança.
A gente vai adaptando, mas as dificuldades são muitas mesmo, não tem instrumento
adequado, tamanho certo, isso aí, é um problema sim.
F: E os métodos pra criança, disponíveis no mercado você trabalha mais com o
"Ciranda" mas você tem conhecimento de outros, como é que é?
D: Não tenho conhecimento de outros não, eu realmente, porque esse negócio muito de, de
arranjar música.
F: Você faz método próprio...
D: Eh, não é bem um método próprio assim, eu até penso em um dia copilar isso pra ta
lançando, mas é uma idéia muito, muito mais pra frente, porque eu estou fezendo outras
224
coisas. Mas, assim, inclusive, esse trabalho seu é interessante pra emprestar, porque eu penso
esse trabalho seu pra, pra ver o que o povo ta fezendo, pra copilar, até fezendo uma parceria
com você, eventualmente, também, pra gente estar lançando isso aí, no mercado, né. Mas, ta,
realmente tem muito pouco método, né, eu conheço só o "Ciranda", mas também eu não me
interesso muito porque eu sempre escrevi arranjos, me virei muito por aí também, né.
F: E Danilo, você já teve experiência em trabalhar aulas coletivas com crianças, assim,
ensino coletivo mesmo? Ensinar dois ao mesmo tempo, três...
D: Já(risos). É uma loucura né. É muito legal.
F: E como é que você, o quê que você acha dessa experiência? Como que era o seu
trabalho, lembra?
D: A primeira vez foi no Mvsika, né, aquela vez que a gente trabalhou junto lá, né. E eu achei,
tive dificuldade assim, muito grande porque eles que eram muito pequinininhos, e foi o meu
primeiro contato com esse tipo de trabalho. Mas depois eu fiii, eu fui trabalhar com isso em
outras escolas, e fui me adaptando também. Mas eles são muito inquietos, assim, muito
impacientes, querem tocar logo, bem como a gente mesmo, né. E assim, é, é muito
interessante porque eles se interessam mesmo, se envolvem no trabalho né, então, a coisa
rende bastante. Mas tem que ter pulso firme né, porque eles são inquietos, querem sempre
bagunçar, querem sempre fazer coisa que não tão no programa. Mas é legal dekar um espaço
para eles também nas aulas sabe? Deixar um tempinho para que eles cheguem e sentem, aí
eles começam a conversar e tal, e na conversa dele, já vou entrando mais ou menos no
assunto, já vou falando "Vamos tocar isso aqui?" e tal, "Que tal se a gente fizer isso aqui?" .
Vou dando uns toques assim pra que eles já se envolvam no assunto né. Mas tem que ter isso
mesmo pra começar a chegar, entrosar, né. Não é chegar e já ir tocando né? A gente tem essa
mania de chegar e já ir tocando logo, e não é por aí que eu penso não.
F: E Danilo, agora no geral para alunos iniciantes, como você geralmente divide as
aulas? Assim, em termos eh, cê trabalha uma aula sempre um pouco de técnica e
repertório ou trabalha mais o repertório, assim, numa época, e mais técnica noutra
época? Como é geralmente, ou de acordo com aluno, Como é que geralmente você
trabalha, divide essas aulas? Como é que você faz?
D: Bom, cada caso é um caso, né Flavia. E, eu acho importante partir da questão de como
sentar, e aonde sentar. Que é um negócio que o Henrique sempre feia muito. Inclusive foi ele
que me consertou entre aspas, assim, em 94, quando eu estava fezendo o Festival lá em
Brasília, eu tinha muita dúvida,assim, postura, e ele foi super solícito comigo, devo muito a
ele por isso, mas a questão de repertório e técnica, é uma questão controversa demais,
também, né. Esse início eu passo o repertório do livro dele mesmo, mesclando com outras
músicas também. Se tiver assim, num estágio de trabalhar mais técnica, eu passo aquele livro
do Isaías Sávio e outros também, e eu até invento, eu gosto muito de inventar coisas, eu sou
dessa escola também de, de inventar e improvisar e tudo. É, mas cada caso, vai de cada caso
também, não sei. De repente tem alunos que você até...tão prontos já né, é só você orientar pro
caminho certo, que eles vão embora, nem precisa felar muita coisa às vezes, né.
F: Então, você acha que a técnica é só em função se o aluno precisar? Por exemplo, tem
alguns professores que dizem que só trabalha técnica se o aluno precisar, ou a partir de
estudar a técnica na música...
D: Eu acho, eu acho.
F: Mas você independente disso, você sempre trabalha técnica?
D: Eu costumo mais fezer mesclado a música também. Porque assim, eu parto do seguinte
princípio : o principal que a gente ta buscando é fezer música, não é? Então vamos fazer
música. Porque eu acho um saco tocar escala, por tocar escala. Você pode fezer uma escala,
225
por exemplo, com dinâmica, com recursos de, de rubato, de flutuações agógicas e tudo né.
Que é uma coisa que eu costumo fazer também, né. Trabalhar o quê é chato, como escalas,
arpejos, de uma forma que o aluno se interesse mais porque ele feia assim, "tô custando a
fezer isso por que isso é um saco ficar do, re, mi, fó, feito bobo né?\ Cê não tem um motivo
pelo qual você ta fezendo aquilo né, você sabe que tem que fezer, mas não sabe o porquê, né?
Então, eu acho que tem que criar um interesse maior, fazendo isso, mesclando com dinâmica,
com elementos assim, né.
F: E Danilo, você trabalha também com, com música popular? Com violão popular?
D: Trabalho, trabalho.
F: Como é quê é esse trabalho? Você trabalha...
D: Bom, o principal que eu acho nesse trabalho, que é uma coisa que, que eu acho que poucos
têm uma atenção adequada com isso, é saber como, como montar os acordes. Não precisa
fazer assim : "Decora isso aqui: C, G, E" tal né. Mas eu acho importantíssimo saber como é
que forma os acordes, saber o campo harmônico de cada acorde, isso é o quê eu feço com o
cara que quer trabalha o violão mais assim, né. Dar umas (...) 3 ou 4 aulas, é, teórica e
tocando também, mostrando como é que seria no violão, pra esse lado de entender o quê ta
fezendo, montar acorde maior, menor, dissonâncias e tudo. Pra depois partir pra, pra pegar
música, né. Que pode ter algumas variações de arpejos e tal.
F: E você trabalha leitura com eles ou não? Ou mais simples mesmo, quando é o
trabalho de violão...
D: Eu trabalho com os dois na verdade. Eu sempre feço na mesma folha inclusive, a pauta e o
braço do violão.
F: Ótimo.
D: Então, ele tem assim, uma idéia geral e mais parecido com o quê é, porque assim, na
verdade a cifra é muito usada, ao meu ver, de forma errada. O pessoal feia assim : "Decora
isso aí" e bota lá a batida do violão, sem saber como é a escrita musical né. E assim, eu acho
que é importantíssimo também saber escrever, saber ler sozinho, saber analisar o quê você ta
fezendo né, eu acho que é por aí que eu penso.
F: Danilo, você conhece algum trabalho assim, qual trabalho você destacaria assim, com
crianças que você já viu e gostou? Ou aqui em Goiânia ou fora de Goiânia, assim, em
termos, professores, trabalhos que você gosta, né...
D: E, você. Seu trabalho é muito legal, o Clévio, o Judson, acho que todo mundo tem um
trabalho bom nessa área, assim, né. A gente por, por não ter muito material, até que você
felou, dificuldade variada, assim, eu acho que é um problema né, que a gente sempre tem, fez
a coisa de uma forma muito empírica assim, né. Então, acho que a gente, a gente ainda ta
tateando nessa área. Acho que a gente tem que, que, volto a ressaltar que esse trabalho seu é
muito importante também em função disso, né. A gente ter um ponto de partida pra gente
estar pesquisando mais isso, ta levando mais nessa área. Mas eu acho que todo mundo que
trabalha com violão, assim, na nossa feixa, tem um trabalho legal. Eu não gosto de, de
comparações, eu não gosto também de criar polêmica, acho que cada um segue uma linha que
acredita, né, assim. E se você puder trabalhar com amizade, de trabalhar com isso também, eu
acho que isso facilita muito o meu trabalho, porque eu não preciso também ta preparando
muito material e tal. Ta, eu também escrevo rapidinho, ne. Eu tenho um tempo diário que eu
feço isso, preparar as aulas pro outro dia, tal. Mas se tivesse um método seria mais fácil né.
Pegava o método e botava lá : "Toca isso aí?" , né. Mas assim, eu acho que todo mundo que
faz isso, assim, ta, ta pesquisando ainda. Então, eu acho que, ainda muito complicado, têm
muitas dificuldades. Mas assim, a gente vai empurrando com a barriga mesmo, né. (riso)
F: E você, então, sente falta dessa pesquisa na área?
226
Muito, muito. Na internet tem muita coisa, eu tava até vendo esses dias lá, e achei umas coisas
muito quadradas, o pessoal num, num preocupou muito com a questão de sentir a música, né,
que eu acho que é o principal né. A gente tem que sentir a música e depois fezer. A gente tem
sempre aquela mania de dizer : "Ah, vamos tocar?" E, não preocupa muito em sentir a
música, né. Uma coisa que é até básica, né. Cê não ta fezendo, cê lê a música antes, cê ta, ter
um contato mais próximo né, com a música que você ta fezendo. E sempre ta assim,
repensando no que ta fezendo, sempre pensando na análise harmônica, melódica e tudo, pra
quem é do nível mais avançado né. E mesmo pra quem ta começando, já começar passar
aquela ?/, pra ele sentir a música. Isso eu acho o principal, o principal. Em qualquer idade.
Parar pra sentir a música. Se tem que, cê toca a música uma vez e assim, detesta a leitura
musical, detesta. Eu mesmo não gosto de ler música nova, leio porque tem que ler, esta é uma
parte do trabalho, mas quero registrar que, que é a parte que eu menos gosto assim (risos). E
assim, mas eu sempre tive um certo bloqueio em relação á isso, porque eu sempre gostei
muito de improvisar, né, sempre fui muito bom de ouvido, né, sempre trabalhei esse lado
também. Então, limitações eu tenho, mas não conta pra ninguém não, ta?
F: Ta (risos). E Danilo, e você tem alguma sugestão? Assim, pra incrementar né, o
ensino do violão, não só pra criança, mas no ensino do violão em Goiás. O quê que você
acha que seria necessário?
D: Eu acho importante, ce ter um objetivo pra cada aluno, e traçar um plano pra cada um
deles, é, sempre envolvendo também, a questão de escutar coisas diferentes, contrastantes, é
postura uma coisa que eu acho fundamental, que eu sempre trabalho muito no começo, passo
praticamente duas aulas ou três mexendo só com isso, tocando também, mas cordas soltas e
tal, né. E...
F: E algum movimento? Você acredita que seria necessário um movimento, um
intercâmbio maior entre nós mesmos, professores na área pra...
D: (Interrompendo) A gente é bem desunido, né, Flavia. A gente é bem desunido. Eu acho
que, eu acho que a gente tem que (interrupção)
F: Danilo, então você acha que é importante, é, a união dos professores em ciclos de
palestras, trocas de experiência pra aprimorar o ensino do violão em Goiás? Como é que
você vê isso?
D: Tem um problemão aí né, que é o problema financeiro. Cada um quer dar a sua aula, pra
ganhar o seu dinheiro, e não quer gastar o tempo reunindo pra discutir. Prefere ganhar
dinheiro dando aula né. Logicamente dinheiro é importante, mas eu acho que a gente que está
ligado à alguns órgãos como o Centro Livre de Artes, eu to já encaminhando um movimento
nesse sentido também pra esse próximo encontro que a gente vai ter, é , pra conseguir captar
um patrocínio aí, pra gente não ficar tão preocupado com dinheiro, e preocupar mais com
música né. Mas acho importante esse (...), a gente estar mais em contato, a gente sempre
encontra muito pouco, muita correria. Até pra falar de coisas não musicais também, né, eu
acho que tudo que está ligado a pessoa, tem a ver, no sentido de que, de que a vida fora é
muito importante também. Eu tive agora em Brasília, tenho ido lá (...), festival de flautistas,
maravilhoso, tinha uns (...) que tocou pra caramba, pessoal todo mandando bala mesmo. E
tava o João Ribeiro, um pessoal da pesada lá, que a gente tava discutindo isso, né, que, que a
gente é muito solitário, que a gente fica muito tocando no só quarto, a gente vai (...) o
principal, a gente, a gente fica muito preocupado com os trabalhos e pouco preocupado com a
música, né. Eu procuro quebrar isso, dentro do possível né, mas às vezes, a gente fica
envolvido demais com o trabalho, e até não dá, né.
F: Esquece do lado artístico pessoal, né.
227
D: É, é, Importante é ter, é ter um tempo pra, pra esquecer a música também. Eu acho que isso
fez parte do processo com a música. Isso é muito importante, e é uma coisa que eu tinha uma
ansiedade muito grande quando eu comecei, porque eu achava assim, "ah, vou tocar violão 8
horas por dia e ponto final, não vou nem sair, não vou nem, não vou nem ver cinema, não vou
ver nada" . Mas, não é. Você tem que ler, você tem que ver cinema, você tem que namorar,
fazer coisas diferentes, né? Sair com as pessoas, fezer o social, né? Tudo isso é importante.
Ter filho, né, tive um experiência com filho agora, há 8 meses, até falo, recomendo pra você
inclusive, pro Samyr, que ta, tão super-bem aí, e tal, né. Mas, assim, eu acho que tudo que cê,
cê puder ver de coisas assim. Até de conversar com colega da área mesmo, acho que só uma
conversa mesmo, vale mais do que uma aula, que você pega assim, né. Eu tava em Brasília,
no festival lá com o Mário Ullôa, e ele é uma gracinha de pessoa, você conhece muito bem
como ele é, aquele jeito dele inclusive. E assim, eu acho que aprendi muito mais com ele do
que em sala. Conversando sobre o quê ele fez, sobre o filho dele, a experiência dele na
Alemanha e tudo, né, troca de informações mesmo, acho isso fantástico e fundamental, né.
F: Movimento.
D: Tem que ter isso. Tem que ter, mesmo que seja assim, mais informal. Se encontrar depois
de recital, na porta do cinema, eu acho superválido. Eu acho que tem que ser assim mesmo,né.
F: E Danilo, pra finalizar, qual, como você definiria a sua, sua experiência como
professor? O quê significa pra você essa profissão, essa atividade tão...
D: (Interrompendo) é a pergunta mais complicada.
F: É uma pergunta filosófica, de cunho filosófico. O quê significa? O quê você...
D: Eu sempre me pergunto muito, por quê que eu toco violão clássico,assim. Eu sempre tive
essa dúvida. E eu chego sempre a isso : Porque eu gosto. Isso me basta, em questão de, de
complicação de mercado, assim, isso é outra coisa que eu prefiro não pensar nunca. Porque se
eu pensar por aí, não vou nem tocar minha música direito. Porque a gente sabe das
complicações de chegar ao público, ter pouco espaço pra tocar. O vou ta no Cave dia 11 e 31
do mês que vem, você vai ta lá,né?
F: Vou. Pode deixar...
D: É o quê eutava falando mesmo?
F: Sobre como é sua experiência, o quê significa pra você...
D: Definição mesmo
F: É o quêsignifica pra você a sua atividade como professor principalmente, educador?
D: Significa, significa ter tesão na, na vida mesmo. Tudo que eu faço é com muito prazer,
com muito amor e, eu acho até na luta, a gente tem que fezer tudo na vida. Primeira coisa,
fazer tudo com amor, e, e ter muita paciência com as pessoas porque é um trabalho que às
vezes você fica com dificuldades, com problemas e procurar entender cada universo, se cada,
porque cada um dos alunos é um universo que tem que ser explorado né. então, eu procuro
muito puxar de cada um deles, esse, essa coisa do tocar, do prazer de tocar. Eu acho que tem
que ter esse prazer sempre, eu acho que a primeira coisa a ser trabalhada, desde quando o cara
tá iniciando, aliás né, isso não importa a idade, é ter o prazer de tocar. Tocar com vontade,
tocar tando afim mesmo. É, também é importante você ter um conhecimento, cê se reciclar,
participar de curso, né, cê pesquisar, estar sempre na internet, ali e tudo, ler muito. È um
trabalho que envolve basicamente contato humano, é trabalho de comunicação. Eu acho que
uma das coisas que me levou muito pra isso foi essa coisa da comunicação, né, da
comunicação, eu acho que tem uma importância muito grande por isso também, né, de estar
encontrando pessoas também, né. Eu acho isso fundamental, você aproximar pessoas, você
aglutinarpessoas. E o Brasil é um país muito receptivo a isso, né. Onde ce vai tocar, o pessoal
já chega conversando, já chega perguntando, já chega com uma curiosidade que eu acho
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muito válida, sabe, já chega junto mesmo, assim, a pessoa já chega pra, pra aproximar. Porque
a música pede, a força da música é essa, aproximar as pessoas, né, aproximar as pessoas e
divertir também. A gente que muda, que ta do outro lado fica muito preocupado com
mecânica, técnica, mas isso é bobagem, deixar a mão, deixar a mão acontecer no instrumento
e treinar muito pra isso e ponto final, entendeu? Não tem que ficar muito preocupado com
essas coisas não. E é importante você ta sempre também, viajando, fezendo cursos, tudo isso,
né.
F: Intercâmbios.
D: Intercâmbio, mesmo assim, de forma informal, né, com os colegas. Eu acho que, eu acho
que tem que ser, eu acho que tudo tem que parecer uma coisa gostosa. Acho que parte desse
princípio. Nada pode ser forçado, nada pode ser imposto com alunos também, nada pode ser
assim, é claro que você tem que felar : "Você tem que fezer assim pra você conseguir isso
aqui", né.; Agora, eu sou radicalmente contra esse negócio de ficar impondo, de ficar
colocando técnica forçada, muitas coisas, e questões como essas assim eu acho
superimportante, ta aberto a, ao inesperado assim, ao improviso e tudo. È isso.
F: Então ta, Danilo.Então, muito obrigada pela sua entrevista, ta?
D: Nada.
F: Um abraço.
F: Oi Fátima, tudo bem? Eh, eu queria saber primeiramente, qual que é a sua formação
musical? Qual que foi o começo, primeiro, antes do curso superior qual foi o seu
primeiro contato com a música?
R: Eu tinha 7 anos de idade, foi música popular mesmo, música de roda, com a professorinha
antiga, aí, começamos, eu fiquei até 12 anos, mais ou menos, aí dei uma parada e retornei
com quase 16 anos.
F: E aí, foi sempre com o violão mesmo?
R: Sempre com o violão, minha paixão.
F: Sua paixão. E você, qual é a sua formação universitária?
R : Eh, formada em Letras Modernas, Inglês e Artes Visuais, na UFG.
F: E quanto tempo, quando você começou a lecionar o violão? Mais ou menos em qual
época, você lembra? E durante quanto tempo?
R : Olha eu lecionei há quase 17 anos, né. Eu tive aula, contato com o Willian Arantes, que
hoje é professor da Faculdade de Uberlândia. Aí foi violão, violão solo. De chorinho e eu
segui a linha mais assim, não...
F: Música Brasileira.
R: Música Brasileira, não erudita, né. Depois tive contato com, com o Marcus Fontenelle, o
Marcão que foi, eu peguei mais coisa pro lado clássico, mais clássico. O Zé Eurípedes e
Eurípedes Fontenelle, aí eu passei a estudar com o Henrique Pinto, fiz curso em São Paulo
com ele, ele veio aqui também, isso dando, Fernanda Furtado, isso dando métodos também,
Tárrega e auto-didata também porque não tive como. Não tinha um curso assim, especial pro
violão clássico.
F: E Rosi-Meire, eh qual faixa etária você começou a trabalhar? Assim, a partir, você
lembra, de quantos anos,?
229
R: A partir de 5 anos. Raras as crianças de 4 anos, que sabiam ler, escrever, né. A criança
sabia já, já era alfabetizada, já pegava. E sempre o violão clássico e pra quebrar a monotonia,
eu dava um pouquinho de acompanhamento, eh solo, pra criançada. Então, foi essa a minha
feixa etária, de 5 , de 4 até 12 anos.
F: E como foi o seu início como professora? Quais foram as suas, eh como foi a sua
experiência? Assim, quais foram as suas dificuldades, você teve dificuldades?
R: Tive.
F: Como é que foi esse começo, né?
R: Foi um começo bem espinhoso, porque as crianças começavam e eu ficava perdida não
tinha aonde me apegar
F: Não tinha orientação...
R: É orientação, eu ia para os métodos, eu comprava, comecei com o Cunha misturando o
Isaías Sávio com o Tárrega, e eu coloquei os meus próprios exercícios para facilitar para as
crianças. Mas eu trabalhei muito com aquele método do Othon da Rocha Filho, eh eu comecei
a usar aquele le 2, a foi pra turminha, o número 1 para a turma menor e o número 2 já era,
tava pré- adolescente, né. E então, o pessoal gostou muito, foi aonde eu adotei através de
exercícios que eu pegava o Isaías Sávio misturava com o Tárrega, eu fiz uma salada.
F: É uma salada, né?!
R: Por aí ,e eu tive dificuldades porque eu não tinha aonde me orientar, né , assim com quem
me orientar, eh onde eu até tinha livros e tudo.
F: Então, aqui a próxima pergunta seria quais os métodos que você utilizava, eram
esses, né?
R: Eram esses, eh...
F:... e metodologia própria também, né?
R: Ée própria também principalmente.
F: principalmente, né? E você acha que, que os violões pra criança disponíveis no
mercado são os adequados, são, eh de tamanho, sonoridade que que você acha, o que
isso influenciava no seu trabalho?
R: Demais, agora não sei bem como está atualmente, mas no meu tempo era uma loucura.
Aparecia aqueles violões trovadores, os violões menores eram uns violõeszinhos que
realmente não dava pra dá violão clássico com uma coisa dessa. Aí a gente colocava o Di
Giorgio, o Giannini, tamanho 16 mas o som não era bom, o som era triste. Eu tinha que fezer
milagres, trocar o acordoamento e, mas o violão agora atualmente eu não sei mas no meu
tempo era terrível.
F: E os tamanhos das crianças, tem menores de 5 anos, né os braços...
R: (interrompendo) Os braços do violão muito largo, largo demais e as crianças as mãozinhas
não davam. Então as crianças faziam umexercício pra valer mesmo, ginástica...
F: ginástica mesmo,né? Eh e, você achava que, como é que era o trabalho com as
crianças em termo assim de estudo? Elas estudavam em casa, o que você acha? Que o
estudo em casa individual é importante, que o acompanhamento dos pais, como é, o que
que você acha sobre isso?
R : Ah, muito importante, né?! Porque eh , há momentos em você chega em um ponto que a
criança num ... , muitas vezes quando fica monótono ela não quer mais, a criança é autentica.
Ela feia: " Olha, tia, não dá. To cansada. " e você percebe que está sendo monótono . Você
tem que criar coisas novas e reuniões com os pais diariamente, ficar, como que ficava,
incentivo até prêmios, com bandas, formando bandas pras crianças estudarem e exercícios em
casa e fitas gravadas, era um método que eu usava muito.
230
F: Porque assim eh, eu acredito que assim como Suzuki trazia os pais para ver os alunos,
os filhos... Acho que isso é interessante porque muitos dos pais não compreendem e
exigem muito dos filhos, né?
R : (interrompendo) dos filhos e dos professores...
F: e dos professores. Sendo que a música precisa de um certo tempo....
R: e tem que ter muito amor, dedicação, né? Porque olha que as crianças não tem só a música,
tem brincadeiras , tem a escola, então a música fez parte do cotidiano da criança, tem que
fezer parte do cotidiano brasileiro. Eu penso assim, mas nosso ensino
F: (interrompendo) não dá....
R: eh não dá. Não é esse, a criança não entende de artes, não entende de música, eles são
voltados mais para a área mesmo de formação profissional mesmo...
F: (interrompendo) matemática, física, biológicas...
R: Eh, então eles não pensam que a música fez parte, é uma coisa muito gostosa, fez parte da
vida, né. Desde o ventre da mãe, a criança, não é bom? Já foi provado essa visão de quem
ouve música. Então, é importante, o clássico é muito bonito, não só o clássico, mas a música
em geral.
F: Em geral. E, e você lembra como você dividia a aula, é se você fazia uma hora seguida
ou se dividia a aula, pra faixa etária maior de 5, 6 anos. Você lembra como é que era
isso?
R: Lembro, eu dividia, porque era duas vezes por semana, duas horas de aula por semana.
Então, eu dava no mesmo horário, no mesmo dia da semana, eram aulas, era a metade teórica,
né, mas com brincadeiras, desenhos, e a outra metade prática. É , é solo-prática. E o outro dia
da semana, eu tomava exercício, premiava as crianças, e já tocava um outro instrumento
junto, acompanhando alguma flauta, ou com um piano acompanhando as crianças. Era
dividido pra criança não ficar cansada. Essa feixa etária, tem que saber trabalhar e inventar
coisas novas sempre.
F: E a duração, você lembra? Se eram duas...
R: Duas horas por semana.
F: Duas horas por semana, seria meia hora...
R: Vamos supor terça e quinta.
F: Meia hora teórica, meio hora prática, né?
R:É.
F: E na aula do instrumento, quando você fazia a aula prática, como é que você
abordava, você já ia direto pro repertório? Ou tinha, assim, dependendo da criança, do
gosto, do estado de espírito ou você tinha assim, uma maneira de conduzir a aula, por
exemplo, um pouquinho de técnica, um pouquinho disso, ou não?
R: Conduzia, nem sempre conduzia a aula. Mas quando a criança é mais novinha, ele desvia a
atenção, chega um certo ponto ele desvia a atenção. Então, você já toca um pouco de outra
coisa, naquele exercício.
F:É.
R: "Vamos fezer tal exercício?" , "Que tal aquele exercício de tempo? Vamos bater as
mãozinhas?" , "E os pés, como a gente bate o tempo?", aí a criança ligava no tempo, aí a
gente ia pro violão novamente. Eu, eu sempre, eu nunca deixei a aula ficar monótona.
F: Tem que ser várias atividades numa aula pequena, de meia hora, não é?
R: aquele contexto mas...
F: De maneira diferente, com uma abordagem diferente.
R: De maneira diferente. Justamente, com abordagem de maneiradiferente.
231
F: Porque eu também fiz isso, a gente tem que estar sempre mudando os exercícios, tem
que repetir, mas repetir de outra forma, né? Então, repete duas vezes, mas por
enquanto, quando é muito novinha, ela não tem uma concentração...
R: (interrompendo) não, não tem, chega umponto que elas desviam, começa pensar em outras
coisas, aí, você perde tempo.
F: E Rosi-Meire, você já teve alguma, alguma experiência em ensinar o violão de
maneira coletiva? Pra duas, três crianças, ou mais?
R: Já. Isso já eram adolescentes. Porque criança pequena eu realmente nunca fiz isso. Não
tinha como. Pré-adolescente, geralmente três, quatro, quando eu tive, numa época eu tinha
mais de 50 alunos, então eu tinha que fezer isso. Aí foi quando eu formei a banda, pra sair do
trivial. Eu peguei uma turma que tava com uma base, assim, mais ou menos igual, né, e
formei uma banda de 25 violões. Foi muito bonito.
F: Que bacana!
R: Eu coloquei flauta, violinos, foi muito bonito a banda. E essa banda fez até sucesso na
época, sabe? A gente tocava emfestmhas, nossa banda clássica. Então, foi aonde, nesta época
que eu senti que estava pesando muito aquele tanto de aluno, assim, em cada horário, aí eu
quis montar essa banda.
F: E eles tinham aula só nessa aula de conjunto?
R: Não. Eles tinham aula terça, e passei a dar uma aula extra...
F: De música de câmara.
R: Justamente, justamente. Pra criança não ficar... eles gostavam demais, os pais sempre
estavam participando. Os pais ficavam assim, deslumbrados, sabe. Foi a parte, a época que eu
mais gostei, que eu trabalhei.
F: E Rosi-Meire, agora, ensino coletivo, assim, iniciar crianças ao mesmo tempo, você
nunca fez?
R: Já, já fiz, só que eu, eu num...
F: Não se adaptou?
R: Não, não é que eu não me adaptei. Eu dei muito tempo de aula assim. Eu iniciei. A teoria
até que você consegue. O quadro negro, o desenho, mas a parteteórica, a parte prática, se tem,
eu gosto muito de dedicar ao aluno. Se você colocar 2, 3 alunos, você já começa a perder,
sabe, se perde, "Tia olha como é quê é?", "Tia não é assim", você fica, você sente que o
aluno não ta tendo aquele, ele não ta ganhando aquele tempo, ele ta perdendo, entende? Então,
eu fiz, na teoriaaté que eu podia fezer isso, pôr né, mais cadeiras??? mas na prática nunca.
F:Não
R: Não. Só quando foi a parteda banda, eu senti que estava me dando muita riqueza...
F: E a, qual os professores que você destacaria o trabalho como professor nesta área pra
criança?Assim, você já citou algumas pessoas, mas assim, que trabalhe especificamente
com crianças?
R: Olha, com crianças pequenas, eu nunca tive professores que trabalhasse exclusivamente
com criança. Eles faziam, pegavam crianças, adultos. O Willian Arantes foi o meu primeiro
professor clássico, né, porque eu tive outros professores de acompanhamento. Ele dava aula
pra criança, mas ele dava também pra adulto. Mas ele não era, ele usava mais o método, ele
dava aula em conjunto. Então, eu sentia que, que não tinha aquele, não tinha aquele ganho de
tempo, o tempo era assim, muito pequeno, pouco. Então eu passei a prestar atenção neste tipo
de coisa, sabe? E tinha também o, várias pessoas tiveram crianças também, agora não sei... o
Marcus Fontenelle também pegava...
F: Mas qual o trabalho que você acha assim, sua referência, que você acha que é muito
bom?
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R: Do violão, que eu to dizendo é pro violão, porque piano tem demais, onde você vai, você
toca piano, piano, flauta transversal, violino, mas o violão, o pessoal eu pensa ainda que ele é
de botiquim. Creio que, eu me lembro que quando eu estava fezendo aula, menina né, uma
amiga da minha mãe falou : "Poxa, a minha filha faz piano", a minha mãe felou : "A minha
fez violão", "Violão!!" Isso me guardou, ficou com isso na minha cabeça. Eu era pequena,
devia ter uns 8 anos. "Violão" e hoje eu fico analisando, violão. Violão é lindo! Violão é
muito bonito, violão é maravilhoso. Não é instrumento de botiquim.
F: Não, de forma alguma, né. Então, realmente a gente tem muito que fazer pra
modificar essa situação.
R: Tem. É, esse pensamento, esse pensamento existe até hoje. Tem pais que chegavam pra
mim e falavam : "Você dá aula de outro instrumento musical? Meu filho quer violão, mas
você não dá aula de piano, não? Ou Teclado?" Quer dizer...
F: Até teclado já está mais valorizado, né?
R: É, e "Meu filho quer violão, e... não eu quero violão, mãe!" , aquilo me deixava triste, poxa
a criança... Eu felava: "Vamos tentar o violão? Seu filho quer violão" . Muitas vezes, a
criança ia muito além do que pai pensava. O pai vinha me agradecer e tudo. Então, é muito
difícil, sabe? No começo, me deixava até triste de ver esse pensamento do pai, da mãe,
daquele "poxa violão! Meu filho fez vilão, podia ser piano! Podia ser teclado!"
F: É. Rosi-Meire pra finalizar, o quê que o violão, a música significa na sua vida? Uma
última, só pra encerrar essa entrevista.
R: O violão é...
F: Como você expressaria essa experiência também como professora?
R: O violão é uma terapia pra mim. É a minha paixão, terapia, e eu tento assim, mostrar prós
meus filhos, né, tanto que uma fez carreira de piano, agora ta voltando pro lado do violão, está
se interessando demais por isso, né. O do meio, a pequeninha está se interessadíssima por
isso, quer tocar todo dia, sabe. Eu tento mostrar pra eles. O violão é um instrumento, é puro, é
cristalino. Você consegue fezer um som no violão, um som de solo, só. O violão pra mim é
uma coisa que não tem explicação, é paixão.
F: É uma paixão...
R: Uma paixão de criança, a pakão que depois foi se transformando em profissão, deu uma
parada, mas, cê me aguarda!
F: È, então te aguardo. Rosi-Meire, muito obrigada, viu, pela entrevista.
R: De nada.
F: Até mais.
R: De nada.
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