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Capitulo 11 A categorizagao dos pobres: os desafios do contexto organizacional e institucional* A definigéo teérica do trabalho social se defronta, em primeiro lugar, com o que se entende por social, com repercuss6es profundas sobre seu estatuto cientifico nos domfnios do conhe- cimento reconhecido e estabelecido. Este estatuto teérico tem relagéo com a pratica do trabalho com os mais pobres e mais exclufdos (sem bens e sem poder), marginalizados, reservas, “imprestdveis” para 0 capital.' Para trabalhar com os pobres, em geral, nao hd muitos recursos e poder, e mesmo reconhecimento de teorias. Desta forma as questdes tedricas estio articuladas as * Versio modificada de artigo publicado em Paroles et Pratiques Sociales n° 35, pp. 5-8, Paris, out.-dez. 1990. 1. A questio da pobreza se inscreve numa relagio social de exploragio ¢ dominagio na produgio da riqueza social, apropriada em grande parte por uma minoria em detrimento da maioria, que assim se vé privada dos meios de vida necessdrios 2 sua sobrevivéncia e A satisfagfo das necessidades historicamente construfdas para uma convivéncia social digna e feliz. Assim, os conceitos de pobreza absoluta (relativos ao mfnimo de subsisténcia) se relacionam com o de pobreza telativa em nfvel de renda e riqueza alcancado por uma sociedade. 179 Scanned with CamScanner questées polfticas, culturais, ideolégicas e econdmicas, num pro- cesso complexo de mediagées. Neste capitulo pretendemos abordar € destacar as categorias que os agentes sociais construfram ao longo da histéria para incluir, classificar, atender aos pobres na propria relagio que com eles foram estabelecendo, trazendo A luz este movimento entre concepgées teéricas e agées priticas. Para fazer este trabalho utilizamos o processo de categorizagdes como mediagao desse movimento. E através de categorias que os agentes trabalham, classificando, explicando fenémenos, generalizando e estabelecendo estratégias. Estas categorizag6es nao sao apenas resultado de elaboragGes técnico-cientificas puras, mas articulagées complexas nas correlagdes de forga das diferentes conjunturas, A partir das questées colocadas por esta prdépria pratica complexa € que buscaremos aprofundar as mediages politicas, econémicas, culturais e ideolégicas das categorizacdes dos pobres como um processo inter-relacionado. A base, para isto, é uma abordagem histérica, mas sintética, a partir de grandes configu- ragGes hist6ricas em que se demarcaram politicas Para os pobres. Nosso corte sera justamente a delimitagio das categorizagdes dos pobres que prevaleceram no leque das politicas sociais. Parafra- seando Marx, interrogamo-nos se as categorias da miséria nos levariam a uma miséria das categorias. E 0 desafio de pensar, Nesse momento, mais enfaticamente o processo que a estrutura, para, inclusive, podermos construir categorias processuais na es. trutura em vez de categorias estaticas que congelem os processos de mudanga em visGes esquemiticas rigidas. Da Idade Média ao século XVIII Nesse longo percurso histérico aqui indicado, o destaque é para a transformagdo das categorias de bons e maus pobres, ou de pobres merecedores* e nio merecedores, em categorias de pobres capazes e incapazes. Em primeiro lugar, € preciso considerar © contexto econédmico da Idade Média. O tratamento dado aos pobres é o resultado tanto das relagdes econémicas como religiosas 2. Deserving poor. 180 Scanned with CamScanner e politicas. Nesta fase histérica articulavam-se a economia da servidio, a dominagao religiosa catélica e a ordem politica feudal. Sao as ordens religiosas e os principes que se ocupavam da atengao e da organizacio de atendimento aos pobres, seja nos mosteiros e conventos, seja através da distribuigao de esmolas, A doagiio era mediatizada pela caridade, um meio de fazer ao outro uma doagio conforme a apreciagiio das necessidades do outro em fungdo do supérfluo. E uma relagio de dom pessoal do mais forte em direg&o aos deserdados e despossufdos, embora os que possufam nao se desfizessem de todos seus bens em favor dos despossuidos, de forma geral. Ao contrdrio, eles mantinham uma auréola de legitimagdo por sua aparente (que aparecia em ptiblico) bondade para com os homens (filantropia) e diante de Deus, na crenga de obter um lugar no céu. A caridade era mediagao da crenga. As categorias de classificagao dos pobres refletiam as nogdes que os distinguiam em bons e maus: os bons eram os que nio se revoltavam contra sua miséria e as condigdes de trabalho, aceitando a chamada ordem divina ou divina providéncia. Se a crise de desemprego aumentasse, por exemplo, em fungdo das intempéries, organizava-se tanto a distribuigio de alimentos nas cidades com maior agitacao social (em Lyon, por exemplo), para manter a ordem, como trabalhos tempordrios e emergenciais de caréter ptiblico ou privado. Os ateliers de charité nos séculos XVII e XVIII eram formas de ligar trabalho e caridade, usando-se as obras ou atividades ptiblicas para as emergéncias do desemprego. A ajuda a domicilio (Outdoor relief) foi sempre inferior a0 que se pode chamar saldrio mfnimo, mesmo com as decisées e dispositivos tomados em Speenhamland em 1795, que davam aos trabalhadores uma ajuda referente ao prego do pao. Os fichdrios dos pobres continham a distingdo dos que eram capazes e dos que eram incapazes de trabalhar. As categorias de capazes/incapazes ou de aptos/inaptos atravessaram toda a legislagio dos pobres (poor law) na Inglaterra. As categorias de bom e mau pobre foram sendo substituidas por aquelas que se referiam diretamente as condigdes de exploragio do trabalhador pelas elites locais. Os agentes dos pobres deviam analisd-los caso a caso a fim de determinar as capacidades de cada um segundo sua idade, 0 194 Scanned with CamScanner sexo, as condigbes de satide, as habilidades e suas disponibilidades, Nessa economia de desestruturaciio da relagdes de servidio ¢ de produgio comunitéria sio as paréquias que assumem a categori- zagio dos pobres para um controle da mio-de-obra. Assim, o sistema de ajuda caminhava junto com o sistema econdmico de controle € insergio da mio-de-obra local nos trabalhos agricolas, Este controle chegava nio raramente as vias de Tepressao violenta com a estigmatizagio dos que eram considerados vagabundos através até da amputagiio de sua orelha ou marca em seu corpo da letra S, significando escravo (slave), 0 que permitia a qualquer um usd-lo como trabalhador sem Temuneracao. O financiamento desta ajuda aos pobres vinha de uma taxagio paroquial, A institucionalizagio dos Pobres nos asilos, 1 ma_limitagio trocada por um minimo de sobrevivéncia, Era a troca da liberdade por comida e abrigo. A institucionalizacio dos pobres em asilos, | albergues e hospitais (Indoor relief) supunha, por parte dos pobres, a aceitagio das normas e da disciplina para obter bone habe morais e de comportamento. A implantagio das workhouse: XVIII e principalmente no século XIX tinham como Pressuposto, segundo as teorias malthusianas, de que a assisténcia social é que causava a preguica, devendo-se, no interior dos albergues, forgar os pobres a trabalhar, mesmo ao Prego de sua satide. A ajuda deveria ser dada somente aos incapazes de trabalhar, Tns- titucionalizou-se, de forma emblemitica, a diferenciagao entre os capazes € os incapazes. A Preguiga seria a causa da pobreza. No século XVI, Juan Luis Vives Propunha a criagio de um sistema de atendimento aos pobres para corrigirem seus vicios e aceitarem com resignagio a pobreza com o objetivo de se recuperarem, pois havia os recuperdveis e os irrecuperdveis. A Revolugio Francesa, através de seu Comité de Mendicancia, coloca em questo o sistema assistencial, propondo que os pobres tivessem direitos, ou seja, que a assisténcia fosse um dever do Estado, visando extinguir a mendicancia. A revolugio de 1848 reivindicava, ndo o direito a assisténcia, mas 0 direito ao trabalho que nunca foi garantido na ética liberal. No bojo da chamada ’s na Inglaterra nos séculos 182 Scanned with CamScanner “questo social”? do século XIX emerge com forga a figura do trabalhador no processo da Revolugdo Industrial. O trabalhador se inscreve numa relagio contratual de troca de forga de trabalho. por salétio direto ou indireto, passando a ser considerado o assalariado quando trabalha ou o beneficidrio quando recebe, sem trabalhar, 0 que pagou previamente, mediatizado Por caixas be- neficentes, sindicatos, sociedades. A adaptacio ao mundo do trabalho industrial A categorizagiio do trabalhador e do beneficidrio a partir da divisdo entre exercicio e nio exercicio do trabalho implica também a categorizacio do vagabundo, do que nao quer trabalhar, ao qual se destina a repr essio. E preciso Considerar, contudo, que a partir das mudancas tecnolégicas, econdmicas, Politicas, sociais e ideolégicas trazidas no bojo das novas formas de Produgio, através do uso da maqui i : trabalho, questdo da produtividade, as condigdes sociais ¢ inclusive a vida urbana, O livre comércio, a livre troca implicam também a livre circulagao dos trabalhadores no momento da pujan industrial e da revoluga ca da revolucio do apogeu de uma era de enriq da adaptacao do homem nio maquina,’ individuais do capitalismo emergente, € a seus valores, 10 burguesa, tomando 0 mercado 0 simbolo a uecimento, no entanto, acompanhada de grande empobrecimento. O trabalhador, livre das amarras da servidao, estava entregue a sua sorte, A vaga de repressio Aqueles que eram considerados vagabundos (nao trabalhadores)$ se justi- ficava no sentido de forg4-los_ao v | méximo de trabalho com o minimo de salario. Para vender sua forga de trabalho supunha-se que as pessoas pudessem ter éxito numa competicao baseada no 3. Ver, aqui, 0 capitulo 2 sobre 0 Objeto do Servico Social. 4, Sistematizada por Taylor no inicio do séeulo XXS 5. De forma semelhante & exigéncia de cirtera de trabalho para que alguém niio seja considerado vagabundo e sobre suspeita pela polfcia brasileira nas ruxs dss grandes cidades. 127 Scanned with CamScanner esforgo pessoal e individual com valorizagao de sua motivagio individual. Ao mesmo tempo, ¢ por um longo perfodo, foi proibido aos trabalhadores a sua organizagiio coletiva em nome desse individualismo competitivo, facilitando, evidentemente, o isola- mento, o enfraquecimento, a divisio dos trabalhadores e a baixa de saldrios. Agentes sociais foram contratados para trabalhar no interior € no exterior das fabricas, seja para estimular os pobres ao trabalho seja para controlar os que nao conseguiam se virar na atividade laborativa. Uma nova organizagio para atender a esta situagio social foi emergindo, buscando as causas do fracasso individual, em vez das causas da pobreza. Segundo a ideologia dominante era indispensdvel ter sucesso através do trabalho. A obra Mary Richmond nos Estados Unidos (Social Diag- nosis) € emblemitica nesse processo de construgio de novas categorias de classificagéo dos pobres. Nao se trata mais de consider4-los bons ou maus, capazes ou incapazes, mas adaptados ou desadaptados. Os adaptados sao aqueles que conseguem viver do seu trabalho com um saldrio minimo ou reduzido, conseguindo atender as necessidades de habitacio, satide, educagao, alimentacgio e vestudrio, além de reservar um pouquinho para a poupanga, além do respeito as normas estabelecidas. E interessante notar que para Mary Richmond trata-se da consagragio, tanto para o cliente como para a assistente social, do esforgo pessoal. Os desadaptados so, portanto, os que se distanciam das normas sociais, pelo alcoolismo, a droga, a pregui¢a, a criminalidade, ou por sua falta individual de buscar um trabalho (supondo-se que a oferta deste exista para todos). A busca das causas (considerada apenas numa Telagio cau- sa/efeito imediato) dos desvios sociais deveria ser feita no nivel psicolégico pessoal ou do contexto imediato do individuo, na busca de uma alternativa de readaptacfo. Assim, torna-se incisiva e fundamental a influéncia direta do assistente social sobre 0 cliente ou de sua aco indireta sobre 0 meio para modificar 0 comportamento dos clientes ou algumas condicdes do meio, chamado de pernicioso. Era exigida a adaptagao a estas condicdes minimas ou as normas sociais, centrando-se a ago social seja 184 Scanned with CamScanner no indivfduo, seja no meio, scja nas normas — por exemplo, na “normalidade” do casamento, da moral frugal, do “bom operi- rio-padrio”, Esta foi a perspectiva dominante utilizada pelo Servico Social das agéncias publicas ¢ privadas, influenciando, até hoje, a cons- tituig&o dos prontudrios dos usudrios, em que se pode constatar as marcas de uma concepgio adaptativa ou desadaptativa da personalidade ao meio, com observagées sobre os defeitos, virtudes, esforgos dos individuos & vida considerada normal. Este proce- dimento, aliés, perpassa os dossiés da psicologia, da administragio, das relagdes ptiblicas. A concepgio e a pritica da normalizagio ou da etiquetagem dos usuarios tem sido, a partir dos anos 60, objeto de imimeras criticas.° A crise, as guerras, 0 Welfare State e 0 Processo de admissibilidade nos direitos universais ¢ categoriais As crises econémicas e as guerras Propiciam o questionamento das formas de se pensar a sociedade, contribuindo para que emerjam novas categorias de andlises. No bojo da grande crise de 1930 questiona-se o papel do Estado? ¢ do mercado, estrutu- rando-se, a0 mesmo tempo, a garantia de Manutengio da exploragio salarial e a garantia de direitos a todos que nao tivessem trabalho. O “nao trabalhar” no mais visto somente como falha individual, mas questéo estrutural. O trabalho, de per se, também nio é visto como garantia de bem-estar. As mudangas nas politicas sociais se realizam conforme a correlagiio de forgas sociais, ¢ novas préticas de admissibilidade vio se construir através do conceito de mfnimos que nao prejudiquem nem a motivagao para o trabalho e nem interfiram na desigualdade de condigdes, mas possam diminuir as tenses sociais, assegurando um minimo de 6. Ver, por exemplo, faleiros, V. P. Metodologia e ideologia do trabalho social. Sio Paulo, Cortez, 1981 ¢ Saber profissional e poder institucional, Si0 Paulo, Cortez, 1985. 7. Keynes teve importante papel nessa reflexiio encarando a crise sob 0 angulo da demanda a necessidade da intervengio do Estado para regular o mercado. 185 Scanned with CamScanner sobrevivéncia da mio-de-obra, dependendo da consolidacio da cidadania. eee 4 Assim, hé uma conjungio de condigdes (conjuntura) que vio propiciar a emergéncia de uma nova relagio do Estado com © mereado € a sociedade, como a necessidade de se manter a estabilidade do processo de acumulagiio, a crise dos Mecanismos de prestag6es sociais individuais na dinamica da universalizacio do acesso ao direito de voto, propiciada pela democratizaciig e pelo desenvolvimento da cidadania com 0 acesso a varios civis € politicos. A democratizagiio trouxe também a Possibilidade da Tepresentacdo da diversidade de interesses Nos parlamentos com a presenga de partidos socialistas ou trabalhistas que defendiam melhoras para os trabalhadores, A intervengio do Estado Para estabelecer certos sociais e de Previdéncia Social sem, contudo, do mercado e do Contrato capitalista de trab; ndo s6 0 trabalhador como individuo isolado também 0 controle de certo nivel de misé; obrigatoriedade do Seguro social. Isto ajuda das incertezas diante dos riscos de doengas, morte e invalidez® O desemprego, também assegurado por uma Prestagio mfnima, nao é mais considerado involuntério, fruto da desadaptagiio, mas da circunstancia e da conjuntura, Elaboraram-se normas de admissibilidade, seja para 0 segurado (contribuinte) seja para 0 protegido socialmente, com critérios detalhados nas diversas situagdes. Os Seguros sociais combinam-se com 0 diteito a assisténcia social em caso de falta de Tecursos minimos para a sobrevivéncia, sendo esta substitutiva ou complementar dos seguros. O préprio trabalho nao era mais Seguro, mas, de certa forma previsfvel numa economia em expansio. minimos afetar as transagdes alho leva em conta © contribuinte, mas tia e pobreza pela também a Teducio » Velhice, acidente, Os servicos estatais de assisténcia e de acesso aos Seguros Passam a se organizar em fungio das Providéncias burocriticas e administrativas determinadas por esses critérios, através de séries intermindveis de exigéncias para 0 acesso aos direitos estabelecidos: i igat6rio tenha se iniciado com Bismarck Fa O seguro social estatal obrigat na ae 1883, sua consolidagiio se d4 somente no pés-guerra de 1939/1944. 186 Scanned with CamScanner provas documentais, testemunhas, declaragées, preenchimento de formulirios, certificados, entrevistas, néo sé para comprovar a pobreza (em nome da comprovagio de rendimentos) mas a identidade, a cidadania, a filiagio, 0 local de moradia, a idade, a condigao, o tempo exigido (de servigo, de moradia), a condigaio civil. Estes critérios ou pré-requisitos, feitos em nome do combate as fraudes ou da objetividade, nao contribuem sempre para incluir os mais pobres que no tém condicdes minimas para ter condigdes minimas garantidas. Ficam de fora das admissibilidades. Deve-se considerar, contudo, que a mudanga radical do sistema de tratamento caso a caso para uma inclusao burocritica, criteriosa e genérica permitiu a ampliagao do acesso a cidadania, em alguns casos freou, mas nao diminuiu a desigualdade funda- mental das classes sociais e nem sempre ampliou a eqiiidade. : Essas mudangas econémicas, politicas e ideolégicas prove- mientes da democratizagao, da ampliagio da cidadania e do Processo de produgiio fordista de massa foram configurando Categorias de inclusio e exclusio social. As duas grandes guerras tiveram profundas conseqiiéncias na vida e na sobrevivéncia das pessoas, produzindo nao s6 politicas especificas para proteg’o de Vitvas, 6rfaos e ex-combatentes, mas para uma massa ampla de Populacaio que deveria ser inclufda ou inserida na cidadania e m8 mecanismos de protec do Estado de Protegio Social (Welfare tate). Nao s6 a inclusio e admissibilidade dos segurados foi estruturada, mas os mecanismos de colocagao, circulagiio e insergio de milhdes de pessoas a uma renda minima ou a outras formas de protegiio como familias Substitutas, adogio, acesso a habitagdo, subvengio ao transporte, formagao profissional, entre outras. Desta forma, as politicas sociais expandem seu campo de aplicagiio Aqueles que nao podem trabalhar e favorecem sua insergdo no trabalho assalariado, na Prepara¢ao para este trabalho € no consumo coletivo ou individual de bens e servicos destinados a favorecer as condigdes sociais e econédmicas da vida urbana ou da sobrevivéncia no campo. As politicas de satide e educagio se consolidam ao mesmo tempo que servicos especializados, em razio da idade (criangas e idosos), deficiéncia fisica ou mental, género, raga, constituindo-se um processo de garantia de certos ina Scanned with CamScanner | direitos que permitem a inclusio ou insergio social de certas | categorias sociais consideradas mais desiguais ou exclufdas. Muitas destas insergdes devem-se a movimentos e lutas de mulheres, imigrantes, negros, ecologistas, homossexuais, doentes, jovens, criangas. Neste processo de luta nao sé as condigées de trabalho ou de desemprego sio consideradas causas da exclusio, mas as relagdes sociais complexas que impedem o desenvolvimento da cidadania. Isto nao significou sempre um questionamento da sociedade capitalista no seu conjunto, mas o questionamento das desigualdades sociais econédmicas e politicas que podem ser re- solvidas através de uma maior intervencdo de agentes sociais inseridos em politicas estatais, que vio se desdobrando de acordo com uma agenda definida pela correlago de forgas sociais. Os direitos se definem pela pressio social e incorporagao ou retirada da legislagao nesta correlagio de forcas (ver Faleiros, 1980). As categorias de incluidos ou exclufdos de determinados direitos passam a ter maior relevancia que as que se referem aos admissiveis e inadmissfveis, pois se trata de uma referéncia bdsica geral para a defesa de direito e nao de um procedimento administrativo, E através da constituigio de direitos A pré-escola, & formagio profissional, & assisténcia social, 4 satide e outros que se abre a possibilidade de implantagio de uma politica macica e publica menos burocratica e mais universal. Isto nao descarta a formulagiio de critérios especificos para a acessibilidade de certas categorias especificas como desalojados, mies chefe de familia, idosos, desempregados e jovens a determinados servigos e politicas, seja de forma objetiva (idade) seja pelo exame da situagdio. Assim, a comprovagéo da idade passa a ser mais importante que a comprovagio da pobreza, ou vice-versa, de acordo com as politicas estabelecidas para atendimento. Os critérios se cruzam, podendo alguns ser transversais & situagdo de renda, outros privilegiam as condigdes de pobreza. Os primeiros sio genéricos, de massa, garantindo aos pobres, no entanto, um minimo generalizado como certas alocagdes de velhice (por idade) em certos pafses. A desigualdade de condigéo, no entanto, continua mantida. O acesso, entretanto, a esses minimos genéricos nao configura de per se a propalada igualdade de oportunidades, pois as politicas 188 Scanned with CamScanner

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