Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

2 – EVOLUÇÃO DO PENSAMENTA CONTÁBIL


Origem da Contabilidade; Escola Europeia; Escola Norte-Americana; O caso brasileiro.

2.1 Origem da Contabilidade


As raízes da Contabilidade é tão antiga quanto o homem que pensa (ou que conta) e teve
evolução lenta até o aparecimento da moeda. Durante esse período embrionário tem
acompanhado o desenvolvimento econômico das civilizações passadas até chegar ao
conhecimento científico, por isso, o grau de desenvolvimento das teorias contábeis e de suas
práticas está diretamente associado (na maioria das vezes) ao grau de desenvolvimento
comercial, institucional e social de cada época.
Na Antiguidade – aproximadamente a 4.000 a.C – tem-se relatos históricos de registro de
contas entre a civilização sumério-babilonense, povos da mesopotâmia. Depois, fenícios,
egípcios, romanos, que se espalhou pela Europa. Há mais de 2.000 anos já se refletia acerca de
meios/técnicas que controlasse a riqueza econômica. Na época da troca pura e simples de
mercadorias, os mercadores anotavam as obrigações, direito perante terceiros e os bens em um
mero elenco de inventário físico, sem avaliação monetária.
A partir do Século XIII até o Século XVII, o registro dos bens patrimoniais teve seu florescer
nas cidades italianas de Veneza, Gênova, Florença, Pisa e outras cidades da Europa, onde
fervilhavam as atividades mercantis, cobrindo todo o período do Mercantilismo 1.
Segundo historiadores e estudiosos, a história da evolução da contabilidade 2 se divide em
quatro períodos:
a) CONTABILIDADE DO MUNDO ANTIGO - período que se inicia a civilização do homem
e vai até 1202 da Era Cristã, quando apareceu o Liber Abaci (Livro do Ábaco ou Livro de
Cálculo), da autoria de Leonardo Pisano 3, introduzindo os numerais hindu-arábicos na
Europa.
b) CONTABILIDADE DO MUNDO MEDIEVAL – O Líber Abaci de Leonardo Pisano (1175-
1250) marca o período Medieval, que vai de 1202 da Era Cristã até 1494, quando apareceu a
obra de Frei Luca Pacioli (1447-1517), contemporâneo de Leonardo da Vinci, que viveu na
Toscana, no século XV.
c) CONTABILIDADE DO MUNDO MODERNO – O período vai de 1494 até 1840. A obra
Tratactus de Computis et Scripturis de frei Luca Pacioli4, publicado em 1494, marca o início
da fase moderna da Contabilidade. Luca Pacioli foi o primeiro a publicar a contabilidade de

1
O mercantilismo foi um conjunto de práticas e ideias econômicas que dominou a Europa na transição do
feudalismo para o capitalismo, entre o século XV e o final do século XVIII. O mercantilismo originou um conjunto
de medidas econômicas diversas de acordo com os Estados. Caracterizou-se por uma forte intervenção do Estado na
economia. Fonte: Wikipédia
2
Fonte http://www.gesbanha.pt/contab/conthis/cont_his.htm;
http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/historia.htm.
3
Leonardo Pisano ou Leonardo de Pisa (1175-1250), também conhecido como Fibonacci, foi um matemático
italiano, o primeiro grande matemático europeu depois da decadência helênica (Grécia). Ficou conhecido pelo
invento da sequência de Fibonacci e por seu papel na introdução dos algarismos arábicos na Europa.
4
Frei Luca Bartolomeo Pacioli (1447-1517) foi matemático, teólogo, contabilista entre outras profissões. Deixou
muitas obras, destacando-se a Summa de Arithmética, Geometria, Proportioni et Proporcionalitá , impressa em
Veneza, na qual está inserido o seu tratado Tratactus de Computis et Scripturis (sobre Contabilidade e Escrituração
por Partidas Dobradas), publicado em 1494, enfatiza que a teoria contábil do débito e do crédito corresponde à teoria
dos números positivos e negativos.
11
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

dupla entrada, ou método das partidas dobradas também conhecido como método Veneziano.
A obra "Summa de Arithmetica, Geometrica, Proportioni et Proporcionalitá", impressa em
Veneza, na qual está inserido o seu tratado sobre Contabilidade e Escrituração tornou Pacioli
uma celebridade e assegurou-lhe um lugar na história como o Pai da Contabilidade. Foi o
tratado de matemática mais lido em toda a Itália e um dos primeiros livros publicados na
imprensa de Gutemberg. Ao enfatizar a teoria contábil do débito e do crédito, que
correspondia à teoria dos números positivos e negativos, Pacioli veio inserir a Contabilidade
entre os ramos do conhecimento humano que revolucionou a economia e o comércio.
d) CONTABILIDADE DO MUNDO CIENTÍFICO - período que se inicia em 1840, com o
aparecimento da obra "La Contabilità Applicatta alle Amministrazioni Private e Pubbliche",
de autoria de Franscesco Villa, premiado pelo governo da Áustria. Esta obra marca a fase da
contabilidade científica que continua até os dias atuais.
Obs: Essa divisão temporal da contabilidade é um pouco diferente da divisão clássica da
História Ocidental, posto que é considerada Idade Antiga, ou Antiguidade o período que se
estende desde a invenção da escrita (de 4.000 a.C a 3.500 a.C) até a queda do Império Romano
do Ocidente (476 d.C). A Idade Média (Medieval) é um período da história da Europa entre os
séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a
transição para a Idade Moderna no sec.XV a XVIII. Tradicionalmente aceita-se como o início
da Idade Moderna, o dia 29.05.1453 quando ocorreu a tomada de Constantinopla pelos turcos
Otomanos e o término com a Revolução Francesa, em 14.07.1789. A Idade Contemporânea
compreende o espaço de tempo que vai da revolução francesa aos nossos dias.
2.2. Escola Europeia
Iudícibus (2010) ao tratar da Evolução Histórica da Contabilidade aborda a ascensão da
escola italiana no século XIV e diz que o método das partidas dobradas nasceu provavelmente no
Século XIII ou XIV, mas a divulgação desse método na Itália ocorreu dentro da obra do frei
Luca Pacioli em fins do Século XV, cuja data marca o início da chamada “escola italiana”,
depois denominada de “escola europeia”, na qual desenvolveu a teoria da Contabilidade segundo
diversas correntes doutrinárias, dentre as quais cabe destacar o Contismo, Personalismo,
Controlismo, Aziendalismo e Patrimonialismo (HERRMANN JR, 1978).
a) Contismo: esta corrente preocupa-se com o funcionamento das contas, subordinando-as
aos métodos de escrituração. A Contabilidade confundia-se deste modo com a escrituração, cujas
teorias estavam adstritas às regras que regem a compilação dos livros e das contas constituíam a
ciência. A Contabilidade apresentava-se como a ciência das Contas. Essas teorias datam de 1675
e tiveram como um dos seus primeiros expositores Jacques Savary5, que adotou como ideia
central o mecanismo das contas.
No período entre o Século XIX até o início do Século XX (conhecido como período
científico ou “romântico”) a teoria contábil teve seus expoentes máximos na Itália, na figura de
Francesco Villa (1801-1884), Francesco Marchi (1822-1871), Giuseppe Cerboni (1827-1917),
Fábio Besta (1845-1922), Gino Zappa (1879-1960) e Vincenzo Mais (188=93-1977). Os estudos
envolvendo a Contabilidade fizeram surgir três escolas do pensamento contábil na Itália: a

5
Jacques Savary (1622 - 1690) foi um famoso comerciante frances que tornou-se largamente reconhecido como um
expert em questões de recomendações comerciais. Ele é autor da obra Le parfait négociant (1675), um manual de
negócios comerciais (mercantile trade), cuja obra foi traduzida para diversas linguas. Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Jacques_Savary.
12
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

primeira, foi a Escola Lombardia chefiada por Francesco Villa6; a segunda, a Escola Toscana,
chefiada por Giusepe Cerboni; e a terceira, a Escola Veneziana, por Fábio Besta.
b) Personalismo: esta corrente repousa no princípio da responsabilidade pessoal das
contas, considerando a relação jurídica entre a empresa ou entidade e as terceiras pessoas que se
relacionam com o patrimônio. Esta escola surgiu como uma reação ao Contismo, durante a
segunda metade do século XIX (1867), dando personalidade às contas para poder explicar as
relações de direitos e obrigações. Para os teóricos do personalismo, as contas deveriam ser
abertas tanto para pessoas físicas como jurídicas (pessoas verdadeiras), e o dever e haver
representavam débitos e créditos das pessoas a quem as contas foram abertas.
Um dos primeiros idealizadores desta teoria foi Francesco Marchi (1822-1871), mas foi
Giuseppe Cerboni (1827-1917) da Escola Toscana o verdadeiro construtor da teoria
personalística ou personalista da contabilidade, visto que Cerboni procurou dar às contas um
fundamento jurídico representado pelas relações jurídicas entre os agentes consignatários e
agentes correspondentes de um lado e os proprietários de outro.
Os agentes consignatários dizem respeito às mercadorias, efeitos a receber, efeitos a
pagar, móveis, despesas de instalação, fundo de comércio;
Os agentes correspondentes são representados pelas contas de devedores e credores; e
Os agentes proprietários dizem respeito às contas de capital, lucros e perdas.
c) Controlismo: Lançando as bases para o desenvolvimento do neocontismo, Fábio Besta
(1845-1922)7, chefe da terceira Escola Veneziana, foi quem desenvolveu a teoria materialística
das contas, demonstrando o elemento fundamental da conta - o valor - e chegou muito perto de
definir patrimônio como objeto da Contabilidade. Seguidor de Francesco Villa, Besta superou o
mestre em seus ensinamentos.
Em 1891, Fábio Besta iniciou a corrente do Controlismo. Ele conceituou a Contabilidade
como ciência do controle econômico, em oposição à teoria personalística. Ele observou as fases
da administração e distinguiu três tipos de gestão: a gestão econômica propriamente dita, a da
direção e a do controle. Esta última, compreende as funções da Contabilidade, classificadas
como: controle antecedente, controle concomitante e controle subsequente.
Fábio Besta entendia que a contabilidade tinha a missão de atender as seguintes fases:
1) Estabelecer um ponto de partida para tornar possível a análise dos resultados da gestão;
2) Acompanhar a gestão evidenciando os fatos ocorridos que julga ser o trabalho
administrativo; e
3) Demonstrar os resultados finais da administração econômica para a devida aprovação
ou rejeição da gestão.

6
Francesco Villa (Milão, Itália, em 1801-1884) foi contador e professor de contabilidade italiano. Fez parte da
Escola Lombarda de Contabilidade. É considerado um precursor do uso da Contabilidade como fonte de informação
gerencial, não considerando aquela uma simples coleção de cifras, mas uma ciência, com princípios semelhantes aos
da Economia e Administração. Referências: SCHMIDT, Paulo. História do Pensamento Contábil/Paulo Schmidt,
José Luiz dos Santos. São Paulo: Atlas, 2006. -- (Coleção resumos de contabilidade;v.8). Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francesco_Villa
7
Fabio Besta: italiano de Lombardia (1845-1922). Graduou-se contador em 1868 pelo Instituto Técnico Comercial
de Sondrio. Em 1872, começou a lecionar na Escola Superior de Comércio de Veneza, localizada na Ca' Foscari.
Sua principal contribuição à história da contabilidade é a criação da escola controlista, que defendia que o principal
objetivo da contabilidade era o controle dos fatos econômicos. Referências. SANTOS, J. L. e SCHMIDT, P.
História do pensamento contábil. São Paulo: Atlas, 2006. p.64-65. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fabio_Besta; http://www.fae.edu/intelligentia/pensadores/fabio.asp
13
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

Juntamente com Pacioli, Besta é considerado o maior vulto da Contabilidade: o primeiro e


o maior contador moderno. A definição de Contabilidade aprovada pelo I Congresso Brasileiro
de Contabilidade (em agosto de 1924), pertence à corrente controlística e diz o seguinte:
"Contabilidade é a ciência que estuda e pratica as funções de orientação e de controle, relativas
aos atos e fatos da administração econômica".
d) Aziendalismo: Esta corrente, a semelhança do controlismo, conceitua a
Contabilidade como ciência da administração da Azienda, indo, porém, além dos limites naturais
da ação contábil. Azienda significa um patrimônio sob administração e em movimento, que seja
de propriedade privada ou pública, tenha a finalidade social, social-econômica ou simplesmente
econômica.
Cerboni e Fábio Besta, ao defenderem, respectivamente, o fundamento jurídico e o
econômico da Contabilidade dirigiram suas atenções para aplicação prática no campo das
“aziendas”. Viram que a Contabilidade estava voltada às questões de organização e
administração. Iniciou-se, assim, a corrente aziendalista que contribuiu eficazmente para o
desenvolvimento das ciências administrativas. Cerboni definiu “ragioneria”, como a ciência da
Administração Aziendal, abrangendo o estudo das funções da administração econômica
“aziendal” e da Contabilidade, como meio para a organização e disciplina interna da “ azienda”.
Gino Zappa (1879 -1960) foi o mais ardente seguidor e aprimorador dessa corrente. Em
face da interdependência existente entre Organização, Administração e Contabilidade, Gino
Zappa constatou a unicidade que existe entre as três disciplinas, formando a Ciência da
Economia “Aziendal”. No entanto, o Aziendalismo limitou o campo da Contabilidade ao
levantamento de fatos patrimoniais, o que não foi aceito por importantes estudiosos da ciência
contábil, que combateram vigorosamente essa doutrina.
e) Patrimonialismo: Vincenzo Masi (1893-1977)8 é o principal nome da escola
patrimonialista da Contabilidade, o qual defende que o objeto de estudo da contabilidade é o
patrimônio. Em "La Regioneria come Scienza del Patrimônio" conceitua: "A Contabilidade é a
ciência administrativa que tem por objeto o estudo dos princípios, das leis e das teorias, dos
métodos e dos meios segundo os quais racionalmente se deve desenvolver, efetuar, estudar e
controlar a parte da ação administrativa que tem a sua base e o seu instrumento necessário no
cálculo aplicado à matéria econômico-patrimonial-financeira, em função nas aziendas
econômicas..." (MASI, 1943).
O Patrimonialismo, pensamento em voga e conceito usualmente aceito em nossa época,
define a Contabilidade como a ciência que estuda o Patrimônio à disposição de empresas ou
entidades ou pessoas físicas, em todas as suas variações dos efeitos da administração sobre a
riqueza patrimonial. Como diz Herrmann Jr: "Ciência que estuda o Patrimônio à disposição das
aziendas em seus aspectos estáticos e em suas variações para anunciar por meio de fórmulas
racionalmente deduzida os efeitos da administração sobre a formação e distribuição dos
réditos."
A escola italiana, apesar de estar vinculada a um excessivo culto à teoria das contas e da
personalidade, tem o mérito incontestável de chamar a atenção ao fato de que “a Contabilidade é

8
Professor de contabilidade nascido em Rimini, Itália, em 06.02.1893. Foi aluno de Fabio Besta. Lecionou na
Faculdade de Economia e Comércio da Universidade de Bolonha e no Instituto Técnico Comercial Pier Crescenzi de
Bolonha. Suas principais obras são La Ragioneria come scienza del patrimonio, Statica Patrimoniale e Dinamica
Patrimoniale. Morreu em 19 de dezembro de 1977. Fonte: SANTOS, J. L. e SCHMIDT, P. História do Pensamento
Contábil. São Paulo: Atlas, 2006. p. 146-147. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Vincenzo_Masi.

14
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

muito mais do que mero registro”. Ao considerar a Contabilidade como um instrumento básico
de gestão é na verdade seu principal mérito.
Os defeitos da “escola europeia” apontados anteriormente pelo Professor Iudícibus (1980)
estão substancialmente nos seguintes pontos:
1. A falta de pesquisa indutiva sobre a qual efetuar generalizações mais eficazes;
2. Em se preocupar demasiadamente com a demonstração de que a Contabilidade é
ciência, quando o mais importante é conhecer bem as necessidades informativas
dos vários usuários da informação contábil e construir um modelo ou sistema
contábil de informação adequado;
3. Na excessiva ênfase na teoria das contas, isto é, no uso exagerado das partidas
dobradas, inviabilizando, em alguns casos, a flexibilidade, necessária,
principalmente em Contabilidade Gerencial;
4. Na falta de aplicação de muitas das teorias expostas, talvez por imaturidade do
sistema econômico e institucional, principalmente na Itália;
5. Na queda de nível das principais faculdades, principalmente italianas,
superpovoadas de alunos, com professores mal remunerados, trabalhando cada
um por sua conta e risco, dando expansão mais à imaginação do que à pesquisa
séria de campo e de grupo.
O desenvolvimento da contabilidade deve-se à tentativa de regulamentação e controle das
grandes companhias que surgiram com a Revolução Industrial, iniciada no Reino Unido em
meados do século XVIII. Segundo Hendrisksen e Van Breda (2012, p.56), as empresas de capital
conjunto9 haviam crescido e caído com efeito devastador no século XVII. Consequentemente,
houve completa proibição de tais companhias pela Lei da Bolha Especulativa de 1719 até o
início do século XIX, quando a sociedade por ações foi reconhecida como a maneira mais eficaz
de gerir as novas empresas resultantes da Revolução Industrial. Em 1825 a Lei da Bolha foi
abolida, e mais uma vez foi autorizada as sociedades por ações e negociação com a Coroa.
Os principais organismos e entidades internacionais vinculados ao desenvolvimento da
teoria contábil são procedentes de duas vertentes: a contabilidade estadunidense, organizada pela
entidade civil chamada FASB (The Financial Accounting Standards Board), que forma o grupo
dos países sob influência norte-americana (Canadá, México, Israel, Filipinas e Japão). A outra
vertente da contabilidade internacional segue o modelo do Reino Unido. A Inglaterra e a Escócia
formam o grupo com a Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Paquistão, Índia e África do Sul, em
função das relações históricas e culturais existentes, oriundas do período colonial, que seguem as
regras de contabilidade do Reino Unido (NIYAMA e SILVA, 2011, p, 32).
Nos anos 70, com a adesão de vários países da Comunidade Europeia iniciou-se a
formação do grande bloco do IASB (International Accounting Standards Board). A
contabilidade internacional baseada nos moldes do IASB (International Accounting Standards
Board) busca uma padronização para todos os países da ONU. Os princípios e regras de

9
Uma das primeiras empresas de capital conjunto foi a Companhia das Indias Ocidentais na Inglaterra em 1600.
Como haviam poucas oportunidades de investimentos até o início do sec. XVIII, as que existiam atraíam multidões
de investidores que corriam a participar de novas emissões de direitos de participação, o que fazia com que os
preços dobrassem ou até triplicassem. O caso mais conhecido foi da Companhia dos Mares do Sul, supostamente
constituída para tirar proveito do tráfico de escravos entre a Africa e a América do Sul, que desmoronaram trazendo
grandes perdas à família real britânica e muitos nobres. Em consequencia disso, certificados de participações foram
banidos da Grã-Bretanha por mais de um século (HENDRISKSEN, VAN BREDA, 2012, p.46).
15
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

Contabilidade Internacional são detalhados nos pronunciamentos IAS, IFRS, SIC e IFRIC, que
são publicados pelo IASB.
2.3 Escola Norte-Americana
A escola Norte-americana esponta no início do Século XX com o surgimento das
gigantescas corporações e o desenvolvimento formidável do mercado de capitais, atrelado ao
extraordinário desenvolvimento econômico daquele país. Além do que, herdou da Inglaterra uma
excelente tradição no campo da auditoria, que levaram a criar sólidas raízes no campo das teorias
e práticas contábeis. No entanto, as práticas contábeis - “procedimentos contábeis geralmente
aceitos” - foram alteradas após a grande depressão de 1929, decorrente do colapso do
capitalismo e também do liberalismo econômico. A regulamentação dos procedimentos sobre o
mercado de capital ocorreu com a criação da Securities and Exchange Commission (SEC)10, por
meio da Security Act de 1934, que representou um marco fundamental na regulamentação dos
procedimentos contábeis (NIYAMA, 2014, p.7).
Segundo Iudícibus (2010 p.19) o surgimento da American Institute of Certificd Public
Accountants (AICPA), em 1930, representa uma importância decisiva no desenvolvimento da
contabilidade e dos princípios contábeis. Os Special Commitees, The Accounting Research
Division, The Accounting Principles Board e o Financial Accounting Standards Board (FASB)
têm promovido inúmeros estudos, pesquisas e emitido opiniões sobre áreas de interesse da
contabilidade. Outras associações e entidades, como a American Accounting Association (AAA),
a Security Exchange Commission (SEC), tem tido uma participação intensa na fase de discussão
sobre princípios, procedimentos e normas da contabilidade. Na sua opinião a evolução da
Contabilidade dos Estados Unidos apoia-se, portanto, em um sólido embasamento, a saber:
1. O grande avanço e o refinamento das instituições econômicas e sociais;
2. O investidor médio é um homem que deseja estar permanentemente bem
informado, colocando pressões não percebidas no curtíssimo prazo, mas
frutíferas no médio e longo prazos, sobre os elaboradores de demonstrativos
financeiros, no sentido de que sejam evidenciadores de tendências;
3. O governo, as universidades e os corpos associativos de contadores empregam
grandes quantias em pesquisas sobre princípios contábeis; e
4. O Instituto dos Contadores Públicos Americanos é um órgão atuante em matéria
de pesquisa contábil, ao contrário do que ocorre em outros países. (IUDÍCIBUS,
2010, p.19)
A teoria contábil americana não procura endeusar demasiadamente a importância da
Contabilidade no contexto do conhecimento humano, mas a efetiva importância desta ciência no
contexto administrativo. A Contabilidade é sempre utilizada e apresentada como algo útil para a
tomada de decisões.
Os defeitos da escola americana indicados por Iudícibus (2010) são os seguintes:
1. Pouca importância atribuída à sistematização dos planos de contas;
2. Apresentação de tópicos de livros de forma não ordenada, dificultando distinguir,
às vezes, os de maior importância;
3. Pouca consideração – por parte dos corpos responsáveis pela edição de princípios
contábeis.

10
A U. S. Securities and Exchange Commission (SEC) equivale a nossa Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O SEC tem por missão: proteger os investidores, manter o mercado justo, ordenado e eficientes e facilitar a
formação de capitais.
16
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

Resumindo, no quadro comparativo 11 das duas escolas podem-se constatar algumas razões
da queda da Escola Europeia (especificamente italiana) e a ascensão da Escola Norte Americana.

Queda da Escola Europeia (italiana) Ascensão da Escola Norte Americana.


1. Excessivo culto à Personalidade: aos 1. Ênfase ao Usuário da Informação Contábil: como
grandes mestres e pensadores da algo útil para a tomada de decisões, sem endeusar
Contabilidade vistos como “oráculos” da demasiadamente a contabilidade; atender o usuário é o
verdade contábil. grande objetivo.
2. Ênfase a uma Contabilidade Teórica: 2. Ênfase a Contabilidade Aplicada: principalmente à
trabalhos excessivamente teóricos com Contabilidade Gerencial.
pouca aplicação prática.
3. Pouca importância à auditoria: o grau 3. Muita Importância à Auditoria: herança dos ingleses
de confiabilidade e a importância da e transparência para os investidores das S/A.
auditagem não eram enfatizados.
4. Queda do nível das principais faculdades. 4. Universidades em busca de qualidade: investimentos
em pesquisas, professores em dedicação exclusiva e aluno
em período integral.

2.4. Caso Brasileiro


No século XIX, o imperador D. João VI baixou o Alvará de 28 de junho de 1808,
criando o Erário Régio e o Conselho da Fazenda, assim determinou.
Ordeno que a escrituração seja a mercantil por partidas dobradas, por ser a única
seguida pelas nações mais civilizadas, assim pela sua brevidade para o manejo de
grandes somas, como por ser a mais clara e a que menos lugar dá erros e subterfúgios
onde se esconde a malícia e a fraude dos prevaricadores.
Através do Alvará de 15 de julho de 1809, foi oficializado as Aulas de Comércio no Brasil,
com nomeação do Sr. José Antônio Lisboa, que se torna o primeiro professor de Contabilidade
no Brasil. No ano de 1870 foi regulamentada no Brasil a profissão de Guarda-Livros, com a
aprovação do Estatuto da Associação dos Guarda-livros, através do Decreto Imperial n°4.475, de
18 de fevereiro de 1870.
Em 1927, o contador Francisco D'Auria (1884-1958), lançou a ideia da instituição do
Registro Geral de Contabilistas do Brasil com o propósito de selecionar e habilitar os
profissionais aptos para o desempenho da função, que serviu de base para o atual sistema do
Conselho Federal e Regional de Contabilidade - CFC/CRCs12, já que por vários anos a
contabilidade era ensinado como prática de comércio promovido pelas juntas de comércio ou
associações comerciais.
Segundo D’ Áuria (1948), o Código Comercial Brasileiro, de 1850, qualifica o guarda-livros
como preposto do comerciante. Salienta que somente nos últimos anos a profissão de contador
é considerada legalmente, tendo sido medida complementar a criação do Conselho Federal de
Contabilidade e seus registros, nos Estados (REIS, SILVA, SILVA, 2008)13.
Provavelmente a primeira escola especializada no ensino da Contabilidade foi a Escola de
Comércio Álvares Penteado, criada em 1902 (IUDÍCIBUIS, 2010, p.22), mas a regulamentação
do curso superior de Ciências Contábeis e Atuariais, só aconteceu em 1945, por meio do

11
IUDÍCIBUS; MARION. Introdução a Teoria da Contabilidade, Editora Atlas, 1999, p.36
12
História do CRCSP. Disponível em: https://crcsp.org.br/portal/conheca/historia.asp#:.
13
REIS, ALINE DE Jesus; SILVA, Selma Leal da; SILVA, Cleide Carneiro Alves. A história da Contabilidade no
Brasil. 2008. Disponivel em: https://revistas.unifacs.br/index.php/sepa/article/viewFile/299/247.
17
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

Decreto-Lei nº 7.988, de 22.09.1945, com duração de quatro anos, concedendo o título de


Bacharel em Ciências Contábeis e Atuariais.
A Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP (FEA) foi criada em
1946 com o nome de Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA). Os dois
cursos iniciais da FEA eram o de Ciências Econômicas e o de Ciências Contábeis e Atuariais 14.
A partir de 1964 verifica-se uma substancial modificação no ensino da Contabilidade na FEA,
com a adoção do método didático norte-americano adaptado à realidade brasileira (IUDÍCIBUS,
2010, p.23). Na década de 1970 vários professores da FEA/USP criaram a FIPECAFI 15 e
passaram a publicar vários livros de contabilidade. O fato é que muitas normas de avaliação
contábil e de padronização de demonstrativos financeiros foram elaboradas de acordo com a
tendência norte-americana editadas pela FASB (Financial Accounting Standards Board). A
partir de então tem surgido vários livros e trabalhos influenciados pela escola norte-americana.
Em Belém, a Sociedade Civil Colégio Fênix Caixeiral Paraense instituiu a Faculdade de
Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais no Estado do Pará no ano de 1947. No entanto, foi
em 25 de novembro de 1949, que a faculdade passou a funcionar ativamente como curso de
Graduação em Economia, tendo a primeira turma concluinte no ano de 1952. Este é um dos
bacharelados mais antigos do Pará, reconhecido pelo Decreto Presidencial/MEC de 1953,
anterior até mesmo à criação da própria Universidade Federal do Pará, em 2 de julho de 1957,
que passou a congregá-la com mais sete faculdades da antiga Universidade do Pará. Hoje, a
faculdade é vinculada ao Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA) 16.
A teoria contábil brasileira inicialmente foi fortemente influenciada pela escola italiana,
voltadas às discussões das correntes ou escolas doutrinárias. Porém, com pouca expressão no
campo acadêmico, posto que a contabilidade era mais voltada às práticas de registro ou
lançamentos dos fatos contábeis, elaboração do balanço patrimonial e demonstração de resultado
do exercício, que se aprendiam nos cursos técnicos de segundo grau.
No cenário nacional os atores que se destacaram na Contabilidade pertencem à escola
clássica, cabendo o mérito aos professores Francisco D’Áuria e Frederico Herrmann Júnior
(1896-1946) que conseguiram formar um embrião da escola brasileira, conforme esclarece Lopes
de Sá 17
No Brasil, Francisco D’Auria, foi o precursor do patrimonialismo, admitindo ser esta
a verdadeira tendência positiva da Contabilidade, tendo sido seguido por outros
colegas, mas, de forma proeminente e brilhante, por Frederico Herrmann Júnior.
Logo após, acompanhando os dois luminares referidos, Hilário Franco, Álvaro Porto
Moitinho, Américo Matheus Florentino, Alberto Almada Rodrigues, José Lourenço de
Miranda, Rogério Pfaltzgraff, Pedro Dantas Pina, José Amado do Nascimento, Cibilis
da Rocha Viana, Albino Steinstrasser, Henrique Desjardins, A. F. de Lacerda Alves e
muitos outros, seguiriam, todos, inclusive eu, a doutrina patrimonialista.
Todavia, com o avanço da escola americana, a teoria e as práticas contábeis acabaram
sofrendo forte influência norte-americana, mormente no campo de auditoria e nas normas

14
Estuda técnicas específicas de análise de riscos e expectativas, principalmente na administração de seguros e
fundos de pensão, onde se aplica conhecimentos específicos de matemática financeira e estatística.
15
A Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) é uma entidade privada, sem
fins lucrativos, criada em 1974 por professores do Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (EAC-FEA-USP), entidade a qual está
vinculada. Fonte: https://www.fea.usp.br/contabilidade/fipecafi, acesso 12.03.2022
16
Fonte: https://ww2.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=9108, acesso em 23.08.2019.
17
Lopes de Sá. Fundamentos do Neopatrimonialismo. Disponível em
http://www.crcba.org.br/boletim/artigos/fundamentos_do_neopatrimonialismo.pdf, em 02.03.2011.
18
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ REIKO MUTO

TEORIA DA CONTABILIDADE I

contábeis na década de 1970. Alguns profissionais que participaram na elaboração de diretrizes


contábeis governamentais no Brasil foram ou são pertencentes às grandes empresas de auditoria
independentes seguidores da escola norte-americana.
A Resolução BCB 220/1972 e Circular BCB 179/1972, que passaram a exigir auditoria por
auditores independentes às empresas participantes do mercado de capitais registradas no Bacen,
vieram consubstanciar os trabalhos acadêmicos e as instituições/empresas de auditoria orientadas
pelo IBRACON, com notáveis contribuições à correção monetária, em que, por experiência e
vivência, o Brasil apareceu em grande destaque no cenário mundial. A reformulação da Lei das
Sociedades por Ações (Lei nº 6.404/1976) - que veio substituir o Decreto-Lei nº 2.627/1940,
também trouxe profundas mudanças das demonstrações contábeis.
Desde 1º de janeiro de 2005, todas as empresas de capital aberto europeias passaram
adotar obrigatoriamente as normas IFRS (International Financial Reporting Standard) para
publicarem suas demonstrações financeiras consolidadas. Assim, a CVM passou a divulgar
normas para as companhias abertas em consonância com os padrões internacionais, ou seja, de
acordo com as normas emitidas pelo IASB (Internacional Accounting Standards Board), que é
atualmente considerado como referência internacional de padrões de contabilidade, amplamente
adotados no âmbito da Comunidade Europeia e no Mercosul.
Importante enfatizar que os pronunciamentos técnicos do IASB não são obrigatórios. São
referências técnicas facultativas para facilitar a interpretação mais harmonizada das informações
contábeis por parte dos investidores, de autoridades e de agentes econômicos em geral. Assim,
diferentemente do FASB, o IASB segue uma política flexível na elaboração e na publicação de
normas. Em alguns casos, as orientações indicam a adoção de mais de um procedimento contábil
válido para uma mesma modalidade operacional. Importantes órgãos como a AIC (Associação
Interamericana de Contabilidade), a IOSCO (International Organization of Securities
Commission) e a própria ISAR (International Standards of Accounting and Reporting) da ONU
(Organização das Nações Unidas) têm apoiado e referendado o trabalho desenvolvido pelo IASB
(NIYAMA e SILVA, 2011, p. 35).
A contabilidade nacional veio se aproximar ao padrão internacional do IFRS pela Lei nº
11.638/07, em vigor a partir de 2008. Em 31 de dezembro de 2008 encerrou o prazo do período
de adaptação. Essa lei ao criar a demonstração dos fluxos de caixa e a demonstração do valor
adicionado visou basicamente criar uma estrutura jurídica-contábil necessária a um processo de
aproximação das normas internacionais de contabilidade, fato imprescindível à evolução das
demonstrações financeiras. Em 2009 entrou em vigor as principais normas editadas pelo CPC e
CFC dentro dos padrões do IFRS, tornando-se obrigatória para todas as empresas de capital
aberto e as de capital fechado de médio e grande porte.

Referências:
IUDÍCIBUS, S; MARION, J.C – Introdução à Teoria da Contabilidade. Ed.Atlas, 11ª ed. 2011.
HENDRIKSEN, Eldon S; VAN BREDA, Michael F. Teoria da Contabilidade. São Paulo. Atlas 2012.
NIYAMA, Jorge Katsumi. Teoria Avançada da Contabilidade. Ed.Atlas, 2014.
NIYAMA, J.K; SILVA, C.A.T. Teoria da Contabilidade. Atlas, 2011.
IUDÍCIBUS, Sérgio de - Teoria da Contabilidade, Ed. Atlas.1980
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. Ed. Atlas. 2010.
SÁ, Antonio Lopes de. Teoria da Contabilidade. Ed. Atlas. 2010.
SANTOS, José Luiz; SCHMIDT, Paulo. História da Contabilidade: Foco na Evolução das Escolas do
Pensamento Contábil. Atlas. 2008.

19

Você também pode gostar