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: é legítimo reagir ao medo com violência?

Em seu poema “A flor e a Náusea”, Carlos Drummond de Andrade propõe uma nova utilidade ao
sentimento odioso ao escrever “Porém meu ódio é o melhor de mim, com ele me salvo e dou a
poucos uma esperança mínima.”Há séculos, o senso comum decreta como errado e perverso
qualquer coisa feita a partir do ódio, desconsiderando sua origem, seus significados e, é claro, seu
propósito. Com efeito, desse texto de Drummond, ergue-se uma dúvida sobre as diversas formas em
que o ser humano tem de reagir a situações em que se sentem ameaçados.

Karl Marx aponta, em sua teoria das lutas de classes, como as transformações sociais são oriundas
das divergências entre as opiniões de diferentes povos. Com isso, o sociólogo busca por meio da
categorizando das classes sociais, formular a ideia de que é justamente a partir dela que existe a
exclusão e desigualdade na sociedade, e tais condições impulsionaram o desejo de mudar o sistema
vigente. Certamente, Marx estava correto, pois as evoluções na comunidade são, nada mais, que
respostas de determinados grupos ao medo pairado sobre eles. Foi pelo medo de continuar vivendo
sob o comando de um Rei e nobreza incompetente que os burgueses na França fizeram uma
revolução; foi pelo pavor de continuar sob o regime escravocrata que os negros haitianos usaram da
violência para se libertar. Dessa forma, podemos legitimar o ódio o qual foi usado por esses
indivíduos ameaçados com o propósito de se salvarem.

Um olhar sob o viés politico educacional, nos faz compreender o por que do senso comum atribuir
ao ódio um caráter tão repugnante. Para Aristóteles, a moral é uma virtude, e essa, por usas vez, é
um hábito. Nesse sentido, nossas ações são resultados de um conjunto de princípios morais
coletivas atuando sobre o indivíduo para o bem comum. Caso contrário, o sujeito ameaçado, ao
perceber o poder transformador do ódio poderia usar esse para solucionar o problema, e isso de
certa forma é errado, certo? Mas e se quem ameaçasse fosse o Estado? E se o cidadão resolvesse,
assim como os franceses e osnegros haitianos, se revoltar? Isso nos traz a conclusão de que para o
Governo não é útil que o sentimento odioso traga bons frutos, demonizando-o. Tal manipulação nos
faz crer que legitimar a violência ou não é algo cultural, o qual foi muito bem apontado pelo
Delegado Espinosa, no livro “ Uma Janela em Copacabana” de Luiz Alfredo Garcia- Rosa, de que o
crime também é cultura. Logo, a frase do delegado nos faz crer que certas atitudes são só
consideradas ilegais quando são usadas para combater o medo sentido por aqueles que deveriam nos
gerir e proteger.

As diversas formas usadas pelo ser humano para reagir em situações de ameaça são, portanto,
invalidadas por um conjunto de normas governamentais criadas para manipular os indivíduos. Os
atos violentos com base no ódio foram vangloriados nos livros de Historias quando retratados como
fator decisivo para mudar o sistema tirano vivida. Mas tal mediador de certo e errado falha ao ser
aplicado nos dias atuais, em que as opressões e discriminação acontece por partes daqueles os quais
outrora foram ameaçados – os burgueses-. Nesse sentido, o trecho da obra de Luiz Alfredo ilustra
fielmente que tudo é um jogo politico, o qual logo se tornará cultura, influenciando os individuados
a como adir diante disso, diante do crime. Sendo assim, legitimar ou não a violência em face do
medo, não passa

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