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Mediunidade e Magia


Por Frater N.H.H., 3◦= 8 , A.·.A.·.

Ao tratar do assunto mediunidade devemos fazer uma digressão. A visão


tacanha não é exclusividade de europeus, africanos, indianos ou latinos, cientistas,
psiquiatras, místicos, “magistas”, psicólogos ou espiritualistas. Neste ponto, abre-se o
escopo e compreende-se que por mediunidade devemos abarcar uma gama de
fenômenos que se encontram interligados de maneira muito sutil. É neste ponto que se
pretende chegar.
Façamos então de maneira mais específica, aplicando o nosso já conhecido
“método científico”. A título de introdução, apresenta-se o conceito chave por trás do
ceticismo científico, a Refutabilidade, de Karl Popper. Ele nos ensina que toda hipótese
científica, quando formulada, deve ter embutida uma previsão de erros. Se a hipótese for
corretamente formulada ela pode ser refutada por meio de inferências lógico-
matemáticas, resultados de experimentos, confronto de dados observados, etc. O que
importa, sempre, é lembrar que apesar de o método ser científico, o objetivo é o da
religião. Os assuntos tratados não serão passíveis de questionamento científico, o que
nos deixa apenas os resultados experimentais e suas respectivas observações como meio
de verificação. Aplicando o exposto acima, afirma-se: A mediunidade é um processo
mágico.
Mediunidade, pela maioria dos dicionários é a qualidade do médium, e este,
o que serve de meio (entre vivos e mortos). Médium, do latim medium, intermediário.
Partindo disso poderíamos inferir que a mediunidade apenas serve para interligar o
mundo dos vivos e o dos mortos, o que por si só seria uma restrição absurda do
entendimento. Dois mundos sim, mas não apenas destas naturezas.
Mas no que interessa a mediunidade a um magista, o principal alvo deste
opúsculo? Quebra de paradigmas, antes de tudo. Sabe-se que, assim como o pesquisador
na ciência, o magista apoia-se no conhecimento acumulado por seus antecessores ao
mesmo tempo em que os testa, procurando falhas e lacunas que podem estar embutidas
nos enunciados. Quem assim não faz provavelmente nenhum resultado encontrará,
sendo meramente um repetidor de teorias alheias, pois Mediunidade é um assunto
cercado de preconceito, tanto por parte daqueles que tentam afirmar quanto por aqueles
que querem negar.
Para os europeus, o conjunto de fenômenos conhecido como “mesas
girantes”, em meados do século XIX, pôs em total descrédito os processos mediúnicos,
pois a quantidade de charlatães tornou-se enorme, além da consolidação das ciências
psicanalíticas que diagnosticaram que inúmeros casos de mediunidade nada mais eram
que processos patológicos da mente. Este pensamento europeu foi importado junto com
os ensinamentos mágicos de mesma origem. No Brasil, cujo pensamento foi
profundamente permeado pela visão africana do processo mediúnico, já ocorre o
contrário: Tende-se a usar mais a mediunidade para explicar os processos, em
detrimento de outras possibilidades. Isso criou teorias que se complementam
sobremaneira, mas que tentam se excluir desde o início.
Entende-se mais amplamente mediunidade como a capacidade de canalizar,
em estado de inconsciência ou semiconsciência, informações de fontes alheias à
consciência, sejam elas de origem interna ou externa.
Sendo uma externalização, independente de sua origem, trata-se de um
processo mágico. Por exemplo, existe alguma diferença entre assumir uma forma-deus
ou “baixar” um orixá? Não se trata do ritual para o fim, mas do fim em si, pois o “meio”
é... mediúnico. Essas duas maneiras são de manifestação interna ou externa? Para que
não se crie celeuma, é preciso dizer que o magista DEVE saber diferir e responder a
estas perguntas. Afinal, não é difícil se ver pessoas que buscam realizar rituais os mais
variados e, ao mesmo tempo, são completamente temerosos dos resultados. Sim, como
o sujeito que compra uma arma, carrega na cintura, mas tem medo de impunha-la;
quando o faz, tem medo de disparar...
Aí começa a haver certa distinção. A mediunidade, muitas vezes, é um
processo natural e, por vezes, involuntário. Magick, sempre é um ato de vontade.
SEMPRE. E esta talvez seja a única distinção.
Apesar dos 22 anos de estudo e prática mágica, far-se-á referência a apenas
alguns episódios, os quais foram suficientes para dar a este articulista a experiência
necessária para compreender tais processos. Embora não sejam citados nomes, os
envolvidos autorizaram as narrativas, contidas em seus respectivos diários, a título de
dividir suas luzes com os demais.
No primeiro exemplo ocorria um ritual mágicko em que dois magistas eram
submetidos às provas de grau da Santa e Inominada Ordem. Em determinado momento,
crucial por sinal, um deles começa a manifestar uma entidade cuja origem era, até então,
desconhecida. Se partirmos das premissas usuais, teríamos que se a entidade fosse
externa seria um caso de passividade mediúnica. Mas e sendo interna? Essa é uma
pergunta importante, que não faço questão de responder, mas de acrescentar: Onde
vivem os demônios Goeticos? Dentro ou fora? Prossigamos.
Hoje sabemos que a entidade manifesta tinha origem interna, da mesma
forma que são internos o Doppelgänger e a sombra. Prosseguindo, esta entidade estava
além da vontade do magista que, embora semi-consciente, não logrou êxito no
banimento. Iniciou-se uma batalha físico-astral entre o mago que ali estava, consciente,
e a entidade, manifesta. O resultado foi o uso da adaga para dissociar magicamente a
manifestação do corpo físico e o banimento do pentagrama para afastar o “daemonos”.
Foi uma das situações mais tensas da vida deste que os escreve. Mas o que há de
importante aqui? Simples, um caso de obsessão por componente interna. Afinal,
mediunidade? Sim, também. Magick? Não.
Outro caso é o de uma amiga que tem o precioso dom de antever fatos,
prever contatos e situações e enxergar simbolicamente acontecimentos além de sua
percepção física. Bem, poder-se-ia pensar “percepção extra-sensorial”.
Retorne então ao conceito de mediunidade. Feito? Então se ela consegue
canalizar informações dispersas em um dos diversos planos ou subplanos, decodificar,
após análise, manifestar e, em seguida a informação se mostra verdadeira, como
devemos chamar este processo? Sim, mediunidade.
Existem os mais variados tipos de processos, e todos podem ser
classificados como mediunidade. É uma obrigação do aspirante a magista, antes de
enveredar-se por rituais complexos, compreender a natureza das manifestações
mediúnicas em TODA a sua extensão. Sem esta ferramenta corre-se o risco de
diferenciar uma possessão demoníaca de uma obsessão por um dos corpos internos...
Sim, somos legião. Ou então julgar iguais os processos metempsicóticos e a
esquizofrenia... É preciso discriminar. Bem sabido, ajuda o praticante a aplicar a
ferramenta adequada para cada caso; desconhecido, o leva a uma fragorosa confusão,
causada por seus piores adversários, em direção ao fracasso.
Não esqueça: Sucesso é a tua prova. E sucesso depende de preparo.

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