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INTENSIVO I

Renato Brasileiro
Direito Processual Penal
Aula 10

ROTEIRO DE AULA

Tema: Competência criminal

Obs.: Inicialmente, o professor destaca que esse tema é de suma importância na prática profissional, nas provas objetivas
e até em uma eventual peça prática (2ª fase dos concursos).

1. Mecanismos de solução de conflitos.


O professor ressalta que a existência de conflitos em sociedade é algo inevitável e, portanto, é necessário pensar em
mecanismos que auxiliem na resolução de tais conflitos. No âmbito criminal, há os seguintes:

1.1. Autotutela.
Caracteriza-se pelo emprego da força para a satisfação de interesses.
Em regra, a autotutela não é admitida pelo ordenamento jurídico.
À luz do ordenamento jurídico, se a pessoa se valer da força para resolver seus problemas, poderá responder, inclusive,
criminalmente, pois essa conduta é tipificada no art. 345, CP:

CP, art. 345: “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.”

Conforme o art. 345, caput, CP, é possível fazer justiça “com as próprias mãos” quando o ordenamento jurídico autoriza
(exceção).

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Questão: Quais são as hipóteses, no âmbito criminal, em que é possível se valer da força para a satisfação de seus
interesses?
No âmbito penal, são exemplos de autotutela:
• Legítima defesa (CP, art. 25) – O ordenamento jurídico não pode exigir que a pessoa seja covarde. Assim sendo,
ele admite que, em casos excepcionais, a pessoa se utilize, moderadamente, dos meios necessários para repelir
a agressão injusta.
• Estado de necessidade (CP, art. 24).

CP, art. 25: “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

CP, art. 24: “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

No âmbito do processo penal, um bom exemplo é a prisão em flagrante (CPP, art. 301). Isso ocorre porque o Estado não
pode estar em todos os lugares em todos os momentos. Assim sendo, o Estado autoriza que qualquer pessoa do povo
possa efetuar a prisão de alguém, desde que este esteja em situação de flagrante delito.

CPP, art. 301: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja
encontrado em flagrante delito.”

1.2. Autocomposição.
A autocomposição caracteriza-se pela busca do consenso entre as partes.
Esse consenso entre as partes é muito utilizado no âmbito cível e, cada vez mais, está sendo trazido para o âmbito
processual penal. Um grande exemplo de autocomposição no âmbito processual penal ocorre no Jecrim, pois a própria
CF/1988, no art. 98, I, passou a admitir a composição no âmbito do juizado criminal.

CF/88, art. 98: “A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os

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procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos
por turmas de juízes de primeiro grau;”

Lei 9.099/95, art. 76: “Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo
caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas,
a ser especificada na proposta.
(...)”

Questão: Seria o Jecrim o único espaço de consenso existente no âmbito processual penal?
Não. Outro exemplo é a colaboração premiada (Lei 12.850/2013). Além disso, há o acordo de não persecução penal,
previsto no art. 28-A do CPP1.

1.3. Jurisdição.
É a fusão das palavras juris (direito) + dictio (dizer). Trata-se de uma das funções do Estado, exercida precipuamente pelo
Poder Judiciário, por meio da qual se aplica o direito objetivo ao caso concreto, de forma a solucionar a demanda.

✓ Observação: a jurisdição é exercida preponderantemente pelo Poder Judiciário, mas não exclusivamente.

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CPP, art. 28-A: “Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a
prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção
do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito
do crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito
diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha,
preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível
com a infração penal imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
(...)”

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Conceito: trata-se de uma das funções do Estado, exercida precipuamente pelo Poder Judiciário, por meio da qual o direito
objetivo é aplicado à solução de determinada demanda.

Obs.: O direito penal não possui aplicação imediata, mas pressupõe um processo penal (Nullum crimen nulla poena sine
judicio – Não há crime nem pena sem o devido processo legal).

2. Princípio do juiz natural.

a) Conceito: consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional que irá
processá-lo e julgá-lo, caso venha a praticar um fato delituoso.

✓ O juiz natural visa preservar a garantia da imparcialidade. Isso porque, a partir do momento em que o juiz tem a
sua competência pré-estabelecida de maneira objetiva, há proteção da imparcialidade do magistrado.

b) Previsão constitucional:

CF/88
“Art. 5º (...)
(...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
(...)”

3. Competência
A jurisdição, como função do Estado, é una (é um todo) e a competência é divisão/medida dessa jurisdição.

3.1. Conceito.
É a medida e o limite da jurisdição, dentro dos quais o órgão jurisdicional poderá aplicar o direito objetivo ao caso
concreto.

3.2. Espécies de Competência

a) Ratione materiae: competência estabelecida em razão da natureza da infração penal.


Exemplos: crimes militares (art. 9º, CPM) - Justiça Militar; crimes eleitorais - Justiça Eleitoral.; crimes dolosos contra a vida
– Tribunal do Júri.

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b) Ratione personae (funcionae): competência por prerrogativa de função.
Algumas autoridades, em decorrência das funções que exercem, devem ser julgadas originariamente pelos tribunais.

✓ Diante dessa competência, um juiz de primeira instância não pode julgar o Presidente da República, por exemplo.

c) Ratione loci: trata-se de competência territorial.


✓ Lembrando que, em regra, o local da consumação definirá a competência territorial.

d) Competência funcional: a competência é fixada conforme a função que cada um dos vários órgãos jurisdicionais exerce
em um processo.

d.1. Competência funcional por fase do processo: um órgão jurisdicional diferente exerce a competência de acordo com
a fase do processo.
Exemplo 1: procedimento bifásico/escalonado do Tribunal do Júri.

Tribunal do Júri

Iudicium accusationis (1ª fase) Iudicium causae (2ª fase)

Competência: juiz sumariante Competência: juiz presidente + Conselho de Sentença

No exemplo citado acima, enquanto o juiz sumariante exerce sua competência na 1ª fase, podendo prolatar as decisões
de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e desclassificação; o Juiz-Presidente do Tribunal do Júri exerce sua
competência na 2ª fase, prolatando sentença condenatória ou absolutória, a depender do veredicto do Conselho de
Sentença.

Exemplo 2: o melhor exemplo de competência funcional por fase do processo, atualmente, é o que divide a competência
entre o juiz das garantias e o juiz da instrução e julgamento.

Após a Lei 13.964/2019

Competência: juiz das garantias Competência: juiz da instrução e


julgamento.

Observações:
✓ O art. 3º-B até o art. 3º-F do CPP estão com a eficácia suspensa.

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✓ No exemplo dado, em um primeiro momento, a competência é do juiz das garantias. A competência desse juiz
tem início a partir da instauração da investigação.
✓ Pela letra da lei, a competência do juiz das garantias vai até um possível recebimento da peça acusatória.
✓ Se o juiz interveio na fase investigatória, há causa de impedimento para a intervenção na fase de instrução e
julgamento.

d.2. Competência funcional por objeto do juízo: cada órgão jurisdicional exerce a competência sobre determinadas
questões a serem decididas no processo.

Ex.: Tribunal do Júri – na segunda fase, há o juiz-presidente e os sete jurados (Conselho de Sentença). Dependendo da
questão que será decidida durante o julgamento, ora decidem os jurados, ora decide o juiz-presidente.
• Se a questão envolver materialidade, autoria, possível absolvição, qualificadoras, causas de aumento e de
diminuição da pena, a atribuição será do Conselho de Sentença.
• Ao juiz-Presidente cabe decidir sobre as outras matérias.

d.3. Competência funcional por grau de jurisdição: divide a competência entre órgãos jurisdicionais superiores e
inferiores.
Essa divisão existe porque os órgãos jurisdicionais superiores exercem funções recursais. Entretanto, não se deve
esquecer que os tribunais são dotados, em algumas situações, de competência originária.

d.4. Competência funcional horizontal: não há hierarquia entre os órgãos jurisdicionais.


Os órgãos jurisdicionais estão no mesmo grau hierárquico, como ocorre na competência funcional por fase do processo e
na competência funcional por objeto do juízo.

d.5. Competência funcional vertical: há hierarquia entre os órgãos jurisdicionais.


Os órgãos jurisdicionais estão em graus hierárquicos diversos, como na competência funcional por grau de jurisdição.

e. Competência absoluta e relativa

Competência absoluta Competência relativa

1. Regra de competência criada com base no interesse 1. Regra de competência criada com base no interesse
público; preponderante das partes;
2. A regra de competência absoluta não pode ser 2. A regra de competência relativa pode ser modificada,
modificada, ou seja, cuida-se de competência ou seja, cuida-se de competência prorrogável ou
improrrogável ou imodificável; derrogável;

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Incompetência absoluta Incompetência relativa
3. Consequências: 3. Consequências:
a) nulidade absoluta (e não inexistência): a) nulidade relativa:
a.1) pode ser arguida a qualquer momento, inclusive após a.1) deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de
o trânsito em julgado de sentença condenatória ou preclusão;
absolutória imprópria; a.2) prejuízo deve ser comprovado;
a.2) prejuízo presumido;

Considerações:
➢ Competência absoluta
1º) Regra de competência criada com base no interesse público. Alguns doutrinadores afirmam que, como essa
competência foi criada para proteger o interesse público, ela estaria prevista na própria CF/1988.

2º) Improrrogável, porque não admite modificação pelo juiz ou pelas partes.
Exemplo: se a pessoa praticou um crime militar, ela deve ser julgada pela Justiça Militar.

3º) Questão: Qual é a consequência de uma incompetência absoluta?


1ª Corrente - Parte da doutrina afirma que a incompetência absoluta seria causa de inexistência do ato jurídico.
2ª Corrente - Prevalece o entendimento de que a decisão proferida por juízo absolutamente incompetente é capaz de
produzir a nulidade absoluta.

STJ: “(...) O Juiz absolutamente incompetente para decidir determinada causa, até que sua incompetência seja declarada,
não profere sentença inexistente, mas nula, que depende de pronunciamento judicial para ser desconstituída. E se essa
declaração de nulidade foi alcançada por meio de recurso exclusivo da defesa, ou por impetração de habeas corpus, como
no caso, não há como o Juiz competente impor ao Réu uma nova sentença mais gravosa do que a anteriormente anulada,
sob pena de reformatio in pejus indireta. (STJ, 5ª Turma, RHC 20.337/PB, Rel. Min. Laurita Vaz, Dje 04/05/2009).

Questão: Quais são as características de uma nulidade absoluta?


A inobservância da competência absoluta é geradora de nulidade absoluta, não sujeita à preclusão – arguível, em qualquer
momento, inclusive, após o trânsito em julgado, sempre em benefício do acusado. Isso somente pode ser feito em relação
à sentença de natureza condenatória ou absolutória imprópria.
Além disso, de acordo com a doutrina, a nulidade absoluta traduz um prejuízo presumido, sobretudo em casos de
incompetência absoluta em que se tutela um interesse público previsto na CF/1988.

➢ Competência relativa

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1º) O interesse tutelado é preponderantemente das partes. Alguns doutrinadores dizem que a competência relativa é a
fixada na legislação ordinária.
✓ Preponderante não se confunde com exclusivo. No processo penal, não existe interesse exclusivamente privado,
isto é, sempre haverá um interesse do Estado (ainda que residualmente), pois há bens de natureza indisponível:
liberdade de locomoção e pretensão punitiva do Estado.

2º) Prorrogável/derrogável. A própria legislação ordinária pode prever causas de modificação da competência.
✓ Atenção: a conexão e continência funcionam, em regra, como causas modificativas da competência. Exemplo: O
carro de “A” foi roubado em São Paulo e, logo após, houve a ocorrência do crime de receptação em Santos.
Isoladamente considerados, os crimes seriam julgados cada um em sua respectiva cidade. Entretanto, entre os
dois delitos existe uma conexão probatória, pois a prova de um crime influencia a prova do outro (a receptação é
crime acessório). Diante dessa conexão, haverá uma força atrativa do crime de roubo (art. 157, CP) e, portanto,
o processo de receptação sairá de Santos e será atraído para São Paulo.
✓ A conexão e a continência apenas podem incidir sobre regras de competência relativa, pois somente esta admite
modificação.

3º) Questão: Qual é a consequência de uma incompetência relativa?


A inobservância é geradora de nulidade relativa.
Características:
Deve ser arguida no momento oportuno, sob pena de preclusão, não sendo possível utilizá-la como nulidade de algibeira2.
Além disso, é imprescindível ainda comprovar o prejuízo suportado.

Atenção:
CPP, art. 567: “A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a
nulidade, ser remetido ao juiz competente.”

Observações:
• No processo penal, o reconhecimento da incompetência não acarreta a extinção do feito. O processo, nesse caso,
é remetido ao juiz competente.

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“O Superior Tribunal de Justiça refere-se à expressão nulidade de algibeira (ou de bolso) como uma espécie de manobra

utilizada pela parte quando ela, estrategicamente, deixa de se manifestar em momento oportuno para suscitar a nulidade
em momento posterior, ou seja, uma espécie de nulidade a ser utilizada quando mais interessar à parte supostamente
prejudicada. A propósito: STJ, 3ª Turma, EDcl no REsp 1.424.304/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/08/2014, DJe
26/08/2014; STJ, 3ª Turma, REsp 1.372.802/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/03/2014, DJe 17/03/2014; STJ,
3ª Turma, REsp 756.885/RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 14/08/2007, DJ 17/09/2007” – Informação retirada
do Manual de Processo Penal do professor Renato Brasileiro.

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• A incompetência do juízo anula apenas os atos decisórios.
o Segundo a doutrina, o art. 567 do CPP se refere apenas à incompetência relativa. Assim sendo, para a
doutrina, seria inconcebível que a incompetência absoluta anulasse apenas os atos decisórios.
Na visão da doutrina, quando se trata de incompetência absoluta, ela deve produzir a nulidade dos atos
decisórios e probatórios, ou seja, tudo é anulado. De outro lado, quando se trata de incompetência
relativa, a nulidade em questão seria apenas dos atos decisórios (interpretação do art. 567, CPP).
o Os tribunais superiores, entretanto, entendem que, tanto no caso de incompetência absoluta quanto no
caso de incompetência relativa, somente haverá a nulidade dos atos decisórios (interpretação do art. 567,
CPP).
Atenção: Os atos decisórios proferidos por juízo incompetente podem ser ratificados pelo juízo
competente. Assim, por mais grave que seja o vício (inclusive se se tratar de incompetência absoluta) será
possível corrigi-lo.
Exemplo: imagine que foi recebida, na justiça federal, uma denúncia relativa a um crime estadual. O
promotor arguiu a incompetência e o juiz, concordando com a alegação, enviou os autos à justiça
estadual. Diante disso, em tese, a partir do momento em que a competência absoluta foi declarada,
haveria a anulação dos atos decisórios, inclusive, o recebimento da denúncia. Quando o processo chega
à justiça estadual, o juiz, se concordar com o fato de que é competente para julgar o feito, ratificará os
atos decisórios praticados pelo juiz incompetente e, ao fazê-lo, a ratificação terá o condão de sanear a
nulidade.
Obs.: É necessário lembrar que o ato decisório ratificado somente produzirá os efeitos a partir da
ratificação. Assim sendo, no exemplo dado, a denúncia será recebida e interromperá a prescrição a partir
da data da ratificação do ato decisório.

STF: “(...) Tanto a denúncia quanto o seu recebimento emanados de autoridades incompetentes rationae materiae são
ratificáveis no juízo competente". (STF, Pleno, HC 83.006/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 29/08/2003).

Competência absoluta Competência relativa


4. Pode ser reconhecida de ofício. 4. Pode ser reconhecida de ofício.

A incompetência absoluta pode e deve ser reconhecida de ofício. Pode-se reconhecer a incompetência absoluta de ofício
enquanto não houver o esgotamento da instância. (ver art. 494, CPC).

CPC, art. 494: “Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:


I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.”

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✓ Depois que o juiz publica a sentença, ele exaure a sua competência em relação ao feito. Assim sendo, após a
publicação da sentença, o juiz não pode mais declarar a incompetência de ofício.

Em relação à competência relativa, e a possibilidade ou não de reconhecimento de ofício, há duas correntes:


1ª Corrente: alguns doutrinadores não admitem o reconhecimento da incompetência relativa de ofício, utilizando como
fundamento a Súmula 33 do STJ.

Súmula n. 33 do STJ: “a incompetência relativa não pode ser declarada de ofício”.

Atenção: a Súmula 33 do STJ não é válida para o processo penal e foi concebida para o processo civil. O professor destaca
que, no processo civil, onde estão em jogo, em regra, direitos individuais disponíveis, nada mais lógico do que não se
permitir ao juiz o reconhecimento de ofício da incompetência relativa. Entretanto, no processo penal, inexiste o interesse
exclusivo das partes, mas existe apenas o interesse preponderante.
Exemplo: Houve um crime cometido em Santa Maria/RS, cuja denúncia foi oferecida em São Luís do Maranhão. Trata-se
de competência territorial, a qual é relativa. No caso em questão, o juiz de São Luís do Maranhão não vai ficar inerte
diante desse erro grosseiro, pois, ainda que residualmente, existe um interesse público na eficaz persecução penal.

2ª Corrente: no processo penal, a incompetência relativa pode ser declarada de ofício pelo juiz.
✓ Esta é a posição a ser seguida.

Questão: Até quando o juiz criminal pode reconhecer de ofício a incompetência relativa? A incompetência relativa pode
ser reconhecida de ofício até o início da instrução probatória. A justificativa está pautada no princípio da identidade física
do juiz, pois, conforme a redação do art. 399, § 2º, do CPP, o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

CPP, art. 399. (...)


“§2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.”

Competência absoluta Competência relativa


5. Não pode ser modificada pela conexão ou pela 5. Pode ser modificada pela conexão ou pela continência.
continência.

Novo CPC
Modificação da Competência
Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta
Seção.

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Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
(...)
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de
pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

Novo CPC
Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das
partes.

Competência absoluta Competência relativa


Exemplos: Exemplos:
• “Ratione materiae”; • Territorial;
• “Ratione funcionae”; • Prevenção (súmula 706 do STF3);
• Funcional. • Distribuição;
• Conexão e continência;
• Jecrim (STF, ADI 5.264).

STF: “(...) Denúncia. Ratificação. Desnecessidade. Oferecimento pelo representante do Ministério Público Federal no juízo
do foro em que morreu uma das vítimas. Declinação da competência para o juízo em cujo foro se deu o fato. Foros da
Justiça Federal. Atuação, sem reparo, do outro representante do MP. Atos praticados em nome da instituição, que é una
e indivisível. Nulidade inexistente. HC indeferido. Aplicação do art. 127, § 1º, da CF. Inteligência do art. 108, § 1º, do CPP.
O ato processual de oferecimento da denúncia, praticado, em foro incompetente, por um representante, prescinde, para
ser válido e eficaz, de ratificação por outro do mesmo grau funcional e do mesmo Ministério Público, apenas lotado em
foro diverso e competente, porque o foi em nome da instituição, que é una e indivisível”. (STF, 1ª Turma, HC 85.137/MT,
Rel. Min. Cezar Peluso, DJ 28/10/2005).

4. Guia para fixação de competência.

1) Competência de justiça: Qual a justiça competente?


A justiça competente pode ser: Justiça Eleitoral (especial), Justiça Militar da União ou dos Estados (especiais), Justiça
Federal (comum) e Justiça Estadual (comum).
Atente-se para o fato de que a competência da justiça estadual é residual. Assim, é imprescindível o conhecimento das
demais justiças para, posteriormente, identificar se a competência é da justiça estadual.

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Súmula 706, STF: “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção.”

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2) Competência originária: o acusado tem foro por prerrogativa de função?
Essa pergunta é extremamente importante, pois várias autoridades, no Brasil, detêm foro por prerrogativa de função. Se
este for o caso, a pessoa será julgada, originariamente, pelo respectivo tribunal e não por um juiz de 1ª instância.

3) Competência de foro/territorial: qual a comarca/seção judiciária competente?


✓ Obs.: “comarca” é a terminologia utilizada na justiça estadual. “seção judiciária” e “subseção judiciária” são
terminologias utilizadas na justiça federal.
Em regra, o CPP adota o local da consumação como marco para definir a competência territorial.

4) Competência de juízo: Qual é a vara (juízo) competente?


É cada vez mais comum a criação das chamadas varas especializadas para o julgamento de crimes determinados,
praticados por organização criminosa, crimes de lavagem de capitais, etc. Isso otimiza a prestação jurisdicional.

5) Competência interna: Qual é o juiz competente?


Em tese, em cada vara, há o juiz titular e o juiz substituto. Nestes casos, ainda é necessário verificar qual deles é o
competente. Nesta hipótese, também será necessário fazer a distribuição.

✓ A distribuição é realizada de forma aleatória, para que não haja previsibilidade e possibilidade de manipulação.

6) Competência recursal: A quem compete o processo e o julgamento de eventual recurso?


Antigamente, havia os tribunais de alçada. Atualmente, a competência recursal recai sobre órgão jurisdicional superior
(exemplo: TJs, TRFs, STJ, TRE etc.).
Obs.: Cuidado com as turmas recursais – Se o feito tiver sido objeto de julgamento pelo juizado especial criminal, o juízo
ad quem será a respectiva turma recursal.

5. Competência criminal da justiça militar da união e dos estados.


O professor destaca que existem muitas súmulas sobre esse tema e, além disso, há duas recentes alterações legislativas
que envolvem esta competência.

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A princípio, é necessário diferenciar a justiça militar da União da justiça militar dos estados. Há várias diferenças entre
elas. Veja os dispositivos constitucionais a seguir:

CF/88, art. 124: “À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.”

CF/88, art. 125. (...)


“§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei
e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo
ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra
civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de
direito, processar e julgar os demais crimes militares.”

Diante do texto constitucional, é possível perceber que:


1º) A competência da justiça militar da União está prevista no art. 124, enquanto a competência da justiça militar dos
estados está prevista no art. 125, §§4º e 5º da CF.
2º) A competência criminal da justiça militar da União é apenas para crimes militares.
3º) O art. 124 da CF não faz nenhuma ressalva quanto à pessoa do acusado. Assim sendo, a CF/1988 nos leva a acreditar
que, em tese, a justiça militar da União pode julgar militares e civis.

✓ Obs.: O professor destaca que o art. 125, §4º da CF foi alterado pela EC 45/2004. Nessa época, havia uma
discussão quanto a uma possível extinção da justiça militar dos estados (JME). Entretanto, a JME não foi extinta e
teve a sua competência ampliada.

4º) Ao tratar da Justiça Militar dos Estados, a CF destaca que ela apenas tem competência para julgar militares dos estados.
Podem ser julgados pela justiça militar estadual: a polícia militar e o corpo de bombeiros. Em alguns estados, há a polícia
rodoviária estadual.
Cuidado: guardas civis (GCMs) não são militares estaduais.
✓ A condição de militar deve ser analisada na época do cometimento do delito, não importando se, posteriormente,
ele deixou de ser militar.

5º) A JMU só julga crimes militares definidos em lei. A JME julga crimes militares definidos em lei e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, sendo, esta última, uma competência cível.

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Exemplo: o soldado da polícia militar do Acre cometeu uma transgressão e foi punido. Se ele quiser questionar a punição
disciplinar recebida, o juízo competente é a JME.
✓ Obs.: A competência cível não foi atribuída à JMU.

CF/88, art. 125. (...)


“§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei
e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo
ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

6º) Perceba que o próprio art. 125, § 4º da CF faz uma ressalva: “ressalvada a competência do júri quando a vítima for
civil”. Assim sendo, quando o crime doloso contra a vida for praticado contra civil, a competência para o julgamento será
do Tribunal do Júri.
✓ Esta ressalva não consta no art. 124 da CF/1988.

7º) A justiça militar possui os chamados Conselhos de Justiça, que podem ser permanentes ou especiais.
• O Conselho de justiça especial é formado para julgar oficiais.
• O Conselho de justiça permanente é formado para julgar não oficiais.
Os Conselhos de Justiça são formados por 1 juiz togado e 4 militares (todos oficiais e de posto mais alto do que o do
acusado).

Observações sobre o 2º quadro:


1º) A JMU tem competência “ratione materiae”, ou seja, só julga crimes militares definidos em lei. A JME tem competência
“ratione materiae” e “ratione personae”, pois julga crimes militares definidos em lei e só julga militares dos estados.

2º) A JMU não tem competência cível, ao passo que a JME tem competência para as ações judiciais contra atos
disciplinares militares.

A JMU e a JME julgam crimes militares. Diante disso, imagine que um crime militar foi praticado em conexão/continência
com um crime comum. Diante disso, o que ocorre?

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Neste caso, há obrigatória separação dos processos, pois a justiça militar julga apenas os crimes militares.

Questão: O civil pode ser julgado pela JME ou pela JMU?


Exemplo 1: um soldado do exército chama um civil para roubar fuzil no quartel do exército. O civil também será julgado
na JMU.
Exemplo 2: um soldado da PM paulista chama um civil para roubar um revólver da PM de SP. Neste caso, o civil não pode
ser julgado na JME. Neste caso, haverá uma separação obrigatória dos processos: o PM será julgado pela JME e o civil será
julgado pela justiça comum.

Crimes propriamente militares e crimes impropriamente militares


O professor explica que, quando se trata de crime propriamente militar, a própria CF/1988 autoriza a prisão do militar
sem flagrante e sem prévia autorização judicial.
Para fins de reincidência, não se consideram os crimes propriamente militares (art. 64, II, CP4).
• Crime propriamente militar – É uma infração específica e funcional do militar. Exemplos: deserção, embriaguez
em serviço, dormir em serviço etc.
• Crime impropriamente militar – É aquele que não há a qualidade de militar como elementar do delito. Entretanto,
o crime se torna militar quando é praticado em uma das condições do art. 9º do CPM. Exemplo: o furto é previsto
no CP, mas também tem previsão no CPM. Assim, se o furto for praticado por um militar da ativa contra outro
militar da ativa, esse crime será crime impropriamente militar.

Cuidado com a Lei 13.491/2017:


Antes da Lei 13.491/2017, os crimes militares eram apenas os previstos no Código Penal Militar.
Depois da Lei 13.491/2017, são considerados crimes militares não apenas os previstos no Código Penal Militar como
também os previstos na legislação penal (CP e leis extravagantes).

Código Penal Militar Código Penal Militar


(Redação anterior à Lei n. 13.491/17) (Redação posterior à Lei n. 13.491/17)

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de
paz: paz:
(...) (...)
II - os crimes previstos neste Código, embora também o II – os crimes previstos neste Código e os previstos na
sejam com igual definição na lei penal comum, quando legislação penal, quando praticados:
praticados:

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CP, art. 64, II: “Para efeito de reincidência: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...)
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

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Com a mudança produzida pela Lei 13.491/17, o crime militar não é apenas aquele previsto no CPM, mas também aqueles
previstos na legislação penal.
Exemplo: o abuso de autoridade, antigamente, não podia ser considerado crime militar, pois não estava previsto no CPM.
A partir do advento da Lei 13.491/17, o abuso de autoridade pode ser um crime militar.

Sobre o assunto, há uma aula complementar disponível neste link.

Súmulas importantes:
Súmula 53 do STJ: “compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra
instituições militares estaduais”.

✓ O civil, à luz do art. 125, §4º da CF, não pode ser julgado na JME.

Súmula n. 78 do STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha
sido praticado em outra unidade federativa.

✓ O professor explica que, se a pessoa é policial militar e pratica um crime militar em outra unidade da federação,
ainda assim, o julgamento ocorrerá pela justiça militar estadual a que o agente está incorporado.
Exemplo: há uma perseguição policial feita pela PM de São Paulo. Os militares, durante a perseguição, ingressam
no território mineiro e lá cometem vários crimes militares. Nesse caso, os crimes militares serão julgados pela
JME de São Paulo.

STJ: “(...) Crime militar cometido por militar no exercício da função. Em homenagem à garantia do juízo natural, a
competência deve ser fixada sempre em relação à qualidade que o recorrente apresentava no momento do cometimento
do fato, não podendo ser alterada por conta de alteração fática posterior (exoneração). Recurso a que se nega
provimento”. (STJ, 6ª Turma, RHC 20.348/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Dje 01/09/2008).

Observações sobre o quadro:


1ª) Na JME, a pessoa pode ser julgada singularmente por um juiz de direito do juízo militar ou por um Conselho de Justiça.

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• O juiz de direito do juízo militar julga, singularmente, os crimes cometidos contra civis e as ações judiciais contra
atos disciplinares.
• O Conselho de Justiça julga os demais crimes militares.

2ª) São órgãos jurisdicionais da JMU:


• Conselho de Justiça (permanente e especial);
• Juiz federal da JMU – Neste âmbito, há mais uma novidade trazida pela Lei 13.774/2018: até o advento dessa lei,
o juiz togado da JMU era chamado de “juiz auditor”. Com o advento da referida lei, essa terminologia deixou de
existir e, em seu lugar, surgiu a figura do “juiz federal da justiça militar”.

Com o advento dessa lei, que alterou a Lei 8.457/92 (lei de organização da JMU), o juiz federal da JMU passou a ter uma
competência singular/monocrática.

Lei n. 8.457/92, art. 30: “Compete ao juiz federal da Justiça Militar, monocraticamente: (Redação dada pela Lei n.
13.774/18)
I-A - presidir os Conselhos de Justiça; (Incluído pela Lei n. 13.774/18);
I-B - processar e julgar civis nos casos previstos nos incisos I e III do art. 9º do Código Penal Militar, e militares, quando
estes forem acusados juntamente com aqueles no mesmo processo;
I-C - julgar os habeas corpus, habeas data e mandados de segurança contra ato de autoridade militar praticado em razão
da ocorrência de crime militar, exceto o praticado por oficial-general;”

✓ Antes da Lei 13.774/2018, todos os crimes militares eram julgados por um Conselho de Justiça e isso gerava muitas
críticas, pois o conselho é formado por um juiz togado e mais 4 militares. Neste caso, poderia haver uma certa
parcialidade do Conselho de Justiça no julgamento.
✓ Posteriormente, com o advento da Lei 13.774/2018, os civis passaram a ser julgados por um juiz monocrático.
✓ A partir da mudança introduzida pela Lei 13.774/2018, tem prevalecido o entendimento de que as alterações têm
aplicação imediata aos processos em andamento.

Atenção: a condição de civil ou militar deve ser aferida à época do delito. Assim, se, no momento do delito, a pessoa era
militar, ela será julgada por um Conselho de Justiça (ainda que, posteriormente, venha a ser licenciada ou excluída dos
quadros militares).

3º) O STM é o juízo “ad quem” da Justiça Militar da União.


No caso da Justiça Militar dos estados, apenas três estados têm TJM, sendo Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Os demais estados têm como juízo “ad quem” os próprios TJs.

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✓ Como se percebe, apesar de o STM ser um Tribunal Superior, exerce, basicamente, as funções de um Tribunal de
2ª instância.
✓ O STM possui apenas uma competência originária, a qual se refere àquela para julgar generais das forças armadas
pela prática de crimes militares.

5.1. Nova competência da Justiça Militar (Lei n. 13.491/17).


Antes da Lei 13.491/2017, os crimes militares eram apenas os previstos no Código Penal Militar.
Depois da Lei 13.491/2017, são considerados crimes militares não apenas os previstos no Código Penal Militar como
também os previstos na legislação penal (CP e leis extravagantes).

5.1.1. Crimes previstos no Código Penal Militar e os previstos na legislação penal.

Código Penal Militar Código Penal Militar


(Redação anterior à Lei n. 13.491/17) (Redação posterior à Lei n. 13.491/17)

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de
paz: paz:
(...) (...)
II - os crimes previstos neste Código, embora também II – os crimes previstos neste Código e os previstos na
o sejam com igual definição na lei penal comum, legislação penal, quando praticados:
quando praticados:

Código Penal Militar


“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei n.
13.491/17)
a) por militar em situação de atividade contra militar na mesma situação;
b) por militar em situação de atividade, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado,
ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que
fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem
administrativa militar;

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f) por militar em situação de atividade ou assemelhado que, embora não estando em serviço, use armamento de
propriedade militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, para a prática de ato
ilegal; (revogada pela Lei n. 9.299/96).”

“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-
se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário
de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício,
acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho
de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.”

Obs. 1: rol exemplificativo de possíveis crimes militares previstos na legislação penal (Código Penal Comum e Legislação
Especial);
- Lei n. 13.869/19 (Abuso de autoridade);
- Lei n. 8.069/90 (ECA);
- Lei n. 8.666/93 (Lei de Licitações);
- Lei n. 9.455/97 (Tortura);
- Lei n. 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro);
- Lei n. 9.605/98 (Crimes ambientais);
- Lei n. 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento);

Obs. 2: competência da Justiça Militar para o julgamento de crimes previstos na legislação penal, quando praticados nas
condições do inciso II do art. 9º do CPM, mas desde que não haja previsão constitucional ou legal outorgando a referida
competência à outra Justiça;
Exemplos:
a) Crimes Eleitorais (CF, art. 121);
b) Lavagem de Capitais (Lei n. 9.613/98, art. 2º, III);
c) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei n. 7.492/86, art. 26);

Obs. 3: overruling de certas súmulas do STJ


A Lei 13.491/2017 acarretou o overruling de algumas súmulas, sendo elas:

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Súmula 172 do STJ: “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
praticado em serviço”.

✓ Pelo disposto na Lei 13.491/2017, o abuso de autoridade previsto na Lei 13.869/2019 é crime previsto na
legislação penal. Assim sendo, se o abuso de autoridade for cometido pelo militar em serviço, ele é crime militar.

Súmula n. 6 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito
envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade.

Súmula n. 75 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou
facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

✓ No caso da Súmula 75 do STJ, é necessário entender de qual presídio o cidadão evadiu. Se o presídio for estadual
ou federal, a competência será da justiça comum estadual ou federal (a depender do caso). Se o presídio for
militar, o crime será de competência da JME.

CP, art. 351: “Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva.”

CPM, art. 178: “ Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva.”

Súmula n. 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar,
e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.

Se o policial militar praticou um crime militar, ele será julgado pela justiça militar. De outro lado, se ele praticou um crime
comum, ele será julgado pela justiça comum.

Súmula 47 do STJ: “Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com emprego de
arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço”.

Cuidado com a Súmula 47 do STJ! Ela está ultrapassada desde o advento da Lei 9.299/1996.

Questão de concurso:
(CESPE – JUIZ SUBSTITUTO - TJ/PR- 2017) . A competência pode ser entendida como delimitação da jurisdição. A respeito
dessa matéria, assinale a opção correta.
(A) Compete à justiça estadual militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar e, à comum, pela
prática do crime comum simultâneo àquele.

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(B) Competirá ao juízo do local onde for praticada a contrafação processar e julgar crime de estelionato que for cometido
mediante falsificação de cheque.
(C) Situação hipotética: João é pedreiro e foi contratado para prestar serviços de alvenaria nas dependências do Comando
Geral da Polícia Militar do Paraná. Aproveitando-se da facilidade em transitar livremente pelas instalações do prédio, ele
furtou um computador contendo informações sobre os dados cadastrais do alto comando, com o intuito de vendê-las a
uma quadrilha de estelionatários. Assertiva: Nessa situação, a competência para o processo e julgamento da ação penal
será do juízo da auditoria militar, uma vez que compete a esta processar e julgar o acusado, civil ou militar, que pratique
crime contra instituições militares.
(D) Compete à justiça federal processar e julgar o crime de falsa anotação na carteira de trabalho e previdência social
atribuída a empresa privada.
Gabarito: A

5.1.2. Crimes dolosos contra a vida praticados por militares contra civis.
O professor destaca que o art. 9º, §1º do CPM vem ao encontro do disposto no art. 125, §4º da CF/1988.
Em relação à Justiça Militar Estadual, a CF/1988 ressalva a competência do Tribunal do Júri quando a vítima for civil.
Exemplo: se um policial militar, durante o trabalho, matar um civil, a competência será do Tribunal do Júri da justiça
comum estadual.

Em relação à Justiça Militar da União, não há semelhante ressalva. Assim sendo, pelo menos em tese, se um militar do
exército (em serviço) matar um civil pode ser julgado pela JMU.

Código Penal Militar


“Art. 9º. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil, serão da
competência do Tribunal do Júri.
§ 2o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra
civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado
da Defesa;
II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou
III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária,
realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas
legais:
a) Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;
b) Lei Complementar n. 97, de 9 de junho de 1999;
c) Decreto-Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969 – Código de Processo Penal Militar; e

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d) Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.”

Art. 9º, §2º, I, do CPM: “crimes dolosos contra a vida praticados por militares das Forças Armadas contra civis praticados
no contexto do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro
de Estado da Defesa”

Exemplo: utilização das Forças Armadas para atividades de defesa civil, como, por exemplo, distribuição de alimentos e
remédios em alguma região que passou por alguma calamidade pública (Decreto n. 895/93, art. 10, II, III e X); utilização
das Forças Armadas em obras de construção civil (v.g., transposição do Rio São Francisco, duplicação da BR-101, etc.)

Art. 9º, §2º, II, do CPM: “crimes dolosos contra a vida praticados por militares das Forças Armadas contra civis praticados
no contexto de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante;”

Art. 9º, §2º, III, “a”, do CPM: tiro de abate (Código Brasileiro de Aeronáutica, art. 303);

Art. 9º, §2º, III, “b”, do CPM: organização, preparo e emprego das Forças Armadas (LC 97/99). Exemplos: garantia da lei e
da ordem; ações preventivas e repressivas na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, contra delitos
transfronteiriços e e ambientais, etc.);

Art. 9º, §2º, III, “c”, do CPM: Código de Processo Penal Militar. Exemplo: homicídio praticado por militar no exercício de
funções de polícia judiciária militar;

Art. 9º, §2º, III, “d”, do CPM: emprego das Forças Armadas para garantir a segurança do processo eleitoral (Código
Eleitoral, art. 23, XIV);

Obs. 1: competência do Tribunal do Júri da Justiça Comum Estadual para o processo e julgamento de crimes dolosos
contra a vida praticados por militares estaduais contra civis.

Constituição Federal
Art. 125. (...)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e
as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo
ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

5.1.3. (In) Constitucionalidade da Lei n. 13.491/17.

a. Processos ora em tramitação no STF acerca da competência da Justiça Militar.

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ADPF n. 289 (em tramitação perante o STF): ajuizada pelo PGR com o objetivo de dar interpretação conforme a
Constituição ao art. 9º, incisos I e III, do Código Penal Militar, para que seja reconhecida a incompetência da Justiça Militar
para julgar civis em tempo de paz e para que tais crimes sejam submetidos a julgamento pela Justiça Comum, Federal ou
Estadual.

✓ Atualmente, o fato de o civil ser julgado pela justiça militar da União por crimes militares em tempos de paz é algo
bastante polêmico e controverso.
✓ A ADPF em questão questiona o julgamento de civis pela JMU. Nesta ADPF, o PGR diz que o civil jamais poderia ser
julgado pela justiça militar.
✓ O aluno deve ter cuidado com a Lei 13.774/2018, que, como dito anteriormente, trouxe alterações no âmbito da
justiça militar da União, pois alterou a lei de organização da JMU. Antes da referida lei, o civil que praticasse crime da
competência da justiça militar da União era julgado por um Conselho de Justiça (formado por juiz togado e por 4
militares). Atualmente, o civil é julgado por um juiz federal da justiça militar.

ADI 5.032 (em tramitação perante o STF): tem como objetivo precípuo a declaração da inconstitucionalidade do art. 15,
§7º, da LC 97/99, que inseriu na competência da Justiça Militar o julgamento de crimes cometidos no exercício das
atribuições subsidiárias das Forças Armadas.

✓ Há quem entenda que, se o militar está exercendo funções subsidiárias, a competência não deveria ser atribuída
à justiça militar.

b. (In) constitucionalidade do veto do Presidente da República ao art. 2º da Lei n. 13.491/17 e transformação de uma
lei temporária em permanente.
Tramita no STF uma discussão quanto à constitucionalidade da Lei 13.491/2017. Isso porque, quando a lei foi aprovada
pelo Congresso Nacional, ela teria vigência apenas até 31/12/2016 (lei temporária).
O professor destaca que aprovaram a lei por conta dos Jogos Olímpicos, alterando a competência da justiça militar.
Entretanto, o Presidente da República vetou o artigo que se referia à temporalidade da lei. Assim sendo, a mudança
temporária se transformou em mudança definitiva.
Na opinião do professor, ao vetar o texto integral do art. 2º da Lei 13.491/2017, o Presidente da República desvirtuou o
objetivo da lei que havia sido aprovada pelo Congresso Nacional.
O STF decidirá julgará o tema.

Lei n. 13.491/17
Art. 2º. Esta Lei terá vigência até o dia 31 de dezembro de 2016 e, ao final da vigência desta Lei, retornará a ter eficácia a
legislação anterior por ela modificada. (VETADO)

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Voto apresentado pelo Relator do Projeto de Lei n. 5.768/16 (Dep. Júlio Lopes) na Comissão de Constituição, Justiça e de
Cidadania: “em virtude da excepcionalidade da realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos no Rio de Janeiro, as
alterações propostas pelo autor se fazem necessárias e meritórias e, para complementar a proposição, incluo na forma
de um substitutivo uma cláusula de vigência até 31 de dezembro de 2016”.

Razões do veto
“As hipóteses que justificam a competência da Justiça Militar da União, incluídas as estabelecidas pelo projeto sob sanção,
não devem ser de caráter transitório, sob pena de comprometer a segurança jurídica. Ademais, o emprego recorrente das
Forças Armadas como último recurso estatal em ações de segurança pública justifica a existência de uma norma
permanente a regular a questão. Por fim, não se configura adequado estabelecer-se competência de tribunal com
limitação temporal, sob pena de se poder interpretar a medida como o estabelecimento de um tribunal de exceção,
vedado pelo artigo 5o, inciso XXXVII da Constituição”.

Constituição Federal
Art. 66. (...)
(...)
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.

“Assim, o fundamento doutrinário que alicerça a concepção de que o veto parcial deve ter maior extensão suporta-se na
ideia de que, vetando palavras ou conjunto de palavras, o Chefe do Executivo pode desnaturar o projeto de lei,
modificando o seu todo lógico, podendo, ainda, com esse instrumento, legislar. Basta – como se disse – vetar advérbio
negativo. Data venia, não é bom esse fundamento, uma vez que: a) o todo lógico da lei pode desfigurar-se também pelo
veto, por inteiro, do artigo, do inciso, do item ou da alínea. E até com maiores possibilidades; b) se isto ocorrer – tanto
em razão do veto da palavra ou de artigo – o que se verifica é usurpação de competência pelo Executivo, circunstância
vedada pelo art. 2º da CF (...)”. (TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 22ª ed. Malheiros Editores, 2008, p.
143/144).

CRIME CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR


PROPRIAMENTE MILITAR

É aquela infração que só pode ser praticada por É a infração prevista no CPM, cujo sujeito ativo pode
militar, pois consiste na violação de deveres ser tanto o militar quanto o civil, passando a ser
restritos, que lhe são próprios, sendo considerada crime militar quando praticada nas
identificáveis por dois elementos: a qualidade do circunstâncias do art. 9º do CPM.
agente (militar) e a natureza da conduta (prática
funcional).

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Questão de concurso:
(PGR –PROCURADOR DA REPÚBLICA – 2015) NO QUE TANGE A COMPETÊNCIA NO PROCESSO PENAL, ASSINALE A
ALTERNATIVA INCORRETA:
(a) A Justiça Militar é competente para julgar crime de homicídio praticado por militar em serviço contra militar
reformado.
(b) O delito de deixar de comunicar óbito de pensionista militar e a ulterior apropriação indevida da pensão até então
auferida e de competência da Justiça Federal, pois se trata de crime praticado contra a União.
(c) Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, a prática do crime previsto no art. 297, § 4°, do CP, viola
interesse da União, sendo da Justiça Federal a competência para processar e julgar a respectiva ação penal, nos termos
do art. 109, IV, da CF/88.
(d) É de competência da Justiça Estadual o julgamento de contravenções penais mesmo que conexas com crimes de
competência da Justiça Federal de primeiro grau.
Gabarito: B

STJ: “(...) CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS MILITAR E COMUM ESTADUAL. CRIME CONTRA A VIDA PRATICADO POR
MILITAR. VÍTIMA PRETENDIDA: MILITAR. SITUAÇÃO: VÍTIMA CIVIL. ABERRATIO ICTUS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM. Ainda que tenha ocorrido a aberratio ictus, o militar, na intenção de cometer o crime contra colega da
corporação, outro militar, na verdade, acabou praticando-o contra uma vítima civil, tal fato não afasta a competência do
juízo comum. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o suscitado.
(STJ, 3ª Seção, CC 27.368/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 27/11/2000).

STJ: “(...) O policial militar que em serviço troca tiros com foragido da justiça que resiste à ordem de recaptura, age no
exercício de sua função e em atividade de natureza militar, o que evidencia a existência de crime castrense, ainda que
cometido contra vítima civil. Inteligência do art. 9.º, inciso II, alínea c, do Código Penal Militar. Precedentes. Conflito
conhecido para declarar a competência da 2.ª Auditoria Militar de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul”. (STJ, 3ª
Seção, CC 120.201/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 25/04/2012).

STJ: “(...) CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. CRIME PRATICADO POR MILITAR EM ATIVIDADE
CONTRA MILITAR EM IDÊNTICA SITUAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. Compete à Justiça Castrense processar e
julgar crime praticado por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado. (CC 85.607/SP, Rel. Min. OG FERNANDES, DJ 8/9/08) Militar em situação de atividade quer dizer "da ativa"
e não "em serviço", em oposição a militar da reserva ou aposentado. Conheço do conflito para declarar competente o
Juízo de Direito da 3ª Auditoria da Justiça Militar do Estado de São Paulo, ora suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC 96.330/SP,
Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 22/04/2009).

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STF: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DOLOSO PRATICADO POR
CIVIL CONTRA A VIDA DE MILITAR DA AERONÁUTICA EM SERVIÇO: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA
PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL: ART. 9º, INC. III, ALÍNEA D, DO CÓDIGO PENAL MILITAR:
CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de militar em serviço pela justiça castrense,
sem a submissão destes crimes ao Tribunal do Júri, nos termos do o art. 9º, inc. III, "d", do Código Penal Militar. 2. Habeas
corpus denegado. (STF, 1ª Turma, HC 91.003/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia, Dje 72 02/08/2007).

STJ: “CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO PRATICADO POR POLICIAL MILITAR CONTRA CIVIL. NATUREZA
JURÍDICA DA DECISÃO QUE DESCLASSIFICA O CRIME DE HOMICÍDIO DOLOSO PARA CULPOSO. NÃO INTERPOSIÇÃO DE
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO POR PARTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO. DÚVIDA
QUANTO À PRESENÇA DE ANIMUS NECANDI NA CONDUTA DO DENUNCIADO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA
DEFINIR A TIPIFICAÇÃO A SER DADA AO FATO DESCRITO NA DENÚNCIA. 1. A decisão que, a teor do disposto no art. 410
do Código de Processo Penal, reconhecendo a incompetência do Tribunal do Júri, remete os autos a vara criminal comum,
mesmo não sendo interposto recurso pelo Ministério Público, não tem caráter vinculante em relação ao magistrado que
os recebe, mostrando-se possível a este, dentro de sua convicção, suscitar o conflito de competência. 2. Conflito
conhecido para declarar a competência do Juiz de Direito da Vara do Júri da Comarca de Ribeirão Preto, em São Paulo, o
suscitado. (STJ, 3ª Seção, CC 35.294/SP, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJ 18/04/2005 p. 211).

STF: “(...) A norma do parágrafo único inserido pela Lei nº 9.299/99 no art. 9º do Código Penal redefiniu os crimes dolosos
acontra a vida praticados por policiais militares contra civis, até então considerados de natureza militar, como crimes
comuns. Trata-se, entretanto, de redefinição restrita que não alcançou quaisquer outros ilícitos, ainda que decorrente de
desclassificação, os quais permaneceram sob a jurisdição da Justiça Militar, que, sendo de extração constitucional (art.
125, § 4º, da CF), não pode ser afastada, obviamente, por efeito de conexão e nem, tampouco, pelas razões de política
processual que inspiraram as normas do Código de Processo Penal aplicadas pelo acórdão recorrido. Recurso provido”.
(STF, Pleno, RHC 80.718/RS, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 1º/08/2003).

6. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA ELEITORAL.


A Justiça Eleitoral está prevista na CF:

CF, art. 121: “Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das
juntas eleitorais.”

A Justiça Eleitoral julga crimes eleitorais.

Questão: O que é crime eleitoral?


Crimes eleitorais são aqueles definidos como tal, tanto no Código Eleitoral (Lei 4.737/65) como na legislação ordinária.

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✓ O professor destaca que é muito comum a elaboração de novas leis versando sobre o processo eleitoral. Assim
sendo, o aluno deve ficar atento, porque os crimes eleitorais não estão, necessariamente, previstos apenas no
Código Eleitoral.

Questão: Será que, para definir um crime como eleitoral, basta a previsão no Código Eleitoral ou em outras leis ordinárias?
O STJ, em um julgado do ano de 2015 (Conflito de competência 127.101/RS), afirmou que, para o aperfeiçoamento de
crime eleitoral, não basta a subsunção formal, é necessário verificar também o aspecto material do delito, ou seja,
verificar se a conduta atentou contra o processo eleitoral, contra a legitimidade da vontade popular, contra a liberdade
do exercício dos direitos políticos etc.

STJ: “A simples existência, no Código Eleitoral, de descrição formal de conduta típica não se traduz, incontinenti, em crime
eleitoral, sendo necessário, também, que se configure o conteúdo material de tal crime. Sob o aspecto material, deve a
conduta atentar contra a liberdade de exercício dos direitos políticos, vulnerando a regularidade do processo eleitoral e
a legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par da existência do tipo penal eleitoral específico, faz-se necessária, para
sua configuração, a existência de violação do bem jurídico que a norma visa tutelar, intrinsecamente ligado aos valores
referentes à liberdade do exercício do voto, a regularidade do processo eleitoral e à preservação do modelo democrático.
A destruição de título eleitoral da vítima, despida de qualquer vinculação com pleitos eleitorais e com o intuito, tão
somente, de impedir a identificação pessoal, não atrai a competência da Justiça Eleitoral. (...)” (STJ, 3ª Seção, CC
127.101/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Dje 20/02/2015).

O julgado em questão versou sobre o art. 339, Código Eleitoral5 - Crime de supressão de documentos.
Se, exemplificativamente, um casal (“A” e “B”) briga e “A”, com raiva, rasga o título de eleitor de “B”, isso será crime
eleitoral? Não. Essa conduta não atinge o processo eleitoral como um todo (aspecto material do delito), assim sendo, não
há lógica em trazer essa conduta para a competência da justiça eleitoral.

6.1. Conexão e continência entre Crime Eleitoral e Crime Comum.


Exemplo: imagine que um crime eleitoral seja cometido em conexão com um crime estadual, com um crime federal ou
crime doloso contra a vida. Diante dessa conexão e da continência, o que é que se deve fazer?
A conexão e a continência são regras modificativas de competência, ou seja, a conexão e a continência mudam
competências.

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Lei 4.737/65, art. 339: “Destruir, suprimir ou ocultar urna contendo votos, ou documentos relativos à eleição:
Pena - reclusão de dois a seis anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa.
Parágrafo único. Se o agente é membro ou funcionário da Justiça Eleitoral e comete o crime prevalecendo-se do cargo, a
pena é agravada.”

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CPP, art. 78, IV: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:
(...)
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.”

✓ O art. 78, IV, CPP, afirma que a competência da justiça especial prevalece sobre a competência da justiça comum.

Fixadas as premissas iniciais, pergunta-se: havendo conexão entre crime eleitoral e crime comum, quem julga os crimes?
Há várias hipóteses de conexão entre crime eleitoral e os demais crimes:
1º) Crime eleitoral e crime comum estadual: se o crime comum é estadual, os crimes serão julgados pela Justiça Eleitoral
(art. 78, IV, CPP). Isso porque a competência da justiça eleitoral (justiça especial) prevalecerá sobre a justiça comum.

2º) Crime eleitoral e crime federal: nesse caso, o aluno deve lembrar que a competência da justiça federal também está
prevista na Constituição Federal (art. 1096), ou seja, trata-se de competência absoluta, pois é estabelecida em razão da
matéria.
Neste caso, segundo a doutrina, deveria haver a separação dos feitos e cada justiça julgaria o crime específico. Entretanto,
o STF decidiu de forma contrária.
✓ Obs.: O mesmo raciocínio se aplicaria em casos de conexão entre o crime eleitoral e um crime doloso contra a
vida.

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CF, art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou
empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência,
as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro
ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III - as causas fundadas em tratado
ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais
praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em
tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; VI - os
crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira; VII - os habeas corpus , em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento
provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e
os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes
cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou
permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após
a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre
direitos indígenas. (...)”

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Atenção: Em 2019, o STF decidiu de modo contrário, entendendo que, quando se tratar de conexão com crime federal,
a competência também será da justiça eleitoral. O STF, portanto, decidiu que a justiça eleitoral exerce força atrativa,
ainda que em relação a crimes de competência da justiça federal.

STJ: “(...) Constatada a existência inequívoca da prática do crime previsto no art. 171, § 3º, do Código Penal, consistente
no emprego de fraude para a obtenção de benefício previdenciário junto ao INSS, a competência para processar e julgar
o delito é da Justiça Federal. Na eventualidade de ficar caracterizado o crime do art. 299 do Código Eleitoral, este deverá
ser processado e julgado na Justiça Eleitoral, sem interferir no andamento do processo relacionado ao crime de
estelionato, porquanto a competência da Justiça Federal está expressamente fixada na Constituição Federal, não se
aplicando, portanto, o critério da especialidade, previsto nos arts. 74, IV, do CPP e 35, II, do Código Eleitoral,
circunstância que impede a reunião dos processos na Justiça especializada. Conflito conhecido para declarar competente
o Juízo Federal da 3ª Vara da Seção Judiciária do Mato Grosso, o suscitado, para processar e julgar o crime previsto no
art. 171, § 3º, do Código Penal, sem prejuízo de ser apurado, em sede própria, eventual crime eleitoral conexo”. (STJ, 3ª
Seção, CC 107.913/MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 24/10/2012, Dje 31/10/2012).

“O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou jurisprudência no sentido da competência da Justiça Eleitoral
para processar e julgar crimes comuns que apresentam conexão com crimes eleitorais. A Corte observou ainda que cabe
à Justiça especializada analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos delitos eleitorais e, em não
havendo, remeter os casos à Justiça competente. A matéria foi apreciada no julgamento de recurso (agravo regimental)
interposto pela defesa do ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e do deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ) no
Inquérito (INQ) 4435, no qual 6são investigados por fatos supostamente ocorridos em 2010, 2012 e 2014. O agravo foi
apresentado contra decisão do relator, ministro Marco Aurélio, que havia declinado da competência para a Justiça do
Estado do Rio de Janeiro por entender que os delitos investigados não teriam relação com o mandato de deputado federal.
Contra essa decisão monocrática, a defesa interpôs o recurso que foi remetido pela Primeira Turma do STF ao Plenário.”

Atenção: cuidado com o crime cometido contra o juiz eleitoral.


Ainda que o juiz seja estadual, ele representa o Poder Judiciário da União. Desse modo, o crime é cometido contra o
interesse da União e a competência é da Justiça Federal.

STJ: “(...) A competência criminal da Justiça Eleitoral se restringe ao processo e julgamento dos crimes tipicamente
eleitorais. O crime praticado contra Juiz Eleitoral, ou seja, contra órgão jurisdicional de cunho federal, evidencia o
interesse da União em preservar a própria administração. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal
do Juizado Especial Cível e Criminal da Seção Judiciária do Estado de Rondônia, ora suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC
45.552/RO, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU 27/11/1993).

7. COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO.

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Questão: A Justiça do Trabalho tem competência criminal? Essa discussão surgiu a partir da EC 45/2004. Isso ocorreu
porque, na época, a Justiça do Trabalho sofreu mudanças e o art. 114 passou a asseverar o seguinte:

CF, art. 114: “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
(...)
IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua
jurisdição; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...)”

A partir dessa mudança na CF/1988, alguns passaram a entender que a EC 45/2004, além de outorgar essa nova
competência para o HC, também teria outorgado uma competência criminal genérica à Justiça do Trabalho.
Porém, não é correto asseverar que a Constituição Federal passou a atribuir-lhe competência criminal genérica para
processo e julgamento de ações penais. Essa possibilidade foi descartada pelo STF no julgamento da ADI 3.648:

STF: “(...) Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação
conforme dada ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade.
Liminar deferida com efeito ex tunc. O disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela
Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações penais”. (STF,
Pleno, ADI 3.684 MC/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Dje 72 02/08/2007).

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