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Capítulo 7 – DO PACTO DE DEUS COM O HOMEM

■ Parágrafos 1º e 2º

Embora sejamos feitos à imagem de Deus, há uma grande diferença entre nós e
ele (diferenças na própria essência).

■ Um pacto

O fato é que não poderíamos ter um relacionamento com Deus, se Ele,


voluntariamente, não condescendesse em vir onde estamos. Deus livremente decidiu vir
a nós e estabelecer os termos por meio dos quais poderíamos ter comunhão com ele.
Uma aliança que nós chamamos de pacto.
A maioria dos teólogos não vê problema em chamar esse primeiro
relacionamento ordenado por Deus de “pacto”. Mas teólogos notáveis como João
Calvino eram cautelosos quanto a chamar de pacto as condições impostas por Deus a
Adão. John Murray, na verdade, argumenta contra o uso dessa designação, já que a
palavra “pacto” não é usada em Gênesis 1-2 (mas veja Os 6.7).
Pacto: um acordo soberanamente determinado e administrado entre Deus e o
homem, com penalidades e promessas. Fica claro em Gênesis 1-2 que temos pelo isto:
Deus estabelece os termos, o homem deve obediência a ele. Se um pacto comumente
possui sanções (penalidades, punições) e promessas, a sanção no pacto com Adão é
óbvia: a ameaça de morte (Gn 2.17). É provável que também possamos deduzir outra
ideia: a fidelidade ao pacto, por parte do homem, seria premiada com vida. Isso é parte
do significado geralmente extraído da exigência, por Deus, de que Adão e Eva se
abstivessem da árvore da vida após a queda deles em pecado (Gn 3.22-24).

■ Um pacto de obras

Uma vez que a Bíblia não dá um nome para esse pacto, ele poderia sensatamente
ser chamado de muitas coisas. De fato, ele poderia ser chamado apenas de “primeiro
pacto” feito com o homem. Poderíamos tê-lo chamado de “pacto adâmico”, fazendo
referência à pessoa que nos representa nesse pacto divino. O pacto poderia ter sido
chamado de um “pacto de morte”, pois Adão seria punido com nada menos do que a
morte, caso ele não cumprisse os termos simples desse pacto. Mas ninguém chama o
pacto por esses nomes. O Catecismo Menor o chama de “pacto de vida” olhando para a
bênção implícita prometida a Adão e, nele, à sua posteridade caso obedecessem a Deus.
No parágrafo 2 desse capítulo o foco pactual é na obediência, e a Assembleia de
Westminster chama isso de “pacto de obras”. Aqui a assembleia se concentra no
princípio pactual das obras: a ideia que a lei de Deus exige obediência pessoal e
perfeita. Aquele que faz o que é exigido na lei viveria por meio desses preceitos (Rm
10.5; Gl 3.12). Fazer era o verbo importante. Mas não foi o que ocorreu. Adão não
guardou uma lei simples e explicitamente dada a ele. Apesar do mandamento de Deus
para evitar a árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão comeu o fruto dela. Ao
desobedecer a Deus, ele se colocou debaixo da maldição da lei e da pena de morte (Gl
3.10; Gn 2.17). Essa foi uma tragédia imensa, pois a vida não apenas estava ao alcance
dos olhos, ela estava ao alcance das mãos. Ter cumprido o pacto realmente teria levado
a uma vida mais abundante (Rm 10.5; Gl 3.12).

■ Parágrafos 3º e 4º

■ O pacto da graça
No pacto das obras o homem rompeu aquele laço gerador de vida e marcou a si
mesmo para a morte. A humanidade já não era mais capaz de obter a vida por meio
daquele primeiro pacto. Uma vez que eles quebraram a lei daquele pacto, temos que
concordar com o que disse o apóstolo Paulo: ela não podia dar vida (Gl 3.21). Pelas
“obras da lei” ninguém podia ser “justificado diante dele” (Rm 3.20 – “Porque
ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado”).
O Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, que os teólogos geralmente
chamam de “pacto da graça”. É um pacto porque é um outro laço ordenado por Deus,
desta vez com pecadores. Ele é gracioso porque contém uma promessa gloriosa,
totalmente não merecida. A semente dessa promessa é encontrada ainda em Gn 3.15, e
cresce nos escritos dos profetas (Is 42.6-7 – “Eu, o Senhor, chamei você em justiça; eu
o tomarei pela mão, o guardarei, e farei de você mediador da aliança com o povo e
luz para os gentios; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os cativos, e do
cárcere, os que jazem em trevas”). Por toda a Lei e os profetas ouvimos sussurros de
sua existência, histórias de uma “justiça de Deus” que é “sem lei” (Rm 3.21 – “Mas,
agora, sem lei, a justiça de Deus se manifestou, sendo testemunhada pela Lei e pelos
Profetas”). Quando começamos a ler o NT, descobrimos que tudo isso é verdade, e que
a promessa floresce completamente. Ali lemos que “o que fora impossível à lei” fazer,
Deus fez “enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa” e
“condenou Deus, na carne, o pecado” que uma vez havia nos condenado (Rm 8.3).
Assim podemos ter confiança nesse pacto da graça, onde Deus “livremente
oferece aos pecadores a vida e a salvação” para desfazer nossa morte e pecado. Nessa
oferta graciosa Deus dá seu próprio Filho. É no NT que claramente vemos que o próprio
Cristo é o novo pacto; ele é a promessa; ele é o pacto e laço da graça.
Essas são boas-novas; e ficam ainda melhores, pois descobrimos que se há
qualquer dívida, Jesus pagou por tudo. Não há nada que possamos fazer. Simplesmente
colocamos nossa fé nele, e “todo o que nele crê” não irá perecer, mas terá “a vida
eterna” (Jo 3.16). Nesse evangelho encontramos “a justiça decorrente da fé” em Cristo
(Rm 10.6), quando cremos em nossos corações que “Deus o ressuscitou dentre os
mortos”. É assim que somos salvos (Rm 10.9 – “Se com a boca você confessar Jesus
como Senhor e em seu coração crer que Deus o ressuscitou dentre os mortos, você
será salvo”). Vivemos pela fé (Gl 3.11), que é confessar que realmente vivemos pelo
poder e graça de Cristo e não por nós mesmos.
Deus nos dá seu Filho e ele também promete dar “seu Santo Espírito” a todos os
que são do seu povo. Quando Ezequiel registrou a promessa de Deus de um “coração
novo” para pecadores sem coração, foi dito a ele também que falasse de um “espírito
novo” que estaria “dentro” de nós (Ez 36.26). Pois nesse segundo pacto, o Pai, o Filho e
o Espírito Santo nos oferecem um relacionamento que jamais terá fim.

■ Um testamento?
Até este ponto a Confissão se refere a um pacto que se pode falar também de um
“Testamento”. Pacto é um termo que a Escritura normalmente usa, mas: “Esse pacto da
graça é frequentemente apresentado na Escritura pelo nome de Testamento” – ou pelo
menos o é na tradução grega do NT. Na versão Almeida Revista e Atualizada, a palavra
“testamento” é usada em Hebreus 9.16-17.
O termo “testamento” invoca linguagem e temas bíblicos. Ele nos lembra que
grandes dons são legados a nós. Ele evoca a ideia de um “testador”, em Jesus Cristo, e
de uma “herança eterna, com tudo o que lhe pertence”. O evangelho pode ser descrito
no dialeto da teologia pactual, ou na linguagem de um testamento.
Os versos centrais de Hebreus 9, pelo menos, parecem ligar a realidade da
aliança com um conceito de “testamento”. Resumindo, esses versos nos ensinam que a
lei de Moisés era repleta de sacrifícios e sangue para ensinar algo ao povo de Deus: que
alguém tinha de morrer antes que a grande promessa pudesse “ser confirmada” (Hb
9.15-17).
Todos nós sabemos quem tem de morrer antes que um testamento possa ter
efeito: aquele que fez o testamento. Por isso é que o Filho de Deus derramou a sua vida
por nós, para que recebêssemos uma herança eterna.

■ Parágrafos 5º e 6º

■ O Antigo Testamento
Nesses dois parágrafos finais, somos lembrados de que o pacto da graça “no
tempo da lei, não foi administrado como no tempo do evangelho”.
Conforme explica o parágrafo 5, o “tempo da lei” foi um tempo de

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