Você está na página 1de 19

Brazilian Journal of Development 57115

ISSN: 2525-8761

Preparação para a aposentadoria: percepção e atuação de


profissionais na área da psicologia

Preparation for retirement: perception and performanceof


professional in the field of psychology
DOI:10.34117/bjdv7n6-221

Recebimento dos originais: 07/05/2021


Aceitação para publicação: 01/06/2021

Hevelin da Rosa Zart


Psicóloga, Especialista em gestão de Recursos Humanos
Instituição: CREAS-Centro de Referência Especializado de Assistência Social
Endereço: Rua Canela N° 75 , Jardim Fronteira, Santo Antônio do Sudoeste, PR
E-mail: hevelinzart@outlook.com

Aline Bogoni Costa


Doutora em psicologia
Instituição: Centro universitário Uceff- Itapiranga
Endereço: Rua Padre Aurélio Canzi, 1311. São Miguel do Oeste
E-mail: alinebogonicosta@gmail.com

Samantha de Toledo Martins Boehs


Doutora em psicologia
Instituição: Universidade Federal do Paraná – Departamento de Administração
Endereço: Av. Prefeito Lothário Meissner, 632 - Jardim Botânico, Curitiba - PR
E-mail: Samantha.boehs@ufpr.br

RESUMO
O estudo aqui apresentado objetivou identificar as compreensões de profissionais da
Psicologia acerca dos aspectos psicossociais da aposentadoria e as suas atuações junto
a pré-aposentados, em empresas da região do Extremo Oeste de Santa Catarina. O
método pautou-se pela abordagem qualitativa, com a realização de entrevistas
semiestruturadas junto a oito profissionais da Psicologia, que atuam no âmbito do
Trabalho e das Organizações, na região mencionada. As informações foram analisadas
por meio da análise de conteúdo. A partir das categorias de conteúdos identificadas,
concluiu-se que as profissionais participantes reconhecem as mudanças psicossociais e
os desafios inerentes da aposentadoria, bem como compreendem a importância dos
programas de preparação com pré-aposentados, objetivando a prevenção de
adoecimentos. Verificou-se que, na região pesquisada, praticamente inexiste essa
atuação, justificado pelos participantes como decorrente do desconhecimento da
demanda, indicando a necessidade de inclusão do tema nos currículos universitários e
espaços de encontro dos profissionais.

Palavras-chave: aposentadoria, atuação profissional, Psicologia, organizações

ABSTRACT
The study presented here aimed to identify the understanding of psychology
professionals about the psychosocial aspects of retirement and their actions with pre-

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57116
ISSN: 2525-8761

retirees in companies in the Extreme West of Santa Catarina region. The method was
based on the qualitative approach, with semi-structured interviews with eight
professionals of Psychology, who work in the field of Work and Organizations, in the
mentioned region. The information was analyzed through content analysis. It was
concluded from the categories of contents that the participating professionals recognize
the psychosocial changes and the inherent challenges of retirement, as well as
understand the importance of pre-retirement programs with the objective of preventing
illness. It was verified that, in the region, this performance was practically non-existent,
justified by the participants as a result of the lack of knowledge of the demand,
indicating the need to include the subject in university curricula and meeting places of
professionals.

Keywords: retirement, professional activities, Psychology, organizations

1 INTRODUÇÃO
Para se pensar a aposentadoria é preciso levar em conta o contexto do trabalho,
que, na contemporaneidade, pode ser entendido como “o núcleo definidor do sentido da
existência humana” (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010). O ato de trabalhar apresenta-
se com diversos significados psicológicos e sociais, sendo facilitador do
reconhecimento, dos vínculos entre as pessoas e, ao mesmo tempo, constitui-se central
à identidade humana (FÔLHA; NOVO, 2011; FRANÇA, 2008; ROESLER, 2014;
SOARES; BOGONI COSTA, 2015).
O afastamento do trabalho em decorrência da chegada da aposentadoria
geralmente ocorre com sentimentos ambíguos e contradições (BARBOSA; TRAESEL,
2013; BOGONI COSTA, 2015; FRANÇA, 2008; ROESLER, 2014; ZANELLI;
SILVA; SOARES, 2010), pois, ao mesmo tempo em que estar aposentado pode
significar lazer, descanso e oportunidade de realizar novos projetos, são comuns as
vivências que interferem na saúde psicossocial, tais como o isolamento e o sentimento
de inutilidade, além dos temores quanto ao envelhecimento (ALVES; ALVES, 2011;
PINTO; ALVES, 2014).
É um momento em que se mobilizam emoções, sentimentos e valores que o ser
humano desenvolve ao longo da vida, também podendo apresentar temores relacionado
ao sentimento de isolamento, de inutilidade, dificuldades financeiras e de desatualização
(OLIVEIRA; TORRES; ALBUQUERQUE, 2009). MARCELINO ET AL. (2020) ao
realizarem uma revisão integrativa sobre fatores de risco nos transtornos mentais
comuns em idosos apontaram que entre os principais fatores sociais e psicológicos que
desencadeiam estes transtornos, destaca-se a aposentadoria.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57117
ISSN: 2525-8761

Muitas pessoas experimentam a vivência da aposentadoria de forma abrupta, sem


qualquer planejamento para o tempo livre. Algumas buscam ou encontram orientação
somente no momento próximo de se aposentar, quando muitas vezes estão aflitas,
ansiosas e inseguras em relação ao futuro, o que tende a dificultar reflexões e a
elaboração de planos. No entanto, toda a possibilidade de orientação é entendida como
relevante, sendo que “quando não se pode fazer o ideal (preventivo), deve se fazer, ao
menos, o que é possível (reativo)” (SOARES; BOGONI COSTA, 2015, p.348).
A atuação da Psicologia tem muito a contribuir na preparação para a
aposentadoria, facilitando às pessoas a construção de seu próprio processo de transição,
com autonomia, criatividade e pensamento crítico frente à nova realidade que se
apresenta (SOARES; LUNA; LIMA, 2010). Este trabalho é denominado de orientação
ou preparação para a aposentadoria, podendo contar com o apoio de diversas áreas
profissionais, interdisciplinarmente (SOARES; BOGONI COSTA, 2011).
Historicamente, as atividades de orientação e preparação para a aposentadoria são
recentes no Brasil, visto que se iniciaram somente no final da década de 1980, com
cunho informativo. É importante destacar que não há uma legislação que regulamente
as atividades de preparação para a aposentadoria, porém os programas estão
preconizados na Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso, no artigo
28, inciso II (BRASIL, 2003).
Os programas de orientação podem ser considerados uma construção
psicossocial, que permitem às pessoa planejar seu futuro, a partir da reflexão de valores,
atitudes, pensamentos, percepções e comportamentos, integrando as vivências do
passado e do presente. Também, permitem aos participantes reflexões sobre os
benefícios e desafios da aposentadoria, possilitando o incentivo aos desejos, o
reconhecimento de limitações e de conflitos familiares que possam ocorrer, facilitando
a definição de estratégias de enfrentamento (SOARES; BOGONI COSTA, 2009;
ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010; SOARES; BOGONI COSTA, 2015).
A preparação para a aposentadoria é benéfica tanto para as organizações, quanto
para os profissionais que nela exercem suas atividades, podendo auxiliar dessa forma os
trabalhadores mais velhos a tomarem a decisão de aposentadoria com maturidade
diminuindo assim os traumas que possam ocorrer na transição do trabalho para a
aposentadoria. Segundo Leandro-França e Murta (2014, p. 39) “planejamentos
abrangentes e multitemáticos anteriores à aposentadoria podem ser preditores
importantes de uma aposentadoria mais satisfatória”. Apesar da sua importância são

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57118
ISSN: 2525-8761

poucas as empresas que investem em PPAS estruturados sendo a maior parte delas da
área pública.
Nesta perspectiva, entende-se que a atuação do psicólogo nas organizações, com
visão estratégica e de cuidado com a saúde, vem a contribuir para a promoção da
qualidade de vida dos trabalhadores nesta fase de transição de carreira (RODRIGUES,
et al., 2005; SOARES; BOGONI COSTA, 2010; SOARES; BOGONI COSTA, 2015).
Sendo assim, este estudo teve por objetivo identificar as compreensões de profissionais
da Psicologia acerca dos aspectos psicossociais da aposentadoria e das suas atuações
com pré-aposentados, em empresas da região do Extremo Oeste de Santa Catarina.

2 MÉTODO
Para o desenvolvimento do estudo adotou-se a abordagem qualitativa que,
conforme Gerhardt e Silveira (2009, p.31), “[...] não se preocupa com a
representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão de um
grupo social, de uma organização, etc.”. A organização das informações ocorreu de
modo exploratório e explicativo, sendo o primeiro com o propósito de fornecer maior
intimidade em relação ao problema relatado e o segundo, de descrever e detalhar o
fenômeno estudado em termos dos achados junto aos participantes (GIL, 2010).
O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista semiestruturada, com
roteiro elaborado pelas pesquisadoras para este fim, contendo informações
sociodemográficas, tal como idade, formação, área de atuação profissional na empresa,
tempo de formado, especializações, etc., e as questões direcionadas aos objetivos da
pesquisa. Prezou-se por certa flexibilidade nos procedimentos de coleta de informações,
com vistas a absorver novos temas e questões trazidas pelos entrevistados, permitindo
falas mais livres sobre assuntos que surgiam relacionados com o tema principal
(MINAYO, 2004).
As entrevistas foram gravadas em áudio, mediante consentimento dos
participantes com a assinatura do Termo de Uso de Imagem e, posteriormente,
transcritas integralmente para a interpretação. A análise das informações ocorreu a partir
do método de análise de conteúdo (BARDIN, 2011), que possibilitou a interpretação
dos conteúdos coletados em análises reflexivas, conforme os objetivos da pesquisa.
Participaram da pesquisa oito profissionais da Psicologia, que atuam no âmbito
do Trabalho e das Organizações, na região do Extremo Oeste de Santa Catarina. Os
mesmos foram selecionados por conveniência, a partir da abertura ao contato pelas

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57119
ISSN: 2525-8761

organizações onde atuam e da indicação realizada por pessoas conhecidas das


pesquisadoras.
Realizou-se contato prévio com os potenciais participantes (10), explicando a
proposta e os objetivos da pesquisa, informando-lhes, também, acerca das questões
éticas da pesquisa e a liberdade de participar ou não da mesma, conforme informações
que constaram no TCLE. Posteriormente aos esclarecimentos, as entrevistas presenciais
e/ou virtuais com os oito profissionais da Psicologia que concordaram em participar
foram agendadas.
Este estudo pautou-se pela Resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde
(CNS), que estabelece as normas para pesquisas envolvendo seres humanos. Assim
sendo, houve análise da proposta de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP),
da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, com aprovação conforme o
Parecer de número 2.149.131 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
(CAAE) de número 69709717.7.0000.5367. Todos os participantes foram esclarecidos
sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, e consentiram mediante a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA
Participaram da pesquisa oito psicólogas, todas do sexo feminino, que atuam no
campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), no Extremo Oeste de Santa
Catarina. Conforme caracterização da Tabela 1 verificou-se que a maioria das
profissionais possui experiência e especialização, o que permite inferir bons
conhecimentos acerca da atuação neste campo.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57120
ISSN: 2525-8761

Tabela 1 - Caracterização dos participantes da pesquisa


Realiza ou realizou
Organização
atividade de
Participante Tempo pública ou
Idade Especializações Tempo de orientação para a
na privada
empresa aposentadoria na
POT
organização
Gestão de Recursos
P1 27 Humanos e Saúde 5 anos 5 anos Privada
Não
mental e coletiva
Inteligência
P2 40 5 anos 5 anos Privada
Criminal Não
Gestão de Recursos
P3 24 8 meses 8 meses Privada
Humanos Não
Coaching e
P4 40 10 anos 5 anos Privada
Recursos Humanos Não
P5 30 Recursos Humanos 4 anos 10 meses Privada
Não
P6 29 Gestão de Pessoas 7 anos 7 anos Privada
Não
Psicologia
P7 40 Organizacional e do 8 anos 8 anos Privada
Não
trabalho
Psicologia
P8 32 4 anos 4 anos Sim Pública
Organizacional
Fonte: as autoras

No geral, as participantes demonstraram gosto pelo que fazem, mas também


relataram algumas dificuldades de reconhecimento da atuação, pois, segundo as
mesmas, as empresas desconhecem as atividades inerentes à atuação profissional da
Psicologia, o que tem demandado a elas demonstrar e relembrar cotidianamente as suas
funções. Ainda, cabe destacar que a metade das profissionais participantes (4) não
possuem registro empregatício como psicólogas, mas sim como analistas de recursos
humanos, submetendo-se a atuações que as distanciam, por vezes, do que seriam suas
funções mais efetivas no campo.
Verificou-se que somente uma das profissionais participantes trabalhou com
orientação para a aposentadoria em sua instituição, o que permite concluir que apenas
uma pequena parcela dos profissionais da região pesquisada trabalha com a preparação
para a aposentadoria dentro das organizações.

CATEGORIAS DE ANÁLISE
Os resultados foram agrupados em duas categorias de análise: “aspectos
psicossociais da aposentadoria” e “atuação profissional em orientação para a
aposentadoria”.
Quanto aos aspectos psicossociais da aposentadoria, as informações coletadas
possibilitaram a identificação de três subcategorias, quais sejam: a) a aposentadoria

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57121
ISSN: 2525-8761

convertida em retorno ao trabalho; b) a aposentadoria entendida como sinônimo de


frustração e de adoecimento; c) a aposentadoria caracterizada pelo preconceito. Já, com
relação ao objetivo de identificar a atuação profissional em orientação para a
aposentadoria, foram construídas duas categorias: a) a preparação para a aposentadoria
é fundamental, porém não priorizada; b) a preparação tem o objetivo da elaboração de
projetos de vida e a diminuição de doenças psicossociais.

ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA APOSENTADORIA


a) A aposentadoria convertida em retorno ao trabalho
Esta subcategoria foi construída a partir de recorrentes compreensões das
participantes sobre o aspecto psicossocial de retorno ao trabalho após a aposentadoria,
motivados, em especial por dois aspectos: a questão objetiva de busca por incremento
de renda e a dificuldade psicológica de aceitar a aposentadoria.
Em um panorama social, o trabalho é um fator determinante na vida humana,
pois exige que a pessoa cumpra regras, horários e desempenhe algumas atividades, como
também se relacione socialmente, tudo isso em prol das exigências que as tarefas do
cotidiano de trabalho impõem (ZANELLI, 2012). A saída do mercado em decorrência
da aposentadoria faz com que ocorra uma quebra na rotina, além disso, podem ser
geradas rupturas na identidade pessoal/profissional construída ao longo de anos, fazendo
com que surjam muitos questionamentos acerca da vida de aposentado e a reavaliação
sobre o possível retorno ao mercado de trabalho.
A maioria das participantes relatou não ter visto os colaboradores se aposentando
e saindo do trabalho, pois eles permaneciam na mesma empresa ou retornavam para o
trabalho em algum outro tipo de atividade, sendo um dos motivos, a busca por
incremento de renda, como é possível observar nas falas seguintes: “Continuam
trabalhando por necessidade, porque o salário que recebem de aposentadoria não é
suficiente para manter a família” (P1) e “A maior parte da população vai ter que voltar
a trabalhar porque a renda financeira é baixa... envolve vários fatores” (P3).
O principal motivo relatado para o retorno ou continuidade no trabalho, segundo
as participantes, tem sido a questão da renda. Pode-se inferir que, além de questões
macroeconômicas severas pelas quais o Brasil tem passado periodicamente, tal aspecto
pode ser entendido também como decorrente da falta de preparação financeira da
população para a aposentadoria. Em conformidade, pesquisas recentes demonstraram
que apenas um terço dos brasileiros se prepara financeiramente para se aposentar, sendo

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57122
ISSN: 2525-8761

que os que não se preparam tem consciência das consequências que a falta de recursos
pode resultar, ressaltando a importância de pensar nesse preparo visto que, geralmente,
a renda diminui quando saem do mercado de trabalho, não podendo depender apenas da
Previdência Social (BRASIL, 2016). No entanto, a mesma pesquisa ainda revela que
tal preparação raramente é realizada, em especial devido à falta de instrução, consciência
de poupança e, ainda, devido à baixa renda, que impede qualquer reserva (BRASIL,
2016).
O segundo aspecto que motiva o retorno ao mercado de trabalho é a dificuldade
psicológica de aceitar a aposentadoria, justificada, em grande parte, pela representação
social da aposentadoria como ócio e inatividade, bem como a importância social que se
dá ao trabalho (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010). Nas falas das participantes
evidenciou-se destaque ao sentimento de “utilidade” proporcionado pelo trabalho:
“Temos dois colaboradores que se aposentaram e continuam na organização ainda (...)
não queriam ficar parados, queriam dar continuidade ao trabalho porque tinham
capacidade”(P1); “Temos duas colaboradoras que já estão aposentadas e continuam
trabalhando conosco (...) para complemento de renda e porque tem vida útil para
permanecer” (P2); “(...) ouço de colaboradores que trabalham conosco há mais de
quinze anos que não querem parar de trabalhar quando se aposentarem para
permanecerem ativos” (P7).
De acordo com Zanelli, Silva e Soares (2010), a passagem para a aposentadoria
pode se tornar fácil quando ainda na organização são promovidos espaços de vivências,
facilitando às pessoas pensarem em novas perspectivas de ações, em projetos de vida no
pós-carreira. Diante disso, aos trabalhadores, é importante promover espaços para
reflexões que lhes permitam compreender esse novo momento de vida e repensar
desejos pessoais que, muitas vezes, são esquecidos pela rotina de trabalho. Da mesma
forma, faz-se necessário que as organizações incentivem a preparação financeira, o que
poderia evitar o retorno ao trabalho motivado pela diminuição de renda.

b) A aposentadoria entendida como sinônimo de frustração e de adoecimento


Essa categoria congrega núcleos de sentido sobre o aspecto psicossocial da
aposentadoria relacionado à frustração e ao adoecimento em sua decorrência, presentes
nos discursos das participantes da pesquisa.
Em muitos casos, a aposentadoria trata-se de um momento bastante esperado,
visto que as pessoas se dizem cansadas de trabalhar ou, até mesmo, alegam que será um

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57123
ISSN: 2525-8761

momento de fazerem o que gostam e de estarem mais próximas dos seus familiares. No
entanto, quando chega o momento da aposentadoria, podem se frustrar por uma rotina
carregada de situações que envolvem conflitos relacionais, familiares e mudanças
pessoais com perda de identidade (ANTUNES; MORÉ, 2020, SOARES; BOGONI
COSTA, 2011). As falas seguintes ilustram essas compreensões da aposentadoria como
frustração e adoecimento mental: “Ter expectativa demais pode ser uma frustração
depois, pois idealiza uma coisa que não se tornou realidade ”(P1); “Quando você está
no mercado de trabalho, você não pensa além, (...) é difícil pensar no que vai acontecer
depois (...) às vezes, você espera tanto, tanto, e quando você vive fica frustrante” (P2);
“Temos vários relatos em que a tão esperada aposentadoria passou a ser um pesadelo na
vida para quem hoje vivem o ócio”(P8).
A rotina de trabalho ocupa um espaço significativo na vida das pessoas,
representa uma contribuição social, disso pode advir o sentimento de frustração. Em
decorrência deste sentimento, podem buscar em outras circunstâncias um abrigo, como
nos casos de abuso de álcool e drogas, que podem ser vistos como formas de diminuir
as “dores existenciais” de não se sentir um lugar seguro, com os mesmos vínculos de
antes de aposentadoria (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010).
A vivência desse processo pode ocasionar também danos para a qualidade de
vida do trabalhador, acarretando em solidão, sentimentos de inutilidade e de baixa
autoestima (ROESLER, 2014). Tais aspectos foram recorrentes nas compreensões das
profissionais pesquisadas: “Quando se aposenta, às vezes, se isola socialmente, podendo
entrar em depressão, tendo o tédio não tem mais as mesmas atividades para desenvolver,
para fazer no dia a dia” (P7); “É muito fácil cair no alcoolismo, até mesmo pela
ociosidade. Conheço alguns casos de pessoas que entraram em depressão a partir do
momento que se aposentaram” (P2).
Compreender as particularidades que norteiam a vida do pré- aposentado, assim
como seus projetos no momento em que ocorre a aposentadoria, pode ser uma
alternativa para o enfrentamento das frustrações e adoecimentos. Diante disso, a
Psicologia, em suas diversas atuações, pode construir estratégias assertivas de
enfrentamento, potencializando e possibilitando que essas pessoas identifiquem um
futuro para além do trabalho (SOARES; BOGONI COSTA, 2015). Os Programas de
preparação para a aposentadoria visam justamente “proporcionar aos futuros
aposentados o reforço dos aspectos positivos e a discussão sobre alternativas de como

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57124
ISSN: 2525-8761

lidar com os aspectos negativos relacionados à aposentadoria” (LUNA; FRANÇA,


SOARES; LIMA, ROESLER, 2020 p.238).

c) A aposentadoria caracterizada pelo preconceito


Essa categoria foi construída com base nas compreensões dos participantes sobre
o preconceito em relação aos ser/estar aposentado. A aposentadoria, geralmente, é
compreendida de forma contrária à significação de júbilo, sendo suas representações
associadas a valores negativos e depreciativos, como incapacidade e envelhecimento
(SOARES; BOGONI COSTA, 2011). Outra expressão que aparece, frequentemente,
associada à noção de aposentadoria e, de certo modo, reforça sua desvalorização é “ser
inativo”. O carimbo da palavra “inativo” na carteira de trabalho ou nos documentos
recebidos da Previdência Social costuma chocar aqueles que vivem este momento
(BOGONI COSTA, 2015).
A inatividade é experimentada como sinônimo de vazio, de não ter um lugar,
com o sentimento de que a pessoa deixou de ser importante e, agora, é inútil (ZANELLI;
SILVA; SOARES, 2010). O sentimento de inutilidade gerado pela aposentadoria, de
não servirem mais a sociedade somados a fatores relacionados à condição econômica e
a falta de atividade física aumentam os riscos de desencadeamento dos processos
depressivos (MARCELINO ET AL. 2020). Segundo as compreensões das participantes:
“Talvez a ociosidade seja uma situação que acaba trazendo muitas dúvidas e questões
para o aposentado: afinal quem sou eu?”(P6); “É comum que fiquem depressivos,
sintam-se inválidos, velhos”(P7); “O isolamento social, a frustração, a auto depreciação
e a baixa autoestima em decorrência da aposentadoria podem gerar patologias como a
depressão, ansiedade”(P4).
As atividades não relacionadas ao trabalho, na sociedade contemporânea
capitalista, caracterizam-se como pouco relevantes. O lazer pode ser um exemplo.
Ressalta-se que, até mesmo, os momentos de descontração são regulados pelas
organizações do trabalho, ou seja, o tempo que governa o cotidiano é o relógio do
trabalho (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010). Este pensamento coletivo social pode
influenciar na forma como as pessoas são vistas, isso pode ser observado também nas
falas das profissionais: “Só valorizamos quem trabalha, então, a partir do momento em
que você se identifica como uma pessoa aposentada já tem aquele rótulo de que não esta
fazendo nada” (P2); “Quando se aposenta vem o ócio. O aposentado, muitas vezes, é

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57125
ISSN: 2525-8761

discriminado. A sociedade vê o aposentado como um inútil. Há um olhar diferente para


aquele que não produz” (P4).
Segundo as participantes, socialmente, o aposentado é visto, com frequência,
como ocioso, como alguém que não produz mais e não deve ser valorizado devido a
isso. Diante disso, mencionaram que: “eles buscam voltar ao mercado de trabalho para
terem uma ocupação e não se sentirem inativos, desocupados (...) continuam
trabalhando para ter uma ocupação”(P1); “As pessoas pensam que aposentadoria é
sinônimo de afastamento, inutilidade e de vida mansa (...) existem aqueles que nunca
param (...) uma forma de se sentirem úteis e, com isso, manterem sua saúde mental”(P8);
Como mencionado nas falas anteriores, a percepção das profissionais da
Psicologia é de que retornar ao mercado de trabalho seria uma forma de lidar com o
estigma e a frustração de não mais se sentir como alguém que tenha valor. Não ter uma
ocupação ou viver no ócio passam a ser perspectivas descabidas, que levam o
aposentado a buscar algo que modifique esse rótulo.

SOBRE AS ATUAÇÕES PROFISSIONAIS EM ORIENTAÇÃO PARA A


APOSENTADORIA
a) A preparação para a aposentadoria é fundamental, porém não priorizada
Nessa categoria estão reunidos núcleos de sentidos em relação às atuações das
psicólogas em orientação para a aposentadoria. Foram identificadas no relato das
participantes duas particularidades que se relacionam entre si: apesar de ser vista como
fundamental praticamente não há atuação na área; há falta de conhecimento e de preparo
profissional para tal atuação.
A orientação psicológica para a aposentadoria é um campo de atuação que se
desenvolveu cientificamente no país nas últimas duas décadas e que propicia a reflexão
sobre as possíveis substituições e adequações do papel do trabalho na vida das pessoas,
visando evitar um vazio existencial, oriundo da possibilidade da ausência do trabalho
(BOEHS; SILVA, 2017; SOARES; BOGONI COSTA, 2015). Possuir serviço de
orientação para a aposentadoria disponível na empresa que trabalha influencia
diretamente o planejamento nas dimensões referentes à situação financeira, de saúde,
estilo de vida e psicossocial (RAFALSKI; ANDRADE, 2016).
Apesar da importância destes programas, dentre as participantes, apenas uma
(P8) tem experiência com preparação para a aposentadoria. A maioria das profissionais
relatou que esta atuação é “importante” e que precisa ser implementada dentro e fora

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57126
ISSN: 2525-8761

das organizações: “Não, a empresa não possui um programa de preparação para


aposentadoria, mas é uma coisa que considero importante, algo positivo, mas que
realmente é pouco discutido” (P1); “Não paramos para pensar na necessidade de um
PPA ainda na empresa, porém é um assunto muito importante”(P2); “Falta de
consciência e percepção da necessidade. Precisamos despertar” (P4); e, “Um assunto
muito importante, porém nunca foi levantada a questão dessa necessidade. Deve ser
tratado com atenção, pois a aposentadoria é uma nova fase da vida que deve ser vista
com zelo” (P6).
Apesar da preparação para a aposentadoria ser uma forma de promover a
qualidade de vida durante a construção da carreira (SOARES; BOGONI COSTA, 2011)
infelizmente, como foi percebido nesta pesquisa, não se tem pensado e praticado a
preparação nas empresas da região pesquisada.
Identificou-se, também, o desconhecimento acerca do assunto, com relatos das
participantes sobre não terem estudado o tema na graduação e pós-graduação, ao mesmo
tempo em que demonstraram interesse na aproximação dessa atividade: “Acho que é
algo muito novo ainda e que se ouve falar muito pouco nas organizações. Durante a
minha graduação nunca ouvi falar, é um tema bastante novo e a primeira vez que estou
ouvindo falar sobre isso” (P1); “Faltou ver sobre isso na faculdade, mas na pós também
não veremos, e na nossa região nunca houve cursos na área” (P3); e, “Pouco
conhecimento, conheci a partir de leituras e não ouvi falar sobre o assunto na graduação
e nem na pós-graduação”(P4).
Ainda, com relação ao desconhecimento sobre o tema, entende-se que por um
tempo as graduações de Psicologia voltavam seus saberes muito mais à prática clínica,
com defasagem para outras áreas de atuação, a exemplo da Psicologia Organizacional e
do Trabalho. Assim sendo, os profissionais se deparam com algumas dificuldades em
seus campos de atuação, como identificado nas justificativas dos profissionais
pesquisados (ABBADE; MOURÃO apud PINTO; ALVES, 2014). Isso não quer dizer
que atuação em orientação para a aposentadoria deve ser realizada somente a partir do
enfoque organizacional, visto serem diversas as possibilidades de atuação da Psicologia
em relação ao fenômeno da aposentadoria.
A única profissional pesquisada que trabalhou com preparação para a
aposentadoria demonstrou conhecimento sobre o tema. A justificativa de sua atuação se
dá em decorrência das estratégias de gestão de pessoas da empresa, onde as pessoas se

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57127
ISSN: 2525-8761

aposentam muito cedo, necessitando de um preparo para a construção de projetos pós-


carreira:

A ... de Santa Catarina possui o PPRA- Programa de Preparação para a


Reserva e Aposentadoria, que ocorre a cada dois anos, com pessoas que
possuem menos de quatro anos para irem para a reserva. O programa é
realizado em alguns encontros e trabalha diversas questões, tais como:
aspectos psicológicos, saúde, família, lazer, esporte, tempo livre,
dependências químicas e situação financeira. (P8)

Diante disso, reafirma-se a importância de os profissionais da Psicologia


focarem em atuações estratégicas. Concorda-se com Pinto e Alves (2014), sobre a
necessidade de romperem com os níveis técnicos de atuação, como recrutamento,
seleção, treinamento entre outras atividades, pois na prática da atuação ainda é o que
mais se encontra.

b) A preparação utilizada como objetivo para a elaboração de projetos de vida e


diminuição das doenças psicossociais.
A presente categoria foi construída a partir das atuações das participantes no que
diz respeito à preparação para a aposentadoria como uma possibilidade da criação de
projetos e de diminuição das doenças psicossociais.
O processo de aposentadoria quando acontece de forma brusca, sem um preparo,
pode resultar em crises de identidade e psicossociais, dificultando a elaboração de
projetos para o futuro (SOARES e COSTA, 2011; ZANELLI; SILVA e SOARES,
2010) impactando diretamente no bem-estar e na satisfação de vida dos aposentados
(DINGEMANS e HENKENS, 2014; BOEHS, BARDAGI E SILVA, 2019).
Existem diversos modelos de programas de orientação, com prazos
diferenciados, tendo os longos (realizados geralmente com 10 a 20 encontros com
periodicidade semanal, quinzenal ou mensal) e os breves (realizados em poucos dias de
forma intercalada ou intensiva). Os programas mais longos podem ser realizados de dois
a cinco anos antes da aposentadoria, com encontros periódicos, que possibilitam serem
trabalhados diversos assuntos de acordo com as demandas subjetivas dos participantes
(BOGONI COSTA; SOARES, 2011; MURTA, et. al, 2014; SOARES; BOGONI
COSTA, 2015).
Isto vai ao encontro do relato das participantes, pois, por mais que as mesmas
tenham afirmado possuir pouco conhecimento referente à atuação, conhecem ou
vivenciaram casos em que a falta de orientação e preparação incorreu em impactos

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57128
ISSN: 2525-8761

negativos psicossociais na vida das pessoas. Verificou-se que consideram a preparação


para esta fase como algo que pode trazer muitos benefícios: “A orientação diminuiria
os índices de doenças psicológicas após a aposentadoria”(P3); “Possibilita à pessoa
construir projetos para o seu futuro, valorizando o que gosta de fazer, para evitar
doenças”(P4). Abordar a temática da preparação para a aposentadoria torna-se muito
relevante em um contexto em que o alcance organizacional dessas práticas ainda é um
grande desafio, tendo em vista que a falta de planejamento para a aposentadoria pode
ser resultado da carência de políticas organizacionais que tenham como foco os
trabalhadores mais velhos (BOEHS; AMORIM, 2021).
Juntamente com os benefícios psicossociais as participantes mencionaram sobre
as atividades e os ambientes para o público aposentado e envelhescente, espaços do
habitar, que permitam a participação social efetiva, a construção humana e a
emancipação. Tais espaços não devem ser segregados dos demais espaços públicos, mas
sim serem naturalmente integrados aos mesmos (BOGONI COSTA, 2015), conforme
P7:

“Eles (aposentados) precisam participar mais da vida social na comunidade,


frequentar o grupo de idosos e ampliar as amizades. Nesses encontros se
divertem, fazem viagens e promovem festas e matines dançantes. Alguns
também participam de grupos de oficinas de tricô e crochê e de trabalhos
voluntários. Vejo como investimentos importantes nessa fase. É obvio que
poderiam ter mais opções de lazer e ocupações com cursos, oficinas em nossa
pequena cidade. Penso que os futuros aposentados terão maior qualidade de
vida.”(P7)

Assim sendo, espera-se que diversos projetos e intervenções possam ser


realizados por profissionais da Psicologia no que tange à aposentadoria, possibilitando
às pessoas a satisfação com o tempo livre, com o que se gosta de fazer, e a construção
de espaços legítimos de participação do aposentado na sociedade, incluindo inclusive a
possibilidade de escolha por permanecer trabalhando mesmo estando aposentado.
Segundo Luna et al. (2020), atualmente “observa-se uma tendência de a aposentadoria
não ser mais percebida como a saída definitiva do trabalho, mas sim como um processo
que pode estar associado a um leque de novas oportunidades e desafios” (p. 239). Dessa
forma as estratégias de orientação para a aposentadoria que contemplem diversas
possibilidades de escolhas e tomadas de decisão, certamente contribuirão para a
prevenção de adoecimentos e melhoria da qualidade de vida dos aposentados.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57129
ISSN: 2525-8761

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo procurou identificar as compreensões de profissionais da Psicologia
acerca dos aspectos psicossociais da aposentadoria e as suas atuações junto a pré-
aposentados, em empresas da região do Extremo Oeste de Santa Catarina.
Ao se analisar as informações trazidas pelas profissionais da Psicologia que
trabalham em organizações, evidenciou-se que consideram importante conhecer os
aspectos psicossociais da aposentadoria, mas que a temática carece de estar mais
presente em discussões acadêmicas nos cursos de graduação e pós-graduação e nos
treinamentos nas organizações.
Com relação aos aspectos psicossociais, as profissionais relataram a questão do
retorno para o mercado de trabalho, devido à necessidade de melhorar a renda,
ressaltando, dessa forma, a importância do preparo financeiro ao longo da vida. Ao
mesmo tempo, este retorno pode acontecer, segundo as mesmas, devido à falta de
aceitação das condições da aposentadoria que podem ser relacionadas à frustração e ao
adoecimento dos aposentados que não conseguem alcançar satisfação e sentimento de
pertencimento e utilidade, necessitando retornar ao mercado de trabalho. Na
compreensão das entrevistadas, as idealizações sobre a aposentadoria durante a carreira
podem incorrer em situações de risco à saúde psicossocial. Além disso, entendem que
os aposentados lidam de modo solitário com os estigmas sociais que foram impostos à
condição de não trabalho. Diante disso, reafirma-se que a aposentadoria pressupõe mais
do que um mero encerramento de carreira, trazendo impactos indiscutíveis ainda que as
percepções variem de uma pessoas para a outra (ZANELLI; SILVA; SOARES, 2010;
SOARES; COSTA, 2011).
No que se refere às atuações profissionais em orientação para a aposentadoria,
evidenciou-se que é percebida como importante, porém não tem sido prioridade em
estratégias organizacionais que favoreceriam a valorização humana e a diminuição de
doenças psicossociais. Ao mesmo tempo, o desconhecimento do tema por parte das
profissionais e a ausência de informações durante a formação foram justificativas para
a atuação ainda não ter o devido espaço na região onde ocorreu a pesquisa. Diante disso,
infere-se ser de suma importância à Psicologia estudar mais sobre o fenômeno e
possibilitar a formação, desde a graduação, permitindo aos profissionais que possam se
apropriar do saber e da atuação desta temática nas organizações.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57130
ISSN: 2525-8761

Concluindo, entende-se como necessário romper o silêncio quando o assunto é


aposentadoria, dentro e fora das organizações, para que as pessoas possam construir
projetos e ações para essa nova fase com autonomia e valorização.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57131
ISSN: 2525-8761

REFERÊNCIAS
ALVES, C. M; ALVES, S. C. A. Aposentei e agora?: Um estudo acerca dos aspectos
psicossociais da aposentadoria na terceira idade. Revista Kaleidoscópio, Unileste, 2011.
Disponível em:
https://www.unilestemg.br/kaleidoscopio/artigos/volume2/APOSENTEI_E_AGORA_
UM_ESTUDO_ACERCA_DOS_ASPECTOS_PSICOSSOCIAIS_DA_APOSENTAD
ORIA_NA_TERCEIRA_IDADE.pdf >. Acesso em: 13 jan. 2021.
ANTUNES, M. H., MORÉ, C. L. O. O. . Repercussões da aposentadoria na dinâmica
relacional das redes sociais significativas de aposentados. Revista Brasileira de
Orientação Profissional, 21(1), 95-106, 2020. https://dx.doi.org/10.26707/1984-
7270/2020v21n109
BARBOSA, T. M; TRAESEL, E. S. Pré-aposentadoria: Um desafio a ser enfrentado.
Barbaroi, n.38. Santa Cruz do Sul, 2013. Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
65782013000100012&lng=pt&nrm=iso > Acesso em: 13 jan. 2021.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Ed. Rev. e Atual. São Paulo: Edições 7, 2011.
BOEHS, S. T. M.; AMORIM, S. M. Propuesta de intervención para la mejora del
bienestar y la satisfacción com la vida em la jubilación. In: Alcover, C. M & Moreno,
A. M. L. Bienestar, salud ocupacional y calidad de vida de los trabajadores mayores:
Investigación y prácticas en Iberoamérica. Editorial de la Universidad del Valle, Cali,
Colombia. 2021.
BOEHS, S. T. M;, BARDAGI, M. P.; SILVA, N. Trabalho, aposentadoria e satisfação
de vida em aposentados de uma multinacional. Revista Psicologia Organizações e
Trabalho, 19(3), 653 - 661, 2019. doi:10.17652/rpot/2019.3.16310
BOEHS, S. T. M.; SILVA, N. Papel de trabalho, carreira, satisfação de vida e
ajuste na aposentadoria. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 18(2), 141,
2017
153. http://doi.org/ 10.26707/1984-7270/2017v18n2p141
BOGONI COSTA, A. “Tão perto e tão longe”: o cotidiano de aposentados nos espaços
urbanos da cidade de Florianópolis. Florianópolis, 2015. 262 f. Tese (Doutorado em
Psicologia). Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2015.
BRASIL, Lei 10.741/2003. Estatuto do Idoso. Brasília: DF, Outubro de 2003.
BRASIL. Secretaria de Previdência Complementar. Release Preparo para
Aposentadoria. Imprensa PREVIC. Brasília - DF. 2016.
https://www.spcbrasil.org.br/wpimprensa/wp-content/uploads/2018/04/Release-
Preparo-para-Aposentadoria-v3.pdf

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57132
ISSN: 2525-8761

DINGEMANS, E.; HENKENS, K. Involuntary retirement, bridge employment, and


satisfaction with life: A longitudinal investigation. Journal of Organizational Behavior,
35(4), 575-591, 2014 doi: 10.1002/job.1914
FRANÇA, L. Os desafios da aposentadoria. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
FÔLHA, F. A. S; NOVO, L. F. Aposentadoria: significações e dificuldades no período
de transição a essa nova etapa da vida. Repositório institucional UFSC. Florianópolis,
dez. 2011. Disponível em:<
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/26133/5.27.pdf?sequence=1 >.
Acesso em: 29 abr. 2020.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T., (Org). Métodos de pesquisa. Porto Alegre:
Editora UFRGS, 2009.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
LEANDRO-FRANÇA, C.; MURTA, S. G.. Fatores de risco e de proteção na adaptação
à aposentadoria. Psicologia Argumento, 32(76), 33-43, 2014.
http://dx.doi.org/10.7213/psicol.argum.32.076.DS03
LUNA, I. N., FRANÇA, L. H. F. P, SOARES, D. H. P., LIMA, M. B. F., ROESLER,
V. R. (2020). In Luna, I. N. & Mattos, V. B (Orgs.) Intervenções de carreira al longo da
vida: perspectivas e desafios. 1ª ed. Curitiba: Brazil Publishing, p. 237-261. 2020.
MARCELINO, E. M.; NÓBREGA, G. H. T.; OLIVEIRA, P. C. S.; COSTA, R. H. M.;
ARAUJO, H. S. P; SILVA. T. G. L.; OLIVEIRA, T. L.; MEDEIROS, A. C. T.
Associação de fatores de risco nos transtornos mentais comuns em idosos: uma revisão
integrativa. Brazilian. Journal. of Development., Curitiba, v. 6, n. 4, p. 22270-22283,
apr. 2020. DOI:10.34117/bjdv6n4-407
MINAYO, M.C.S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
Vozes, 2004.
MURTA, Sheila Giardini et al.. Preparação para a aposentadoria: implantação e
avaliação do programa viva mais!. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 27, n. 1, p. 01-
09, mar. 2014.
OLIVEIRA, C.; TORRES, A. R. R; ALBUQUERQUE, E. S. Análise do bem-estar
psicossocial de aposentados de Goiânia. Psicologia em estudo, Maringá, vol.14, n.4,
Oct./Dec. 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
73722009000400015&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 11 abr. 2020.
PINTO, L. C. S; ALVES, S. C. A. A atuação da psicologia nos programas de preparação
para a aposentadoria. Estudos Interdisciplinares do envelhecimento, Porto Alegre, v.19,
n. 2, p. 525-548, 2014. Disponível em:
http://www.seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/viewFile/41177/32763 . Acesso em: 13
jan. 2021.
RAFASLSKI, J. C.; ANDRADE, A. L. Planejamento da aposentadoria: adaptação

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021
Brazilian Journal of Development 57133
ISSN: 2525-8761

brasileira da PRePS e influência de estilos de tomada de decisão. Revista Psicologia:


Organizações e Trabalho, 16(1), 36-45. 2016. doi: 10.17652/ rpot/2016.1.648
ROESLER, V. Posso me aposentar “de verdade”, e agora?: contradições e
ambiguidades vividas no processo de aposentadoria. Curitiba: Alteridade, 2014.
RODRIGUES, M. et al. A preparação para a aposentadoria: o papel do Psicólogo frente
a essa questão. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, v.6, n.1, p.
53-62, 2005. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbop/v6n1/v6n1a06.pdf >
Acesso em: 13 out. 2020.
SOARES, D.H.P; BOGONI COSTA, A. Orientação psicológica para a aposentadoria.
Revista Psicologia, Organizações e Trabalho, Brasília, v. 9, n.15, p. 97-108, 2009.
Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/rpot/article/view/13159/12240 .
Acesso em: 13 mai. 2021.
SOARES, D. H. P; LUNA, I. N.; LIMA, M. B. L. A arte de aposentar-se: Programa de
preparação para a aposentadoria com policiais federais. Estudos Interdisciplinares do
envelhecimento, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 293-313, 2010. Disponível em:<
http://www.seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/view/12706>. Acesso em: 13 jan. 2021.
SOARES, D. H. P; BOGONI COSTA, A. Aposentação- aposentadoria para ação. São
Paulo: Vetor, 2011.
SOARES, D. H. P.; BOGONI COSTA, A. Orientação para a aposentadoria:
possibilidades de atuação para o Orientador profissional. In.: Lassance, Maria Célia;
Levenfus, Rosane Schotgues; Melo-Silva, Lucy, Orgs. Orientação de Carreira:
Investigação e prática. Porto Alegre: Associação Brasileira de Orientação Profissional,
2015.
ZANELLI, J. C. Processos psicossociais, bem-estar e estresse na aposentadoria. Revista
Psicologia, Organizações e Trabalho, Florianópolis, vol.12, no.3, dez. 2012.
Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
66572012000300007>. Acesso em: 03 mar. 2021.
ZANELLI, J. C; SILVA, N.; SOARES, D. H. L. Orientação para a aposentadoria nas
organizações do trabalho: construção de projetos para a pós carreira. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.6, p. 57115-57133 jun. 2021

43 may. 2021

Você também pode gostar